A festa da Páscoa lembra a passagem do povo hebreu da escravidão do jugo faraônico no Egito para a Terra Prometida. Lembra ainda a ressurreição de Jesus e o que ela significou e continua significando para a Igreja no empenho de concretizar o projeto de Deus para toda a humanidade: que todas as pessoas sejam felizes e tenham vida em abundância. Para os operadores do Direito, indica a busca de permanente promoção de Justiça.
Numa sociedade extremamente consumista, que só confia no valor da esperteza e na força da competição, prevalecem a descrença, o egoísmo e a violência, razão pela qual, para muitos o período de Páscoa perde o seu real sentido, transformando-se num tempo de viagens, de lazer, de festas com amigos e parentes, com muito comida e bebida em geral.
No entanto, como sua própria palavra indica, ela representa passagem, esperança e busca pelo novo. Constitui-se numa época de reflexão e renovação de nossos propósitos, pois Jesus Cristo com sua ressurreição inaugurou uma nova era para a humanidade, proclamado a vitória da vida sobre a morte e apontando a libertação como ideal maior de todo homem.
É por isso que ela implica em superação do individualismo, das desigualdades e dos preconceitos; em gestos de solidariedade e fraternidade; em luta contra a distorção dos direitos fundamentais; em alerta a favor do Direito e da promoção da Justiça; em empenho na melhora da qualidade de vida de todos, sem distinções; em compromisso permanente com a paz e principalmente, em fé na vitória do bem sobre o mal. Nesta trilha, invocamos o prof. Lourival José Martins Filho: “Não há vida sem amor, e quem não ama não compreende próximo, não sabe o que é respeito. Por isso, além do feriado, dos ovos e chocolates que povoam o nosso imaginário, vamos exercitar o dialogo, o estar juntos, o abraço, o sorriso sincero. Que em cada família o encontro e a partilha fortaleçam os vínculos e as pessoas. Mesmo em situações complexas temos a capacidade de romper com o que está posto, compreender-se inacabado e buscar dar sentido à vida. Acreditamos que este é o grande desafio da educação contemporânea. Fazer o outro entender que a vida só tem sentido pelo sentido que cada um de nós, individual e coletivamente, desenha. É inadmissível percebermos jovens e adultos já desanimados e anestesiados diante do viver e dos desafios cotidianos” (Diário Catarinense – pág. 12 – 20/03/2008).
Por outro lado, é de se ressaltar que a busca da libertação deve persistir, com cidadãos na totalidade preparando-se para saber acionar os instrumentos legais, a fim de que a lei seja cumprida de fato e que todas as pessoas sejam felizes e tenham vida em abundância, com o atendimento pronto de suas necessidades fundamentais. “A páscoa é um gesto em favor da esperança numa época em que desapareceram as utopias, deixou-se de sonhar e o mundo ficou pequeno” (Dom Luiz Soares Vieira, vice-presidente da CNBB).
MENSAGEM
Já se disse que para cada ceia eucarística ser honesta, deverá haver pão sobre as mesas e justiça nas ruas. Infelizmente, a nossa realidade tem se distanciado cada vez mais dos mínimos padrões morais de convivência. É por isso que o Domingo de Páscoa é muito importante, já que o sentido de sua celebração leva a repensar nossa vida à luz do Cristo ressuscitado, para criar um outro modo de ser, de pensar e de se relacionar com Deus, com os irmãos e com a natureza. Mostra a premente necessidade de se provocar uma transformação de base no relacionamento humano, no qual todos tenham voz e vez, e seja possível firmar entre os homens uma aliança que elimine o isolamento, a marginalização, a exploração do homem pelo homem.
JOÃO CARLOS JOSÉ MARTINELLI é advogado, jornalista, escritor e professor universitário
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