De menininho escutava muitas vezes, a parentes e amigos, que visitavam a nossa casa, afirmando: que o fim do mundo era no ano de dois mil; " De mil passarás, mas de dois não passarás!" Devo declarar, em abono da verdade, que sempre duvidei.
Chegou a almejada viragem de século. Muitos, aflitos, galgaram montanhas em oração; outros, após muito calcular marcaram datas; Nostradamus disse que era em 1999; alguns do Instituto de Tecnologia de Massachasett prediziam 2030; mas o que esclarece a Bíblia – o que Jesus disse, – " Quanto aquele dia e hora ninguém sabe nada, nem sequer os anjos dos Céus, mas somente o Pai" - Mt24:36
Vejamos, agora, o que narra o Novo-Testamento de escatologia:
Jesus saiu do Templo pela Porta Oriental, ao escurecer, para repousar em Betânia. Os apóstolos, entretanto, admiravam a solidez, a grandeza do templo. Jesus, então, disse-lhes angustiado: " Em verdade vos digo: não ficará aqui pedra sobre pedra – MT24:2 – Isso aconteceu no ano 70, no tempo de Tito, apesar de este o não desejar.
Chegados ao Monte das Oliveiras, Jesus sentou-se, olhando Jerusalém. Os que O acompanhavam interrogaram-No – Pedro, Tiago, João e André – (Mc13:3) – "Quando acontecerá essas coisas, e quais são os sinais do fim do mundo” – Mc13:4
Jesus respondeu-lhes: " É mister que se pregue o Evangelho a todos para que a parúsia se inicie – Mt24:14
Serão dias de tribulação: haverá falsos profetas, mas não acrediteis neles, apesar de fazerem feitos extraordinários; o Sol obscurecerá; a Lua, não dará claridade; e os astros, caíram.... Então o Filho do homem, com os anjos, descerá do Céu e sentar-se-á num trono magnifico, para julgar: os homens serão apartados, à direita (as ovelhas); os maus (os cabritos,) à esquerda – Mt24:23-31
Em que época chegará o Fim do Mundo, segundo a Bíblia?
Quando se conjugarem, numa geração, todas estas condições:
Quando os homens se escandalizarem e se traírem uns aos outros – Mt24:10
Quando a apostasia se generalizar. - II Tessalonicenses2:3/I Timóteo4:1,2
Quando se multiplicar a iniquidade, e o Amor se esfriar – Mt24:12
Quando se ouvir falar de guerras e tumultos – Lc21:9/Mt24:6
Quando se for odiado por causa do nome de Jesus – Mt21:9/Lc21:9,10
Quando se ouvir falar de acumulações de dinheiro – Tiago5:1,3
Quando o saber e o conhecimento (viagens, turismo?) se multiplicarem - Daniel12:4
Quando se falar muito de paz e segurança. - I Tessalonienses5:3
Quando aparecer o ditador: a besta do Apocalipse17:17
Quando a Boa-nova for pregada a todos os povos – Mt24:14
Haverá: também fomes, secas, pestes e terramotos, por toda a parte – Lc21:11
Claro é que tudo isso será prenúncio do fim, mas não o fim. Jesus avisou: é dever de todos estarem preparados e atentos, sem alarmismo, aos sinais. Jesus afirmou ainda: só o Pai é que conhece o dia e hora em que isso acontecerá – Mt24:36/Tg5:2,3
Recomendo com veemência, aos cristãos e não cristãos, a lerem o Novo-Testamento, os versículos que se referem ao " Discurso Escatológico"
HUMBERTO PINHO DA SILVA
Cf : Bíblia Sagrada ( Pontifício Instituto Bíblico de Roma) - Ed. Paulinas.
La Saint Bible ( L'Ecole Biblique de Jerusalem)- ed. du Cert. Paris.
No tempo dos meus antepassados, a Família era constituída, pelos: avós, pais e filhos. Ainda no primórdio da segunda metade do século XX, assim acontecia, principalmente no interior.
Mas o Mundo Ocidental evoluiu; ou será que involuiu? Foi infetado pela Nova Moral; e o núcleo familiar excluiu, mormente nas grandes cidades, os avós, apartando-os para lares ou simplesmente abandonando-os nos hospitais ou na rua.
O facto de a mulher ter entrado, em força, no mundo do trabalho, nas últimas décadas, contribui, em parte, quantas vezes por falta de tempo, para essa triste realidade; assim se vão desaparecendo: raízes, memórias, tradições e costumes, que são determinantes para agregar a Família, e ajudar a unificar o País.
A ausência de conviveu entre os membros da Família, pelo facto de passarem a maior parte do dia fora do lar, contribui, ainda mais, para a desagregação da Família. A falta de legislação que facilite a união dos conjugues, pode ser uma das explicações para a dissolução de muitos agregados familiares.
Verifica-se, também, que ano após ano, a comunidade tem-se tornado mais egoísta e mais agressiva. Analisa-se isso nos estados desportivos e em manifestações de rua.
A crispação existe, igualmente, no seio da Família. Na última campanha eleitoral, no Brasil, houve agregados familiares, que tomaram posições radicalmente opostas: pais e filhos desentenderam-se, a ponto de se separarem; e a coletividade encrespou-se como nunca.
Para se evitar a ausência materna do lar, no último quartel do século XX, político de vários países, entre eles Mário Soares, consideravam que a presença da mãe era insubstituível na educação dos filhos. Chegou-se a ventilar recompensar monetariamente, as que preferissem ficar em casa, cuidando das crianças, infelizmente não passou de boas intenções.
Por sua vez o Estado, nas últimas décadas tem pretendido educar, na escola, mesmo conhecendo, que muitas vezes, está contra a vontade dos progenitores.
Ao reeducar, a escola, inculca ideologias políticas, religiosas, conceitos morais, comportamentos, e condutas de vida, diferentes das ensinadas em família, e cria assim, instabilidade, provocando desentendimentos entre pais e filhos.
Esquecem-se que a globalização, e a recente vaga de imigrantes na Europa, trouxe novas crenças, comportamentos, e tradições diferentes da dos indígenas.
Deve-se – a meu ver, – respeitar as minorias, mas sem esquecer a maioria; ou a que ainda o é. Por isso a escola, apenas deve ensinar e não educar.
Naturalmente cabe aos pais educar, como querem, seus filhos, e ao Estado, na escola, ensiná-los.
Em ditadura, o Estado totalitário, tenta moldar as mentes em formação, de forma que todos pensem de igual modo, ou não se pense nada. Porém, em democracia, é inconcebível.
Pretendo, com essa crónica, esboçar temas que preocupam a sociedade, afim de o leitor reflectir sobre o assunto. Lembro que o bem-estar de todas as Famílias, é o bem-estar da nação, visto que um país, não é mais que o conjunto de todas as Famílias.
HUMBERTO PINHO DA SILVA
Em calma e cálida tarde de maio, quando o astro-rei acendia o céu, de nuvens de fogo, mosqueando, de cintilantes estrelinhas, as águas azuis do Douro, estava com meu pai – insaciável homem de Letras, que vivia entre velhos cartapácios, - na Feira do Livro, no Porto.
Nessa recuada época, a "Feira" implantava-se na Praça do Município, num aconchegante labirinto, aos pés de "Garrett"
Caminhávamos embebidos nos escaparates – abrindo e reabrindo tomos, junto a livraria católica, de súbito, surgiu três guapos rapazinhos, ainda imberbes, chalrando em alta voz.
Miram de esguelha o stand. Entre livrinhos devotos e inocentes romances, gritavam três vistosas Bíblias, de folhas doiradas, encadernadas a percalina preta.
Apontando ostensivamente o magro indicador, o mais esgrouviado e bem-trajado, de barba e cabelo à Che Guevara, disparou, com risinho arteiro, bailando nos lábios:
-" Ainda se vende essa porcaria!..."
O empregado, possivelmente frade ou antigo seminarista, de imediato retorquiu:
- "É por causa dessa " porcaria", que o senhor doutor é médico!..."
O diálogo espicaçou a curiosidade de meu pai; e quando os mocinhos rindo, se afastaram, apressou-se a interrogá-lo:
-" Conhece-o?"
- " Conheci-o. Andava no seminário. Estudava por favor. Não tinha vocação. Os senhores padres ainda o encaminharam para a Universidade..."
Como meu pai mostrasse interesse, prosseguiu:
- " Agora é quase médico. Sempre que passa por aqui, larga uma chalaça. Coitado!.... Se não fosse a Igreja... andava com a charrua...
Este episodio, ocorrido nos anos sessenta, gravou-se-me na memória; e ilustra, perfeitamente, o que é a ingratidão e o descaramento.
Como ele, muitos são os que singraram às cavalitas da Igreja ou à sombra protetora de senhoras caridosas, que lhes proporcionaram meios para altos voos; infelizmente, raros são os que se lembram de agradecer, a quem lhes deu a mão. É a ingratidão humana!...
HUMBERTO PINHO DA SILVA
Em meados do século XIX, o Rio de Janeiro, fervilhava de emigrantes portugueses, esperançados de encontrarem a: " árvore das patacas".
Os mais pobres, iam em navios negreiros, na condição de pagarem a viagem ao engajador, com dinheiro obtido no trabalho que conseguiam em fazendas.
Muitos morriam devido a maleitas; outros, por excesso de trabalho, quase escravo.
A deplorável situação chegou a ser ventilada, na segunda metade do século XIX, em Pastoral, escrita pelo Arcebispo de Braga, avisando os mancebos do perigo de serem enganados pelos angariadores; mas, raros foram os que escutaram os sensatos conselhos.
Em 1879, narra Silva Pinto, que encontrou Rafael Bordalo Pinheiro, junto do teatro D. Pedro, no Rio, em que o notável artista contou os horrores que passou no Brasil.
Embarcara cheio de ilusões em 1875, na época era ilustrador do " Lanterna Mágica", publicação lisboeta.
Regressou três anos depois, descorçoado, com mulher e filha, após ter sido injuriado, e ver o gabinete de trabalho, na Rua do Ouvidor, assaltado por populares, sem ter recebido proteção da polícia, nem do Consulado Português!
Segundo a " Caixa de Socorros de D. Pedro V", fundada no Rio de Janeiro, de, 1861 a 71, havia no Rio 49.610 emigrantes portugueses. A "Caixa" repatriou 4.000, e faleceram, durante esse período, 11.000. É desconhecido a situação dos que foram trabalhar para o interior.
Os repatriados chegavam a Portugal, desiludidos ainda mais pobres do que partiram.
No livro " No Brasil", Silva Pinto, relata a chegada de paquete francês, a Lisboa, com vinte passageiros, vindos do Brasil: " Só dois obtiveram fortuna – o primeiro alugando escravos ao mês; o segundo (uma mulher,) alugando-se diariamente. Os restantes (...) chegaram doentes, arruinados e cheios de dívidas"
O invés, parece acontecer agora, aos imigrantes que chegam a Lisboa, com a cabeça cheia de fantasias, (alguns de dupla nacionalidade).
Vasco Malta, Chefe da Missão em Portugal, da Organização Internacional das Migrações (OIM), tem ajudado muitos imigrantes a regressarem à terra natal. Brasileiros foram, 1831, desiludidos por não terem conseguido trabalho, nem casa. Alguns encontravam-se na mais esquálida miséria.
Repete-se, infelizmente, em pleno século XXI, a História e as histórias, dos portugueses, no século XIX e XX, no Brasil.
HUMBERTO PINHO DA SILVA
É do conhecimento de todos, que participam na missa dominical, que existe grande diminuição de fiéis – não só de jovens, como de crentes idosos.
Várias são as razões: A epidemia (Covid) que afastou da Igreja – por medo de contágio, – muitos católicos; a deslocação da população citadina para as preferias; o facto de muitos idosos haverem falecido, devido à epidemia; e o comodismo de alguns, que passaram a "assistir" à missa pela televisão.
Acrescentaria, igualmente, a deficiente evangelização, e o comportamento indigno de alguns sacerdotes e fiéis.
Recentemente o matutino" Correio da Manhã", de 03/03/2024, realizou pesquisa sobre a situação da Igreja Católica, em Portugal, chegando às seguintes conclusões:
A quebra de fiéis na missa é quase de 50%; no interior, apenas 10%.
Alentejo, Minho e Trás-os-Montes, assim como os Açores, foram as regiões mais afetadas, (possivelmente, digo eu, devido à emigração).
Lisboa, Madeira e o Algarve, foram as que menos sofreram, mantendo-se quase inalterável o número de fiéis.
Como é natural, a diminuição de crentes afetou a receita, no ofertório e nas caixas
As ofertas desceram de 60 para 35 milhões de euros. (Não será, em parte, devido à dificuldade financeira em que vive a Classe Média?)
Apesar das vocações sacerdotais terem diminuído, ainda se celebram 6.000 missas dominicais, celebradas por 2.655 padres. Menos 600 do que em 2014.
Foram estas as principais conclusões que o "CM", chegou, após ter contactado 32 paróquias e bispos diocesanos.
Desconfio que, alguns leitores, também, gostariam de conhecer a situação religiosa, em Portugal - Igrejas cristãs e não cristãs, colhidas no: INE, e no Censo de 2021:
Ortodoxos, em 1981 eram 2.564
“ 2021 " 60.381
Deve-se, certamente, à entrada de imigrantes do Leste Europeu
Evangélicos, eram em 2021 - 186.832
Testemunhas de Jeová, eram em 2021 – 63.609
Hindus “ “ “ - 19.471
Budistas “ “ “ - 16.757
Católicos “ “ “ - +7 milhões
Ateus, eram em 1981 – 253.786
" " " 2021 - 1,2 milhões
Há aumento significativo de Judeus, devido à lei sefardista, que autoriza descendentes de israelitas, que viveram em Portugal, terem dupla nacionalidade.
Havia, também, em Portugal, em 2021, cerca de: 36.480 muçulmanos, originários, em parte, de países árabes e nações africanas.
Devido à entrada maciça de imigrantes, nos últimos anos, é natural que os números indicados, não reflitam a verdade atual.
HUMBERTO PINHO DA SILVA
Apesar da natalidade, em Portugal, ter aumentado nos últimos anos, ainda não é suficiente para comutar o défice demográfico. O País carece, urgentemente de imigrantes para incrementar a economia, vg: restauração, hotelaria e construção civil.
A entrada maciça de imigrantes é necessidade incontestável, ainda que possa causar ao País alguns problemas; precisa, todavia, ser devidamente planeado, para se evitar perturbações sociais, mormente se o imigrante não souber ou não quiser assimilar a nossa cultura ou se recusar a ser integrado.
Diferenças culturais, morais, políticas até filosóficas e religiosas, dificultam a rápida integração, a meu ver, necessárias, requerendo cedências de ambos – aborígenes e imigrantes.
Existe, ainda, o receio natural da população indígena, erradamente pensar – que pode causar desemprego e concorrência no mundo do trabalho, em algumas profissões.
Mas voltemos à situação demográfica do País: envelhecimento da população e, nascimento de nenés – verifica-se que em 2023 nasceram 85.764 bebés, segundo " Teste do Pezinho", alguns de mãe estrangeira. Número considerado insuficiente, mas melhor que no ano anterior.
Como e sabe, a população em idade fértil, tem emigrado em grande número, na última década, mais de 850 mil saíram do País, e cerca de 30% são de idades que vão dos 15 aos 19 anos.
Segundo o " Atlas de Emigração Portuguesa" desde 2001, abandonaram, por ano, a terra natal, cerca de 75.000 portugueses. Só em 2013 (ano da Troika") ausentaram-se 120 mil, sendo 70% dos emigrantes de 15 a 19 anos.
Não é de admirar que a natalidade seja tão baixa, se considerarmos, que continuam a sair jovens em busca de melhor vida e, esperança de virem a receber confortantes reformas, que lhes permita envelhecer mais desafogadamente.
Hoje não emigram apenas humildes trabalhadores rurais e operários, como outrora, mas igualmente: licenciados, mestrados e até doutorados.
Pelo exposto, ainda que alguns não concordem e não desejem, não se pode recusar mão-de-obra estrangeira, mesmo reconhecendo os inconvenientes que possam advir para o presente e futuro da nação.
HUMBERTO PINHO DA SILVA
Minha tia-bisavó, Rosinha, fazia cem anos; seu filho convidou-me para participar na cerimónia religiosa e no copo-de-água.
Fui. Tomei o "onibus”, que me levou ao Rio e, horas depois desembarquei na rodoviária. Nessa ocasião residia em São Paulo.
Quando me deslocava para o colégio, que gentilmente cedera as instalações, fui observando tudo que via. Ao perpassar por parede branca, lobriguei, varado, rabiscado a carvão ou tinta negra: " Portugueses fora do Brasil!". Estávamos nos anos noventa, do século passado.
Em abono da verdade, devo dizer que nunca senti qualquer antipatia por mim, por ser português; muito pelo contrário: todos, inclusive a policia, mesmo no tempo da ditadura, sempre me trataram com afeto.
Sou como se sabe, matrimoniado com paulista da gema, de família tradicional, por isso sabia que no passado, o nosso povo era considerado: pobre, inculto, analfabeto. Em regra, dizia-se que desembarcava em Santos com: " Saco e pau nas costas", ou chegava de avião, " Nos Tamancos Aéreos Portugueses.
Após a Revolução de Abril, chegaram a terras de Santa Cruz: industriais, professores, médicos, engenheiros e, muita gente da elite portuguesa; e o brasileiro, atónico, mudou logo a opinião depreciativa que tinha.
Mesmo assim... Estando em Florianópolis, em meados deste século, folheando distraidamente as páginas amarelas da Capital de Santa Catarina, deparei, cercado a tarja negra:" Portugal roubou o nosso ouro."
Era "mimo" dirigido aos milhões de portugueses e descendentes. Eu sabia há muito que era isso, que certos professores ainda ensinavam nas escolas.
Durante décadas não foi fácil ao português " fugir" das piadas vindas do povo humilde e até da mass-media.
Em 1920, quinhentos poveiros que ganhavam a vida no mar, foram expulsos por se recusarem a serem brasileiros. Retornando a Portugal no navio " Samaro" – " A Pátria", Rio de Janeiro 13 a 15/10/1920.
A perseguição iniciou-se em outubro de 1920, alimentada, entre outros por Epitácio Pessoa. Desconheço a razão de tanta xenofobia, pois a maioria da população era e é descendente de portugueses e italianos. Emigrantes que foram procurar no Brasil melhor vida, como hoje os brasileiros fazem quando emigram para os Estados Unidos e Europa.
A emigração portuguesa, como a italiana, foram comutar a mão-de-obra que havia antes da Lei Nº2: 040 de 28 de Setembro e 1871, que dizia: " Declara de condição livre os filhos de mulher escrava que nascerem desde a data d'esta lei, liberta os escravos da nação e outros, e providencia sobre a criação e tratamento d'aquelles filhos menores e sobre a libertação annual de escravos."
Esta crónica, escrita quase ao currente calamo, pretende lembrar a situação difícil em que viveram muitos portugueses no século XIX e meados do século XX, no Brasil. Muitos eram de menor idade, como o escritor Ferreira de Castro que chegou ao Brasil, sozinho, com 12 anos, para não falar de meu bisavô que emigrou ainda adolescente.
Para alinhavar esta modesta crónica, baseie-me: em reminiscências pessoais; na obra: " No Brasil", do escritor Silva Pinto; e na pesquisa realizada por Edgar Rodrigues, publicada no " Jornal de Matosinhos" de 6/12/1991.
HUMBERTO PINHO DA SILVA
Durante longos anos ouvi diariamente: comentários e pareceres de amigos e conhecidos e, frequentemente escuto na cafetaria, onde todas as tardes tomo o reconfortante cafezinho, conversas sobre os mais diversos assuntos.
De tudo que ouvi e escuto, conclui: a maioria das pessoas são como dizia o mendigo de Joracy Camargo: " Pensam que pensam, mas não pensam".
São simples repetidores do que ouvem ou leem dos fazedores de opinião.
Os pareceres variam, em norma, consoante a posição que se encontram no xadrez da vida: alteram-se com a situação económica do momento.
Poucos são os que possuem convicções e certezas fundamentadas – ainda que asseverem que as têm...
Se perguntarmos a ferrenho torcedor a razão de ter aderido a certo clube desportivo, não saberá, por certo, responder.
" Sou, porque sou." - Argumenta; ou porque o pai já o era; ou simplesmente para ser do contra: a família torcia por outro clube.
Acontece, igualmente, na política. Poucos militantes conhecem a ideologia e os estatutos. Basta-lhes repetirem o que diz o líder; os mais fanáticos, mesmo reconhecendo o erro, são incapazes de o reconhecerem.
Infelizmente o que se passa no desporto e na política, ocorre algumas vezes, na religião:
Se perguntarmos a crente, porque permanece nesta ou naquela denominação, por certo não saberá responder. Talvez declare: Que é a Igreja da maioria; porque gosta do sacerdote; ou era a da sua meninice.
Também na Igreja, como na política, há infelizmente, quem busque interesses financeiros ou projeção social:
Conheci homem que frequentava Igreja Evangélica, porque recebia, algumas vezes um queijo flamengo!...
Conheci, igualmente, escritor, amigo de meu pai, cujas obras alcançaram importantes prémios. Uma vez confidenciou-lhe:" No início da carreira tive que aderir a partido político de esquerda, para conseguir editor!..."
O mesmo aconteceu a intelectuais, na época da ditadura...que mais tarde inscreveram-se em partidos de esquerda, após haverem recebido benesses do antigo regime.
Tenho, portanto, sempre reservas quando ouço ou leio comentários na média, porque é raro ser-se imparcial. Todos sofremos influencias. Poucos são verticais e honestos. Mas ai de quem lhes diga isso!...
HUMBERTO PINHO DA SILVA
Havia na igreja de Santo Ildefonso, no Porto, abade conhecido pelos ditos espirituosos e assombradas atitudes.
Tinha como coadjutor jovem presbítero chamado Flores, se não estou em erro. Nessa recuada época não era nascido, e o que sei, é por via oral.
Ora apareceu certa ocasião, "grã-fino" para marcar matrimónio. Entregou os documentos necessários e, marcou-se a data.
Compareceram no dia indicado, os noivos e convidados. As senhoras usavam generosos decotes e ombros descobertos; vestuário arrojado para a época.
Entrou paramentado o abade. Viu o espetáculo indecoroso. Engoliu em seco e, declarou em voz severa: - " Não caso gente em traje indigno para a Casa do Senhor!..."
Levantou-se burburinho; houve ameaças; altercações; e ergueu-se ténue rumorejo entre os convidados.
Não houve outro remédio, perante a obstinação do sacerdote: - os cavalheiros despiram os casacos e, as senhoras encobriram os ombros com eles.
Dias depois do " Casamento das despidas", os fofoqueiros portuenses confidenciavam, entre risos escarninhos, o casamento carnavalesco.
Outro caso, também, curioso:
Havia mulher que participava na missa de contas pendentes das mãos, sussurrando Ave Marias. Depois permanecia horas a fio fazendo trejeitos diante de cada imagem.
Uma vez entrou o abade no templo, presenciou a deplorável cena e, não se conteve: -" A senhora não tem que fazer em casa?! Se sim, dou-lhe uma vassoura e varra-me a igreja."
Encolheu-se a beata, tossiu e enfiou-se acobardada pela porta, ruminando impropérios.
Mais um dito do velho abade:
Belo dia estando o bom abade tentando evangelizar jovem janota, este, petulante, lhe disse: - " Se soubesse os mariolas que assistem à sua missa!..."
Ao que prontamente o sacerdote repostou: - " A porta da igreja está aberta, até os cães podem entrar..."
Como a porta se encontra aberta, no templo, a todos, o mesmo acontece nos partidos políticos: todos podem entrar...
Depois sucede como nos Estados Unidos com o partido “Republicano”, que foi respeitado e democrata, e contou com Lincoln, admirado e respeitado em todo o mundo; e agora tem Trump, com carisma, mas sem probidade.
Instituições, associações e partidos políticos, sejam da esquerda ou da direita, são o que for o líder: umas vezes são ótimos; outras vezes péssimos. Depende de quem os lidera.
HUMBERTO PINHO DA SILVA
Conta D. Francisco Manuel de Melo, que caminhando, em frigidíssimo dia, por terras de Espanha, abrigou-se a estalagem, em que a dona e suas filhas escutavam a leitura de novela e, tão enredadas estavam que apesar dos rogos, não foram capazes de o atender, indo hospedar-se noutra pousada.
Vejamos o que diz o escritor do século XVII acerca das meninas embebidas na apaixonante novela: " Poucos dias depois as novelas foram tanto adiante, que cada uma das filhas daquela estalajadeira fizeram sua novela, fugindo com seu mancebo do lugar, como boas aprendizes da doutrina que tão bem estudaram" – " Carta de Guia"
Se simples leitura de novela de amor, causou tal desventura, o que pensar das telenovelas de certos canais de televisão, transmitidas em nobres horários, a cores, com cenas degradadas; com sexo quase explicito, excitando impulsos de mocinhas e mancebos; mostrando episódios promíscuos, abundantes de meninas de papá, a " transar" com o primeiro rapazinho que deparam, ou o namorado que mal conhecem?
Acérrimas críticas surgem, a cada passo, na imprensa, de educadores e pedagogos, principalmente no Brasil, censurando asperamente o desplante de projetarem cenas asquerosas, recheadas de diabólicas intrigas, e inauditos procedimentos.
Existem carradas de razão para tanta repulsa, mas, a meu ver, não são as cenas de nudez – que espevitam impulsos naturais, – o maior mal; já que as imagens são tão frequentes na mass-media, que quase não chocam; mas sim, a peçonha das ideias liberais que pretendem inculcar; os conceitos, as atitudes aviltantes; e, a linguagem de bordel, travada em íntimos encontros familiares, como se fosse o retrato, a imagem da vida atual da família brasileira.
Dir-me-ão: mostram a realidade. (Será?). Abordar temas que preocupam a coletividade, não é a missão da telenovela? Ser o espelho da sociedade?
Pergunto ao leitor atento: Não será o contrário – a sociedade o espelho da telenovela?
Porque, voluntariamente ou involuntariamente, difundem: a moda, a maneira de pensar, o comportamento e, a linguagem do povo, que tudo copia, abraça e imita.
Para finalizar, pergunto ainda: Não serão os meios de comunicação social, os principais responsáveis pelo – parecer, degradação dos costumes, desagregação da família, e ainda a ausência de pejo e decoro de muita juventude?
Creio que sim. Se o leitor costuma refletir, não deixará de ponderar sobre os enredos das telenovelas, que deviam e podiam ser excelentes meios de difusão de cultura e formação moral e cívica dos cidadãos; mas não são.
HUMBERTO PINHO DA SILVA
A 17 de Janeiros do ano de 2009, num sábado frio, pelas 21H35, ouvia na minha salinha, onde normalmente passo o serão, o canal: " Memória", da RTP.
Entrevistavam o Maestro João Nobre, que sorridente contou, entre outros, que trabalhara na extinta "Emissora Nacional", quando o responsável era o Capitão Henrique Galvão.
Por certo os leitores da minha geração, estão recordados do assalto ao paquete Santa Maria, por razões políticas, comandado pelo Henrique Galvão.
Na época o Capitão era oposicionista ao Estado Novo, mas durante anos foi acérrimo defensor do regime salazarista. - Além de deputado, ocupava altos cargos, entre eles dirigente da E.N., que era, como se sabe, o órgão que expressava e defendia o regime.
Henrique Galvão, participou na Revolução de 28 de maio e foi também encarregado de organizar a grandiosa: " Exposição Colonial do Porto".
Durante os seis anos que o Capitão foi responsável pela emissora do Estado, trabalhou, nesse tempo, como pianista, o nosso Maestro João Nobre.
A emissora mantinha, nessa época, programa ao vivo, onde participavam artistas de várias nacionalidades. Entre eles destacava-se pianista inglês, que interpretava magistralmente música portuguesa, que alcançou grande sucesso. O músico era nem mais nem menos o nosso João Nobre.
O dinheiro não abundava, Salazar, preocupadíssimo com as finanças da nação, não abria a bolsa para se realizar dispendiosos programas.
Recorde-se que nesse remoto tempo não havia: " Cassetes", "Fitas" e muito menos "CDs". Contratar artistas internacionais era, então, impossível, por falta de verba.
Henrique Galvão resolveu o problema: apresentava portugueses com nomes estrangeiros e, os ouvintes confiavam e acreditavam...piamente.
Era mentirinha, engano tão perfeito que houve ouvintes que procuravam as músicas do excecional intérprete inglês, em casas da especialidade...
Tudo isto foi dito, revelado pelo Maestro João Nobre, em noite fria de janeiro, no início do século, numa amena cavaqueira televisiva.
HUMBERTO PINHO DA SILVA
Mc.16-15
Nós, que somos, na Terra, Sal e Luz;
nós, que somos cristãos, ao que dizemos;
nós, a quem este mundo não seduz,
e para outro mundo já vivemos,
- nós temos de "SALGAR", de "ILUMINAR":
levar a Fé às almas; levar Deus
aos corações das gentes!...
Como disse Claudel: " Faire Lumiiére".
- abrir olhos aos cegos, aos descrentes;
levar, sempre prontos, sempre pacientes,
a LUZ do Evangelho q quem quiser.
Tu saberás falar?... Pois fala, amigo!...
E tu, sabes cantar?... Pois canta, então!...
Cada qual use o dom que tem consigo:
- a Palavra, o Sorriso, uma Canção!
Ele, Deus, está em tudo, até porque
( como disse Teilhard, num livro seu)
está na minha pena:- " Il est, en quelque
manière au bout de ma plume ( Dieu)".
Ninguém diga: " Eu não sei!..."; ou:" Eu não posso!...",
pois que Deus nos dá sempre, de sobejo,
pra cumprir, a preceito, Seu desejo.
.................................................................
Quanto temos, é d'Ele, não é nosso!
PINHO DA SILVA – (1915-1987) – Nasceu em Santa Marinha, Vila Nova de Gaia. Frequentou o Colégio da Formiga, Ermesinde, e a Escola de Belas Artes, do Porto. Discípulo de Acácio Lino, Joaquim Lopes , e do Mestre Teixeira Lopes. Primo do escultor Francisco da Silva Gouveia. Vilaflorense adotivo, por deliberação da Câmara Municipal de Vila Flor.
Tem textos dispersos por várias publicações, entre elas: “O Comércio do Porto”, onde mantinha a coluna “ Apontamentos”, e o “Mundo Português”, do Rio de Janeiro, onde publicou as “ Crônicas Lusíadas”. Foi redator do “Jornal de Turismo”, membro da Associação dos Jornalistas e Homens de Letras do Porto, e secretário-geral da ACAP. Está representado na selecta escolar: " Vamos Ler", da: Livraria Didáctica Editora, com o texto : " Barcos e Redes"
Quem fale de Jesus, com singeleza,
ou seja S. Francisco ou Escrivá,
apostoliza mais, mais paz no dá
que S. Tomás de Aquine!...
Na riqueza
filosófica deste, a simpleza
do povo ignorante ( onde nem há,
além da intuição que Deus pôs lá,
um nada de razão...), colhe sagosa?!
Eco do Estagirita, fala ás almas
de maneira diferente; mas as calmas
palavras de Jesus de Nazaré,
são claras como a própria madrugada!...
Nem que seja na boca consagrada
dum padre Lacordaire, ou Boussuet!
PINHO DA SILVA – (1915-1987) – Nasceu em Santa Marinha, Vila Nova de Gaia. Frequentou o Colégio da Formiga, Ermesinde, e a Escola de Belas Artes, do Porto. Discípulo de Acácio Lino, Joaquim Lopes , e do Mestre Teixeira Lopes. Primo do escultor Francisco da Silva Gouveia. Vilaflorense adotivo, por deliberação da Câmara Municipal de Vila Flor.
Tem textos dispersos por várias publicações, entre elas: “O Comércio do Porto”, onde mantinha a coluna “ Apontamentos”, e o “Mundo Português”, do Rio de Janeiro, onde publicou as “ Crônicas Lusíadas”. Foi redator do “Jornal de Turismo”, membro da Associação dos Jornalistas e Homens de Letras do Porto, e secretário-geral da ACAP. Está representado na selecta escolar: " Vamos Ler", da: Livraria Didáctica Editora, com o texto : " Barcos e Redes"
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