Quando eu era mais jovem, adolescente mesmo, do alto da petulância dos meus 15 anos, costumava achar que as pessoas mais velhas viviam se repetindo. Vira e mexia e eu encontrava aquela tia que contava sempre a mesma história de quando me deu o primeiro banho ou de como era a cidade no tempo dela e assim por diante. Como se diz por aí, ninguém aprende com a experiência do outro e eu precisei mesmo ver o tempo passar para entender que vamos, sim, nos tornando repetitivos, mas que isso está mais ligado ao amor do que a qualquer outra coisa.
Eu mesma, escrevendo, creio que já voltei a alguns temas como muita freqüência. É comum se falar do que se gosta, da mesma forma que é mais simples criticar aquilo que não se gosta ou não se entende. Assim, meus cachorros, minha sobrinha, flores, amigos e situações inusitadas costumam ser algo constante dos meus textos. A saudade, igualmente, também o é. Esse sentimento que me invade quando estou desprevenida, assalta minha mente e se apodera de meu coração de tal forma, com tal intensidade que logo sou sua refém.
Na minha já habitual repetição de temas, o passar ligeiro que o tempo parece ter desenvolvido é assunto recorrente. Eu tenho simplesmente a sensação de que os dias me atropelam, como se eu estivesse em meio a uma roleta doida, lutando somente para não ficar tonta, mas vendo os números que passam e que eu mal consigo assimilar. A sorte pode até fazer a roleta pausar em pontos estratégicos, mas quando ela para, ao contrário, é sinal de que nossa jogada acabou.
Nesse suceder maluco do tempo, lá já se vai o ano de 2009. Dia desses falavam que o mundo acabaria no ano de 2000... Embora agora se fale no término em 2012, para muita gente o mundo, ao menos o terreno, realmente acabou. Em 2009 mesmo, perdi amigos, vi idosos queridos se despedirem lentamente, bem como outros, mais novos, que foram levados de forma abrupta, sem avisos ou sinais. Infelizmente, tantos outros passaram pelas mesmas experiências, por dores de despedidas sem sentido.
Tenho saudades daqueles que perdi, daqueles que deixaram no mundo um espaço que jamais será preenchido. Entendo, hoje, não sem certa dor, as sem razões das pessoas se tornarem, com o passar dos anos, repetitivas. Falar sobre o que foi, sobre como as pessoas, as coisas e os lugares eram, dá a sensação de que o tempo retrocede, ao menos nas sensações que as lembranças provocam nos corações.
Em 2009, por outro lado, também vi nascerem sonhos, personificados em novas amizades, em crianças que chegaram ao mundo, em gestos que se transformaram em esperanças. Repetitiva, com saudades, deixo 2009 partir. Não porque me fosse possível outra opção, mas porque em meu íntimo, eu preciso deixar que ele se vá...
Desejo a todos que em 2010 as chegadas suplantem as partidas e que sejamos perdoados por nossos defeitos, sobretudo aqueles que nascem dos velhos hábitos, das saudades do que não podemos mudar...
CINTHYA NUNES VIEIRA DA SILVA --Advogada, mestra em Direito, professora universitária e escritora - São Paulo
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