Nem consigo mais esconder que alguns temas, nos meus textos, são reincidentes. Passa um tempo e lá determinado assunto de novo. Algumas vezes eu me pergunto se isso se dá por falta de outro assunto, por esquecimento (meu Deus, Alzheimer?), facilidade ou por predileção.
Concluo, tentando ser isenta, sem me conceder favorecimentos, que vários de meus textos tratam de assuntos parecidos, pelo fato de que certos temas ou me apaixonam ou me incomodam sobremaneira. Hoje, pensando sobre o que escrever, tentei evitar um dos meus lugares comuns, ou seja, falar dos meus bichos de estimação. Como recentemente o Peteco mastigou um filhote indefeso de periquito, dando sumiço em bico, penas e pés, eu fiquei tentada a narrar a façanha, mas preferi poupar meus leitores de cenas grotescas e de mais um capítulo da saga “Peteco e suas barbáries”.
Desse modo, olhando ao meu redor e buscando inspiração, comecei a me recordar dos acontecimentos da semana e sobre o que seria digno de virar um texto ou, se não fosse digno, ao menos fosse interessante... hehehe. Tive idéias que, infelizmente, não poderia narrar aqui sem isso refletisse em outras pessoas. Presenciei conversas nas quais quase não acreditei, ouvi uma confissão inconfessável, mas nada disso poderia vir estampar um inocente texto.
Enquanto eu me detinha nesses pensamentos, a campainha de casa tocou e eu saí para atender. Recebi a correspondência entregue pelo correio e, enquanto fechava o portão, vi duas mulheres que conversavam na calçada oposta. Uma delas comia um salgadinho, desses industrializados. Tão logo acabou, não se fez de rogada e simplesmente despejou o dito cujo na rua, bem ali onde ela estava, como se isso fosse a coisa mais natural e adequada do mundo. Como moramos em uma rua pequena, sei que nenhuma delas mora nas casas próximas. Então, aparentou-me, não importava deixar lixo na casa dos outros...
Sei que esse comportamento não deveria me espantar, de tanto que é reproduzido, mas não consigo deixar de me chocar com o hábito que as pessoas tem de jogar lixo na rua, sem simplesmente dar importância a isso. A quantidade de papel, comida e bitucas de cigarro que há pelas ruas e calçadas, é simplesmente inconcebível! Ando cansada de falar ou escrever sobre isso, pois me sinto falando às paredes, do mesmo modo que ando desgostosa de perceber que, cada vez mais, prevalece o individualismo, com sacrifício do social, do coletivo.
Todo esse lixo das ruas não somente enfeia os lugares nos quais vivemos, mas também entope os ralos, os bueiros, vai parar nos rios, matando peixes, exterminando a vida, invadindo as casas, subtraindo a vida e a saúde de muitos.
O que mais me espanta, quando chamo a atenção de quem joga algo na rua, e eu me sinto, sim, nesse direito, é ouvir, como já ouvi, a pessoa me olhar, com desdém e dizer: _ E isso é problema seu?
- Sim, meu caro, é problema meu! E seu!
CINTHYA NUNES VIEIRA DA SILVA- Advogada, mestra em Direito, professora universitária e escritora - São Paulo
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