Aos poucos vou aprendendo com a vida. Acredito que esse eterno aprendizado faça mesmo parte da vida de todos que caminham sobre esse mundo. Aqueles que perdem essa oportunidade ou que ignoram essa necessidade, por certo perdem as lições mais importantes sobre viver. É fato que os ensinamentos nem sempre são indolores, ou muito ao contrário. Complicado tentar ver o lado bom das coisas quando se está em meio ao furacão. Então, que seja uma lição que venha a reboque, mas que sirva para algo, que tenha significado além da dor.
Para nossa sorte, contudo, nem tudo nos apresentado de forma dolorosa. Há as mais lindas e valiosas notas de sabedoria que são trazidas pelos momentos alegres, felizes. Acredito apenas que, nessas horas, poucos de nós tem olhos para ver que é importante valorizar todo o bem que nos vem, que é preciso sermos gratos a todo momento. É aquela velha história de só se lembrar de pedir a Deus quando se avizinha a escuridão e de não dar graças ao Universo diante da Luz.
Complicados são os seres humanos. Dotados de um cérebro que é capaz de propiciar viagens a outros planetas e que, ao mesmo tempo, é capaz de aprisionar almas em meio à loucura. De tão pequenos que somos diante da Criação falta-nos o entendimento necessário para sabermos nosso real papel nesse mundo, nosso propósito diante de nós mesmos e do nosso próximo. Somos paradoxais e só isso já é uma tormenta, uma cruz que temos que carregar.
Assim, temos que nos habituar ao fato de que o mundo, mesmo à revelia de nossos planos, gira e faz com que a vida de cada um tenha o percurso que está destinado a ter. Se temos a escolha de deixarmos o movimento fluir, podemos nos movimentar juntos, aceitando ao menos aquilo que não podemos mudar. Sem dizer que, às vezes, o mundo de cada um gira mesmo, tal como aconteceu comigo nessa semana e de uma forma nada geográfica ou figurativa.
Quando eu era criança sofria de crises de labirintite e elas eram tão fortes que me faziam ficar deitada o dia todo, no escuro, até que tudo parasse de girar ao meu redor. Com o passar dos anos isso tudo diminuiu bastante e episódios como esse se tornaram muito raro. Nessa semana, contudo, tentar me levantar de madrugada para beber água, percebi que tinha algo errado assim que abri meus olhos, pois parecia que eu estava dentro de um chocalho de uma criança enfurecida.
O resultado foi que, de tão mal que passei, fui obrigada a ficar de cama o dia todo. Por óbvio que não foi o mesmo que ficar de boa o dia todo, vendo televisão ou lendo meus livros de mistério. Fiquei mesmo é deitada, praticamente sem me mexer e na escuridão, eis que cada barulho ou luminosidade faziam com que eu voltasse à montanha russa que se instalara no meu cérebro. No fim das contas, foi um dia inteiro perdido, uma quinta-feira na qual não vi a luz do sol, não conversei com quase ninguém e quase que nem fiquei em pé, para ser franca.
No dia seguinte eu já estava muito melhor e extremamente grata por ter um dia de trabalho, de sol ou de chuva, pela frente. Uma vez mais, eu me dei conta, meu mundo girara para me fazer lembrar de estar bem é mais relevante do que qualquer outra preocupação comezinha. Nada como poder produzir, poder ser útil, poder simplesmente contemplar o melhor das coisas, e ainda que nada disso faça com que o pior deixe de existir, com certeza o enfraquece. E viva os dias nos quais somos capazes de sermos nós mesmos, de termos a chance de começarmos tudo de novo...
CINTHYA NUNES VIEIRA DA SILVA - Advogada na Silva Nunes Advogados Associados, professora universitária, membro da Academia Linense de Letras e cronista. São Paulo. - cinthyanvs@gmail.com
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