PAZ - Blogue luso-brasileiro
Domingo, 25 de Abril de 2010
MARIA CRISTINA CASTILHO DE ANDRADE - PEDOFILIA
A pedofilia é uma distorção da sexualidade. A pornografia, as agressões sexuais, as perversões como sexo em grupo, a zoofilia, a bestialidade e o sadomasoquismo também. E os prejuízos, inúmeros. Não somente leio a respeito, mas o convívio, de quase 28 anos, com mulheres, abusadas sexualmente na infância, que passaram ou estão na prostituição, me ajudam a escrever este texto.
Diversos meios de comunicação decidiram, nos últimos tempos, denegrir a imagem da Igreja, do Papa Bento XVI e do Clero, devido à denúncia de alguns padres (o número é muito reduzido, embora não justifique) que violentaram sexualmente crianças. Questiono o motivo de associarem, com alarde, somente a imagem desses padres a uma conduta pedófila, já que encontramos professor, médico, advogado, político, pai biológico, padrasto que cometeram o mesmo delito. Estatísticas de delegacias de polícia e de setores de saúde que atendem vítimas de abuso sexual comprovam que os pais biológicos, padrastos e outros parentes próximos constituem o maior número de abusadores. Afirmar que o celibato gera a pedofilia é imbecilidade. É possível, sim, viver equilibradamente na castidade e na fidelidade. Se a extinção do celibato fosse condição para uma sexualidade sadia, a fim de que não acontecessem práticas sexuais ilegítimas, não existiriam, por exemplo, homens casados, na calada da noite, à procura de travestis. Não haveria clientes para os anúncios que oferecem mocinhas ou mocinhos que saciam prazeres e taras. Não aconteceria o comércio do sexo e o tráfico de seres humanos com esse objetivo. Lamentável, ainda, as mulheres que abusam sexualmente de crianças, que as manipulam para seu prazer ou para transformá-las em fonte de dinheiro. Defendo uma ampla campanha de conscientização àqueles que se sentem sexualmente atraídos por crianças, que procurem ajuda médica.
Vivemos numa sociedade de homem instinto - diviniza a sexualidade como energia selvagem, sem canalizá-la para o amor -, de mulher objeto, de destruição da família, de decadência, em que se perdeu o significado do outro. Uma sociedade na qual muitos clamam pelo direito a matar crianças no ventre materno. E defender que se mate um bebê não causa repulsa como a pedofilia?
Detestável e absolutamente injustificável a atitude dos padres agressores contra indefesos. O Papa Bento XVI não encobriu o problema, agiu com firmeza, comentou sobre os danos que causaram às vítimas, sobre o descuido na seleção dos candidatos ao sacerdócio em alguns seminários e conclamou os bispos a garantirem os princípios da justiça e a comprometerem-se com a cura dos atingidos. Pediu perdão às vítimas. Acusar o Papa de omisso é maligno.
A situação é séria. São discípulos que traem o Mestre. Judas na sociedade contemporânea. A Igreja e o Papa Bento XVI, porém, jamais compactuaram ou compactuam com a imoralidade, seja ela qual for ou de onde vier. Os que tentam, com esses fatos, abalar os alicerces da Igreja constituem o grupo dos que não suportam a voz forte em defesa da vida, da dignidade humana, da família. São os que se deixam levar pelo espírito de Lúcifer.
Em solidariedade ao Papa e ao Clero continuo reafirmando: “Creio na Igreja Uma, Santa, Católica e Apostólica Romana”, apesar da fraqueza de alguns de seus membros.
MARIA CRISTINA CASTILHO DA ANDRADE- É coordenadora diocesana da Pastoral da Mulher e autora de “Nos Varais do Mundo/ Submundo” –Edições Loyola
GABRIEL CHALITA - O PAPA NÃO É O NOVO JUDAS
http://renatonalini.wordpress.com/
“Pedofilia é pecado e é crime. Pecado mortal e crime hediondo. Merece repúdio e sanção. Ato abjeto, condenável, qualificado na esfera legal como singular exemplo de hediondez. Se na instância religiosa obtém-se o perdão mediante honesto remorso e firme propósito de não mais pecar, no âmbito legal o castigo é a inevitável segregação da liberdade.
O Código Penal contempla a figura do atentado violento ao pudor – artigo 214 – o assédio sexual – artigo 216 – e a corrupção de menores – artigo 218, tipos suscetíveis de enquadramento da conduta do pedófilo. Nas disposições gerais pertinentes aos crimes contra os costumes, abriga a presunção de violência se a vítima é menor de 14 anos, alienada ou débil mental e o agente conhecia esta circunstância e não pode, por qualquer outra causa, oferecer resistência – artigo 224. Além disso, a pena é aumentada de quarta parte se o agente, a qualquer título, tem autoridade sobre a vítima – artigo 226. Essa é a situação perante as normas religiosa e humana. Conhecer o fato, conhecer o seu autor, conhecer a lei. São as condições mínimas para se concretizar a justiça dos homens.
O atual estágio civilizatório se erige sobre postulados arduamente conquistados, dos quais não se pode abrir mão, sob pena de retorno à barbárie. A opção pelo processo judicial já consiste em escolha ética, a substituir a justiça de mão própria ou o linchamento, este quando parte da comunidade toma a si a tarefa do carrasco.
Dentre os dogmas do processo penal contemporâneo, situam-se o contraditório e a ampla defesa e o princípio de que a sanção incidirá sobre o criminoso e não resvalará sobre outras pessoas. Inadmissível, em nossa era, transigir com a singela dicção: a pena não passará da pessoa do criminoso. O eixo da individualização da responsabilidade parece ter sido afetado nestes dias, por uma teimosa insistência em atribuir a Bento 16″ culpa que ele não tem. A pedofilia teve início na noite dos tempos. É mais um traço da miserável condição humana e a Igreja nunca pactuou com ela. Quem poderia indicar algum religioso – de qualquer confissão – que a tenha louvado?
Em seu pontificado, o Papa reiterou o repúdio em relação a qualquer inobservância aos preceitos evangélicos. Firme na ortodoxia, já foi taxado de conservador e se receava um retorno ao anacronismo, à época em que eleito pelo Colégio Cardinalício. Eis que se surpreendem os incrédulos. Sua primeira Encíclica foi sobre o amor. Mostrou-se magnânimo, terno e afável. Amigo das artes, dos artistas, do belo e do lúdico.
Em relação à pedofilia na Igreja, nítida a sua consternação. Pediu perdão às vítimas, lamentou que mais essa chaga continuasse a ser acrescentada ao atemporal sacrifício do Salvador. Aquele que Se imolou para redimir a humanidade. Diante disso, como se justifica o furor em execrá-lo, se não é pedófilo, se perfilhou – como não poderia deixar de fazer – frontalmente contra esse crime – se nunca se acumpliciou com os que chafurdaram nessa lama?
Aponte-se um fato ocorrido no curso de seu pontificado e que não tenha merecido resposta da Igreja. Acusá-lo em relação a práticas anteriores é arremessar sobre seus ombros, já sacrificados pela carga imensa de responder pelos desafios da Igreja de Cristo num século turbulento, o peso insuportável do injusto flagelo. Nem se invoquem omissões passadas. A função exercida pelo Cardeal Ratzinger na hierarquia da Igreja Católica, durante o longo período sob João Paulo II, era zelar pela Doutrina da Fé. Foi ele quem sistematizou e atualizou a normatividade a que se deve submeter a comunhão dos fiéis. Seu desempenho foi modelar, com estrita fidelidade à verdade evangélica, sem se curvar às pretensões de quem reclamava um aggiornamento desconforme com as exigências cristãs.
A Doutrina da Fé não equivale e nem possui as atribuições de uma Corregedoria Eclesiástica. Ratzinger é um pensador, um respeitado filósofo, reconhecido autor de uma obra consistente. Já integrava a Pontifícia Academia Vaticana de Ciências, seleto grupo de intelectuais de todo o mundo, sem distinção de crenças e dentre os quais figuram muitos galardoados com o Prêmio Nobel. Causa perplexidade que tantos se satisfaçam com explicações psicológicas para os desvios de comportamento, se oponham à distinção binária entre o permitido e o proibido, e, simultaneamente, sejam tão severos em relação a Bento XVI. Aqui não se invoca a presunção de inocência, nem se insiste no exaurimento do contraditório. Duplo perigo: usar de diferentes pesos, de distintas medidas, perante situações que, ontologicamente, ostentam um núcleo comum.
Os pedófilos precisam de corretivo. Sabem que procedem erradamente, caso contrário agiriam às escâncaras. Mas os infratores são eles, não o Papa. Este é o chefe de uma Igreja que tem milhares de sacerdotes santos, de leigos a caminho da santificação. Mas que é instituição humana, também falível e pecadora. E que, definitivamente, não é a instância encarregada de julgar os infratores da lei penal. A Semana Santa, que a mídia prefere chamar de “feriadão”, neste ano de 2010 representou um espinho a mais na coroa de Cristo: a tentativa de fazer de Seu NÃO representante o antigo “bode expiatório” do sábado de Aleluia. Regredir em termos de princípios é muito grave. Desestrutura os alicerces da civilização e acelera a marcha-ré que parece remeter o mundo rumo ao caos.”
GABRIEL CHALITA - é docente universitário, doutor em Filosofia do Direito e Semiótica, ex-Secretário da Educação de São Paulo e Presidente do CONSEDE, além de vereador da Capital Paulista.
Do blogue de: JOSÉ RENATO NALINI, que é desembargador do Tribunal de Justiça de São Paulo e Presidente da Academia Paulista de Letras.
PAULO ROBERTO LABEGALINI - OS DOZE "SIM" DE MARIA - PARTE ll
Alguns de meus artigos rendem um pouco mais daquilo que normalmente se pode esperar nesse tipo de evangelização. Na semana passada, quando comentei as intenções das dez Ave Maria que rezei, diversos amigos pediram mais uma por outra causa ou ofereceram orações a mim. Rezando mais, se aproximaram dos céus e novas graças também receberam.
Oração é um banho em Deus, um mergulho no amor Divino; e quem faz uma experiência profunda na fé altera o futuro de muitas pessoas, como São Francisco que, mudando de vida, transformou o rumo da História. Portanto, o banho em Deus nunca é sozinho.
Ouvi isto do Padre Maristelo no Retiro para a Festa de Nossa Senhora do Sagrado Coração, sábado passado, dia 24. Ele fez reflexões a partir do documento: ‘Maria, rumo ao novo milênio, publicado pela CNBB em 1998. Irei citar os doze ‘sim’ da Santíssima Virgem no final do texto, mas, até chegar nesse parágrafo, transcreverei minhas anotações do Retiro.
Sabemos que, embora batizados para uma vida na santidade, quase todos reclinam dessa condição e caem nos piores pecados. Com Maria Santíssima não foi assim. Concebida sem pecado original, se tornou a primeira discípula de Jesus, além de a mais pura alma que passou pela Terra, a mais santa e a escolhida do Pai. Para São Lucas, ela é a perfeita discípula, aquela que respondeu sempre: ‘Eis-me aqui, Senhor’. Por isso, Nossa Senhora ocupa um lugar especial na Igreja e, considerando que nossa consciência afetiva está no coração, nós a veneramos ainda mais a cada dia.
Na minha vida, muita coisa aconteceu e mudou para melhor com ela. Eu me chamaria Maria Auxiliadora se nascesse mulher e, desde pequeno, as comunidades que freqüentei foram todas marianas: Fátima, Medalha Milagrosa, Soledade, Agonia e do Sagrado Coração. Minha conversão maior em 1994 aconteceu quando comecei a rezar o terço e coloquei no peito uma medalha de Nossa Senhora.
Todas as curas e grandes graças que alcançamos em família tiveram a intercessão de Maria. E mesmo sabendo que todo poder vem do Altíssimo, sem a ajuda da querida Mãezinha nossa caminhada teria sido mais difícil. Então, faz muito sentido para mim a frase: ‘Tudo por Jesus, nada sem Maria’. Também a música que cantamos nas missas é sempre oportuna: ‘Oh, vem conosco, vem caminhar, santa Maria vem!’.
Quem não perde a devoção em Nossa Senhora é mais feliz, porque somos seus filhos pelo laço da fé e ela é a imagem daquilo que a Igreja quer. E o que mais me ajuda a viver com ela é a perseverança na fé. Caminho sabendo que nunca estou sozinho e posso receber aquela ajuda que mais preciso. Também acredito piamente nos quatro dogmas de Maria: Mãe de Deus, Virgem Santa, Imaculada Conceição e Assunção ao Céu.
Os doze ‘sim’ que disse a Deus fizeram dela a santa maior da Igreja. Eis um pouco daquilo que aprendi e guardo no coração:
O ‘sim da salvação’ na anunciação do anjo, o ‘sim da caridade’ na visita à prima Isabel, o ‘sim da vida’ no nascimento do Filho, o ‘sim da obediência à tradição’ na apresentação do Menino no Templo, o ‘sim do Plano de Deus’ na fuga para o Egito, o ‘sim à família’ na perda e encontro do Filho, o ‘sim da humildade’ ao saber que Jesus disse “minha mãe e meus irmãos são os que fazem a vontade do meu Pai”, o ‘sim da intercessão’ quando pediu vinho ao Filho nas Bodas de Caná, o ‘sim do silêncio’ quando acompanhou Jesus caminhando para o Monte Calvário, o ‘sim de Mãe da Humanidade’ ao acolher aos pés da cruz a vontade de Deus: “Mulher eis aí teu filho”, o ‘sim da felicidade’ ao saber da ressurreição, e o ‘sim de Mãe da Igreja’ em Petencostes.
Eu gostaria de explicar um a um, mas prometi que contaria esta história neste artigo:
Construía-se uma grande catedral e muitos operários se ocupavam dos acabamentos. Um pavilhão fora especialmente preparado para outro importante trabalho – era o atelier dos escultores das imagens.
Um dia, um senhor resolveu penetrar na intimidade daquele recinto e, tendo identificado o mestre escultor, aproximou-se e contemplou o que fazia. Era a estátua de uma figura humana, entalhada em fino mármore. Lá pelas tantas, atreveu-se a indagar:
– Esta é a imagem que irá para o altar-mor?
O escultor voltou-se para ele como quem emergisse de profunda concentração e contestou:
– Não, este é um dos doze apóstolos que serão colocados ao longo do alinhamento mais elevado da cobertura.
– Nesse caso, as imagens ficarão a grande altura do solo e os detalhes jamais poderão ser apreciados! Vale a pena dedicar tanto tempo a isso?
A resposta do escultor veio rápida, encerrando o diálogo com sabedoria:
– Ele verá!
Pois é, caro leitor, mesmo que nem todos saibam de nossa paixão pela Mãe do Nosso Senhor, Ele sabe. A partir disso, Jesus fará florir no deserto da nossa vida. Isso aconteceu com o Padre Júlio Chevalier, que pediu para esculpir a imagem de Nossa Senhora do Sagrado Coração, onde o Menino aponta para a Mãe, como se dissesse: ‘Ela soube como chegar ao meu Coração’.
PAULO ROBERTO LABEGALINI -- Escritor católico, Professor Doutor da Universidade Federal de Itajubá-MG. Pró-reitor de Cultura e Extensão Universitária da UNIFEI
JOÃO CARLOS JOSÉ MARTINELLI - 03 DE MAIO, DIA INTERNACIONAL DA LIBERDADE DE IMPRENSA
Atualmente a Liberdade de Imprensa implica não só na autonomia da informação, como no seu acesso. Tanto que um dos preceitos do Estudo Especial sobre o Direito de Acesso à Informação, documento da Comissão Interamericana de Direitos Humanos (CIDH), órgão da Organização dos Estados Americanos (OEA) dispôs que “o acesso à informação constitui ferramenta essencial para combater a corrupção, transformar em realidade o princípio da transparência na gestão pública e melhorar a qualidade de nossas democracias”.
Em 1993, a Assembléia Geral da ONU – Organização das Nações Unidas proclamou três de maio como o DIA INTERNACIONAL DA LIBERDADE DE IMPRENSA, com base numa resolução da UNESCO que estabeleceu o preceito de que uma imprensa livre, pluralista e independente, é componente essencial de qualquer sociedade democrática. Esta data foi assim designada em homenagem a Declaração de Windhoek para Promover uma Imprensa Africana Independente e Pluralista, aprovada a 3 de maio de 1991 pelo Seminário realizado em Windhoek (Namíbia) sobre o mesmo tema. Trata-se de uma celebração de suma relevância, posto se constituir numa ocasião para relembrar ao mundo o quanto é importante proteger um dos direitos fundamentais da pessoa humana que é a liberdade de expressão.
Na atualidade, prevalece a autonomia de informação, que em sentido amplo, abrange, tanto a aquisição como a comunicação de conhecimentos. Alcança o que, na lição de Aluízio Ferreira, “é o direito de estar informado, independentemente do modo de obtenção da informação (direito à informação), bem assim o direito a ter e compartilhar a informação (direito à comunicação)” (in Direito à Informação, direito à comunicação. São Paulo:Celso Bastos,1997, p.168).
A liberdade de expressão e opinião foi consagrada pelos artigos 10 e 11 da Declaração de Direitos do Homem e do Cidadão, com a vitória da Revolução Francesa: “Nenhum homem pode ser molestado por suas opiniões, incluindo opiniões religiosas, desde que sua manifestação não perturbe a ordem pública estabelecida pela lei”; “A livre comunicação das idéias e das opiniões é um dos mais preciosos direitos do homem; todo cidadão pode, portanto, falar escrever, imprimir livremente, respondendo, todavia, pelos abusos desta liberdade nos termos previstos na lei”. No mesmo sentido, o artigo 19 da Declaração Universal de Direitos Humanos da ONU de 1948, expressamente a agasalhou: ‘Toda pessoa tem direito à liberdade de opinião e expressão; este direito inclui a liberdade de, sem interferências, ter opiniões e de procurar, receber e transmitir informações e idéias por quaisquer meios e independentemente de fronteiras”.
Atualmente a liberdade de imprensa se revela como a de informação por qualquer meio jornalístico, aí compreendida a comunicação e o acesso ao que se informa. Ou seja, preserva-se, de um lado, a perspectiva individual do direito à informação, que dá à liberdade de imprensa ainda uma dimensão de direitos de manifestação do pensamento assegurado ao indivíduo. Mas, de outro, garante-se um direito, que é verdadeiramente coletivo, de acesso à informação. Com efeito, os Estados devem mostrar um maior compromisso em criar, quando não as tenham, “leis que assegurem o acesso à informação como um direito humano, para ajudar a consolidar as democracias nas Américas”. Essa é a recomendação mais importante do Estudo Especial sobre o Direito de Acesso à Informação – um documento de 53 páginas divulgado no dia 27 de agosto de 2007 pela Comissão Interamericana de Direitos Humanos (CIDH), órgão da Organização dos Estados Americanos (OEA).
Por outro lado, de acordo com a comissão MacBride (UNESCO), os pressupostos do direito à informação são: - “direito a saber, isto é, a ser informado e a procurar livremente qualquer informação que deseja obter, principalmente quando se refere à vida, ao trabalho e às decisões que são necessárias adotar tanto individualmente quanto como membro da comunidade. A negativa de comunicar uma informação, ou a divulgação de uma informação falsa ou deformada, constituem uma infração desse direito; - direito do indivíduo transmitir aos outros a verdade, tal como a concebe, sobre as suas condições de vida, as suas aspirações, as suas necessidades e as suas queixas. Infringe-se esse direito quando se reduz o indivíduo ao silêncio mediante a intimidação ou uma sanção, ou quando se nega a ele o acesso a um meio de comunicação; e - direito a discutir: a comunicação deve ser um garante à livre aceitação das ações coletivas e permite ao indivíduo influir nas decisões que tomam os responsáveis”.
A informação é imprescindível ao debate das teorias para reacender a cobrança da ética e esta, não contempla apenas resultados, mas princípios e sem ela, as instituições políticas não se completam, nem atingem seus objetivos constitucionais. A sua autonomia é o núcleo de qualquer sistema democrático, ressaltando-se que a responsabilidade por qualquer expressão divulgada é o sustentáculo de tal premissa. Por isso, a liberdade de imprensa é consagrada constitucionalmente e não deve sofrer quaisquer restrições, a não ser que propositadamente esbulhem outras aspirações humanas fundamentais, como os direitos da personalidade (direito à vida privada, à honra e à imagem).
JOÃO CARLOS JOSÉ MARTINELLI é advogado, jornalista, escritor e professor universitário
CINTHYA NUNES VIEIRA DA SILVA - AMOR DE PAPEL
Desconfio de que eu deva ter, em meu mapa genético, algum pedacinho de material oriundo de uma traça. Nem faço idéia de como isso possa ter acontecido. Não acredito que a origem tenha sido ocasional, acidental, sendo mais provável que seja romântica mesmo. Pelo histórico que conheço de parte da família, dos meus antepassados, o amor pelo papel é algo bem antigo.
Só para não ir muito longe, posso vislumbrar os sintomas disso no comportamento dos meus dois avôs. Um deles, o materno, estudado, assinava jornais, revistas, fazia parte do Clube do Livro e tinha um escritório cheio de todo tipo de papel. Curiosamente, muitos anos depois, eu me vi assinando o mesmo jornal, as mesmas revistas. Meu avô paterno, por outro lado, não tendo tido a oportunidade de estudar muito, seguiu, só meio alfabetizado, lendo o que lhe caía às mãos. Foi com ele que aprendi a amar os gibis, paixão que carrego até hoje.
Falando sobre eles, meu gene meio gente, meio traça, já ativa algum secreto botão nos meus sentidos, e eu posso sentir, como se lá estivesse, os aromas que exalavam dos livros, tanto no escritório de escuros e pesados móveis do pai de minha mãe, quanto da velha estante que ficava em um canto da padaria do pai do meu pai.
Assim como eu, eles pareciam ser seduzidos pelo papel, cada qual na sua medida, na sua forma, mas não duvido de que tudo fosse um mesmo amor, o amor pelas palavras que impressas no papel, propiciavam viagens que só alguns corações sabem fazer.
Tendo descendência de traça dos dois lados da família, é claro que a coisa toda, em mim, potencializou-se. Sou simplesmente louca por papel. Quando eu era criança, mesmo quando não sabia ler ou escrever, eu já me encantava com os cadernos e livros, em seus mais variados formatos. Gosto do cheiro de livro novo, de folhear rapidamente as páginas para delas extrair um aroma que não sei descrever, que não sou capaz de classificar, mas que me traz somente boas recordações. Ainda que possa parecer estranho, essencialmente a alguém tão alérgica como eu, até o cheiro do papel velho me encanta. Entre um milhão e meio de espirros, viajo no tempo, transposta para antigas bibliotecas, para o meio de segredos e histórias aprisionadas entre as linhas, como tesouros escondidos...
O meu encantamento pelo papel me leva ao amor pelas folhas e blocos em branco, nos quais derramo, mentalmente, assim que os vejo, “zilhões” de histórias e estórias. Aprecio os diferentes formatos, cores, texturas e, por um minuto, sinto-me tentada até a experimentar o gosto deles, em um devaneio típico de quem é mestiço de traça...
Sei que, infelizmente, o meu amor pelo papel não é ecologicamente correto. Sinto-me culpada pelas árvores que são derrubadas, por tudo que a natureza perde, mas tenho a esperança de que, um dia, o papel reciclado ganhe força e substitua os demais, ou ainda que somente madeira especificamente plantada para esse fim seja transformada em papel. De toda forma, traça que é traça aprecia a mudança do cardápio e, como tal, acho o papel reciclado simplesmente maravilhoso, detentor de uma beleza e charme únicos.
Sou compradora compulsiva de livros. Gosto de me cercada por eles. Gosto de olhar minhas estantes somente para saber que eles estão por ali, aguardando minha atenção, esperando-me para mais uma viagem, para destinos e aventuras que só posso antever em parte. Tenho dificuldades até de emprestar os meus livros e só o faço para aqueles que sei que os lerão e deles cuidarão com amor. Eu os envio ao mundo, ao deleito alheio, mas vivo deles aguardando o retorno.
Traça que é gente, não mastiga o papel, mas o devora, igualmente, com os olhos, saboreando-o no coração...
CINTHYA NUNES VIEIRA DA SILVA- Advogada, mestra em Direito, professora universitária e escritora - São Paulo
Cfd. ALUIZIO DA MATA - OBRAS DE MISERICÓRDIA
Jesus pediu a Santa Faustina que propagasse a Festa da Divina Misericórdia e que tal festa deveria ser realizada no primeiro domingo depois da Páscoa. Para quem não sabe ou não se lembra, Jesus prometeu que quem se confessasse e comungasse naquela celebração não se perderia, pois Ele iria distribuir uma imensidão de graças e na hora da morte a pessoa encontraria NELE o refúgio necessário para tão terrível momento. E Jesus completou: “É a minha última tábua de salvação dada à humanidade”.
Sei que Ozanam se inspirou nos ensinamentos de Jesus, para fundar a Sociedade de São Vicente de Paulo. E Jesus foi quem melhor praticou as Obras de Misericórdia. Melhor modelo Ozanam não poderia ter.
Se nos lembrarmos das Obras de Misericórdia, tanto as Corporais quanto as Espirituais veremos que elas devem fazer parte do cotidiano do vicentino. Que vicentino não é chamado para praticar as Obras Corporais: “Dar de comer a quem tem fome; Dar de beber a quem tem sede; Vestir os nus; Dar pousada aos peregrinos; assistir aos enfermos; visitar os presos; enterrar os mortos”?
E também praticar as Obras Espirituais: “Dar bons conselhos; Ensinar os ignorantes; corrigir os que erram; Consolar os tristes; Perdoar as injúrias; Sofrer com paciência as fraquezas do nosso próximo; Rogar a Deus pelos vivos e defuntos”?
Cada confrade e cada consócia deveriam na reunião semanal da sua Conferência fazer um exame de consciência para ver se durante a oitava praticaram todas as obras de Misericórdia. Se dermos uma parada agora e meditar sobre as sete Obras de Caridade Corporais e as Sete Obras de Caridade Espirituais, poderemos dizer que as estamos praticando?
É interessante notar que Deus dá a todas as pessoas a oportunidade de praticá-las quando coloca em nosso caminho a nossa família, nossos amigos, nossos conhecidos, e aos vicentinos, em especial, Ele ainda dá os assistidos para que possamos praticar tais virtudes. Cabe um exame de consciência sério. Se conseguirmos praticar algumas dessas Obras, estaremos no caminho certo, mas se praticarmos todas elas estaremos no caminho da santidade. E é isso que Deus quer de cada um de nós.
ALUIZIO DA MATA - Vicentino, Sete Lagoas, Brasil
Sábado, 24 de Abril de 2010
HUMBERTO PINHO DA SILVA - A MINHA CIDADE JÁ NÃO É O QUE ERA
Em anos de juventude o meu passatempo favorito era peregrinar pelo velho burgo portuense: subir íngremes calçadas lajeadas a granito; descer estreitas escadinhas, entaladas em prédios centenários; calcorrear as tortuosas vielas da Sé e antigas ruas bafientas da Vitória.
Não ia só. Como companheiro tinha guapo rapaz: baixo, esbelto e imparável conversador, que informava-me da genealogia das tradicionais famílias tripeiras e seus perdidos ramos em terras do Minho e além Marão.
De companheiro de escola, passou a amigo e confidente, e muitas vezes era ele que me convidava a essas incursões.
Nessa recuada época passear pela cidade era prazer que se cultivava. Os cafés permaneciam abertos até altas horas e os cinemas transbordavam. Os mais remediados, que se declaravam da classe média, recreavam-se deambulando pela baixa, observando vitrinas. Chegava-se a convidar amigos e parentes para esses passeios noctívagos.
Caminhava-se seguro e os guardas eram garantes da tranquilidade.
Ora, como disse, na companhia amiga de Manel Alpendurada, em regra após o almoço, realizava essas visitas de estudo. Era nesse tempo perito em história da cidade. Lia muito Magalhães Basto e Conde d’Aurora.
Arco das Verdades
Casa onde nasceu o Infante D. Henrique
Igreja de S. Nicolau
Entrada da Igreja da Santa Clara
Lembrei-me, hoje, da nossa curiosidade juvenil, ao atravessar o tabuleiro inferior de D. Luís I e topar que a Ribeira renasceu.
Agora está cheia de restaurantes típicos, repletos de turistas; mas então o espaço animava-se de vendedeiras: de peixe, fruta, flores e pano. Sob os arcos haviam mercearias e tasquinhas. Mercava-se: azeitonas, castanha, batata, cerejas de saco e na época própria, o sável era tanto que se oferecia a cinco tostões, peixão capaz de alimentar regimento.
Na velha rua de S. João – quantas vezes a subi com o Mane!, - nesse tempo haviam fortes armazéns. Fardos de bacalhau, sacos de arroz e batata saiam de camionetas, aos ombros de pujantes carrejões.
Todo esse frenético movimento morreu. Os prédios permanecem degradados e o pouco comércio que sobrevive não consegue quebrar o marasmo.
Neste meu recordar tempos que já não são, subi até largo de S. Domingos e entrei na rua das Flores.
Quando era jovem abundavam casas de ferragens e pichelarias. Haviam grandes armazéns e muito oiro. Tudo desapareceu; até a queijaria do Nunes, onde minha mãe adquiria o flamengo, e a Casa do Chã, onde meu pai comprava cem gramas de Ceilão, fecharam.
E sempre ao longo do passeio que realizei para reviver tempos idos, deparei casas delapidadas, abandonadas, desventradas. A baixa portuense encontra-se em ruínas, salvam-se os rés-do-chãos. Alindados pelas lojas, muitas ocupadas por chineses e indianos.
Onde estão os famosos estabelecimentos de outrora? A Casa Forte, a Lãmaria, Armazéns dos Anjos, Singer, Confiança, Simões Lopes e as livrarias Figueirinhas, Tavares Martins e Internacional, onde meu pai permanecia tardes ao redor dos escaparates?
Tudo desapareceu. Tudo se alterou. Outrora a minha cidade era calma, tranquila e acolhedora; ora, violenta, perigosa, deserta após as vinte horas; sem cinemas, sem cafés, sem movimento e quase sem polícia.
Quem hoje se aventura percorrer o velho Porto? Quem tem coragem de sair após o jantar? Quem ainda conserva o costume do passeio dos tristes?
A minha cidade está moribunda. O Porto da minha juventude, rasgado de alegres pregões, bicicletas, ardinas, peixeiras, padeiras, de crianças brincando, já não existe.
Ah que saudade tenho! Saudade do tempo em que o Porto era verdadeiramente tripeiro!
HUMBERTO PINHO DA SILVA - Porto, Portugal
CLARISSE BARATA SANCHES - TEMPOS MODERNOS
A Dona Cortesia era casada;
O marido chamava-se Respeito.
O filho era Gentil, a filha Dada,
No tempo em que isto andava mais direito...
Não se usava mesada ou semanada:
Honrava-se a velhice com mais preito.
Por todos era ela acarinhada
E não havia, não, tanto suspeito…
Família, agora, é só tu cá, tu lá…
O professor ninguém o cumprimenta;
Aprende-se o Inglês… É o que há.
Respeito, Cortesia, Educação
Por mal de tanta “dor”, se não alenta,
Descoram a bandeira da Nação!
Clarisse Barata Sanches - Goís, Portugal
TEREZA DE MELLO - A PULSEIRA
Era uma pulseira que andava sempre metida no braço, usava-a de dia e de noite. Nunca a tirava, fazia parte de mim. Era uma pulseira vulgar de ouro, como muitas outras as que tinha um berloque lindo formado por um grande, rubi rodeado de brilhantes
Naquele ano ao chegar à Ponte da Barca esperavam-me os afazeres do costume e me deixavam de rastos tentando abrir com grandes chaves as arcas todas empenadas onde se guardavam os cobertores das camas, abrir os armários da roupa que cheiravam a mofo tendo atravessado a humidade espessa dos Invernos do Minho, fazer as camas em todos os quartos, na casa de jantar abrir outros armários, tirar as pratas, os vidros, os cristais, colocar a colecção de garrafas antigas no seu lugar habitual uma cómoda com quinhentos anos de vida. Depois destapar os sofás os “maples”, desenrolar os tapetes, enfeitar as mesas com retratos, “bibelots”, objectos de cobre e de estanho, tocheiros etc.
Só no fim descansava exausta de tanto pôr em ordem, enquanto a Micas se encarregava de limpar o pó, de lavar os vidros e as louças, sempre com a sua alegria acostumada, enquanto eu lhe ia perguntando por um ou por outro da vila. Naquele dia de chegada eram as festas de São Bartolomeu e até à casa, pelas janelas abertas, chegavam os sons das concertinas e dos coros dos ranchos que de todas as aldeias em redor afluíam à Barca.
Não resisti e depois do jantar lá fui para a rua juntar-me a todos os que cantavam ou dançavam. Cantei e dancei toda a noite: viras, chulas, canas-verdes, malhões, sempre mais depressa, braços no ar, passos difíceis, voltas e mais voltas e uma alegria interior que me saia pela garganta... toda a noite nisto e que alegria.
Já em casa ao deitar-me vi que não tinha o rubi da pulseira. E logo perdi a alegria que trazia comigo. No dia seguinte de manhã fui falar com as raparigas que varriam as ruas --- conhecia-as todas --- e pedi-lhes que me ajudassem a procurar uma pedra redonda encarnada,” ajudem que é de estimação...” Pedi, implorei, prometi numa compensação ...
Deviam pensar que era tonta, tanta ralação por uma pedrinha que nunca se encontraria no meu da terra, mas queria lá saber! Elas conheciam-me desde pequena e certamente já tinham opinião formada sobre mim, fosse ela boa ou má. Não era o meu pedido que a ia alterar, certamente.
Eu também procurava de olhos fixos no chão, com um pau que afastava as palhas, a terra, as folhas, o lixo. Corri a vila por todos os sítios onde tinha estado e nada, procurar agulha em palheiro era certamente o que andava a fazer, eu sabia isso, mas não era capaz de desistir e ia rezando a Santo António, de quem sou devota, pensando ao mesmo tempo que o Santo não se deveria interessar por um pedido tão material. Mas como sempre me tinha atendido em casos de aflição insistia e dava voltas... Depois voltei para casa e desolada continuei à procura, para ao fim de horas desistir e não me resignar.
Quando regressei a Lisboa fui a um ourives para substituir a pedra, mas era tão caro que desisti e guardei a pulseira para nunca mais a usar. Passaram-se Verões, Invernos e mais Verões, mas, este ano, como de costume ao voltar à Barca repetindo o ritual de sempre das as arcas, dos armários, das roupas, das pratas dos vidros, das louças e das garrafas, ao tirar uma delas toquei numa coisa fria que estava em cima duma prateleira. Pensando ser um bicho de conta morto, peguei num pano e com cuidado tirei – o para fora.
Era a safira que durante todo aquele tempo tinha estado ali bem perto de mim. Santo António ouvira-me, embora tivesse levado muito tempo.
Teresa de Mello – escritora, natural de Lisboa
Terça-feira, 20 de Abril de 2010
PAULO ROBERTO LABEGALINI - OS DOZE "SIM" DE MARIA - PARTE I
Se você tivesse que rezar apenas dez Ave Maria e oferecê-las pedindo ou agradecendo algo, quais seriam suas intenções? Acredito que poderia não ser tão fácil lembrar-se de tudo que considera importante na vida, mas, com tempo para pensar, os critérios para isso brotariam do coração.
Na minha opinião, sentimentos de amor devem permear todas as intenções, permitindo inclusive rezar pelos inimigos – se houver. Nossa Senhora não abençoaria pedidos que contrariam princípios de cristandade; por isso, todo cuidado é pouco nas escolhas dos objetivos das orações.
Minha primeira Ave Maria seria pedindo graças à minha família, não por egoísmo, mas para continuarmos tendo paz, saúde, fé no coração; e melhor servir a Deus. A estes pedidos, certamente acompanhariam outros ocultos: esperança, coragem, emprego, caridade, felicidade etc. Eu colocaria tudo na mesma oração que, de tão fortes palavras, agraciaria muita gente que precisa de paz.
Consciente disso, a segunda eu ofereceria às intenções que guardo escritas em meu oratório. São casos de desempregos, doenças, vícios, pobreza e outros mais. Você já pensou em ter uma lista permanente de nomes aos pés de uma imagem de Nossa Senhora? Sabia que muitas graças podem ser alcançadas assim? Logicamente que a oração não pode faltar, mas evitaria repetições que demandam muito tempo. Considero que rezar uns pelos outros são presentes do Céu!
A terceira Ave Maria seria pelas intenções do Santo Padre, o Papa. Pode parecer estranho uma intenção contemplar outras, porém, nesse caso, eu estaria rezando pela construção do Reino nos corações dos homens. Ninguém sabe mais daquilo que a Igreja precisa do que o nosso querido Pastor, Bento XVI. Ah, só lembrando: eu também sempre rezo pelas intenções de minha mãe, que pede graças para um monte de gente!
A quarta oração seria pela libertação das almas do purgatório. Quantos parentes e amigos podem estar esperando a oportunidade de se encontrar com Cristo! Tais almas não conseguem mais se ajudar, porém, podemos e devemos rezar por elas, principalmente as esquecidas e as que mais precisarem da misericórdia Divina. E, com certeza, todas que ajudarmos a entrar no Céu intercederão a Deus por nós.
Quinta Ave Maria: pelos religiosos, missões e vocações do mundo inteiro. Se a messe está diminuindo é por culpa nossa – faltam orações e valores cristãos nas cabeças das pessoas. É preciso mais joelhos no chão e terços nas mãos para melhorar a força-tarefa da evangelização. Quem foi batizado em nome do Pai, do Filho e do Espírito Santo, pode reclinar do seu compromisso missionário?
A sexta eu rezaria pelas pessoas que sofrem: desempregados, injustiçados, internados em hospitais, viciados, abandonados e incrédulos. Sim, também os incrédulos sofrem, e muito! Mesmo eu não conhecendo todos os sofredores da Terra, Nossa Senhora saberia quem mais precisa de graças e conversões.
Sétima Ave Maria: pelas pessoas que convivo diariamente no trabalho e nas pastorais da Igreja. Também ofereceria a todos os leitores que prestigiam e crescem com as mensagens que escrevo neste jornal, e mais: pediria bênçãos àqueles que rezam por mim. Rogaria à querida Mãezinha que retribuísse com graças o carinho de todos.
Oitava oração: em agradecimento a tudo aquilo que sou, que tenho e que farei. Sei que, se depender da vontade Divina, somente coisas boas virão e fatos ruins não mais voltarão. Aprendi bastante com os erros que cometi e, hoje, aceito melhor o Plano de Deus em minha vida.
A nona Ave Maria eu colocaria na intenção mais urgente que trago no coração e, no momento, pediria perseverança na fé aos cursilhistas que participaram do 20º Cursilho Masculino de Cristandade no final da semana passada. Quem os viu e quem os vê! Na segunda-feira, muitos estavam na Escola Vivencial à noite e transbordavam alegria – são pessoas que receberam mais uma graça na vida. Como nos disse o Pe. Edvaldo naquela noite: graça é um presente fora de hora; mesmo não merecendo, é um grande favor que vem exclusivamente pela bondade de Deus.
Completando a dezena, rezaria a última pelos assistidos da Sociedade São Vicente de Paulo no mundo inteiro. São centenas de pessoas que dependem de outras para sobreviver. Para quem não sabe, o vicentino serve Jesus Cristo na pessoa do pobre e se santifica pela obra de caridade. É preciso muito amor no coração e muita ajuda do alto para dar conta de milhares de miseráveis por toda a parte. Uma Ave Maria é pouco pra tanta gente, mas a intenção é que vale.
E quem estará acolhendo cada continha de um mistério do terço será nossa maravilhosa Mãezinha do Céu, que disse os ‘doze sim’ na história da humanidade. Sobre isto escreverei no próximo artigo, mas encerro este dizendo que agrada muito o Senhor louvar Nossa Senhora. Ele que tudo sabe e tudo vê, conhece bem o coração daquele que ama a filha de Deus-Pai, a mãe de Deus-Filho e a esposa do Espírito Santo.
A historinha que faltou hoje também estará na continuação deste texto. Até lá.
PAULO ROBERTO LABEGALINI -- Escritor católico, Professor Doutor da Universidade Federal de Itajubá-MG. Pró-reitor de Cultura e Extensão Universitária da UNIFEI
MARIA CRISTINA CASTILHO DE ANDRADE - SINAIS DA PÀSCOA
A moça chegou de mansinho na reunião da Pastoral da Mulher e, ao final, me perguntou se poderia ficar. Contou-me um pouco de sua história. Pergunto sempre de onde veio, porque me interesso pelas paisagens que as pessoas guardam sob as pálpebras, comumente tão diferentes das minhas. Interesso-me pelos olhos porque, embaçados ou não, são janelas que traduzem profundidades com dores e amores.
Nasceu em Buíque, Pernambuco, onde Graciliano Ramos viveu parte de sua infância. Município com economia baseada na pecuária leiteira e na agricultura. Buíque do Vale de Catimbau, que é o maior parque e o terceiro sítio arqueológico indígena do Brasil, atraindo estudiosos, turistas e adeptos dos esportes radicais. Uma terra de imensa beleza histórica, geográfica e cultural. Chapadões, vales, encostas, caatinga e matas estendem-se pelo parque de ecoturismo e as formações geológicas apresentam os mais diversos tipos e cores de arenito. Existem, dentro de sua área, perto de duas mil cavernas e 20 cavernas-cemitérios conhecidas, tendo uma variedade de inscrições e pinturas rupestres em diversos sítios.
Ela, contudo, apesar de trazer essas imagens todas de encanto, desejava conhecer São Paulo, aonde chegou aos 20 anos, em viagem de caminhão com um tio. Era somente para passear, mas, de imediato, conseguiu emprego que não teria em sua cidade natal. Logo em seguida, enlaçou-se com um cidadão que mais tarde constatou ser dependente químico com reações violentas, sem desejo de mudanças. Foi nesse período que se desequilibrou e caiu no comércio do sexo. A vontade maior, quando criança, sobre a qual não costumava falar com a família, já que precisava ajudá-los financeiramente, foi encoberta pela dureza e amargor do uso/abuso da venda do corpo.
Não sei por quantos anos foi assim. Está agora por aqui e lhe disseram das reuniões da Pastoral da Mulher. Integrou-se, apesar da distância do sonho de infância, para se sentir bem, cantar, rezar e ouvir a Palavra. O sonho declarou: quando pequena ansiava por ser religiosa. Está de volta à Igreja para se colocar na vontade de Deus.
Um detento manda, pela companheira, recado urgente da cadeia. Não quis aguardar a visita da Pastoral Carcerária no sábado. Quer saber se deve contar, ao Juiz, a verdade toda de seu delito. Pede a opinião e uma Palavra. Sem dúvida não deve mentir. “A verdade vos libertará”, diz o Senhor. Livre da falsidade, conseguirá reconstruir seus caminhos.
Sinais da claridade da manhã da Páscoa! E a Páscoa em plenitude poderemos viver, cada uma e cada um de nós, se tivermos a coragem de entrar nas trevas de nosso eu, rolarmos as pedras do coração e olharmos para o sepulcro de nossas entranhas com a lápide removida. Sem dúvida, nessa experiência, a nossa vida será como a de Maria Madalena: anúncio de que vimos o Senhor.
Feliz Páscoa, querida leitora, querido leitor, com a presença do Cristo ressuscitado.
MARIA CRISTINA CASTILHO DA ANDRADE- É coordenadora diocesana da Pastoral da Mulher e autora de “Nos Varais do Mundo/ Submundo” –Edições Loyola
Cfd. ALUIZIO DA MATA - ANIMAIS DE ESTIMAÇÃO
Nós costumamos criticar o assistido por fazer coisas que fazemos e por
ter o que temos.
Criticamos por ele ter o vício de fumar, mas muitos de nós também
temos esse vício. Costumamos criticar o assistido por ele criar um
cachorro em casa quando nós temos, às vezes, até mais de um em nossa
casa.
Não nos interessa saber se é cachorro de estimação de alguma criança
ou mesmo de algum adulto. Só sabemos que é mais uma despesa para a
Conferência.
Não deixa de ser verdade, mas a maioria de nós possuímos também
animais de estimação. E não achamos que o que gastamos com eles seja
um desperdício.
Há muitas histórias envolvendo cães, considerado o melhor amigo do
homem e um dos mais fiéis. Na televisão e nos jornais, de vez em
quando, vemos notícias contraditórias sobre eles. Umas falam de
animais quer atacaram adultos ou até crianças. Outras nos relatam atos
heróicos dos cães que salvaram alguém, correndo o risco até de morte.
E vocês devem conhecer alguns bem interessantes. Sabemos de casos de
cães que eram alegres e brincalhões e que se entristeceram quando
sentiram que os seus donos haviam morrido.
Cada caso é um caso.
Na minha família, para ficar só no exemplo de casa, sempre tivemos
animais de estimação. Meus filhos e meus netos os têm. Eu, por
exemplo, quando ainda solteiro, tinha uma maritaca que sabia a hora
que eu ia chegar para almoçar e descia do seu poleiro e andava até a
porta por onde eu iria entrar. Ela associava minha chegada ao apito de
uma fábrica que havia perto da minha casa e que soava avisando o
horário do almoço. Eu a pegava colocava-a no ombro e ela só descia
quando eu voltava ao trabalho. Um insano a matou, sem mais nem menos.
Imaginem a minha tristeza.
Tivemos em nossa casa inúmeros cães e cadelas, mas quero contar o caso
de apenas uma. Inicialmente os cães eram cachorros perdigueiros, isto
é, que sabiam caçar perdizes. Isto foi há muito e muito tempo.
Essa, a qual me refiro, era chamada de Diana, uma cadela perdigueira,
talvez a melhor que o meu pai já tivera e a qual ele tratava como se
fosse alguém da família.
Lembro-me de três fatos acontecidos que a envolveram.
No primeiro, meu pai estava caçando com alguns amigos e ele e a Diana
deles se afastaram. Passado algum tempo, os amigos estranharam a
demora da sua volta e ouviram o latido estridente e contínuo da Diana.
Correram seguindo a direção de onde vinham os latidos e acharam meu
pai caído. Ele tinha sofrido um princípio de enfarte. Levaram-no
apressadamente par a camionete e depois para o hospital. Foi o tempo
suficiente para salvá-lo.
De outra feita, estava o mesmo grupo de amigos caçando em outro
município, bem longe de onde moravam.
Por circunstâncias que ninguém sabe, a Diana se perdeu no meio dos
grotões. Todos a procuraram, mas não a acharam e nem ouviram os seus
latidos. Depois de muitas horas de procura em campos e grotões
vasculhados, resolveram ir embora, contra a vontade do meu pai. Foi a
primeira vez que vimos lágrimas nos olhos dele por causa da Diana.
Umas semanas depois, eis que a Diana aparece em nossa casa, magérrima,
toda ferida, sedenta, mas balançando o rabo de alegria de rever a sua
gente. Foi a segunda vez que vimos lágrimas nos olhos do meu pai, por
causa daquela cadela de estimação.
A Diana era de uma docilidade difícil de acreditar que existisse.
Eu, irmão do meio, e mais seis meninos e meninas “pintávamos e
bordávamos” com ela. Ela era o “cavalinho” dos irmãos menores. Os
maiores brincavam de lutar com ela, rolando no chão do quintal.
Um dia ela teve uma briga com um cachorro que apareceu lá pelas bandas
da nossa casa. E ela for mordida. Onde morávamos não havia vacinas de
prevenção contra a raiva. Passados alguns dias ela começou a ficar
estranha, rosnava por qualquer coisa, negava-se a beber água. Começou
a babar. Meu pai não teve dúvidas de que ela estivesse hidrófoba e
tentou de tudo para tratar dela, mas não houve jeito.
Ele, então, teve que tomar a decisão que acho ter sido a mais dolorosa
de sua vida. Levou-a para bem longe da nossa casa e a matou com um
tiro de espingarda. Ele não aquentava vê-la sofrer tanto. Foi a
terceira vez que vimos meu pai chorar.
De uma coisa tenho certeza: o animal que é amigo é amigo de fato. Quem
dera que todos os racionais fossem assim também.
Da próxima vez que você for visitar o seu assistido, não implique com
os animais que lá encontrar, pois podem ser a maritaca ou a Diana que
o faz feliz. E, quem sabe, a única alegria que ele tenha seja seu
animal de estimação!
Teremos direito de negar isso a ele?
ALUIZIO DA MATA - Vicentino, Sete Lagoas, Brasil
CINTHYA NUNES VIEIRA DA SILVA - À PROCURA DA FELICIDADE
Sempre que escuto a frase que usei, em empréstimo, para esse texto, a primeira lembrança que me ocorre é a do filme homônimo. Em linhas gerais, a história real de um pai e um filho pequeno que, juntos, passam por péssimos bocados antes de chegarem até um ponto onde a tão buscada felicidade pudesse ser tocada, saboreada.
Fico, assim, pensando se de fato a felicidade é um porto de chegada ou de partida. A gente busca a felicidade para lá se aninhar, para lá ficar, ou para de lá partir, para ser mais feliz, mais pleno de vida, de satisfações?
Quando eu era criança, amava as estórias de fadas, dos mundos encantados nos quais, fosse como fosse, passasse a princesa pelas agruras mais terríveis, pelos monstros mais apavorantes, no fim, tudo sempre acabava bem, ficando todos, à exceção dos maus, felizes para sempre.
Ao conhecer o mundo dos adultos, não pude deixar de me sentir assim, digamos, ligeiramente enganada. Não precisou muito para eu constatar que o tal final feliz é uma grande de uma lorota. Não que não exista felicidade, não é isso. Não sou uma pessimista ou uma desiludida da vida, nada disso. Ao contrário, acredito na felicidade, mas não acredito é em finais. A felicidade não é um porto de chegada, mas só uma parada, às vezes breve. Nada impede que lá se volte várias vezes, mas lá não se admite moradores, só hóspedes.
Não vou entrar aqui em questões da felicidade como um Nirvana, como algo a ser esperado em outra vida, outro plano, sei lá. Para isso me falta não só conhecimento, mas convicção para discutir. Questiono é a felicidade terrena, aquela musa que desejamos conhecer, explorar, desbravar e aprisionar.
Muita gente passa a vida toda em uma procura incessante, perseverante, no intuito de alcançar a felicidade, como se ela fosse algo que, em velocidade superior, sempre estivesse à frente, quase inatingível. Agem como se o percurso nada representasse, como se a estrada para a felicidade já não fosse uma espécie de preliminar, de preparação. Desperdiçam, assim, o prazer pelas pequenas e sutis coisas, a alegria de simplesmente ser.
È claro que algumas vidas são vitimadas por tantas desgraças, por tantos problemas, que parece impossível, quase utópica, a idéia de que possam ser, apesar disso tudo, felizes. Curiosamente, boa parte das pessoas mais lucidamente felizes que conheci, foram pessoas sofridas. Pessoas que tinham tudo para desprezar o mínimo, para ignorar o pouco, mas que encontraram nas sutilezas, razões maiores para viver.
Não acredito, portanto que a vida contemple finais felizes. Há pessoas mais felizes do que outras, isso é verdade, mas desconfio que as mais felizes entenderam o que as menos felizes ainda não foram capazes. Estou, assim, convicta, de que a luz no fim do túnel não é o final, mas sim o começo. A vida nos proporciona oásis, ilhas de conforto, momentos de plena satisfação, mas sempre haverá pedra a ser retirada, obstáculo a ser vencido, perdas a superar.
Como a maioria das pessoas, desejo a felicidade, porém não aquela que sobrevenha no fim tão somente. Quero ser capaz da alegria no que é ordinário, no que é cotidiano. Não quero viver à procura da felicidade, como se tudo o mais não fizesse sentido. Não quero abreviar o meu caminho, esquecendo-me da delicadeza da viagem. Sobretudo, que eu possa, em cada parada, reconhecer a felicidade de cada hora.
Pior do que ser infeliz, creio, é não se saber feliz...
CINTHYA NUNES VIEIRA DA SILVA - Advogada, mestra em Direito, professora universitária e escritora - São Paulo