Que o mérito de cada um, depende do lugar que se ocupa, todos nós sabemos. Sabia também, pois do alto do seu campanário tudo observava, o relógio falante dos Apólogos de D. Francisco Manuel de Melo; e também todos sabemos, que o lugar que se ocupa, depende da sorte, mas mormente, dos amigos que se possui, sejam eles: políticos, industriais ou simples capitalistas.
A propósito do exórdio, lembrei-me da carta que Mme Sévigne enviou a M. de Pompone, datada a 1 de Dezembro de 1664, em que conta a verídica passagem do diálogo ocorrido entre o todo-poderoso Luís XlV, rei de França, e o marechal de Gramont.
Certa vez, o rei, que admirava os poetas e principalmente as composições poéticas, deu-se para versejar, escrevendo coplas que não mereciam um chavo, e mostrou-as aos mais íntimos, para colher opiniões.
Foi unânime, por todos, que o rei tinha talento e que, com o tempo, seria poeta de mérito, confirmando o que se costuma asseverar: usa e serás mestre.
Ora Luís XlV sabia, que nas cortes - e não só - ninguém se atreve a contradizer o rei, já que raramente aparece um Frei Bartolomeu dos Mártires, que desafie os digníssimos e reverendíssimos cardeais.
Certo dia Luís XlV quis experimentar a sinceridade de um dos ilustres vassalos, e encontrando o marechal Gramont, inqueriu:
- Acabo de receber um poema, para dar opinião. Para mim é uma sensaboria, sem nexo; uma bodega!; mas queria saber seu parecer, já que é pessoa culta e sincera.
O marechal pegou na lauda de papel; leu pausadamente os versos, e disparou:
- Tem Vossa Majestade razão; isto é vergonhoso e um atrevimento de quem lho endereçou, a não ser que seja tolo.
E acrescentou:
- Nunca li versos tão mal alinhavados e ridículos.
Riu-se o rei a bom rir, e rematou com estas palavras:
- Pois sabeis que esta porcaria foi escrita por mim.
Desculpou-se, aflito, o sábio marechal, declarando que o parecer fora apressado, e que não tivera tempo de apreciar devidamente. Que aguardasse, pois examinaria melhor e depois lhe daria sincera opinião.
Aqui tem o leitor como é avaliado o mérito de cada um, seja na empresa, seja na arte, seja na literatura. O mérito depende do lugar e influencia que se tem. É assim que a crítica, normalmente, avalia, e é assim que nas empresas, os gestores avaliam o mérito dos subalternos, de harmonia com cores políticas e “cunhas” que recebem.
Quem disser o contrário: mente, ou sabe por experiência própria, que tenho razão.
HUMBERTO PINHO DA SILVA - Porto, Portugal
OS MEUS LINKS