Tentei assistir o clip "Mano Belmonte homenageia o exímio guitarrista português Jorge Fontes" mas desisti logo no início. É daqueles que interrompem a todo instante para recarregar. Quebra a seqüência e torna-se enfadonho. Pena! Sendo de coisas do Minho minha curiosidade fica aguçada já que aí estão as minhas origens. Bem me lembro do termo "CACHOPA" quando, carinhosamente, as meninas "moças" eram citadas. E eu, nos meus 13 ou 14 anos, já as olhava com grande interesse e as fazia dançar nos terreiros da aldeia ao som da minha gaita de boca. Quantas domingueiras debaixo das parreiras da minha avó Beatriz, no lugar de Guichomar ! Belmonte, sobrenome do cantor, é também o nome do lugar onde o Padre José Carlos Valrego, irmão da minha avó Beatriz, construiu, no início do século passado, uma grande casa que se tornou símbolo imponente no alto da colina, próximo ao lugar do Pinheiro, de onde se podia ver toda a Freguesia de Geraz do Minho e outras por extensão do Vale. A grande casa ainda existe, abandonada, em terras que dantes pertenceram a meus bisavós, do lugar de Trástola. Nelas, o Tio Padre, se fez também notar como apicultor, com grandes colméias sobre as quais escreveu um livro, que se tornou raridade. Eu, quando menino, pude ver um desses exemplares, ilustrado pela presença de suas irmãs, colhendo o mel. Hoje essas terras pertencem a uma Companhia Vinícola do Porto, onde pude ver há uns 15 anos, quando as visitei, grande produção de uvas em vinhedos verticais. Em Trástola nasceram: minha avó Beatriz e as irmãs, Maria, a mais velha, o Padre José Carlos, Rita, Maria Cândida e Maria Antônia. Esta faleceu "cachopa" vitimada por uma tuberculose. Minha mãe, Lídia Coelho (da Pena), falava dela com muita saudade. Do padre José Carlos, sei que abandonou o sacerdócio ainda novo, vindo a casar-se no Brasil, tornando-se pai de mais de 10 filhos. Um deles chamado Francisco (nome do avô, Francisquinho de Trástola), faleceu há cerca de três anos, na cidade do Porto. Era "contador" e poeta. Tenho dele um livro de poemas que me eviou antes de sua morte. Antônio J. C. da Cunha Natural da Freguesia de Geraz do Minho
Conta-se que certo inglês, bastante rico, possuidor de belo cavalo de corrida, certa vez resolveu pedir a Vernet - Conhecido pintor francês, - que retratasse o animal.
Vernet realizou a obra-prima apenas em dez sessões!
No acto da entrega o pintor fez o preço, que estava desde o inicio apalavrado:
- São cinquenta mil francos! - pediu Vernet.
- Tanto!; por trabalho de dez sessões?! - Admirou-se o inglês.
- Não é muito! - replicou o pintor. - Sabe que há mais de quarenta anos que pinto o seu cavalo!
Foi o esforço, trabalho de anos e anos de estudo e dedicação que permitiu, em dez sessões, retratar magistralmente o célebre cavalo de corrida.
Dizia Edison - e Cruz Malpique repetia sem cessar, - que “ O génio é um por cento de inspiração e noventa e nove por cento de transpiração.”
Para que Vernet pudesse retratar em poucas horas, passou décadas a desenhar e a pintar, apartando-se do convívio de familiares e amigos, privando-se de horas de recreio e repouso.
Ninguém consegue ser escritor de mérito, músico ou actor famoso se não dedicar horas afio à vocação. O mesmo acontece ao desportista.
Dizem os pintores que, por doença ou férias prolongadas, pousam os pincéis, que ficam com a mão levantada, querem dizer: o traço e a pincelada perdem firmeza.
O mesmo acontece ao jornalista. O escritor Costa Barreto afirmava que excelentes colaboradores do seu matutino, após interrupção de vários anos, jamais obtinham a leveza nem a graça das crónicas antigas.
Silva Gouveia, o célebre autor da estatueta de Eça, após interregno, por doença, nunca mais conseguiu atingir o nível das suas obras-primas, o que levou o famoso crítico, Braz Burity, em artigo publicado em “ O Primeiro de Janeiro” de 04/03/34, asseverar que Gouveia “ fora um grande Artista, mas que ninguém se lembra disso, porque deixou, os tasselos e as matrizes de fundição do seu prodigioso Eça, do seu formidável Ramalho e do seu velho Marco Guedes, simplesmente esplêndido “.
Francisco da Silva Gouveia, após grave doença, nunca atingiu, em escultura e desenho, o nível artístico que mantinha no inicio do século XX, quando foi premiado na Grande Exposição Mundial de Paris, de 1900.
É o trabalho persistente e diário que faz o artista e permite, como Vernet, retratar ou escrever crónica em escassos minutos.
A moça percebeu que se apagara, pelo menos momentaneamente, a chama de vela que a protegia dos medos maiores. Pensa nele o tempo todo. Recorda-se de como se encontraram pelas ruas tão próximas ao mar. Cidade estranha para ela. Em suas lembranças, as ondas, de início, eram sempre plúmbeas.
Chegara naquela localidade em fuga de si mesma. Desejava esquecer a dor do abandono. O valor, que sua bolsa continha, possibilitava dirigir-se à cidade praiana. Não provara as águas salgadas. Quem sabe elas pudessem, apesar do áspero do sal, curar feridas.
Durante a viagem, observava as paisagens da serra através da neblina e segurava a barriga como se o menino, que trazia consigo, estivesse em seu colo. Embalava-o com cuidado e melancolia. Era pequenino e precisava de seu amparo. O pai desaparecera, deixando-a sozinha no “mocó”, ao saber que carregava um filho dele. Ela o buscou pelos albergues da cidade grande, pelos becos e praças escuras, até que lhe contaram que o viram seguir apressadamente, por um atalho, em direção à madrugada de trevas.
Ao desembarcar, na cidade desconhecida, misturada ao cheiro acre de peixe acumulado nas fendas dos barcos, a primeira impressão foi de amargura. Seguiu a esmo e, de repente, encontrou um grupo, sem identidade, assim como se considerava, debaixo de uma marquise, com olhos no nada. Juntou-se a eles e o moço, que acendera uma vela pequenina, fez-se dela e ela dele. Foi de mãos dadas com ele que descobriu que o mar é cheio de encantos e as ondas podem ser azuis. Foi ele que lhe ensinou a recolher conchinhas brancas e a encontrar, no céu, quando a noite sufoca e amedronta, a sua estrela.
Pelo convívio, o nenê acertou o pulsar de seu sangue com o do moço que protegia a mãe e ele, emocionado, registrou-o como filho seu. Uma das tias, de residência fixa, ofereceu-se para criá-lo durante o período em que se submeteriam a tratamento. O dois, de passos vacilantes pelo álcool, pela droga e pelos desencontros, aceitaram e partiram ao encontro de algo que os detivesse e surpreendesse.
E foram assim adiando a cura para seus males, com medo de separação. Uma clínica os afastaria por um tempo. O vão dos viadutos os unia. Tratar-se na rua era impossível: a fumaça ou o cheiro da droga quebrava as poucas resistências que acumulavam nas manhãs de sonhos renovados. O tremor que tomava conta dele sem aguardente, tornando visível a dependência, empurrava-o para o próximo gole. A depressão que ela sentia, sem a substância entorpecente, fazia com que buscasse o narcótico. Difícil, também, para se libertar, a realidade do grupo do qual eram parte. Transferiram para outra data. Protelaram.
Um do grupo, egresso recente da penitenciária, no desejo incontrolável do crack, praticou um assalto. A vítima, apavorada, viu dele apenas a vermelho da camiseta, da mesma cor da que usava o companheiro da moça. O que assaltou foi em busca da droga e a polícia, quando veio com a vítima, pelo tom da roupa, levou o companheiro dela.
O egresso não quis se entregar. Poderia fazer uns “corres”, aqui fora, para o que responderia inocentemente pelo delito. A moça engoliu a dor da injustiça e da separação. Imaginava que, dentre o seu grupo de personagens da rua, havia solidariedade.
Atualmente, acompanha, como pode, o companheiro na cadeia. Alegra-se por vê-lo nas horas da visita e chora em todas as outras diante da incerteza da condenação e do tempo da distância no cotidiano. Padeceu demais, um dia desses, quando aquele, que empurrou o seu companheiro à cadeia, trocou os brinquedos, que conseguira para o filho, por uma pedra que alucina.
Os “pontos cardeais” dela são: desistir da vida e afastar do amado, denunciar o culpado e correr o risco de morrer no cimento, controlar-se a ponto de ranger os dentes na convivência com o autor do roubo ou recuperar a sua estrela, que o moço da chama de vela lhe mostrou, um dia, à beira do mar. Decidiu por uma estrela cadente, que ilumina e leva para outro lugar. Aguardará o amado para prosseguirem juntos.
MARIA CRISTINA CASTILHO DA ANDRADE- É coordenadora diocesana da Pastoral da Mulher e autora de “Nos Varais do Mundo/ Submundo” –Edições Loyola
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