Tenho discorrido sobre a violência cometida contra crianças, na área consumerista, em especial no tocante à publicidade.
Coincidentemente caiu-me às mãos matéria publicada, no mês de setembro, num veículo de comunicação, que menciona o estudo da pesquisadora de Harvard, Susan Linn, o qual alerta para os distúrbios comportamentais e alimentares que o excesso de publicidade pode causar no público infantil.
Ressalta a professora que este advento tem como conseqüências a sexualização precoce, a violência juvenil, problemas familiares, a anorexia e a obesidade.
O excesso de estímulos ao qual a criança é submetida é o causador em potencial da frustração. Segundo pesquisas apresentadas por Susan, a criança que possui valores voltados às questões materiais, buscando felicidade na aquisição de produtos, é mais infeliz.
Como dito em artigos anteriores – e isto vale para o adulto, também – a frustração é uma constante em indivíduos que buscam o bem-estar em algo externo, material, onde reside a superficialidade e a ausência de identidade. Isto gera um desejo compulsivo e obsessivo, uma vez que a vontade material é saciada apenas de imediato e pior, ilusoriamente saciada.
A pesquisadora sueca e coordenadora do International Clearinhouse (observatório que estuda a relação entre mídia e infância), Cecília Von Feilitzen, trouxe para o 2º Fórum Internacional Criança e Consumo, realizado recentemente
Há um Projeto de Lei semelhante tramitando na Câmara dos Deputados, em Brasília (Brasil). Caso fosse aprovado, todos os tipos de publicidade, em todos os horários e em qualquer tipo de mídia, seriam proibidos.
Cecília faz a seguinte colocação: “A propaganda tem que ser bastante ética e levar em consideração que as crianças não têm muita experiência, que elas não têm tanto senso crítico quanto o adulto.”.
Interessante esta observação, especialmente se levarmos em conta que a educação nas escolas, por sua vez, tem – ou deve ter – um compromisso com este princípio. Sabemos que a Pedagogia prima por este cuidado. Da mesma forma, a cultura que é – ou deve ser – transmitida à criança, caminha pelo mesmo fio condutor. E aí esbarramos em tudo o que é ou pode ser cultura. A educação e a cultura estão, também, inseridas no cotidiano familiar e naquilo que lhe é transmitido e absorvido.
A publicidade insere-se nesse contexto cultural, ou seja, em tudo que é fornecido a esse público que, por natureza, coloca rapidamente em prática o seu radar interior, sua antena parabólica de plantão. O problema é o que ela selecionará disso tudo. E a publicidade, neste aspecto, opera num sentido negativo para a formação do indivíduo.
O Código de Defesa do Consumidor Brasileiro nos fala sobre a “hipossuficiência”. Caso consideremos a criança hipossuficiente, ela não poderia receber abertamente a gama de informações carregadas de indução contidas numa publicidade. Se o adulto torna-se vulnerável mediante a publicidade, que fará a criança!
Cecília ressalta que é perfeitamente possível a mídia subsistir sem apelar a espécies abusivas e enganosas de publicidade. Acho que todos – ao menos os adultos – sabemos disto.
Este tema vem sendo muito debatido ultimamente, devido à sua gravidade, por envolver saúde pública e problemas sociais.
Se este é o país do vale tudo, temos uma publicidade que pode tudo. Isto não deve acontecer e até se parece um pouco com uma declaração de um famoso político brasileiro, em que dizia que a ética na política é diferente da ética de uma forma geral.
Bom, o publicitário pode alegar a mesma coisa. E assim por diante. Desta forma, cada segmento vai criar a sua ética e perderemos de vista... a ética. A ética perdeu sua identidade e estão querendo fazer o mesmo com nossas crianças, futuros dirigentes deste Planeta.
RENATA IACOVINO - socióloga, escritora e cantora / reiacovino.blog.uol.com.br /
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