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Sábado, 28 de Agosto de 2010
PAULO ROBERTO LABEGALINI - PIEDADE! MISERICÓRDIA!

 

                                                 

 

 

Os termos piedade e misericórdia se confundem no significado. Alguns dicionários definem como sinônimos e, até nas missas, no ato penitencial, os consideremos iguais. As músicas de perdão repetem: ‘Misericórdia, Senhor!’ ou ‘Piedade de nós!’, o que significa que realmente os termos podem ser usados para a mesma finalidade.

Jesus disse: “Quero misericórdia e não sacrifício”; e nos deu a entender que as situações injustas devem ser mudadas – os excluídos precisam ser ajudados. E confirmou isto ao explicar que “os que têm saúde não precisam de médicos, mas sim os doentes”. Tudo se relaciona com o amor ao próximo, um dos dois maiores Mandamentos.

Então, vale a pena entender o significado de misericórdia: ‘Acolher no coração a miséria do outro’. A Virgem Maria, por exemplo, denominada ‘Mãe de Misericórdia’, recebeu este título para honrar sua imensa bondade. E quando nos referimos às obras de misericórdia, citamos diferentes modos de exercer a caridade, o que condiz com a conduta cristã tão valorizada por Cristo.

Eu ainda acho que o termo ‘misericórdia’ é mais forte que ‘piedade’, porque piedade se assemelha mais a ‘dó’. Para mim, ter piedade não significa acolher a miséria do outro no coração, mas simplesmente um sentimento de indignação. Misericórdia, porém, acrescenta amor ao fato de o próximo estar sofrendo, o que já é uma grande diferença entre os dois sentimentos.

 Pois é, mas fica uma pergunta no ar: ‘Quem tem misericórdia de alguém é impulsionado a praticar a caridade?’. Sabemos que nem sempre isso acontece e, portanto, teríamos que achar outro termo que refletisse o sentimento de querer estar junto daquele que sofre. E esse sentimento de pesar já existe: compaixão!

Compaixão é mais que dó, mais que piedade e mais que misericórdia. Compaixão é um sentimento mais humano e não reflete apenas a tristeza que sentimos diante da dor alheia. Quem pratica a verdadeira caridade, comprometido em ajudar o próximo, sente compaixão. E não há como negar que o despertar da dor no coração de algumas pessoas as move a tentar minimizar o sofrimento do irmão – isso é compaixão!

Bartimeu, o cego de Jericó, suplicou: “Jesus, filho de Davi, tem compaixão de mim”; e ficou curado. Jesus, também tomado por compaixão, curou o paralítico e deu a ele saúde eterna, porque perdoou ainda os seus pecados. Na condição divina, Ele não via apenas as aparências, mas principalmente o que estava no coração.

A compaixão talvez seja a maior virtude humana porque é isenta de preconceitos e julgamentos. É por isso que o egoísta não desenvolve esse sentimento e se torna frio e calculista – insensível ao sofrimento alheio, como eram os fariseus. Quantos procuram um ouvido ou um ombro amigo na vida e não encontram! Os ouvidos estão dando mais atenção aos aparelhos eletrônicos; filhos pequenos têm computadores, mas faltam-lhes afetos humanos. Isso é justo?

Vale lembrar ainda que não devemos compartilhar o mal, o que significa que nem todo sofrimento merece compaixão, tipo: o invejoso que sofre por cobiça, o tirano que perdeu a guerra. Podemos, contudo, nos compadecer pelo sentimento de culpa de quem errou e se arrependeu, porque todo pecado merece perdão nas condições de arrependimento sincero e intenção de não mais errar. Como não conseguimos viver sem pecados, devemos buscar a graça de Deus no Sacramento da Reconciliação.

Então, numa escala crescente entre dó e caridade, eu colocaria: piedade, misericórdia e compaixão. A piedade se assemelha mais a dó, a misericórdia incorpora o sentimento de tristeza diante da dor alheia, e a compaixão desperta a vontade de se envolver na solução do problema. Quanto mais amor no coração, mais próximo de Deus estaremos.

Mas tudo isso depende da fé de cada um. Era no nosso tempo que Jesus estava pensando ao falar: “Quando o Filho do Homem voltar, encontrará a fé sobre a terra?” (Lc 18, 8). E o início do capítulo 11 da Carta aos Hebreus traz a definição de fé: “Ora, a fé é garantia das coisas que se esperam e certeza daquelas que não se vêem”. Unindo isto à mensagem bíblica de ‘onde estiver o vosso tesouro aí estará o vosso coração’, podemos concluir que já podemos tomar posse do Reino de Deus praticando a compaixão pelos pobres. E um lembrete importante: ‘A quem muito foi dado, muito será exigido; e a quem muito foi confiado, muito será pedido’. 

Ninguém gosta de sofrer e a compaixão às vezes leva a isso. Porém, até no sofrimento alguns fazem piadas, como esta:

Um cidadão passou mal na rua e foi levado ao setor de emergência de um hospital administrado por freiras. Foi operado do coração e, depois de estar parcialmente restabelecido, a freira responsável pela tesouraria lhe perguntou:

– Caro senhor, sua operação foi bem sucedida e o senhor está salvo. Como pretende pagar a conta? Tem seguro-saúde?

– Não, Irmã. Também não tenho dinheiro, filhos, emprego, nada! Eu tenho somente uma irmã solteirona que é freira, mas não tem um tostão.

– Desculpe, mas as freiras não são solteironas como o senhor disse. Elas são casadas com Deus!

Então, por favor, mande a conta pro meu cunhado.

Hehehe... Misericórdia!

 

 

PAULO ROBERTO LABEGALINI --    Escritor católico, Professor Doutor da Universidade Federal de Itajubá-MG. Pró-reitor de Cultura e Extensão Universitária da UNIFEI

 



publicado por Luso-brasileiro às 16:14
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JOÃO CARLOS JOSÉ MARTINELLI - DIREITO - Semana da Pátria, momento propício à reflexão sobre os destinos do país

 

                      

 

            Nós que pugnamos pelo absoluto respeito à decência e lutamos pelo exercício pleno da igualdade, entendemos que uma sociedade só atuará segundo a sua própria determinação, com efetiva independência, quando todos tiverem seus direitos assegurados, com livre acesso, sem quaisquer distinções ou restrições, aos legítimos e inalienáveis instrumentos concernentes à dignidade humana. É por isso que a Semana da Pátria se constitui num ótima oportunidade para refletirmos sobre nossa concreta participação nos destinos do Brasil, superando omissões e buscando a consolidação do Estado Democrático de Direito.

 

 

O mês de setembro é repleto de datas comemorativas, algumas delas estritamente ligadas ao Direito, notadamente por revelarem aspectos inerentes aos direitos fundamentais do ser humano,  a começar pela celebração do Dia da Independência, aos 07 de setembro, antecidido por diversas festejos cívicos durante toda a Semana da Pátria. Tais datas implicam numa conscientização sobre aspirações e deveres a que todos se  sujeitam  a fim de se consolidar em nosso país o Estado Democrático de Direito.                      

Com efeito, a independência é, antes de tudo, um processo, uma condição a ser conquistada a cada dia, fazendo das oportunidades cidadãs, como as eleições que se avizinham o momento em que o grito de liberdade alcance indistintamente todas as camadas da população, extinguindo-se a enorme exclusão social, a grande concentração de renda nas mãos de poucos e a privação para a maioria dos bens mais primários. Uma nação que não investe prioritariamente em educação, trabalho, saúde e cultura, não pode ser considerada autônoma e, assim sendo, de fato, seu povo também não o será.

O Brasil atualmente, apesar da onda ufanista reinante, tem sérios e profundos problemas que precisam de soluções urgentes, sob pena de se instituir um verdadeiro caos social, onde o desrespeito às normas e às instituições se transforme numa abusiva e impune constância. Tanto que dados recentemente divulgados pelo IBGE mostram que 34,8 milhões de pessoas (18% da população) brasileira não tem acesso à infraestrutura sanitária. Por isso, um dos maiores desafios é incentivar a população à ações participativas nos mais variados setores sociais, principalmente o político. Imprescindível que o povo se organize, auxilie e atue diretamente, procurando soluções ao seu alcance, reivindicando, fiscalizando,  cobrando de nossas autoridades a satisfação de seus anseios constitucionalmente garantidos.

Nesta trilha vale lembrar que quanto menor politicamente for a modernidade de  uma sociedade, maior é o nível de contaminação da atividade pública por grupos de interesses e personalismos espúrios. Muitos de nossos representantes, sem partidos autênticos ou programas coerentes, trocam a luta por reformas concretas que beneficiarão gerações futuras pelo garimpo de benefícios paroquiais e vantagens pessoais.  Há limites, porém, que não podem ser ultrapassados, sob pena de se reduzir a negociação política a um bazar de cargos e favores. Assim acontece quando a pressão econômica controla as agremiações partidárias, decide sobre o recrutamento de seus militantes e o tipo de diligência conveniente às bancadas. Ou quando segmentos corruptos abastardam os negócios públicos traficando mandatos e leiloando apoios.

Como consequência, esse triste quadro revela outras questões e males, que vêm dilacerando a convivência comunitária, entre os quais, a fome, o desemprego, a violência e a falta de moradia. Nestes dias em que se invocam as aptidões nacionalistas, citamos Célia Siqueira Farjallat, “patriotismo é, pois, sentimento e ação, idealismo, bravura, abnegação. Mas é também realismo, lealdade, esforço, e concretiza-se no exato cumprimento do dever, na solidariedade, na responsabilidade. Não é ensinado por fórmulas, mas nasce da prática cotidiana das virtudes” (Correio Popular – 03/09/2009- p.A-10).

Precisamos, por isso, intensificar os esforços para despertar esse espírito de luta. Para tanto, é urgente deixarmos de lado o comodismo e o egoísmo, mudar nossos modos de pensar e agir, buscar decisivamente por caminhos que garantam uma vida digna à maioria dos brasileiros e não apenas a uma minoria privilegiada. Reiteramos: ao analisar o ameaçado cotidiano, verificamos a imediata necessidade da transmissão dos verdadeiros valores, para se situar os paramentos do certo e do errado. Tais princípios básicos, além dos pertinentes à ordem e ao Direito, devem servir como referências ao ser humano, tornando-o eticamente responsável e ao mesmo tempo próximo, solidarizando-se com aqueles com quem convive, participando ativamente dos destinos da Nação.

 

Mário Galafassi, um

exemplo a ser seguido.

 

O cenário jurídico da região ficou manifestamente triste com a perda irreparável do Dr. Mário Galafassi no início da segunda quinzena de agosto.  Ele sempre foi uma pessoa muito querida no meio, respeitado por toda a classe e um dos mais competentes advogados de nossa cidade, tendo prestado serviços durante quatro décadas. Mesmo depois de  1988, quando se aposentou,  nunca se afastou dos colegas e sua presença era motivo de grande alegria. Formou-se em 1947 pela Faculdade de Direito do Largo de São Francisco e por toda a sua existência se revelou num exemplo de educação, sensibilidade, dignidade, cultura e dedicação ao próximo. Desportista dedicado e dotado de uma elevada capacidade de cultivar amigos, com permanente serenidade, transmitiu sinais de ponderação, simplicidade e bom-senso, tendo exercido todos os cargos na subsecção da OAB local, da qual foi o seu primeiro presidente. Um ser humano primoroso, que já está deixando imensa saudade, principalmente àqueles que tiveram o privilégio de conhecê-lo pessoalmente.

 

JOÃO CARLOS JOSÉ MARTINELLI é advogado, jornalista, escritor, professor universtário e Mestre em Ciências Sociais e Jurídicas.



publicado por Luso-brasileiro às 16:09
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MARIA CRISTINA CASTILHO DE ANDRADE - QUEM É O MEU PRÓXIMO ?

                      

 

 

Um mestre da lei pergunta a Jesus quem era o seu próximo e Ele lhe responde com uma parábola, como encontramos no Evangelho de São Lucas (10, 30-37). A parábola diz sobre o homem que  foi roubado e espancado no caminho de Jerusalém para Jericó, ficando quase morto. Passou por ele um sacerdote e um levita e seguiram adiante. Um samaritano, chegou perto dele, viu e sentiu compaixão. Fez curativos, derramou óleo e vinho nas feridas. Depois colocou o homem em seu próprio animal e levou-o a uma pensão, onde cuidou dele. No dia seguinte, pegou duas moedas de prata e entregou-as ao dono da pensão, recomendando: “Toma conta dele! Quando eu voltar, vou pagar o que tiveres gasto a mais”. E Jesus perguntou: “Na tua opinião, qual dos três foi o próximo do homem que caiu nas mãos dos assaltantes?” Ele respondeu: “Aquele que usou de misericórdia para com ele”. Então Jesus lhe disse: “Vai e faze a mesma coisa.”

A mãe, de pouquíssimas posses, com filho detido me procurou. Seu filho, desde os primeiros anos de escola, teve dificuldade em aprender. Os colegas de classe olhavam-no com desprezo e indiferença. A indisciplina na sala de aula ou o ar sonolento, que provocavam irritação na professora, eram sintomas de que não decifrava o que acontecia na lousa, no livro e em seu caderno. Nas reuniões de pais, a mãe observava, nas folhas em branco, o fracasso de seu menino que, no final do ano, passava para a série posterior. Ela preferia que ele permanecesse na série inicial, a fim de retivesse alguma coisa, mas quem era ela para reagir contra o sistema de ensino. Ele ficou à margem na escola, embora concluísse as séries. Adolescente, acompanhou o féretro do irmão, que se tornara dependente químico, fora preso e acabara morrendo queimado em uma rebelião na cadeia. Doeu demais nele. As feridas de suas emoções ficaram à margem.  Não houve quem se importasse. Há pouco tempo, o jovem candidatou-se uma vaga de emprego na área de limpeza. Deram-lhe uma ficha. Conseguiu, apenas, colocar o nome. Foi o que aprendeu na escola. A atendente lhe disse que, sem saber ler e escrever, nem adiantava voltar lá. Para sobreviver nas margens, agregou-se ao tráfico e, em 15 dias, caiu na cadeia.

O homem espancado é o símbolo de todas as pessoas que sofrem, justa ou injustamente. A lei de Jesus é a descoberta da necessidade e da miséria alheia e a prontidão em oferecer ajuda. Sem a percepção das pessoas que padecem, o amadurecimento da espiritualidade é um mero engano.

Recentemente, em uma de suas homilias, o Pe. José Brombal, que tem o dom de colocar a Palavra na vida cotidiana, comentou, com a generosidade que lhe é característica, que o “próximo”, sobre quem Jesus fala, não é aquele que se aproxima de nós, mas aquele de quem percebemos a situação de sofrimento e nos aproximamos.

De acordo com os ensinamentos do Evangelho, quem viu, no jovem prisioneiro, ainda liberto, ao longo de sua história, o seu próximo?

 

MARIA CRISTINA CASTILHO DE ANDRADE É coordenadora diocesana da Pastoral da Mulher e autora de “Nos Varais do Mundo/ Submundo” –Edições Loyola



publicado por Luso-brasileiro às 16:05
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CINTHYA NUNES VIEIRA DA SILVA - ENQUANTO ISSO, NO SUPERMERCADO...

                      

           

 

            Chega uma determinada hora na semana em que, por mais doloroso que seja, precisamos reabastecer a dispensa. Fazer compras é uma coisa híbrida: meio boa e meio ruim. É inegável que há um prazer oculto em fazer compras, em poder escolher guloseimas, pequenos pecadinhos comestíveis, além de conhecer os novos produtos que são lançados para as mais variadas funções domésticas. Por outro lado, há uma gama de situações que podem transformar uma simples visita ao mercado em um evento deveras desagradável...

            Um dos problemas de se fazer compras é se empolgar demais e não se atentar para o fato de que tudo na vida tem um preço, essencialmente as coisas que estão nas prateleiras! Creio que boa parte das pessoas leva, vez ou outra, um susto ao ver o montante a ser pago. Ainda que se tenha o dinheiro na conta, a gente não se livra, só por isso, de pensar que poderia ter pego menos coisas, que já era hora de fazer um regime mesmo e que é comida demais...

            Fazer compras com pressa, entre um compromisso e outro, na ilusão de que se vai gastar nisso somente o tempo planejado, é um prato cheio para dissabores. Claro que é recomendável, para isso, evitar horários de pico e estabelecimentos muito freqüentados, mas nada disso é suficiente, eis que nunca se sabe quem nos dará a honra de estar a nossa frente na fila do caixa...

            E foi assim que nossa saga começou. Era uma tarde de sábado e tudo levava a crer que a hora era boa para comprar o que já estava faltando em casa. Não compraríamos muita coisa, de forma que deveríamos voltar logo, até para podermos aproveitar o resto do dia para outros afazeres.  Assim, empunhando nossas sacolas retornáveis, ecologicamente corretos, percorremos os corredores do supermercado de bairro no qual costumamos fazer compras. Com preços razoáveis e longe da agitação, dificilmente nos colocava em filas gigantescas.

            Compras feitas, menos de quinze minutos após entrarmos, já estávamos na fila do caixa. Apenas uma mulher estava a nossa frente. Fui colocando as compras na esteira, na ponta, para ir adiantando as coisas, mas foi nessa hora que fui tomada de um mau pressentimento: a mulher começou a conversar demais com a atendente e eu sabia que, pela postura da moça, isso era não era um bom sinal.

            A freguesa, uma gordinha com jeito de hippie aposentada, perguntava para a caixa:

_Então, ele vai vir aqui buscar essas coisas, que eu vou deixar separadas!

_ A senhora não vai levar isso agora?

_ Hein?

_ A senhora não vai levar isso agora?

_ Ah, não. Eu não agüento, ele passa aqui e pega. “Peraí”, eu vou ligar para ele... Oi, André, você vem buscar a ração aqui no mercado? A moça vai guardar. Não, não sei quanto deu ainda. Ah, mais tarde eu te ligo, mas tá tudo bem aí?  Ah, entendi... Hein? O quê? Não, vou levar para os gatos também... Tá, então tchau...

_ E então minha senhora? Vai pagar como?

_ Cartão. Peraí, essa ração tá marcando quanto aí na sua tela? Onze reais?!! Que absurdo. Tá errado isso! Lá no outro é só nove... Ah, não vou levar não! Pode ir alguém lá buscar então a de nove reais...

_ Essa ração sempre custou esse preço senhora...

_ Nada disso! Eu sei que não.  Assim eu não compro.

_ Tudo bem, eu vou estornar. Ô Adelaide, vai lá na prateleira e pega aquela ração de nove reais o saco. Isso Adelaide, o saco de 8 quilos. Pega lá e traz aqui.

Cinco minutos e lá vem a Adelaide, com cara de poucos amigos. A essa altura, eu já estava concentrada na história, puta da vida, já quase oferecendo os dois reais da discórdia, só para poder ir embora. Olhei para os lados e só havia o caixa preferencial, repleto de terceira e quarta idade... Melhor ficar por aqui mesmo, já deve estar tudo resolvido agora.

_ Mas eu tô vendo que ainda tá marcando a ração de onze reais...

_ Não está não, eu cancelei.

_ Hein?

_ Eu C-A-N-C-E-L-EI, senhora. A senhora quer pagar como?

_ Cartão de crédito. Mas quero pagar em duas notas diferentes.

_ Com dois cartões, a senhora diz?

_ Hein? Não. No mesmo, mas em notas diferentes. Em uma, passa só a ração dos gatos e a dos cachorros. Mas olha lá, não vai passar a de onze reais...

_ Não senhora, pode deixar. Agora deixa eu ver onde estão as rações, porque a senhora passou tudo misturado.

_ Hein? Mas é só separar... O que são esses números aí do lado? Eu não tô entendendo. Porque tá marcando essas coisas??? Não deu isso a compra.

_ (Respirando fundo) Não senhora, não é isso não. São códigos da loja. O que for alimento dá para parcelar.

_ Dá para parcelar a ração? Quanto deu?

_ Dezessete reais tudo. A senhora quer parcelar???

_ Hum... Em quantas dá para fazer?? Hum... acho que não.

_ CPF na nota?

_ Sim. E a outra parte da compra, quanto deu?

_ Trinta reais.

_ Dá para parcelar??

_Dá. A senhora quer???

_ Hummmm, não. Não esquece que o André vai passar aqui para pegar as rações.

_ Pois não. “Vou estar deixando” aqui do lado para ele pegar. Qual o nome da senhora?

_ Hein? Não entendi...

_ Nada não. Tenha uma boa tarde...

Vinte minutos nessa brincadeira e eu queria matar a mulher... Senti pena dos cachorros dela, não por comerem comida vagabunda, ou por terem uma dona mão de vaca, que comprara um monte de maços de cigarro sem brigar pelo preço, mas por terem alguém tão chato como dono. Olhei para a cara da moça do caixa, visivelmente exausta, ao que ela me disse:

_ CPF na nota? Vai querer parcelar a compra?

Olhei bem na cara dela e não resisti:

_ Hein?????

 

CINTHYA NUNES VIEIRA DA SILVA- Advogada, mestra em Direito, professora universitária e escritora - São Paulo

 



publicado por Luso-brasileiro às 16:02
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Cfd. ALUIZIO DA MATA - MOISÉS, SOZINHO ?

                        

 

Perguntado em entrevista na TV qual seria seu próximo passo, padre Marcelo Rossi falou sobre a necessidade de continuar seu trabalho de evangelização, mas lembrou que iria precisar de ajuda de outras pessoas, pois nada se pode fazer sozinho. E deu um exemplo bíblico.
Moisés, que era o representante de Deus junto ao povo exilado no Egito, foi encarregado pelo mesmo Deus de levar os filhos de Israel de volta para a sua terra. Mas tiveram que enfrentar algumas batalhas.  Para enfrentar Amalec, os soldados de Moisés dependiam de ele ficar no cimo da colina segurando o cajado com os braços estendidos para o alto, fazendo com que os seus vencessem seus inimigos. Como ele se cansasse e abaixasse os braços, os inimigos recuperavam as forças e começavam a vencer. Novamente Moisés levantava os braços e a situação se invertia.
Foi preciso que ele arranjasse dois auxiliares, Aarão e Hur para sustentarem seus braços erguidos, até que a batalha estivesse ganha.
Ora, Moisés que era um santo, que era escolhido e protegido por Deus, não conseguiu cumprir sozinho sua missão, imaginemos nós, que somos fracos e pecadores... Padre Marcelo tem razão em dizer que ninguém faz nada bem feito trabalhando sozinho. O trabalho comunitário tem maior valor diante de Deus.
A Igreja reconhece que todo trabalho deve ser comunitário, mesmo aqueles que são executados por uma só pessoa. Na verdade essa pessoa sempre estará escudada por outras que não aparecem, mas que preparam o seu caminho. E o melhor: ninguém está sozinho - Deus está sempre conosco.
E na Sociedade de São Vicente de Paulo? Como é? Trabalhamos sozinhos?
Claro que não. Até no vale que levamos ao assistido, há um trabalho de todos os participantes da Conferência. Aliás, é sábia a instrução que diz: “Nunca dê nada em nome próprio, mesmo que seja assim. O donativo é sempre em nome da Conferência. Quando um dá um donativo, todos dão.”
Pense em quantas coisas fazemos em conjunto dentro da SSVP. Ninguém constrói sozinho um barracão para uma família necessitada. Uns fazem os buracos do alicerce, outros fazem a massa, outros assentam os tijolos. E as consócias fazem o almoço, fazem o lanche. Até os filhos dos confrades e consócias lá estão carregando um tijolo, uma telha. Ninguém faz uma quermesse tomando contas de todas as barracas. Uns fazem os pastéis, outros fazem o feijão tropeiro, outros fazem o caldo de costela, outros ainda gritam os leilões.
Não fosse assim, nada seria feito.   
Sejamos humildes como Moisés. Não queiramos ganhar a luta sozinhos.
A SSVP é luta de comunidade.  E para que uma comunidade dê certo tem que haver humildade, amizade e caridade entre seus membros.
Quando Jesus disse que estará no meio de onde dois ou três estiverem reunidos em Seu nome, certamente Ele falava de uma comunidade de amor. 
E é isso que a Sociedade de São Vicente de Paulo precisa ser, aliás, seguindo os exemplos de São Vicente e do Beato Frederico Ozanam.
LSNSJC

 

ALUIZIO DA MATA - Vicentino, Sete Lagoas, Brasil   



publicado por Luso-brasileiro às 15:57
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NOVIDADES LITERÁRIAS

           

JOÃO CARLOS JOSÉ MARTINELLI   -  No passado dia 21 de Agosto, no Bienal do Livro, foi lançado a segunda edição do livro  " O Direito de Envelhecer num País ainda jovem" . Martinelli é advogado, Prof.  Universitário e conhecido escritor e cronista paulistano. Assíduo colaborador do nosso blogue.

 

       

                        

PAULO ROBERTO LABEGALINI   -   Acaba de sair o romance cristão " O Mendigo e o Padeiro", onde as personagens buscam um modelo de felicidade conjugal, para ajudar as famílias que têm dificuldades nos relacionamentos. O custa da obra é de R$24,10. O livro é acompanhado por um CD de músicas católicas, interpretadas pelo autor e  filha Soraia.Os pedidos podem ser feitos para labega@unifei.edu.br

Paulo Roberto Labegalini é   Professor Doutor da Universidade Federal de Itajubá-MG, Pró-reitor de Cultura e Extensão Universitária da UNIFEI e colaborador do blogue "PAZ"



publicado por Luso-brasileiro às 15:10
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NOVO CD DE RENATA IACOVINO E VALQUIRIA GESQUI MALAGOLI

                    

Acaba de ser lançado o mais novo trabalho em parceria de Renata Iacovino e Valquíria Gesqui Malagoli: o CD intitulado “inVERSO”.

Embora já tenham outros dois CDs gravados – e um terceiro que sairá ainda em 2010 – voltados para o público infantil, este é para o público adulto.

O repertório traz doze faixas com letras de Valquíria e músicas de Renata, que também interpreta as canções e fez a direção musical.

O CD, que vem sendo aguardado pelo público que acompanha o trabalho de ambas, mostra composições de períodos distintos, e algumas delas já foram apresentadas em saraus e eventos.

Para quem conhecia, até então, seus trabalhos como escritoras e poetisas, poderá conferir mais uma faceta que leva a assinatura da dupla.

A valorização da palavra, da língua portuguesa, dos versos, da poesia e dos elementos a esta ligados, sempre estiveram presentes nas criações de Valquíria e Renata, que possuem uma vasta obra em prosa e poesia. Aqui não é diferente. O cuidado com a composição das letras é acompanhado de perto pela melodia e pelo ritmo idealizados para cada música.

O CD conta com a participação especial do coral “Divino em Canto”, sob regência de Cláudia de Queiroz, na faixa “Trenzinho”.

A este projeto somou-se o talento dos músicos participantes, que contribuíram com sua criatividade em arranjos preciosos.

O show de lançamento de “inVERSO” está previsto para o ano que vem, mas os interessados em adquiri-lo podem entrar em contato pelo site   www.valquiriamalagoli.com.br

 

Clique no título para ouvir um trecho das músicas:

1 A solução 4:09

2 Condenado 2:58

3 Miragem 3:11

4 Nostalgia 2:37

5 Ponte 3:11

6 Sonhos 3:01

7 Trenzinho 4:01

8 Música misteriosa 3:38

9 Mistério das águas 3:35

10 Pouco 2:06

11 Negativo interior 2:23

12 O sexo dos anjos 5:29

 

RENATA IACOVINO  -  é colaboradora do nosso blogue



publicado por Luso-brasileiro às 14:52
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HUMBERTO PINHO DA SILVA - TURVAR A ÁGUA

                      

 

Dizia Nietzsche que certos filósofos, no intuito de passarem por sábios “ turvam a água para parecer profunda”.

O mesmo se pode dizer do que se escreve, em regra, em publicações didácticas e culturais. Revestem o texto de couraça rígida, opaca, verdadeira torre de marfim.

O mesmo hermetismo verifica-se também nas aulas de alguns professores e homilias de sacerdotes, desejosos de “esmagarem” os alunos e fiéis com o peso do seu saber.

Turvam a água os que espraiam conhecimentos em dicção rebuscada, rodriguinhos literários e termos técnicos ou em desuso.

Se o hermetismo pode ser desculpável, quando se aborda temas profanos, quando se trata de matéria religiosa é, para mim, abominável.

Citar textos em latim, falar em cifras, empregar frases inglesas, pode elevar o supedâneo do sacerdote, mas deixam os ouvintes em jejum.

O pregador no púlpito ou o escritor católico na imprensa, quando versam temas doutrinários não devem rebuçar a mensagem com pensamentos filosóficos de difícil interpretação, mas apresentar a ideia despida de artifício, de modo claro, acessível a todos.

Diz Frei Luíz de Sousa que Frei Bartolomeu dos Mártires, ao ser nomeado Arcebispo de Braga, deixou na corte os floreados próprios de orelhas cultas e espíritos elevados e passou a exprimir ideias com palavras chãs, para que todos o entendessem.

Estando em Roma a conversar com franciscano, este confidenciou-me que a Igreja perde fiéis, no Brasil, a favor de seitas, porque os padres falam, em regra, com imagens e exemplos incompreensíveis para os crentes humildes, enquanto os pastores, em norma incultos, usam palavras e exemplos da vida quotidiana das classes mais pobres.

A regra, a meu ver, será falar de harmonia com o nível cultural da assembleia; melhor é ser simples e compreensível que “turvar a água para parecer profunda”, como dizia Nietzsche.

 

HUMBERTO PINHO DA SILVA   -   Porto, Portugal 

 



publicado por Luso-brasileiro às 14:20
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TEREZA DE MELLO - MARIA PAULA

               

 Lisboa em pleno Preck. No Botequim da Natália Correia, jantava com uns amigos.

Defronte de nós numa mesa grande e comprida gente importante na altura e membros do Conselho da Revolução. Cantavam canções alentejanas com versos improvisados a seu jeito. Vasco Gonçalves no poder. Maria Paula ao piano cantando canções populares, quase fascistas, como então se dizia, a disfarçar o ambiente pesado que sentíamos. Casa cheia. Só uma porta de entrada. Metia medo. Era como um desafio de ideias, de posições de cor partidária. A partir daí tudo podia acontecer. Fazia lembrar os tempos da resistência francesa a quando da invasão alemã.

A admiração pela coragem da Maria Paula, que não conhecia, aumentava e levantando-me fui dar-lhe os parabéns. Ela estendeu-me as mãos a tremerem e disse: “- estou cheia de medo.” A minha admiração redobrou.

Voltei para a mesa, mas já não me sentei. Num impulso desatei a cantar bem alto: Sou do Minho, sou do Minho, sou do Minho natural. Quem não conhecer o Minho não conhece Portugal. E por ai fora, improvisando mais quadras, que penso, patriotas. O Minho era na altura como que a resistência. Quase não havia  comunistas e vivia-se em paz. E sou minhota da Ponte da Barca. A Maria Paula acompanhava-me ao piano. Com a coragem que ela me transmitira consegui abafar os coros alentejanos que acabaram por se calar.

Nunca mais lá voltei e nunca mais a vi até que passados muitos anos passei a encontrá-la na missa dos sábados na capela do Centro das Amoreiras. Ia sempre falar-lhe. Como é natural não se lembrava de mim. Para ela era a senhora das capas bonitas, disse-me um dia.

Sempre que ia a Lisboa tornava a vê-la na missa. Durante anos. Até que um dia ao ler um artigo passado nesse tempo escrito pelo Sr. Fernando Picão, no jornal “Consciência Nacional” me lembrei de escrever também, mas sobre a Maria Paula, essa grande e corajosa senhora, hoje quase esquecida.

Quando o artigo veio publicado tirei uma fotocópia para lhe dar quando voltasse a Lisboa. Era como que a minha pequena homenagem. Voltei lá várias vezes, continuei a ir à missa dos sábados na capela do Centro das Amoreiras, na esperança de a encontrar. Mas a Maria Paula deixara de lá aparecer e ninguém me soube dizer do seu paradeiro

TERESA DE MELLO   -   Lisboa - Portugal



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PINHO DA SILVA - CASA ONDE NASCEU O INFANTE D. HENRIQUE, PORTO

                     



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