De vez em quando achamos que Deus deveria ter feito uma determinada coisa, uma determinada situação diferente da que Ele fez.
No meu caso, eu achava que Deus, através de Jesus, deveria ter sido mais claro sobre alguns pontos que são divergentes entre religiões.
Vou citar apenas alguns para efeito de explicação.
Nós católicos acreditamos que Maria, Mãe de Jesus, nasceu imaculada (e Ela mesmo confirmou esta condição quando disse a Santa Bernadete: “Eu sou a Imaculada Conceição”) e que Ela permaneceu virgem depois de casada. Como outras confissões religiosas não pensam assim, dizendo até que Ela teve vários filhos, este seria um dos pontos. O próprio texto bíblico faz assim confuso. Está lá que Jesus foi alertado de que “sua Mãe e seus irmãos estão La fora querendo falar contigo”. Sabemos que o termo “irmãos” era usado para designar parentes. Estranho é que algumas religiões que afirmam ter Jesus outros irmãos, são as primeiras em que seus membros se tratam de “irmãos” sem terem nenhum laço sanguíneo. Para elas os “irmãos” de Jesus eram irmãos mesmos. Os de agora não o são mesmo, sendo apenas uma forma carinhosa de tratamento. Dois pesos e duas medidas, isto sim.
Nós achamos que Maria, por ter sido escolhida para ser Mãe do Filho de Deus, nascendo pura, pura continuou assim por toda vida. Dos seres humanos Ela foi a única que não pecou e isto por uma razão muito simples: Ela foi privilegiada antes de nascer, não pecou até quando Jesus nasceu – pois não seria lógico que ela sendo plena de graça fosse pecar e ser Mãe de Jesus. Também, depois que Jesus nasceu ela não pecou, pois continuava plena de graça, e como uma pecadora poderia ser a instrutora de Deus humanado? E assim Ela continuou depois que Cristo morreu, pois ela foi santificada por Ele.
Diz outra religião que Maria pecou, pois Jesus veio pra salvar toda a humanidade. Essa religião não leva em conta a condição especial dela.
Ainda sobre Maria poderíamos falar sobre ser Ela intercessora junto a Jesus, como Ela o foi em Caná da Galiléia. Alguns dizem que não precisam de intermediária. Se nós que somos pecadores achamos que Jesus vai nos atender, imagine se Ele não o fará a um pedido de Sua Mãe!
Outro ponto é sobre a ressurreição dos mortos. Uma religião diz que cada pessoa nasce e morre muitas vezes até que seja totalmente isenta de qualquer pecado. Para ela o sacrifício de Jesus não deve ter valido nada, pois cada pessoa se salvaria a si mesma.
Nós acreditamos que cada pessoa nasce e morre apenas uma vez e que cada uma terá sua recompensa, indo para o Céu ou não, de acordo com o que fizer aqui na terra durante sua única vida.
Jesus teve oportunidades boas de deixar esses pontos claros. Uma delas foi quando Ele perguntou aos discípulos: “quem dizem os homens que Eu sou?”
Sei que esta passagem foi para que se confirmasse a missão especial de Pedro, mas quando os discípulos falaram que diziam que Ele era Elias, ou João Batista ou ainda um dos outros profetas, Jesus poderia ter dito: “ninguém nasce ou morre duas vezes”.
Mais um ponto: Jesus e Madalena. Nós católicos entendemos que Jesus salvou Madalena de uma vida pecaminosa e ela, por gratidão, passou a servi-Lo e aos apóstolos, como outras mulheres também o fizeram.
Outras religiões dizem (e eu não sei sobre que fundamento bíblico) que Jesus vivia maritalmente com ela e que até tiveram uma filha.
Afirmação estranha, pois Jesus nunca deu a mínima dica de que morava com ela e que com ela tivera filha. Aliás, estranho também é que se assim fosse, os evangelistas não tivessem mencionado o fato.
Jesus, pelo amor que dedicava a Madalena e a qualquer pecador arrependido, mostrava o quanto gostava de pessoas assim, a ponto de fazê-los seus seguidores.
Este artigo poderia ser transformado em um capítulo se eu fosse questionar também por que pessoas boas e até pessoas santas morrem tão cedo, se aparentemente elas poderiam continuar a fazer o bem e a evangelizar por muito mais tempo.
Não seriam elas mais úteis aos Planos de Deus se vivessem mais tempo?
Deus até que poderia me dizer: “Não. Elas fizeram a missão que lhes destinei e a morte delas não vai interferir nos frutos das sementes que plantaram”. E disso temos muitos exemplos, mas poderíamos ficar apenas no de Santa Teresinha do Menino Jesus, que em apenas 24 anos de vida se tornou santa e padroeira das missões, de Santa Faustina, ou de Frederico Ozanam, que em apenas 40 nos fez muito mais que muita gente que viveu o dobro dele.
Sobre Maria colhi em pesquisas o seguinte:
S. Gabriel diz: "Ave, cheia de graça. O Senhor é convosco". Ora, não se exprimiria desta maneira o anjo e nem haveria plenitude de graça, se Nossa Senhora tivesse o pecado
O evangelista S. Marcos, na Liturgia que deixou às igrejas do Egito, serve-se de expressões semelhantes: "Lembremo-nos, sobretudo, da Santíssima, intemerata e bendita Senhora Nossa, a Mãe de Deus e sempre Virgem Maria".
S. Tiago Menor, o qual realizou o esquema da liturgia da Santa Missa, prescreve a seguinte leitura, após ler uns passos do antigo e do novo testamento, e de umas orações: "Fazemos memória de nossa Santíssima, Imaculada, e gloriosíssima Senhora Maria, Mãe de Deus e sempre Virgem".
Um trecho de Lutero sobre a Imaculada Conceição de Maria, diz:: "Era justo e conveniente, diz ele, fosse a pessoa de Maria preservada do pecado original, visto o filho de Deus tomar dela a carne que devia vencer todo pecado". (Lut. in postil. maj.).
Para terminar, transcreveremos um pequeno soneto.
Em 1823, dois sacerdotes dominicanos, Pes. Bassiti e Pignataro, estavam exorcizando um menino possesso, de 12 anos de idade, analfabeto. Para humilhar o demônio, obrigaram-no, em nome de Deus, a demonstrar a veracidade da Imaculada Conceição de Maria. Para surpresa dos sacerdotes, pela boca do menino possesso, o demônio compôs o seguinte soneto:
"Sou verdadeira mãe de um Deus que é filho,
E sou sua filha, ainda ao ser-lhe mãe;
Ele de eterno existe e é meu filho,
E eu nasci no tempo e sou sua mãe.
Ele é meu Criador e é meu filho,
E eu sou sua criatura e sua mãe;
Foi divinal prodígio ser meu filho
Um Deus eterno e ter a mim por mãe.
O ser da mãe é quase o ser do filho,
Visto que o filho deu o ser à mãe
E foi a mãe que deu o ser ao filho;
Se, pois, do filho teve o ser a mãe,
Ou há de se dizer manchado o filho
Ou se dirá Imaculada a mãe.
Conta-se que o Papa Pio IX chorou, ao ler esse soneto que contém um profundíssimo argumento de razão em favor da Imaculada.
O Dogma da Imaculada Conceição foi proclamado pelo Papa Pio IX, cercado de 53 cardeais, de 43 arcebispos, de 100 bispos e mais de 50.000 romeiros vindos de todas as partes do mundo, no dia 8 de dezembro de 1854.
Passados apenas 3 anos dessa solene proclamação, em 11 de agosto de 1858, Nossa Senhora dignou-se aparecer milagrosamente quinze dias seguidos, perto da pequena cidade de Lourdes, na França, a uma pobre menina, de 13 anos de idade, chamada Bernadete.
No dia 25 de março, Bernadete suplicou que Nossa Senhora lhe revelasse seu nome. Após três pedidos seguidos, Nossa Senhora lhe respondeu: "Eu sou a Imaculada Conceição".
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Bem, aí vem a razão do título deste artigo: São insondáveis os desígnios de Deus.
E quem sou eu para querer uma explicação de Deus.
ALUIZIO DA MATA - Vicentino, Sete Lagoas, Brasil
"Navegar é preciso; viver não é preciso". Caetano Veloso certamente se inspirou neste verso de Fernando Pessoa para compor 'Os Argonautas', música de 1969, emprestando do poeta este verso, para seu refrão. Pessoa, por sua vez, bebeu na fonte de Pompeu, general romano que viveu 106-
"Navigare necesse; vivere non est necesse". E mesmo tendo sido propagada pelo biógrafo Plutarco e, então, escrita em grego, foi eternizada em latim, constando no brasão de Hamburgo, cidade portuária alemã. Os versos de abertura do poema de Pessoa ditam: "Quero para mim o espírito esta frase,/transformada a forma para a casar como eu sou:/Viver não é necessário; o que é necessário é criar."
Necessário é aquilo que, se não temos, faz-nos falta, seja no âmbito afetivo, material, físico ou espiritual. O poeta português parece ter valorizado, antes da própria vida, a arte, pois o ato de criar pressupõe um ato artístico. A criação está no plano principal, vital. Sem a arte sufocamos, sucumbimos, somos menos que humanos. Não há como continuar, navegar...
Navegando, pois, fui presenteada (pelo próprio) com o livro Navegante, do poeta contemporâneo Paulo Bomfim, o qual tive o prazer de conhecer ano passado. Dentre tantas viagens que fiz pela obra, tudo me leva a crer que, de fato, a poesia é essencial e necessária à existência; a vida tem de ser a poesia manifesta em gestos, cores, movimentos, palavras, sentimentos, atos, sons... simplicidade.
"Simplicidade, terra de promissão dos homens complicados", sintetiza Bomfim. "Os poetas sempre serão expulsos de todas as repúblicas porque onde eles estão as águas se agitam impedindo os tiranos de contemplar os próprios rostos." E para quem ainda não percebeu que a poesia respira: "As letras têm dormências de argila e pedra, sonambulismos de papiros e estranhos despertares de pergaminhos."
Renata Iacovino - escritora, poetisa e cantora / reiacovino.blog.uol.com.br/
http://reval.nafoto.net / reiacovino@uol.com.br
Nos próximos dias 9 e 10 de abril, o grupo “Arte em Ação” realizará seu quinto evento na Praça Governador Pedro de Toledo, no centro de Jundiaí/SP, tendo como título “Praça Viva”, reunindo artistas, produtores, apoiadores e apreciadores de arte.
Seguindo a tradição, o Varal Literário marcará presença! E como de costume, também, contamos com sua colaboração, enviando-nos texto (s) literário (s), podendo ser poesia ou prosa (desde que cada um não ultrapasse uma página).
A partir do tema “praça”, como um local de congraçamento, é possível discorrer sobre variados assuntos. Deixamos a criatividade, portanto, a seu critério e pedimos que nos enviem sua contribuição o quanto antes para o e-mail vmalagoli@uol.com.br, a fim de que possamos organizar, a tempo, a exposição.
Eu tenho um amigo, daqueles que sempre estão presente nas horas amargas, que era catequista.
Semanalmente, nos fins-de-semana, abalava para o “ interior”, deixando família, para participar na preparação da catequese.
Certa vez confessou-me: “ Quando for aposentado vou-me dedicar às actividades da Igreja da minha terra e à agricultura. Tenho um campinho na retaguarda da casa que ergui na aldeia e vou cuidar das árvores de fruta e da hortinha.
O tempo passou e ele sempre a sonhar com a reforma que lhe permitiria organizar melhor a catequese da paróquia, já que era o coordenador.
Um dia atingiu a idade necessária para se retirar. Despediu-se de olhos marejados, dos colegas; pela derradeira vez visitou a banca de trabalho, testemunha de horas alegres e de muitas e muitas angústias; e definitivamente partiu para a terra natal.
Não deixou, porém, de passar pela livraria católica em busca de material para as aulas da catequese. Como as verbas para a evangelização dos jovens eram escassas, despendeu muito de seu bolso.
Era um sonho há muito idealizado.
Mal chegou foi prestes à reunião da catequese. Admirou-se, porém, que o abade, velho companheiro nas lidas religiosas, estivesse presente.
Aberta a reunião, o padre urdiu eloquente palestra entremeada de rasgados elogios ao meu amigo. Apoiavam enternecidos os presentes as palavras do sacerdote. Ao concluir ofertaram bonita bíblia, de folhas doiradas, encadernada a pele.
No acto da entrega, disse o abade:” Chegou o momento de descansar. É justo que o libertem das árduas canseiras que lhe roubaram horas de recreação. É mister sangue novo. Já indigitei novo coordenador, e faço votos que ao aposentar-se, tenha finalmente o merecido repouso, junto dos que lhe querem bem.”
Escusado será descrever a desilusão que sofreu o meu amigo. Mesmo assim teve ânimo para agradecer, lembrando que não se sentia velho, e muito podia dar à Igreja.
Este caso verídico faz-me reflectir na perda que a Igreja tem ao desprezar o trabalho dos idosos.
Há muito que lembro – mas poucos escutam, – que muitos professores, homens de valor, ilustres catedráticos, após aposentação, podem ser excelentes sacerdotes (diáconos e padres), consoante os casos, com reduzido estudo no Seminário Maior.
O aposentado, em regra, tem tempo disponível; não carece de trabalhar para sobreviver; e pode perfeitamente dispor ainda de vinte anos ou mais, ao serviço de Deus.
Desaproveitar conhecimentos e disponibilidades é erro crasso, mormente em época em que a falta de sacerdotes é notória.
Bom era que as dioceses incentivassem os crentes idosos a participarem nas actividades das paróquias, de harmonia com os conhecimentos e saúde de cada um.
HUMBERTO PINHO DA SILVA - Porto, Portugal
Eu sou a nobre língua Lusitana,
Falar-me é devoção e privilégio;
Defendei-me de alguma mão profana,
Maltratar-me seria um sacrilégio.
Maria José Guerreiro Pinheiro
(À memória desta distinta poetisa Algarvia)
Glosa
“Eu sou a nobre língua lusitana,”
A qual tem, por “irmãs”, sete Nações;
Fui sempre e serei inda a que se ufana
De ser a língua Pátria de Camões!
Em qualquer parte, aonde vós moreis,
“Falar-me é devoção e privilégio;”
Sabei honrar-me, sim, sendo fieis,
Como seja um mandato santo e régio.
Se sou par’cida com a castelhana,
Não me corrompam, nunca, por favor,
“Defendei-me de alguma mão profana”
Que me adultere e não me tenha amor!
Mesmo noutro país se, por ventura,
Me tenhais de estudar, nalgum colégio,
Trabalhai-me com garra e com ternura:
“Maltratar-me seria um sacrilégio.”
CLARISSE BARATA SANCHES - Góis, Portugal
Tramitam no Congresso Nacional projetos de lei que prevêem indenização decorrente do abandono afetivo e crime punível com detenção de até seis meses, àquele que deixar de prestar assistência moral ao filho menor sem justa causa.Tratam-se de medidas salutares que resgatam a obrigação da convivência paterna. Como justificou um dos autores das proposituras, Sem. Crivella, “a presença física é uma forma de compensar o que deveria ser um gesto voluntário de amor. Justamente por não haver amor, a lei é necessária”.
Uma situação comum, infelizmente, é o abandono afetivo por parte de alguns pais com seus filhos, notadamente quando advém de relacionamentos extraconjugais ou mesmo de uniões oficiais dissolvidas judicialmente. Este quadro gera tristes conseqüências aos menores, com graves reflexos psicológicos provocados pela ausência.
Muitas vítimas desse desapego acabam processando seus progenitores na Justiça, buscando ressarcimentos por danos morais. A maioria dos feitos recebe dos tribunais superiores resultados negativos sob a justificativa de que não é possível obrigar ninguém a amar. Uma concepção que se afasta dos princípios básicos do Direito, já que um ser humano merece total respeito e consideração, principalmente de quem os gerou. Caso contrário, que evitassem a concepção ou que refletissem antes de manterem uma relação sexual embasada exclusivamente em prazer imediato.
Nesta trilha, restaurando a importância da presença dos pais na educação, guarda e sustento dos rebentos, atualmente no Congresso Nacional os parlamentares analisam pelo menos dois projetos de lei que acrescentam na legislação nacional a possibilidade da cobrança da indenização pelo dano moral decorrente do abandono afetivo. Uma das propostas, do deputado Carlos Bezerra (PMDB-MT), recebeu recentemente parecer pela aprovação na Comissão de Seguridade Social e Família da Câmara. Além de instituir a reparação pelo desleixo moral, a outra propositura, de autoria do senador Marcelo Crivella (PRB-RJ), dispõe que deixar de prestar assistência moral ao filho menor sem justa causa é crime punível com detenção de até seis meses. E justifica: “a presença física é uma forma de compensar o que deveria ser um gesto voluntário de amor. Justamente por não haver amor, a lei é necessária”.
Entendemos que tais medidas são salutares em todos os sentidos, porque a questão é série e não tem recebido o necessário amparo do Judiciário. Neste sentido, invoquemos o Prof. Dr. Rodrigo da Cunha Pereira, presidente do Instituto Brasileiro de Direito de Família, entidade a qual integramos:- “Embora a premissa da afetividade seja inerente aos princípios constitucionais da dignidade humana, da solidariedade e da paternidade responsável, esse novo conceito ainda não foi bem compreendido ou aceito por algumas instâncias ou membros do Judiciário. Trata-se da aplicação direta dos princípios constitucionais, com vista ao cumprimento das responsabilidades – inclusive afetivas – com os filhos” (Folha de São Paulo, “Afeto, responsabilidade e o STF”, 07/10/2009- p. A-3).
Realmente se faz necessário responsabilizar os pais pelo abandono de seus filhos. O exercício da paternidade é uma obrigação jurídica, estabelecida na Constituição Federal, no Estatuto da Criança e do Adolescente e no Código Civil Brasileiro. Além do mais, o desinteresse é extremamente prejudicial ao desenvolvimento das crianças. Tanto que um pai distante pode ser pior que um morto, disse o psicólogo e terapeuta familiar Edson Assis, em recente entrevista à imprensa: “Um dos grandes problemas hoje é que os pais não conseguem cumprir a função paterna. Muitas vezes, estão presentes fisicamente, mas ausentes de espírito”, afirmou ele.
A indenização pelo abandono afetivo teria função reparatória e pedagógica, já que efetivamente não há valor que possa pagar pelo o sofrimento e pela dor, que acabam fazendo parte do processo de crescimento e evolução das pessoas. Mas a Justiça, ao afastá-la, acaba por incentivar e avalizar a irresponsabilidade paterna. Destacamos novamente o prof. Rodrigo: “Afeto não é apenas um sentimento. É também uma ação em relação em relação aos filhos. A reparação civil ou a indenização vem exatamente contemplar aquilo que não se pode obrigar. Dizer que não cabe reparação civil pelo abandono afetivo é o mesmo que desresponsabilizar os pais pela criação e educação dos filhos” (op. citada).
Sem dúvida alguma, a maioria das pessoas concorda que uma das tarefas mais bonitas e mais difíceis na vida do ser humano é a criação dos filhos. Há que se ter uma grande dose de fé, amor e esperança, acrescida de muita sabedoria, maturidade e despojamento no desempenho de tal missão. Dar à sociedade um ser humano equilibrado é a maior incumbência de um casal, já que na hipótese contrária, ocorrerão sérios problemas comportamentais nos descendentes, com graves conseqüências. Por isso, aquele que gerar um ser sem se conscientizar de tal relevância, deve ser cabalmente responsabilizado por sua insensibilidade e por descumprir com deveres básicos e naturais da convivência humana.
A expressão de desconsolo dela me traz o título desta crônica. Sugada pelos acontecimentos de sua vida. Sugada pelos relacionamentos que teve e tem. Sugada pelos desconfortos e por ela mesma.
Conheci-a quando não completara 15 anos e trazia, alojado em seu ventre, o primeiro filho. Procurou-me com o propósito de conseguir um enxoval para o seu bebê, mas tinha muitas outras coisas para pedir, sem saber exatamente como dizer, pois eram anseios da afetividade, para ela, naquela época e quem sabe hoje ainda, sem tradução em palavras.
Confesso-lhes que, de imediato, me comovi. Meninas e meninos, como ela, despertam-me a sensação que não experimentei em minhas vísceras, a da maternidade. Gostaria de salvá-los das tragédias de certa forma previstas, colocando-os dentro de meu ventre para protegê-los, completar o que lhes falta e, depois, devolvê-los ao mundo com riscos menores e sentido maior para seus caminhos.
O bebê viera sem planejamento e consciência dos pais sobre as responsabilidades durante a gestação e a partir do primeiro passo. Era filho, não somente do desejo sem controle dos instintos, mas da busca da proteção que lhes faltou, deixando-os em carne viva. Alvo fácil das escravaturas do mundo.
O moço foi para a cadeia e ela continuou de lá para cá. Um dia na casa de uma amiga, outro na de um familiar. O filho nos braços. Pouco se aproximava da casa paterna. A mãe os deixou quando ela e o irmão eram pequeninos. Nunca mais tiveram notícias dela. Quem sabe: andarilha, com outra família, na geladeira de algum IML à espera de alguém que reconheça o corpo para um sepultamento identificado ou em uma vala coletiva. A mulher, que o pai colocou dentro de casa, para servi-lo, assim que a mãe dos pequenos foi embora, era e é de agressividade que marca o corpo e a alma, Ele optou por ignorar os reclamos dos seus, desde que encontrasse o jantar pronto ao voltar do trabalho. Quando o filho da jovenzinha deu os primeiros passos, a avó paterna se dispôs a criá-lo com endereço certo e ela aceitou.
Depois de uma década, vejo-a com uma menina, menos de um ano, no colo. Fez-se mulher com esperança menor. A droga a levou à cadeia. De volta à rua, três anos depois, encontrou em um novo parceiro. Mais do que paixão, um pouso. Pouso sujeito a desmoronamento, em que ela, apesar de suas fragilidades e desatinos, procurou ser viga mestra. Não conseguiu. Insistiu com ele que era melhor se afastarem da criminalidade. Inúmeras vezes se alimentara com água e fubá e sobrevivera.
Procurou-me fatigada e cheia de medos. Ele foi preso. Enquanto conversava, amamentou a menina de olhar de fome. Seios minguados e macilentos. Vida sorvida pelas intempéries. Pediu-me proteção. Experimentei a vontade antiga de gerá-la renovada, mas, na impossibilidade, coloquei-a nas entranhas de Deus, que nos diz pelo profeta Jeremias (1,5): “Antes de formar-te no ventre materno, eu te conheci”.
MARIA CRISTINA CASTILHO DA ANDRADE- É coordenadora diocesana da Pastoral da Mulher e autora de “Nos Varais do Mundo/ Submundo” –Edições Loyola
Para todos os meus amigos com desejos dum feliz dia de São Valentim
aqui deixo este simples mas apropriado poema declamado para o DIA DOS NAMORADOS que poderão ver e ouvir em poema da semana ou aqui neste link: Euclides Cavaco
cavaco@sympatico.ca |
No século XVII construíram-se algumas casas senhoriais, brasonadas, e apalaçadas um século mais tarde. Anos depois nasceram também na Barca dois grandes poetas: Frei Agostinho da Cruz e Diogo Bernardes que cantaram o Lima nos seus versos magníficos e cujos baixo relevos se podem ver no Jardim dos Poetas, uma das praças da vila, pois flores é coisa que lá não há. Vila agora muito desenvolvida com novas casas independentes com jardim, prédios com elevadores e tudo, supermercados, restaurantes e até um cinema.
Só o o Lima sempre igual --ou quase sempre-- continua a correr calmo e sereno e ainda no meu tempo, continuava a dar o seu primeiro baptismo aos não nascidos, porque as mulheres de “esperanças” em chegando próximo da sua hora vinham dos montes a pé ou de carros de bois de modo a chegarem à ponte antes da meia noite.
Esperavam ansiosas com tudo preparado: a corda e o cântaro de barro que tiraria a água do rio quando fosse oportuno.
Quando o relógio da torre da igreja tocava as doze badaladas a ansiedade crescia. O primeiro homem a passar seria o padrinho do futuro bebé, mas por vezes não se avistava nem um vulto. Àquela hora a vila estava quase deserta e raro seria o transeunte que passasse por ali. Longa e inútil seria a espera até o Sol nascer. Fora em vão a longa caminhada e teriam de voltar noutro dia. Mas se estavam em maré de sorte logo alguém aparecia no principio da ponte, teriam de esperar ainda alguns minutos e logo o homem era abordado pelos dois acompanhantes da mulher. Os seus varapaus não o assustavam. Já conhecia o costume e prontificava-se a cumprir o ritual. O cântaro de barro descia até ao Lima e voltava cheio de água límpida, transparente. A mulher desapertava a blusa e a saia e ele com um raminho de oliveira espargia a água do rio sobre o seu ventre dizendo: “- Eu te baptizo em nome do Pai, do Filho e do Espírito Santo.” O “amem” seria dito depois pelo padre no baptizado verdadeiro.
A mulher respirava fundo, aliviada. Podia voltar para a sua aldeia, serena, confiante. A sua hora seria feliz, sem problemas.
TEREZA DE MELLO – escritora. Lisboa
Comentei há dias que um novo selo verde surgiu, agora chamado “Life”. Esse nome vem da expressão “Iniciativa Duradoura pela Terra”, em inglês. É destinado a estimular as empresas a incorporar a conservação de florestas e da biodiversidade na estratégia de seus negócios. Já não é suficiente a gestão ambiental, o controle da poluição e a redução no desperdício de água.
Há de se partir da premissa de que as áreas naturais são responsáveis pela prestação dos chamados serviços ambientais. Produção de água, equilíbrio do solo e do clima, sequestro de carbono da atmosfera, polinização da lavoura são préstimos gratuitos e naturalmente usufruídos por toda atividade lucrativa. Sem eles, os negócios seriam inviabilizados. Por que não compensar a natureza por esse dom gracioso e espontâneo?
Cada dia deste novo século está a comprovar que a empresa depende da salvação das áreas naturais. Por isso é urgente evoluir no atual modelo de gestão ambiental. É o que propõe o selo “Life”, cuja metodologia foi desenvolvida pelo Instituto Tecnológico do Paraná-TecPar. As três empresas em processo de obtenção do selo no Brasil são a Poligraf, unidade gráfica do Grupo Positivo, a fabricante de cosméticos O Boticário e a MPX Energia, de Eike Batista.
Mas para isso é necessária a prévia auditoria por organismos independentes e com validade de cinco anos. A certificação Life é o coroamento de um processo que já se desenvolvera nas empresas ecologicamente corretas e que haviam obtido selos como o ISO 14001, destinado a reconhecer compromisso ambiental, FSC e Cerflor, comprobatório da procedência dos produtos utilizados no processo de fabricação.
Empresa ambientalmente correta, além do ISO 14001, deve também se interessar pela obtenção da ISO 14064, que estabelece normas para gestão das emissões de CO2 dentro de seus ambientes. Urgência evidenciada pelos sinais extremos emitidos pelo Planeta em agonia. Não se enganem os políticos.
O povo está a aprender na dor e no sofrimento que o maltrato da natureza custa vidas e pode interromper – mais breve do que se pensou – a aventura humana sobre a Terra. Os detratores dos recursos naturais estão com os dias contados.
José Renato Nalini é Desembargador da Câmara Especial do Meio Ambiente do Tribunal de Justiça de São Paulo e autor de “Ética Ambiental”, editora Millennium. E-mail: jrenatonalini@uol.com.br.
Na formação que os Ministros Extraordinários da Comunhão Eucarística receberam do Padre Maristelo dia 9 de fevereiro, ficou bem claro que a responsabilidade é muito grande em distribuir e também em receber a sagrada comunhão. A ponte entre Deus e os homens é missão nobre dos ministros, mas estar com a consciência tranqüila para receber a Eucaristia é igualmente importante.
O tema da pregação foi: ‘Fazei isto em memória de mim’ (Lucas 22, 19), que significa realizar obras de amor lembrando os gestos de Jesus. Isto se completa na participação da Celebração Eucarística – conseqüência da caminhada cristã. Porém, se o coração não tem compaixão do próximo, o respeito excessivo pelo sagrado aparenta hipocrisia. As coisas de Deus exigem bom senso acima de tudo, mas sem limites extremos de anormalidade.
E o nosso sacerdote ainda destacou que, para se levar a sério o pedido de Jesus – ‘Fazei isto em memória de mim’ –, precisamos ter princípios cristãos bem definidos, como aqueles citados no livro da Editora Santuário: ‘Cinco pães e dois peixes’, 10ª edição, de François Xavier Nguyen Van Thuan. O autor destaca 24 elementos de conduta cristã, mas, durante a fala do Padre Maristelo, só consegui anotar 21.
Eis o que mais nos aproxima de Deus: desejar renovar o mundo; promover a felicidade do próximo; dar a vida pelo irmão; buscar a unidade dos cristãos; crer na Eucaristia; vestir a camisa do amor; deixar-se levar pela oração; viver o Evangelho; seguir somente Jesus Cristo; cultivar um amor especial por Maria; entender a ciência da Cruz (sofrer em Cristo); ter o ideal de se aproximar de Deus; temer o mal (resultado do pecado); manter o desejo de ‘vir a nós o vosso Reino’; desapegar-se dos bens materiais; ter contatos pessoais (e saber ouvir); ser discípulo e missionário de Jesus; fazer a vontade de Deus; saborear o momento presente; caminhar nas bem-aventuranças; buscar a recompensa no Paraíso.
Tudo isto em memória de Cristo! E se alguém, por exemplo, tem dificuldades em perdoar, não deve estar em conformidade com os passos cristãos propostos por François Van Thuan. E ainda: ao invés de assumimos o risco de desorientar os amigos com alguns conselhos inúteis, por que não passar a divulgar esta relação ao próximo?
Aliás, quem tem o dom da comunicação precisa sempre pôr a ‘boca no trombone’. Leia abaixo alguns trechos de ‘Passeio Socrático’, escrito por Frei Betto:
“Ao viajar pelo Oriente, mantive contatos com monges do Tibete, da Mongólia, do Japão e da China. Eram homens serenos, comedidos, recolhidos e em paz nos seus mantos cor de açafrão. Outro dia, eu observava o movimento do aeroporto de São Paulo: a sala de espera cheia de executivos com telefones celulares, preocupados, ansiosos, geralmente comendo mais do que deviam. Aquilo me fez refletir: Qual dos dois modelos produz felicidade?
Encontrei Daniela pela manhã no elevador, 10 anos, e perguntei: ‘Não foi à aula?’ Ela respondeu: ‘Não, tenho aula à tarde’. Comemorei: ‘Que bom, então de manhã você pode brincar, dormir até mais tarde’. ‘Não’, retrucou ela, ‘tenho tanta coisa de manhã! Aulas de inglês, de balé, de pintura’, e começou a elencar seu programa de garota robotizada. Fiquei pensando: Que pena, a Daniela não disse: ‘Tenho aula de meditação!’
Estamos construindo super-homens e super-mulheres, totalmente equipados, mas emocionalmente infantilizados. Em 1960, uma progressista cidade do interior de São Paulo tinha seis livrarias e uma academia de ginástica; hoje, tem sessenta academias de ginástica e três livrarias! Não tenho nada contra malhar o corpo, mas me preocupo com a desproporção em relação à malhação do espírito. Vamos todos morrer esbeltos: ‘Como estava o defunto?’. ‘Olha, uma maravilha, não tinha uma celulite!’
Hoje, a palavra é virtualidade. Tudo é virtual. Somos místicos virtuais, religiosos virtuais, cidadãos virtuais. E somos também eticamente virtuais. O grande desafio é começar a ver o quanto é bom ser livre de todo esse condicionamento globalizante, neoliberal, consumista. Assim, pode-se viver melhor. Aliás, para uma boa saúde mental três requisitos são indispensáveis: amizades, auto-estima, ausência de estresse.
Há uma lógica religiosa no consumismo pós-moderno. Na Idade Média, as cidades adquiriam status construindo catedrais; hoje, no Brasil, constrói-se shopping center. É curioso: a maioria dos shoppings tem linhas arquitetônicas de catedrais estilizadas; neles não se pode ir de qualquer maneira, é preciso vestir roupa de missa de domingo. E ali dentro sente-se uma sensação paradisíaca: não há mendigos, crianças de rua, nem sujeira.
Costumo advertir os balconistas que me cercam à porta das lojas:
– Estou fazendo um passeio socrático. Sócrates, filósofo grego, também gostava de descansar a cabeça percorrendo o centro comercial de Atenas. Quando vendedores como vocês o assediavam, ele respondia: Estou apenas observando quanta coisa existe de que não preciso para ser feliz.”
PAULO ROBERTO LABEGALINI- Escritor católico, Professor Doutor da Universidade Federal de Itajubá-MG. Pró-reitor de Cultura e Extensão Universitária da UNIFEI
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