Recebi centenas de opiniões a respeito do ‘Natal no Campus UNIFEI 2009’ em sua 5ª edição. Graças a Deus correu tudo bem e o resultado foi maravilhoso, muito abençoado, mas, mesmo assim, não agradamos a todos. Quando lidamos com muita gente e precisamos ter critérios bem definidos na organização, alguns se chateiam com detalhes que não pensamos ou não pudemos cuidar.
O trabalho para realizar sete shows e um almoço para centenas de pessoas, recebendo mais de 20 mil visitantes numa semana é monstruoso. Soma-se a isso a necessidade de manter o Campus aceso todas as noites e executar o trabalho de rotina na Pró-Reitoria de Cultura e Extensão. Já sabíamos que o cansaço viria e não nos deixamos abater pelas dificuldades, afinal, a cidade de Itajubá precisava continuar festejando o aniversário de Jesus Cristo na sua Universidade Federal.
Aprendi que calar sobre sua própria pessoa é humildade, calar sobre os defeitos dos outros é caridade, calar quando a gente está sofrendo é heroísmo, mas calar diante do sofrimento alheio se torna covardia. Calar diante da injustiça é fraqueza, calar quando o outro espera uma palavra é omissão, mas calar e não falar palavras inúteis é penitência.
Calar quando não há necessidade de falar é prudência, calar quando Deus nos fala é silêncio, e calar diante do mistério que não entendemos é sabedoria. Quando na escuridão da noite chamamos pelo Senhor e não O encontramos é porque não O procuramos em nossos corações. Ele jamais abandona seus filhos e não me abandonou durante meses de trabalho no Natal no Campus.
Aprendi também o valor de algumas amizades. Não falo somente do meu fiel amigo na coordenação dos eventos, Amaury Vieira, mas de muitas outras pessoas. Tentarei explicar meu sentimento de gratidão nesta história contada por um advogado:
“Um dia me fizeram uma pergunta: ‘O que você já fez de mais importante na sua vida?’. A resposta surgiu das profundezas das minhas recordações, assim:
O mais importante que já fiz na vida ocorreu em 8 de outubro de 1990. Comecei o dia jogando golfe com um amigo e, entre uma jogada e outra, ele me contou que sua esposa acabava de ter um bebê.
Logo chegou seu pai e, consternado, lhe disse que seu bebê foi levado para o hospital com urgência. No mesmo instante, meu amigo subiu no carro do pai e se foi. Por um momento fiquei parado, mas logo tratei de pensar no que deveria fazer.
Seguir meu amigo ao hospital? Minha presença não serviria de nada, pois a criança certamente estava sob cuidados médicos. Oferecer meu apoio moral? Talvez, mas, sem dúvida, estariam rodeados de amigos que lhes ofereceriam apoio e conforto necessários. A única coisa que eu faria indo até lá seria atrapalhar, pensei.
Decidi ir para casa, mas quando fui dar a partida no carro, percebi que o meu amigo havia deixado o seu carro aberto e com as chaves na ignição. Resolvi, então, fechá-lo e ir até o hospital entregar-lhe as chaves.
Como imaginei, a sala de espera estava repleta de familiares. Entrei sem fazer ruído e fiquei junto à porta pensando o que deveria fazer. Surgiu um médico que se aproximou do casal e, em voz baixa, comunicou o falecimento do bebê.
Durante os instantes seguintes, todos ficaram naquele silêncio de dor. Ao me ver ali, aquela mãe me abraçou e começou a chorar. Também meu amigo se refugiou em meus braços e me disse: ‘Muito obrigado, querido companheiro, por estar aqui’.
Passei o resto da manhã sentado na sala do hospital, vendo meu amigo e sua esposa segurar nos braços o bebê, despedindo-se dele. Isso foi a coisa mais importante que já fiz na vida, sem precisar dizer uma só palavra! E aquela experiência me deixou duas lições:
Primeira: a coisa mais importante que fiz ocorreu quando não havia absolutamente nada que eu pudesse fazer. Nada daquilo que aprendi na universidade, nem nos anos em que exerci a minha profissão, nem todo o racional que utilizei para analisar a situação e decidir o que deveria fazer me serviu para aquela circunstância. A única coisa que eu poderia ter feito era estar lá.
Segunda: aprendi que a vida pode mudar num instante. Fazemos nossos planos e imaginamos nosso futuro tão real como se não houvesse espaços para outras ocorrências. Ao acordarmos de manhã, esquecemos que perder o emprego, sofrer uma doença, cruzar com um motorista embriagado e outras mil coisas podem alterar esse futuro num piscar de olhos.”
Pois é, minha gente, para alguns é necessário viver uma tragédia para recolocar as coisas em ordem. No Natal no Campus, busquei um equilíbrio entre o trabalho e a minha vida. Aprendi que nenhum emprego, por mais gratificante que seja, compensa perder amigos. Também aprendi que o mais importante da vida não é ascender socialmente, nem receber honras, mas caminhar com Deus no coração. A todos que participaram, obrigado por estarem ao meu lado.
E quem viu o almoço solidário na UNIFEI, dia 20, sabe que Natal é todo dia! Na semana que vem comentarei mais sobre essa grande partilha.
PAULO ROBERTO LABEGALINI- Escritor católico, Professor Doutor da Universidade Federal de Itajubá-MG. Pró-reitor de Cultura e Extensão Universitária da UNIFEI E-mail: labega@unifei.edu.br
OS MEUS LINKS