"Depois de mais maduro minha conclusão foi muito óbvia: o crítico tem que proceder conforme a natureza de cada obra que ele analisa. Há obras que pedem um método psicológico, eu uso; outras pedem estudo do vocabulário, a classe social do autor; uso. Talvez eu seja um pouco eclético, confesso. Isso me permite tratar de um número muito variado de obras.", declarou Antonio Candido, crítico literário, professor e sociólogo.
Sua postura é algo raro, e por isto, também, tornou-se figura tão respeitada.
A crítica, em geral, é tendenciosa e parcial. A análise de obras, os comentários acerca do que se cria é, de certo modo, o resultado de uma opinião. Não há como escapar disto. O grande dilema é como se policiar para que essa subjetividade não seja o retrato simples de uma linha de pensamento e de um conceito fragmentado, que acabam se desviando da origem do objeto a ser avaliado.
Tecemos nossas opiniões diariamente sobre os mais variados temas, desde a questão mais banal até um assunto mais filosófico. Opiniões são a manifestação da liberdade e do preconceito, paradoxalmente.
Mas o profissional que se debruça para analisar uma obra, deveria, como premissa, desnudar-se de uma postura leiga, ir a fundo, relativizar, levar em conta todas as condições, compreender, despir-se da vaidade do ofício.
Isto me faz lembrar Rainer Maria Rilke, poeta alemão: "As obras de arte são de uma solidão infinita: nada pior do que a crítica para as abordar. Apenas o amor pode captá-las, conservá-las, ser justo em relação a elas."
O amor, que podemos ler nestas palavras de Candido, quando se refere à literatura: "o processo que confirma no homem aqueles traços que reputamos essenciais, como o exercício da reflexão, a aquisição do saber, a boa disposição para com o próximo, a afinamento das emoções, a capacidade de penetrar nos problemas da vida, o senso de beleza, a percepção da complexidade do mundo e dos seres, o cultivo do humor. A literatura desenvolve em nós a quota de humanidade na medida em que nos torna mais compreensivos e abertos para a natureza, a sociedade, o semelhante."
Mas o que vemos é que a superficialidade que inunda as relações atuais e molda a postura "humana", também está presente em muitas críticas. E o poder econômico, como em todo setor, é o que rege a direção a ser dada.
Renata Iacovino, escritora, poetisa e cantora / reiacovino.blog.uol.com.br /
reval.nafoto.net / reiacovino@uol.com.br
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