Na semana passada eu publiquei um texto de Natal do
Então, também por esse motivo, eis parte da mensagem de Ano Novo que o mesmo sacerdote leu na missa do dia 31 de dezembro na Comunidade Nossa Senhora do Sagrado Coração:
“Mudamos alguma coisa passando de um ano para o outro? Os dias depois de 1º de janeiro são diferentes dos dias anteriores a 31 de dezembro?
Nosso poeta Drummond encantado com este mistério assim falara do ano novo: ‘Quem teve a idéia de cortar o tempo em fatias, a que se deu o nome de ano, foi um indivíduo genial. Industrializou a esperança, fazendo-a funcionar no limite da exaustão. Doze meses dão para qualquer ser humano se cansar e entregar os pontos. Aí entra o milagre da renovação e tudo começa outra vez com outro número e outra vontade de acreditar que daqui para adiante vai ser diferente’.
Chamar 2009 de ano velho não é uma ofensa pra quem conviveu conosco 365, na alegria e na tristeza? Cantar ‘adeus ano velho’ para ele não é uma forma cruel de despachar um companheiro de todas as horas, de todos os minutos e de todos os segundos? Cantar ‘Feliz Ano Novo’ para 2010 não é uma forma excessivamente rápida de esquecer o passado e se envolver com o que chega?
No salmo 89 assim canta o salmista: ‘Ensinai-nos a contar os nossos dias, e dai ao nosso coração sabedoria!’ O desafio da passagem do ano não é a contagem dos dias que se passaram ou dos dias que faltam, mas aprender a saborear os dias vividos e a salivar pelos dias que se aproximam. Santo Inácio de Loyola dizia: ‘Porque não é o muito saber que sacia e satisfaz a alma, mas o sentir e saborear as coisas internamente’. Plagiando este mestre espiritual, poderíamos dizer que não são os muitos anos vividos que saciam a vida, mas a capacidade de sentir e saborear as experiências vividas.
Imagino a passagem de um ano para o outro como o encontro do idoso com a criança. O idoso não é um velho nem é um ultrapassado, mas é alguém que traz a experiência do vivido, tão respeitado nas culturas antigas. A criança não nasce instantaneamente, mas desde a concepção vai sendo gerada. Antes mesmo de ser gerada no ventre, vai sendo gerada no coração e no sonho de muitos homens e mulheres, por isso não se sabe precisamente quando nasce uma criança. Uma pessoa quando parte continua viva na mente e no coração daqueles que a amam.
A passagem do ano não é o funeral de um ano e o nascimento do outro, é a dança do idoso com a criança. Ele com os passos cansados, mas vividos. Ela ensaiando os passos, mas cheia de energia. Nesse baile, em vez de uma ampulheta se entrega uma rosa branca com folhas bem verdes, branca como a paz, verde como a esperança, sementes semeadas ontem, flores colhidas hoje, anunciando o fruto de amanhã. Ambos embalam uma criança que se chama Jesus.
Nós cristãos temos um conceito de tempo que se chama eternidade: existência absoluta, sem princípio nem fim, pois a nossa história foi assumida por Aquele que é o Ontem e o Hoje, o Princípio e o Fim, o Alfa e o Ômega, o Senhor do Tempo e da Eternidade, Aquele que era, que é, que será.
Na passagem do ano ao Senhor da Eternidade cantamos Te Deum: ‘A Ele o tempo e a eternidade, a glória e o poder pelos séculos sem fim’. Aos irmãos que estamos no tempo, diferente de Vinícius não dizemos: ‘que seja infinito enquanto dure’, mas sim que seja eterno, pois dura para sempre. Dizemos mais do que adeus ano velho ou feliz ano novo. Desejamos simplesmente eternidade feliz, eternamente feliz.”
Depois destas belas palavras, que tal fazermos um ‘Pacto com a Felicidade’? Por exemplo:
De hoje em diante, todos os dias ao acordar direi: ‘Hoje vou ser feliz’. Lembrarei de agradecer ao sol pelo seu calor e luminosidade; sentirei que estou vivendo. Não preciso comprar o canto dos pássaros, nem o murmúrio das ondas do mar. Vou sorrir mais, cultivar mais amizades e neutralizar as inimizades. Não julgarei os atos dos meus semelhantes, mas aprimorar os meus.
Reservarei minutos de silêncio para ter a oportunidade de ouvir. Não vou lamentar nem amargar as injustiças; pensarei no que posso fazer para diminuir seus efeitos. Não vou sofrer por antecipação, prevendo futuros incertos, lembrando de coisas sobre as quais não tenho mais ação. Não pensarei no que não tenho e que gostaria de ter, mas em como posso ser feliz com o que possuo. E o maior bem que possuo é a própria vida!
Vou lembrar-me de ler uma poesia, ouvir uma canção e dedicá-las a alguém, sem esperar nada em troca, apenas pelo prazer de ver uma pessoa sorrir. E quando a noite chegar, olharei para as estrelas, para o luar e agradecerei a Deus... porque eu fui feliz!
PAULO ROBERTO LABEGALINI- Escritor católico, Professor Doutor da Universidade Federal de Itajubá-MG. Pró-reitor de Cultura e Extensão Universitária da UNIFEI
E-mail: labega@unifei.edu.br
Quando nasci chamara-me Maria de Lourdes e eu não reclamei. Era-me indiferente que me chamassem Maria de Lourdes como me seria indiferente que me chamassem Aurélia, Gertrudes ou até Raimunda
Quinze dias depois, dentro dum complicado vestido comprido e cheio de rendas, baptizaram-me, na igreja, definitivamente com esse nome. Ficou a fazer parte de mim, da minha alma, da minha vida, confundido comigo.
Mais tarde, deitada no berço, corada, cheia de febre, sempre a chorar, afligi muito os meus pais que não me largaram um instante. Porém, os remédios e os médicos acabaram por vencer aquela luta contra a morte que me ameaçava.
Fui crescendo e, como todas as crianças, fiz a primeira gracinha, tive o primeiro dente. Aprendi a andar, primeiro de gatas, depois de pé amparada aos moveis, e por fim dava grandes passeios pelas salas, partindo tudo.
Mas, quando cheguei ao uso da razão, detestei o nome e, indignada, quis saber o motivo daquela infeliz escolha. Se fosse em memória da Mãe de Deus, bastava que me chamassem Maria. Maria e mais nada. Mas não, lá vinha o embirrento Lourdes a seguir.
Então explicaram-me que tinha sido em memória de uma irmã de meu Pai que tinha morrido antes de eu nascer.
Amaldiçoei a tia e as pieguices sentimentais da família.
Mais tarde, quando estava para casar, deram-me vários objectos que lhe tinham pertencido: um sinete, colheres de chá e o seu retrato pintado a óleo. Arrumei tudo ao pé dos outros presentes e, entusiasmada com a vida que me esperava, nunca mais pensei neles.
Só depois passados tempos, já instalada na minha nova casa, me tornei a lembrar das coisas da tia Lourdes. Guardei as colheres e o sinete e fui buscar o quadro.
Andei com ele às voltas sem saber onde o colocar. Por fim escolhi a parede principal que dominava toda a sala. Pendurei-o por cima dum velho cravo há muito silencioso, defronte do meu sofá predilecto. Assim comodamente instalada, podia observar o seu vestido cor de rosa , os seus grandes olhos castanhos, a boca bem desenhada, semiaberto, num sorriso que mostrava os dentes muito brancos e certos.
O meu marido passava os dias fora a trabalhar como engenheiro na construção duma barragem. Só vinha a casa nos fins de semana.
Assim, sozinha, numa cidade estranha onde não conhecia ninguém, fazia tricot, lia , mas sentia uma necessidade enorme de falar. Faltavam-me os meus irmãos e as minhas amigas que enchiam a casa dos meus pais. Habituada como estava a falar pelos cotovelos , acontecia dar por mim a pensar alto, a falar sozinha.
A tia Lourdes, no seu quadro, sorria-me compreensiva. Era a minha única companhia sempre presente
Para me desforrar, escrevia às minhas amigas, e quando lacrava as cartas, com o seu sinete, ficava esquecida a rola-lo nas minhas mãos, olhando-o, fazendo conjecturas, imaginando outras cartas, as cartas que a tia Lourdes teria lacrado com ele. Então entre nós nascia uma ligação estranha que eu não conseguia definir nem afastar.
Chegava o lanche. Parava com a minha correspondência. Comia a primeira torrada e enchia a xícara com o chá muito forte. Deitava o açúcar e mexia-o com uma das colherinhas que fora da tia Lourdes. Lá estavam as suas iniciais que eram também as minhas… Esquecia-me do chá e das torradas ficava a olhar aquelas duas letras bem esculpidas, de novo emocionada.
A tia Lourdes tornara-se numa obsessão. Passei a falar com ela em grande intimidade, desabafando o que me afligia ou entusiasmava.
A tia Lourdes era um ídolo que eu revestia de todas as qualidades, mas nada sabia ao certo dela. Nunca me tinha interessado por isso. Só depois em virtude do uso das suas coisas, sentia necessidade de conhecer a sua vida: como tinha sido, o que pensara, o que sentira. Tinha que descobrir, não me conformava já
com as minhas invenções.
Nessa altura estávamos no Verão e os meus pais como de costume, tinham ido passar esses meses na quinta que tinha sido de meus avós. Decidi aparecer-lhes de surpresa. Talvez eles me ajudassem.
Quando cheguei, não encontrei ninguém. Só voltavam para jantar. Corri a casa de ponta a ponta a matar saudades. Lá estavam na parede do meu antigo quarto de dormir a marcar as minhas sucessivas alturas. Encostei-me à parede, estava na mesma, da altura do último risco. Corri pelos corredores, pelos salões, espreitei a casa de jantar, a cozinha, a copa, e por fim fui para uma das salas fazer horas. Sentei-me e só então me lembrei do sótão… Como é que nunca me tinha lembrado dele ?
Levantei-me num pulo, subi as escadas em caracol, empurrei a porta que rangeu e entrei devagarinho, religiosamente como num templo.
Havia muitos anos que estava fechado. Nunca ninguém lá ia. Encantou-me o seu mistério que cheirava a mofo. Senti presenças ocultas. Olhei em volta: apenas as aranhas imperturbáveis a fazerem as suas teias. As suas teias rendadas, complicadas, e brilhantes do sol que entrava por uma frincha duma telha partida. Eram tão bonitas… Fiquei a olhá-las encantada e quase esquecida da minha tia Lourdes. À minha volta cadeiras partidas, sofás fora de uso, telas rasgadas, candeeiros de petróleo, rimas de revistas de 1900, baús, arcas.
Fui-as abrindo ao calhar: bonecas decepadas, sapatos de cetim minúsculos, feltros velhos, tudo muito bem arrumado, cada qual no seu cantinho.
Desanimada, sentei-me no chão a ganhar coragem. Depois abri outra arca: plumas, missangas, rendas e vestidos de outras épocas. Comecei a tirá-los, remexi tudo e, santo Deus, lá estava o vestido cor de rosa …Era de seda grossa bordada, a saia muito rodada, o corpinho justo e decotado, as mangas pelos cotovelos.
Não resisti a vesti-lo. E nesse momento, senti-me confundida, estranha, como se deixasse de ser eu e apenas fosse a continuação de uma outra vida que voltava.
Ao passear pelos quartos esconsos, baixando a cabeça para não bater nos tectos e ouvindo o frufru do meu vestido, encontrei uma caixa de música. Dei-lhe corda e começou a tocar. Sentei-me num canapé, encostei a cabeça nas suas costas, recebi a música, fechei os olhos e senti-me a recuar no tempo.
Comecei a ouvir burburinhos ao longe. Vozes indistintas aproximavam-se. Alguém me pedia para dançar. Olhei. Um senhor de casaca, esperava se mi debruçado, como numa vénia, sobre mim. Levantei-me e, enquanto recopiávamos por entre os outros pares, todos vestidos à moda de 1900, ouvi divertida os seus elogios, mas não deixava de estar emocionada. Era contagioso tanto entusiasmo nos seus projectos comigo. Projectos imaginários, em que eu não podia colaborar. E sofria duplamente por isso; por mim e por ele que não dsistia.
Brilhavam velas acesas nos lustres pendurados nos tectos de masseira . à volta do salão, sentadas em cadeiras douradas, senhoras decotadas e carregadas de jóias cochichavam por detrás dos leques de madre pérola.Senhores em pequenos grupos, discutiam politica e falavam de caçadas.
As velas iam ardendo, diminuindo
Caiu-me um pingo de cera numa das mangas do vestido. Continuávamos a dançar. Agora calados, divagando absorvidos.
A musica tocava cada vez mais devagar, mais devagar. Cada nota ficava suspensa, parada… Acabava a corda da caixa de música. E eu voltava à realidade. Esfreguei os olhos, atordoada. Estava exausta, como se tivesse vindo de muito longe … de muito longe.
Levantei-me cambaleando e recomecei as minhas buscas. Só me faltava ver um pequeno baú que coloquei em cima do canapé onde me voltei a sentar. Tinha perdido já todas as esperanças de descobrir alguma coisa. Abri a tampa, desinteressada, e fiquei sem respiração.\Atados com uma fitinha, imensos retratos, todos da tia Loudes. A tia Lourdes a fazer ski na Suiça, a tia Lourdes a saltar a cavalo, a tia Lourdes a tocar guitarra, a tia Lourdes com uma espingarda, e penduradas à volta da cintura, uma porção de perdizes, a tia Lourdes no seu primeiro baile com o vestido cor de rosa.
Emocionada, procurei melhor. Bilhetes postais ilustrados, agendas e o seu carnet de baile, o seu diário, pouco a pouco, foram-me revelando magicamente a sua vida.
A tia Lourdes fazia versos, sonetos apaixonados, tristes, melancólicos, às vezes irónicos e revoltados.
A tia Lourdes tinha dançado no seu primeiro baile, muitas vezes, com o mesmo senhor. A tia Lourdes tinha colado no fim do seu diário, como um epilogo, pequenos recortes de jornais com a vida desse senhor: a sua entrada para a Faculdade, os exames que passara, o fim do curso, os livros que escrevera e a partida para Africa.
O seu diário era uma obra prima de literatura que eu lamento não poder transcrever. O medo de uma inconfidência deixará guardados e escondidos no pequeno caderno de capa de oleado preto, os seus desabafos, a sua alma sensível e romântica.
Mas a tia Lourdes estava doente. Muito doente. Não enganavam aquelas receitas médicas e os gráficos de febre que encontrei a seguir.
Então, aterrada, como se o passado fosse ainda presente, assisti ao desenrolar de um drama que eu queria actualizar para poder ainda ter esperanças. Procurei melhor. Meti as mãos nervosas por entre a papelada, mas nada mais descobri.
Acendi um cigarro desanimada. Fiquei a olhar o fumo muito azul que se espalhava no ar. Distraída, a pensar na tia Lourdes, deixei-o arder sem o fumar foi quando caiu um morrão de cinza na manga do vestido cor de rosa. Ao sacudi-lo, os meus dedos ficaram sujos de cera …
Maquinalmente peguei numa ilustração que estava em cima de uma mesa e comecei a ler os acontecimentos dessa época. Falavam dos reis, duma festa no Paço, dum crime na travessa do Poço dos Negros.
Voltei a folha. Os meus olhos embaciaram-se. Quase não conseguia ler aquelas duas notícias escritas lado a lado. Agora, que a tia Lourdes era para mim uma realidade bem presente e não só o ídolo que eu inventara, agora que a tinha encontrado não queria, não me resignava a perde-la. E no entanto assim era. Tinha sido há muito tempo: em 1904. A sua morte aos vinte anos. A sua morte e a do seu amigo que tendo acabado de chegar de Africa, intrigado com aquele enterro tão sentido, e com tamanho acompanhamento, ao saber de quem era, não resistiu ao choque e à síncope que logo o vitimou.
TEREZA DE MELLO - Escritora, Lisboa ( faleceu em Outubro de 2009)
Embora muitas discussões ainda haja sobre o assunto, com defensores ardorosos da natureza de um lado e com capitalistas ao extremo do outro, sem contar a turma que fica encima do muro, o fato que a natureza já vem dando seu recado (nada sutil) sobre o que entende da devastação das florestas, da poluição de suas águas e da morte de suas criaturas mais inocentes.
A evolução da sociedade humana trouxe consigo um custo muito caro ao planeta. Não nos adaptamos à moradia em árvores, bem como não havia cavernas para todos e, no ritmo em que fomos nos reproduzindo, nem mesmo as pragas mundiais sazonais foram capazes de nos reduzir a um número viável para a saúde do planeta. Mais parecidos com pragas do que com moradores, nós fomos abrindo espaços que não nos pertenciam em exclusividade, mas, a despeito disso, deles fomos extirpando outras formas de vida.
Por certo que muita gente não dá a melhor bola para nada disso. O cálculo é simples: expectativa de vida x lucros e vantagens possíveis. Se o resultado indica que os reflexos dos danos causados à natureza serão suportados por gerações futuras, então tudo certo. Não há com que se preocupar. No futuro, assim como nos filmes, irão inventar algo que vai resolver tudo ou, se não der, uma astronave irá levar a população humana para outro planeta são. Qualquer semelhança com pragas é mera coincidência...
Há ainda aqueles que já perceberam que a coisa está prestes a sair do controle, isso se já não saiu e que, se nada for feito a curto e médio prazo, nada mesmo mais será eficaz. O problema, segundo me parece, é que, em termos de poder de decisão, esse se encontra mais concentrado nas mãos de quem não se importa do que com a turma do outro lado. A verdade é que poucos tem coragem de levantar bandeiras ecológicas e de sustentá-las com orgulho e seriedade. Não valem, registro, meras, tolas e infundadas promessas de campanha. Refiro-me à efetiva atuação em prol do meio ambiente. Pela minha experiência, quando se argumenta nesse sentido, de modo mais sério, muitos são rotulados de radicais ou mesmo de bobocas.
Mesmo que a maior parte daqueles que se importam não tenha meios de fazer uma mobilização em termos expressivos, eu creio no trabalho ao estilo da formiga. Ou seja, de um em um, cada qual fazendo a sua parte. Estou convicta de que podemos fazer a diferença não desperdiçando comida, não jogando lixo nas ruas, nos bueiros, não desperdiçando água limpa e tratada com fúteis e repetidas lavagens de calçadas e quintais, bem como olhando com amor para os frutos que a Terra nos dá, consumindo-os com respeito, da mesma forma com os todos os demais seres vivos, essencialmente aqueles que nos alimentam.
A nos olvidarmos disso, a continuarmos fechando os olhos para as dores do planeta e somente abrindo os bolsos para o dinheiro, em pouco tempo cada um de nós terá perdido um ente querido, vitimado pelos desastres naturais que vem se avolumando e se democratizando nos últimos tempos. É aquilo: podemos ir pelo amor, ou pela dor. Quero acreditar, ainda, que temos escolha...
CINTHYA NUNES VIEIRA DA SILVA - Advogada, mestra em Direito, professora universitária e escritora - São Paulo
Parece estranho este título, não é? Mas não é tanto assim.
Você já reparou que inúmeras pessoas xingam mais do que louvam? E você, como é?
Muita gente xinga automaticamente. Por qualquer coisa, sai da nossa boca um PQP, uma PM, um FDP. Basta martelar o dedo, dar um tropeção em alguma pedra; tomar um escorregão e cair; uma coisa não sair como queríamos que saísse; faltar poucos números para acertar na mega sena...
Bem, por esse último motivo, então, no último dia de 2009 e no primeiro de 2010, com o prêmio da Mega Sena acumulado em mais de cento e quarenta milhões de reais, o número de xingamento deve ter batido o recorde, pois apenas duas pessoas acertaram os seis números sorteados, contrariando a expectativa de milhões e milhões de pessoas que tentaram a sorte.
Por esse motivo eu não xinguei, pois tenho uma promessa de não jogar nenhuma loteria ou rifa visando ganhar dinheiro ou prêmio. Só compro rifas e bingos beneficentes, mas mesmo assim nem confiro ou marco.
Xingar é uma reação natural, mas que vem de um costume. Se tivéssemos nos treinado a fazer diferente, tal não aconteceria.
Quem, em alguma das situações acima mencionadas, ao invés de xingar, não diz: Ô, meu Deus!
Pode ser até que a expressão não seja uma louvação, mas de qualquer maneira é uma invocação ao nosso Criador. Infinitamente melhor do que dizer um palavrão.
Eu mesmo tenho que me policiar. De vez em quando, solto um xingamento. Agorinha mesmo, estava ajudando a arrumar as vasilhas do almoço. Tinha ido ao quintal e recolhido alguns ovos de galinha. Ao lavá-los, um caiu na pia e se quebrou. Não deu outra: um FDP saiu sem eu querer.
Quando essas coisas acontecem e xingo, logo me arrependo e faço uma invocação.
Pode ser também que o que penso ser uma invocação mais seja uma reclamação, pois estou perguntando a Deus por que aquilo foi acontecer.
Claro que Deus não vai ficar explicando que não teve nada com o acidente, pois tudo é fruto da nossa maneira de pensar e agir.
De qualquer maneira, é melhor dizer o nome de Deus do que xingar.
Já imaginaram quantas situações como essas acontecem no mundo todos os dias? Se todos nós fôssemos acostumados a louvar, a nossa reação automática seria mais adequada.
Muita gente poderá dizer: “Ah! mas xingar assim não é nem xingar direito. A gente não faz com raiva. É apenas um desabafo!”.
Pode ser, mas convenhamos é muito melhor dizer o nome de Deus do que outras palavras que não são lá muito adequadas.
Vamos tentar fazer um exercício daqui para frente?
ALUIZIO DA MATA - Vicentino, Sete Lagoas, Brasil
Nos anos cinquenta era menino e andava no liceu. Nessa recuada época as famílias da classe média eram, em regra, numerosas.
O pai trabalhava no escritório ou tinha profissão liberal; a mãe era dona de casa. Ser dona de casa, à moda antiga, não era fácil. A mulher além de cuidar do meneio do lar, tinha por missão ser mãe; e ser mãe, nesse tempo, não era apenas gerá-los, mas educá-los, acompanhá-los nos estudos, vigiá-los, para não descambarem nos abismos do mundo.
Cabia a ela preparar as refeições, ir à praça, tratar da roupa e realizar ligeiros acertos no vestuário.
Nesse tempo pontificava em Lisboa Salazar, homem do povo, filho de humilde trabalhador rural, que nascera no século XlX e conservava mentalidade dessa época.
Verdade era que a mulher, uma vez casada, raramente se separava. Os filhos, a crença que professava, eram impedimentos para o divórcio, que nem sonhar queria.
O marido, como agora, nem sempre lhe era fiel, mas ela sabia contornar o desacerto.
Se era professora ou exercia profissão considerada respeitável, em regra, prosseguia após o casamento, muitas vezes contra a vontade do conjugue, que se sentia diminuído, mormente se o vencimento não bastava para socorrer as despesas domésticas.
Nesse tempo, o homem, quando se casava, envergonhava-se de precisar do ordenado da esposa. Ele era responsável por angariar o necessário: ela, entesourar e criar pé-de-meia.
Em conversa travada entre Salazar e a jornalista Christine Garnier, o estadista, afirma: “ Continuo a dizer que não há boas donas de casa, que não tenham muito que fazer em casas, quanto mais não seja na preparação das refeições e arranjo das roupas. A ausência da mulher desequilibra a economia doméstica e a perda de dinheiro que daí resulta raramente é compensado pelos ganhos exteriores.”
Estas palavras foram proferidas pelo estadista nos anos quarenta. Nessa década, após guerra, ainda cabia à mulher a nobre missão de cuidar dos idosos da família.
Só quem não tinha filhos ou parentes próximos agasalhava-se em asilos. Com a emancipação da mulher e a precisão de haver dois salários para manter o lar, é que o problema dos idosos se agravou, ao ponto do destino de todos ser, mais cedo ou mais tarde, o repouso de um lar. Conforto que depende dos rendimentos.
Foi essa mudança da sociedade que veio levantar, entre outros, o problema dos velhos, principalmente dos idosos enfermos.
Previu isso Salazar e advertiu que a mulher casada saindo do lar, havia segundo a lei da oferta e procura, forçosamente contribuir para a descida dos salários; e desabafa, a certo momento da conversa, com a jornalista francesa: “ Que hei-de eu fazer em Portugal? Reconheço que os meus esforços para reconduzir a mulher às antigas formas de viver são quase todas vãos! “
Estas confissões de Salazar, estão para a mentalidade do homem do século XXl, completamente desactualizadas, mas na época eram compreendidas pela maioria da população.
Há três anos implantou-se em Portugal, serviço de apoio hoteleiro e domiciliário, aos idosos, independente dos rendimentos. Chegou tardio. Em Espanha já tem vinte anos! Mas melhor é tarde do que nunca.
A sociedade mudou e mudou o modo de pensar, mormente dos jovens, sendo portanto urgente substituir o papel da mulher, dona de casa, por apoio estatal. Digo urgente, porque Portugal, dentro de pouco tempo, será um País de velhos, pela decadência da natalidade e sangria da emigração.
HUMBERTO PINHO DA SILVA - Porto, Portugal
Humbertopinhosilva@sapo.pt
Recupero-me de uma cirurgia de catarata, realizada em 16 de dezembro, na SOBAM – hospital e plano médico de primeira -, pelo competente e dedicado DR. ALMIR ABU-JAMRA. Ultimamente, devido à miopia e à catarata enxergava uma média de 20% com a vista esquerda. Embora não tenha dúvida alguma de que o essencial é distinguir bem com o coração, a experiência nova de perceber com mais nitidez o que está em volta me encanta. Meus olhos amanheceram.
O Dr. Almir, além de preparadíssimo para a profissão que exerce, é de dedicação extrema com seus pacientes. Insiste nos cuidados anteriores e pós-operatórios. Transmite tranquilidade desde os procedimentos mais simples até os cirúrgicos. E partilha com entusiasmo a condição melhor, de cada indivíduo, ou a cura, quando possível. Isso é muito bom. Incentiva as pessoas a não se deterem diante dos obstáculos. Propõe um passo maior. Como escreveu em, “Das Utopias”, Mário Quintana:
“Se as coisas são inatingíveis...ora!
Não é motivo para não querê-las...
Que tristes os caminhos, se não fora
A mágica presença das estrelas.”
É muito bonita a missão de um médico comprometido com a vida, seja qual for a especialidade, mas, no momento, tenho pensado no empenho do Oftalmologista: enxergar até o fundo dos olhos, perscrutar o olhar e propor o ideal para que caiba em nosso rosto uma imagem com menos ou sem manchas. Admirável oferecer a claridade às pessoas, seja através do uso de colírios, de lentes ou de cirurgias, não é mesmo? E, às vezes, passa despercebido o empenho de quem nos extrai as névoas para podermos ver intensamente. Detemo-nos mais na formosura das armações de óculos.
Falando em luminosidade, a Igreja, neste início de janeiro, celebra a festa da Epifania, com os magos do Oriente chegando a Belém. Isaías (60,1-6) já profetizara: “Levanta-te, acende as luzes Jerusalém, porque chegou a tua Luz, apareceu sobre ti a glória do Senhor. (...) Os povos caminham à tua luz e os reis ao clarão de tua aurora”. E o evangelista Mateus (2,1-12) narra a visita dos magos, que chegaram a Jerusalém perguntando: “Onde está o Rei dos judeus que acaba de nascer? Nós vimos a Sua estrela no Oriente e viemos adorá-Lo”. Quando partem, a estrela reaparece e ia adiante deles, até parar sobre o lugar onde estava o Menino. “Ao verem de novo a estrela, os magos sentiram uma alegria muito grande”, escreve São Mateus.
Contemplar a estrela e pôr-se a caminho é obra de um momento. Notar uma claridade maior e permitir que ela invada a alma, também. Mas persistir na alvura depende de escolha e esforço pessoal.
Concluo que aquele que, como o Dr. Almir, com juramento em favor do bem-estar dos outros, ajuda a pessoa a abrir clareiras, é de alma que avistou a estrela de Belém.
MARIA CRISTINA CASTILHO DE ANDRADE
Coordenadora Diocesana da Pastoral da Mulher e
Autora de "Nos Varais do Mundo / Submundo" - Edições Loyola
Vejo-me triste, abandonada e só
Bem como um cão sem dono e que o procura,
Mais pobre e desprezada do que Job
A caminhar na via da amargura.
FLORBELA ESPANCA
Glosa
Ninguém sabe o que tenho, e também eu.
De mim ninguém se lembra, nem tem dó.
E mesmo Deus não quer já dar-me o Céu:
Vejo-me triste, abandonada e só.
Eu já não sei se vivo, se morri,
Transfigurei-me já noutra figura…
Um ser a vaguear e me perdi,
Bem como um cão sem dono que o procura.
Ninguém fala comigo como outrora;
Às vezes penso até que já sou pó
Que o vento leva pela estrada fora,
Mais pobre e desprezada do que Job.
Errante, paro à sombra dum cipreste,
Sem ter, como já tive, uma ternura…
Eu sinto-me animal, ao frio agreste,
A caminhar na via da amargura!
CLARISSE BARATA SANCHES – Góis – Portugal
O Padre Maristelo encaminhou aos agentes da Comunidade Nossa Senhora do Sagrado Coracão uma mensagem de final de ano com trechos muito bonitos, assim:
“Chegou o Natal. O que dizer? A linguagem é impotente para expressar a realidade, nos diz a filosofia da linguagem. Para tocarmos a realidade, sobretudo as mais profundas da vida, só podemos por meio de metáforas, tocando-as com as pontas dos dedos e não as abarcando com a mão, como se acaricia o rosto de quem se ama. Metáforas como Moisés tirando as sandálias diante da sarça ardente.
Com o que poderemos comparar o Natal?
O Natal é como a alegria de um filho que recebe um telefonema de seu pai depois de anos sem contato nenhum. É isso e muito mais. É o pai que nos doa o filho para que sejamos filhos no Filho, dando-nos a alegria e a liberdade de viver.
O Natal é como a alegria de uma família que acolhe uma gravidez indesejada, mudando a vida, os corações e a reações das pessoas. É isso e muito mais. É a chegada do desejado, do esperado desde toda a eternidade, da criança que nos desinstala.
O Natal é como a Maria do presépio de Sartre: ‘A Virgem está pálida e olha para o menino. O que seria preciso pintar em seu rosto é uma admiração ansiosa que só apareceu uma vez num rosto humano. Pois Cristo é o seu filho, a carne da sua carne, e o fruto do seu ventre... E em certos momentos a tentação é tão forte que ela esquece que o menino é Deus. Aperta-o em seus braços e diz: meu pequeno! Mas, em outros momentos, fica desconcertada e pensa: Este Deus é meu filho. Esta carne divina é a minha carne. É feita de mim, tem os meus olhos’. É isso e muito mais. É a Amada encontrando o seu Amado.
O Natal é também como o José do mesmo presépio de Sartre: ‘E José? José, eu não o pintaria. Mostraria apenas uma sombra no fundo do celeiro e dois olhos brilhantes. Pois não sei o que dizer de José, e José não sabe o que dizer de si mesmo. Adora e está feliz por adorar e se sente um pouco
O Natal é como o Menino Jesus de Fernando Pessoa: ‘Depois Ele adormece e eu o levo no colo para dentro da minha casa, deito-o na minha cama, despindo-o lentamente, como seguindo um ritual todo humano e todo materno até Ele estar nu. Ele dorme dentro da minha alma. Às vezes Ele acorda de noite, brinca com meus sonhos. Vira uns de pena pro ar, põe uns por cima dos outros, e bate palmas, sozinho, sorrindo para os meus sonhos. Quando eu morrer, Filhinho, seja eu a criança, o mais pequeno, pega-me Tu ao colo, leva-me para dentro da Tua casa. Deita-me na tua cama. Despe o meu ser, cansado e humano. Conta-me histórias caso eu acorde para eu tornar a adormecer, e dá-me sonhos Teus para eu brincar’. É isso e muito mais. É o Menino nos chamando para a manjedoura, nos dizendo que há lugar para nós na gruta do seu coração.
O Natal é como a Canção Amiga de Drummond: ‘Eu preparo uma canção que faça acordar os homens e adormecer as crianças’. É isso e muito mais. É uma canção que acorda a criança adormecida dentro das pessoas e adormece os adultos.
O Natal é como a pergunta de Machado de Assis: ‘Mudaria o Natal ou mudei eu?’ É isso e muito mais. Muda cada natal, mudamos todos a cada natal. Mudaríamos no natal?
O Natal é tudo isso e muito, muito mais do que isso. O Natal é Natal. O Natal é.
Feliz Natal! E muito mais...”
Quanta poesia e imaginação de primeira qualidade do nosso querido sacerdote, não? São coisas de Deus! Porém, o mundo não vive somente o Natal, mas também muito mais.
Há muito tempo, Pilatos resolveu lavar as mãos e condenar Jesus ao invés de Barrabás. Os políticos lavam as mãos para não condenar os parlamentares por corrupção. Muitos governos resolveram não tomar providências para evitar o aquecimento global e, agora, não há retorno para o superaquecimento do planeta. Países ricos investem em armamentos de guerra e deixam centenas de milhares de pessoas morrendo de fome.
Em nome do modernismo, famílias inteiras ficam diante da TV vendo imoralidades, tipo Big Brother, enquanto igrejas padecem por falta de voluntários que desejam se salvar. Bebidas são consumidas com exageros em todos os lugares, tirando a paz de muitos corações que dependem da recuperação de pessoas viciadas.
Até quando deixaremos nossa sociedade ser violentada pelo mal? Até quando lavaremos as mãos e ficaremos sem rezar o suficiente para que as coisas mudem? O relativismo do pecado corrompe os bons costumes e o chamado de Cristo para que sejamos ‘sal da terra’ e ‘luz do mundo’ fica
Levante suas mãos para o Céu e peça ajuda! Ainda é tempo de fazer bem feito a sua parte! Lembre que estamos iniciando um feliz novo ano.
PAULO ROBERTO LABEGALINI- Escritor católico, Professor Doutor da Universidade Federal de Itajubá-MG. Pró-reitor de Cultura e Extensão Universitária da UNIFEI
E-mail: labega@unifei.edu.br
Todo ano é a mesma coisa. A gente promete que vai mudar de vida no ano que vai se iniciar. Tudo aquilo que a gente não fez no ano que terminou, fará no próximo. O pior de tudo é que a gente se faz esse tipo de promessa todos os anos, não cumpre e ainda jura que vai fazer na próxima oportunidade.
É aquele regime que vamos começar na segunda-feira ou no primeiro dia útil do ano. Aqueles quilinhos incômodos que vamos acumulando na cintura ou nos quadris, da mesma forma que vamos acumulando tarefas inacabadas, sonhos irrealizados, coisas nas gavetas.
Conheço uma pessoa que todos os anos jura que vai reformar a casa, pintar as paredes sujas. Declara aos quatro ventos que dessa vez não vai passar, mas lá já se vão vários anos que escuto essa história. Já uma amiga promete que vai mudar de vida, que vai deixar o emprego que não a agrada e vai se aventurar por aí, vivendo de fazer bicos, mas de forma leve, sem a pressão de prazos e chefes. Desconfio, pelo que dela conheço, que isso é mais um sonho do que propriamente uma meta...
Já eu, que nem de longe escapo da regra, vivo me prometendo fazer mil coisas, tanto por mim quanto pelos outros. Perdi as contas de quantos livros eu já escrevi ou terminei em perspectiva, de por quantos países passeie antes de nunca conhecer, de quantas loucuras projetei fora de mim, mas que, no fundo, só existiram em meus pensamentos.
O curioso é que, inexplicavelmente, tão logo o ano vai acabando, eu sou invadida por uma estranha sensação de que, mesmo que incompleto, vou finalizando um ciclo, fechando páginas de um livro de 365 páginas, muitas delas escritas a minha revelia. Também por razões que não sei entender ou explicar, é como se uma força extra se apossasse de mim, dando-me ânimo para recomeçar, para tentar uma vez mais, para fazer valer, ao menos as juras que fiz a mim mesma.
Espero, de verdade, conseguir colocar pontos finais onde só tenho inserido reticências ou ponto e vírgula. Nesse ano eu somente pedi ao Universo que eu possa me tornar uma pessoa melhor, alguém mais tolerante, menos fraca, mais determinada. Espero, ainda, de quebra, que eu possa perder os quilinhos que acumulei nas intermináveis comemorações de fim de ano, bem como que eu saiba entender aquilo que preciso e esquecer, pura e simplesmente, aquilo que não posso mudar.
Não faço idéia do que será de 2010 e talvez seja isso que o torne possível para os sonhos, para os desejos, mesmo aqueles que temos de nos transformarmos em pessoas diferentes, mais parecidas com aqueles que admiramos. De toda forma, as possibilidades estão abertas novamente. Talvez eu consiga fazer a diferença, talvez não. Talvez eu publique três livros, tenha um rompante, construa uma estante, não postergue o instante e ganhe um anel com brilhante. Talvez seja tudo bobagem, eu não faça nenhuma viagem, só mude a bagagem, perca a coragem e conclua que, de fato, tudo só é passagem...
CINTHYA NUNES VIEIRA DA SILVA --Advogada, mestra em Direito, professora universitária e escritora - São Paulo
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