A Quaresma me chama. Em algumas situações, resisto, em outras insisto e, quando me deparo com a força do Amor de Deus, sucumbo e me torno mais feliz. A Quaresma me chama à conversão.
A Campanha da Fraternidade, deste ano, diz de “Fraternidade e Vida no Planeta” e que “A criação geme em dores do parto” (Rm. 8, 22). O ser humano agride, por interesses pessoais e escusos, a obra do Criador. Suga o verde. Os seres humanos destroem, depredam, aniquilam, extinguem espécies e poluem as águas, sob o azul encoberto por cinzas. Invadem a intimidade do ar, da água... Surgem graves ameaças à humanidade, como o aquecimento global. O Senhor nos alerta no Salmo 134/135: “Os ídolos dos pagãos não passam de prata e ouro; são obras de mãos humanas. (...) Assemelhem-se a eles todos os que os fizeram, e todos os que neles confiam”. A esperança, na “criação” que geme em dores do parto, está em se colocar Deus como o Senhor da natureza – e não a prata e ouro -, no discernimento e na mudança de mentalidade e de atitudes.
O Senhor me faz um convite: “Eis que estou à porta e bato; se alguém ouvir a minha voz e abrir a porta, eu entrarei em sua casa e tomaremos refeição” (Ap. 3, 20). É tempo favorável para reconhecer a minha debilidade com uma sincera revisão de vida e acolher a graça renovadora.
Despertou-me a atenção, para esse tempo, porque me mostra o perigo em rejeitar a Cruz do Ressuscitado, uma reflexão que li, ainda no Tempo Comum, de São Gregório Magno – Séc. VI: “Sucede frequentemente que um espírito débil, quando recebe aplausos e elogios pelas suas boas ações, se deixa atrair pelas alegrias exteriores, esquecendo as aspirações interiores e fica contente com os louvores que lhe vêm de fora. Quem assim procede encontra maior satisfação em parecer do que em ser verdadeiramente digno de louvor; e, cada vez mais sedento de palavras elogiosas, acaba por abandonar o que tinha começado”.
Iluminaram-me as palavras de nosso bispo diocesano, Dom Vicente Costa, na Missa de Cinzas e abertura da Campanha da Fraternidade. Foi ele discorrendo a respeito e nos conduzindo, com clareza, à luz da Palavra, à caridade, à oração e ao jejum como imprescindíveis à conversão. Ao final, convidou-nos a proceder de maneira a diminuir o gemido de agonia das obras do Altíssimo. Veio-me a profecia de Joel (2, 13), que acabara de ser proclamada: “... rasgai o coração, e não as vestes, e voltai para o Senhor, vosso Deus...” De imediato, ocorreu-me as vezes que, com um julgamento ou palavra má, provoquei em alguém gemidos de agonia. Consola-me, contudo, a possibilidade de mudança, de não mais ocasionar dores de parto estéril nas criaturas do Criador, através da caridade e com a força da oração e do jejum. Haverá de ser, pela graça de Deus, que nos dá a Eternidade, o meu caminho, nesta Quaresma, em busca da Páscoa.
MARIA CRISTINA CASTILHO DE ANDRADE
É educadora e coordenadora diocesana da Pastoral da Mulher/ Magdala, Jundiaí, Brasil
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