PAZ - Blogue luso-brasileiro
Segunda-feira, 28 de Fevereiro de 2011
HUMBERTO PINHO DA SILVA - O EVANGELISTA ANÓNIMO

                     

 

 

Naquela tarde de Agosto, estando na Póvoa do Varzim, resolvi ir à missa, na Basílica do Sagrado Coração de Jesus.

Sentei-me junto ao coro, e ai permaneci até final do culto.

Preparava-me para abandonar o templo, quando fui abordado por sujeito modestamente vestido, que se sentara a meu lado.

Foi então, pedindo desculpa, que apresentou cartão de cartolina branco, plastificado, que continha a oração da manhã e no verso a da noite:

- Queria oferecer-lhe isto, se não se importa. É para rezar. É oração curtinha, mas não é por muito falar, que somos ouvidos.

Pensei que a oferta era paga, e perguntei:

- Quanto é?

- Quanto é! - repetiu o interlocutor.

- Eu não faço isto por dinheiro! É meu modo de evangelizar; de ficar contente com a consciência.

Agradeci, afectuosamente, e vim a cogitar para A-Ver-o-Mar:

Este homem, que pelo trajo não deve ter grandes recursos, retira parte do salário ou pensão, para adquirir pagelas, que distribui graciosamente.

E eu o que faço?!; e a maioria dos crentes, para difundir a Fé?

Espalhar folhetos é usual no meio evangélico, e muitos são bem planeados e convincentes, mas entre os católicos esse costume não existe.

Sei bem que as pagelas distribuídas pelos evangélicos são enviadas gratuitamente por movimentos religiosos; por isso a prática é facilitada.

Mas este modesto homem, certamente adquire-as com o seu trabalho e sempre que é oportuno, oferece-as, declarando que é para ficar de bem com a consciência.

Que grande lição!; que grande exemplo a seguir! E nós consideramos que ir à missa, dar pequeno óbolo e abordar timidamente, entre amigos, a nossa Fé, é bastante!

Por isso Jesus louvou os humildes de coração, porque não se envergonham da Fé e partilham o que lhes faz falta.

Para rematar, junto a oração da manhã, oferecida. Não menciono o autor por desconhecer:

 

Senhor,

No silêncio deste dia que amanhece, venho pedir-Te a paz, a sabedoria, a força.

Quero olhar o mundo com olhos cheios de amor; ser paciente; compreensivo, manso e prudente; ver além das aparências dos teus filhos como Tu mesmo os vês, e assim não ver senão o bem em cada um.

Cerra meus ouvidos a toda a calúnia.

Guarda a minha língua de toda a maldade.

Que só de bênções se encha meu espírito.

Que seja tão bondoso e alegre, que todos quantos se chegarem a mim sintam Tua presença.

Reveste-me de Tua beleza, Senhor, e que no decurso deste dia, eu Te revele a todos.

 

HUMBERTO PINHO DA SILVA   -  Porto, Portugal



publicado por Luso-brasileiro às 12:05
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VICTORIA LUCÍA ARISTIZÁBAL - MANDAMIENTOS

 

 

 

 

 

MANDAMIENTOS

 

I

 

 

 

“Ama a Dios sobre todas las cosas”

Con el amor del bien que es cultivo

En ese despertar de viento y rosas

Amando al mundo para sentirte vivo

 E imprimiendo Su verdad copiosa

Sabrás que Él nunca te será esquivo

 

II 

 

 

 

“Nunca jures Su nombre en vano”

Y no apoyes la “sin razón” perdida

Poniéndole a ÉL de aval cristiano;

Que tu boca sepa por qué la herida

Y porqué de la mentira y desengaño

“Te lo juro por Dios”, será tu huida

 

III 

 

 

 

“Santificarás con honor Sus fiestas”

Domingo es el día para santificarlo

Pues seis días trabajarás sin restas

Tú converso, festéjalo para adorarlo

Que El Eterno dará fieles respuestas

 A quién en Su creación ha de hallarlo

 

 IV

 

 

 

“A tu Padre y a tu Madre, honrarás”

Así prolongarás tus días en la tierra

 El Eterno Dios éste hogar santificará

Hónrales, ámales y jamás les yerras

La desviación al desamor condenará

Ámales en comprensión y no en guerra

 

 V

 

 

 

“No matarás a quiénes son hermanos”

Perdonarás al enemigo, y Yo perdono

A todo aquel que dé en paz sus manos

Y con misericordia mire y no en encono

La muerte en venganza es de insanos

Y por justicia nunca aspirará Mi trono

 

 VI

 

 

 

“No cometerás adulterio, serás puro”

Ni en pensamiento, obra u omisión

Respeta tu cuerpo y hazle maduro

Que tu mente no juegue en distorsión

Tu pulcritud es honor del bien seguro

Y la conciencia no relajes en prisión

 

VII 

 

 

 

“No sustraerás lo que no te pertenece”

De la escoria es la llaga y la sequía

Quién robando a otro se enriquece

Es materia que en espíritu no cabría

Y es alma que para Dios languidece

Será planta parásita, sola y vacía

 

 VIII

 

 

 

“Ni falsos testimonios, ni mentiras”

La ley en la moral es fundamento

El engaño y la traición emana iras

No da vida la piedra ni el cemento

El diamante no tallarás si lo tiras

Evadir, ocultar, herir, es tormento

 

IX 

 

 

 

“No juzgarás a tu prójimo con falsedad”

No pises al maestro que te enseña

La virtud que te ofrenda en propiedad

De ella la experiencia no hace leña

Recuerda la memoria de tu dignidad

Pues no dañes la honra de su dueña

 

X

 

 

 

“No codiciarás, ni envidiarás del otro”

Con integridad logra lo que anhelas

Cabalga encima de tu propio potro

Que en la humildad a Dios desvelas

Esta tierra es paraíso de un “nosotros”

Y la cosecha el alma a quién no cela

 

 

Bogotá Colombia

Febrero 16 de 2011

 

VICTORIA LUCÍA ARISTIZÁBAL   

 



publicado por Luso-brasileiro às 11:47
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Quarta-feira, 23 de Fevereiro de 2011
EUCLIDES CAVACO - FELIZ CARNAVAL
Olá amigos
Para vos desejar um feliz Carnaval  aqui lhes deixo esta
hilariante composição que poderá ver e ouvir neste link:
 
http://www.euclidescavaco.com/Poemas_Ilustrados/Carnaval/index.htm
 


FELIZ CARNAVAL
Euclides Cavaco
cavaco@sympatico.ca


publicado por Luso-brasileiro às 18:29
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Terça-feira, 22 de Fevereiro de 2011
JOSÉ RENATO NALINI - ÁI DOS BONZINHOS !

                   

               

 

 

Não são todos, mas a grande maioria dos pais contemporâneos se alinha com a liberalidade, a flexibilidade e a tolerância. As crianças não podem ser repreendidas porque ficam traumatizadas. Castigo físico é inadmissível. Hoje constitui até crime. O aprendizado se faz à medida em que a vida ensinar.

Os pais declinam de orientar os filhos, fazem que não enxergam os mimos que depois se transformam em vícios, acham que bons modos serão ensinados na escola. Esta, por acreditar que a educação de berço vem dos pais, não considera obrigação sua cuidar dos maus modos.

De leniência em leniência constrói-se uma juventude sem limites. Se Zygmunt Bauman, em sua Ética Pós-Moderna, diz que o lema atual é “sem excessos”, a educação brasileira no lar poderia ter o slogan “sem limites”. Isso explica o abuso de álcool, iniciado a partir dos 11 anos. A violência nas escolas. O medo que os professores têm de ser agredidos. As brigas no trânsito. Os homicídios às saídas de baladas, as surras, os entreveros, a droga a permear todos os ambientes.

Isso no Brasil. Em que lugar mesmo está o País no ranking da educação mundial? Não interessa. Temos Copa e Olimpíadas para distrair a população. E Big-Brother também. Daqui a pouco é Carnaval. Por que se atormentar com bobagens?

Na China, os filhos são extremamente bem-sucedidos na escola e na carreira. Qual o motivo? Amy Chua, norte-americana descendente de chineses e professora de Direito na Universidade Yale, escreveu um livro sobre a educação na China: “Grito de Guerra da Mãe Tigre”. A abordagem flexível e complacente não está dando certo. Ela advoga a rigidez extrema, regime em que foi criada. Na China, “se uma criança tira “B”, a mãe, devastada, a obrigará a fazer dúzias, centenas de testes e lições, pelo tempo necessário, até tirar “A”.

Já houve um tempo em que isso acontecia no Brasil. Posso testemunhar, porque ocorreu comigo. Depois, prevaleceu o relaxo. Por que exigir da criança? Nota não é tudo. Ela precisa também se divertir. Coitadinha! Se eu fui pressionado a estudar por meus pais, com meus filhos vou ser bonzinho. Deu certo? Volto ao tema.

 

José Renato Nalini é Desembargador da Câmara Especial do Meio Ambiente do Tribunal de Justiça de São Paulo e autor de “Ética Ambiental”, editora Millennium. E-mail: jrenatonalini@uol.com.br



publicado por Luso-brasileiro às 11:57
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JOÃO CARLOS JOSÉ MARTINELLI - O PRECONCEITO IMPERA ATÉ CONTRA MANIFESTAÇÕES POPULARES. - ESCOLA DE SAMBA DE SP É HOSTILIZADA POR HOMENAGEAR NORDESTINOS.

 

                  

 

                

Inúmeras notícias nos últimos tempos demonstram o elevado grau de  intolerância que algumas pessoas ainda nutrem em relação a outras, a ponto de se insurgirem contra uma demonstração manifestamente popular como o samba-enredo de uma escola de samba, Acadêmicos do Tucuruvi. Uma triste             constatação. Em pleno século XXI, após mais de sessenta anos da Declaração  Universal dos Direitos Humanos ainda persistem situações que contrariam alguns de seus preceitos mais básicos.

             

            O presidente da escola de samba Acadêmicos do Tucuruvi de São Paulo, Hussein Abdol El Selam, o Seo Jamil, já prestou diversas queixas à polícia sobre e-mails que a entidade recebeu ofendendo nordestinos e protestando contra o samba-enredo “São Paulo, Capital do Nordeste” que o grupo levará ao sambódromo durante o carnaval.

            De acordo com notícia publicada pelo jornal “O Estado de São Paulo” (27/12/2010-C3), a onda discriminatória começou dia 10 de dezembro do ano passado, com uma mensagem eletrônica dirigida à “SP Turis”, criticando os homenageados e afirmando que a escola estaria discriminando os próprios paulistas. “Respondemos que não há nada no samba que denigra a integridade do paulistano. Pelo contrário”, contou o diretor de turismo do órgão oficial, Luiz Sales. No dia 17 do mesmo mês, a diretoria jurídica da Tucuruvi ingressou com pedido de providências na Delegacia de Crimes Raciais e Delitos de intolerância.

            Por outro lado, dados recentes da Ação Educativa, mostram que crianças e jovens sofrem nas escolas brasileiras por causa da cor da pele, da condição social, da preferência sexual, do tipo de cabelo, do sotaque, dos óculos – e um punhado de outras razões, observando-se casos até de professores que preparam o terreno para o “bullying”, quando colocam apelidos em alunos.

             Há pouco tempo um estudante de 27 anos afirmou que ele e um amigo foram vítimas de mais um ataque homofóbico na região da Avenida Paulista, em São Paulo,  na madrugada de 25 de janeiro deste ano. Foi a quinta ocorrência desta natureza  desde 14 de novembro, quando quatro adolescentes e um jovem de 19 anos cometeram agressões na mesma via pública. E por fim, metade dos paulistas e dos cariocas declarou que não se casaria com uma pessoa obesa, numa pesquisa do HCor (Hospital do Coração), que foi divulgada  no dia 05 de novembro do ano passado em fórum sobre nutrição que aconteceu em São Paulo.

            Todas essas notícias demonstram o elevado grau de intolerância que algumas pessoas ainda nutrem em relação a outras, a ponto de se insurgirem contra uma demonstração manifestamente popular como o samba-enredo de uma escola carnavalesca. Uma triste constatação. Em pleno século XXI, após mais de sessenta anos da Declaração Universal dos Direitos Humanos ainda persistem situações que contrariam alguns de seus preceitos mais básicos.

            O conceito de civilidade é sempre colocado à prova quando o assunto é o respeito à diversidade, a defesa dos direitos de minorias sociais e culturais, a atenção devida a idosos, crianças e deficientes físicos. Sempre que os cidadãos são motivados a se manifestar ou agir em situações diferenciadas, deixam transparecer o grau de respeito e cultura de civilidade, atestando o seu nível de evolução social. Nesse sentido, continuamos a verificar que o preconceito ainda domina, gerando insegurança jurídica, agressões injustificadas e um clima de prepotência e superioridade absurdo, que só encontra embasamento na ignorância humana e reduzem sensivelmente nossos índices de boa convivência.

            A Constituição Federativa do Brasil coloca no topo da organização estatal o cidadão, assegurando-lhe o exercício de direitos considerados como de valores supremos da sociedade. É a garantia da dignidade humana; da não-discriminação; da vida, liberdade, igualdade e segurança; do acesso à justiça e do Devido Processo Legal. Não há mais como tolerar impunemente transgressões a esses princípios.

            Algumas dessas manifestações trouxeram à tona a discussão sobre o projeto de lei nº 122/06, que criminaliza a homofobia, e a reflexão sobre a legitimidade do uso do direito penal para inibir a discriminação pela opção sexual. Apesar de alguns exageros contidos nessa proposição, faz-se necessário que se retomem os debates sobre ela, mormente para coibir os atos violentos constantemente praticados.

            A Carta Magna enfatizou o firme propósito de se alcançar o triunfo do respeito entre os indivíduos, como uma das bases do Estado de Direito que estamos tentando construir. Evidencia-se a cada dia que promover a igualdade é de extrema importância para o desenvolvimento social e econômico de um país. A educação é a melhor arma, já que sem ela, a mobilidade social estará emperrada e a própria sociedade permanecerá refém de suas limitações, de suas desigualdades e de suas discriminações. Mais do que nunca, é preciso combater veementemente todas as formas de preconceito e exclusão social, constituindo-se tal premissa num compromisso não só do governo, mas de toda a população em geral.           

 

JOÃO CARLOS JOSÉ MARTINELLI é advogado, jornalista, escritor e professor de Direitos Humanos da Faculdade de Direito do Centro Universitário Padre Anchieta de Jundiaí      



publicado por Luso-brasileiro às 11:47
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CINTHYA NUNES VIEIRA DA SILVA - A VIROSE

                    

 

   Então que havia chegado a sexta à noite e eu estava feliz da vida. Cheia de trabalhos para colocar em ordem, algumas coisinhas legais em mente e uma pizza entre amigos marcada para o sábado à noite. Eu havia lecionado praticamente o dia todo e estava um prego, como se diz por aí. Sentindo um ligeiro desconforto, julguei se tratar do rotineiro "problema mensal" feminino. Tomei um analgésico e me deitei, certa de que tudo era passageiro. Pelo visto, era o motorista ou o cobrador! 
   O sábado veio e eu ainda estava com gosto de sexta-feira misturada com corrimão, na boca. Sequer tive forças para tomar café da manhã, coisa que não dispenso nem mesmo quando estou "mega" atrasada. Resolvi continuar jogada na cama, sem qualquer idéia melhor. A dor, que de início confundi com cólicas, ia do abdômen para as costas como se brincasse de pião. Eu mal conseguia me levantar. Alguma coisa estava errada, pensei.
  A hora do almoço chegou e se foi sem que eu desse conta dela. Em se tratando de mim, devo dizer que isso foi um fator extremamente preocupante. Nunca dispenso refeições, não por vontade própria. Uma sensação de embrulho me circundava. Era como se eu estivesse com uma ressaca louca, mas tudo o que eu bebera no dia anterior fora um suco de laranja e uma cerveja preta. Foi aí que me lembrei de que comera uma porção de lula ao vinagrete. Será? Não podia ser, eu sempre comia no mesmo lugar, isso já há anos...
   Como eu já tinha marcado uma pizza com alguns amigos, achei que iria melhorar e que não seria necessário desmarcar. Quando as pessoas chegaram, eu estava desconfortável em mim mesma, mas não estava tão mal. A pizza chegou e nos sentamos à mesa. Dos meus três habituais pedaços, só fui capaz de um e, ainda assim, meio forçada a tanto. Eu me sentia comendo era um prato de jibóias vivas. Ainda na mesa, comecei a sentir frio, muito frio, sendo incapaz até de prestar atenção na conversa que ia animada. Quando minhas pernas começaram a tremer e eu coloquei uma blusa de lã, entendi que a coisa estava feia.
   Fui até o banheiro, até para lavar um pouco o rosto, quando uma onda medonha me atravessou a garganta e eu só fiz foi "chamar o Juca". Jesus, de onde vinha tudo aquilo? Em pânico, sem conseguir chamar por socorro, discretamente, fiquei ali até a coisa toda passar. Eu achei melhor não invadir a sala interpretando uma cena trash do filme "O Exorcista"... Contudo, mesmo com todo meu cuidado, meus convidados acabaram se mandando. Em poucos minutos já não tinha mais ninguém. Nem eu, quase.
   Mas o pior ainda estava por vir. Eu já me convencera de que estava com uma virose e somente aguardava que meu intestino fizesse a parte dele. O problema todo é que isso não acontecia e eu passei uns três dias com minha barriga quase aprendendo a falar, de tanto barulho que fazia. Parecendo um balão, eu tive que andar por aí, ir trabalhar, vestindo somente roupas soltas, até porque quase nem era capaz de abotoar a calça. Eu não sabia o que era pior, a barriga inchada ou a certeza de que, a qualquer hora, eu perderia o controle da "situação"...
   Quando o inevitável, por fim aconteceu, aconteceu por toda uma longa e dolorosa noite. Tudo o que sei é que, após tantas saídas, o que sobrou foi um par de pernas bambas e uma fraqueza sem fim. Quase uma semana depois, eu ainda não estou lá muito inteira e, com certeza, nem de longe pronta para outra. Perdi todos meus treinos da semana, atrasei um pouco mais o meu trabalho e quase que minha dignidade. Por certo, parte dela, desceu água abaixo...
   Para sorte de vocês, isso não se transmite pela internet..
 
 

CINTHYA NUNES VIEIRA DA SILVA- Advogada, mestra em Direito, professora universitária e escritora - São Paulo





publicado por Luso-brasileiro às 11:43
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MARIA CRISTINA CASTILHO DE ANDRADE - "ARRULHOS DA MADRUGADA"

          

 

 

Arrulhos da Madrugada”, de autoria da escritora Aparecida Mariano de Barros, livro publicado pela Literarte em 2010, traz flores de pessegueiro ao coração. Impossível não misturar os versos de Da. Aparecida com situações próprias.

Em “Quando o sono não vem”, a autora escreve que a poesia passeia por lugares que nem nos lembraríamos mais. E é verdade. Seus poemas nos levam a lembranças remotas.

“Cochilo na cadeira”. O silêncio que se preenche com a valsa “Ave-Maria”: Cai a tarde tristonha e serena... O poente é mesmo um pouco melancólico. Parece-me que possui recordações imensas e intensas, fatos que nos fugiram das mãos ao entardecer. No pôr-do-sol, tenho saudade de alguns momentos meus, de canções, de olhares, do coração batendo forte...

“O Patriarca Monteiro”: Nas horas de descanso/ tocava bandolim/ e cantava fados, soluçando saudade. Diz do avô, que partiu um ano antes da chegada dela. Relataram-lhe posicionamentos e hábitos dele. Embora não se tenham visto, beija-lhe a mão e lhe pede a bênção. Que interessante, eu também me sinto de conhecimento grande com pessoas que se foram antes ou logo depois que nasci. Disseram-me sobre elas com sentimento bonito e eu as quis para meu convívio no coração. Talvez, quem sabe, uma questão atávica.

Da. Aparecida é muito especial. É feita de doces e ternura, goiabada caseira e abraço. Contou-me, recentemente, uma lenda que me acariciou. Nossa Senhora, após a fuga para o Egito, colocou o Menino em uma sombra e, enquanto São José procurava construir-lhes um abrigo, buscava Maria um rio ou um lago para lavar as fraldas do seu Bebê. O Menino, que a observava, raspou os pezinhos no chão e da terra começou a brotar água.

Encantam-me as imagens do sertão, as reminiscências da infância da autora. No poema “Raízes”: Quando anoitece, com lamparina/ Não posso ler nem posso trabalhar,/ Então eu saio para o terraço,/ No céu eu vejo nuvem passear/ Eu leio histórias no firmamento,/ Faço poesia em renda de luar... Em outro livro seu, “Sol no Poente” – Editora In House -, comenta sobre a fogueira que ainda crepita dentro dela e pede a Deus que permita a Santo Antônio lhe dar o braço, todas as vezes que ela mudar o passo. E há, entre os Haicais, um que guardo na alma: Quis nos redimir/ Ele orou sangue suou/ Pôs luz no porvir.

Da. Aparecida é pessoa que se maravilha com o barulho dos passarinhos, os eucaliptos, a carregadeira de bois, o curió, a lua, o campanário, as charretes, troles, carraças, cavalos ajaezados, ingazeiros floridos, canecas de ágata, os trens, o matagal com seus ruídos misteriosos na outra margem do rio, o entrelaçamento das famílias. É da beleza, da harmonia nos versos e ensina, em “Horas Mortas”: Fechar as pálpebras/ aplacar o íntimo./ Jogar estrelas/ num firmamento/ nublado...

 

Maria Cristina Castilho de Andrade

É educadora e coordenadora diocesana da Pastoral da Mulher/ Magdala  - Jundiaí



publicado por Luso-brasileiro às 11:39
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PAULO ROBERTO LABEGALINI - HISTÓRIA e A SANTA MISSA

              

 

 

* H I S T Ó R I A 

 

Uma senhora contou à filha um pouco de sua própria vida. Disse assim:

Quando eu era muito jovem, minha mãe me perguntou qual era a parte mais importante do corpo. Eu achava que o som era muito importante para nós, seres humanos, então eu falei: ‘as orelhas, mãe’.

Ela discordou, dizendo: ‘Não, muitas pessoas são surdas e não deixam de ser especiais. Mas continue pensando sobre este assunto que em outra oportunidade eu volto a lhe perguntar’.

Algum tempo se passou até que minha mãe me questionou outra vez sobre aquilo. Desde que fiz a primeira tentativa, eu imaginava ter encontrado a resposta correta, mesmo assim, dessa vez eu lhe disse: ‘Mãe, a visão é muito importante para todos, então, deve ser os olhos’.

Ela falou: ‘Você está aprendendo rápido, mas a resposta ainda não está correta porque há muitas pessoas que são cegas’.

Pensei: ‘Dei mancada novamente!’ Continuei minha busca ao longo do tempo, minha mãe me perguntou em várias outras oportunidades e, sempre que eu opinava, sua resposta era a mesma: ‘Não, mas você está ficando mais esperta a cada ano!’

Então, um dia, meu avô morreu. Todos choravam. Quando fui dar o meu adeus final ao vovô, minha mãe olhou para mim e me perguntou: ‘Você já sabe qual a parte do corpo mais importante?’ Eu fiquei meio chocada por ela me fazer aquela pergunta naquele momento! Sempre achei que era apenas um jogo entre nós.

Daí, ela me olhou de um jeito que somente uma mãe pode fazer. Eu vi lágrimas em seus olhos quando disse: ‘Minha querida, a parte do corpo mais importante é o seu ombro! Nele, pode-se apoiar a cabeça de um amigo ou de alguém muito amado que chora.

É verdade, leitor, todos precisam de um ombro para chorar em algum momento da vida. Eu espero que você tenha bastante amor no coração para que seus amigos chorem em seu ombro, se um dia precisarem.

 

 

* Do programa ‘Nossa Reflexão’, que vai ao ar em quatro horários no Canal 20: 8h30, 11h30, 17h30 e 22h30. O site www.canal20tv.com.br disponibiliza os vídeos já apresentados na televisão. Clique em ‘Arquivos de Vídeo’ e depois em ‘Nossa Reflexão’.

 

** A SANTA MISSA

 

O Pe. Robert Degrandis, no livro ‘A Cura pela Missa’, diz que “o centro da fé católica é o sacrifício da missa. Devemos acreditar que a missa é muito mais do que até hoje imaginamos, porque ela é uma cerimônia de cura. Na missa, Cristo transforma as nossas necessidades físicas, emocionais e espirituais. Se realmente cremos em Jesus presente na hóstia consagrada, obteremos a integridade ao receber seu Corpo em nós”.

Muitos outros religiosos também enfatizam que as partes da santa missa constituem elementos de uma cerimônia de cura. Santo Agostinho, por exemplo, escreveu sobre as curas que testemunhou em sua igreja, como resultado de as pessoas receberem a Eucaristia.

É maravilhoso ir à casa de Deus e participar da celebração do grande mistério da vida, da morte e da ressurreição de Nosso Senhor Jesus Cristo. A nossa fé, a nossa oração e o nosso louvor a Deus, nos colocam em estado de graça durante a missa.

Em alguns lugares, ao chegarmos na igreja, a água benta já se encontra à disposição para nos renovar em nome da Trindade: o Pai que nos criou, o Filho que nos salvou e o Espírito Santo que nos santifica.

No decorrer da missa, somos perdoados pela Misericórdia Divina no ato penitencial, louvamos a Trindade Santa no hino de louvor, ouvimos a Palavra de Deus na proclamação do Evangelho, professamos a nossa fé no creio, fazemos os nossos pedidos na oração da comunidade, entregamos as nossas vidas ao Senhor no ofertório, adoramos a Deus no canto do Santo, presenciamos a transformação do pão e do vinho em corpo e sangue de Jesus na consagração, recitamos a oração perfeita que o próprio Jesus nos ensinou no Pai-nosso e, após o Cordeiro, chegamos à comunhão.

Ao recebermos o corpo santo de Cristo no nosso, vivenciamos o imenso amor e a infinita misericórdia de Deus para conosco ao permitir que, mesmo pecadores, tenhamos a graça de receber a própria pessoa que cura – Jesus, o centro da missa! Principalmente por isso, após a comunhão, devemos rezar ou cantar, dando graças por sermos muito abençoados naquele momento.

E se não bastasse todas essas maravilhas na missa, sabemos ainda que a Virgem Maria também está nos ouvindo como verdadeira mãe, e intercedendo a Deus por nós! Por isso, o ministério de música canta quase que o tempo todo na Celebração da Eucaristia, explodindo de alegria por tantas bênçãos.

Saiba que nada substitui a santidade da missa. Acredite que, no seu encerramento, as palavras do sacerdote sempre serão atendidas pelo nosso Pai: ‘Ide em paz e que o Senhor vos acompanhe’.

 

** Do programa ‘Acreditamos no Amor’, que vai ao ar em dois horários na Rádio Futura FM, 106,9 MHz: 6 h e 18 h – segunda a sexta.

Site para ouvir o programa ao vivo: www.futurafm.com.br

 

PAULO ROBERTO LABEGALINI --    Escritor católico, Professor Doutor da Universidade Federal de Itajubá-MG. Pró-reitor de Cultura e Extensão Universitária da UNIFEI

 



publicado por Luso-brasileiro às 11:31
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Côn. JOSÉ GERALDO VIDIGAL DE CARVALHO - O FENÔMENO LULA

                    [Cônego.jpg]

 

 

O fato da renomada Universidade Federal de Viçosa ter concedido o título de Doutor “Honoris Causa” a Luis Inácio Lula da Silva provocou na Imprensa em geral os mais diversos comentários. Um julgamento objetivo sobre o último Presidente da República só se dará com o passar dos tempos. Surgiu com ele, para muitos contemporâneos, o redentor da pátria, mas já se cantou, em prosa e verso, a tendência sul-americana de exaltar líderes messiânicos. Como observou Donald Marquand Dozer, “é próprio dos povos latino-americanos recusar a aceitar a tirania de idéias, quer seja a idéia unitária, quer a federalista, quer o socialismo, o comunismo ou qualquer outro sistema de camisa-de-força, mas abandona-se de bom grado ao controle de um caudilho que demonstrar na prática possuir dotes de superioridade pessoal”. Adite-se que à volta do chefe que parece carismático há sempre um grupo que usufrui do poder. É ler os jornais para se perceber que um fisiologismo, antes condenado abertamente, imperou durante os oito anos do governo lulista. É claro que isto é sofisticamente rebatido com o palavreado fulgurante de comunicadores hábeis em dar explicações, sempre se afirmando que as medidas tomadas, os acordos feitos, giraram em torno do interesse da Pátria bem amada. Peron na Argentina; Vargas no Brasil; Alessandri no Chile; Francia, El Supremo, no Paraguai; Porfírio Diaz no México, são alguns exemplos entre tantos outros de governantes que souberam bem explorar seus dotes pessoais em situações que favoreceram seu domínio. É interessante observar que Porfírio Diaz em 1884 retornando à Presidência fez passar uma emenda constitucional que permitia a reeleição. A partir dessa data manteve-se ininterruptamente à testa do governo até 1991! No Brasil Lula foi reconduzido ao Planalto após quatro anos e fez sua sucessora no poder. A questão é se colocar na mente do brasileiro que só há um homem digno da Presidência da República, um único salvador, que, voltando daqui a quatro anos, vai acabar definitivamente com o pauperismo, com a fome, com o desemprego, com o analfabetismo, colocando a saúde pública em patamares invejáveis! Spencer alertou : “O culto dos heróis é o mais forte lá onde a liberdade humana se considera menos”. Portanto, todo cuidado é pouco! Houve cientistas sociais do mais alto gabarito que captaram resquícios de stalinismo na administração de Lula. Aliás, o que antes era combatido, foi defendido depois, não sendo o último governo, na opinião dos melhores analistas, senão uma mera continuação do que foi feito durante os tempos de FHC, colocando-se, inclusive, em prática teses do tão controvertido sociólogo. Seja como for, homenagens foram prestadas em Viçosa ao Doutor Lula que já entrou na História ou como um mito ou como um herói. Os pósteros julgarão melhor!

 

JOSÉ GERALDO VIDIGAL DE CARVALHO   -  da Academia Mineira de Letras



publicado por Luso-brasileiro às 11:23
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HUMBERTO PINHO DA SILVA - ESCREVER PARA QUÊ ?

                     

 

 

Por vezes interrogo-me: escrever para quê e para quem? Não está tudo dito? Limito-me, em norma, a repetir o que já foi escrito e pensado décadas atrás.

Sem duvida de erro, poderia asseverar: todo o escritor é plagiador, já que usa a experiência, o saber, as ideias dos que o antecederam; e não é desdouro.

 Moliére não imitou “O Vaso de Oiro” de Plauto, ao escrever “ O Avarento”?; e o Rigoleto de Verdi não foi baseado no “ Le Roi s’amuse de Vitor Hugo?; o próprio Eça não foi acusado de copiar Júlio Verne, Zola e Flaubert?

Disse: não é desdouro, e penso que disse bem, desde que não se copie formalmente; porque o escritor ou poeta, não o é espontaneamente, mas fruto de leituras e influência de um ou vários consagrados.

 Se há diferenças, é no jeito como observam os acontecimentos, e os vê coados pela sensibilidade, modo de pensar e formação cívica e moral.

Tal como o escultor, que do bloco de mármore, arranca a estatueta, de harmonia com o gosto e sensibilidade, o escritor, com a pena, versa temas conhecidos, transmitindo-lhe seu modo de pensar, no estilo ou modo de dizer próprio.

Também o articulista escreve, porque sente precisão de comunicar o que pensa; e escreve para reduzido número de leitores, que possuem igual sensibilidade e idêntico modo de estar na vida.

Costa Barreto, conhecidíssimo jornalista do extinto matutino “ O Comércio do Porto”, afirmava, que os periódicos não têm leitores, mas sim os colaboradores; e acrescentava: compra-se o jornal para ler A ou B, e muda-se de gazeta, se o cronista passa a escrever a coluna noutro periódico.

Dizem que se deve ler muito; eu direi o contrário: leia-se o que merece ser lido.

E o que merece ser lido?

Além das obras fundamentais, escolha-se, na floresta dos livros, os que tratam assuntos, consoante o gosto de cada um.

O que interessa para A, pode não ser para B.

Deve-se ler, igualmente, jornais e revistas, para confrontar o nosso parecer com o dos cronistas, e adquirir conhecimentos sobre as correntes de opiniões em voga.

Sertillanges recomenda não ser devorador de livros, mas que se seja criterioso na escolha, e buscar o melhor sobre a matéria a estudar; porque os livros repetem-se, e na maioria não passam de cópias, apenas revestem assuntos sob o ponto de vista do autor, exposto com mais ou menos beleza literária.

Em suma: leia-se obras que sirvam para melhorar a nossa formação, mormente as escritas em boa e vernácula linguagem; e o jornal que verse temas variados, e mostre o mundo sob ponte de vista de comentaristas de boa e sólida formação moral.

 

HUMBERTO PINHO DA SILVA   -   Porto, Portugal



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Domingo, 20 de Fevereiro de 2011
EUGÉNIO DE SÁ - RESPONDENDO A FLORBELA

 

                        

 

 

 

Ensaio sobre a poesia de Florbela Espanca  

 

Tortura

 

 

Tirar dentro do peito a emoção,
A lúcida verdade, o sentimento,
- E ser, depois de vir do coração,
Um punhado de cinza esparso ao vento!…

 

Sonhar um verso d’alto pensamento,
E puro como um ritmo de oração!
- E ser, depois de vir do coração,
O pó, o nada, o sonho dum momento!…

 

São assim ocos, rudes, os meus versos:
Rimas perdidas, vendavais dispersos,
Com que eu iludo os outros, com que minto!

 

Quem me dera encontrar o verso puro,
O verso altivo e forte, estranho e duro,
Que dissesse, a chorar, isto que sinto!

 

  

Florbela Espanca - In Livro de Mágoas

  

 

 

Respondendo a Florbela

(Tortura)

 

 

 

Não se esvazia assim esse teu pranto

Com um sopro de vento, um temporal

Mas tenta um verso puro, talvez santo

Que o que é santo é do bem, renega o mal

 

 

Esquece a altura a que possa subir

Um pensamento nobre em verso posto

Que o importante é não deixar cair

Um sorriso fugaz nesse teu rosto

 

 

E vê; nada há de rude nos teus versos

Que a tristeza é demais e a solidão

Conta de ti efígies e anversos

  

E não percas na rima a solidão

Que sem ela o poeta perde o amplexo

De que se serve a sua emoção.

                                             

 

Eugénio de Sá  -  2009  

 

 

BIOGRAFIA

 

Eugénio de Sá 

Nasci em 1945, no típico bairro da Ajuda, em Lisboa, Portugal.

Lá do alto, pode ver-se parte do belíssimo estuário do Tejo e ainda se vislumbra o espaço vizinho da Torre de Belém, que assinala o local de partida das naus portuguesas a caminho da epopeia dos descobrimentos.

Lisboa está-me nas veias, tal como a literatura e a poesia, que sempre me cativaram o espírito.

Todavia, e por circunstâncias da vida familiar, cedo conheci Sintra, onde vivi e estudei durante toda a fase do ensino secundário. Uma vila encantada, que ainda hoje visito regularmente.

A frequência do Instituto Comercial levou-me de novo ao quotidiano da capital, até que chegou o tempo de cumprir o serviço militar. Corria então o ano de 1965.

Cinco anos volvidos, e depois de uma breve passagem por uma multinacional norte americana, tomei rumo na redacção de um jornal que então havia iniciado a sua publicação. Começava aí a tomar forma a minha natural vocação pelo mundo da comunicação, onde evoluí durante mais de trinta anos, divididos entre a escrita e a publicidade. Sempre na cidade de Lisboa.

Conheço parte da Europa e alguns países do norte de África, onde a minha natural apetência pela história dos povos me foi levando.

Hábitos de leitura, a que uma avó querida não é alheia, dotaram-me de vontade e gosto pelo conhecimento. Entre os momentos que lembro em que o espírito mais se deliciou, avultam os consagrados à leitura dos grandes mestres portugueses; de Luís de Camões a Eça de Queiroz, de Alexandre Herculano a Camilo Castelo Branco. Todos contribuíram muito para o meu enriquecimento espiritual.

O deslumbramento pela poesia chegou em 1968, trazida num livrinho que recebi das mãos de José Saramago, então colaborador do Jornal A Capital, onde iniciei a minha actividade de comunicador. Ainda guardo esse exemplar autografado pelo nosso prémio Nobel.  Chama-se; “Provavelmente Alegria”.

E é com essa mesma alegria que me apresento perante vós, queridos leitores, com o entusiasmo de quem vem contar os sentimentos que lhe vão na alma e que me marcam hoje os traços do rosto. Bem vindos sejam, pois, à minha poesia. Membro de "Associação Portuguesa de Poetas"; Poetas Del Mundo"; "C.U.P.E. - Clube Universal de Poetas Y Escritores". Actual Membro de "Os Confrades da Poesia"

 



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Terça-feira, 15 de Fevereiro de 2011
JOSÉ RENATO NALINI - MEUS AMIGOS DEPUTADOS

               

 

 

Tenho vários amigos deputados. Alguns muito próximos. Vão tomar posse estes dias. Eles sabem o que penso da urgência de se restaurar a dignidade da política. Não concordo com aqueles que se resignam a dizer que a política toda está contaminada. Papini, em seu “Diário”, diz: “A política dirige os homens, que não são matéria limpa: é tolo acusar o carvoeiro de não estar sempre com as mãos brancas”. Acredito que haja ainda pessoas sérias e bem intencionadas. Para estas reproduzo alguma coisa que Hilda Hilst inseriu em sua crônica “Hora dos Tamancos”, publicada em 29.3.1993.

Começa por afirmar: “As incongruências, os absurdos, a estupidez, a selvageria, o imponderável, isso tudo é o que nos rodeia, e ainda assim temos de sobreviver e continuar como se estivéssemos no melhor dos mundos. Roubam bilhões, trilhões, mas se algum pobre coitado roubar um pão, o cara sai correndo atrás e cadeia nele”. Parece concordar com Papini, ao invocar Ernest Becker, tão pessimista em relação à espécie humana:

“Que devemos concluir de uma criação na qual a atitude rotineira consiste nos organismos despedaçarem uns aos outros com dentes de todos os tipos mordendo, triturando carne, talos de plantas, ossos entre os molares, empurrando, satisfeitos, a massa goela abaixo, avidamente, incorporando a essência desta em seu próprio organismo, e depois excretando com mau cheiro e gases os resíduos? A criação é um pesadelo espetacular que ocorre num planeta que vem sendo encharcado de sangue de todas as suas criaturas há centenas de milhões de anos”.

E se encharcando de água também, na loucura climática gerada pela insensatez de quem despreza o ambiente e liquida – inclemente e crescentemente – o verde que ainda resta. Confio que meus deputados comecem bem e iniciem pelo mais urgente: a defesa ecológica. Não quero que prevaleça, no Brasil, a triste constatação de Papini: “No começo eram os meios-homens. Nos tempos modernos desapareceram os gentis-homens – depois os homens de bem – depois os homens. Ficaram os subhomens que se fantasiam de super-homens”. Boa legislatura a todos e Deus nos proteja!

 

José Renato Nalini é Desembargador da Câmara Especial do Meio Ambiente do Tribunal de Justiça de São Paulo e autor de “Ética Ambiental”, editora Millennium. E-mail: jrenatonalini@uol.com.br



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MARIA CRISTINA CASTILHO DE ANDRADE - OLHAR, ESCUTAR E DIZER

                     

 

 

Concluo, após décadas de proximidade com excluídos, que olhar com misericórdia e escutar também salvam as pessoas de desastres maiores, a que ouve e a que é ouvida. Talvez seja uma questão cultural de oprimido e opressor, da maneira com que agem os que se julgam acima, uma questão de poder, mas os que se consideram à margem buscam, inúmeras vezes, alguém que se encontre do outro lado de seu mundo para ouvir suas razões, as dores que experimentaram pela injustiça, as consequências delas e a vontade imensa que carregam em socorrer este ou aquele dentro do que sabem fazer, seja pelas habilidades ou pela força nos braços.

Perde quem não olha com compaixão, escuta e se faz ponte para outras estradas. Perde quem não conclui que sua história poderia ser a mesma e que as oportunidades e a falta delas empurram para degraus ou precipícios. Perde quem não entra na vida do outro e traz para si a resistência, a insistência e o carinho que palpita em coração diferente.

Há vidas dolorosas e muito difíceis. Sobre uma dessas vidas escreveu Ana de Abrão Merij, no site da Adital, o Poema sujo de sangue: “Grito esta palavra jogada no chão, / professo sua face suja / de quem andou mil voltas/ a colher migalhas pelos bueiros e valas/ ferida na alma por desterro dos céus./ De suas mãos escorre o sangue de ventres mudos/ que jorram das mortes fêmeas/ e das chagas das meninas de rua./ Restos jogados nos lixões entre fezes e entulhos./ A palavra que professo brota nos veios da ignomínia,/ é podre, é purulenta, é nauseante, é cancerígena/ fere o olfato da humanidade/ irrita sua hipocrisia”.

O moço procurou-me para dizer de sua ex-esposa. Não tenho quase informações sobre ela e ele não conhecia. Primeiramente me disse que ela precisa de ajuda e ele não pode dar. Necessita de encaminhamento psicológico. Para entender mais, enquanto o observava, fiz algumas perguntas e ele, pouco a pouco, entregou-me a história triste de cada um. Encontraram-se há anos em uma capital. Eram de estados distantes, contudo acreditavam que naquela localidade enfrentariam a miséria. Uma cidade com inúmeras oportunidades, afirmavam. Ele foi contratado como faxineiro de um prédio público e ela como varredora de rua. Ela gostou dos olhos claros dele, que lembravam o mar de verão da vila de pescadores onde nascera. Não se importava que ele não se sentisse atraído pelos seus encantos femininos. Foram sinceros um com o outro. Uniram-se pela solidão da metrópole e pela experiência da penúria que traziam antes, durante e depois da viagem.

Separaram-se em algum momento, sem perder, os dois, o convívio com os filhos, sem perder a amizade. Ele teme pelos tropeços, pelo desamparo, pela saúde dela e acabou, também, por dizer das dificuldades próprias que o abalam e o deixam sem rumo. O que mais o incomoda é o preconceito, demonstrado em palavras que ferem e em olhares que afastam. Uma espécie de maldição que impele com violência para o isolamento.

Comoveu-me a história dele, assim como ela me emociona, com seus  olhos de girino, esculpidos pela fuga no álcool e em contraste com a fivela de menina nos cabelos. História de humilhação, insultos e agressões físicas.

Sinalizei para ele alguns caminhos a que todo cidadão tem direito. Recordei-lhe que, independentemente de suas dificuldades, é filho do Criador.

Agradeceu-me porque, segundo ele, para ser salvo, daquele momento que o estrangulava, era preciso ser ouvido por uma personagem que não fosse de seu mundo. Engano dele, a humanidade inteira é do mesmo mundo. Em relação a mim, apenas não tenho as mesmas dificuldades, o que me faz mais responsável em diminuir as tragédias dele.

Não me iludo com a divisão traçada pela sociedade que não ouve pedidos de socorro, indica que os mundos são diferentes e que existem pessoas superiores e outras inferiores, de acordo com o que carregam, com o lugar onde moram... Não há mundos diferentes, há, sim, pessoas distintas em um mesmo mundo: as que esmagam as outras, as que são pisoteadas e aquelas que olham com misericórdia, ouvem e caminham, com serenidade, lado a lado, levando nas mãos um feixe com luz.

Olhar, escutar e dizer. Cada qual, criatura de Deus. A Lei protege e os sonhos renascem.

 

Maria Cristina Castilho de Andrade

É educadora e coordenadora diocesana da Pastoral da Mulher/ Magdala



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