“O mais difícil é não fazer nada: ficar só diante do cosmos. Trabalhar é um atordoamento. Ficar sem fazer nada é a nudez final. Há uns que não aguentam. Então vão se divertir. Estou escrevendo de madrugada. Talvez porque não queira ficar só diante do mundo. Mas de algum modo estou acompanhada.”.
Os subterfúgios que parecem o paradeiro ideal para recostarmos nossa alma conflituosa, são a descoberta de um mundo interior in(dizível) .
Abrimos infinitas portas ao adentrar no submerso palatável das palavras.
Palavras ditas, pensadas, calculadas, cantadas, letradas, intraduzíveis, frívolas, cerradas, cerceadas, frias, palavras-cores, ardentes, sentidas, inusitadas, sofridas, palavras-lágrimas, mortas, novas, articuladas, palavras-palavras, palavras...
De qual armário escolhemos as palavras a serem ditas? Em quais gavetas escondemos as palavras omissas?
O poeta é o artesão das palavras, antes mesmo que qualquer outro personagem chegue até ela.
Um discurso pensada-mente inacabado, um ponto final bem colocado, uma aproximação articulada, uma chance de resposta ao vazio, um preenchimento da lacuna vil...
Poetas cantam, encantam, contam. Inventam, reinventam e se alimentam.
“Há uns que não aguentam”, como afirmou Clarice Lispector, mas os poetas se autossustentam. E não vivem de migalhas. Revivem e recriam histórias que pertencem a um universo de pessoas, pois que se multiplicam nelas (e nelas).
“Para escrever tenho que me colocar no vazio. Neste vazio é que existo intuitivamente. Mas é um vazio terrivelmente perigoso: dele arranco sangue. Sou um escritor que tem medo da cilada das palavras: as palavras que digo escondem outras – quais? talvez as diga. Escrever é uma pedra lançada no poço fundo.”.
Mergulho e vou procurando a decifração do inesgotável... gota a gota. O sulco deixado pela pedra me intriga. É ele que persigo quando volto à terra.
Palavras são suspiros que nasceram neve e se amalgamaram com o gélido espreitar do cético, produzindo calor em sua intenção terna. Conduzem o poeta a linhas que serão seguidas pela humanidade, enquanto o belo prevalecer como linguagem essencial à sobrevivência.
Renata Iacovino , escritora, poetisa e cantora / reiacovino.blog.uol.com.br /
reval.nafoto.net / reiacovino@uol.com.br
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