Queridos leitores e leitoras:
Iniciamos a Semana Santa: a semana maior da Igreja, em que contemplamos os mistérios da Paixão, Morte e Ressurreição de Jesus. Gostaria de refletir hoje sobre um acontecimento que marca as celebrações desta semana: a traição de Judas. (cf. Mt 26,14-16).
Judas negociou seu Mestre por trinta moedas (valor de um escravo). Apenas trinta! Podemos pensar: Que traição! Isso é revoltante! Jesus era tão bom, tão justo, tão amoroso... Como pôde Judas agir daquela forma? Se o colocássemos em um tribunal, sendo qualquer um de nós como juiz, a condenação seria certa por grande traição - e a sentença, a morte.
No entanto, surge hoje a necessidade de refletirmos quantas são as vezes que também nós traímos o Senhor. Quantas moedas temos recebido, todas as vezes que trocamos o nosso Mestre por algo? Quantas moedas temos recebido quando, nos intitulando como seus seguidores, renunciando à nossa vocação de sermos seus discípulos missionários, corremos atrás de outras fontes que não nos alimentam e geram vida?
Muitos dentre nós até gostam de Jesus, das suas palavras e de suas atitudes, se dizem cristãos, mas interiormente agem como quem anula os efeitos espirituais do seu sacrifício na cruz. Trocamos nosso Jesus pelas moedas das prioridades profissionais: "afinal, tenho que sobreviver e dar uma boa educação aos meus filhos... Tenho de trabalhar"; trocamos Jesus pelas moedas da juventude: "Ah, ainda sou muito jovem para pensar nas coisas da Igreja... certamente quando estiver mais velho..."; trocamos Nosso Senhor Jesus Cristo pela moeda do orgulho próprio, simplesmente deixando de servir à comunidade porque nos magoamos com alguém, como se a Igreja pertencesse apenas a homens mortais e pecadores... Será que isto não é, de fato, trocar e vender o sacrifício caríssimo de Jesus na cruz por um valor ínfimo?
O que nos difere de Judas? Precisamos ser honestos para reconhecer que temos barateado o que não tem preço. No passado, foram apenas trinta moedas. Hoje, elas são inúmeras e imperceptíveis. Diante disso, estejamos arrependidos, celebrando bem a liturgia desta Semana Santa, sobretudo as celebrações do Tríduo Pascal (Quinta-Feira Santa, Sexta-Feira Santa e a Vigília Pascal), e cuidemos para não trocarmos o Senhor por tão poucas moedas. Uma semana abençoada!
DOM VICENTE COSTA
BISPO DIOCESANO DE JUNDIAÍ
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