Existem três tipos de pessoas: as que vêem só o negativo; as que vêem
só o positivo e os que vêem os dois lados.
Esta reflexão veio ao deparar-me com uma daquelas lagartas grandes
que encontramos em algumas árvores.
Na verdade existe pessoa que vê a lagarta e não pensa que dentro de um
pouco tempo ela se tornará uma bela borboleta. Acha-a feia, pouco
atrativa, às vezes até perigosa por ter “pêlos” que queimam nossa
pele.
Existe outra pessoa que só vê uma bela borboleta e não se lembra que
ela já foi uma feia lagarta. Acha-a bonita, muito atrativa e nem um
pouco perigosa, pois se esquece do pó que ela tem nas asas e que,
dizem, pode cegar um homem.
Mas existe ainda a outra pessoa que vendo uma lagarta sabe que ela se
tornará uma bela borboleta, mas vendo uma borboleta não se esquece
que ela já foi uma lagarta não muito charmosa.
A pessoa do primeiro grupo acha que tudo é ruim, que todos estão
contra ela, que nunca conseguirá atingir seu sonho. Tem inveja das
pessoas dos outros grupos. Enfim, são pessoas de difícil convivência.
São pessoas que acham que Deus se esqueceu delas.
A pessoa do segundo grupo acha que só irão acontecer coisas boas. Que
todos estão a seu favor; que ela conseguirá ter tudo o que sonha. Tem
pena das pessoas do primeiro grupo, mas nada faz para ajudá-las, pois
está muito ocupada com o seu narcisismo. São pessoas que acham que
Deus deve ser monopólio delas. Não admitem ver Deus ajudando a outras
pessoas que não elas.
Já a do terceiro grupo é aquela pessoa de pés no chão. Sabe que
algumas coisas vão dar certas, outras vão dar erradas. Luta por
conseguir o que sonha, mas não se desespera se não o consegue. É
pessoa pronta para dar a mão a Deus na implantação do seu Reino e aos
irmãos que dela precise. Talvez por isto mesmo é cumulada de graças.
Se as coisas dão ou não dão certo, mesmo assim agradece a Deus o Dom
da vida.
É, ainda, pessoa que aceita as mudanças e nuances da vida e se
aproveita delas para viver melhor.
Dentro da Sociedade de São Vicente de Paulo existem pessoas também
“divididas” nesses três grupos.
Para umas a sua Conferência está sempre ruim, mas nada faz para
melhorá-la. Para outras a sua Conferência é sempre melhor que as
outras, mas pouco faz para ajudar a que mais precisa.
E as do terceiro grupo são os confrades e consócias que estão sempre
com vontade de ajudar, não importa as dificuldades que encontrem. Se
uma conferência está fraca de membros, vão para lá por uns tempos até
que ela se firme. Se outra conferência está com o caixa negativo,
transferem para ela algum valor do dinheiro que está “sobrando” em seu
caixa. Se uma conferência tem muitas famílias assistidas e poucos
recursos, se oferecem para assistir algumas daquelas famílias.
Vicentino ou não, em que grupo cada um de nós está inserido?
ALUIZIO DA MATA- Vicentino, Sete Lagoas, Brasil
O MAIOR ESCULTOR PORTUGUÊS SUICIDOU-SE HÁ 121 ANOS
Em vésperas de Santo António, o atelier de Soares dos Reis, sito na Rua de Camões, em Gaia, visitas engalanava-se para Receber. Arrimavam-se as esculturas, cobriam-se de panos brancos, os esboços, penduravam-se vistosos balões; Acendiam-se as velas, e para concluir, o artista suspendia enfeites, de papel crepom, de várias cores.
Sobretarde, ao declinar do dia, os convidados chegavam, entre eles, apareciam: Henrique Pousão, Sousa Pinto, Tomás Costa, Teixeira Lopes, Marques Guimarães, Diogo José de Macedo.
Serviam-se, bonitas em bandejas de porcelana, doce de Chã da "Palaia" - Estabelecimento que ficava na Rua do Bonjardim, no Porto, - e Biscoitos de Valongo; Abriam-se garrafas de "Porto", da Companhia Geral de Agricultura dos Vinhos do Alto Douro; E quando a festa atingia o auge, o Anfitrião dedilhava, nas cordas de violão velho, trechos da "Marcha de Luís XIV".
Conversava-se sobre Arte, e de conhecidos artistas plásticos que residiam na Cidade da Luz; os que pretendiam estar à la page, Liam e comentavam o folhetim de "A Palavra", onde jornalista experimentado, desassombradamente, desancava na política e nos políticos da capital.
Modestas Eram festas, mas de intelectuais, onde imperava respeito e dignidade.
Tinha o escultor índole amarga, frontalidade que se confundia de grosseria e agressividade. Os íntimos - e poucos mais, - conheciam-lhe o coração terno ea apurada sensibilidade hipersensível.
Insignificante falta de atenção, frase não concluída, era bastante para o deixar em ansiedade atroz.
Tinha de Soares dos Reis Numerosos detractores. Contribuiu para isso, o jeito rude e agreste como se exprimia.
Frequentemente citava Boileau: "Un sot, trouve toujours un plus sot qui l'admire".
Ao analisar trabalho alheio, não se inibia de declarar, se não fosse de seu agrado: "É uma Borracheira! ... "
Detestava os políticos, mormente os hipócritas, que para ele eram quase todos, considerava-se católico e democrata, mas poucas vezes ia à missa. Escrevia muito carteava e pouco-se ainda menos.
Em por Dias Santos realizava longos passeios a pé,: Paço de Rei, Quebrantões, Gervide e Lavandeira. Levava casaco comprido, botas enlameadas-de-elástico e cabelo desamanhado.
Fascinava-se com uma beleza campestre, o sossego das Bouças, dos passarinhos Trinar o, o embalador SUSSURRAR dos córregos ea beleza das flores silvestres que atapetavam Os Verdes Campos de Oliveira do Douro.
Quando se apaixonou pela delicada esposa, mudou por completo. Mandou fazer, na Alfaiataria Rocha, fraque bonito e substituiu as botas cambadas-de-elástico, por modernas de cordão. Passou um cabelo o cuidar e amiúde frequentava o barbeiro.
Se o tempo não permitia andar pelo campo, recolhia-se no Clube Recreativo de Mafamude, jogando bilhar e dominó.
Numa hora de extremo desespero, que o levou ao suicídio, escreveu nenhum papel de parede do quarto: "Sou cristão, porém nestas Condições, a vida, para mim, é insuportável. Peço perdão a quem ofendi injustamente, mas não perdoo a quem me fez mal ".
Soares dos Reis - o maior escultor português nasceu em Santo Ovídio (Gaia), numa terça-feira, a 14 de Outubro de 1847. Foram seus pais, Manuel Soares Júnior - proprietário de mercearia, onde o marcano era Filho, - e D. Rita do Nascimento.
Foi baptizado na Igreja de Mafamude pelo Padre Francisco Ribeiro de Moura, e teve como padrinhos: Santo António e D. Ana Maria de Jesus.
Desde cedo mostrou tendência pelo desenho. Na escola (a do Cabeçudo) retratou, escondidas como o professor, o, o Sr. Matos. Descoberta uma falta de atenção, o mestre não lhe bateu, e terminada a aula andou mostrar um, admirado, o talento do aluno.
Pouco depois, os pintores Francisco José Resende e Diogo de Macedo, este último, avô da esposa de Soares dos Reis, ao conhecerem o valor extraordinário do rapaz, convenceram o pai a matricula-lo na Academia de Belas Artes.
Entrou na Escola de 1 de Outubro de 1861, seis anos depois partia para Paris, como bolseiro do Estado. Devido à guerra franco - prussiana, desloca-se, após três anos, para Roma, onde na Rua de S. Nicolau, 4, esculpiu O Fabuloso "Desterrado".
Regressa à Pátria, em 1872, torna-se em 1881, professor da Academia Portuense de Belas Artes.
A16 de Fevereiro de 1889 suicida,-se na sua casa da Rua de Camões, em Gaia.
Casou a 15 de Julho de 1885, com D. Amélia Aguiar de Macedo. Do matrimónio nasceram: Fernando de Macedo Soares dos Reis, que faleceu com 27 anos (Estudou Colégio dos Órfãos não. Foi empregado da Foto - e Bazar do Banco Comercial do Porto. Era um entusiástico pelo Esperanto) e Raquel Soares dos Reis, que morreu Solteira.
Quarenta e dois anos após a morte sua - em Portugal é assim que se tratam os artistas de Nomeada, porque os outros morrem à fome, se não se Tornam políticos à força, - concederam à viúva e filha, uma pensão de mil e quinhentos escudos mensais, por despacho de 2 de Março de 1931, do Presidente Óscar Fragoso Carmona, como gratidão da Pátria, à família do escultor genial.
HUMBERTO PINHO DA SILVA - Portro, Portugal
INTERIORES DA CASA DE SOARES DOS REIS
O aprimoramento no trato dos aposentados, não pode se transformar numa batalha perdida. Conscientizemo-nos de nossas obrigações e lutemos por instituições políticas estáveis e independentes, por racionalidade econômica, por um efetivo amparo social, incluindo um sistema previdenciário eficiente e justo, e por respeito e dedicação aos mais velhos. Ao comemorarmos o Dia do Aposentado, 24 de janeiro próximo, procuremos buscar constantemente, formas e atitudes que os possibilitem usufruir de seu direito à dignidade.
Celebra-se a 24 de janeiro, o Dia Nacional do Aposentado, estabelecido porque em 1923, nessa data se efetivou a assinatura da Lei Eloy Chaves, criando, à época, a caixa de aposentadorias e pensões para os empregados de todas as empresas privadas de estrada de ferro e que se constituiu no embrião da Previdência Social no Brasil. A festividade, que foi instituída pelo Governo Federal através da Lei Nº 6.926 de junho de 1981, não tem motivado, infelizmente, quase nenhuma comemoração.
Com efeito, a situação dos aposentados é manifestamente grave, sendo seus direitos constantemente ameaçados e os valores percebidos, gradativa, mas acentuadamente reduzidos. Tanto que os do Instituto Nacional do Seguro Social (INSS), que recebem mais do que o salário mínimo tiveram, nos últimos 10 anos, reajustes inferiores à metade do que foi concedido a quem ganha um salário mínimo e os números mostram que está havendo um acelerado processo de pauperização da faixa intermediária deste grupo de pessoas. Enfrentam assim, não só o fator previdenciário, com a quebra da paridade, mas a ausência de reconhecimento a quem já entregou parte de sua vida laboral ao trabalho.
Além do mais, com a predominância atual do interesse exclusivo pela produção e consumo, ocorre a gradual despersonalização do ser humano, com graves reflexos sobre os mais velhos, principalmente os que saíram do mercado, acarretando-lhes certo isolamento, pois passam da condição de produtores à de consumidores, gerando um processo discriminatório, espelhado na própria precariedade da política social. Nesta trilha, reitere-se, a atuação da Previdência Social se restringe a humilhantes e minguados pagamentos, com uma assistência médica distante, muitas vezes, das circunstâncias mínimas de um tratamento condizente com as enfermidades de que possam ser portadores.
Por outro lado, o Brasil passa por uma fase de transição demográfica, vislumbrando-se uma queda dos índices de natalidade e o aumento da expectativa de vida, aumentando consideravelmente o número de idosos, fenômeno que não é só nacional, já que quase todas as populações do mundo convivem com um visível processo de envelhecimento. Tanto que em 2035, o nosso país terá pela primeira vez a mesma quantidade de idosos (65 anos ou mais de idade) e de crianças (de
Usado pelo Ministério da Previdência Social como parâmetro na definição do fator previdenciário para o cálculo de aposentadorias, o estudo “Tábua de Mortalidade” aponta uma esperança de vida de 72 anos, 10 meses e 10 dias para os nascidos em 2008. Em 1998, era de 69 anos, 7 meses, 29 dias. Além disse, a expectativa para os que tinham 60 anos em 2008 é de viver mais 21 anos, em média. Para os que tinham 80 anos, são mais 9 anos e 6 meses.O documento mostra que as crianças correspondiam a 38% da população em 1980, proporção que deve cair para 26% este ano e chegar a 13% em
Tal situação suscita várias análises de diferentes conseqüências, sendo que o setor de saúde e a qualidade de vida são os que devem receber maiores atenções, quer através de constantes estudos quer através da propagação de meios e instrumentos de prevenção de eventuais moléstias, além da realização de cursos, programas e outras iniciativas afins. E o mais importante, faz-se necessário criar no Brasil uma “cidadania do envelhecimento”, para que os aposentados possam ser mais respeitados e menos injustiçados em todos os setores sociais, notadamente na área previdenciária, em que as regras mudam constantemente, criando uma sensação de insegurança jurídica e de ingratidão àqueles que ajudaram a construir a Nação.
Assim, a ética da convivência social impõe a obrigação moral de educarmos as novas gerações na convicção de que eles trazem, além de outras virtudes, a de acumular um cabedal de sabedoria que exclusivamente o tempo proporciona, como um valor indispensável e insubstituível, que só eles carregam. Constituem-se em fator de equilíbrio, tolerância e comedimento na convivência familiar e no relacionamento em geral. Sua capacidade, portanto, tem de ser aproveitada, valorizada e estimulada. O indivíduo mais experiente hoje tende a ser relegado ao esquecimento, o que é uma grave conseqüência. Ao comemorarmos o Dia do Aposentado, procuremos buscar constantemente, formas e atitudes que os possibilitem usufruir de seu direito à dignidade, com um sistema de Previdência eficiente e justo. Não é mais possível descontar desmandos administrativos e ausências de planejamento deste segmento nas costas dos aposentados e pensionistas neste país.
FORUM SOCIAL MUNDIAL
O empresário ODED GRAJEW, 65 anos, presidente emérito do Instituto Ethos de Empresas e Responsabilidade Social, foi o idealizador do Fórum Social Mundial (FSM) em 2000, evento que de grande relevância que ganhou projeção internacional, originado em contrapartida ao Fórum Econômico Mundial. De acordo com artigo que fez publicar no jornal “Folha de São Paulo”, ele expôs os motivos que o levou a elaborá-lo: “denunciar as enormes riscos que o neoliberalismo representava para a humanidade, dar visibilidade a propostas alternativas e criar um espaço auto-organizado em que a sociedade civil, em nível local e global, pudesse se encontrar, promover atividades e se articular, ganhando força política e social para empreender suas ações” (29-11-2009,A-3).
Neste mês, o Fórum completará o seu décimo aniversário e será realizado de
JOÃO CARLOS JOSÉ MARTINELLI é advogado, jornalista, escritor e professor universitário
Quando meus amigos me perguntaram se eu queria um casal de periquitos, minha primeira resposta foi não. Aí já viu, eles me disseram que os bichinhos nasceram na casa deles, que eram mansinhos e que precisavam de alguém que deles cuidassem bem. Na mosca: apelaram para o meu lado “protetora dos frascos e comprimidos”. Embora eu tivesse me jurado nunca mais ter pássaros em gaiola, tendo em vista que os pobrezinhos não poderiam ser soltos no meio ambiente, eu acabei aceitando.
E foi assim que ganhei um casal de periquitos australianos, os dois verdinhos, com detalhes em amarelo. Coloquei os dois em uma gaiola ampla e fiz de tudo que estava ao meu alcance para dar aos dois uma vida digna, embora eu esteja convicta de que nada, absolutamente nada que eu viesse ou venha a fazer por eles terá o condão de amenizar o crime de deixá-los confinados ao espaço de uma gaiola. Sementes variadas, água fresca, frutas, verduras, chuva artificial e sol da manhã estavam entre os cuidados dedicados a eles.
Comecei a reparar que os dois estavam muito cheio de dengos entre si. Hum, pensei, de certo estão namorando. Levantei essa suspeita aos meus amigos e eles me informaram que os dois ainda eram muito filhotes para isso. Pelo sim e pelo não, comecei minha busca no pai Google. As conclusões a que cheguei foram bem diferentes. Os danadinhos estavam é namorando, isso sim. Por mais que a idéia da população de periquitos aumentar aqui em casa não me agradar muito, confesso que fui seduzida pela imagem de ovos e filhotinhos.
Tinha também uma outra questão. Haviam me dito que os periquitos eram mansos, que eu poderia pegá-los e acostumá-los na mão. Mmmenntiraa... Fiz isso e quase perdi a tampa do dedo. Eles eram bem bravos. Assim, por outro lado, eu teria a chance de amansar os filhotes. Deixei para sorte. Se fosse para ser, seria. Coloquei um ninho e deixei a natureza seguir seu curso, com dois periquitinhos vivendo seus dias de Lagoa Azul.
Cerca de duas semanas depois do ninho ser colocado na gaiola, a fêmea iniciou sua estadia por lá. Passava um tempo lá dentro e depois saía, assim, como quem não quer nada. Eu, óbvio, sempre ia dar uma espiadinha. Um belo dia, no entanto, deparei-me com um lindo e redondo ovo branco. Já me apaixonei por ele. Era tão delicado, mas, ao mesmo tempo, tão grande se comparado ao pássaro do qual viera. Os dias foram passando e logo eram cinco os ovos.
No dia seguinte ao Natal, enquanto eu me preparava para viajar, fui dar minha olhada de praxe quando vi que um dos ovos havia eclodido. Uma ave minúscula estava lá, completamente pelada, sem uma penugem sequer. Quando retornei de viagem encontrei três avezinhas, casa qual de um tamanho, seguindo a ordem de nascimento. Dois dos filhotes já estavam grandinhos quando o quarto deles nasceu. Infelizmente, acabou morrendo pisoteado pelos irmãos.
Os três cresceram e hoje, quase um mês do nascimento do primeiro deles, dois amarelos e um verde, eu já os pego na mão, fazendo como que eles subam em meus dedos, sem medo. Assim que as penas de todos derem as caras totalmente, vou tratar de arrancar o ninho e dar sumiço nele, pois cinco periquitos já é uma população mais do que excessiva para uma casa com duas pessoas, dez peixes e dois cachorros.
Na casa de outros amigos, agora, tem superpopulação de canários. Meu Deus, antes que eles venham voando, de malas e cuia, vou é colocar uma placa na porta: _ Não há mais vagas para quem tem escamas, asas ou quatro patas!!! Se eles lerem estou salva, se não lerem...
CINTHYA NUNES VIEIRA DA SILVA -Advogada, mestra em Direito, professora universitária e escritora - São Paulo
Por tudo o que vou escrevendo sobre os objectos que me rodeiam aqui em casa, pode parecer que só me interessam os que são valiosos, ou me fazem falar em famílias vivendo outrora em casas grandes donde vieram. Não é bem verdade e a prova é que tenho nesta sala um pequena pedra cabendo num bolso, com forma e textura estranhas, que apanhei no Egipto à saída do túmulo de um faraó e ao tê-la aqui em cima de uma mesa tanto me lembra a viagem deslumbrante que fiz, como tenho a ideia de que esta pedra andou, há mil anos e mil anos, de mão em mão e fazia parte de um monumento grande que hoje não posso identificar
Mas prova disso é também um pote de ferro que me acompanha desde os meus dez anos e que fazia parte do meu pequeno trem de cozinha -panelas, tachos, frigideiras em tamanho reduzido e hoje sem serventia. Era uma peça indispensável nos nossos cozinhados assim como um fogão pequeno que nos queimava os dedos e deitava fumo sem lhe darmos licença. Mas com tudo isto aprendi a cozinhar imitando como via fazer as pessoas mais velhas na cozinha, eu e as minhas amigas da terra, algumas descalças, outras com os vestidos rotos presos por um alfinete de dama, todas com piolhos que depois me passaram e isso faz parte também das minhas recordações de infância. Nesse tempo, era uma coisa natural, como também era natural ver, nas soleiras das casas, duas mulheres, uma catando a outra.
Mas voltando ao pote a quem concedo honras especiais de estar aqui junto da lareira e a quem pergunto se esta lembrança dos almoços preparados foi tão eficiente como quero acreditar, dado que nem sequer sou uma boa cozinheira. Tudo se passava numa parte da habitação do caseiro depois de adaptada e que os pais me tinham emprestado. Hoje seria um T1 pois tinha uma sala, uma cozinha e um quarto, onde nunca me deixaram dormir nem nas sestas de Verão, e uma privada no quintal…. Os móveis eram caixotes tapados com chitas e conforme os seus tamanhos ou eram bancos ou eram mesas. Depois do “nosso” almoço e de termos lavado e limpo os talheres e os tachos, as malgas e as travessas de barro, corríamos alvoroçadas pela quinta. Saltávamos muros, subíamos às árvores, corríamos de braços abertos, os cabelos e os vestidos para trás, sentíamos o vento, voávamos…. Chegávamos a casa encaloradas e a suar, mas felizes.
Não tínhamos brinquedos sofisticados, mas apenas os que fazíamos com as nossas mãos, a boneca de trapos, a bola de meias velhas e outras coisas assim. Bebíamos a água que a fonte nos dava, trazida em pequenos cântaros, e cantávamos sem parar, enquanto uma de nós tocava flauta feita num pedaço de cana ( tocar é uma forma de dizer, claro!).”Líamos” revistas velhas cheios de retratos, “bonecos”como lhe chamávamos, ( os jornais não nos interessavam, só tinham letras), o colchão era de palha, o cobertor tinha um buraco por onde por detrás passávamos os tais bonecos, era o nosso cinema. Buraco que ia aumentando quando nele enfiávamos uma perna ou um braço. Só queríamos brincar, inocentes e descuidadas, o pote que vos diga como éramos felizes. Em que a maldade era rara e nós éramos, sim, verdadeiramente felizes.
TEREZA DE MELLO - Escritora, Lisboa
A escolha de Dom Vicente Costa, como novo Bispo da Diocese de Jundiaí, me atinge como leiga e como cidadã. Como leiga porque acredito que Deus escolhe os Seus pastores com o propósito de que sigam à frente de seu rebanho para protegê-lo dos lobos e conduzi-lo à terra onde mana leite e mel. Como cidadã porque os valores propostos pelo cristianismo são capazes de transformar a sociedade; semeiam a partilha, a luz e oferecem novo sabor e aroma a todas as coisas.
Dom Vicente é nosso quinto Bispo. Os quatro que o antecedem marcaram a minha vida. Dom Gabriel foi nosso timoneiro em minha adolescência e parte de minha juventude. Uma imagem dele me vem de imediato: de joelhos, na capela do Aprendizado Agrícola, enquanto eu, nos meus 17 anos, ousava refletir, a respeito da parábola do tesouro escondido e da pérola, a um grupo de adolescentes como eu. Ele sabia de meus temores em falar em público e se fez unidade na prece. Quando ele se foi, experimentei uma sensação dúbia: perdíamos e ganhávamos um santo. Dom Roberto, meu profeta. Anunciou-me que Deus me pedia para anunciá-Lo aos excluídos, especialmente às prostituídas, encarceradas e encarcerados. Necessitava – e preciso – ir ao submundo para aprender a bendizer a Deus pela história que fez comigo, para não julgar, para descer de meu pedestal de pântano. Ao me despedir dele – que se foi tão repentinamente -, tive a certeza de que permaneceria na lembrança como pastor, pai e amigo carinhoso e sábio. Dom Amaury, o seu sucessor, chegava a me dizer, em questões ligadas à decadência humana, que, apesar dos questionamentos dele, considerava a minha interpretação. Isso se chama deferência e estima. Triste acompanhar os seus limites físicos no leito do hospital, mas guardei, também, o seu sorriso, em 2004, ao entregar um vaso de flores amarelas à mamãe, durante a Missa em Ação de Graças pelos 80 anos dela, por ele presidida. Dom Gil chegou logo depois e como se fez querido e respeitado. Sob o pastoreio dele, algumas das mulheres de nosso grupo, fortalecidas e decididas pelos caminhos de Cristo, pediram a preparação para os Sacramentos da Penitência e da Eucaristia. Doeu deixar nosso pastor-irmão, em Juiz de Fora, após sua posse como Arcebispo. Ele em muito ampliou a chama da Pastoral da Mulher/ Magdala. Defensor intransigente da vida, desde a fecundação, não permite, em momento algum, que se quebre a cana rachada e nem que se apague um pavio que fumega.
Quanto a Dom Vicente, agora é tempo de especulação. O que nos trará, questionam muitos. O Pe. Gian Carlo, da Ponte São João, que o conhece, afirmou-me que ele carrega o dom de ouvir as pessoas em profundidade, assim como o Bom Pastor com a samaritana e os discípulos de Emaús. Ouvir e falar de arder o coração, imagino eu. Penso que o essencial é a escolha que ele fez de Deus e que vem marcando sua caminhada missionária como pescador de almas. Desejo somente o óbvio, que ele tenha ombros largos, onde caibam as ovelhas feridas que necessitam de cura e afeto. Creio, além disso, que é tempo de nos perguntarmos sobre o que temos, como leigos, a lhe oferecer para a Boa Nova e a amizade. Baseio-me, para saudá-lo, em cantiga ao Papa João Paulo II, quando em sua primeira visita ao Brasil: Tu vens em missão do Céu. Sê bem-vindo, Dom Vicente, abençoa este povo que de antemão te ama!”
MARIA CRISTINA CASTILHO DA ANDRADE- É coordenadora diocesana da Pastoral da Mulher e autora de “Nos Varais do Mundo/ Submundo” –Edições Loyola
O oba-oba de Copenhague não surtirá efeitos concretos. O Brasil levou 800 pessoas para esse turismo ecológico do qual resultarão promessas ambíguas. Enquanto isso, a natureza se vinga fazendo com que o clima seja caótico, inexplicável e surpreendente. Mais chuvas localizadas e violentas. Ciclones e furacões. O mar recupera aquilo que lhe foi furtado.
O que poderia ser feito para serenar o Planeta? Enquanto a responsabilidade dos poderosos não se vir forçada a reagir, o que adviria de uma conscientização lúcida e coerente da cidadania, cada qual pode fazer algo para ao menos atenuar o ritmo da escalada catastrófica.
Por exemplo: reflorestar áreas degradadas. Existe melhor homenagem a uma pessoa que se devotou a alguma causa, mesmo não tenha sido ela a ecologia, do que formar um bosque em sua memória? Por que não se planta uma árvore a cada criança que nasce e outra a cada pessoa que deixa este mundo?
Agora mesmo, com essa volúpia dos cartões de Natal, por que as empresas não destinam essa verba para o reflorestamento? Bastaria um comunicado por e-mail para os destinatários desses cartões que acabarão no lixo, comunicando a opção duplamente ambientalista: não se destrói árvore para confeccionar cartões e envelopes e se planta mais árvore para oxigenar o mundo.
No Japão, onde o problema ecológico é muito mais grave – ilha vulcânica desprovida de terra e, portanto, de vegetação suficiente – a praxe de homenagear os antepassados com a formação de bosques e florestas é rotineira. Essa a verdadeira contribuição que a lembrança de alguém que passou por esta Terra poderia deixar. Os beneficiados com a renovação do oxigênio se sentiriam gratos à figura inspiradora desse gesto. E lá do etéreo, o homenageado teria reais motivos para se orgulhar de sua descendência.
Só que isso é urgente, pessoal! O ritmo da devastação é alucinante. O da regeneração é quase estático. Vamos fazer algo enquanto ainda há tempo. Não esperemos da política, essa via que foi idealizada para servir à comunidade, mas que muitos confundem com a mais rápida forma de se atender – exclusivamente – aos próprios e egoísticos propósitos.
José Renato Nalini - é Desembargador da Câmara Especial do Meio Ambiente do Tribunal de Justiça de São Paulo e autor de “Ética Ambiental”, editora Millennium. E-mail: jrenatonalini@uol.com.br.
A gente percebe que o tempo passou quando lembra de algumas coisas que já não existem mais. Às vezes, conversando com alguns colegas mais novos, eu me assusto ao ouvir a pessoa dizer que nasceu na década de noventa. Aff, eu ainda tenho a impressão de que quem nasceu nos primeiros anos de tal década, é criança. Lembro-me de que 1991 me encontrou prestando vestibular e é estranho pensar em um amigo nascendo na mesma época.
Um dos principais aprendizados que a vida me ofereceu foi o de que as amizades são atemporais, em todos os sentidos. Tenho amigos de todas as idades, para meu deleite. Tenho uma amiga de noventa anos, perto de uma dúzia com mais de oitenta, algumas dezenas com mais de setenta, e um sem número de outros abaixo disso, até chegar às criancinhas. Eu me orgulho disso, como um tesouro pessoal, como uma conquista que se ostenta. Descobri, com o tempo, que as pessoas existem independentes da idade que tem, da cor da pele, de onde moram, de onde vem, de como se vestem ou de sua sexualidade.
Assim, ter muitos amigos, poder com eles conversar as mais variadas coisas, sobre os mais diversos assuntos, faz como que eu me sinta capaz de voltar a ser criança, adolescente, ou me tornar mais conhecedora da sabedoria dos mais velhos. Aprendendo com quem já está no mundo há mais tempo, é como se pudéssemos por ele transitar, conhecendo o mundo pelos olhos de quem o vivenciou.
O único inconveniente de tudo isso é que, eventualmente, no meio de uma conversa, ouvimos ou falamos algo que não é comum a todos os participantes. Quando eu converso com a turma da melhor idade, é comum que façam referência a coisas que nunca vi, a pessoas que não conheci. Falam de determinada dupla de cantores ou mesmo de um parente que já estava morto quando eu nasci. O problema é que falam disso como se tivesse sido ontem, como se já não estivessem distante no tempo.
Muitas vezes eu fico meio desconcertada no meio de algum papo. Dia desses era meu pai acelerando com o controle do vídeo cassete (ou seja, não era dia desses, mas tudo bem) as cenas mais picantes dos filmes e, na semana retrasada era o meu tio, que sempre achei um dos homens mais reservados que conheci, conversando comigo naturalmente, em meio a uma roda de amigos e me perguntando se eu tinha conhecimento que fulano de tal tinha ejaculação precoce!! Ou seja, é de pirar a cabeça, ainda mais a minha, que vive perdida por aí...
Dia desses, em meio a um papo só de mulheres, o tema se apimentou muito e eu só percebi, um pouco tarde demais, que uma das participantes tinha somente dezesseis anos e estava mais vermelha do que uma maçã.
Alguns assuntos, por outro lado, só podem ser conversados com pessoas que vivenciaram as mesmas emoções, as mesmas piadas, que conheceram os mesmos programas de televisão e que ouviram as mesmas músicas.
Em uma brincadeira de adivinhar quem era o personagem, foi com uma certa frustração que percebi que, mesmo depois de muitas dicas, a maior parte dos participantes, na faixa dos vinte anos, não fazia a menor idéia de quem era a Formiga Atômica. Quando o filho de um amigo me pediu figuras do Ben 10, eu fiquei com cara de goiaba, e perguntei: _ Bem o quê?
Seja lá como for, eu não faço mesmo a menor questão dessa coisa de idade. Quando eu ia fazer dezoito anos, importava, agora, só quero comemorar e alardear, aos quatro ventos, quando for completar noventa. No mais, vou me atualizando pela internet...
CINTHYA NUNES VIEIRA DA SILVA --Advogada, mestra em Direito, professora universitária e escritora - São Paulo
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