A cada passo ouve-se esta afirmação proferida com protérvia, por néscios. Digo néscios, porque todos precisamos uns dos outros, e mal aviado vai quem pensa o invés.
Minha boa amiga D. Maria Cândida, conta sempre que escuta essa frase e outras semelhantes, o que ouviu ao avô, importante alquilador, a respeito daqueles que desprezam o humilde trabalhador e veneram senhores doutores e empresários abastados.
Dizia o avozinho da minha querida amiga: - “ Escuta: nunca deixes de respeitar todos, por mais simples que sejam; porque se um dia caíres na via publica ou te sentires desfalecer, não penses que são os que viajam de landó e sege, que se apeiam para te auxiliar, e menos ainda o “ importante ” que transita no passeio. Estes encontram-se muito atarefados para perderem minutos.”
- “Não te esqueças” – prosseguiu o sisudo avô, – “é o pobre artificie e a mulher de chinela, que se avizinham e amparam. O pobre, o que vive do seu trabalho e conhece o que custa a vida, é que costuma socorrer os necessitados “.
Há excepções - creio, e tenho provas, - mas, o que disse o prudente avozinho, em meados do século transacto, continua verdadeiro.
Em regra precisamos de todos, mormente dos que ocupam a base da pirâmide social. Muitos, erradamente, apartam-se de familiares e amigos que, por revés da vida, desceram na escala da sociedade, convencidos que não precisam deles para nada, e reverenciam os ricos e os que exercem cargos de relevo.
Enganam-se os que assim pensam ou desconhecem o revelho apólogo das panelas de barro e ferro, magistralmente narrado pelo genial Padre Manuel Bernardes, parafraseando a fábula de Esopo e inspirando-se no Eclesiástico. - 23:3
É que nas contendas da vida, sempre é a panela de barro que se quebra. Basta ir às portas dos tribunais para contestar essa verdade.
Bem assisado foi o famoso alquilador gaiense ao aconselhar, desse jeito, a neta querida.
Se o leitor permite conselho de quem tem vida longa e foi magoado por muitos, digo-lhe que não tenha pejo ao acamaradar-se com gente humilde, porque os ricos - e muitos, Deus sabe como alcançaram fortuna, - quando nos encontram na posição de Jó, olvidam que fomos companheiros de folguedo e nos banqueamos na mesma mesa.
HUMBERTO PINHO DA SILVA - Porto, Portugal
humbertopinhosilva@sapo.pt
OS MEUS LINKS