Dia destes, cavaqueando com director de pequeno periódico, onde dei a lume algumas entrevistas, este, lamentava-se de dificuldade em que vive ou sobrevive, a imprensa local.
Sem auxilio estatal, dependente de assinantes, que, em norma, são cada vez menos, e de anúncios, que devido à crise - interna e externa, - diminuíram drasticamente, resta - a muitas administrações, - a dependência do poder autárquico, que, em regra, impede imprensa livre, capaz de informar com a desejada isenção.
Só há liberdade de expressão, se a media pode, sem medo, apresentar comentários e criticar o poder, se há razão disso.
Mas, como se é livre, quando se depende do poder político para quitar despesas de pessoal e tipográficas?
O jornal subsiste das vendas e dos anunciantes. Quando escasseiam, resta-lhe fechar as portas ou reverenciar o poder.
Certa vez - em 1997, - o Presidente da Câmara de Penalva do Castelo, Gabriel Costa, asseverou a jornalistas, em Viseu
“ Quem está com o Governo come, quem não está, cheira. “
O homem do “PP” acabara de aceitar o convite do “PS” para se candidatar nas suas listas, após a promessa de novo edifício para os Paços do Concelho - “ O Primeiro de Janeiro”, 10/SET/97.
Disse bem Gabriel Costa, porque disse a verdade. Quem está com o poder, governa-se. Assim pensaram, igualmente, muitos após a Revolução dos Cravos (cito Baptista-Basto, in “ Diário Económico” 10-10-97: “ No 25 de Abril (…) surgiu um rol impressionante de democratas de cartão plastificado e de antifascistas vitalícios (…) Matricularam-se nos partidos, chegaram deputados e a ministros. Antigos serventes de Salazar e Caetano, arregimentaram-se à nova ordem, que os recebeu de braços “calientes”. Estão todos bem, graças a Deus. Até os pides.”
Voltemos à vaca fria - salvo seja! - à conversa que mantive com o director de gazeta local. Referiu-se que outrora havia a detestável censura, agora permanece o receio de processos judiciais (sempre caríssimos), e o corte de anúncios, se o ponto de vista do director, fere interesse de anunciante; e a propósito citou o que aconteceu ao jornal francês “ La Croix” ao criticar os que faziam desfile de moda, de conhecidos costureiros, nas comunhões solenes. Atitude reprovável e nada cristã.
O resultado foi que as modistas famosas e industriais do ramo, retirassem a publicidade do jornal, facto que prejudicou a subsistência do periódico.
Nos nossos dias administrar pequena gazeta é feito quase heróico, quando se pretende informar com seriedade e publicar artigos de opinião, sem lhe pôr espartilho.
Assim como numa empresa estatal se chega facilmente ao topo, possuindo um pouco de talento e cartão partidário, também um jornal navega de vento em popa, se se entregar à dependência do poder.
Felizmente, ainda que muitos pensem o contrário, é na imprensa local, onde se encontra mais honestidade e independência; preferindo muitos, reduzir a periodicidade e até tiragens, para se manterem orgulhosamente apartados do poder. Infelizmente nem sempre são compreendido e aplaudido pelos leitores.
HUMBERTO PINHO DA SILVA - Porto, Portugal
Conta D. Francisco Manuel de Melo, nos “ Apólogos Dialogais - Escritório do Avarento”, que certa vez, Alexandre, o Grande Conquistador, injuriou um pirata, dono de duas barcas, movidas a remos, que infestava as costas do reino.
O corsário era modesto e manhoso, e após a reprimenda, falou-lhe deste jeito:
“ Tá, tá, senhor Alexandre! Não me maltrates, que tu e eu, ambos temos um próprio oficio, mas com tal diferença: que a ti, porque roubas o mundo cercado de exércitos, te saúdam as gentes por monarca, e a mim, que com poucos companheiros faço pequenos danos, me infamam de corsário”. E remata o nosso clássico: “ Eis aqui como os homens fazem suas medidas! “
Na verdade, invadir e subjugar, cercado de militares, não faz muita diferença do salteador, que pela madrugada, sumido na sombra do arvoredo ou abrigado no cotovelo de estrada, aguarda, como araquenidio, a presa, para a despojar de bens. A diferença está na lei. Um é fora de lei; o outro é protegido por ela.
Se pobre diabo é apanhado a roubar é ladrão; se empresário ou gestor diplomado, pratica falcatrua, chamam-lhe: desvio.
Se alguém aparece mal entrajado, pergunta-lhe: “ Que queres?”. Se veste com elegância, passa a ser Senhor e até, em certos meios, de doutor ou Excelência.
Ladrão, rato, vigarista, vagabundo, gatuno, e termos como tal, só se empregam tratando-se de indivíduos que vivam sem posses. Quando o rico é aprisionado pelas alicantinas que praticou, há diferença de tratamento. No Brasil basta possuir curso superior, para que as condições se modifiquem; nem é preciso “ enricar”, como diz o caipira, para ser respeitado.
O trajo, a posição social, o cargo que exerce, é que faz a diferença, e não, como devia ser: a cultura, a educação, a bondade a moral e sobretudo a justiça.
Assim se julgam e se avaliam as pessoas, catalogadas e apartadas, consoante as funções que ocupam.
Alexandre “ roubava”, despojava, matava, para ser Grande. O corsário fazia o mesmo, mas como não era rei, nem valido, a justiça punha-o a ferros, enquanto venerava e reverenciava o rei.
Infelizmente a vida é isto!, como disse Guerra Junqueiro “ No Bouvevard ( in Musa em Ferias)”:
O ponto essencial é não trazer grilheta.
Uma camisa branca, uma consciência preta.
Um ar pouco sério, um nome, algum dinheiro.
Eis tudo que se exige a qualquer bandoleiro
Para representar a farsa desta vida.
A virtude consiste em ter folha corrida.
A moral é um blague; apenas se suporta
Num drama ou num sermão; de resto é letra morta.
HUMBERTO PINHO DA SILVA - Porto, Portugal
É do conhecimento de todos a antiga, mas sempre interessante história, da mãe, que explica, ao filho, de terra idade, como é Deus:
- Olha! - disse, - quando tomas, pela manhã, café com leite, colocas na xícara um pouco de açúcar, para que não fique amargo.
No entanto, se olhares para a chávena, não consegues ver, porque dissolveu -se no líquido. Assim é Deus: está em toda a parte, mas não se vê.
Esta explicação do Omnipotente é simples e perfeita. É como aquele menino, que em manhã de nevoeiro cerrado, corria pela praia, segurando o barbante que sustinha o papagaio. A cerração não permitia vê-lo, mas o rapazinho sabia, que para lá da bruma, a estrela flutuava, e de tempo a tempo sentia o puxão.
Podemos, igualmente, afirmar a sua existência, comparando-O à central eléctrica. Quando abrimos o interruptor do nosso quarto, a lâmpada fica incandescente. Não vemos a electricidade, nem donde vem, mas sabemos que existe.
São inúmeras as imagens que podemos utilizar para demonstrar e explicar Deus, mas basta-nos as que aponto.
O facto de não se ver, não quer dizer que não exista. Também não vemos o vento, e não temos dúvida de sua existência.
Quantas vezes Deus caminha ao nosso lado, segura-nos pela mão para não resvalarmos na voragem do abismo, e no entanto não O enxergamos!
Esta gravura, que acompanha o texto, é bem um exemplo do que se disse.
Nela está, bem visível, a figura de Cristo; mas, para descobrir precisamos de O procurar.
Cabe agora, ao leitor, encontrar, nesse emaranhado de manchas e traços, o Homem de Nazaré; mas, por certo, só o descobrirá após aturada busca.
Vamos procurar Jesus?
HUMBERTO PINHO DA SILVA - Porto, Portugal
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