O QUE È A MORTE ?
No início de Novembro, seguindo o antigo costume, o povo desloca-se ao cemitério para homenagear seus mortos.
Atitude louvável e digna de aprovação, se houver respeito pelos entes querido, por aqueles que repousam debaixo das pesadas lajes e no interior das sólidas urnas de chumbo.
É ou devia ser, dia de oração; mas, que seja, pelo menos, tempo de reflexão; e já não será pouco.
Sob essa terra sagrada, sob esculturas de bronze e pedra de cantaria, encontram-se os ossos daqueles que nos geraram, dos nossos filhos e quantas vezes dos nossos netos, assim como os que foram companheiros de recreação e folgaram connosco em horas festivas.
Mas o que é a morte?! S. Paulo, em carta aos corintos, compara-a ao grão de trigo que cai à terra e renasce noutro corpo. Mas, também há quem a compare à porta que separa o conhecido do desconhecido; à crisálida, fabricada zelosamente pela desprezível lagarta, para desabrochar na bela e colorida borboleta; ou ainda ao segundo nascimento:
A criança, após a concepção, nasce, cresce, desenvolve-se sempre no aconchego do ventre materno. Vive na escuridão. Sem esforço, obtêm: comida, calor, conforto e carinho de mãe. Um dia, sem saber como nem porquê, é violentamente expelida em prantos, e depara um mundo desconhecido, cheio de luz e cor. O mesmo irá acontecer quando se morre.
Houve, em Atenas, famoso filósofo que asseverava inequivocamente, a existência da alma, por isso tomou, em serenidade, a cicuta, confiado que matavam o corpo, mas o espírito não parecia.
Quatro séculos depois, nascia em terras de Israel, Jesus, Filho de uma Virgem e do Altíssimo, segundo a Bíblia e o Alcorão.
Cristo, como Filho de Deus, garantiu a todos que O queriam ouvir, que ninguém pode matar a alma, mas apenas o corpo, porque esta é divina.
Jesus, confirmou o que Sócrates já sabia séculos atrás. Cristo, por inspiração divina, o filósofo, por aturada reflexão.
Uma coisa é certa e ninguém pode contestar: ano a ano, mês a mês, semana a semana, dia a dia, caminha-se para a morte. A velhice pode tardar, mas chega. O crepúsculo da vida, pode ser lento, mas será dissolvido em trevas… para alumiar outros mundos e outras terras.
A vida é eterna cadeia que nos une uns aos outros, numa infindável fila indiana, que marcha – quer se queira ou não, - para o abismo, para o desconhecido.
Como seria bom, ao colocarmos flores na campa de nossa avó, nossa mãe, do nosso conjugue, do nosso filho ou neto, recordássemos e meditássemos no mistério da morte.
Fernando Nobre, médico, fundador em Portugal, da Assistência Médica Internacional (AMI) declarou à Revista da Família Salesiana – Set. – Out. /07:
“ Se nos déssemos ao trabalho de pensar nisso (na morte), regularmente, talvez pudéssemos construir relações humanas mais autênticas, verdadeiras, genuínas, sem arrogância. A morte que nunca será possível vencer é que é a grande justiça. Felizmente que não é possível aos poderosos e multimilionários comprarem a sua imortalidade. Vamos ser confrontados com o último momento. Se pensássemos nisso de vez em quando, acho que as matanças cessariam, a ganância também, e as pessoas aceitariam redistribuir um pouco melhor os seus bens. Acredito que pensar na morte é extremamente salutar. Coloca-nos os pés no chão “ .
Será que o leitor pensa na morte?! Mas, como há-de pensar, se no íntimo sempre se julga imortal!; se, desde criança, julga que só os outros, os mais velhos, serão ceifados pela impiedosa foice! Assim pensa; assim pensamos todos, ainda que sejamos mortais vivemos e agimos como imortais!
Influenciado pelas histórias que escutei em criança, simpatizo com príncipes e princesas encantadas ou não, que afirmam ser: graciosas, delicadas e ricas.
E não havia história de amor – daquele amor verdadeiro, – em que não aparecesse a formosa “ princesa”, mesmo que não tivesse sangue azul.
Penso que ao leitor o mesmo sucedeu.
É pois perfeitamente natural, que esteja também curioso em saber o que aconteceu a D. António de Orleans e Bragança, o caçulinho de Dona Maria Elisabeth, irmão de D. Luiz, actual chefe da Casa Imperial do Brasil.
Em abono da verdade, devo esclarecer, que há outros pretendentes a tal lugar, mas são contas que não me diz respeito.
Andava, naquele tempo, D. António, no Colégio de Cristo Rei, na cidade de Jacarezinho. A escola era rigorosa e a mais inocente traquinice era severamente reprimida e punida com os tradicionais meios de educação.
O “algoz” da irrequieta pequenada era padre palotino, de descendência alemã. Só a sinistra presença fazia tremer e temer os mocinhos mais sapecas.
Aconteceu que o nosso D. António infringiu o regulamento, durante o recreio, e a infracção grave, merecedora de reprimenda exemplar.
Contudo o temível sacerdote dissimulou, fingindo que não vira.
Acabaram as aulas. Pelo perfeito, foi alertado D. António, para se apresentar no gabinete do religioso.
Temeroso e encolhido, compareceu. Cerrada a porta, cautelosamente, disse o temível padre:
- “Não pense que não vi a maroteira. Não o repreendi, como seria meu dever, porque é príncipe e como tal deve ser exemplo para os outros. Se o castigasse estava a , reconhecer que o Príncipe é um garoto como os demais. Agora será punido, em duplicado, porque um príncipe deve ser exemplo de educação e honestidade.
Dizem que D. António de Orleans e Bragança jamais olvidou a lição, assim como a valente sova que recebeu.
Punição abençoada, porque asseveram, os que o conhecem, que sempre que toma atitude inadequada, recorda-se que é Príncipe, e o príncipe só é nobre e digno, se a conduta também o for.
Contava meu pai, no rol dos amigos, um frade franciscano: homem simples, urbano e extremamente conversador. As tardes de sábado eram, em norma, passadas no conventinho, em amena e animada cavaqueira. Assim foram anos a fio. Amizade alicerçada no forte amor que ambos devotavam ao santo da Porciúncula. Vítima de erro clínico, meu pai foi forçado a recolher-se a casa de saúde. Sobressaltado com a doença inesperada, confiava que os amigos, os mais íntimos, corressem a visitá-lo no leito hospitalar. Cedo se decepcionou. Por falta de tempo e inadiáveis afazeres, raros foram os que apareceram, e o cenobita, companheiro das horas alegres, invocou frívolas razões para não aparecer. Valeu-lhe a lealdade do primo Júlio, que não deixou de presenteá-lo com assídua presença, acompanhado de confortantes e amigas palavras. O povo, que é mestre em relações interpessoais, usa dizer: é na dor, doença e desgraça, que se conhecem os amigos. Na verdade muitos são os que se banqueteam na mesa farta, mas poucos os que choram à cabeceira do enfermo, mormente se é velho, imprestável e pobre. Lembro-me, que no meu tempo de menino - e como vai longe! - Cultivava-se a amizade. Grupo de senhoras, antigas colegas e companheiras de adolescência, visitavam-se mutuamente. Havia até quem tivesse dia e hora certa. Mas, essas cortesias, demonstrações de afecto, há muito desapareceram da nossa sociedade. Velhos amigos, confidentes de verdes anos, ainda que residam na mesma cidade, andam tão afobados, que apenas se encontram e nem sempre, em datas festivas e funerais. Declaram, de semblante cerrado e lastimoso, camuflando o mal disfarçado desinteresse, que não lhes sobeja tempo; tão engolfados andam em afazeres, que não conseguem telefonar, nem sequer responder a mensagens electrónicas, que timidamente se enviam. Não os censuro, tanto mais - creio sinceramente, - se conhecerem que a desgraça bateu à porta do amigo ou familiar, não deixarão, de palma ou coroa na mão, despedir-se, em derradeiro adeus, do velho companheiro. Infelizmente é tarde, muito tarde, para que lhes possa agradecer a presença amiga. Quiçá, nessa funesta hora, acossados por doloroso remorso, dirão com lágrimas correndo pelo rosto: Como me arrependo de não ter respondido à mensagem; ao convite para tomar café; aos e-mails, que com frequência brindava, provando apreço por mim, demonstrando querer compartilhar, as notícias e os PPs interessantes que recebia! Mas será tarde o arrependimento. O tempo que passa, não volta mais; ou como dizia Frei António das Chagas:” As águas do rio só passam uma vez pelo mesmo lugar.”
Quando, pela primeira vez, fui ao Brasil, e já lá vão muitos anos, verifiquei que descendentes de portugueses, se envergonhavam das raízes.
A razão é simples: Ser português, era na época, motivo de troça; e anedotas brejeiras saltavam a cada passo nas conversas e televisão.
O brasileiro afirmava que Portugal era região tacanha e o cidadão que emigrava, estúpido e analfabeto.
Claro que os brasileiros não eram melhores, nem em educação e muito menos em instrução; mas, só se riem os que têm que se lhes diga, já diziam as velhos.
Com a entrada de Portugal na área do euro, tudo mudou. Agora andam numa roda-viva, em busca de encontrarem antepassado, para solicitarem a dupla nacionalidade; até figuras públicas e responsáveis políticos, que deviam orgulhar-se da nacionalidade, rebuscam a ascendência, para adquirirem o privilégio de poderem, orgulhosamente, serem europeus.
Passa-se na América Latina o que na antiguidade aconteceu com Roma; a diferença é que agora é mais fácil e mais barato. Basta provar que se descende de europeu, o que não é difícil, pois como se sabe, é fácil provar, pela Matemática das genealogias, que descendemos de D. Afonso Henriques ou de Carlos Magno.
Da última vez que estive no Brasil, verificando que descendentes de italianos, que não conhecem a língua, pretendem adquirir a nacionalidade dos avós, fui acicatado, por amigos – que asseveravam que os portugueses eram, para eles, mais que irmãos, – a solicitar a dupla nacionalidade, tanto mais que sou casado, há quase quarenta anos, com paulistana e tenho interesses no País. Dirigi-me, então, à Polícia Federal.
Receberam-me com grande cortesia e informaram que só podia ter nacionalidade brasileira se renunciasse à minha, mas podia obter direito de residência, todavia, se ausentasse mais de seis meses, do País, caducava a regalia.
Assim fiquei a conhecer que os direitos entre o Brasil e Portugal, não são recíprocos, tanto mais que minha filha, embora tenha mãe brasileira, só pode obter a sua nacionalidade, se repudiar a minha (julgo, que mesmo assim, teria que ir viver no Brasil). Informação obtida junto das autoridades consulares.
Eu sei que essa inesperada amizade pela pátria dos antepassados, não é motivada pelo amor à terra natal dos avós, nem estariam disposto a sacrifícios, se lhes fosse solicitado, mas, unicamente, a ideia de virem a usufruir vantagens: Uma, é o serviço de saúde gratuito europeu; outra, o facto de terem documentos e passaportes de dois países e poderem permanecerem e trabalharem em igualdade de direitos….mas não deveres; e por último, e talvez o primeiro: haver mais facilidade para emigrarem para os Estados Unidos e Canadá.
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