PAZ - Blogue luso-brasileiro
Quarta-feira, 30 de Dezembro de 2009
RENATA IACOVINO - NOVAS FORMAS DE VIOLÊNCIA III

                   

 

 

            Tenho discorrido sobre a violência cometida contra crianças, na área consumerista, em especial no tocante à publicidade.

            Coincidentemente caiu-me às mãos matéria publicada, no mês de setembro, num veículo de comunicação, que menciona o estudo da pesquisadora de Harvard, Susan Linn, o qual alerta para os distúrbios comportamentais e alimentares que o excesso de publicidade pode causar no público infantil.

            Ressalta a professora que este advento tem como conseqüências a sexualização precoce, a violência juvenil, problemas familiares, a anorexia e a obesidade.

            O excesso de estímulos ao qual a criança é submetida é o causador em potencial da frustração. Segundo pesquisas apresentadas por Susan, a criança que possui valores voltados às questões materiais, buscando felicidade na aquisição de produtos, é mais infeliz.

            Como dito em artigos anteriores – e isto vale para o adulto, também – a frustração é uma constante em indivíduos que buscam o bem-estar em algo externo, material, onde reside a superficialidade e a ausência de identidade. Isto gera um desejo compulsivo e obsessivo, uma vez que a vontade material é saciada apenas de imediato e pior, ilusoriamente saciada.

            A pesquisadora sueca e coordenadora do International Clearinhouse (observatório que estuda a relação entre mídia e infância), Cecília Von Feilitzen, trouxe para o 2º Fórum Internacional Criança e Consumo, realizado recentemente em São Paulo, algumas experiências e informações importantes. Na Suécia, a publicidade é vetada para menores de 12 anos, ou seja, é proibida a publicidade antes e depois da programação infantil; nem para adultos, tampouco para crianças, já que estas são extremamente suscetíveis a este ato. E durante a programação normal, a publicidade exibida não é dirigida ao público infantil.

            Há um Projeto de Lei semelhante tramitando na Câmara dos Deputados, em Brasília (Brasil). Caso fosse aprovado, todos os tipos de publicidade, em todos os horários e em qualquer tipo de mídia, seriam proibidos.

            Cecília faz a seguinte colocação: “A propaganda tem que ser bastante ética e levar em consideração que as crianças não têm muita experiência, que elas não têm tanto senso crítico quanto o adulto.”.

            Interessante esta observação, especialmente se levarmos em conta que a educação nas escolas, por sua vez, tem – ou deve ter – um compromisso com este princípio. Sabemos que a Pedagogia prima por este cuidado. Da mesma forma, a cultura que é – ou deve ser – transmitida à criança, caminha pelo mesmo fio condutor. E aí esbarramos em tudo o que é ou pode ser cultura. A educação e a cultura estão, também, inseridas no cotidiano familiar e naquilo que lhe é transmitido e absorvido.

            A publicidade insere-se nesse contexto cultural, ou seja, em tudo que é fornecido a esse público que, por natureza, coloca rapidamente em prática o seu radar interior, sua antena parabólica de plantão. O problema é o que ela selecionará disso tudo. E a publicidade, neste aspecto, opera num sentido negativo para a formação do indivíduo.

            O Código de Defesa do Consumidor Brasileiro nos fala sobre a “hipossuficiência”. Caso consideremos a criança hipossuficiente, ela não poderia receber abertamente a gama de informações carregadas de indução contidas numa publicidade.      Se o adulto torna-se vulnerável mediante a publicidade, que fará a criança!

            Cecília ressalta que é perfeitamente possível a mídia subsistir sem apelar a espécies abusivas e enganosas de publicidade. Acho que todos – ao menos os adultos – sabemos disto.

            Este tema vem sendo muito debatido ultimamente, devido à sua gravidade, por envolver saúde pública e problemas sociais.

            Se este é o país do vale tudo, temos uma publicidade que pode tudo. Isto não deve acontecer e até se parece um pouco com uma declaração de um famoso político brasileiro, em que dizia que a ética na política é diferente da ética de uma forma geral.

            Bom, o publicitário pode alegar a mesma coisa. E assim por diante. Desta forma, cada segmento vai criar a sua ética e perderemos de vista... a ética. A ética perdeu sua identidade e estão querendo fazer o mesmo com nossas crianças, futuros dirigentes deste Planeta.  

 

 

RENATA IACOVINO  -   socióloga, escritora e cantora / reiacovino.blog.uol.com.br /
http://reval.nafoto.net

 

 



publicado por Luso-brasileiro às 12:04
link do post | comentar | favorito

mais sobre mim
arquivos

Julho 2024

Maio 2024

Março 2024

Fevereiro 2024

Janeiro 2024

Dezembro 2023

Novembro 2023

Outubro 2023

Setembro 2023

Agosto 2023

Julho 2023

Junho 2023

Maio 2023

Abril 2023

Março 2023

Fevereiro 2023

Janeiro 2023

Dezembro 2022

Novembro 2022

Outubro 2022

Setembro 2022

Julho 2022

Junho 2022

Maio 2022

Abril 2022

Março 2022

Fevereiro 2022

Janeiro 2022

Dezembro 2021

Novembro 2021

Outubro 2021

Setembro 2021

Julho 2021

Junho 2021

Maio 2021

Abril 2021

Março 2021

Fevereiro 2021

Janeiro 2021

Dezembro 2020

Novembro 2020

Outubro 2020

Setembro 2020

Agosto 2020

Julho 2020

Junho 2020

Maio 2020

Abril 2020

Março 2020

Fevereiro 2020

Janeiro 2020

Dezembro 2019

Novembro 2019

Outubro 2019

Setembro 2019

Agosto 2019

Julho 2019

Junho 2019

Maio 2019

Abril 2019

Março 2019

Fevereiro 2019

Janeiro 2019

Dezembro 2018

Novembro 2018

Outubro 2018

Setembro 2018

Julho 2018

Junho 2018

Maio 2018

Abril 2018

Março 2018

Fevereiro 2018

Janeiro 2018

Dezembro 2017

Novembro 2017

Outubro 2017

Setembro 2017

Agosto 2017

Julho 2017

Junho 2017

Maio 2017

Abril 2017

Março 2017

Fevereiro 2017

Janeiro 2017

Dezembro 2016

Novembro 2016

Outubro 2016

Setembro 2016

Julho 2016

Junho 2016

Maio 2016

Abril 2016

Março 2016

Fevereiro 2016

Janeiro 2016

Dezembro 2015

Novembro 2015

Outubro 2015

Setembro 2015

Agosto 2015

Julho 2015

Junho 2015

Maio 2015

Abril 2015

Março 2015

Fevereiro 2015

Janeiro 2015

Dezembro 2014

Novembro 2014

Outubro 2014

Setembro 2014

Agosto 2014

Julho 2014

Junho 2014

Maio 2014

Abril 2014

Março 2014

Fevereiro 2014

Janeiro 2014

Dezembro 2013

Novembro 2013

Outubro 2013

Setembro 2013

Agosto 2013

Julho 2013

Junho 2013

Maio 2013

Abril 2013

Março 2013

Fevereiro 2013

Janeiro 2013

Dezembro 2012

Novembro 2012

Outubro 2012

Setembro 2012

Agosto 2012

Julho 2012

Junho 2012

Maio 2012

Abril 2012

Março 2012

Fevereiro 2012

Janeiro 2012

Dezembro 2011

Novembro 2011

Outubro 2011

Setembro 2011

Julho 2011

Junho 2011

Maio 2011

Abril 2011

Março 2011

Fevereiro 2011

Janeiro 2011

Dezembro 2010

Novembro 2010

Outubro 2010

Setembro 2010

Agosto 2010

Julho 2010

Junho 2010

Maio 2010

Abril 2010

Março 2010

Fevereiro 2010

Janeiro 2010

Dezembro 2009

Novembro 2009

Outubro 2009

Setembro 2009

Agosto 2009

Julho 2009

favoritos

JOÃO CARLOS JOSÉ MARTINEL...

pesquisar
 
links