Confesso-lhes que não encontro, na “Marcha da Maconha”, um ponto qualquer que beneficie a sociedade. As consequências do uso de drogas lícitas e ilícitas destacam-se na mídia em geral e não apenas nas páginas policiais. Há esforços hercúleos de educadores, entidades, profissionais da área de saúde, pastorais, com o propósito de fortalecer pessoas, de todas as faixas etárias, para que digam “não” às drogas e para que as pessoas se reconstruam na verdade. Sabe-se, também, que tanto o álcool como a maconha são nocivos e abrem as portas para a cocaína, o crack, o oxi etc., e não há dúvida de que todos eles provocam dependência.
O reconhecimento de uma marcha reivindicatória somente tem sentido se for para o bem. Caso contrário, cabe às autoridades impedir, não por censura e poder, mas sim para proteger especialmente os mais vulneráveis, pois uma manifestação, como essa, mesmo que não seja apologia, pode dar a idéia de que existe algum aspecto positivo para quem utiliza a droga, sem destacar os danos, tantas vezes irreversíveis.
Do suplemento “Folhateen” da Folha de São Paulo, de 23/05/2011, pág. 07, destaco: “MACONHA E CHÁ DE COGUMELO OFERECEM RISCOS. Do enviado a Iacanga – SP – Chá de cogumelo pode gerar psicose, alerta Ana Luiza Simões, médica do Hospital Albert Einstein. ‘O chá causa alucinações e tem efeitos colaterais’. A mesma atenção deve ser tomada com a maconha, que pode causar perda de memória e alienação. Não há dose segura: ‘A maconha está ligada ao início do uso de cocaína e outras drogas pesadas’”.
A justificativa de que inibiria a ação dos traficantes é inconsistente. E o tráfico de tantas outras drogas? Pelos lucros do tráfico, se encontraria uma forma de comercializar “drogas piratas”. Concordo com uma marcha que vise mecanismos mais eficientes para inibir o tráfico e investimento na formação de agentes da comunidade com o propósito de que enfrentem a drogadição de maneira saudável, formando e informando as pessoas. Concordo com uma marcha pela transparência das ações das autoridades competentes no sentido de combate ao narcotráfico. Concordo com uma marcha contra os que, em todas as classes sociais, favorecem o uso de drogas.
Recordo-me da letra do rap “Mágico de Oz” do conjunto “Os Racionais”: “Comecei a usar pra esquecer dos problemas. (...)Viciar deve ser para adormecer,/ Pra sonhar, viajar na paranóia, nas escuridão,/ Um poço fundo de lama.(...) Dizem que quem quer, segue o / Caminho certo,/ Ele se espelha em quem está mais perto. (...) Queria que Deus ouvisse a minha voz/ E transformasse aqui num mundo/ Mágico de Oz. Desejar que o mundo se converta no do “Mágico de Oz”: o homem de lata passou a amar, o espantalho conquistou o discernimento e o leão medroso a coragem.
. Em 39 anos de trabalho como educadora, em 29 anos junto às mulheres em risco, em situação ou que passaram pela prostituição, em 19 anos de visita a encarcerados, não vi situação alguma de equilíbrio e felicidade dos dependentes de drogas lícitas e ilícitas, acabando, também, por atingir, negativamente, o seu entorno. Vi: cadáveres, enfermos, criminosos, infelizes, filhas e filhos da dependência química, que trocaram a vida por uma porção, uma pedra ou uma dose que mata aos poucos.
Meus aplausos ao Dr. FRANCISCO CARLOS CARDOSO BASTOS e aos demais PROMOTORES DE JUSTIÇA CRIMINAL DE JUNDIAÍ por impedirem que a marcha acontecesse em nosso município.
Maria Cristina Castilho de Andrade
É educadora e coordenadora diocesana da Pastoral da Mulher/ Magdala, Jundiaí, Brasil
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