Uma das cenas mais repercutidas no país, recentemente, não foi manchete de jornal nem notícia das grandes redes de TV. Ainda assim, foram poucos os deslocados que não a viram, seres alheios ao avanço das mídias! É assim que são taxados, grosso modo, os que não acompanharam a deliciosa trapalhada da cantora Vanusa, ao cantar o Hino Nacional num evento ocorrido na Assembléia Legislativa de São Paulo.
Como explicar tamanha divulgação de uma ocasião tão restrita? A resposta é o popular acervo de vídeos da web, o Youtube. Seus maiores sucessos não são exemplos de produção e planejamento sofisticados, como é o padrão das mídias tradicionais. Ao contrário: proliferam gravações caseiras, distorcidas, de má qualidade e curta duração. O importante é captar o momento decisivo: a gafe, a fatalidade, o erro. São cenas que elegem e dão visibilidade ao cotidiano das pessoas comuns, imagens ocasionais, não planejadas, mas que atravessam furiosamente o mundo.
Dessa forma, os famosos não têm mais como fugir de seus deslizes. Prováveis descartes de alguma ilha de edição têm potencial para se tornar um “hit”. “Ruído” se torna matéria-prima. Assim, o Youtube, por meio dos usuários que o alimentam, promove um escrutínio da fama, cumprindo a vocação social de trazer à luz aquilo que deveria permanecer oculto. Vanusa não foi a primeira vítima a entrar no olho do furacão midiático, tampouco será a última.
Configuram-se novas modalidades de tratamento com o público. A audiência passa a ter poder de escolha sobre o que e quando quer ver. Não é mais suficiente imaginar o espectador como um ser passivo, em meio à massa, que recebe conteúdos sem qualquer tipo de resistência.
O Youtube, portanto, propõe novas formas de conduta e participação nas comunicações, onde todos tenham a liberdade de receber, produzir, interagir e compartilhar. É uma alternativa desafiadora e autêntica de autorepresentação, sobretudo para aqueles que estão marginalizados dos grandes circuitos.
JOÃO PAULO PUTINI - graduando em Comunicação Social - Hab. em Midialogia pela UNICAMP
jputini@gmail.com
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