Contam que na carpintaria houve uma estranha assembléia. Foi a reunião das ferramentas para acertar suas diferenças. O martelo exerceu a presidência, mas os participantes lhe notificaram que teria que renunciar. A causa? Fazia demasiado barulho e, além do mais, passava todo o tempo golpeando os outros.
O martelo aceitou sua culpa, mas pediu que também fosse expulso o parafuso, dizendo que ele dava muitas voltas para conseguir algo. Diante do ataque, o parafuso concordou, mas, por sua vez, pediu a exclusão da lixa. Dizia que era muito áspera no tratamento com os demais. A lixa acatou, com a condição de que expulsassem a trena, que sempre julgava os outros segundo a sua medida, como se fora a única perfeita.
Nesse momento entrou o carpinteiro, juntou o material e iniciou seu trabalho. Utilizou o martelo, a lixa, a trena e o parafuso. Finalmente, a rústica madeira se transformou num fino móvel. Quando a carpintaria novamente ficou só com as ferramentas, a assembléia reativou a acirrada discussão. Foi então que o serrote tomou a palavra:
– Senhores, ficou demonstrado que temos defeitos, mas o carpinteiro trabalha com nossas virtudes. Assim, não pensemos em nossos pontos fracos e concentremo-nos nos fortes. Somente juntos faremos um trabalho de excelente qualidade.
Como resultado, a assembléia entendeu que o martelo era forte, o parafuso unia os demais, a lixa era especial para limar asperezas e a trena era precisa. Sentiram-se então como uma equipe capaz de produzir móveis de gabarito. Imperou a alegria pela oportunidade de trabalharem juntos.
O mesmo ocorre com os seres humanos. Quando uma pessoa busca defeitos em outra, a situação torna-se tensa e negativa. Ao contrário, quando se busca os pontos fortes dos outros, florescem as melhores conquistas humanas. É fácil apontar defeitos e qualquer um pode fazê-lo, mas encontrar qualidades, isto é para os humildes e corajosos.
E corajosos foram também os vereadores da Câmara Municipal de Itajubá. Deixando para outras oportunidades alguns justos reconhecimentos a tanta gente boa que reside na cidade, resolveram homenagear dez pessoas com o título de ‘Cidadão Honorário’. Eu agradeço imensamente fazer parte da lista e comentarei a cerimônia no próximo artigo.
Que bom seria se a raça humana se comportasse com respeito e educação no convívio com o próximo, não? O mundo seria perfeito e as homenagens poderiam ter o critério de sorteio, onde qualquer cidadão mereceria o aplauso da população. Infelizmente, sentimentos negativos ainda moram em muitos corações.
Ataques pessoais diversos acontecem a todo instante em toda parte, e para não particularizar exemplos, cito esta provocação em forma de piada:
Uma convenção de todas as cervejarias aconteceu no Brasil. Muita gente famosa estava por lá: presidentes da Kaiser, da Brahma, da Antártica, da Skol e de outras fabricantes. No final do dia, os executivos decidiram beber alguma coisa no bar.
O presidente da Kaiser chegou pedindo em voz alta:
– Garçom, me traz uma Kaiser, por favor.
O presidente da Antártica não deixou por menos:
– Amigo, me vê uma Antártica bem gelada!
O Presidente da Brahma pediu uma maravilhosa Brahma, e assim por diante, até que o garçom, já premeditando a resposta, perguntou ao presidente da Skol o que ele iria beber. Para a surpresa dos presentes, o executivo calmamente disse:
– Por favor, me dá um suco de laranja.
Então, um de seus ‘colegas’ perguntou:
– Por que você não pediu uma Skol?
Mostrando indiferença, ele respondeu:
– Se vocês não vão beber cerveja, eu também não vou!
E como o final desta semana premiará nossos representantes na política, façamos nossas orações para termos um clima de paz e que o bem da Nação esteja em primeiro lugar. Precisamos de um Brasil cada vez mais justo, mais fraterno com os pobres, além do freqüente combate à corrupção, para um dia não ouvirmos mais histórias como esta:
A Organização das Nações Unidas fez uma grande pesquisa mundial. A pergunta era: ‘Por favor, diga honestamente qual sua opinião sobre a escassez de alimentos no resto do mundo’. O resultado foi desastroso.
Os alemães não entenderam o que é ‘escassez’; os africanos não sabiam o significado da palavra ‘alimentos’; os argentinos desconheciam a expressão ‘por favor’; os americanos perguntaram o que quer dizer ‘resto do mundo’; os cubanos pediram explicações sobre ‘opinião’; e os políticos brasileiros estão até hoje debatendo o significado de ‘honestamente’.
Após a eleição, peçamos a Deus que:
Se for para esquentar, que seja no banho de sol. Se for para chorar, que seja de alegria. Se for para mentir, que seja a idade. Se for para roubar, que seja um beijo. Se for para perder, que seja o medo. Se for para ter guerra, que seja de travesseiros. Se for para ter fome, que seja de amor. Se for para ser feliz, que seja o tempo todo... a caminho do Paraíso.
Pesquise e faça bem feita a sua parte neste domingo.
PAULO ROBERTO LABEGALINI -- Escritor católico, Professor Doutor da Universidade Federal de Itajubá-MG. Pró-reitor de Cultura e Extensão Universitária da UNIFEI.
No próximo dia 28 de Setembro, pelas 20H00, o Sr. Prof. Doutor Paulo Roberto Labegalini, receberá o titulo de Cidadão Honorário da cidade de Itajubá, que lhe será entregue pela Câmara Municipal, em cerimónia solene.
Determinados meses do ano são marcados por características fortes e importantes para a vida de uma nação ou das pessoas. Outubro, que se iniciou na última sexta-feira, invoca a criança – esse gracioso, frágil e tão abandonado ser neste País e também os professores, que continuam junto dos alunos a obra criadora de Deus. Outras datas são marcantes e estritamente relacionadas com o futuro da sociedade e da ordem social, dos critérios de justiça, da participação e da fraternidade. Neste ano, logo no seu início, temos as eleições, que despertam a importância do exercício da cidadania através do voto e da permanente fiscalização dos eleitos, para que promovam o bem comum e governem em função dos interesses coletivos.
01 de outubro. DIA INTERNACIONAL DO IDOSO
A Organização das Nações Unidas decretou que 1º de outubro é o Dia Internacional do Idoso e a celebração se baseia na Declaração dos Princípios para os Idosos, estabelecida na reunião geral da entidade de 3 de dezembro de 1982. Em homenagem a data, que ocorreu sexta-feira, invocamos os cinco princípios básicos que norteiam o texto composto dezoito itens: indepedência, participação, bem-estar, desenvolvimento e dignidade. Com efeito, os idosos devem viver com dignidade e segurança, livres de explorações e maus-tratos; devem ser tratados com justiça, independentemente de idade, sexo ou raça.
02 de outubro – DIA INTERNACIONAL DA NÃO VIOLÊNCIA
A data foi criada há apenas três anos pela Organização das Nações Unidas, como uma homenagem ao nascimento de Gandhi, o apóstolo da não violência, o porta-voz da cultura de paz, com seus princípios de ações pacíficas como forma de resolução de conflitos. Através de resolução, a ONU recomenda a todos os Estados-membros e organizações internacionais que divulguem “a mensagem da não violência a partir da educação e da conscientização pública”. Efetivamente para se construir um mundo mais fraterno e digno, é preciso, em primeiro lugar, firmar um compromisso sincero com a vida. Um gesto concreto é defender com garra os direitos de cidadania, sobretudo das pessoas mais humildes.
04 de outubro. DIA DOS ANIMAIS.
Data escolhida porque a Igreja Católica celebra o Dia de São Francisco de Assis, que amava demasiadamente a natureza, a ponto de chamar o Sol e a Lua de irmãos e enxergar, nos bichos, provas da bondade de Deus. De forma geral, até hoje esse extraordinário santo nos leva a refletir sobre a importância dos animais, que concorrem com as espécies vegetais à manutenção do equilíbrio ecológico, indispensável à sobrevivência dos homens na Terra. Por um costume muito antigo, de camponeses europeus, no domingo mais próximo ao dia que lhe é consagrado – hoje - é hábito levar os animais de estimação para religiosos os abençoarem.
05 de outubro.DIA DA AVE
“A vivência com os pássaros nos dá uma formação de paz, amor e respeito ao próximo”. Esta afirmação foi feita pelo ornitólogo Johan Dalgas Frisch e dá uma idéia clara da razão dos pássaros serem a representação viva da liberdade. O “Dia da Ave” foi criado por inspiração da Associação da Vida Selvagem e da Sociedade Ornitológica Bandeirante em 1965. A data foi oficializada pelo Governo Federal em 1968. O pássaro símbolo é o sabiá, que chega a cantar quatro melodias durante 60 segundos.
8 de outubro. DIA DO NASCITURO
Na primeira semana de outubro, há vários anos, a Conferência Nacional dos Bispos do Brasil (CNBB) promove em todo o País a Semana Nacional pela Vida, com o objetivo de promover a maior valorização da vida humana, desde seu início, na concepção, até a morte natural. A comemoração se encerra com o Dia do Nascituro, 8 de outubro, chamando a atenção para aqueles seres humanos que já existem, mas ainda não nasceram e mesmo assim merecem proteção legal.
10 de outubro. DIA CONTRA A PENA DE MORTE
Violação do direito fundamental à vida que ainda faz parte das leis criminais de muitas nações. Em países como o Brasil, o Código Penal não prevê esse tipo de sanção, mas diariamente se repetem chacinas e outros tipos de execuções extrajudiciais cometidas por policiais ou por grupos de extermínio, que receberam recentemente o nome de milícias. Concomitantemente uma desenfreada violência geral acompanha o nosso cotidiano, tornando a vida de brasileiros, um verdadeiro caos.
12 de outubro. DIA DA CRIANÇA
A data nos incentiva a refletir sobre os anseios das crianças Em 20 de novembro de 1959, a ONU elaborou especialmente para os menores a Declaração Universal dos Direitos da Criança. Por ela, entre outras garantias, todas as crianças do mundo têm o direito de crescer plenamente e com liberdade e dignidade e a criança deve ser protegida contra qualquer tipo de discriminação.
12 de outubro – DIA DE NOSSA SENHORA APARECIDA
A devoção à Padroeira do Brasil começou quando a imagem da santa foi encontrada por moradores de uma vila de pescadores chamada Porto Itaguaçu, às margens do Rio Paraíba do Sul, zona rural de Guaratinguetá em 12 de outubro de 1717. Esse culto é exemplo de liberdade religiosa que vigora em nosso País. Um dos incisos do artigo 5º da Constituição da República Federativa do Brasil estabelece ser “inviolável a liberdade de consciência e de crença, sendo assegurado o livre exercício dos cultos religiosos e garantida, na forma da lei, a proteção aos locais de culto e as suas liturgias”. E a Carta Magna acrescenta: “Ninguém será privado de direitos por motivo de crença religiosa, convicção filosófica ou política”.
12 de outubro. DIA DO MAR
A data foi instituída para celebrar a histórica viagem do navegador Cristóvão Colombo, que no dia 12 de outubro de 1492 desembarcou na Ilha de Guanahari, por ele batizada de San Salvador, no arquipélago das Bahamas, na América Central. Apesar de ter sido motivada por um apelo histórico, a data também é lembrada em função da preocupação mundial com a poluição marinha. Afinal, os oceanos cobrem três quartos do planeta (a Terra tem quatro oceanos e treze mares, pelo menos).
15 de outubro. DIA DO PROFESSOR
A categoria em nosso país, infelizmente não tem o que comemorar. Se lhe falta reconhecimento na folha de pagamento pelo sistema, também não é valorizada e, às vezes, sequer respeitada, na medida da sua importância, pela comunidade a que serve. Tal quadro vem tornando escasso o número de indivíduos que hoje praticamente se aventuram em exercer uma carreira de manifesto descaso por quase todos os setores sociais. Tal quadro é muito grave, já que avançar na educação é somar créditos de cidadania, que poderão ser resgatados em todas as etapas da vida, pessoal ou profissionalmente e a missão de educar é a máxima sinonímia de entrega e dedicação.
16 de outubro. DIA INTERNACIONAL PARA REDUÇÃO DE DESASTRES
Instituída pela Estratégia Internacional para Redução de Desastres – a Eird -, órgão vinculado à Organização das Nações Unidas, a data procura incentivar, em nível mundial, campanhas que levem à formação de consciência e à ampliação de percepção acerca dos riscos específicos a que estão sujeitas as populações de todos os países e acerca do grau de vulnerabilidade aos desastres de tornar a prevenção uma ferramenta adequada para o desenvolvimento sustentável.
16 de outubro. DIA MUNDIAL DA ALIMENTAÇÃO
Nesta data, em 1945, a FAO foi criada para ajudar a reconstruir um mundo devastado pela guerra. O preâmbulo da sua Constituição converge para assegurar um mundo sem fome. Exatos 65 anos depois, ainda lutamos por tal circunstância. O direito à alimentação já estava previsto na declaração Universal de Direitos Humanos (1948), mas os números da fome no mundo mostram que ele ainda está longe de ser realidade. Nesta mesma data, celebra-se o Dia Mundial contra Miséria, que tenta lembrar à opinião pública das dimensões da pobreza. Com efeito, as desigualdades são mais do que um desafio social: revelam-se num agravo à consciência ética da humanidade.
18 de outubro. DIA DO MÉDICO
A Universidade de Pádua, na Itália, proclamou no dia 18 de outubro de 1468, o evangelista e médico Lucas como patrono do Colégio dos Filósofos e dos Médicos. A partir daquele ano, essa data passou a ser comemorada como o Dia do Médico. É uma homenagem aos profissionais que exercem a arte de curar, através de métodos científicos. Por outro lado, os direitos humanos estão adquirindo outra concepção em relação aos doentes com algum tipo de sofrimento físico, pois envolve circunstâncias que originam exigências de respeito, acatamento, solidariedade e assistência psicológica, além de perseguir permanentes estudos e pesquisas visando, senão elimina-la em definitivo, pelo menos minimizá-la ao máximo possível. E nesta trilha, a figura do médico é imprenscindível e de manifesta relevância.
28 de outubro – DIA DO SERVIDOR PÚBLICO
Homenagem ao patrono do funcionalismo, apóstolo e evangelista São Mateus que trabalhou como coletor de impostos até ingressar na vida religiosa. Apesar da situação difícil da categoria, há exemplos de excelentes profissionais que realmente estão preparados para atuarem na área, servindo exemplarmente à população. Infelizmente outros ingressam nas carreiras buscando apenas os benefícios da estabilidade, pouco se importando com o “múnus” de suas funções.
JOÃO CARLOS JOSÉ MARTINELLI é advogado, jornalista, escritor, professor de Direitos Humanos da Faculdade de Direito do Centro Universitário Padre Anchieta de Jundiaí e Mestre em Ciências Sociais e Jurídicas.
Quase 4 milhões de brasileiros, aqueles que não declinaram de exercer cidadania, exigiram o “ficha limpa”. Depois que a política foi arremessada à lata de lixo da ética, era preciso reiniciar o resgate de uma atividade à qual todos estamos submetidos. É a política o caminho para o encaminhamento das questões que interessam a cada ser humano durante o curto período de sua existência terrena. A proposta é muito simples e objetiva. Impedir que cidadãos em déficit para com a Justiça venham a representar os interesses coletivos, antes de acertar contas com ela.
Aquilo que pareceu um bom retorno às melhores práticas republicanas tende ao insucesso. Neste País do “quanto pior melhor”, tudo indica venha a prevalecer a interpretação literal do artigo 16 da Constituição Cidadã: “A lei que alterar o processo eleitoral entrará em vigor na data de sua publicação, não se aplicando à eleição que ocorra até 1 (um) ano da data de sua vigência”. Se isso acontecer, e também vingar a tese de que só não terá “ficha limpa” o condenado em última instância, tudo não passou de um sonho.
Delírio de quem acredita que a população possa ter voz no regime em que a forma é mais relevante do que o conteúdo. Pois a implementação da vontade do povo só ocorrerá após vencida a corrida de obstáculos das quatro instâncias da Justiça pátria, com decisão definitiva e irrecorrível do Supremo Tribunal Federal. Depois, não acusem a juventude de boicotar a seleção dos melhores, para debochar e ridicularizar um processo que, viciado em sua fórmula, não permite que a cidadania se veja representada no Parlamento. Principalmente no Parlamento, que é a “caixa de ressonância das aspirações populares”.
Adeus à lírica noção de “sociedade aberta dos intérpretes da Constituição”, à luz do pensamento de Häberle, que inspirou alguns de nossos luminares do Direito Constitucional. Vencerá a literalidade e, com ela, a preservação de um estado de coisas que desanima, decepciona, desalenta e faz duvidar de que exista alguma esperança para as próximas gerações. Quem viver verá! Excesso de pessimismo? Uma vez mais, invoque-se José Saramago: “Não sou pessimista. O mundo é que está péssimo!”.
José Renato Nalini é Desembargador da Câmara Especial do Meio Ambiente do Tribunal de Justiça de São Paulo e autor de “Ética Ambiental”, editora Millennium. E-mail: jrenatonalini@uol.com.br.
“Estou vendendo um realejo/Quem vai levar/Quem vai levar/Quem comprar leva consigo/Todo encanto que ele traz/Leva o mar, a amada, o amigo/O ouro, a prata, a praça, a paz/E de quebra leva o harpejo/De sua valsa se agradar/Estou vendendo um realejo/Quem vai levar/Quem vai levar...”.
A singeleza destes versos retrata um tempo – não muito distante – que não volta mais. Há tempo que volte? Vejo-o passar, seguindo seu rumo. Como dizia um outro poeta, “o tempo não para”.
Os versos de “Realejo”, canção de 1967, de Chico Buarque, nos retratam com simplicidade a perda de valores, que vão se tornando quanto mais dispensáveis, mais necessários. A ingenuidade não é motivo para vergonha, mas para se obter mais afetividade e sentimento humano. Dito assim, parece pleonasmo. Seria... no entanto, o que vemos hoje é uma humanidade que caminha para a ausência de sentimentos, então, para a ausência de si mesma, de sua essência precípua.
O humanismo foi um movimento intelectual que fomentou, no Renascimento, a valorização do saber crítico, saber este do qual estamos nos distanciando.
Quem vai querer comprar um realejo em tempos de aquisições fúteis, de felicidades fabricadas, de desejos autômatos e de ausência de palavras?
O encantamento é substituído pela fugacidade, a partilha pelo individualismo, e seguimos como quem obedece a uma cartilha que prega a inversão de valores.
Há outros versos de resistência compostos por Chico na mesma fase, que já mostrava uma recusa ao mundo industrializado, contaminado pelo consumismo e pela massificação.
“O homem da rua/Fica só por teimosia/Não encontra companhia/Mas pra casa não vai não/Em casa a roda/Já mudou, que a moda muda/A roda é triste, a roda é muda/Em volta lá da televisão/No céu a lua/Surge grande e muito prosa/Dá uma volta graciosa/Pra chamar as atenções/O homem da rua/Que da lua está distante/Por ser nego bem falante/Fala só com seus botões”.
Mesmo que o tempo não regresse, a poesia de Caetano sopra: “Ainda assim acredito/Ser possível reunirmo-nos/Tempo, Tempo, Tempo, Tempo/Num outro nível de vínculo/Tempo, Tempo, Tempo, Tempo”.
Renata Iacovino, escritora e cantora / reiacovino.blog.uol.com.br /
reval.nafoto.net / reiacovino@uol.com.br
Durante um tempo, eu me debati, eu me rebelei. Não fui, como ainda não sou, capaz de aceitar uma pena sem ter cometido qualquer crime. Tentei, com todas as minhas forças, recuperar a liberdade, voltar ao convívio dos meus. Gritei, gritei, mas ninguém me ouviu ou, se me ouviram, não me entenderam...
Sei que a alegação de inocência é moeda comum dos aprisionados, mas, no meu caso, de fato, é a mais pura verdade. Não tive direito ao contraditório, a uma defesa, sequer a um julgamento. Fui privado da minha família, da minha liberdade e de tudo aquilo que eu conhecia por vida. Sequer a um advogado eu tive direito, alguém que, ao menos, pudesse ouvir e sustentar o meu clamor. Vez ou outra eu sentia que se compadeciam de mim, mas seja como for, nunca tomaram a minha causa nas mãos.
Por mais que eu pense, que eu me esforce, não tenho lembranças de nada que pudesse ter me desabonado, que justificasse esse cumprimento de pena. Não tenho direito à progressão. Jamais irei ao semi-aberto, jamais terei indultos de Natal ou liberdade assistida. Nada há aqui que me dê esperanças de dias melhores. Tudo o que me resta é esperar pelo fim dos meus dias.
Não me falta água ou comida, contudo. Não corro perigos além daquele de enlouquecer, porque além de preso, estou na solitária. Há tempos não toco um semelhante, não sinto dele o calor, o bater do coração. Somente os vejo e os invejo, livres para ser o que eu poderia ter sido. Da minha família jamais tive notícias e, tal como me encontro, também não terei qualquer chance de formar outra...
O que falta é ver o céu azul, é sentir o vento me bater na cara, é sentir o mundo um lugar imenso, infinito. Aqui os dias são iguais, marcados somente pelo existir, mas não pelo viver. Se eu tivesse companhia, talvez a dor que sinto pudesse encontrar algum alívio, mas a solidão, ao contrário, fez de mim um ser melancólico, taciturno, desiludido.
Creio até que nem mais sei ser livre. A liberdade já me é uma estranha e, depois de tantos anos, já me resignei, já entendi que minha prisão é perpétua e vai durar enquanto eu respirar. Algumas injustiças se perpetuam no tempo e, na minha cela, somente desejo que outros não passem por isso, que as pessoas se apiedem dos meus semelhantes.
Quiçá um dia compreendam meu pranto e não o confundam com canto. Da minha gaiola, vendo o céu ao longe, só faço pensar nos dias que pertenceram às minhas asas, enquanto eu podia rasgar o azul, enquanto eu pude ser simplesmente, um pássaro...
CINTHYA NUNES VIEIRA DA SILVA- Advogada, mestra em Direito, professora universitária e escritora - São Paulo
Clarice Lispector escreveu: “As pessoas mais felizes não têm as melhores coisas. Elas sabem fazer o melhor das oportunidades que aparecem em seus caminhos”.
Enquanto aguardava a vez para me confessar, observava uma moça que caminhava, dentro da Igreja, com o filho de quatro anos ou um pouco menos. Passava pelos vitrais azuis da Igreja São João Batista e deixava, juntamente, com o pequeno, invadir-se pela luminosidade. Para alguns, apenas a luz do sol que atravessava os vidros com símbolos. Pela expressão dela, o reconhecimento de que a claridade sempre dá sentido novo ao coração e poderá, desde a tenra idade, orientar os passos da criança.
Meus olhos se voltavam para ela e para minha consciência. Não diminuir nada que possa subtrair a graça de Deus. Ser fiel nas surpresas que a vida reserva. Não bendizer ao Altíssimo, pelos dons que Ele me deu, é vanglória. O amor é que distingue os filhos de Deus dos filhos do mal. Discípulos de Cristo não poupam a própria vida. A justiça de Deus começa no coração de quem não cultiva rancor. Em relação aos que Lhe prepararam a cruz, Jesus exclamou: “Pai, perdoai-lhes porque não sabem que fazem” e derramou sobre eles graça e salvação. Prudência sobrenatural é discernir a vontade de Deus e renunciar a qualquer tipo de prazer em que Deus não esteja presente. A cruz, em que Jesus Cristo venceu a morte, é o patíbulo e o troféu de Deus. Se permitir que Deus frutifique os dons de Sua graça em mim, o Espírito soprará como o vento que faz navegar o barco à vela que busca mares fecundos.
A moça apontava para o filho cada um dos vitrais azuis da Igreja. Oferecia-lhe o azul do céu. Defronte ao altar mor, elevou-o no colo, sussurrou algo e o menino, com inclinação serena, beijou o Sacrário.
A mãe o conduziu até o Cálice da Vida, o Cálice com Vida, de onde transborda o Alimento da Eternidade. Preocupação com o essencial para o menino.
Era eu a próxima a confessar. Na contemplação do momento, veio-me o capítulo 37 do Livro de Ezequiel, a respeito dos ossos ressequidos: “A mão do Senhor estava sobre mim, e o Senhor me levou em espírito para fora e me deixou no meio de uma planície repleta de ossos. (...) E Ele me disse: ‘Profetiza sobre estes ossos e dize-lhes: Ossos ressequidos, ouvi a palavra do Senhor! Assim diz o Senhor Deus a estes ossos: Vou infundir-vos, eu mesmo, um espírito para que revivais. (...) Então sabereis que eu sou o Senhor’. (...) Farei com eles uma aliança de paz; será uma aliança eterna com eles. Eu os estabelecerei e multiplicarei, e no meio deles porei meu santuário para sempre. Minha morada estará junto deles. Eu serei o seu Deus e eles serão o Meu povo. Assim as nações saberão que Eu, o Senhor, santifico Israel, por estar Meu santuário no meio deles para sempre”. Dobrei os meus ossos para o Sacramento da Penitência e o Senhor, o Bom Pastor, na claridade azulada, que continha também o menino com sua mãe a lhe apontar sinais maiores, ofereceu-me a santidade de Seu Espírito e me pôs nos ombros.
Maria Cristina Castilho de Andrade
Educadora, coordenadora diocesana da Pastoral da Mulher e cronista
Você já teve insônia alguma vez? Se não teve, não queira ter. É uma das piores coisas que pode nos acontecer. Ficamos sem lugar, sem ter com quem conversar, só vem pensamento ruim. Não é uma boa experiência. O livro, por melhor que seja, torna-se chato. Programas de televisão ficam piores do que são. Não conseguimos nem orar direito.
A insônia pode acontecer por muitos motivos. Cada pessoa tem o seu, mas o ruim é que mesmo que não consigamos dormir não resolvemos o problema que a causou.
Agora, imaginemos a situação de um assistido. A começar por se sentir abandonado pela família, por estar com a saúde precária, por ter que receber ajuda até para comprar alimentos e remédios. A solidão é sua companheira de quase todo o tempo. As recordações não o deixam. Pensa muito no fim dos seus dias. O que está acamado, então, sofre muito mais. Impedido, às vezes, até de dar um pequeno passeio fora do seu cômodo para tomar um pouco de sol, passa o dia temendo a chegada da noite.
É verdade que conta com alguma visita semanal feita pelos vicentinos, que estão sempre prontos para atender as suas necessidades, mas não é a mesma coisa. A saudade que ele tem da família é muito grande.
O assistido tem muito mais motivos para ter insônia. Se ele mora sozinho, se não sabe ler ou não tem um livro para ler ou uma revista para folhear, os momentos insones são terrivelmente chatos. Se estiver em um hospital, onde não possa fazer nada para minorar a situação, então, a situação fica insuportável.
Eu tenho um amigo que já bem de idade muitas vezes fica hospitalizado. Um dia ele me disse: “O pior do hospital é a solidão”.
Ele deve saber o que fala. A pessoa quando está doente fica sem paciência. Imagine, então, em um hospital onde todos que estão por perto ou são profissionais que não podem dar muita atenção, ou são doentes que sofrem da mesma impaciência e solidão.
Ao vicentino cabe minorar um pouco essa situação. Nossas visitas devem ser feitas sem pressa, em um clima alegre (mesmo que a situação não seja lá muito boa). Se visitarmos o assistido em sua casa, mais uma razão para que a visita seja bem feita. O pobre adora conversar. Conte para ele as novidades que estão acontecendo no mundo. A minha Conferência tinha um assistido que sabia fazer cestos de bambu. A gente passava muito tempo conversando, enquanto com o canivete ele preparava as tiras do bambu para serem trançadas. Já uma assistida adorava a sua hortinha. A gente não saia de lá sem um pé de alface ou um molho de cebolinha. Ela tinha prazer em ver a oferta ser aceita. Era uma forma de “pagamento” que gostava de fazer.
Se a visita for feita em um hospital, de acordo com a prescrição médica, podemos levar algum biscoito para o assistido e para quem esteja internado na enfermaria junto com ele.
Se for em uma cadeia, umas revistas, uns jornais fazem muito bem. Um bloco e lápis para que escreva uma carta. Talvez a gente mesmo escrever para ele, e a encaminhar. E por falar em insônia, muitos presos ficam com insônia, com medo de dormir e sofrer alguma violência.
Em fim, a insônia está presente em muitas ocasiões e situações. E bem que podemos ajudar de alguma maneira. Tenho a certeza de que no dia em que o assistido recebe uma visita bem feita do vicentino, pelo menos na hora de dormir ele terá algo de bom para pensar. Provavelmente vai dirigir uma oração a Deus agradecendo ter aquela amizade sincera e desinteressada. Quem sabe, assim, seu sono chegue e a insônia não atrapalhe seu merecido descanso.
ALUIZIO DA MATA - Vicentino, Sete Lagoas, Brasil
No baú das recordações, que é a memória, permanecem cenas, episódios difusos envoltos em nuvens de fumo, quase apagados pelo tempo; e histórias fictícias ou não, que meu pai contava e recontava no propósito – que só agora compreendo, – de alertar-me para as alicantinas da vida.
Entre elas há uma pitoresca, passada com parente de minha avó paterna.
Por ser curiosa e utilíssima para os jovens e adultos descuidados, que julgam que o mal só acontece ao próximo, vou esquiçá-la em dois ou três traços, melhor dizendo: em poucas linhas.
Essa antepassada que nasceu nas últimas décadas do século XIX, era casada com negociante. Homem ambicioso que trabalhara desde menino. Como a vida não lhe corresse como desejava, assentou granjear fortuna no Brasil - quiçá influenciado pelos “brasileiros” que regressavam trajados de branco, grossos anéis de oiro nos dedos e adquiriam: quintas, conventos e solares a nobres arruinados, - terra onde se dizia que o oiro e as gemas eram tão abundantes como o leite e o mel na terra prometida.
Seja como fosse embarcaram num navio que os levou a Santa Cruz; após semanas de enjoos, receios e borrascas, desembarcaram salvos e sãos em Santos.
Treparam a montanha e chegaram a São Paulo e associando-se a patrício montaram pequeno armazém de secos e molhados. Bafejados pela sorte o negócio prosperou, transformando-se em imponente empório.
Ia tudo bem até que o marido lhe adoeceu de grave enfermidade, vindo a falecer meses decorrido, apesar dos cuidados médicos e dedicação da esposa.
A viúva inconsolável, chorou a morte do marido. Vestiu-se de luto cerrado; Assistiu às missas celebradas e recolheu-se angustiada a casa, que lhe pareceu fria e triste.
Só, longe dos seus, perdida numa grande metrópole, sofria a sua dor e a sua sorte.
Ao cair de tarde de Outono, de céu de cinza, foi jantar a casa do sócio. A conversa caiu sobre a funesta sina:
- Por que não vai para Portugal - disse-lhe carinhosamente o sócio. - Eu cuido de tudo e mensalmente mando-lhe a parte de seu marido.
Debulhada em lágrimas, agradeceu, e confiante no velho companheiro, que sempre lhe fora leal, concordou passar-lhe procuração de plenos direitos, para administrar bens e negócio.
Foi dramática a despedida. Houve lágrimas, abraços, juras da esposa do sócio, para que viajasse tranquila, pois garantia-lhe que o dinheiro seria escrupulosamente entregue.
Chegou a minha antepassada derreada pela longa e penosa viagem a casa da mãe. Abraçou-a; reviu amigas de infância; comprou o que carecia e aguardou pela chegada da primeira remessa.
Decorrido o mês e como nada chegava, resolveu escrever ao sócio. Ansiosa, esperou por novas. Inquieta, interrogava o carteiro, mas a resposta era sempre a mesma: Nada chegou do Brasil.
Como não recebesse, nem carta, nem cheques, nem letras, dirigiu-se a advogado portuense, que a escutou atentamente, e quando concluiu a confissão, este, de semblante carregado, disse-lhe:
- Minha Senhora: vou contactar colega de São Paulo para verificar o que se passa; mas desde já aviso-a que provavelmente perdeu os bens. Pode ser que me engane, mas a experiência, como jurista, leva-me a pensar assim.
Ficou aflitíssima, mas confiava ainda na honestidade do sócio amigo; mesmo assim as lágrimas saltaram, quando o jurista lhe disse:
- Minha Senhora: ao passar procuração, com plenos direitos, foi o mesmo que doar o quinhão no negócio. Documentos desses não se passam sem consultar um advogado, mesmo que seja a irmão! Pode ser que o sócio seja honesto, mas…são raros os casos dessas certidões irem parar a mãos limpas. O oiro cega até os crentes, quanto mais os vigaristas. Não conhece o anexim: “Amigos, amigos, negócios aparte?”
O certo é que o dinheiro nunca chegou. De inculcas em inculcas, veio-se a saber que o sócio havia passado a cota para seu nome, declarando que lhe entregara, em dinheiro vivo, diante testemunhas, e não pedira quitação, porque pensava que amiga íntima, quase irmã, não vinha reclamar o que recebera perante testemunhas idóneas.
Nunca compreendi, mesmo criança, porque não foi apresentado queixa judicial de burla. Talvez, nessa recuada época as comunicações fossem demoradas e difíceis ou talvez o sócio fosse mestre em falcatruas.
HUMBERTO PINHO DA SILVA - Porto, Portugal
O exercício efetivo da cidadania, que os textos constitucionais apóiam como aspiração legítima, impõe contínua vigilância em defesa de direitos e de novas conquistas. Por isso, a participação política é essencial à sua consolidação. Por isso, o que não pode ocorrer é o cidadão, entender que, praticado o voto, já fez a sua parte. Fez, mas não totalmente. É preciso que acompanhe o trabalho dos que elegeu, fiscalizando-os de maneira permanente e eficaz para que o Estado realmente atue em função da coletividade, sintonizado com as causas verdadeiras e necessidades reais da população.
O ato de votar não pode ser considerado como uma mera obrigação constitucionalmente imposta. Mais do que um dever, o seu exercício é um direito do cidadão, revelando-se na manifestação da vontade popular, base da democracia. Por isso, ele deve ser consciente, resultado de análise acurada sobre os candidatos e a vocação destes na promoção da vida e do bem comum.
Infelizmente, decepcionados com o cenário político brasileiro, muitos perderam a esperança naqueles que se propõem a nos representar, entendendo que depois de eleitos, a maioria se acomoda na consecução de interesses pessoais, distanciando-se das aspirações coletivas. Essa concepção é um estímulo ao voto nulo ou branco, mas resistindo a tentação, não devemos desperdiçar a oportunidade de escolhermos pessoas comprometidas com valores e princípios coerentes, refletindo sobre seus programas e eventuais projetos. A omissão à nossas responsabilidades cívicas ou morais, só prejudicará ainda mais a situação.
Em prol da ética e da justiça, a participação efetiva e concreta da sociedade no processo de administração do Brasil é extremamente importante à moralização do sistema político nacional, tão conturbado pela insaciável gana de grande parte de seus integrantes, habituada ao “é dando que se recebe”, premissa básica da corrupção e do desleixo com a coisa pública. Nesta trilha, a OAB – Ordem dos Advogados do Brasil mantém permanentemente uma campanha nacional contra a corrupção eleitoral priorizando o lema “voto não tem preço, tem conseqüência”, visando coibir a compra de votos, recomendando aos eleitores que gravem ou recolham documentos sobre quaisquer tentativas de fraudes para encaminharem a estes centros que por sua vez, enviarão as possíveis denúncias à Justiça Eleitoral ou ao Ministério Público.
Além de delegar poder aos eleitos, os cidadãos precisam, atentos e organizados, fiscalizá-los de maneira permanente e eficaz para que o Estado realmente atue em função da coletividade, sintonizado com as causas verdadeiras da cidadania. Teremos desempenho eficiente dos mesmos somente com a observância e a cobrança constantes, no sentido de um funcionamento que responda efetivamente ao interesse da população. O que não pode ocorrer é o cidadão, entender que, praticado o voto, já fez a sua parte. Fez, mas não totalmente. É preciso que acompanhe o trabalho dos que elegeu, para que estes sintam que o mandato não é deles, mas sim uma delegação de atribuições em relação as quais têm permanentemente de prestar contas.
A sociedade brasileira parece ter se acomodado à bandalheira, à incompetência e à violência que dilaceram o País. Sabemos das dificuldades que o indivíduo enfrenta para se conduzir numa época extremamente consumista, permissiva e por isso mesmo, angustiada e vazia de sentido. No entanto, o exercício efetivo da cidadania, que os textos constitucionais apóiam como uma aspiração legítima impõe contínua vigilância em defesa de direitos e de novas conquistas. Por isso, a participação política é essencial à consolidação do Estado Democrático de Direito.
Também não podemos nos afastar dos valores cristãos, humanos e familiares, sem os quais não se operam as necessárias transformações sociais. A política, que deveria se revelar numa realidade manifestamente dinâmica se estacionou quase que em barganhas, nos conchavos entre compadres, nos favorecimentos espúrios, na troca de dívidas amorais e em outros aspectos, caracterizados pela baixeza e total falta de ética. Os reclamos coletivos só são atendidos se renderem dividendos políticos ou financeiros, o que frustra necessárias ações de longo prazo, todas de infra-estrutura capazes de alterar a estagnação nos campos da saúde e educação.
Para o Direito, a vida do ser humano deve estar acima de tudo. Mas inúmeras situações demonstram que o egoísmo prevalece e a insensibilidade faz parte do cotidiano de muitas pessoas, relegando a humanização a um segundo plano. A violência parece um problema insolúvel, já que não se ataca o mal pela raiz e a impunidade reina triunfante nas brechas jurídicas.
Por isso, precisamos acompanhar de perto os trabalhos de nossos parlamentares e governantes, pressionando-os mediante manifestações e apoiando-os em seus avanços. A participação possibilita atentarmos aos achegos do jogo político, evitando abusos e fiscalizando o que é feito com as coisas públicas. Mais do que nunca, temos que batalhar por uma convivência justa e fraterna, ainda que tal tarefa seja constantemente dificultada por inúmeras circunstâncias. No entanto, é preferível pecar pela ação, que pela omissão.
JOÃO CARLOS JOSÉ MARTINELLI é advogado, jornalista, escritor, professor de Direitos Humanos da Faculdade de Direito do Centro Universitário Pe. Anchieta de Jundiaí e Mestre em Ciências Sociais e Jurídicas
De uns tempos para cá, parece que virou moda as pessoas fazerem coisas erradas ou serem com elas coniventes e, quando tudo vem à tona, dizer que não sabiam de nada. Tá certo que ninguém precisa se incriminar, mas há determinados setores nos quais essa “estória” não cola ou, ao menos, não devia colar...
Ando muito cansada dessa estranha mania que a cada dia vai ganhando mais adeptos, segundo a qual, para fugir das conseqüências e responsabilidades, as pessoas não somente negam qualquer participação, bem como qualquer conhecimento sobre fatos ou pessoas. A culpa é sempre do outro, da elite branca (que, diga-se de passagem, não faço a menor idéia de quem seja!), do clima, do vizinho, da mãe ou do mordomo.
Estamos em plena campanha política, em meio ao mais do que sério momento de decisão sobre os rumos do país, sobre o futuro das nossas vidas como cidadãos, como trabalhadores e, não mais, mas não menos importante, como contribuintes! O que mais vemos, lamentavelmente, nessa hora, são exemplos do que não gostaríamos ou não deveríamos ver. A todo instante surgem denúncias e mais denúncias, reportando à população as práticas mais obtusas, menos dignas do que desejamos para aqueles que nos governam ou nos querem governar. Diante de provas dos fatos, entretanto, a defesa recorrente é dizer que não se sabia de nada, nadinha da silva...
Também ando cansada desse discurso idiota de elite para cá, elite para lá. Se eu acuso alguém de algo, é meu dever mínimo dar nome aos bois. Assim, se essa tal de elite é culpada das mazelas do Brasil, tá na hora de dizer quem ela é, até para que possamos dar-lhe o sagrado direito do contraditório. Muitas vezes, parece-me que ser da classe “mérdia” é uma senhora desvantagem, pois se não mantenho contas nas Ilhas Cayman, também não tenho direito à bolsa coisa nenhuma, seja Victor Hugo ou família.
Minha suspeita é de que daqui por diante, o melhor será dizer, eu também, que não sabia! O quê? Conta de luz? Tinha que pagar? Eu não sabia!!! Pagar IPTU, IPVA? Gente, eu não sabia!!! Não podia estacionar aí? Aff, eu não sabia! Meu Deus, a gente precisa trabalhar e estudar para ser alguma coisa na vida? Ah, isso eu juro que não sabia, de verdade...
Mas não é só na política que as pessoas se escusam das responsabilidades e bem é verdade que essa postura não é exclusiva de determinadas pessoas ou partidos, só que já está ficando chato, repetitivo, ouvir as mesmas conversas, as mesmas desculpas, as mesmas justificativas sobre o injustificável.
Talvez essa postura diante da vida, seja ela da pública ou da pessoal, seja uma decorrência do sentimento de impunidade que nos acompanha. Parece que só precisamos mentir um pouco, o suficiente para que as pessoas se esqueçam e pronto! Nada mais do que isso... Talvez estejamos nos acostumando, acovardados pela falta de punição ou pela falta de consciência. Depois de tudo, porém, quando estivermos diante de nossos novos governantes, sejam eles quem forem, só não vai dar para dizermos, nós também, que de nada sabíamos, tal qual a mãe que vê o filho, menor de idade, chegar em casa repleto de relógios e roupas caras e depois dizer, aos prantos, que não sabia que ele mexia com o que não devia. O preço, indubitavelmente, vamos pagar...
CINTHYA NUNES VIEIRA DA SILVA- Advogada, mestra em Direito, professora universitária e escritora - São Paulo
Creio que muitas das pequenas alegrias que tenho hoje, nos meus 56 anos, devem-se à proteção da ingenuidade, na minha infância e adolescência, por meus pais. O meu dia a dia era povoado por “Alice no País das Maravilhas”. As aventuras engraçadas do Pica-Pau e Walt Disney também entravam em meu mundo com todos os seus personagens. Criaram-me sem que perdesse lado algum: de criança, de jovenzinha, de quem se dirigia à idade adulta e o das responsabilidades. Educaram-me pensando sério na escola e permitindo que enfeitasse os cadernos com carimbos que coloria e decalques de bichinhos. O Magistério me fez reviver inúmeros contos infantis, para passar, futuramente, aos alunos. As caixas de lápis com 36 cores e as aquarelas reforçavam os tons de minha vivência. Que exercícios bons! A lenda da Sereiazinha, que se sacrificou pelo amado, na fronteira para a adolescência, misturou-se às fantasias de antes e depois, à espera de um possível príncipe encantado. Havia curiosidade sobre os relacionamentos amorosos, porém sem perder a perspectiva de que fossem fiéis.
Hoje, surpreendo-me com uma felicidade imensa diante do vôo de borboletas, de uma pedra bonita, sem forma determinada, que encontro pelos caminhos, ao folhear um livro com gravuras de meus primeiros anos. Emociono-me com relatos de amor feitos de renúncia, coragem e abraço. Tenho pena de crianças, púberes e adolescentes, que na convivência em casa, diante da TV, no uso de celulares e da internet, ou nos quartos escancarados, dos que o rodeiam, .deparam-se com impulsos sexuais animalescos, sem ternura, fechados para a vida. Empurram-nos para a promiscuidade sexual, para uma visão deturpada do ser homem e do ser mulher e lhes negam a ingenuidade, que lava a alma até mesmo quando, infelizmente, se passa pelos pântanos.
Recentemente, revi o filme”Marcelino Pão e Vinho” (1955), do diretor Ladislau Vajda. O filme ganhou o Urso de Prata no Festival de Berlim e o prêmio católico OCIC em Cannes. Guardava apenas algumas recordações dele, como a música com versão da cantora Wilma Bentivegna: “Sonha, sonha, Marcelino, já começa a clarear/ Doces santos cuidam seu dia, guardam tua alma contra o mal. (...) Vai à torre, toca o sino chama todo o povo à oração/ Guilin dalão... guilim dalão...”. É a história de um menino abandonado, ainda bebê, na porta de um mosteiro e criado por 12 monges sem uma mãe. Garoto travesso até se tornar o protagonista de um milagre que marcará para sempre o vilarejo espanhol onde passa a história. Certo dia, ele ofereceu, durante sua refeição, um pedaço de pão e um pouco de vinho a uma imagem de madeira de Jesus, que aceitou a oferta e passou a conversar com ele. É o início de uma grande amizade. Parece ser um menino que nasceu com uma missão especial a ser cumprida: demonstrar que os de coração puro verão a Deus..
É uma pena que filmes, como esses, não são mais produzidos e, talvez, fizessem pouco sentido no mundo atual. É uma pena que o mundo atual se perdeu da ingenuidade e da pureza.
MARIA CRISTINA CASTILHO DE ANDRADE - É educadora, coordenadora diocesana da Pastoral da Mulher/ Magdala e cronista
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