Por motivo de férias, como tem acontecido nos anos anteriores, não será actualizado o blogue durante o mês de Agosto.
Após dez dias de convivência diária, minha netinha de quase três anos, Luísa, foi embora para sua casa no Paraná. Ela é muito apegada a mim e, por estar de férias, eu passava o dia todo com ela. Agora a saudade bate forte no peito e, há pouco, quando liguei pra ela, ouvi coisas assim: ‘Vovô, conta uma historinha pra mim?; Você compra balinha pra me dar?; Eu te amo, vovô!’
Emocionado por pensar nela e com vontade de vê-la novamente, fui olhar algumas ‘coisas de criança’ na internet e vi relatos engraçados que foram publicados na revista ‘Pais e Filhos’.
Primeiro: Uma menina estava assistindo aula e sua professora disse que era impossível uma baleia engolir um ser humano porque, apesar de ser um mamífero muito grande, sua garganta é pequena. Mas, a menina insistiu que a Bíblia relata que Jonas foi engolido por uma baleia. Irritada, a professora repetiu que a baleia não pode engolir nenhum ser humano. A menina, então, disse:
– Quando eu morrer e for ao céu, vou perguntar a Jonas.
A professora questionou:
– E o que vai acontecer se Jonas tiver ido para o inferno?
A menina respondeu:
– Aí a senhora mesma pergunta.
Segundo: Uma professora de creche observava as crianças de sua turma desenhando. Quando chegou perto de uma menina que trabalhava intensamente, perguntou o que desenhava. Ela respondeu:
– Estou desenhando Deus.
A professora contestou:
– Mas, ninguém sabe como é Deus!
Sem levantar os olhos de seu desenho, a menina respondeu:
– Saberão dentro de um minuto.
Terceiro: Uma menininha de sete anos admitiu calmamente a seus pais que Luis Miguel havia lhe dado um beijo depois da aula.
– E como aconteceu isso? – perguntou a mãe assustada.
– Não foi fácil, mamãe, mas três meninas me ajudaram a segurá-lo.
Quarto: Certo dia, uma menina estava sentada observando sua mãe lavar os pratos na cozinha. De repente, percebeu que a mãe tinha vários cabelos brancos que sobressaíam na sua cabeleira escura. Olhou para ela e lhe perguntou:
– Por que você tem tantos cabelos brancos, mamãe?
– Bom, cada vez que você faz algo de ruim e me faz chorar, um de meus cabelos fica branco – respondeu a mãe.
A menina, então, logo disse:
– Mãe, por que todos os cabelos de minha avó estão brancos?
Quinto: Um menino de três anos foi com seu pai ver uma ninhada de gatinhos que tinham acabado de nascer. De volta à casa, contou à mãe que havia gatinhos e gatinhas.
– Como você soube disso? – perguntou a mãe.
– Papai os levantou e olhou por baixo. Acho que ali estavam etiquetas escritas.
Sexto: Todas as crianças haviam saído na fotografia e a professora estava tentando persuadi-los a comprar uma cópia da foto do grupo:
– Imaginem que bonito será quando vocês forem grandes e disserem: ‘Ali está a Catarina, é advogada!’; ou também: ‘Este é o Miguel, médico’.
Ouviu-se uma vozinha vinda do fundo da sala:
– E ali está a professora. Ela já morreu!
Continuando a pesquisar na internet, eis o que achei:
Perguntaram a uma menina de cinco anos o que ela gostaria de ser quando crescesse. Ela respondeu:
– Gostaria de ser avó, porque os avós escutam e compreendem a gente. Além do mais, a família se reúne inteirinha na casa deles. Minha avó, por exemplo, é uma mulher velhinha que não tem filhos, mas gosta dos filhos dos outros. Meu avô leva a gente para passear e conversa sobre pescaria e outros assuntos parecidos.
E continuou:
– Os avós não fazem nada e por isso podem ficar mais tempo com a gente. Como eles são velhinhos, não conseguem rolar pelo chão ou correr, mas não faz mal. Levam-nos ao shopping e nos deixam olhar as vitrines até cansar. Na casa deles tem sempre uma mesa cheia de coisas gostosas! Passeiam conosco mostrando as flores, ensinando seus nomes, fazendo-nos sentir seu perfume. Avós nunca dizem ‘depressa, já pra cama!’ ou ‘se não fizer logo, vai ficar de castigo’.
E não parou por aí:
– Quase todos usam óculos e eu já vi uns tirando os dentes e as gengivas. Quando a gente faz uma pergunta, os avós não dizem ‘menina, não vê que estou ocupado?’. Eles pensam e respondem de um jeito que a gente entende. Não falam com a gente como se fôssemos bobos, nem se referem a nós com expressões tipo ‘que gracinha!’, como fazem algumas visitas. O colo dos avós é quente e fofinho, bom da gente sentar quando está triste. Todo mundo deveria tentar ter um avô ou uma avó, porque são os únicos adultos que têm tempo suficiente para nós.
Bem, acho que chega. É melhor rir para não chorar.
PAULO ROBERTO LABEGALINI -- Escritor católico, Professor Doutor da Universidade Federal de Itajubá-MG. Pró-reitor de Cultura e Extensão Universitária da UNIFEI
A Igreja celebrou, no último dia 22 de julho, a festa de Santa Maria Madalena – Maria de Mágdala, Miriam de Mágdala -, mencionada dentre os discípulos de Jesus Cristo, que mereceu ser a primeira a vê-Lo vivo para sempre na madrugada da Páscoa (Mc 16,9) e cujo culto difundiu-se, sobretudo, a partir do século XII.
A teóloga italiana, Lilia Sebastiani, em seu livro: “Maria Madalena – De Personagem do Evangelho a Mito de Pecadora Redimida” – Editora Vozes – 1995, distingue as outras duas mulheres que costumavam fundir nela: Maria de Betânia e a pecadora, de cabelos longos, que lavou com lágrimas os pés de Jesus. O teólogo e sacerdote ortodoxo Jean-Yves Leloup, no livro “Jesus e Maria Madalena – Para os puros tudo é puro” – Editora Vozes – 2007 -, citando os estudos de alguns exegetas, não estabelece essa diferença. Acredita ser a mesma e que, em cada uma de suas fases, no período de convivência com Jesus Cristo, se manifesta uma metamorfose do desejo e um novo semblante de mulher: a penitente que chora aos pés do Mestre (Lc 7, 36-40), a contemplativa que, em Betânia, irmã de Marta e Lázaro, detém-se para ouvi-Lo (Lc 10, 38-40) e a que O segue, juntamente com os doze e algumas outras mulheres (Lucas 8,1-3).
Sabe-se a respeito de Maria Madalena, uma mulher excluída, que era “possessa” e pecadora. Dela, Jesus expulsou sete demônios. Para São Gregório Magno, como com os sete dias se entende o conjunto do tempo, assim, com o número sete se representa justamente a totalidade. Maria teve, portanto, sete demônios, no sentido de que foi repleta de todos os pecados. Os demônios são entendidos, em sentido moral, como emblema dos sete pecados capitais e, portanto, do pecado na sua globalidade.
A libertação dos demônios, que a aprisionavam, tornou-se salvação integral, mudança de vida. Entendeu que tudo aquilo que não é assumido não é salvo e que a conversão, conforme São João Damasceno, é o retorno do que é contrário à natureza, para o que lhe é próprio.
No contato com Jesus Cristo, tomou para si a grandeza do projeto humano, seu sentido, sua beleza e também suas exigências. Constatou o que concluiu Nietzsche: “No verdadeiro amor, a alma é que envolve o corpo”. Com Jesus aprendeu o que é a castidade: respeitar o outro como sujeito, sem transformá-lo em objeto de fruição ou de consumo e a felicidade: algo de sagrado, ter Deus no Espírito. Crescida no espírito, teve com Jesus um relacionamento discipular, uma intimidade afetiva, intelectual e espiritual.
Em e por Jesus Cristo, enfrentou as suas desconfianças e os seus medos. Aproximou-se do Santo por excelência. Assumiu-se como pecadora, sem se justificar nos outros. Mudou de olhar e se salvou de sua ignorância, de seu esquecimento do Ser, de onde ela viera, para onde ela iria, tornando-se livre de seus apegos e de suas identificações com o que ela não era realmente. Seguiu-O até a morte sobre a cruz e a sepultura, no momento em que todos os discípulos homens, com exceção de João, fugiram. Cuidou de Jesus, fazendo-se presença, no momento em que Ele parecia abandonado. Ele que cuidara dela no sofrimento e na precariedade, que viera para os de coração e alma doentes, que não se importava ao falarem que Se sentava à mesa com os pecadores. Diante dos seres celestiais, quando voltou ao túmulo do Senhor, teve medo, mas não se afastou.
A teóloga Sebastiani afirma, em suas conclusões, que, para Jesus Cristo, toda salvação não pode ser senão um fato de reciprocidade. Iacopo de Varazze (Arcebispo de Gênova – 1229-1298), autor do livro “Legenda Áurea”, coloca, dentre as razões de Jesus ter aparecido a ela, antes do que aos outros: ela o amava ardentemente e para mostrar que morreu pelos pecadores. Maria Madalena não identificara Jesus ao vê-Lo, mas O reconheceu quando a chamou pelo nome. Ouviu o chamado e se tornou testemunha da Ressurreição. Afrontou o revés, o absurdo e a morte. Olhou de frente a perda, inclinou-se no túmulo e constatou que estava vazio. E seu amor, mais forte do que a morte, possibilitou o reencontro com seu Mestre ressuscitado.
Em Maria Madalena, a certeza de que excluir não é de Deus e um viva ao verdadeiro Amor, que só e possível possuir ao ser doado!
MARIA CRISTINA CASTILHO DE ANDRADE - É coordenadora diocesana da Pastoral da Mulher/Casa Maria de Mágdala e autora de “Nos Varais do Mundo/ Submundo” –Edições Loyola.
Nas décadas que vou colecionando de vida, aprendi algumas lições que reputo valiosas. Uma delas, sem dúvida nenhuma, é que ser chefe é algo difícil. Muitas vezes, passamos pela vida acalentando o desejo de ocupar funções de chefia, isso nas mais variadas áreas de trabalho. De minha parte, experimentei esse “lugar na cadeia alimentar” e posso dizer que, ainda que tenha suas compensações, também apresenta um lado que de ordinário só se torna conhecido na prática.
Antes de completar trinta anos, tive a chance de assumir um cargo de comando. Já de início, embora o salário fosse tentador, fiquei com um certo receio, eis que era algo novo. Até porque o desafio me provocou, acabei aceitando e, de um dia para o outro, tornei-me chefe de mais de trinta pessoas. É óbvio que eu tinha medo de errar, de enfiar os pés pelas mãos, de cometer injustiças, de ser ingênua ou rigorosa demais.
Durante seis anos eu desempenhei a função e embora toda minha boa intenção e cautela, acho pouco provável que eu não tenha cometido injustiças, erros, que não tenha magoado colegas e colecionado um rol de desafetos. Para minha alegria, também fiz amigos, muitos dos quais conservo até hoje, mais de três anos após ter deixado a chefia. Foi uma experiência ímpar, rica em todos os sentidos, mas igualmente desgastante e assustadora.
Dias desses, soube que me sondavam para outra chefia, dentro da mesma área, embora em outro lugar. Senti uma forte náusea quando ouvi a quase proposta, mas nem soube explicar direito, racionalizar, as razões pelas quais eu de pronto disse: _ Nem pensar!!!
O salário era bom e a perspectiva de trabalho também, mas eu me senti tomada por uma sensação que mais posso descrever como nó no estômago. Se por um lado eu me sentia honrada pelo fato do meu nome surgir em meio aos de outras pessoas muito capacitadas, por outro, após uma reflexão, concluí que há tormentos que só um chefe pode conhecer:
1. Nunca se pode dimensionar a quantidade de bajuladores que há em um ambiente de trabalho;
2. Gente que nunca dantes olhara na sua cara, passa a tratá-lo com uma atenção incrível;
3. Ser chefe é passar de amado a odiado a cada não que se tem que dizer;
4. Ser chefe é receber um monte de presentes e não ter a certeza das razões pelas quais os ganhou;
5. Ser chefe é ter que demitir gente que se contratou e gente que foi contratada antes de você sequer fazer parte da empresa;
6. Ser chefe é ter que demitir um pai de família quando a empresa determina cortes;
7. Ser chefe é descobrir que não gostam tanto de você quanto você pensa e não conseguir descobrir que gostam mais do que você desconfia;
8. Ser chefe, muitas vezes, é ter que chamar atenção de amigos e saber que se corre o risco de magoá-los;
9. Ser chefe, outra tantas vezes, é não poder contratar um amigo ou o filho dele;
10. Ser chefe, vezes sem fim, é ser idiota ao ponto de achar que se sabe muito, quando não se sabe nada;
11. Ser chefe é ser responsável por escolhas dos outros, por mais estranho que isso possa parecer;
12. Ser chefe é se surpreender por ser magoado por mais se ajudou ou protegeu, mas é também desapontar as pessoas;
13. Ser chefe é saber que há uma hora para se deixar de sê-lo, antes que seja tarde demais;
14. Ser chefe é ter que lidar com o fato de que sempre vão achar que você ganha muito mais do que realmente ganha;
15. Ser chefe é se perguntar o que de fato um chefe deve ou não deve fazer;
16. Ser chefe é entender que nem sempre se tem razão e ter humildade para se reconhecer isso diante de outras pessoas;
17. Ser chefe é se preocupar com o trabalho próprio e com o alheio;
18. Ser chefe é saber que, vez ou outra, você será o assunto, mas não será chamado a dar opinião;
19. Ser chefe é ser questionado, é ser requisitado, é torcer para nunca descobrir o apelido que te deram...
20. Ser chefe é saber que esperam que você dê soluções, que não erre, que ajude, que esteja sempre de bom humor, que não deixe dúvidas, mesmo se você estiver no meio de muitas delas...
Eu penso que ainda poderia enumerar tantas outras “peculiaridades” da vida de um chefe, mas até isso me deixa apreensiva. Apesar de tudo isso, gostei da experiência. Sinto que ainda estou fadada a vivê-la novamente, até porque, a contradição, sobretudo, parecer ser a sina de quem se aventura a chefiar outras pessoas...
CINTHYA NUNES VIEIRA DA SILVA- Advogada, mestra em Direito, professora universitária e escritora - São Paulo
Ao receber matéria sobre os benefícios medicinais do uso do mel das abelhas que me fora enviada pelo amigo Humberto Pinho da Silva, editor do Blog "PAZ" http://solpaz.blogs.sapo.pt/ , figura presente em vários jornais, especialmente nas páginas quinzenais do “Maria da Fonte”, da região norte de Portugal, lembrei-me de pronto das histórias que minha mãe me contava sobre seu Tio, o Padre e apicultor. JOSÉ CARLOS VALLE REGO.
O Tio padre fora um homem que, embora um religioso, não abdicara das origens, onde o cultivo da terra era a atividade principal dos que o antecederam bem como de seus pais, Francisco Morgado e Laurinda, explorando-a de todas as maneiras, tornando-se inventor de vários equipamentos que facilitavam o trabalho da lavoura e da irrigação da terra.
A criação das abelhas e o cultivo do mel não escaparam ao seu interesse, vindo a tornar-se autor de livro, cujo comentário me foi dedicado por outro amigo já falecido e também articulista do Jornal Maria da Fonte, o CREMILDO PEREIRA.
Em carta que ele me escreveu com data de 20 de fevereiro de 1987 publicada no “Maria da Fonte” edição Nº 2995 (20.02.1987), assim falou:
“ .... O Morgado de Trástola, do seu casamento com Laurinda, teve alguns filhos, entre os quais o padre José Carlos Valle Rego ........ Se os meus prezados leitores se recordam, nos meus comentário de 19 de julho de 1985, dava conta da personalidade do padre José Carlos, considerando-o como “um homem para além do seu tempo a propósito de um artigo que tinha publicado em 24 de maio anterior, apresentando-o como “o padre de Gerás, apicultor.
Posto isto, nada mais poderia acrescentar, se não tivesse registrado uma circunstância em condições muito curiosa. Um velho amigo, residente na África do Sul, que me visita sempre, .... além de sua atividades profissionais, dedica-se a muitas outras ... Contou-me da última vez que esteve comigo que quando viveu nos arrabaldes de Joanesburgo, numa habitação que dispunha de um bom quintal, dedicou-se à apicultura, fazendo muitas experiências quanto à seleção de abelhas e ao apuramento de méis de várias qualidades
Sendo uma ocupação bem diferente da sua formação acadêmica, perguntei-lhe como tinha obtido os conhecimentos necessários. Qual o meu espanto, quando me disse que a conselho de amigos agricultores sul-africanos, se tinha orientado por um livro do Padre José Carlos Valle Rego, a obra que goza do maior crédito naquelas paragens. Seria possível que o trabalho do abade duma aldeia minhota, publicado em 1905, tivesse tanto valor, cerca de 80 anos depois e nuns pais em que a apicultura está avançada.
Ninguém me soube dizer como o livrinho tinha surgido por lá e de se fizeram traduções das partes mais interessantes nas línguas africanense e inglesa.
Durante as pesquisas que faço na Biblioteca Nacional de Lisboa, lembrei-me de procurar a obra do abade de Gerás. Encontrei-a”. Tem o título de “ÐOIS ANOS DE APICULTURA” e contem uma interessante mensagem “ao leitor”, com data de 9 de novembro de 1904. Foi impressa na Tipografia A. F. Vasconcellos, Suc., em 1905, instalada na Rua de Sá Noronha, 51, no Porto.
Evidente que muito gostaria de possuir um exemplar.
A obra aparece citada em longo trabalho que trata da relação do homem com a abelha melífera assinado por Teresa Soeiro, “EM BUSCA DO DOCE SABOR”. http://ler.letras.up.pt/uploads/ficheiros/5669.pdf - REGO, Jose Carlos Valle, como obra consultada, em entre outras.
Agradeço ao amigo Humberto Pinho da Silva por ter-me despertado para rever esta matéria, muito mais longa, mas ora apresento em resumo, para curiosidade de muitos amigos e parentes, principalmente primos e primas residentes em França e Portugal.
Antônio J. C. da Cunha – Duque de Caxias.Natural da Freguesia de Geraz do Minho (Portugal)
Para se obter a vida eterna cumpre amar a Deus e ao próximo como a si mesmo, conforme ensinou Jesus (Lc 10,25-37). A caridade para com os outros deve ser sobrenatural, ou seja, praticada, vivida em função de Deus. É que todos os homens foram criados à imagem e semelhança do Ser Supremo. Sem esta raiz que se imerge na eternidade e vai até o amor increado, os sentimentos que unem as criaturas racionais não passam de mera filantropia. Seriam então epidérmicos e não resistiriam aos ventos perniciosos do egoísmo. A caridade deve ser sobrenatural na sua origem, em seu objeto, em seus motivos, no seu exercício e no seu fim último. Sobrenatural na sua origem, pois a verdadeira dileção flui de Deus e nasce nos corações fiéis por inspiração do Espírito de Amor, Terceira Pessoa da Santíssima Trindade. Eis por que não há dois amores diferentes: um ao Criador e outro à criatura racional. Há, somente, uma única dileção que se difunde do Ente Supremo, amado sobre todas as coisas, e se irradia daí no afeto aos irmãos, imagens vivas deste mesmo Deus. Aí está a razão pela qual é um erro alguém asseverar que ama a Deus, mas não o próximo. São João expressou esta verdade em termos claros e sumamente pedagógicos: “Se alguém disser: ‘Amo a Deus’, mas odeia o seu irmão é um mentiroso: pois quem não ama seu irmão a quem vê, a Deus, a quem não vê, não poderá amar” (1 Jo 4,20). Em conseqüência, a caridade é sobrenatural no seu objeto. Todo homem foi criado à imagem e semelhança de Deus e cada cristão é um templo vivo da divindade, purificado que foi nas águas batismais, ungido com o óleo da crisma, alimentado pelo pão eucarístico, regenerado tantas vezes pelo perdão divino no Sacramento da Penitência, co-herdeiro da mesma glória da Jerusalém celeste. São Paulo, aliás, contemplava na Eucaristia o sinal desta unidade cristã ao colocar esta questão aos Coríntios: “Visto que há um só pão nós, embora muitos, formamos um só corpo, porque participamos todos dum só pão” (1 Cor 10,17). O que move o fiel a amar, deste modo, os que o rodeiam e a todos os homens são motivos de ordem também sobrenatural. Todo amor, realmente, toda simpatia, todo afeto, inclusive qualquer benefício para com os outros, não é, em si, necessariamente o amor pregado por Cristo. Este depende das intenções que levam a todas estas louváveis posturas. Amar e ajudar alguém porque nos agrada, nos presta serviços, nos pode ser útil, não é a autêntica caridade. A caridade paira muito mais alto. Trata-se de ultrapassar as alianças naturais para, através do dom da Ciência, sobrenaturalizar tudo, fazendo inclusive daquilo que é fácil e agradável um ato revestido da luz divina. O cristão está, então, sempre a repetir em tudo: “Coloquei minha vida a serviço do próximo e o próximo é Jesus Cristo”. Este mostrou que “os filhos deste século são mais prudentes com sua geração que os filhos da luz” (Lc 16,8). De fato, é sabedoria celestial transformar todas as atividades em atos meritórios via amor, porque quer queiramos quer não, tudo que se faz é sempre um serviço que se está prestando ao outro. É esta mentalidade que não apenas conduz a atos heróicos para com os desafetos ou para com aqueles com os quais nenhuma força extrínseca justificaria os gestos de compreensão, préstimos ou afeição, mas também leva à eficiência no labor diário, pois este é então feito em função de Jesus. O cristão, realmente, transforma, santifica, eleva, diviniza todas as suas posturas. Eis por que, além de tudo isto, é benigno, bondoso, paciente, tolerante sempre e em toda parte, irradiando paz, tranqüilidade, serenidade. Deste modo a caridade se faz sobrenatural no seu exercício, ou seja, é um comportamento vivificado pela graça de Deus. Não é fácil amar como Jesus amou e ensinou. Nas palavras, e nas ações, nos juízos e nos desejos, nos sentimentos e propósitos se deve sempre examinar se era assim que o Mestre agiria. A caridade deve ainda ser sobrenatural no seu fim último, pois tudo que se faz ao próximo deve ser olhando também sua salvação eterna. Nunca um ato de caridade deixa de fazer algum bem espiritual ao outro. É a sedução do exemplo. Foi o que recomendou o próprio Cristo: “Brilhe a vossa luz diante dos homens, para que vejam as vossas boas obras e glorifiquem o Pai que está no céu” (Mt 5,15).
Côn. José Geraldo Vidigal de Carvalho - Membro da Academia Mineira de Letras, Diretor Espiritual do JSC
Existem muitas pessoas que dizem acreditar em Deus, mas curiosamente elas se atêm ao fato de acreditar ou não.
Argumentam, contra-argumentam, não convencem, não são convencidos. Simplesmente se recusam a acreditar que um ser possa ter criado tudo o que existe e tentam, às vezes, até explicar seus pontos de vista, mas nada conseguem.
Isto acontece com muitos cientistas, com pessoas da área médica, e também com pessoas, digamos, simples, sem estudos, mas que preferem assim pensar.
É o direito que cada um tem de pensar, fazer ou dizer o que quiser. Nós que acreditamos em Deus não conseguimos explicá-lo, eles também não conseguirão não explicá-Lo. Quem acredita pode até saber defini-lo, mas não explicar toda a sua essência. Imagina, então, quem não acredita!
Mas a discussão sobre Deus normalmente para por aí. A mente humana não tem capacidade suficiente para ir além do seu conhecimento que é do tamanho de um grão de areia, enquanto para explicar ou não Deus seria preciso uma capacidade maior do que o que conhecemos do universo que, aliás, ainda é muito pouco.
Quero falar, no entanto, é sobre acreditar ou não em Maria de Nazaré. Também curiosamente sabemos pouco sobre Ela. O Evangelho fala muito pouco sobre sua pessoa, mas o pouco que fala dá para despertar sentimentos contraditórios hoje em dia.
O Católico acredita em Maria pelo que se previa desde o Antigo Testamento e mais ainda pelo cumprimento dessas profecias. O Católico aprendeu a amar Maria como uma pessoa extremamente bondosa, carismática, que soube ser mãe em circunstâncias completamente adversas. Ama Maria por compreender que Ela foi escolhida por Deus para ser a Mãe de Seu Filho e que Deus não escolheria alguém que não fosse tão especial.
É aí que não entendo a atitude de algumas igrejas que não a Católica.
Não acreditam na missão especial de Maria. Consideram-na uma mulher comum, como qualquer outra.
Fisicamente até podem ter razão, embora imaginemos que nunca houve nem haverá uma moça tão bonita quanto Ela foi e ainda é.
Mas essas igrejas e seitas vão muito mais longe. Além de não quererem aceitá-la como especial no Plano de Deus, ainda se voltam contra Ela com uma raiva que não tem sentido. Destilam veneno contra a figura de Maria. Ofendem-na gratuitamente.
Se quisessem apenas não acreditar nela, seria o direito deles. Ofender, não.
Diz um ditado que “se quiseres agradar o filho, agrade a mãe dele”. Isto vale para os namorados, para os casais, pois qualquer dos dois que não gostar da mãe do outro, cria um ambiente desagradável, quase sempre com rusgas e discussões. Diz outro ditado que “mãe é mãe”. Isto é verdade. Não deixamos de gostar da nossa esposa, da nossa namorada por gostarmos da mãe dela ou da nossa mãe.
Muitas pessoas têm ódio por Maria, porque acham que substituímos Jesus por ela.
Fazendo uma pesquisa sobre a vida de alguns santos (pessoas que a Igreja considera que seguiram tão bem o que Jesus ensinou que suas almas foram diretamente para o Céu), acabou aparecendo na tela do computador alguns fóruns em que os participantes (claro que não católicos) diziam coisas horríveis sobre Nossa Senhora. Eu não teria coragem de escrevê-las aqui.
Se as pessoas se limitassem a dizer “eu não acredito nela”, tudo bem. Mesmo que ainda dissessem que Maria não foi isenta de pecado (como o Católico acredita que foi), seria um direito deles, mas o que eu li são ofensas tão grandes que, se ditas contra uma pessoa viva, seria caso até de serem processadas.
Essas pessoas que dizem amar Jesus, não seguem os seus ensinamentos, pois dizem amá-Lo e ofendem sua Mãe.
Ele ensinou que não devemos julgar os outros, como estão fazendo com Maria! Ele disse que não devemos ofender outros irmãos, mas é o que estão fazendo com ela! Disse também que seremos julgados com a mesma medida com que medirmos. E aí, como será?
O vicentino tem uma veneração especial por Maria. Cabe a cada um de nós divulgarmos ainda mais esse amor. Afinal, ela é a mais bela flor criada por Deus e Mãe preciosa de Jesus.
ALUIZIO DA MATA - Vicentino, Sete Lagoas, Brasil
Nas últimas décadas do século XIX, o escritor Silva Pinto fez uma viagem ao Rio de Janeiro. De tudo que viu, ouviu e sentiu, narrou numa obra que intitulou: “ No Brasil”.
Este curioso livro, hoje raríssimo, é precioso documento histórico, imprescindível para se avaliar o que foi a vida da maioria dos emigrantes portugueses, no final do século XIX, em terras brasileiras.
Sem mais preambulo, translado trechos, que julgo serem bastantes, para se ajuizar as afrontas que sofreram os que partiram em busca de melhor vida:
“Rio de Janeiro”; no cais. Um catroeiro português, algarvio, ofereceu-me o seu bote. Perdeu a vivacidade, a alegria dos filhos da sua província. Interrogo-o. Partiu há doze anos de Portugal em busca de fortuna; encontrou a moléstia, a carestia da alimentação, os maus-tratos, o ódio furioso do brasileiro. - “Tenho na terra mulher e três filhos…devo tê-los: não lhes escrevo, nem eles a mim; para voltar à pátria mais pobre do que vim, quero antes não a tornar a vê-la”. Conduz-me a bordo do paquete. - “O senhor é feliz vai ver os seus, vai ver Portugal. Conte aos desgraçados da minha classe o que por cá viu…”
“ Excursão ao Bota-fogo. O condutor do bond (carro americano) olha-me com fixidez. Interrogo-o. É filho de Lisboa; reconhecera um patrício; veio de Portugal há seis anos para o comércio; inteligente e activo, notou breve que o primeiro de tais predicados era um título ao desfavor do patrão. Viu-se preterido, governado, insultado por um analfabeto, selvagem que vive em relações singulares com o dono do estabelecimento: uma espécie de Gonymedes que tem no Brasil rebentos de espécies várias. Saiu do comércio para os carros americanos; uma parte do salário é-lhe descontada em multas arbitrárias. Tem dias de profunda miséria. Não voltará a Portugal: envergonha-o a sua desventura.”
“ Justiniano Nobre de Faria, um dos nossos actores dramáticos mais dignos de apreço, mercê de um carácter honesto a sobredourar-lhe os méritos artísticos – partiu há poucos anos para o Brasil; lidou com energia, mas pelo caminho recto, na conquista de uma situação feliz: gradualmente, de par com o desdém alheio e com o desespero próprio, desceu na escala social do Brasil ao mister de carregador. Foi ali que um patrício nosso o descobriu avergado ao peso do entulho nas obras de um salteador condecorado.”
“À perto de um ano, um nosso compatriota – o professor Franco - leva ao Brasil o método de leitura de João de Deus. Foram dois os portadores, cremos: ele e o Dr. Zeferino Cândido. Da sorte deste último não sabemos. Franco, homem trabalhador, honrado e inteligente, dedicado ao seu nobilíssimo intuito civilizador, só pedia aos cafres, em troca da luz que lhes levava, o pão de cada dia. Isso obteve: façamos justiça inteira ao hospitaleiro torrão. Franco faleceu no Rio, no passado mês de Março, legando aos seus um nome honrado – e duzentos reis brasileiros.”
A muito mais se refere o escritor Serpa Pinto: as declarações de Rafael Bordalo Pinheiro; os artigos de Gomes Percheiro, que narram acontecimentos ignominiosos no Pará e “ a propaganda feroz da imprensa daquela província, contra os nossos compatriotas”.
Por certo, muitos descendentes desses humildes emigrantes – alguns bem instalados e senhores de grossas fortunas, – desconhecem as viles torpezas que sofreram seus avós.
O que se disse da colónia portuguesa, por certo, poder-se-ia dizer da italiana. Felizmente tudo isso é passado.
HUMBERTO PINHO DA SILVA - Porto, Portugal
Chamava-se Teresinha e fazia hoje anos. Era morena, daquele moreno, centeio e transmontano, que tem sol por dentro: rosto bronzeado de princesinha moira, seus grandes olhos reais abertos para a irrealidade das coisas e das almas!… . Chamava-se Teresinha, e fazia hoje anos… . Tinha fartos cabelos insculpidos de ondas profundas, em pau-preto filamentado e dúcil. Quando saltava às cordas ( “zás! zás! zàs!” ) os pés muito juntinhos, aos pulos, saltando e saltando, - e a corda vermelha descendo e batendo: ( “prás! prás! prás!” ) os grossos e espiralados caracóis cor-de-noite, que lhe ladeavam a carita de porcelana tostadinha, também saltava ( “zás! zás! zás! “ ); também batiam ( “prás! prás! rás!” ): eram como sinos de carrilhão alegre, bimbalhando, em catedral de esperanças, um hino infantil de avezinha amanhecida… . Teresinha garota e traquina esfuziava, pelo velho liceu da Praça do Coronel Pacheco, como rastilho lúdico, estralejando risos e conquistando simpatias. Qual das suas antigas condiscípulas a recorda sem saudade?!… . Ai, as aulas do primeiro ciclo, com Teresinha, criança, sobre um banco para chegar ao quadro!… . Ai, as molhadelas até aos ossos, e os sapatos alagados!… Ai, os sustos da “pedra-do-estiquete!…” Ai, a figura sinistra e de negra, da talvez ex-freira!… Ai, o grande casarão monástico, transformado em cortiço minérvico de avelhinhas esculpidas em corolas rociadas! . Teresinha cresceu. Fez-se senhora. Já não saltava às cordas ( “zás! zás! zás!” ), os pés muito juntinhos, aos pulos saltando e saltando, - e a corda vermelha descendo e batendo( “prás! prás! prás!” ) . Teresinha cresceu… . Casaquinho vermelho, de botões prateados, e saia escocesa; livros entalados no braço; na cabeça uma boina clara; no rosto uma larga pincelada de sol, onde bailavam sombras oscilantes de roseiras, e brilhavam dois olhos luminosos e meigos, semicerrados pela violência da luz estival, - estou a vê-la chegar das aulas. Do alto do patim da escada, junto da qual floriam jarros, quantas vezes a esperei! E ela, ao ver-me esperá-la, a sorrir: . -“Olá! Está aí?!” - “Não! Estou lá fora!” . Teresinha parava. Olhava-me, entre risonha e trocista: . - “Com que então o “senhor” está lá fora?! Ora não querem lá ver!!!” . E porque era transmontana, e achava deliciosos, e saborosamente arcaicos, certos termos e expressões da sua terra: ( - “Dê-me um cibinho de pão!”; -”Colhi um mandil de casulas chicharas…”; - “Estava arrimado ao fundo das escaleiras” ), por vezes rematava apenas: . - “Ora não?!” . No ar cruzavam-se borboletas brancas, e diluíam-se vagos perfumes de roseirais em flor! . Ao longe, gemiam rolas… . Lembras-te desse tempo, Teresinha? Tu lembras-te? . “Ora não”? . Como areia fina entre dedos de criança, o tempo fugiu imperceptivelmente… . Teresinha acalenta os filhos. Por duas vezes ela os vê florir entre os seus braços: . - “Já se quer erguer!” - ”Já tem dois dentinhos!” - “Já começa a andar!” - “Já diz: “mamã!” . Já diz mamã! Teresinha mamã, sente-se inundada de felicidade! . Aperta ao coração os pequeninos que Deus lhe deu, e ergue os belos e grandes olhos castanhos para o azul do céu…É de lá, desse lago aéreo onde vogam as pombas, que descem os anjos pequeninos!… . - “Já se quer erguer!” - ”Já tem dois dentinhos!” - ” já começa a andar! - “Já diz: “mamã!” . Lembras-te desse tempo, Teresinha? Tu lembras-te? . “Ora não”? “ora não”, Teresinha? . Na sua cama de doente, debaixo de uma colcha alvíssima e bem esticada, Teresinha geme baixinho. Sobre os grandes olhos castanhos, como sobre o seu espírito, que tão luminoso foi, desceu a treva. Lá fora também há escuridão: a escuridão da noite e das almas! E há gemidos: os do vento de Novembro, envolto em bátegas de chuva e de granizo…Noite de lágrimas!… . Lutando contra tudo e contra todos, os filhos conseguem chegar à sua cabeceira. Afagam-lhe a cabeça torturada; beijam-lhe o rosto crispado; apertam entre as suas mãos de homens as mãos femininas que lhes ampararam os primeiros passos…Mas Teresinha é tão infeliz que não se apercebe da sua presença, e continua a gemer baixinho… . Ai, a corda vermelha descendo e batendo! Ai, os pés de Teresinha pulando e saltando! Teresinha menina… Teresinha estudante…. Teresinha mulher…. Teresinha mamã…. . Chamava-se Teresinha, e fazia hoje anos! Pobre Teresinha!
PINHO DA SILVA - (1915 - 1987) Escritor, redactor do “Jornal do Turismo”, responsável pela secção “Apontamentos”, do matutino “O Comércio do Porto”, e “Crónicas Lusíadas”, no “Mundo Português", do Rio de Janeiro. Secretário Geral da ACAP.
Embora pouco divulgada e felizmente distante dos apelos consumistas, comemora-se a 26 de julho, o DIA DOS AVÓS, em função da Igreja consagrar a data à Santa Ana e São Joaquim, pais de Nossa Senhora e, portanto, avós de Jesus. Trata-se de uma homenagem muito justa, já que as pessoas que alcançam tal condição, têm muita dedicação e amor pelos filhos de seus filhos e asseguram aos netos a noção de desenvolvimento da vida humana em seus vários momentos e fases. Além do mais, mantém um contato rico, que ensina os jovens a respeitarem os mais velhos e às suas experiências, através do sentido histórico da existência e das próprias raízes
Comemora-se a 26 de julho o Dia dos Avós, instituído em função da Igreja consagrar esta data a Santa Ana e São Joaquim, pais de Maria e avós de Jesus Cristo.
Trata-se de uma celebração quase desconhecida e que no passado chegou a receber, sem êxito, algumas investidas do comércio, logo ofuscadas pela proximidade do Dia dos Pais, alvo principal das atenções mercantis nesta época. Mas não deixa de ser importante, por destacar o papel que exercem na família, já que em muitas vezes, constituiem-se no suporte afetivo e financeiro de pais e filhos, estando à frente inclusive, da educação de seus netos, com sabedoria, experiência e certeza de um sentimento maravilhoso de estar vivenciando os frutos de seu fruto, ou seja, a continuidade das gerações. Por tais aspectos, diz-se “que os avós são pais duas vezes”.
Revela-se assim, num dia de reflexão e agradecimento àqueles que tanto contribuem para a formação dos netos, sendo sua companhia cada vez mais constante no cenário atual, visto que os pais precisam trabalhar fora. Festejar o Dia dos Avós significa reverenciar a experiência de vida, reconhecer o valor da sabedoria adquirida, não apenas nos livros, nem nas escolas, mas no convívio com as pessoas e com a própria natureza. Invoquemos aqui Dado Moura : “Nossos avós – e todos os idosos, de modo geral – são as pessoas que mais devem ser valorizadas como símbolos de experiência e sabedoria. Eles trazem consigo o testemunho de décadas, de gerações, de avanços, de modernidade e de mudanças de comportamento. Hoje, muitos deles consideram que o tempo não tem a mesma importância de outrora. O relógio de pulso, por exemplo, é usado apenas como acessório.... Quem souber aproveitar o convívio com os avós, certamente terá muito a aprender com seus conselhos. Eles acumulam a sabedoria que não se aprende nos livros, e estão sempre dispostos a partilhar. São verdadeiros tesouros em nossa vida” (Correio Popular- 26/07/2009- A-3).
Entretanto, mesmo diante de tais atributos, muitas deles precisam se socorrer do Poder Judiciário para garantir o direito de ver e visitar seus netos. Já abordamos aqui anteriormente, que não são poucos os casos na Justiça que vislumbram essas aspirações e que tendem a se tornar mais freqüentes face o crescente número de dissoluções matrimoniais. Inexiste no Brasil legislação específica sobre a questão, mas a doutrina e a jurisprudência têm sido sempre favoráveis aos avós, entendendo configurar um abuso do poder de família, quando os pais impedem que convivam com os netos.
Essa orientação dominante se fundamenta nas circunstâncias da solidariedade familiar e nas obrigações oriundas do parentesco. Normalmente eles são pessoas experientes e não raro, contam com idades avançadas. A primeira circunstância aparece como pressuposto preliminar do relacionamento entre familiares, constituindo-se, inclusive, como instrumento de preservação e respeito à dignidade do ser humano, devendo revelar propósitos como a estima pelos mais velhos e a conscientização de que qualquer idade é tão nobre quanto às outras.
Por outro lado, eles também têm obrigações legais como eventual suprimento de pensão alimentar. Dispõe o Código Civil Brasileiro sobre o direito aos alimentos recíprocos entre pais e filhos e extensivo a todos os ascendentes, recaindo a obrigação sobre os mais próximos em grau, uns em falta dos outros. Podem ser chamados a intervirem num eventual sustento dos netos, quando os pais destes estiverem na absoluta penúria, na ausência constante de emprego ou forem portadores de incapacidade física ou moléstia grave. O vínculo de parentesco entre avós e netos, que se estabelece por linha reta em consonância com a legislação vigente, pode portanto, originar o dever de prestar alimentos. É por isso que a visita também lhes têm sido reconhecida como uma compensação a esse dever. Nesse sentido, o seguinte julgado:- “O direito de visita tem sido reconhecido aos parentes, não detentores do poder familiar, como uma compensação do dever de prestar alimentos decorrentes da relação de parentesco” (Ap. Civ. 223.361- TJSP).
Comemoração nos EUA
Nos Estados Unidos também existe o Dia Nacional dos Avós que se originou de uma iniciativa de Marian McQuade, uma dona de casa, em Fayette County, West Virginia. Her primary motivation was to champion the cause of lonely elderly in nursing homes. Sua principal motivação foi defender a causa dos idosos solitários em asilos e convencer os netos para aproveitar a sabedoria e a herança que eles pode proporcionar. President Jimmy Carter, in 1978, proclaimed that National Grandparents Day would be celebrated every year on the first Sunday after Labor Day. O presidente Jimmy Carter, em 1978, proclamou que a data deveria ser comemorada anualmente no primeiro domingo após o Dia do Trabalho, que neste ano, cai em doze de setembro naquele país.
JOÃO CARLOS JOSÉ MARTINELLI, advogado, jornalista, escritor e professor universitário
Ganhei um presente do amigo Lenarth em abril deste ano e praticamente nem o tinha aberto. Aconteceu que minha filha, Soraia, gostou das histórias que viu e pediu emprestado para contar aos seus alunos; assim, somente agora, nas férias, pude tê-lo de volta.
O título é ‘E, para o resto da vida... Contos que tocam o coração’, de Wallace Leal V. Rodrigues. Eis o que o Lenarth escreveu na primeira página: “Este é um livro simples, de histórias simples e para pessoas simples como você! Apesar de sua simplicidade, ele encerra ensinamentos profundos que merecem ser guardados em nossas mentes e corações para o resto da vida”.
De hoje em diante, com certeza, muitos contos desta coluna serão tirados do livro, começando por este:
Um menino ganhou uma medalha na escola por ser o aluno que melhor sabia ler. Sentiu-se feliz, orgulhoso e, assim que a aula terminou, voltou correndo para casa e entrou na cozinha como um furacão. Olhou para a velha empregada que estava no fogão e disse-lhe:
– Aposto que sei ler melhor do que você.
Vendo o livro de leitura colocado perto de si, a senhora o tomou nas mãos e tentou ler o que podia, gaguejando a toda hora. Terminou por dizer:
– Bem, meu filho, eu não sei ler.
O menino saiu satisfeito da cozinha e correu ao encontro do pai no escritório.
– Papai, a Maria não sabe ler! Eu, que ainda sou pequeno, já ganhei até medalha, olhe só! Imagine ela, já velha, não saber ler; deve ser horrível, né?
Com toda tranqüilidade, o pai ergueu-se da cadeira, foi até uma estante e voltou com um livro em mãos. Depois falou ao filho:
– Foi maravilhoso você ter ganho a medalha, mas, agora, leia este livro para eu ouvir.
O garoto o abriu depressa para iniciar a leitura e se surpreendeu ao ver que as páginas continham centenas de pequenos rabiscos. Chateado, exclamou:
– Nossa, eu não entendo nada disso que está escrito aqui!
– É um livro escrito em chinês, meu filho – disse o pai. – Assim como a Maria, você também não pode ler este livro, não é?
Envergonhado, o menino aprendeu a lição que serve a qualquer um de nós. Às vezes, precisamos lembrar que tudo o que não sabemos é muito mais do que aquilo que já aprendemos; ou, para quem conhece a história que contei, bastaria recordar que ‘não sabemos ler chinês’. Porém, só pensa assim quem tem humildade no coração.
Na semana passada, eu fui matar a saudade da minha netinha Luísa, que mora em Rio Negro. Ali perto, na cidade de Mafra, Santa Catarina, aconteceu um encontro de professores da Universidade do Contestado. Mesmo em férias, os docentes se reuniam às noites para discutir assuntos relacionados à formação dos alunos – conscientes que precisavam aprender para melhor ensinar.
O assunto no dia que participei foi ‘Planejamento Pedagógico’ e, após breve explanação da palestrante, iniciou-se a discussão. Eu era a única pessoa de fora da Instituição e procurei me comportar apenas como ouvinte, embora, por ter sido convidado, poderia também usar a palavra. E foi o que fiz no apagar das luzes, pedindo que os professores refletissem melhor sobre: formação permanente – para o resto da vida! – e educação à distância. Conclui dizendo que vivemos a ‘era da educação continuada’ e não podemos deixar de aprender e ensinar sempre.
Assim também pensam os participantes do 23º Laboratório Coral de Itajubá, que acontece nesta semana. Alunos e regentes, coralistas há anos, continuam com interesse no assunto para melhorarem os conhecimentos e habilidades. O resultado disso é sempre maravilhoso, podendo ser presenciado na apresentação de encerramento, que acontecerá sábado à noite, dia 24, no Anfiteatro da Medicina. Será um espetáculo para chinês ver!
E por falar em ver e aprender, você já viu um passarinho dormindo num galho ou num fio? Sabe como ele consegue ficar dormindo sem cair? O segredo está nos tendões de suas pernas: quando o joelho está dobrado, o pezinho segura firmemente qualquer coisa. Assim, os pés não irão soltar o galho até que ele desdobre o joelho para voar. Quanta sabedoria do Criador, hein?
Pensando na nossa caminhada, se tropeçamos, caímos e temos dificuldades para levantar, a maior segurança vem de um joelho dobrado em oração. Então, quando você estiver num emaranhado de problemas que o fazem perder a paz e a alegria, não se entregue ao desânimo. Lembre-se que, rezando com humildade no coração, aprenderá a solução para qualquer coisa que precisar. E como o passarinho, só desdobre o joelho quando tiver confiança para se levantar.
Se Deus cuida de um passarinho, abençoa todos os animais da Terra e a natureza que os cerca, imagina o que não fará por você, que é Seu filho amado! Basta pedir com confiança e a graça virá.
PAULO ROBERTO LABEGALINI -- Escritor católico, Professor Doutor da Universidade Federal de Itajubá-MG. Pró-reitor de Cultura e Extensão Universitária da UNIFEI
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