PAZ - Blogue luso-brasileiro
Sábado, 20 de Março de 2010
JOÃO CARLOS JOSÉ MARTINELLI - 22 de Março. DIA MUNDIAL DA ÁGUA.O SEU ACESSO É UM DIREITO BÁSICO DOS CIDADÃOS DE TODO O MUNDO

Efetivamente, a água é ao mesmo tempo, um direito humano no contexto dos direitos econômicos, sociais e culturais e também um recurso natural com valor econômico. Assim, a sua gestão responsável e consciente é de extrema importância, não só ao desenvolvimento dos países, como também à dignidade da pessoa humana, que dela necessita para atendimento de algumas de suas necessidades básicas, entre as quais, o acesso à água potável e o tratamento eficaz do esgoto.
Comemora-se a 22 de março, o DIA MUNDIAL DA ÁGUA, estabelecido pela ONU - Organização das Nações Unidas em 1992, durante a Agenda 21 da Conferência Rio/92 sobre Ecologia. Os principais objetivos desta celebração são destacar, entre outros, a importância da água, que além de vital à sobrevivência humana, toda a atividade econômica e social depende dela; a necessidade de economizá-la para evitar a sua completa escassez, o que provocaria uma situação manifestamente grave; a busca de soluções às questões decorrentes deste quadro e o interesse nas autoridades dos países em geral, pelo seu acesso a todas as pessoas do mundo.
Efetivamente, ela é ao mesmo tempo, um direito humano no contexto dos direitos econômicos, sociais e culturais e também um recurso natural com valor econômico. Esses dois conceitos não guardam nenhuma contradição. Conforme expôs Benedito Braga, professor titular da Escola Politécnica da USP, “o acesso à água potável é, sim, um direito dos cidadãos brasileiros. Para tanto o governo deve viabilizar os recursos financeiros para que o consumo humano seja atendido. Outros usos que produzirão resultados econômicos – como, por exemplo, as atividades comercial, industrial e agrícola – devem ser cobrados para incentivar o uso racional e eficiente do recurso. Não se trata de “privatizar” a água. Trata-se de reconhecer o seu valor econômico e induzir o seu uso racional. Até por que não se pode privatizar um bem que constitucionalmente é público. A Constituição brasileira define em seus artigos 20 e 26 que os rios, lagos e as águas subterrâneas são bens ou os Estados ou da União e, portanto, não podem ser “vendidos” ou “concessionados” a particulares” (O Estado de São Paulo- A2- 21/04/2009, “Água, direito humano”).
Apesar de seu acesso ser reconhecido como uma aspiração básica das pessoas, esta não foi a posição de nosso país no 5º Fórum Mundial Sobre Água, realizado no final de março do ano passado em Istambul, na Turquia, país que conjuntamente com Brasil, Estados Unidos, França e Egito, negou este “status” jurídico ao tema. O Ministério das Relações Exteriores, por meio da assessoria de imprensa, explicou que esse posicionamento, bastante criticado, foi adotado “para evitar o risco de que a soberania do País sobre o uso do recurso pudesse ser afetada”. Tecnicamente, completou o órgão governamental, a adesão poderia abrir caminho para que outros países se manifestassem sobre a forma do País controlar o uso da água. A decisão não foi bem recebida por outras Nações, principalmente da América do Sul, entre os quais, Bolívia Equador, Venezuela e Uruguai.
O evento contou com a presença de 28 mil delegados de 182 países e revelou informações dramáticas sobre o setor no mundo, além de indicar recomendações para a Convenção do Clima, reuniões do G-8, governos e outros acontecimentos internacionais similares. Tanto que mais de 1 bilhão de pessoas já não têm acesso a água de boa qualidade e 2,5 bilhões não dispõem de redes de coleta de esgotos. Como a população mundial continua crescendo à razão de 80 milhões de pessoas por ano, são mais 64 bilhões de metros cúbicos anuais no consumo global de água, conforme dispôs o relatório Water in a Changing World, de 26 agências da ONU.
Paralelamente às discussões jurídicas e às questões conflituosas, é inegável que a água é um dos insumos essenciais à maioria das atividades econômicas no mundo moderno. Nada se faz sem ela, desde a administração de uma simples residência até o funcionamento de equipamentos industriais que impulsionam o setor produtivo. Por outro lado, a Agência Nacional de Águas (ANA) lançou no final do ano de 2008, a publicação Atlas do Abastecimento Urbano da Água, que entre suas conclusões apontou a necessidade de R$ 18 bilhões para assegurar o abastecimento de água em 1.896 municípios brasileiros – feitos os investimentos até 2015, o abastecimento estaria garantido até 2025. Assim, apesar de todo volume de água que o país possui, é preciso muita responsabilidade e consciência na gestão deste recurso natural, de extrema importância ao desenvolvimento de nossas regiões e atendimento a algumas necessidades básicas à dignidade do ser humano - base da Teoria Geral dos Direitos Humanos -, como o saneamento básico e o acesso a água potável.
DIA INTERNACIONAL CONTRA A DISCRIMINAÇÃO RACIAL
Celebra-se a 21 de março o DIA INTERNACIONAL CONTRA A DISCRIMINAÇÃO RACIAL, instituído pela Organização das Nações Unidas (ONU) em 1969, nove anos após o denominado Massacre de Sharperville, cidade próxima a Johannesburg, na África do Sul e que vitimou quase 250 pessoas participantes de uma manifestação contra a Lei do Passe que exigia da população negra, a exibição de cartões de identificação, contendo os locais onde podiam circular. Embora o movimento fosse pacífico, o exército não hesitou em utilizar armas para conter a população negra que saiu às ruas reivindicando seus direitos, o que causou um saldo de sessenta e nove mortos e aproximadamente cento e oitenta feridos. A data é muito importante já que nos inspira a combater todo o tipo de preconceito, circunstância relevante à consecução dos Direitos Humanos em geral e um dos principais aspectos ao respeito irrestrito da dignidade da pessoa humana.
JOÃO CARLOS JOSÉ MARTINELLI é advogado, jornalista, escritor e professor universitário.
CINTHYA NUNES VIEIRA DA SILVA - ABANDONO

Sei que para se conviver em sociedade, para se ter amigos, é necessário ter tolerância com os defeitos alheios. Em partes porque o que vemos nos outros pode não ser nem a metade do que os outros enxergam em nós, e em parte porque é da essência da humanidade ser falível.
Assim, tento, embora nem sempre consiga, ser uma pessoa tolerante, até para poder esperar gozar do mesmo benefício. Há, contudo, algo que não sei perdoar, algo que não consigo relevar nas pessoas. Não entendo e nem consigo justificar o abandono, seja esse de pessoas, plantas ou animais.
Muitas vezes as pessoas ganham um vaso de flores, símbolo do carinho de alguém, de uma lembrança de amor ou amizade e sequer se dão ao trabalho de colocar um pouco de água para aliviar a sede da planta. Mesmo diante de flores e folhas secas, da terra esturricada, as pobres plantas são ignoradas até que pereçam. Sei que nem todo mundo leva jeito para cuidar de plantas, mas dar-lhes um pouco de água não requer prática, habilidade ou mesmo mais do que míseros segundos.
Nem preciso dizer que o abandono de seres humanos é muito mais grave, mas no meu entender segue a mesma linha. Quantos são os idosos que, sem controle das atividades fisiológicas, perdidos em uma mente confusa ou mesmo acometidos por outras doenças do corpo e da alma, são abandonados por seus filhos, sobrinhos ou cônjuges, como se tivessem perdido o prazo de validade, como se não tivessem sentimentos ou fossem merecedores de solidariedade.
Infelizmente, em matéria de seres humanos, ainda há o flagelo do abandono de crianças. Pais sem responsabilidade, sem amor, trazem filhos ao mundo como quem compra comida em supermercado. Em alguns casos radicais, o simples fato de nascer do sexo feminino condena milhares de meninas, todos os anos, ao abandono ou à morte, por pura ignorância, como acontece em algumas regiões da China.
Outra coisa que particularmente me afeta, entristece-me, é o abandono de animais. Enquanto são filhotes, engraçadinhos, são alvos dos mimos das pessoas que, ao vê-los crescidos ou idosos, causando estragos em móveis, fazendo suas necessidades no meio da sala ou dando despesas com veterinários, simplesmente os abandonam, sem qualquer culpa ou escrúpulo.
Hoje mesmo, enquanto buscava meus cachorros no Pet Shop, depois de terem tomado o banho semanal, vi um gato Persa, de um cinza chumbo, quase azulado, dentro de uma caixa de transporte. Perguntei à mulher que o trazia, se o bichano estava doente ou fora para tomar banho também, ao que ela me disse que o pobre fora abandonado pela dona, uma jovem que, diante de uma viagem que faria, optou por se desfazer do animal, deixando para quem o quisesse. Caso ninguém quisesse, teria dito ela, bastava soltar por aí. Muito manso, o bicho olhava para tudo e para todos, inocente do seu destino.
A mulher que o levara até o Pet Shop estava tentando arrumar um dono para ele, alguém que tivesse um pouco de espaço, tempo e compaixão, sobretudo. Olhei para o bicho e foi com muito custo que não o trouxe para casa. Assim que meus cães ficaram prontos e, sem que eu tivesse tempo de impedir, aproximassem do gato, deixando-o em pânico, constatei que não seria uma boa idéia. Também pensei que meus pássaros e peixes poderiam ficar igualmente perturbados com um felino por perto...
Eu pouco ou nada sei sobre Justiça Divina, sobre se respondemos, de fato, por tudo aquilo que fazemos nesse mundo, mas, seja como for, de algum modo, todos somos responsáveis. Sinto pelos inocentes, por aqueles que padecem pelo descaso alheio, pela falta de piedade e me pergunto, sempre, onde eu também estou falhando nisso tudo...
CINTHYA NUNES VIEIRA DA SILVA - Advogada, mestra em Direito, professora universitária e escritora - São Paulo
JOSÉ RENATO NALINI - LUTAR PELA AMIZADE
Viver é também enredar-se em laços afetivos fortes, entre um número restrito de pessoas. Tais laços geram relações eróticas, familiares e de amizade. Todas elas situam-se num grau pré-jurídico de reconhecimento recíproco, no qual sujeitos se confirmam mutuamente em suas necessidades concretas. Portanto, como seres necessitosos. Cabe invocar a fórmula hegeliana: “ser si mesmo em um estranho”. Encaremos a amizade. O parentesco escolhido. Se “parente é acidente”, não se pode errar com o amigo, que é selecionado. Amigo que se faz, amigo que se perde.
Simone Weil já observou a respeito: “Há duas formas de amizade, o encontro e a separação. Eles são indissolúveis. Eles encerram o mesmo bem, o bem único, a amizade…Ao encerrar o mesmo bem, eles são igualmente bons; os amantes, os amigos têm dois desejos: um deles é o de amar-se mesmo que eles entrem um no outro e constituam uma unidade; o outro é o de amar-se mesmo que tendo entre si a metade do globo terrestre a sua união não sofra nenhuma diminuição”. Amigos aprovam-se mutuamente. É essa aprovação que faz da amizade o bem único, o bem tão precioso, seja na separação, seja no encontro ou reencontro.
A humilhação é a retirada ou a recusa dessa aprovação. O indivíduo sente-se como que olhado de cima, até mesmo tido como um “nada”. Privado da aprovação, é como se ele não existisse. Amizade pressupõe reciprocidade. As condições mais propícias ao reconhecimento mútuo, este reconhecimento que aproxima a amizade da justiça é a troca. Não o câmbio material, que é alimentado por uma tática do consumo que trivializa todos os afetos – “dia” disso, “dia” daquilo… É a reciprocidade afetiva. Para isto não há regras, nem receitas. O único requisito é um coração abundante.
A abundância de coração perdoa os lapsos. Todos somos imperfeitos. É bom reconhecer-se ainda mais imperfeito que os demais. A busca aparente de equivalência impõe a subtração de julgamento. Esquecer as ofensas consiste em “deixá-las ir”. Não inscrevê-las no granito da memória. Deixar que as ondas do perdão as apaguem da areia. E continuar amigos. Sem isso, só se aumentará o crescente desencantamento do mundo.
José Renato Nalini é Desembargador da Câmara Especial do Meio Ambiente do Tribunal de Justiça de São Paulo e autor de “Ética Ambiental”, editora Millennium. E-mail: jrenatonalini@uol.com.br.
JOÃO ALVES DAS NEVES - A OBRA DE ANTÓNIO QUADROS

Conheci António Quadros muitos anos antes de o conhecer – os primeiros trabalhos que li dele foram talvez os artigos que publicava nos jornais, creio que no Diário Popular, o excelente vespertino ao qual dei assídua colaboração, assim como a O Primeiro de Janeiro. Confesso que já não sei qual terá sido o primeiro que li dele, mas os seus estudos que mais me aproximaram dele – embora à distância - foram aqueles que publicou sobre Fernando Pessoa., entre os quais saliento Vida, Personalidade e Génio do Poeta da Mensagem.
Li quase todos os seus livros e desde sempre me despertou a diversidade cultural da sua acção. Admito, porém, que me preocupavam os seus laços com certas figuras do regime político, que eu não aceitava. Mais tarde, verifiquei o meu engano em relação a António Quadros - nunca discutimos política e concluí que estávamos mais próximos um do outro do que eu pensara. Nem eu nem ele tínhamos pretensões políticas, ainda que tivéssemos opiniões próprias, apesar de me considerar sempre adverso das ditaduras.
A explicação é necessária num mundo cada vez mais fanatizado pelos partidos. Contudo, o que mais me aproximou de António Quadros foi o seu fervor pelos mil e um aspectos da Cultura Portuguesa. com relevo para as relações entre os 8 paises de idioma comum, perfeitamente caracterizados nos seus artigos e livros. É claro que um dos nossos temas ´preferidos foi a obra de Fernando Pessoa, mas os seus comentários sobre o diálogo cultural luso-brasileiro despertaram-me o maior interesse.
Em 1988, coordenamos na Academia Paulista de Letras, em São Paulo, o I Encontro de Estudos Pessoanos, do qual participaram destacados ensaístas brasileiros e portugueses, assinalando, entre outros, João Gaspar Simões, Teresa Rita Lopes e António Quadros, conforme ilustra a revista cultural Comunidades de Língua Portuguesa (agora, com 22 volumes publicados!). Foi no decurso desse diálogo lusíada que da admiração intelectual passamos à amizade.
Certa vez, fomos Lisboa e recebemos convite para uma reunião em casa da escritora Fernanda de Castro - e lá fomos encontrar um admirável grupo de escritores e artistas de vários sectores, incluindo alguns discordantes (como nós) do fascismo ainda em vigor. Recordo que um escritor que mais ou menos me conhecia estranhou a minha presença – e eu disse que viera sem preconceito, por se tratar de um encontro de artistas e intelectuais...certamente nas condições em que ele comparecera; No fundo, a reunião foi para conversar sobre artes e letras.
Mais tarde, ainda escutaria a voz de D. Fernanda de Castro quando, por telefone, lhe pedi para dizer algo sobre a sua presença em São Paulo, em 1922, meses após a Semana de Arte Moderna. Não tive resposta ao meu pedido, mas a capa de Ao fim da Memória (II volume) traz um retrato da grande pintora do modernismo brasileiro Tarsila do Amaral – cuja cópia chegou
às mãos de António Quadros por meu intermédio – em 1962 gravei um depoimento da artista plástica e foi-me mostrado esse retrato (estava à venda por 70 mil cruzeiros!), que veio a ser comprado pelo Governo do Estado de São Paulo e que fui rever na residência estadual de veraneio paulista de Campos do Jordão – pedi uma fotografia que enviei ao amigo Quadros. (Há mais um retrato Fernanda de Castro, pintado por Anita Malfatti – a outra musa do modernismo no Brasil) e tenho o projecto de consagrar às duas pintoras um comentário, pois trata-se do testemunho da ligação de Fernanda de Castro e António Ferro (em 1922) com os “futuristas” brasileiros.
JOÃO ALVES DAS NEVES-- Escritor português, radicado no Brasil. Foi redator - editorialista de "O Estado de S. Paulo", durante trinta e um anos e professor - pesquisador da Faculdade de Comunicação Social Gasper Libero (São Paulo), durante um quarto de século. Autor de cerca de três dezenas de livros publicados, seis dos Quais sobre a obra de Fernando Pessoa. O seu último livro foi lançado em em Lisboa, pela Editora Dinalivro, sob o titulo de "Dicionário de Autores da Beira-Serra", região onde nasceu.
Cfd. ALUIZIO DA MATA - SÓ TEMOS UMA PÁLIDA IDEIA

Passamos o ano todo sem meditar nos sofrimentos pelos quais Jesus passou na Semana da Paixão. Temos tantas coisas para pensar que nos esquecemos do principal.
Padre Zezinho, em uma de suas meditações, diz que não pensamos naqueles sofrimentos porque eles estão longe demais. Ele quis dizer que valorizamos mais os nossos sofrimentos do que os de Jesus, porque sentimos no nosso corpo, no nosso espírito e na nossa alma as angústias presentes, enquanto tudo o que Jesus passou aconteceu a dois mil anos atrás e deles só temos uma pálida idéia.
Costumamos participar das cerimônias da Semana Santa, nos comovemos com as homilias bem feitas, com as representações ao vivo da Paixão de Cristo e até com os filmes que as televisões costumam repetir todos os anos. Mas passados alguns momentos, já estamos vivendo o presente e o presente não inclui os sofrimentos de Jesus.
Interessante é que, depois da morte de Jesus, muitos dos seus seguidores receberam o martírio. Até hoje tais martírios ainda acontecem, talvez não com a crucifixão dos evangelizadores, mas de outras e inúmeras formas. Muitos dos que têm a coragem de anunciar os ensinamentos de Jesus são motivos de desprezo, outros são perseguidos e até são presos. Estou falando dos verdadeiros missionários, dos verdadeiros evangelizadores, aqueles que deixam tudo para trás: família, amigos, às vezes, pátria. Vão para regiões inóspitas, passam privações de todos os tipos, arriscam tudo.
Tive um amigo padre. Ele era irlandês, mas viveu a maior parte de sua juventude na Holanda e se considerava holandês. Lá viveu os terrores de uma guerra mundial, sofrendo horrores. Depois entrou para o seminário, foi ordenado e enviado para o Brasil. Seu primeiro ponto foi a Amazônia. Passou todo tipo de dificuldade, desde o aprendizado da língua portuguesa e de línguas de índios, pois além de cuidar do povo de uma cidade bem no interior da floresta, até o sentimento de completo abandono. Seu trabalho missionário incluía viajar dias e dias de canoa para chegar às aldeias indígenas. Ele contava que por muitos e muitos dias sua alimentação era à base de peixe e farinha. Contraiu muitas moléstias transmitidas pelos mosquitos. Em duas palavras: sofreu muito!
Muitos anos depois foi substituído e veio para Minas Gerais. Aqui ficou por mais de 20 anos em cidades pequenas quem nem podiam dar a ele o mínimo de conforto. Não fosse a ajuda que recebia do governo holandês, passaria muita falta. Quando tinha lá pelos seus 75 ou 80 anos voltou para a Holanda, onde morreu poucos anos depois.
Considero esse tipo de apostolado como um verdadeiro martírio incruento.
Assim como ele, muitos outros passaram por situações semelhantes. Para não citar muitos, lembro o Padre Damião Veuster, o chamado Anjo de Molokai, que foi para o Havaí. Trabalhou por muitos anos entre os leprosos segregados para ilha de Molokai. Depois foi vítima da mesma enfermidade.
Estamos às vésperas da Semana Santa. Ocasião propícia para meditarmos sobre os sofrimentos de Jesus. Mas não basta meditar. É preciso sentir, pelo menos um pouco, o que Ele sentiu. Aí, sim, talvez possamos dar um pouco mais de valor ao sofrimento que Ele passou para apagar os nossos pecados. Se pensarmos que cada chibatada, que cada espinho enfiado em sua cabeça, que cada cravo fincado em suas mãos e seus pés, que a lançada que levou no lado direito foram também por nossa causa, mudaremos radicalmente da maneira que vivemos hoje.
Afinal, Ele deu o exemplo para ser seguido.
ALUIZIO DA MATA - Vicentino, Sete Lagoas, Brasil
Sexta-feira, 19 de Março de 2010
HUMBERTO PINHO DA SILVA - UM CRITICO DA SOCIEDADE

Conheci José de Vasconcelos e Sá já bastante debilitado da doença que o vitimou. Foi minha amiga, a escritora Tereza de Mello, que fez o favor das apresentações.
Trocamos assídua correspondência pela Internet, e Vasconcelos e Sá chegou a colaborar na “PAZ”, blogue que, com outros, vou mantendo, enquanto Deus quer.
Vasconcelos e Sá tinha escrita acutilante; era temida a sua pena mordente, principalmente pelos prevaricadores que se refugiam na política e luta partidária, para camuflar alicantinas.
Não era Homem de esquerda, e após a Revolução dos Cravos, quem não perfilha esses ideais, é marginalizado na vida artística e profissional, razão que muitos são militantes de certos partidos, e só o são enquanto seu grupo político ganha eleições.
Vasconcelos e Sá era autor de uma dezena de livros e poemas seus eram interpretados por conhecidos fadistas.
Ora certa ocasião publicou o livro: “ Drogas! Que Futuro? Apenas a Morte!”, que chegou ao topo de vendas. Todavia apesar do sucesso nunca teve oportunidade de ser entrevistado na TV, e a obra foi olvidada pela imprensa nacional.
Vasconcelos e Sá em artigo publicado em 2004 (Eco do Funchal), confessa: “ Claro que me entristecem estes obstáculos ( a indiferença da mass-media). Todavia em face em que a maioria dos críticos, intelectuais e jornalistas da nossa praça desrespeita as regras da semântica a aplaude o divórcio do sujeito e do predicado, o favorecimento do anonimato afigura-se-me quase um elogio!” e remata mais adiante: “ Penso merecer ser convidado para colaborador assíduo de um jornal de grande tiragem! Ah! E remunerado.”
Como José Vasconcelos e Sá, quantos ilustres intelectuais, com obra feita, são preteridos pelas editoras e grande imprensa, porque nunca tiveram “ gato das botas” que os tenha feito Marquês de Carabas?
HUMBERTO PINHO DA SILVA - Porto, Portugal
PINHO DA SILVA - ANTIGA CAPELA DE SANTO AMARO, MATOSINHOS, PORTUGAL
Segunda-feira, 15 de Março de 2010
MARIA CRISTINA CASTILHO DE ANDRADE - QUE COISA, MEU DEUS !

Fui, há um mês, à cadeia feminina de Itupeva. Ela estava lá, do mesmo jeito que em outras vezes: expressão de desconsolo. Jovem ainda, vinte e poucos anos, mas demonstrava carregar, nos ombros, a laje do presídio. Seus olhos, contudo, sempre me sorriam.
Esperava, pacientemente, que as demais conversassem comigo, que eu lhes entregasse as cartas dos amados, informasse a situação processual, que vem do Ministério Público, para, depois, me dizer alguma coisa. Não se afastava de perto das grades onde eu me encontrava. Um misto de desânimo e ternura.
Retornei quinze dias após. Contaram-me que ganhara a liberdade. Alegrei-me por ela e a imaginei de pegadas renovadas. E, quarta-feira última, disseram-me do desfecho, que eu já vira nos jornais: fora executada. A vida dela escorreu, como se não tivesse importância, em meio aos dejetos, com os quais convivia para ter a droga que a consumiu. Dívida? Quebra de decoro do código de ética dos desintegrados? Adianta saber? Esgotou-se pelos meandros das ruas escuras e eu não pude abraçá-la liberta, para lhe dizer que Deus é Amor que não passa, que cura os vazios, tira da solidão e tece felicidade na vida da gente.
Uma outra, detida há pouco, expressa seus lamentos, para mim, em carta. Chama-me por “Senhora Pastoral”. Mais forte, na situação, do que Maria Cristina. Senhora da Pastoral deve proteger dos lobos com a Palavra de Deus. E quem pastoreia cuida, igualmente, das ovelhas atacadas por garras sanguinárias. Grávida de cinco meses. Família distante. Pediu-me pincéis, tintas, linhas coloridas de crochê, glitter... Por um instante, misturo as três: ela, a filha e a que se foi. Uma de corpo desfeito pelas balas atiradas com ódio, a de corpo modificado para ser berço e a pequenina, que, protegida, flutua no líquido amniótico. Será preservada dos ataques do mundo/submundo, apenas durante os nove meses? Ou escorrerá em meio aos dejetos? Que triste, meu Deus!
No sábado, na cadeia de Jundiaí, um detento, com mais idade do que a maioria, aproximou-se cerimoniosamente, cabeça baixa, solicitou-me que entrasse em contato com uma assistente social em São Paulo e pedisse para lhe enviar os documentos pessoais e os remédios. Sofre com as convulsões. Pedi-lhe que me olhasse nos olhos. Essa dificuldade dele deu-me uma impressão forte de solidão. Passou-me o número do telefone e eu lhe pedi o endereço. Respondeu-me de imediato: “Cama 79”. Morador de albergue. Que coisa, meu Deus!
São Teófilo de Antioquia (Séc. II) afirma. “Se tu me dizes: ‘Mostra-me o teu Deus’, eu posso responder-te: ‘Mostra-me o que há em ti, e eu te mostrarei o meu Deus’”. Os três se expuseram a mim. Não se esconderam, aproximaram-se. Pude lhes mostrar o meu Deus, que sussurra, dentro da possibilidade de cada um, no ouvido do coração. É Ele que os acompanha aqui e do lado de lá. É Ele que me consola diante de tanto sofrimento.
MARIA CRISTINA CASTILHO DA ANDRADE- É coordenadora diocesana da Pastoral da Mulher e autora de “Nos Varais do Mundo/ Submundo” –Edições Loyola
CINTHYA NUNES VIEIRA DA SILVA - MULHERES

Na segunda passada, dia 08 de março, comemorou-se o Dia Internacional da Mulher. Costumo brincar com meus amigos que é na verdade uma sacanagem a mulher só ter um dia, enquanto os homens ficam com todos os outros 364 ou 365, se for ano bissexto. Na verdade, se a data servir para uma reflexão sobre o papel da mulher na sociedade, então, de fato, é digna de se comemorar.
Uma coisa que já acho bacana é que não é feriado nesse dia. Só isso já ilustra a postura feminina de trabalhar e muito. Nesse sentido, entendo oportuna uma data para que as mulheres possam receber um olhar distinto, mais atento.
Não sou daquele tipo que acha que as mulheres são melhores do que os homens, mas, definitivamente, também não acho o contrário. Cada sexo guarda seus pontos positivos e os negativos. Às fragilidades de um, correspondem as forças do outro. São seres que se completam, e que, nas suas diferenças, tornam-se iguais e melhores.
Minha tristeza nessa área é que, de fato, enquanto as mulheres sempre valorizaram ou mesmo supervalorizaram os homens, a recíproca, em muitos casos, não é verdadeira. Alguns homens tratam as mulheres como se fossem criaturas inferiores, suas servas. Não somente faltam com o respeito nas palavras, nos gestos, como também não lhes dão as mesmas chances que dão aos demais homens.
Meu avô materno foi um homem bastante machista. Fruto do tempo dele, era um homem trabalhador, honesto, mas repetia o padrão da criação que recebeu. Queria filhos homens e as primeiras gravidezes de minha avó trouxeram ao mundo duas meninas, a primeira delas a minha mãe. O primeiro neto, uma neta, na verdade: eu.
Passei parte da minha infância tentando provar, sabe-se lá Deus para quem, que eu era tão boa quanto um menino poderia ser. Se havia alguma competição, se havia um menino na parada, eu fazia questão de ganhar, de superar. Hoje vejo o quanto tudo isso foi uma perda de tempo, uma energia inutilmente desprendida, mas o fato é que somos resultado do que vivemos, do que fizemos no passado e, de algum modo, continuo com um resquício disso em mim. Não consigo deixar de me revoltar quando vejo comportamentos machistas, quando noto que alguém me diferencia, negativamente, pelo fato de ser mulher.
Fico pensando no que devem sentir, pelo mundo a fora, as mulheres que, subjugadas pelos homens, vítimas de tradições radicais, sequer tem o controle sobre seus próprios passos, sobre seus destinos, sobre seus sonhos. Isso sem contar aquelas que padecem por conta da violência masculina, estupradas, seviciadas e espancadas, várias até a morte.
Espero que um dia as pessoas possam compreender que as diferenças entre os sexos não existem para nos apartarmos, para nos dividirmos como se estivéssemos seguindo em direções contrárias, como se fossemos de espécieis diferentes. Nessa viagem que é a vida, devemos caminhar lado a lado, nem atrás e nem à frente. Uma boa companhia, por certo, é capaz de transformar a paisagem, de amenizar os solavancos, de encurtar as dores, de alongar os prazeres.
Gostaria de, por esse texto, homenagear as mulheres na figura da minha mãe, Elizabeth. Mulher como eu espero ser digna de ser. Forte, honesta, meiga, corajosa, amorosa, inteligente, sensível, doce, trabalhadora, e detentora de tantos predicados que me faltam palavras para qualificá-la. À todas as mulheres, geradoras da vida e da força, parabéns de quem se orgulha de ser mulher e que sonha com um mundo com homens e mulheres vivendo em harmonia. Como se diz por aí, os homens são de Marte e as mulheres de Vênus, mas, no fim das contas, no mínimo, estamos na mesma galáxia...
CINTHYA NUNES VIEIRA DA SILVA - Advogada, mestra em Direito, professora universitária e escritora - São Paulo
Domingo, 14 de Março de 2010
EUCLIDES CAVACO - A TRISTEZA
Olá amigos especiais
A TRISTEZA , é um sentimento emocional que certamente já passou por todos nós.
Contudo há condições na vida humana onde a tristeza está implicitamente contida.
Ouça aqui neste link : A TRISTEZA vista aos olhos do poeta:
PAULO ROBERTO LABEGALINI - MÃE É MÃE

Este testemunho foi dado por uma médica dermatologista da cidade de Cruzeiro, SP:
“Em mais de vinte anos de vivência na medicina, já presenciei inúmeras cenas e situações que me marcaram, porém, se eu tivesse que escolher a cena que mais me comoveu como médica, escolheria a que mais me marcou como mãe.
Foi em uma visita a uma Unidade de Terapia Intensiva, local onde geralmente os pacientes estão necessitando de cuidados o tempo todo. Foi neste ambiente frio, cheio de aparelhos e medicamentos, que vivenciei a importância da maternidade.
Não se tratava de uma paciente grávida. Quem me chamou a atenção foi um velho homem, aparentando bem mais de oitenta anos, deitado em posição fetal, que gritava em meio ao seu delírio: ‘Mamãe! Mamãe! Ah, minha mãe...’
Para uma pessoa no fim da vida, doente, o que lhe restara era chamar por sua mãe, e era um clamor que vinha do coração, da alma! Somente quem poderia acolher sua dor, sua solidão naquele momento, era sua mãe. Todos os sons e ruídos da UTI desapareceram frente ao chamado choroso daquele homem que insistia em resgatar a mais importante de suas memórias: a sua mãe. Naquele momento, a médica deu lugar à mãe e me dei conta do quanto importante é ser mãe.
Quando Deus escolheu a mulher para acolher a vida em seu ventre, deu-lhe a responsabilidade de gerar seres humanos que são a imagem d`Ele. E para isso lhe deu uma infinita capacidade de amar, renunciar e esperar. Amar, sem impor condições; renunciar a tudo, até a si mesma pelos filhos; e esperar com muita paciência todas as condições que a vida lhe apresentar: a começar pela espera de nove meses para que a vida em seu corpo se torne vida para o mundo.
Durante a gestação, a mulher é a perfeita moradia. É no corpo da mulher que Deus fez a primeira morada de todo ser humano, e é neste corpo sagrado que abriga a vida, que a mulher experimenta a plenitude de ser mulher.
Quando seu ventre cresce, seu corpo ganha novas formas, as mamas se preparam para alimentar sua cria, todo o ser feminino se enche de glória para esperar o dia de dar a vida a um novo ser... E depois, fora do nosso corpo, acompanhamos toda uma trajetória: somos o porto seguro para passos cambaleantes... para abraços aflitos... para choros carentes... Por mais que os homens cresçam e envelheçam, somos nós, as mães, que ficamos em suas memórias.
Aquele velho homem me mostrou o quanto importante é o papel da mãe para todo ser humano. Fez-me também questionar porque tantas meninas na idade de serem filhas, e não mães, violentam seus corpos. Maquiadas por uma falsa liberdade, colocam em risco suas e outras vidas inocentes, com a desculpa de serem modernas. O corpo sagrado é violado e, muitas vezes, jovens, quase crianças, tornam-se mães, perdendo a oportunidade de vivenciarem com plenitude o divino mistério da vida.
Depois daquele dia na UTI, acrescentei mais uma responsabilidade ao meu papel de mãe. Pode ser que um dia – quando a gente pensa que os filhos não precisam mais de mãe – a gente seja a última lembrança na vida deles. Quero ser não só a última, mas a melhor lembrança!”
E depois de ler este relato, posso afirmar que muitas coisas passam pela mente: bate a saudade em quem já se despediu da mãe; aumenta a responsabilidade àquelas que ainda têm filhos para cuidar; dá vontade de abraçar a esposa que cedeu o corpo para formar uma família; enfim, fica a eterna gratidão às mulheres que marcaram presença no mundo na missão de ser mãe.
Na aula da Escola Vivencial do Cursilho da próxima segunda-feira à noite, dia 22, também falarei de Mãe, através do Movimento de Shöenstatt. Direi que tudo teve início em 18 de outubro de 1914, quando o Pe. José Kentenich manifestou seu desejo a um grupo de Jovens Congregados Marianos: transformar a Capela de São Miguel num Tabor de manifestações de glórias a Maria. Era seu plano criar um movimento de renovação religiosa e moral a partir dos tesouros e milagres de Nossa Senhora. Isto aconteceu na Congregação Mariana situada no vale de Schöenstatt, Alemanha.
Hoje, a Obra de Schöenstatt está presente em todo o mundo com Institutos, Uniões, Ligas, Movimentos Populares etc. Os santuários são reproduções fiéis do Santuário de Schöenstatt, e o Movimento Internacional já tem 180 capelas ao redor do mundo! Quem recebe uma capelinha em casa com a imagem da Mãe Rainha Três Vezes Admirável sabe por que é grande essa devoção em todo o planeta
Na convicção do Pe. Kentenich, uma autêntica espiritualidade mariana deve conduzir a uma profunda espiritualidade cristológica e trinitária, a uma séria aspiração à santidade e a um generoso compromisso com a missão evangelizadora da Igreja. E a Mãe Rainha ‘faz esse papel’ porque é três vezes admirável: ela é Mãe de Deus, Mãe do Redentor e Mãe dos remidos. Ninguém alcançou tamanho mérito na humanidade!
Essa nossa Mãe nos atenderá sempre que chamarmos por ela, dentro ou fora da UTI. Viva Nossa Senhora!
PAULO ROBERTO LABEGALINI -- Escritor católico, Professor Doutor da Universidade Federal de Itajubá-MG. Pró-reitor de Cultura e Extensão Universitária da UNIFEI
MARIA CRISTINA CASTILHO DE ANDRADE - DOM VICENTE, PAI CUIDADOR

O grupo da Pastoral da Mulher/ Associação “Maria de Magdala” aguardou a chegada de Dom Vicente Costa com preces. A maioria das assistidas, a quem Deus chamou, de alguma forma, com ternura, nestes 28 anos, não possui em sua história a referência do pai, pela ausência, morte, abandono ou foram dilaceradas por ele. São raras as que tiveram um relacionamento de pai e filha ou de filha e pai. Esperam, portanto, em Dom Vicente, como vivenciaram com Dom Gil, o pai que não tiveram.
Para elas, um PAI CUIDADOR: é amoroso, atencioso, próximo, fala a verdade, “puxa a orelha” na hora certa, sem deixar de ser compreensivo – são tantos os problemas na vida delas -, reza pelos filhos e dele se beija a mão para ser abençoada. Uma delas comentou que o pai de verdade conduz a filha pelas sendas de Deus e que, apesar de seus passos terem se atrasado para o caminho da salvação, deseja este caminho para seus filhos e netos. Disseram-nos, ainda do pai que anda de mãos dadas com a filha e, na noite escura, aponta as estrelas, para que veja, como Santa Teresinha do Menino Jesus, que o nome dela está escrito no firmamento. O pai Bom Pastor, presente na vida das ovelhas, sabe o quanto ele é necessário para as desgarradas. Falaram em comunhão: “Precisamos ser por ele adotadas”.
Em um segundo momento, as filhas que sonham o pai cuidador – e têm certeza de que Dom Vicente será assim -, testemunharam o que possuem para lhe oferecer: amizade e carinho, o repasse da bênção de Deus que recebem, a alegria, a atenção, a disponibilidade para ouvi-lo e segui-lo, de braços elevados, com respeito, rezando todos os dias por ele. E desejam que a sabedoria de Dom Vicente entre em suas casas e as faça morada de Deus.
Em seguida, como acontece em todas as reuniões, uma das mulheres abriu o Evangelho ao acaso: “O sepulcro vazio” (Marcos 16). As mulheres – Maria Madalena, Maria, a mãe de Tiago, e Salomé, ao raiar do sol, foram ao encontro do sepulcro, com perfumes para embalsamar o corpo de Jesus. Encontraram a pedra removida e um jovem vestido de branco, que lhes anunciou: “Não vos assusteis! Procurais Jesus, o nazareno, aquele que foi crucificado? Ele ressuscitou!” (...) Ressuscitado na madrugada do primeiro dia, depois do sábado, Jesus apareceu primeiro a Maria Madalena, de quem tinha expulsado sete demônios.
São João destaca, em seu Evangelho, que Dom Vicente conhece em profundidade, duas mulheres: a apanhada em flagrante adultério e a Samaritana. De acordo com Jean-Yves Leloup, no livro “O Evangelho de João” – Editora Vozes – 2ª. edição –, em relação à primeira, onde homens veem uma falta que deve ser condenada, Jesus enxerga uma desgraça que deve ser curada. Ela estava à espera da justiça e encontra a misericórdia. Quanto à Samaritana, Jesus lhe revela os mistérios da oração em “espírito e verdade”. Jesus lhe mostra que existe no mundo algo que não é deste mundo. Coloca-a em direção de sua própria fonte.
O sepulcro vazio na vida das mulheres curadas de suas desgraças. Água que lava as nódoas e renova a vida. O reconhecimento de que a Palavra salva. Dom Vicente, pai cuidador de filhas que buscam Deus. O Reino dos Céus em meio a nós. Bendito seja Deus por nos enviar Dom Vicente!
MARIA CRISTINA CASTILHO DA ANDRADE- É coordenadora diocesana da Pastoral da Mulher e autora de “Nos Varais do Mundo/ Submundo” –Edições Loyola
Cfd. ALUIZIO DA MATA - CORAÇÕES GENEROSOS

Existem pessoas que são generosas até nos sonhos que temos com elas.
Adelina de Souza é uma delas. Ela é consócia e milita na Sociedade de São Vicente de Paulo há muito tempo. É uma dessas pessoas incansáveis. Está pronta para tudo. E melhor: serve de exemplo até em sonhos.
Ontem estava divagando sobre que assunto iria escrever no meu artigo semanal para o Grupo “midiavicentina” e não tinha atinado com nada. Fui dormir.
Á noite sonhei que estava passando em uma rua e coincidentemente passei em frente da casa dela.
Eu estava com uma lista de arrecadação de donativos para a minha Conferência na mão e ela me viu e me parou. Depois de me cumprimentar, disse: “Acho que ainda não contribuí para a sua campanha.” E retirou algum dinheiro de dentro da bolsa e passou-o para mim. Interessante que ela já havia contribuído anteriormente para a mesma campanha, mas o tinha feito através de outro confrade.
Peguei o dinheiro e ela se foi, nem esperando que eu fizesse a contagem do valor para registrá-lo na lista. Eram mais de R$ 60,00.
Enquanto eu estava parado para fazer a anotação do nome dela e o valor doado, notei que outra moça estava parada em frente da casa da Adelina, prestando atenção em tudo que ocorria. Depois que fiz a anotação e já ia embora, a tal moça se dirigiu á mim e me disse: “Quero contribuir também”. Ela nem sabia qual era a campanha, mas teve confiança de que era coisa séria, já que viu o gesto da Adelina. Enquanto tirava o dinheiro da bolsa, foi dizendo: “Fizemos uma campanha para o Hospital Nossa Senhora das Graças e muita gente contribuiu”.
Eu me lembrava da tal campanha, pois tinha dela participado. Esse hospital fica perto de onde eu morava e todos os anos havia uma semana de barraquinhas em uma rua próxima. Eu e minha esposa Geralda Assis, que também é vicentina e já foi voluntária no mesmo hospital, sempre participávamos das barraquinhas que funcionavam após a celebração da Santa Missa. Quase todas as noites estávamos lá, mais ela do que eu. Essas barraquinhas são ainda realizadas pelas voluntárias do hospital, para arrecadar fundos para a compra de materiais necessários, principalmente para a pediatria. Esse hospital sempre ajudou a SSVP, recebendo os nossos assistidos sem nada cobrar.
A moça me entregou o dinheiro e, no sonho, eu não sabia nem o seu nome. Interessante que ela era uma pessoa que eu conhecia de vista nas vezes que visitava o hospital. Ela era uma das voluntárias.
Era de madrugada e acordei logo após o sonho. Imediatamente me lembrei do artigo que estava por escrever. Como costumo esquecer do conteúdo dos sonhos que tenho se voltar a dormir novamente, resolvi me levantar e aqui estou eu para registrá-lo.
A motivo de querer fazer o registro não é para dizer que trabalho em campanhas vicentinas, mas para mostrar que existem pessoas que possuem bom coração. A Adelina e a Geralda são algumas delas. E a outra moça também. Embora não esperasse receber aqueles donativos não fiquei surpreso, pois todas duas eram ligadas ao trabalho de fazer caridade aos necessitados.
Assim como as duas pessoas do meu sonho, muitas outras existem. Conheço inúmeras e nem seria possível enumerá-las. O fato de narrar o sonho e citar as envolvidas não é para endeusar a Adelina e a Geralda, mas para que sirva de exemplo para outras pessoas e para prestar, também, uma homenagem á mulher de uma maneira geral e em especial ás consocias vicentinas e voluntárias em qualquer tipo de assistência social.
Elas têm o coração generoso, não por causa do dinheiro que dão, mas por causa da militância em lugares e instituições que precisam da ajuda pessoal e nas quais podem praticar a verdadeira caridade.
É quase certo que você que está lendo esse artigo também tenha o coração generoso e até possa fazer parte de algum trabalho caritativo. Se não for, pense em quanto você poderá ajudar, não pelo dinheiro que possa doar, mas muito mais pela sua presença, pelo seu gesto que servirá para minorar a dor dos que sofrem e, de quebra, ser exemplo para que outras pessoas façam o mesmo.
A decisão é sua, o agradecimento é de Deus através dos necessitados.
ALUIZIO DA MATA - Vicentino, Sete Lagoas, Brasil