Para terminar as considerações que quis desbobinar a propósito do malogrado ACORDO, tenho a dizer ao leitor mais uma coisa que para mim não é nada fagueira e nobilitante. Se como vimos, há um DIA EUROPEU DAS LINGUAS, também há um dia denominado DIA INTERNACIONAL DA LINGUA MATERNA, instituído por iniciativa da UNESCO, celebrado desde o ano 2000 em 21 de Fevereiro de cada ano, mas que a Comunidade de Países de Língua Portuguesa estabeleceu, em especial para o Português, o dia 15 de Maio. Quer dizer: por um lado, procura-se o multilinguismo, mas por outro, procura-se valorizar a língua de cada país, para ser preservada e venerada pelos seus cidadãos, pois que, na verdade, não há incompatibilidades.
Que se tem feito em Portugal e mesmo nos países da referida Comunidade? Eu não sei de nada, mas, tristemente, sei que não estou só a não saber de nada. Se na internet há algo a esse respeito, eu não consegui encontrar. O que encontramos com muita facilidade, é o desleixo, a ignorância de um povo que não preza a sua língua, com uma crosta de indiferença e apatia tão dura que as poucas vozes que se levantam contra são inoperantes. Até parece que ninguém sabe que existe um DIA INTERNACIONAL DA LINGUA MATERNA, e que os poucos que sabem não se preocupam com aproveitá-lo, para combater toda a espécie de erros, em cartazes públicos, nas ementas dos restaurantes, nos títulos e notícias de jornais. Aliás a preocupação sobre a língua materna,devia existir todo o ano. Mas, ao contrário, durante todo o ano, os nossos políticos, às vezes mesmo em Portugal, fazem gala de discursar em francês ou inglês; as camisolas ou t-shirts da nossa juventude, estão cheias de frases ou letreiros em inglês, alguns muito palermas e descabidos; é a ignorância crassa e confrangedora de quase todos mostrada em programas da TV, nos concursos de ordem cultural – etc. etc., o muito de que já falei ao leitor e o que o leitor pode ver mesmo sem eu lho apontar. Há muitos textos em louvor da nossa língua. Um deles, que também aparece na internet, é um poema da autoria de José Jorge Letria, de que apenas posso transcrevo uma parte:
A língua que falas e escreves é uma árvore de sons que tem nos ramos as letras,
Nas folhas os acentos e nos frutos o sentido de cada coisa que dizes.
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A árvore desta nossa língua cresce no nosso quintal e definha de vergonha sempre que a tratam mal, sempre que a sujam e vergam com os erros cometidos
por quem usa as palavras sem lhes saber os sentidos
e pensa que a gramática é uma bola de futebol que se trata com os pés.
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Esta é a árvore de tudo o que se diz em português,
por não precisar de ser dito em alemão ou inglês,
pois temos orgulho bastante para fazermos da nossa língua,
que já foi peregrina e navegante, a pedra mais preciosa, seja em verso seja em prosa.
E o orgulho que temos nesta Língua Portuguesa, irá do berço para escola
e da escola para a rua, pondo em cada palavra uma pepita de ouro e uma centelha de lua, pois afinal, esta língua será sempre minha e tua.
Poemas como este serão suficientes para manter a chama? Um povo que não tem amor à sua língua, que não a defende suficientemente, principalmente através dos seus professores, dos institutos culturais particulares e estatais, está a deixar fenecer lentamente a sua língua, a perder cidadania a identidade como povo, pelo que também ele acabará lentamente por fenecer com a língua que acabou por menosprezar. Porém, não quero ser de todo pessimista. Eu acredito que um dia os nossos responsáveis vão “acordar” e em vez de tratarem de renovar as raízes da árvore a que se refere Jorge Letria, como parece ter sido o propósito dos intelectuais do ACORDO, vão tratar da frondosa copa que, apesar de raízes sãs, tem manchas de filoxera. E para além disso, eu acredito que PORTUGAL, país, povo e língua, com séculos de história, com um poema épico como os LUSÍADAS, com uma Literatura em que, para além de muita coisa, avulta o lirismo de Camões e de outros poetas de divino estro, PORTUGAL, um país que tem um hino nacional e uma bandeira dos mais belos do mundo e é Terra de Santa Maria, sobretudo em Fátima, é país, povo e língua que acabará por resistir a todas as procelas e vencer todas as crises.
LAURENTINO SABROSA - Senhora da Hora, Portugal
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