PAZ - Blogue luso-brasileiro
Terça-feira, 28 de Dezembro de 2010
MARIA CRISTINA CASTILHO DE ANDRADE - CORAGEM PARA A RENÚNCIA

Querida leitora, querido leitor, desejo a você e a mim, para 2011, coragem para a renúncia ao que impede o bem, a fim de que experimentemos amor pleno, sonhos maiores, paz sem poderio bélico e liberdade real.
Em princípio, a palavra renúncia parece de tom fúnebre. Mas quantas vidas foram salvas a partir de um não a nós mesmos e aos outros. Renunciar, pela virtude, é repelir o que nos algema e prende à terra. Renunciar machuca, em maior ou menor intensidade, porém é dor, mesmo que sangre, com vitória, pois dignifica a vida.
Na manhã de Natal, deparei-me com o jovem que conheci menino. Encontrava-se em pranto na rua deserta. Cresceu em terreno frágil, no qual era preciso pisar com cuidado para não afundar. A mãe, de história de desencontros, buscou para ele um rumo que não era o dela. Pouco estável, ele não recusou o crack. O crack é do pântano e com ele vêm inúmeros outros delitos, assombrações e cova profunda. De uma hora para outra, o jovem desapareceu. A mãe o buscou em hospitais e cadeias durante dois anos. Para se conformar, acreditava, em seus desvarios, que ele se acertara, em cidade longínqua, com uma companheira que cuidasse dele. No enterro da mãe, há alguns meses, assassinada brutalmente, as pessoas comentavam sobre ele. Onde encontrá-lo para se despedir dela? Ou ele partira antes e se encontrava enterrado como indigente? Cumprindo pena, em cidade distante, um erro de digitação no nome dele impediu que a mãe o encontrasse e ele, até a “saidinha” da penitenciária, imaginava-se esquecido por ela. Ao aqui chegar, foi informado sobre seu sepulcro. Contou-me que, na prisão, rejeitara a outros erros. Fez por merecer a “saidinha” do final do ano. Ao cumprir a pena, contudo, como sobreviver, aqui fora, sem o apoio dela? Lamentou-se, em soluços, não ter ouvido os conselhos maternos, não ter, como os irmãos, renunciado ao mal.
Aniquilar-se, despojando-se do egoísmo, do orgulho, da vaidade, da pretensão de nos fazer valer, faz com que, conforme escreveu o padre Gabriel de Santa Maria Madalena O.C.D. (1893-1953), cheguemos rapidamente a Belém, onde Jesus Cristo uniu-se á humanidade de modo mais íntimo e pessoal, lá onde Deus espera os seres humanos para uni-los a Si.
Santa Teresinha do Menino Jesus e da Sagrada Face recebeu de sua irmã Maria uma folha com um verdadeiro caminho da renúncia para viver em comunhão com Deus. Dentre eles, destaco dois itens: “Tem gana de seguir seus sentimentos, de falar, de agir em uma forte emoção. – Espere, deixe passar a tempestade”. E o outro: “É levado a lamentar-se, quando sofre. – É por amor e para seu bem, que Jesus lhe dá um pedaço de sua cruz. – Bendiga-O. – Silêncio, pelo menos.”
Feliz Ano Novo, querida leitora, querido leitor, com muita coragem para a sabedoria e a força que a renúncia traz.
Maria Cristina Castilho de Andrade
É educadora e coordenadora diocesana da Pastoral da Mulher/ Magdala, Jundiaí, Brasil
JOÃO CARLOS JOSÉ MARTINELLI - CONSOLIDAR O DIREITO Á PAZ, PROPÓSITO MAIOR PARA O ANO NOVO!
Nesta época do ano sobram simpatias, análises, cultos esotéricos e religiosos,para que tudo melhore. Sobram desejos e pedidos de paz, prosperidade e saúde. Esperamos, no entanto, que mudanças concretas se sobreponham aos sentimentos repentinos ou as manifestações artificiais, para que alcancemos a paz, que não pode se restringir ao seu aspecto piedoso, mas se estender principalmente ao campo social, onde sua carência é mais sentida e mais vista.
Em outubro de 1968 o então Papa Paulo VI instituía o Dia Mundial da Paz, cuja primeira celebração ocorreu a 1º de janeiro de 1969, abordando o tema “A Promoção dos Direitos do Homem, Caminho Para a Paz”. De fato, ela se inspirou na celebração do vigésimo aniversário da proclamação dos Direitos do Homem, ocorrido em 10 de dezembro de 1968, pela ONU. “Na verdade – disse Paulo VI – para que ao homem seja assegurado o direito à vida, à liberdade, à igualdade, à cultura, a desfrutar dos bens da civilização, à dignidade pessoal, é necessária a Paz. Onde quer que esta venha a perder o seu equilíbrio e a sua eficiência, os Direitos do Homem tornam-se precários e ficam comprometidos; onde não há paz, o direito perde o seu caráter humano. Mas onde não há respeito, defesa e promoção dos Direitos do Homem – quer dizer, onde se comete violência ou fraude contra as suas liberdades inalienáveis, onde se ignora ou se degrada a sua personalidade, onde se observam discriminações, escravatura e intolerância – aí não pode existir a verdadeira Paz. Porque Paz e Direito são reciprocamente causa e efeito entre si: a Paz favorece o Direito, e por sua vez, o Direito favorece a Paz”.
Dizia com grande brilhantismo Santo Agostinho: “A paz é a tranqüilidade da ordem”. Com efeito, como pretendemos uma regularidade da ordem social, se o próprio ser humano cultiva um grande egoísmo, distanciando-se da solidariedade e da fraternidade? Apesar de todas as felicitações típicas dessa época, os paradoxos continuam: por um lado, todos querem a paz; por outro, como em nenhuma época, a humanidade enfrenta terríveis conflitos; os direitos humanos são desrespeitados, as desavenças se multiplicam e a crise é geral, acentuada em proporções alarmantes. Prevalece uma completa descrença na maioria dos políticos e até em algumas instituições – retrato de uma questão extremamente difícil e complexa, já que as mudanças estruturais que se impõem para o atendimento dos anseios fundamentais dos brasileiros se afastam cada vez mais da realidade dos cidadãos.
Assim, não haverá prosperidade, tão desejada nos votos de “boas festas”, enquanto persistir a concentração de riquezas nas mãos de poucos; as gritantes injustiças cometidas sob os mais frágeis argumentos; a corrupção devassadora e outros males provocados pela prevalência das questões econômicas sobre as sociais – verdadeiros acintes aos valores cristãos. E voltamos, após as comemorações, a vivermos em constante tensão, preocupados com a sobrevivência e isolados em nossos mundos particulares já que a vida está mais dura pela distância dos homens à sensibilidade, ao amor verdadeiro, ao respeito ao próximo e ao direito alheio.
Diante da ameaça que paira sobre todos, é hora de assimilarmos gestos de boa vontade e unirmos nossas mãos em atitudes concretas de partilha, para a construção de uma nova sociedade, em que as desigualdades não sejam tão ostensivas e chocantes e a Justiça possa efetivamente cumprir seu papel, para progredirmos em conjunto, rumo a tão almejada convivência pacífica, compreendida como fruto da eliminação da miséria e do desenvolvimento integral de todos os povos.
Com efeito, em sua dimensão mais ampla paz significa tranqüilidade pública, concórdia e ausência de hostilidade. Invoquemos Vidal Serrano Jr.: “Não é possível falar de cidadania sem cogitar desse direito, que se correlaciona com a segurança pública, com uma efetiva proteção da infância e da juventude, com medidas de saúde pública e, sobretudo, com a dívida social, que motiva a maior parte desses problemas. Em suma, o direito à paz pode ser resumido como o direito a viver em sociedade, o que implica colocar a solidariedade como um valor social e jurídico” (Revista “Família Cristã” - 12/99- p.23).
JOÃO CARLOS JOSÉ MARTINELLI é advogado, jornalista, escritor, professor universitário e membro da Academia Jundiaiense de Letras e Academia Jundiaiense de Letras Jurídicas.
Segunda-feira, 27 de Dezembro de 2010
Cdf. ALUIZIO DA MATA - TRANSFERÊNCIAS DE PADRES

Recebi de um amigo um texto do qual resolvi fazer o tema deste artigo: Transferência de padres de uma paróquia para outra. O que ele escreve é quase todo o artigo que eu já pensara em escrever, pois sintetiza bem o que penso.
Eis o texto dele: “Segundo o Direito Canônico, um pároco deve ficar de 6 a 9 anos em uma paróquia e depois deve ser transferido para outra paróquia. Quem decreta a transferência dos padres diocesanos é o bispo; e quem decreta a transferência dos padres religiosos é o Superior Provincial da Ordem Religiosa. Troca o prefeito, troca o presidente do Conselho de Pastoral, troca o Presidente da República. A troca de um padre pode ser muito pacífica; mas, em outras vezes é traumática. Os paroquianos sempre esperam que o padre novo que vem seja melhor do que aquele que se despediu. Há padres que deixam uma história construída na comunidade. Há outros, cuja memória não é das melhores. Queremos ouvir a sua opinião: na sua paróquia, houve troca de padre? Como foi a experiência? O que é maior: a saudade do padre que foi transferido? Ou é maior a esperança do padre que acabou de chegar?”
É um assunto difícil de ser abordado. Convivi com muitos padres e privei da amizade de alguns. Depois de passados muitos anos, posso fazer algumas observações. Existem paróquias onde o padre é tão querido que sua substituição causa espanto e tristeza. Em outros casos, os paroquianos se sentiam até aliviados.
Os motivos dessa reação dos paroquianos são quase os mesmos em todos os lugares. Por incrível que pareça, os padres com os quais privei uma convivência mais amiga eram os que se dedicavam de corpo e alma pelos membros da sua comunidade; eram solícitos, eram disponíveis e não se via neles nenhuma ambição pessoal. Às vezes, até passavam dificuldade, mas nunca vi nenhum deles reclamar ou pedir para ser substituído. Outra coisa que chamava atenção era que quando chegaram à nova paróquia não foram logo abandonando as obras do pároco anterior. Procuravam trocar ideias com os Conselhos Paroquiais. Viam o que era bom e que estava dando certo e continuavam a obra, sem querer mudar apenas para impor a sua marca pessoal. E o resultado era sempre bom, granjeando muito mais simpatias.
No entanto, já vi casos em que o novo sacerdote ao chegar na paróquia, mudou tudo da administração anterior. Não procurou nem saber a opinião dos paroquianos, granjeando antipatias.
Isto acontece também com a nomeação de novos bispos. Já vi bispos chegarem a uma diocese e lá permanecerem por muitos anos e criar um ambiente tão bom entre os padres e os paroquianos que ao saírem foram pranteados. Mas, já vi bispo ser tão autoritário que entrava em choque até com os sacerdotes. E alguns até foram transferidos para outros lugares.
Um dia, perguntei a um dos sacerdotes sobre a atuação de um novo bispo. Ele, caridosamente, preferiu não dar opinião.
Como disse o meu amigo cujo texto transcrevi acima: “Há padres que deixam uma história construída na comunidade.”
Fazendo um paralelo, tomara que fosse assim também com os paroquianos e os vicentinos, que deveriam deixar saudade ao mudar de paróquia ou conferência ou quando forem se encontrar com Deus.
Prefiro me lembrar desses muitos amigos que tive e ainda tenho, pois alguns deles já morreram e outros ainda estão por aqui. A esses, as comunidades devem muito e Deus há de recompensá-los.
Se pudesse ser feita uma pesquisa em cada paróquia e em cada diocese, talvez o resultado fosse surpreender a muitos...
ALUIZIO DA MATA - Vicentino, Sete Lagoas, Brasil
JOSÉ RENATO NALINI - O QUE RESTOU DO NATAL?
Dia 25 de dezembro é data reservada a comemorar um natalício. O de alguém chamado Jesus Cristo, filho de Maria e José. Para os cristãos, considerado o Messias. O Salvador. Aquele que, prometido desde tempos imemoriais, encarnaria a missão de resgatar o gênero humano de sua condenação definitiva. Por incidir em orgulho, vaidade e pretensiosa autoestima, a criatura desafiou o Criador. E foi condenada a morrer, a obter o sustento com o suor de seu rosto e a não ter esperança alguma no futuro.
Por puro gesto de amor, abriu-se ao homem a oportunidade de retorno ao projeto divino original. Mas para isso foi necessário que o próprio Deus, encarnando-se, pagasse com Sua vida o tributo desse resgate. Essa a história do Jesus cujo nascimento ontem se comemorou. Sua marca histórica é tão relevante, que a data serviu para iniciar uma nova era. A era da cristandade. Mais de dois mil anos depois, em que se transformou o Natal para a maior parte das pessoas?
Compulsória entrega de presentes. Exigência de gorjetas e de “caixinhas”. Estímulo ao desenfreado consumo. Em todos os sentidos. Comilança e beberagem etílica desenfreada. Correria. Abraços e votos, profusos e pré-fabricados. Perda de espontaneidade num gesto que deveria, a rigor, enfatizar o que significou a chegada à Terra de um Filho de Deus, que ofereceu Sua vida para salvar os homens. O declínio dos valores é uma característica desta fase da História que não sabemos bem como será chamada pelos pósteros. À falta de critérios seguros, ela é designada por “pós-modernidade”.
Dentre os valores em fuga ou em crise, está a religiosidade. Insiste-se em disseminar o ateísmo, quase com a mesma intensidade de um “evangelho agnóstico”. Tudo pode explicar, mas não justificar, que o Natal se converta em comemoração pagã. Os interessados em promover vendas, em movimentar a economia, em festejar, devem inventar outros pretextos. Não servir-se dessa data para objetivos outros que não sejam vivenciar o que significa o aniversário de Jesus Cristo. Cabe a cada um de nós fazer do seu Natal o que ele deve ser e a que objetivos deve efetivamente servir.
José Renato Nalini - é Desembargador da Câmara Especial do Meio Ambiente do Tribunal de Justiça de São Paulo e autor de “Ética Ambiental”, editora Millennium. E-mail: jrenatonalini@uol.com.br.
Côn. JOSÉ GERALDO VIDIGAL DE CARVALHO - PARA UM 2011 FELIZ
O raiar de um novo ano deve levar a uma reflexão profunda sobre o que significam de fato os votos, desejando felicidade nos trezentos e sessenta e cinco dias que principiam. Em primeiro lugar se supõe que tais augúrios estejam alicerçados com preces ao Ser Supremo, doador de todas as graças. Além disto, cumpre, para que o ano seja feliz, que cada um replete o próprio coração de muita esperança. O ser humano sem esperança é um navio sem lastro, com o qual as ondas jogam a seu talante. Um ano sem esperança é um campo imenso, mas deserto; uma árvore grande, mas que não dá frutos opimos; um dia longo de inverno sem sol. É preciso, porém, mentalizar que a esperança é filha da virtude, companheira do otimista, mãe de toda a obra grande que se pretenda realizar no decorrer de 2011. A esperança é, de fato, o sustentáculo da vida, é a amiga invisível dos nossos dias; parturejando, a cada hora, coragem, determinação, ânimo, entusiasmo. Ai de quem abandona este sustentáculo da vida. Desventurado quem desespera de ser ditoso. Que a esperança de cada um não conheça outros limites senão os da onipotência e da infinita bondade de Deus. São Paulo afirmou “É por isso que trabalhamos e lutamos, porque temos posta a nossa confiança no Deus vivo, que é Salvador de todos os homens, sobretudo dos fiéis” (1 Tm 4,10). Então, sim, a paz reinará de primeiro de janeiro a trinta e um de dezembro. Paz consigo mesmo, com Deus e com o próximo. Deste modo, nunca se deixará de considerar sempre o lado bom dos acontecimentos, pois com harmonia interior tudo prospera, enquanto a agitação tudo arruína. É necessário, além disto, que todas as atividades sejam pautadas pela honestidade. O maior galardão de cada um é o aplauso da própria consciência. Honesto é aquele que mede o seu direito pelo dever cumprido com total eficiência. Toda boa ação é ouro que dura eternamente, além de repletar de beatitude quem sempre a pratica. Em tudo, porém, deve prevalecer a sinceridade. Esta supõe fidelidade a si mesmo, aos amigos, inspirando a todos a mais absoluta segurança no trato diário. É que a pessoa sincera fala sempre aquilo que pensa e inspira confiança sem limites, pois detesta a hipocrisia, a mentira, a falsidade. O artifício não dura mais do que um instante e gera a insegurança nos outros. Um coração sincero é aquele no qual reina um grande amor. Amor a Deus e ao próximo, eis o segredo de uma trajetória feliz através dos doze meses de 2011. Alguém afirmou com toda razão: "Nunca desvalorize ninguém. Guarde cada pessoa perto do seu coração, porque um dia você pode acordar e perceber que perdeu um diamante enquanto estava muito ocupado colecionando pedras", Por meio do prisma divinizante do amor tudo ganha sentido. É preciso, realmente, amar as maravilhas que o Arquiteto do universo espalhou por toda parte e ter olhos para ver a beleza das flores, das árvores, do firmamento à noite marchetado de estrelas, do luar encantador, da fonte cristalina. Este amor universal tudo abraça, tudo santifica e invade o ser humano de sensibilidade. Aquele que ama a natureza amará ainda mais o Criador de tudo e o seu semelhante. São João num instante de pulcra inspiração afirmou: “Deus é amor, e quem permanece no amor, permanece em Deus e Deus nele (Jo 4,16). Acrescentou, porém, que “Se alguém disser: Amo a Deus, mas odeia seu irmão, é mentiroso. Porque aquele que não ama seu irmão, a quem vê, é incapaz de amar a Deus, a quem não vê (1 Jo 4,20). Lembra então o autor do livro “Imitação de Cristo” que “o amor muitas vezes não sabe ter medida, mas vai além de todos os limites. Nada lhe pesa, nada lhe custa; empreende mais do que pode; não se desculpa com a impossibilidade, pois crê que tudo lhe é possível” [...] “Quem ama, corre, voa; vive alegre, é livre, e nada o embaraça”. É que coração sem amor, é um campo árido, sempre cheio de espinhos e sem uma flor que nele se abra e se amenize. Entretanto, cumpre examinar as amizades, porque “amigos que são amigos trocam sentimentos; amigos profissionais trocam cartões de visita; uma amizade dura para sempre; uma amizade profissional dura apenas enquanto um estiver sendo útil ao outro; amigos de verdade perguntam se podem ajudar; amigos profissionais solicitam favores; amigos de verdade estão no coração; amigos profissionais estão numa planilha”. Em síntese, preces, esperança, paz, honestidade, sinceridade, amor; amizades autênticas, eis alguns ingredientes seguros para um Ano Novo feliz.
Côn. JOSÉ GERALDO VIDIGAL DE CARVALHO - Professor no Seminário de Mariana durante 40 anos.
EUCLIDES CAVACO - ABRAÇO DE NATAL
Olá de novo amigos de todo o mundo
Quando faltam apenas 4 dias para a data mais celebrada pela humanidade, saudo-vos efusivamente e partilho convosco o meu ABRAÇO DE NATAL , que vos dou através deste link:
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HUMBERTO PINHO DA SILVA - VELHAS CASAS

Nasci em velha e sombria casa de alforge do século XIX. Nas frias noites de Inverno, quando o vento assobiava do Terreirinho, e a saraiva vergastava impiedosamente as vidraças, rangiam as traves, e não era raro escutar, por alta madrugada, rebuliço e chiadeira de ratos assustadiços, que corriam pelo robusto travessamente.
Ficava, em menino, transido de medo, ao percorrer após a noite cair, os diferentes andares; e ao recolher-me, cerrada a porta, mergulhava entre cobertores da serra e lençóis de linho, cobrindo o rosto, receoso de ruídos indesejáveis.
Era difícil ser criança nessas antigas casas, de amplas salas e escadarias mal iluminadas, que estavam impregnadas de história. Histórias da família, e muitas bem funestas.
Cada quarto, cada sala, cada canto, escondia uma recordação: Nesta estreita salinha, meu avô montou a capela. Naquela, cujas janelas de guilhotina davam para o rio Douro, faleceu minha avó, segurando a imagem da Imaculada. Estoutra, larga como salão de igreja, minha santa bisavó rezava pela calada da noite, mergulhada em dor, diante do santuário de pau-preto.
Ao serão, meu pai, recordava saudosamente, isso. Contava e recontava velhíssimas histórias, e eu escutava-as extasiado, e renascia, em mim, a saudade de antepassados que nunca conhecera.
Por vezes a “ saudade” levavas-me ao antigo álbum de madrepérola, de grossas folhas de cartão, e atentava nas amarelecidas fotografias, também elas presas a espessas cartolinas.
As poses antiquadas, os trajos cheios de pendericalhos, os cenários românticos, assim como os penteados pretensiosos, fascinavam-me, transportando-me, por arte mágica, a outras épocas, a outros tempos. Tempo que não vivi, mas permaneciam presos nas baças imagens envelhecidas, encerradas no velho álbum de madrepérola.
Recorria então a outro álbum, recoberto a pálido veludilho encarnado de letras avivadas a oiro, que diziam: “ Postais Ilustrados”
Nele havia antigos postais da colecção de minha avó, com graciosos desenhos, representando rosados meninos de rostos angélicos, e meninas de saias, alegradas a renda, que ofereciam lindos ramalhetes de flores.
Havia também senhoras e cavalheiros de chapéu, de maliciosos olhares, e vistas de trechos da cidade do Porto e São Paulo; estas enviadas por parentes que labutavam em terras de Santa Cruz. Território longínquo, que meu pai dizia ser preciso um mês de viagem!
Bem diferente são os actuais lares, onde nada lembra os antepassados, daqueles que nem o nome conhecemos, mas sem eles, não existiríamos.
Sem objectos, sem fotos, sem saberem as velhas e revelhas histórias, as aventuras e desventuras dos que nos antecederam, não pode haver família, mas agregado; não pode haver união, mas ajuntamento; não pode haver respeito pelo nome que herdamos.
Agora tudo é superficial. Os jovens estão desenraizados, porque nunca tiveram casa que passasse de geração a geração; apartem-se facilmente do local onde nasceram e se criaram; é geração sem pátria, que não sabe donde veio, que deambula de terra em terra, sempre em busca de mundo melhor e diferente.
Pobre geração! Pobres jovens que nunca conheceram o que é ter casa de família!
HUMBERTO PINHO DA SILVA - Porto, Portugal
Quinta-feira, 23 de Dezembro de 2010
DOM GIL ANTÔNIO MOREIRA - O ANTI-NATAL BRASILEIRO

No momento em que o povo está envolto nas festas de fim de ano, buscando a santa ternura do Natal, alimentando novas esperanças para o Ano Novo, aparecem certas notícias no Brasil que são de tirar o fôlego e ameaçarem desânimo, não fosse a força da fé que nos sustenta. No ano de 2009, justamente no dia 23 de dezembro, quando a população estava já nas comemorações natalinas, foi assinado pelo Presidente da República (sem ler, como ele afirmou) o PNDH3 (Plano Nacional de Direitos Humanos 3) que, na verdade, constituía uma verdadeira agressão aos Direitos Humanos, uma vez que mesclava direitos legítimos com falsos direitos, entre os quais o mais grave era o pseudo direito de abortamento, desconhecendo e desconsiderando o direito das crianças de nascerem, de viverem livremente e de serem protegidas pelos adultos e pelo Governo, como prevê a Constituição Federal. Para ganhar as eleições, o partido do Governo, de convicções abortistas, chegou a anunciar algumas modificações, sobre as quais, após os pleitos, pararam de falar.
No corrente ano, há poucos dias, uma palestra de Sérgio Cabral, Governador do Rio de Janeiro, revelou sua perigosa posição sobre a questão, quando fez a infeliz pergunta: “Quem aqui não teve uma namoradinha que teve que abortar? É de causar espanto que um Governador de um dos principais Estados do Brasil tenha a coragem de fazer este tipo de interrogação, sem se dar conta do mal que ela pode causar. Quantas O ANTI-NATAL BRASILEIRO“namoradinhas” se sentirão agora encorajadas a abortar, quantos adolescentes se animarão a praticar irresponsavelmente o sexo, encorajados pela palavra de uma autoridade constituída, e pensarão em abortar pura e simplesmente se isto, após o ato impensado, for a solução imaginada. A “namoradinha” do Sr. Cabral é apenas fonte de prazer, receptora de um homem. Este, havendo aborto, estará livre de responsabilidades, mas a “namoradinha” terá que se arranjar com traumas de mãe que acabou assassinando seu filhinho, situação esta que perturba a mente de qualquer mulher em sã consciência, portadora de ao menos um pouquinho de ética e respeito pela vida. Some-se a isto as afirmações do mesmo Cabral sobre jogatina que ele aprova. O machismo de Cabral, a irresponsabilidade de seus termos, às vésperas do Natal constituem uma blasfêmia ao Menino nascido em Belém, uma ofensa a Maria, que nunca pensaria em abortar, mesmo se a situação fosse mais difícil ainda do que foi para ela, após dizer seu SIM ao Arcanjo Gabriel.
Somando-se a estes problemas, considere-se a questão do escandaloso aumento salarial dos parlamentares, praticado nesta semana, com a assustadora ampliação de seus vencimentos, em muitos casos triplicados, em relação ao que recebem até o presente momento. Devido ao efeito cascata, os tais aumentos chegarão, em alguns casos a mais 140%. O palhaço Tiririca comemorou: cheguei na hora certa.
Infelizmente, temos que constatar: é vergonhoso viver num país assim, onde as decisões políticas desta natureza passam ilesas, praticamente sem protestos, e onde se prefere matar criança inocente no seio materno, que procurar vias humanas e éticas para defender o direito à vida, o direito dos diretos, pois, se não nascemos, não temos nem como lutar por um mundo melhor, mais humano, mais temente a Deus.
Como celebrar o Natal assim? Como dizer a alguém “Feliz Natal”? Como defender a vida se há autoridades constituídas propugnado a cultura da morte?
Assim mesmo, desejo-lhe um Bom Natal e Feliz Ano Novo!
Dom Gil Antônio Moreira
Arcebispo de Juiz de Fora
JOÃO CARLOS JOSÉ MARTINELLI - HOMENAGEM A DRA. ZILDA ARNS:

“Existem mortos que não enterramos e sim semeamos” (D. Helder Câmara).
Nada mais justo e oportuno na época natalina, do que relembrarmos a figura de Dra. Zilda Arns Neumann, quando da proximidade do primeiro aniversário de seu falecimento. Um exemplo de pessoa dedicada ao próximo, de empenho ao Evangelho e principalmente, de desprendimento em prol da solidariedade e da fraternidade. Respeitada e venerada por todos, teve seu trabalho reconhecido e estendido por diversos países, a ponto de ser indicada ao Prêmio Nobel da Paz. Paulo Sotero, diretor de importante ONG internacional, afirmou: “Ela fez o trabalho dos anjos. Seu legado vai durar por toda a vida de inúmeras pessoas atendidas pela pastoral!”.
Transcorre a 12 de janeiro próximo, o primeiro ano de falecimento da Dra. Zilda Arns Neumann, vítima de terremoto no Haiti onde estava em missão humanitária levando aos religiosos daquela nação, a Pastoral da Criança que ela executou e que hoje está presente em muitos países. Incentivada pelo irmão Dom Paulo Evaristo Arns e a pedido da Conferência Nacional dos Bispos do Brasil – CNBB, ela a iniciou em 1983, juntamente com Dom Geraldo Majella Agnelo, Cardeal Primaz do Brasil e Arcebispo de São Salvador da Bahia, que na época era Arcebispo de Londrina. Através desse movimento, desenvolveu a metodologia comunitária de multiplicação do conhecimento e da solidariedade entre as famílias mais pobres, baseando-se no milagre da multiplicação de peixes e pães, que saciaram cinco mil pessoas, como consta no Evangelho de São João (Jô 6,1-15).
Como resultado das ações promovidas pela Pastoral da Criança, reduziu-se significativamente a mortalidade infantil e promoveu-se o controle da desnutrição em mais de quarenta e quatro mil localidades. Os lideres comunitários são preparados e capacitados a visitarem as casas mensalmente, a orientarem as mães sobre os cuidados com a saúde e o desenvolvimento dos menores. “A queda da mortalidade infantil no País deve-se muito à ação da pastoral. Quando eu era ministro da Saúde, ela era nossa principal parceria”, disse o ex-governador de São Paulo, José Serra, candidato derrotado à Presidência da República, em entrevista à imprensa por ocasião do passamento da grande mulher e completou: “Como indivíduo, ninguém fez tanto pelas crianças. Era uma mulher extraordinária, movida pela fé cristã e conhecedora do espírito de solidariedade.”
A Dra. Zilda Arns, por sua intensa atuação fraterna e solidária, foi indicada ao Prêmio Nobel da Paz em 2006, cultivando um respeito próprio de pessoas responsáveis e determinadas em suas missões, a ponto do ex-ministro da Saúde Adib Jatene, que por duas vezes esteve com ela no Conselho Nacional de Saúde, afirmar: “Com o apoio da Igreja Católica e sua penetração, a doutora Zilda criou uma rede de disseminação de informações e ações de saúde e um sistema único de monitoramento das crianças e famílias por voluntárias, o que mais tarde inspirou programas nacionais de agentes comunitários e o atual programa de saúde da família”.
Nesta trilha, vale ressaltar que o soro caseiro – medida de sal e açúcar, em água – disseminado pela Pastoral da Criança para combater a desidratação por diarréia, então a principal causa de morte entre crianças de até um ano, foi incorporado à lista de remédios do Ministério da Saúde. “Quando a reidratação oral foi adotada pela saúde publica no Brasil, as líderes comunitárias da pastoral foram fundamentais para levar a informação sobre o soro às regiões mais carentes porque era consenso, então, até entre pediatras que a criança com desidratação não deveria comer. Mas, não repor sais e água só agravava o quadro”, disse José Luiz Telles do Ministério da Saúde.
Em 2004, a Drª Zilda recebeu da CNBB outra missão semelhante: fundar, organizar e coordenar a Pastoral da Pessoa Idosa. De acordo com dados de publicação de selo pelos Correios do Brasil em sua homenagem, atualmente, mais de 158 mil idosos são acompanhados todos os meses por 17 mil voluntários em 740 municípios brasileiros. Em novembro de 2008, participou da fundação da Pastoral da Criança Internacional, no Uruguai, da qual foi coordenadora e que hoje está presente em vinte países da América Latina e Caribe, África e Ásia.
O escritor Frei Betto a caracterizou como “Mãe da Pátria”: “Zilda Arns nos deixa, de herança, o exemplo de que é possível mudar o perfil de uma sociedade com ações comunitárias, voluntárias, da sociedade civil, ainda que o poder público e a iniciativa privada permaneçam indiferentes ou adotem simulacros de responsabilidade social. Se milhares de jovens e adultos brasileiros sobrevivem às condições de pobreza em que nasceram, devem isso e, especial à Dra. Zilda Arns, que merece, sem exagero, o titulo perene de mãe da pátria” (Folha de São Paulo- 14/01/2010- p.A-3).
Drª. Zilda formou-se em medicina. Era pediatra e sanitarista. Nasceu em Forquilhinha (SC) em 25 de agosto de 1934. Depois de morar em Curitiba desde a juventude, nos últimos anos residia em Campo Largo (PR), a 25 Km da capital paranaense. Em 26 de dezembro de 1959, casou-se com Aloísio Bruno Neumann (1931 – 1978), com quem teve seis filhos e foi avó de dez netos.
Dom Geraldo Majella Agnello, com raro brilhantismo, definiu o seu legado: -“Fica o exemplo dela para o surgimento de defensores da vida. Conforta saber que ela dedicou a vida e se identificou com a causa a ponto de morrer no trabalho”. Na mesma linha, o teólogo e professor Fernando Altemeyr Jr. se manifestou:- “Este é o verdadeiro sentido de viver: fidelidade ao Evangelho no seguimento de Jesus, com fé, esperança e amor”. Enquanto o professor da USP, José de Souza Martins, assim se expressou:- “Sua biografia pública é exemplar, justamente, porque de certo modo começa quando a imensa maioria das pessoas já está se preparando para desistir, conformada com a proximidade da velhice”.
Como estamos na época natalina, a mais bela do ano, relembramos D. Zilda Arns que traduz o verdadeiro sentido desta celebração de amor e de ternura. Inspira-nos a assumir um permanente desafio de mudarmos a situação para que todos possam ter dignidade em suas trajetórias terrenas. Assim, mirando-nos em sua figura carismática, ao invés de nos preocuparmos só em dar presentes, vamos nos fazer presentes onde reina a ausência de afeto, de saúde, de liberdade e de direitos.
REGISTRO
No último dia 16 de dezembro, em solenidade realizada em São Paulo, a médica Josyanne Rita de Arruda Franco, radicada em Jundiaí e integrante da diretoria da Academia Jundiaiense de Letras, tomou posse como presidente da Sociedade Brasileira de Médicos Escritores, Regional São Paulo, para o biênio 2011/2012. Cumprimentamos a competente escritora que é responsável por um excelente trabalho literário, além de se revelar numa pessoa extremamente sensível e grande amiga.
De sua autoria, uma inspiração sobre o Natal: “Abrir o coração para o mistério/ Que nunca será desvendado/ É abraçar inteiro o universo/ Nas graças da tríade do sagrado./ José, Maria e Jesus!/ Família de humilde humanidade/ Ensina o caminho da luz/ Que é Vida,Verbo, Amor e Verdade."
JOÃO CARLOS JOSÉ MARTINELLI é advogado, jornalista, escritor, professor universitário e membro da Academia Jundiaiense de Letras e Academia Jundiaiense de Letras Jurídicas.
MARIA CRISTINA CASTILHO DE ANDRADE - O GRANDE REI

De imediato, não entendi que elas levavam, para a terra onde nasceram e vivem seus pais, o presente que agrada o Rei.
Não vieram de pontos diferentes como Melchior, Baltasar e Gaspar em busca de um novo acontecimento que iria determinar uma mudança na história humana. Deslocaram-se empurradas pela miséria, meninas ainda. O sangue delas era próximo e a trajetória também. Homens, com aparência de vitoriosos, passavam pelo povoado envolto em fome, sede, falta de perspectivas e desânimo e, aos adultos, diziam de outras terras, nas quais as meninas encontrariam um futuro com aplausos e, no retorno, trariam fortuna que compra comida, água, casa, remédio... Para comprovar, entregavam-lhes algumas moedas de ouro. Os adultos, de imediato, juntavam as poucas coisas que as pequenas possuíam, sem se esquecer da boneca de pano, e as viam partir aos prantos, presas na parte traseira de caminhonetes enferrujadas. Embora tivessem poucos anos, pressentiam que viajavam para a desgraça. Os homens de discurso ensaiado não as convenciam, nem o ouro das moedas, nem o discurso pálido dos pais, ao lhes dizer que desejavam para elas um tempo melhor. Agarradas uma às outras: as três, as que já se encontravam na caçamba e as que foram colocadas depois, na viagem de dois dias, atravessaram o sertão de pó vermelho, sem planícies, rios, praias, montanhas que acariciam a alma.
“Ancoraram”, em outro Estado, no bordel mais famoso do entorno. Cheiro de álcool, luzes coloridas, música alta, gente com olhos de cifrão e outros de desejo. Fantasmas todos, acalmados pela mãe nas antigas noites de sustos, ressuscitaram de imediato. Tinham somente a elas mesmas e às bonecas de pano para se firmar. Vestiram-nas de festa, com roupa de mulher, no ano novo, para o leilão de corpos. Uma por final de semana. A maquiagem, que tentava disfarçar os traços de criança, escorria em meio às lágrimas pela dor dos esqueletos adultos que pesavam nelas e as machucavam. Para sobreviver, se conformaram, sem aceitar, que a trajetória delas era essa. Oito anos após, passada a novidade e o grande interesse por elas, quando não mais se preocupavam em vigiá-las, já que rendiam somente trocados, fugiram para o Estado de São Paulo, visto como terra onde “mana leite e mel”. Não se impactaram com o novo prostíbulo. Eram inadequadas para leilão e mulheres adultas, cujas bonecas se perderam em madrugadas estéreis.
Chegaram aqui logo em seguida. Recuperaram o contato com a família que ficou na paisagem do adeus doloroso. Ajeitaram-se na periferia. As filhas e os filhos crescem na escolha da mãe e das tias por caminhos que não sejam os que foram os delas. Não é necessário que sejam doutores, mas sim da escola, da honestidade, do trabalho.
Neste mês de dezembro, “painho” e “mãinha” pediram que fossem, com os filhos, passar as festas lá. Estão doentes e gostariam de revê-las e conhecer os netos. Elas arcaram com as despesas de ida e eles lhes darão as passagens de volta. Antes disso, participaram da Celebração de Natal da Pastoral da Mulher. Viram alguns dos filhos encenando o presépio vivo, enquanto elas entoavam do Pe. Zezinho a música “Ouro, Incenso e Mirra”: “São três reis que chegam lá do Oriente/ para ver um Rei que acaba de nascer./ Dizem que um é branco, o outro cor de jambo,/ o outro rei é negro e que vieram ver: / o novo Rei que nasceu, igual estrela no céu. (...) Dizem que um futuro muito diferente/ Essa pobre gente ainda conhecerá. (...) Olham pro Rei que nasceu, igual estrela no céu./ E trazem ouro, incenso e mirra/ Pra festejar o novo Rei/ Que tem poder e majestade,/ que vem do céu, que é de Deus,/ Que vai sofrer, que vai morrer/ E que nos libertará”.
Pediram-nos, antes de embarcar, que lhes déssemos a coroa dourada do presépio vivo e cópias da letra da música “Ouro, Incenso e Mirra”, para cantarem com a família, que não vêem há tanto, no almoço do Natal e da passagem do ano.
Reconhecem que o Messias é um rei humilde e escondido, que Deus não faz acepção de pessoas e desmorona as barreiras do preconceito e que Jesus satisfaz todas as esperanças. Na coroa, que levaram com elas, “após avistarem a estrela”, o presente do grande Rei: o perdão aos que permitiram que a infância delas fosse destruída por aqueles que ofereceram o maior lance.
Maria Cristina Castilho de Andrade
É educadora e coordenadora diocesana da Pastoral da Mulher/ Magdala, Jundiaí, Brasil
CINTHYA NUNES VIEIRA DA SILVA - NATAL
Penso que, na vida, vamos mudando não somente a forma como vemos as coisas, mas também o significado que as coisas possuem. Natal, por exemplo, durante a minha infância, representava chegada de parentes distantes, mesa farta, reuniões familiares, roupa de festa e presentes.
Eu e minha irmã íamos dormir ansiosas, à espera do Papai Noel. Eu bem que tentava, mas nunca conseguia acordar para dar o flagra no bom velhinho. Ele estava sempre de olho, vigiando meu sono e meus sonhos. Naquele tempo, não tínhamos idéia de que o Papai Noel não entrava em todos os lares, tampouco que nem todas as casas eram o que conhecíamos por lar...
O tempo passou, levou com ele muita gente querida, afastou algumas amizades, mudou as cores das nossas árvores de Natal. Descobrimos a identidade secreta do Noel e qual era a extensão da conta bancária dele. Fomos apresentadas aos limites do cheque especial e, em silêncio, sepultamos Rudolph e seu nariz vermelho...
A família foi crescendo em ramificações e, por isso, as comemorações passaram a ser feitas em locas distintos. Tínhamos que não apenas nos dividir, mas fazer de um jeito a não magoar ninguém, a não deixar ninguém se sentir preterido. O Natal, desse jeito, nem comportava Papai Noel, ainda que, na maior parte das vezes, fosse feliz.
Como tudo na vida se ajeita, conforma-se à situação, ajusta-se com o tempo, os Natais também foram se re-significando. Entendi que a distância física importa muito menos, mas muito menos mesmo. Há uma outra espécie de conexão que une as pessoas no Natal. Posso estar a milhares de quilômetros das pessoas que amo, mas ainda assim, sentir-me ao lado delas. Em um telefonema, em poucas palavras, não só “viajo” em pensamento, mas em sentimentos.
Os presentes também mudaram de cores. Sempre são bem-vindos, mas não são imprescindíveis. Os pequenos gestos, como um cartão, uma ligação, um e-mail, um abraço, valem tanto quanto, quando não valem mais... Gosto de sentir que minha árvore está repleta, repleta de boas emoções, de boas amizades, de amigos, de afeto e de amor.
Entendi porque tantos amigos dos meus pais freqüentavam as nossas comemorações de fim de ano. Muitos deles já eram figuras constantes, pessoas com as quais contávamos sem pestanejar. Compreendi que eram parte da família, por mais que eu já os sentisse assim, não os sabia nomear. Creio que somente alcancei essa compreensão quando meus próprios amigos vieram a integrar meu ambiente familiar.
Meu conceito de família expandiu-se quase ao infinito. Entendi que as pessoas se unem por laços muito mais especiais e fortes do que os de sangue ou legais. Não me importa mais onde passo o Natal, mas onde passo a minha vida, onde moram os meus sentimentos e os sentimentos das pessoas por mim.
Algumas coisas, sem dúvida, somente chegam com certo amadurecimento. Uma delas, para mim, ao menos, é a importância da PAZ. Hoje, quando desejo PAZ às pessoas, não o faço da boca para fora, usando palavras esvaziadas de significado. Desejo, de coração, mesmo sabendo que em parte isso é uma utopia, que esse Natal, para todas as pessoas, seja marcado pelos bons sentimentos, pela Paz, pela União, pela misericórdia, pelo amor e pelo espírito de família.
Eu, outra vez, deixo as portas de minha alma abertas, para que o Rudolph possa retornar...
CINTHYA NUNES VIEIRA DA SILVA- Advogada, mestra em Direito, professora universitária e escritora - São Paulo
FILIPE AQUINO - QUEM NÃO TEVE "NAMORADINHA" QUE JÀ FEZ ABORTO?

O governador do Rio de Janeiro fez esta pergunta lamentável e chocante em um evento em SP, e criticou o uso do tema na campanha política para Presidente; e afirmou que a legislação – que considera o aborto crime - é "falsa" e "hipócrita". (Folha de SP – 15/12/10).
É preciso responder esta sua infeliz pergunta. Gostaria de responder ao Governador, em meu nome – e creio, em nome de muitos – que jamais tive “uma namoradinha que fez aborto”. Jamais eu teria a coragem de usar uma moça; e, pior ainda, depois fazê-la abortar. A formação que recebi de meus pais, de meus professores, e pela voz de Deus que fala na minha consciência, jamais eu teria a coragem de tal ato hediondo e pecaminoso.
O namoro não é um tempo de brincadeira, de vivência sexual vazia e irresponsável, onde se pode gerar uma criança e depois matá-la ainda no ventre da mãe. Por isso são lamentáveis as palavras do sr. governador. E não se pode justificar este crime hediondo com a desculpa de um jovem ainda imaturo que tem o “direito” de brincar no namoro e com a vida dos outros.
A pergunta do sr. governador nos leva a entender que ele deseja que o aborto seja descriminalizado para que os jovens imaturos possam continuar matando o fruto de um namoro sem compromisso, irresponsável? Será que há meninas que possam ser usadas como “namoradinhas” de uso e abuso? Quem aceitaria isso para sua filha ou irmã? Ora, é preciso ter mais respeito a tantas meninas e moças que se tornam vítimas nas mãos de rapazes desumanos. Quantas tiveram mesmo que abortar? E quantas estão sozinhas criando seus filhinhos porque tiveram a coragem e a dignidade de respeitar a vida do seu filho?
Quando o Papa João Paulo II esteve no Brasil a última vez, em 1997, fez uma pregação para os jovens no Maracanã, quando disse, entre muitas coisas que: “Por causa do chamado “amor livre” há no Brasil milhares de filhos órfãos de pais vivos”. E muitos nem mesmo tem o “direito de nascer”. Que uma criança seja órfã porque o pai morreu, paciência, mas deixá-la órfã com o pai vivo, sem o seu carinho e proteção, é uma covardia.
O namoro é o tempo sagrado onde dois jovens se encontram para começar a construir um casamento e uma futura família; é um tempo de conhecimento recíproco, respeito e amor. Mas não o amor erótico, mas o amor de Deus. Jesus mandou que nos amássemos, mas “como Ele nos amou”. E Ele nos amou pregado numa cruz. Isso é amor; uma decisão de fazer o outro feliz, e não de usar e abusar do seu corpo e depois matar o fruto desse “amor livre”. A grande crise dos casamentos e das famílias é a crise do amor. Amar não é gostar egoisticamente de alguém.
O Sr. governador do Rio de Janeiro afirma que manter a lei da criminalização do aborto é hipocrisia. Eu gostaria de perguntar-lhe o que é, então, matar uma criança inocente e indefesa no ventre da mãe?
O Instituto de Pesquisa “Vox Populi” acabou de publicar uma pesquisa, encomendada pelo Portal iG, divulgada em 5/12/2010, onde mostra que 82% dos brasileiros são contra a legalização do aborto, 87% contra a liberação das drogas e 60% contra as uniões civis de homossexuais. Para 72% das pessoas, “o futuro governo da presidente Dilma Rousseff não deveria sequer propor alguma lei que descriminalize o aborto” – a posição é compartilhada por católicos (73%), evangélicos (75%) e membros de outras religiões (69%).
Fonte: http://noticias.cancaonova.com/noticia.php?id=279234
Portanto, a posição do sr. governador contrasta radicalmente contra o que deseja o povo brasileiro. Como pode um governante se opor tão paradoxalmente à vontade popular, se ele foi eleito para representar esse povo? Por outro lado, a pergunta do governador mostra um descaso tão grande à vida do ser humano ainda não nascido, e um desrespeito tão grande ao namoro, que faz doer o coração. Será que não há lições melhores a serem dadas aos nossos jovens? Será que algumas autoridades não deveriam pensar melhor naquilo que dizem?
FILIPE AQUINO - Escritor católico.Prof. Doutor da Universidade de Lorena. Membro da Renovação Carismática Católica
JOÃO ALVES DAS NEVES - MUSEU DA IMPRENSA REGIONAL E DAS COMUNIDADES DE LÍNGUA PORTUGUESA

A História da Comunicação que leccionei durante cerca de 25 anos na Faculdade de Comunicação Social “Cásper Líbero” – pioneira do ensino jornalístico no Brasil - foi a que mais me interessou, entre outras cadeiras. Trata-se de um tema ligado de perto ao jornalismo profissional que exerci por mais de meio século: exige conhecimento e interpretação.
Das aulas práticas, passei à busca e selecção dos jornais e revistas que apresentei nas 16 mostras no Brasil (12), Portugal (2), (França, na UNESCO, em Paris) e em Macau. E, como pesquisador, publiquei 2 livros: História breve da Imprensa de Língua Portuguesa no Mundo (Lisboa, 1989) e A Imprensa de Macau e as Imprensas de Língua Portuguesa no Oriente (Macau, 1999). A informação sobra, mas nunca dirigi nenhum museu.
Entre os vários colóquios que coordenei, recordo o de 2000, em Lisboa, onde pudemos recolher as valiosas colaborações de Monsenhor A. Nunes Pereira (“Do Jornal ao Livro”), de Regina Anacleto (da Universidade de Coimbra - “Bosquejo histórico da Imprensa Arganilense”), de Aníbal Pacheco (“Imprensa Regional – um factor de Cultura”), de Lina Maria G. Alves Madeira (“Do “Jornal da Mulher” às mulheres do Jornal de Arganil”), de Teodoro Antunes Mendes (“A minha homenagem à A Comarca de Arganil”) de J. E. Mendes Ferrão (“A Comarca de Arganil, o mensageiro das “novas”e o fermento da saudade), António Lopes Machado (Nos meus 41 anos de redactor de A Comarca de Arganil em Lisboa), carta da escritora Beatriz Alcântara (de Fortaleza, Brasil), jornalista Cáceres Monteiro (A Imprensa Regional é mais lida do que a nacional”, Fernando Correia da Silva (“À Comarca, abraço de universalidade”), e Conclusões do I Colóquio da Imprensa da Beira-Serra. A reunião terminou com uma alocução de Jorge Moreira da Costa Pereira, sócio-gerente do jornal ” A Comarca de Arganil”
O I Colóquio abriu com a nossa intervenção, “Subsídios para o Inventário da Imprensa da Beira-Serra”, na condição de Director da Revista cultural Arganilia assinalando-se que voltámos a abordar o assunto na mesma publicação, em ensaio de 16 páginas, “Para a História dos Jornais e Revistas Arganilenses (edição nº. 20, ano 2006). Além de artigos esparsos de diversos autores sobre o tema, há que destacar o lançamento volume do Centenário de A Comarca de Arganil, que foi coordenado pela investigadora e escritora Regina Anacleto, Professora de História de Artes da Universidade de Coimbra.
As informações constantes do nosso texto seriam suficientes para justificar a instalação e as possíveis actividades do Museu da Imprensa Regional e das Comunidades de Língua Portuguesa, não só porque Arganil faz jús a esta necessária instituição cultural, mas também porque tem condições de estabelecer os laços com o Mundo da Língua Portuguesa - devem somar dezenas de milhares os emigrantes que nasceram na Beira-Serra e vivem nos cinco Continentes. Impõe-se, aliás, o motivo ponderável que temos no Rio de Janeiro o grande acervo jornalístico e literário do Real Gabinete Português de Leitura, do Liceu Literário Português e de outras associações culturais luso-brasileiras de alto nível, assim como em São Paulo se projectam as extraordinárias obras da Real e Benemérita Associação Portuguesa de Beneficência, o renovado Clube Português (que volta a sobressair no cenário da Terra Bandeirante) e a Casa de Portugal, a-par de outras meritórias agremiações luso-paulistas. E o mesmo poderá afirmar-se das entidades lusas em acção na Bahia, em Pernambuco, Fortaleza, Manaus, Belém do Pará, São Luís do Maranhão, Curitiba, Porto Alegre e em mais cidades deste fantástico País-Continente que é o Brasil, criado pelos portugueses e desenvolvido com os emigrantes que vieram de todo o Mundo!
JOÃO ALVES DAS NEVES é escritor português e vive no Brasil. Já publicou mais de três dezenas de livros, os últimos dos quais foram Dicionário de Autores da Beira-Serra (2008), Fernando Pessoa, Salazar e o Estado Novo (2009) e Livro dos 90 anos do Clube Português (2010).