O chamado “diálogo venezuelano” foi criado por pressão internacional para possibilitar dias mais calmos para a Venezuela, que vem sendo obrigada a engolir, goela abaixo e contra a vontade, um socialismo nos moldes cubanos e que já dissemina a miséria e a pobreza pelo país mais rico em petróleo da América do Sul. Como as pessoas não comem petróleo, o pau está quebrando reto no nosso vizinho do norte, com a herança maldita herdada de Hugo Chávez e a comunidade internacional praticamente não reagindo a tudo isso.
Tudo leva a crer que o “dialogo”, interrompido há quase um mês, não irá continuar, mesmo porque as maiores pressões externas não passaram de uma farsa internacional, uma vez que os países membros da chamada UNASUL não têm interesse real em que tais negociações prossigam uma vez que acham que a Venezuela está à frente dos demais países da região com relação à “experiência socialista”.
Essa UNASUL, que, na prática funciona como um clube de esquerdistas sulamericanos empenhados em difundir essa doença social em todo o subcontinente, recebeu a ajuda do Vaticano, por outros motivos bem diferentes, é claro, e começaram a atuar como “terceira parte” para levar à mesa das negociações, na boa fé, o regime de Nicolás Maduro, e os representantes da MUD (Mesa de Unidade Democrática) na esperança encenada desde 13 de maio último. Enquanto “se propunha” a discutir a paz, Maduro prendia nas ruas as pessoas que manifestavam pacificamente sua insatisfação com o regime, jogando sobre elas suas milícias, parecidas com os “Black blocs” de São Paulo, apoiadas com o forte aparato policial e carta branca para matar e ferir.
Não sobrou outra coisa a fazer para a MUD senão anunciar o congelamento de sua participação nessas negociações a espera de algum “gesto” ou alguma “medida” por parte do Palácio Miraflores que demonstrasse querer também a paz, como, por exemplo, mandar soltar os “presos políticos”, uma qualificação de presos que só existe nas ditaduras.
Apenas os chanceleres, equatoriano, brasileiro e colombiano, passaram então a representar a UNASUL nessa alegada tarefa de mediação, com declarações esparsas em defesa da continuidade desse “diálogo” iniciado no último 10 de abril.
O torneio mundial de futebol iniciado na quinta feira de ontem, no Brasil, e as renhidas eleições presidenciais marcadas para o domingo de depois de amanhã na Colômbia, nas quais o presidente Juan Manuel Santos é candidato à reeleição, podem ter separado esses chanceleres, uma vez que o futebol e a política sucessória são para eles algo mais importante do que uma mediação apenas para o “mundo ver”.
A verdade é que esse pseudodiálogo, apoiado por Washington, tenha sido interrompido mais em função do apoio americano do que por falta de interesse da UNASUL e pela absoluta ausência de “resultados reais”. A história ensina que, quando essas conversas se alongam indefinidamente, pode-se interpretar que elas não vão resultar em nada de prático, o que acontece quando pelo menos uma das partes está apenas falsamente interessada em resolver o assunto.
Já o diretor regional da ONG Grupo de Crise Internacional, Javier Ciurlizza, afirmou que “a UNASUL deveria ser mais eficaz na reativação do diálogo e torná-lo breve e decisivo e, no caso de resistência das partes ou de uma delas, deve conclamar a OEA e a ONU para a reabrirem o debate político sobre a crise venezuelana”.
A famigerada Aliança Bolivariana, que, além da Venezuela, é constituída por Bolívia, Cuba, Equador, Nicarágua e várias republiquetas insulares caribenhas, tem discutido nestes dias a situação na Venezuela, mas não chega a ser uma discussão de fato, pois só se reúne para dar apoio explícito ao regime de Nicolás Maduro e denunciar supostas “tentativas desestabilizadoras” causadas pela “ingerência dos EUA”, uma lenga-lenga que já não consegue impressionar ninguém. A Casa Branca nega tais acusações e diz apostar no diálogo e não nas sanções que tramitam no Capitólio, uma iniciativa dos republicanos para punir as autoridades venezuelanas supostamente envolvidas em violações dos direitos humanos.
A precisão mais realista é a de que a ditadura socialista deverá se aprofundar na Venezuela, que passará a funcionar como uma extensão da ditadura cubana e seu principal fornecedor de petróleo a baixo preço. Todavia, é de se supor que o conflito social no país evolua para uma guerra civil sangrenta que obrigue a OTAN a intervir para restaurar a ordem no galinheiro...
Aliás, a julgar pelo argumento russo de que a ação militar na Crimeia é um direito de Moscou pelo fato da Ucrânia estar em sua “área de influência”, representa um sinal verde para Washington intervir, via OTAN, em qualquer lugar de sua “área de influência”... Ou que a China, a hora que quiser, pode anexar a ilha de Taiwan (Formosa), hoje um dos poderosos tigres asiáticos capitalistas privados.
Sexta feira, 13 de junho de 2014
FRANCISCO VIANNA - Médico, comentador político e jornalista - Jacarei, Brasil.
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