Fica difícil ensinar às crianças que elas não devem mentir, quando a mentira é prestigiada e fortalecida por aparato oficial. Torna-se ridículo falar em ética, no momento em que se bajula o poder, sob qualquer de suas formas e ninguém se constrange em adular para obter vantagens. Até mesmo a oração é utilizada para agradecer fruto de crime. Não estará o Criador com nojo de Sua criação?
O desserviço que essa ralé imoral presta ao desenvolvimento do Brasil é imensurável. O único patrimônio que merece zelo permanente – a honra, a hombridade, o caráter retilíneo e inquebrantável – foi jogado ao lixo. Não se vislumbra perspectiva de correção de rumos. O mal prevalece, o bem é ridicularizado. A esperteza ganha projeção e medalhas, enquanto a seriedade é confundida com imbecilidade. Como pretender que a infância e a juventude se disponham ao sacrifício, se preponderam os atalhos, os jeitinhos, os apadrinhamentos e a lei do mínimo esforço? Parece não haver restado território incólume à podridão.
Às vezes ela está disfarçada em aparência de higidez. Mas, no fundo, lá está o verme corruptor a impregnar as condutas e a sugerir que interessa é vencer. O sucesso a qualquer preço. Nunca houve tamanha liquidação de almas e por tão pouco se conseguiu jogar à lama o que um dia teve algum valor e se chamou reputação.
Desapareceu a distinção entre a honra subjetiva e a honra objetiva. É óbvio que a autoescusa encontra respostas para o que um dia foi chamado de falta de caráter. O pior é que a assistência vibra com essa vitória da perversão e ridiculariza quem ouse divergir dos novos critérios de sobrevivência na selva obscura do “vale tudo”.
Triste humanidade, em derrocada paralela à destruição do Planeta, igualmente cansado da insensatez desta espécie que ainda pretende ser a única provida de outro bem de evidente raridade: a ora extinta e outrora chamada razão.
JOSÉ RENATO NALINI - é Desembargador da Câmara Especial do Meio Ambiente do Tribunal de Justiça de São Paulo e autor de “Ética Ambiental”, editora Millennium. E-mail: jrenatonalini@uol.com.br.
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