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Segunda-feira, 31 de Agosto de 2009
UMA TRAGÉDIA HÁ 106 ANOS ... ou O MISTERIOSO DESAPARECIMENTO DO BALÃO DO BELCHIOR

 

 

                   Deambulava, distraidamente, pelas nove horas do dia 21 de Novembro, do ano de 1903, pela rua do Triunfo, o Sr. Franz Burmester. Em sentido inverso, caminhava a passos largos, Tomaz Cardoso. Cumprimentam-se efusivamente e entabulam animada conversa.

Entusiasmado com a proeza de Belchior da Fonseca, Tomáz Cardoso revela eufórico que nesse preciso momento, nos jardins do Palácio de Cristal, estavam a encher o “Lusitano”.

Burmester fica surpreso e pressuroso encaminha-se para o Palácio em busca de Belchior, que assistia ao enchimento do balão, e prontamente oferece-lhe o apoio de potentes rebocadores.

Agradeceu Belchior a generosa gentileza e declara que não se incomodasse, pois tomaria a direcção de Vila da Feira, e caso o vento não fosse favorável, não se realizaria a ascensão.

Conhecedor do espírito aventureiro do aeronauta, Burmester instou, advertindo-o:

- “Senhor Belchior, com a sorte que tem tido receio bem que seja descuidado. “

Contraveio, sorrindo, o aeronauta, convicto dos seus conhecimentos e do sucesso obtido em anteriores ascensões:

- “ Considero estes ares como meus! … ”

 

 

             

 

 

Eram onze horas e cinquenta minutos quando mansamente se elevou o “Lusitano”. Na barquilha seguiam: Belchior da Fonseca, José António de Almeida, morador na rua do General Torres (Gaia) e César Marques dos Santos - conhecido por “ Menino de Oiro”,- filho do capitalista João Marques, que vivia num chalet em Vilar do Paraíso, na antiga estrada Porto - Espinho.

Cerca de uma centena de espectadores, na maioria amigos dos aeronautas, assistiam à ascensão.

Amanhã estava amena, o céu lavado de nuvens e o vento moderado não previa perigosidade.

Elevou-se o “Lusitano” perante o pasmo de todos e ruidosa salva de palmas saudou os aeronautas.

Neste em meio o balão, ganhando altura, atravessa serenamente o rio, em direcção ao Candal; inexplicavelmente guina de súbito para a Foz do Douro, tomando a direcção do Atlântico.

Verificando a alteração, não prevista o irmão de Tomaz Cardoso apressa-se a solicitar a Burmester que, sem tardança, faça sair um rebocador, pois presente presságios funestos.

Imediatamente o “Lusitano” e o “Mindelo” fazem-se ao mar e logo a seguir, do Porto de Leixões, um vapor salva-vidas sai, tentando localizar os aeronautas.

Mas o balão do Belchior, adquirido em Paris, jamais foi encontrado, apesar de aturadas buscas. O “ Lusitano” misteriosamente sumira-se na imensidão do Oceano.

Eram dezassete horas, cinco após a partida do balão do Palácio de Cristal - já se pensava o pior, - quando chega à redacção de “ O Primeiro de Janeiro” a alegre nova de Jaime Teixeira da Mota e Silva. A novidade era a seguinte: O “Lusitano” caíra no mar, ao largo da Figueira da Foz, salvando-se a tripulação.

Mas a notícia era falsa.

 

 

          

 

 

Pela cidade do Porto, mormente na Praça de D. Pedro, onde havia maior concentração de pessoas e principalmente no “ Café Restaurante Porto Club”, comentava-se que o balão chegara a Marrocos; outros asseveravam que havia seguras notícias que estavam sãos e salvos nos Açores e que em breve regressariam coroados de glória.

Quando a esperança de os encontrar já esmorecia, surge a feliz nova de Keeping, capitão do navio inglês “ Searchlight”, declarando que os vira junto a Aveiro e que estavam tranquilos e sem problemas.

As horas e os dias iam passando. Inquietavam-se os familiares e amigos e começava-se a crer que algo de anormal se passara. Como por magia, o balão de Belchior “evaporara-se” para sempre misteriosamente no céu azul.

Belchior da Fonseca era farmacêutico e residia na rua Cândido dos Reis, em Vila Nova de Gaia, num prédio que ficava defronte à Fonte do Cabeçudo, que tinha no rés-do-chão a farmácia.

Pouco se conhece da sua biografia. Sabe-se que era natural de Castro Daire, filho de Constantino da Fonseca, que ao tempo do acidente ainda era vivo.

Em 1912, segundo afirma Alberto Pinho Vargas, em missiva a familiar, a farmácia ainda existia e era dirigida por um tal Camacho.

A primeira ascensão de Belchior foi em Agosto de 1903, com Cartom.

Após o desaparecimento do “ Lusitano”, Cartom - famoso aeronauta gaulês, - declarou na “ Sociedade Francesa de Navegação”, que apenas dera uma aula prática a Belchior. Acrescentou ainda que o aeronauta português realizara depois várias ascensões, mostrando grande mestria.

Testemunhar disso é Mariotte, jornalista de “ A Palavra” que viajou de balão a Fiães, na companhia de Tomaz Cardoso, Corregedor da Fonseca da “Voz Pública” e Belchior, onde este mostrou possuir profundos conhecimentos a manobrar o aeróstato.

Certo é que jamais se soube o que aconteceu ao “Lusitano” após haver ultrapassado a barro do Douro. Para sempre tudo ficou mergulhado num misterioso silêncio nunca revelado.

 

HUMBERTO PINHO DA SILVA   -  Porto, Portugal

 



publicado por Luso-brasileiro às 15:11
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4 comentários:
De Ines Cunha a 25 de Fevereiro de 2011 às 23:56
Boa noite Sr. Humberto Pinho da Silva.
Chamo-me Inês Cunha, sou natural de Castro Daire mais propriamente de uma aldeia chamada Reriz.
Li hoje com grande espanto um "documentario" de Segunda-feira 31 de Agosto de 2009 com o titulo "UMA TRAGÉDIA HÁ 106 ANOS ... ou O MISTERIOSO DESAPARECIMENTO DO BALÃO DO BELCHIOR".
Foi com grande alegria que encontrei esta história. Sou prima em 4º grau de Belchior da Fonseca natural de Reriz, 2º primo da minha avó materna , Ana Soares Fonseca ainda viva. Ela que tal como eu adora as histórias da familia, estava hoje mais uma vez a falar-me dos primos e eu lembrei-me de procurar na internet algo que falasse da farmácia Fonseca em Vila Nova de Paiva, quando encontrei este, para nós, emocionante texto.
Gostava muito de saber como o senhor tem essas informações de Belchior. Tudo o que sei dele é pela minha avó mas gostaria mesmo muito de saber mais. Agradecia-lhe muito que me contactasse
inespcunha@hotmail.com
Muito obrigada
Uma boa noite


De jose santos a 22 de Novembro de 2015 às 17:05

Boa tarde

Sou neto de César Marques dos Santos que acompanhou até sempre seu orimi Belchior.
Se tiver noticias sobre esta acontecimento por favor enie-me.
Obrigado
José SAntpsu


De Luso-brasileiro a 30 de Novembro de 2015 às 10:37
Infelizmente nada ou pouco mais conheço sobre o assunto. Os jornais da época nada mais relatam do que eu disse.. Pelo comentário de Inês Cunha, prima de Belchior, os actuais parentes do farmacêutico, também nada sabem desse antepassado.


De wellington a 4 de Fevereiro de 2014 às 13:59
vcs e louco


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