Está feito. Já é público o que há muito (quase) todos sabiam: Lisboa quer "roubar" o Red Bull às margens do Douro. Três anos de sucesso do Air Race serviram para colocar em funcionamento mais um lóbi da capital (leia-se regional), onde o Estado aparece novamente como o palanque certo para tal acontecer. Directamente a partir dele, pelo Turismo de Portugal, ou por entrepostas empresas com capitais públicos, como EDP ou Galp, o que importa é centralizar o investimento e a notoriedade.
Tome-se como exemplo o último Tratado de Lisboa: nova oportunidade perdida para divulgar internacionalmente outra cidade nacional, como o fez a Holanda (Maastricht) ou a França (Nice). E este é nada mais que o terceiro tratado com o nome desta cidade associado: assim aconteceu em 1668 (acordo assinado entre o príncipe D. Pedro e Mariana de Áustria, que pôs termo à guerra da Restauração - 1640-1668) e assim se passou em 1864 (pacto firmado para delimitar as fronteiras entre Portugal e Espanha). São estes os regozijos regionais que carecem de um fim, pelo menos quando em causa está o nome de todos os portugueses, pois sempre surgem como timbre nacional.
Mas a capital não tem culpa disto. Não tem culpa deste centralismo. Não tem culpa que as personagens que representam o Estado só vejam Portugal quando olham para Lisboa. Não tem culpa dos "provincianos" que para lá se transferem e que tudo fazem para mostrar que sempre foram de lá, agradando ao colectivo associativo - mais ou menos secreto - que por lá vai habitando e gerindo os destinos do país.
Pode organizar-se o que se quiser, pode baptizar-se o que se entender, pode comprar-se o que se deseja, mas há uma coisa que não está à venda: o sonho. E enquanto assisto a esta realidade, tenho tido alguns… Para não falar de outros, talvez mais radicais, coloco apenas no mercado e à consideração apenas um: a regionalização.
Se não seguirmos este caminho, qualquer dia (todas as madrugadas de 24 de Junho) vemos Lisboa com uma réplica da ponte D. Luiz I, vendedores de martelos e alho-porro pelas ruas, espectáculo pirotécnico anexo, manjeri-cos com quadras sanjoaninas nas janelas das habitações e barcos rabelos com vivas ao S. João.
PAULO JORGE SOUSA - Director do jornal "Notícias de Gaia ". Portugal
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