Ensaio sobre a poesia de Florbela Espanca
Tortura
Tirar dentro do peito a emoção,
A lúcida verdade, o sentimento,
- E ser, depois de vir do coração,
Um punhado de cinza esparso ao vento!…
Sonhar um verso d’alto pensamento,
E puro como um ritmo de oração!
- E ser, depois de vir do coração,
O pó, o nada, o sonho dum momento!…
São assim ocos, rudes, os meus versos:
Rimas perdidas, vendavais dispersos,
Com que eu iludo os outros, com que minto!
Quem me dera encontrar o verso puro,
O verso altivo e forte, estranho e duro,
Que dissesse, a chorar, isto que sinto!
Florbela Espanca - In Livro de Mágoas
Respondendo a Florbela
(Tortura)
Não se esvazia assim esse teu pranto
Com um sopro de vento, um temporal
Mas tenta um verso puro, talvez santo
Que o que é santo é do bem, renega o mal
Esquece a altura a que possa subir
Um pensamento nobre em verso posto
Que o importante é não deixar cair
Um sorriso fugaz nesse teu rosto
E vê; nada há de rude nos teus versos
Que a tristeza é demais e a solidão
Conta de ti efígies e anversos
E não percas na rima a solidão
Que sem ela o poeta perde o amplexo
De que se serve a sua emoção.
Eugénio de Sá - 2009
BIOGRAFIA |
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Eugénio de Sá |
Nasci em 1945, no típico bairro da Ajuda, em Lisboa, Portugal. Lá do alto, pode ver-se parte do belíssimo estuário do Tejo e ainda se vislumbra o espaço vizinho da Torre de Belém, que assinala o local de partida das naus portuguesas a caminho da epopeia dos descobrimentos. Lisboa está-me nas veias, tal como a literatura e a poesia, que sempre me cativaram o espírito. Todavia, e por circunstâncias da vida familiar, cedo conheci Sintra, onde vivi e estudei durante toda a fase do ensino secundário. Uma vila encantada, que ainda hoje visito regularmente. A frequência do Instituto Comercial levou-me de novo ao quotidiano da capital, até que chegou o tempo de cumprir o serviço militar. Corria então o ano de 1965. Cinco anos volvidos, e depois de uma breve passagem por uma multinacional norte americana, tomei rumo na redacção de um jornal que então havia iniciado a sua publicação. Começava aí a tomar forma a minha natural vocação pelo mundo da comunicação, onde evoluí durante mais de trinta anos, divididos entre a escrita e a publicidade. Sempre na cidade de Lisboa. Conheço parte da Europa e alguns países do norte de África, onde a minha natural apetência pela história dos povos me foi levando. Hábitos de leitura, a que uma avó querida não é alheia, dotaram-me de vontade e gosto pelo conhecimento. Entre os momentos que lembro em que o espírito mais se deliciou, avultam os consagrados à leitura dos grandes mestres portugueses; de Luís de Camões a Eça de Queiroz, de Alexandre Herculano a Camilo Castelo Branco. Todos contribuíram muito para o meu enriquecimento espiritual. O deslumbramento pela poesia chegou em 1968, trazida num livrinho que recebi das mãos de José Saramago, então colaborador do Jornal A Capital, onde iniciei a minha actividade de comunicador. Ainda guardo esse exemplar autografado pelo nosso prémio Nobel. Chama-se; “Provavelmente Alegria”. E é com essa mesma alegria que me apresento perante vós, queridos leitores, com o entusiasmo de quem vem contar os sentimentos que lhe vão na alma e que me marcam hoje os traços do rosto. Bem vindos sejam, pois, à minha poesia. Membro de "Associação Portuguesa de Poetas"; Poetas Del Mundo"; "C.U.P.E. - Clube Universal de Poetas Y Escritores". Actual Membro de "Os Confrades da Poesia" |
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