¿Cómo era?, le pregunta Lucía a Jacinta
-Una Madre, una Luz, la de la dulce risa-
¿En el paisaje, pregunta Francisco o la brisa?
-Como las almas más bellas, más Infinita-
Tan dulce, tan sedante y tan distinta
Como un festival del cielo en una misa
Con Sus manos abiertas en lírica sonrisa
Y Sus palabras con ornamentales tintas
Nos entrega el corazón para sembrarlo
Para perdonarnos todos los pecados
Y para ser el cielo puro del amor eterno
En cada casa, en surco de terruño tierno
Se quedará Su memoria para contarlo
Para los tiempos finales ya acordados
II
De tanto pedir por todos los rincones
De ver surfir la humanidad laxa y lenta
Es Su Rosario el ofrecimiento que regenta
A las almas que le ofrendan oraciones
Que grandeza como da sus bendiciones
Para vencer todo mal que al alma atenta
Con recio corazón que su virtud ostenta
En este Mayo donde brotan Sus flores
Es ya la hora, nos dice, para ser puro
en el sendero de una vida de conciencia
quién no peca ni se niega en su cabeza
¡Amar! es la oración de la grandeza
El verbo que nos llena de abundancia
El encuentro con Dios, el más seguro
Bogotá Colombia
Mayo 13 de 2011
VICTORIA LUCÍA ARISTIZÁBAL
“OS 90 ANOS DE PAULO FREIRE”
A Academia Feminina de Letras e Artes de Jundiaí (AFLAJ) realiza, no dia 28 de maio (sábado), às 16h, no Atelier de Artes Alice Vilhena, situado à Rua Barão de Teffé, nº294, a palestra “Os 90 anos de Paulo Freire”.
Este é o segundo de uma série de encontros a serem realizados do decorrer de 2011, promovidos pela AFLAJ, e que fazem parte do calendário de eventos relativos às comemorações dos 40 anos de fundação da entidade, que se dará em abril de 2012.
As palestras são abertas ao público e para participar basta levar1 kgde alimento não perecível, que será doado à Associação Protetora de Menores.
O convidado especial para esta ocasião é José Renato Polli, doutor em Educação, professor universitário e diretor do Colégio Paulo Freire.
Em 2011 Paulo Freire faria 90 anos. Vários eventos estão sendo organizados em todo o Brasil para comemorar seu aniversário, que seria no dia 19 de setembro e também para reafirmar a importância de sua obra para o pensamento pedagógico mundial. Considerado o maior educador brasileiro de todos os tempos, Paulo Freire propunha uma educação libertadora, fundada no diálogo, na liberdade e como ferramenta possível para ajudar a transformar o mundo. Nesta palestra, José Renato Polli irá apresentar os principais aspectos da teoria educacional de Paulo Freire e os resultados de sua tese de doutorado sobre o pensador, parcialmente publicados no livro "Paulo Freire: o educador da esperança".
A AFLAJ convida a todos para este interessante encontro.
Não há necessidade de inscrição prévia.
A Organização das Nações Unidas até definiram 2010 como o Ano Internacional da Biodiversidade, numa tentativa de chamar a atenção à importância da preservação da biodiversidade, mas os resultados ainda não são nada satisfatórios. Apesar de metas estabelecidas, o relatório mais recente da ONU mostra que o planeta perdeu um terço do estoque de seres vivos existente em 1970. O documento aponta como ameaçadas de extinção 42% das espécies de anfíbios do mundo e 40% das de aves – e estima em US$2 trilhões a US$ 4,5 trilhões o prejuízo mundial anual com desmatamento.
Vinte e dois de maio é muito importante pois é a data em que se comemora o Dia Internacional da Diversidade Biológica ou IDB, cuja finalidade principal é a conscientização e a compreensão de questões relacionadas ao tema, já que são graves as repercussões sociais, econômicas, ambientais e culturais derivadas da perigosa situação de sua diminuição, destacando-se os empobrecimentos geral, material e espiritual que ela provoca.
Tanto que governos e empresas foram alertados sobre tais situações e incentivados a avaliarem as perdas causadas pela deterioração da natureza em seus orçamentos e PIBs, conforme relatório da Organização das Nações Unidas divulgado em 20 de outubro do ano passado em Nagoya, no Japão, durante a Conferência sobre Biodiversidade (COP-10). Os danos ao capital natural, incluindo florestas, mangues e oceanos, chegam a US$ 4,5 bilhões por ano, mas esse prejuízo não é contabilizado. Segundo o documento, os ecossistemas representam entre 47% e 89% do chamado “PIB dos pobres”, as fontes de recursos indispensáveis para a sobrevivência de populações agrícolas e ribeirinhas.
Nessa trilha, ressalte-se que em menos de quarenta anos, o mundo perdeu 30% de sua biodiversidade. Nos países tropicais, contudo, a queda foi muito maior: atingiu 60% da fauna e flora original. Os dados são do Relatório Planeta Vivo 2010, produzido em parceria com a Sociedade Zoológica de Londres (ZSL, na sigla em inglês) e Global Footprin Network (GFN) e publicado a cada dois anos pela organização não governamental WWF. Esses resultados foram considerados alarmantes pelos ambientalistas: “Os países pobres, freqüentemente tropicais, estão perdendo biodoversidade a uma velocidade muito alta”, afirmou Jim Leape, diretor-geral da WWF Global. “Enquanto isso, o mundo desenvolvido vive em um falso paraíso, movido a consumo excessivo e altas emissões de carbono”.
A biodiversidade é medida pelo Índice Planeta Vivo (IPV). Ele estuda a saúde de quase oito mil populações de mais de 2,5 mil espécies desde 1970. Até 2005, ele havia subido 6% nas áreas temperadas - melhora atribuída à maior conservação da natureza, menor emissão de poluentes e melhor controle dos resíduos. Nas áreas tropicais, porém, caiu 60% e a maior queda foi nas populações de água doce: 70% desapareceram.
A demanda por recursos naturais também aumentou. Nas últimas cinco décadas, as emissões de carbono cresceram onze vezes. O relatório afirma que a Organização para a Cooperação e Desenvolvimento Econômico (OCDE) constituída por trinta e três países, em geral desenvolvidos, são responsáveis por 40% da pegada de carbono global, e emitem cinco vezes mais carbono do que os países mais pobres. Comparados a ela, os BRIGs (grupo formado pelos países emergentes Brasil, Rússia, Índia e China) têm o dobro da população e uma menor emissão per capita. O problema - indica o documento - é se essas nações seguirem no futuro o mesmo padrão de desenvolvimento e consumo da OCDE. Índia e China, por exemplo, consomem duas vezes mais recursos naturais do que a natureza de seu território pode repor. Atualmente, os países utilizam, em média, 50% mais recursos naturais que o planeta pode suportar. Se os hábitos de consumo não mudarem, alerta o relatório, em 2030 se estará consumindo o equivalente a dois planetas.
Por outro lado, o Brasil cumpriu apenas duas das 51 metas nacionais para preservação da biodiversidade, segundo relatório do Ministério do Meio Ambiente preparado para a mesma Conferência Sobre a Biodiversidade do ano passado. O governo brasileiro divulgou que apenas a redução de 25% do número de focos de incêndio em cada bioma e a catalogação de todas as espécies brasileiras da fauna e da flora conhecidas foram os únicos objetivos alcançados.
Aproveitando a data, precisamos nos conscientizar da necessidade da preservação ambiental, já que “Meio Ambiente e Direitos Humanos” se constitui na visão mais clara de que homem e natureza são um só, pois não há vida humana sem os recursos básicos naturais. A título de reflexão, invocamos parte da conclusão sobre o tema de um seminário da Faculdade de Direito do Centro Universitário Padre Anchieta de Jundiaí realizado em 2009, na cadeira de Direitos Humanos: -“O que vemos é um retrocesso na busca pela manutenção da vida, já que, cada um deixou de algum modo de fazer sua parte neste processo tão fundamental que é vida. Temos tecnologia de ponta, grandes conquistas industriais e tecnológicas, descobrimos a cura de tantas doenças, passamos por guerras, vencemos tantos desafios impostos à humanidade, mas infelizmente não conseguimos vencer aquilo que mais nos afligem, ou seja, o nosso próprio egoísmo e nossa prepotência em sempre querer mais. E esquecemos o básico e essencial: a troca entre o homem e a natureza, já que ela nos dá tudo que pedimos e em troca o que pede é apenas que a respeitemos e a conservemos como ela é”.
JOÃO CARLOS JOSÉ MARTINELLI é advogado, jornalista, escritor e professor universitário
Estamos no IV Domingo do Tempo da Páscoa, o chamado "Domingo do Bom Pastor". Neste dia a Igreja, congregada nas assembléias dominicais da celebração eucarística, reflete sobre os apelos que lhe advêm do Capítulo 10 do Evangelho de São João e reclina seu coração no de Cristo, o Bom Pastor, para pedir que Ele envie trabalhadores para sua colheita (cf. Mt 9,38). Neste Domingo a Igreja celebra o 48º Dia Mundial de Oração pelas Vocações.
Este dia é celebrado em todas as dioceses do mundo e, para animar as iniciativas, o Papa envia sempre uma mensagem especial. "Propor as vocações na Igreja local" é o tema para 2011. A mensagem de Bento XVI é, na verdade, um apelo para que cada diocese "se torne cada vez mais sensível e atenta à pastoral vocacional, educando em nível familiar, paroquial e associativo, sobretudo os jovens - como Jesus fez com os discípulos - para maturarem uma amizade genuína e afetuosa com o Senhor, cultivada na oração pessoal e litúrgica; para aprenderem a escuta atenta e frutuosa da Palavra de Deus, através de uma familiaridade crescente com as Sagradas Escrituras; para compreenderem que entrar na vontade de Deus não aniquila nem destrói, mas permite descobrir e seguir a verdade mais profunda de si; para viverem a gratuidade e a fraternidade nas relações com os outros, porque só abrindo-se ao amor de Deus é que se encontra a verdadeira alegria e a plena realização das próprias aspirações" (Mensagem - 48º Dia Mundial de Oração pelas Vocações).
O coração do Bispo anseia que sua diocese seja um verdadeiro celeiro de vocações. Peço aos meus queridos padres que animem as vocações em suas comunidades, incentivando nossos jovens, sendo o elo para que eles ouçam a voz do Pastor, sejam conduzidos por Ele e, n´Ele tenham a vida e a tenham em abundância (cf. Jo 10,3-4.10). Convido a querida e amada Igreja de Deus que se faz presente na Diocese de Jundiaí para que, em comunhão com seu Bispo, reze pedindo ao Bom Pastor que nos envie muitas e santas vocações. Que a nossa Pastoral Vocacional/Serviço de Animação Vocacional (PV-SAV) assuma a cada dia mais o trabalho pelas vocações, a fim de que nossa diocese se enriqueça com mais sacerdotes, diáconos permanentes, religiosos(as) e famílias inteiras que sejam discípulos missionários de Jesus Cristo, o Bom Pastor.
Dom Vicente Costa é Bispo Diocesano de Jundiaí, Brasil
Tenho refletido sobre a importância da referência na vida das pessoas. Quando falo com você, a quem me refiro? E você, quando fala comigo, a quem se refere? Que corações pulsaram, no passado, para chegar ao seu ou ao meu?
No início de minha adolescência, dos 13 aos 15 anos, fui voluntária em dois orfanatos da cidade. Ajudava as meninas, um pouco menores do que eu, nas tarefas escolares. Algumas não vi mais. Duas ou três, inseridas na sociedade, me abordaram para dizer quem eram e como nos conhecemos. Outras, mais do que três, revi perdidas no álcool, na mendicância, na prostituição. Questionei-me sobre o que lhes faltara, se eram bem cuidadas, frequentavam a escola, ajudavam nas tarefas da casa e brincavam. Por diversas vezes, li ou ouvi sobre a “roda” que existia em alguns lugares. A mãe, que não podia criar seu filho, colocava-o em uma roda que, ao girar, entregava, anonimamente, a criança aos cuidados de Irmãs que, posteriormente, a conduzia para adoção. Aqueles, que foram para lares nos quais eram repreendidos com frases como: “Não nega que é filho ou filha da roda”, cresceram com passos em desequilíbrio. Meninas, nascidas em regiões de miséria, vendidas por seus pais e acabando em bordéis, carregam também uma dor existencial muito forte da origem quase ignorada. E adolescentes, filhos do mistério sobre sua ascendência, seja de pai ou de mãe, na fase das fantasias, acreditam que um deles virá, com justificativas plausíveis, no próximo dia, e os levará para um novo tempo. A cada ocaso, surge um desengano, que, acumulado, pode se transformar em tragédia.
Há poucos dias, o moço, que vem de região distante, procurou-me pela segunda vez, com o propósito de conseguir a segunda via da Certidão de Nascimento. A outra se extraviara no sistema penitenciário. Conheci-o faz mais ou menos dez anos. Naquela época, entregou-me sua história. Detectado, na escola, aos 11 anos, que algumas de suas atitudes eram femininas, foi enxotado. O barco o levou a uma cidade maior, na qual um “especialista em exploração de jovenzinhos para o comércio do sexo” lhe prometeu futuro brilhante e esculpiu em seu corpo algumas formas de mulher. Mais tarde chegou ao Estado de São Paulo, em busca do que lhe asseguraram e não cumpriram. Das ruas à cadeia. Terminou neste ano de cumprir a pena. Assustou-se, recentemente, porque, ao preencher uma ficha, não se recordou, de imediato, do nome da mãe e do pai. Sentiu-se, por esse motivo, segundo ele, como uma aberração da natureza. Quer a Certidão, mais do que pelo documento, a fim de testemunhar quem tem princípio de amor.
Creio que se as pessoas fossem criadas na experiência de perdoar os pais que delas, por motivos diversos, não puderam cuidar, e ouvindo o Salmo 138 (Heb. 139), compreenderiam que, além do humano, existe um Deus que as ama muito e entoariam o o Salmo citado: “Fostes Vós que plasmastes as entranhas de meu corpo,/ Vós me tecestes no seio de minha mãe./ Sede bendito por me haverdes feito de modo tão maravilhoso,/ pelas Vossas obras tão extraordinárias...” É a nossa maior referência.
Maria Cristina Castilho de Andrade
É educadora e coordenadora diocesana da Pastoral da Mulher/ Magdala, Jundiaí, Brasil.
O mês de Maio é o mês dedicado à Virgem Maria, e o seu primeiro Domingo é um dia especial dedicado às mães. Se bem observo, quem escreve sobre o Dia da Mãe e em louvor da Mãe, fá-lo pensando nas mulheres que são mães ou, mesmo, nas que já são avós. Eu, porém, estou a adoptar uma perspectiva diferente. Estou a dirigir-me àquelas mulheres que, no conceito normal, ainda não são mães, mas que estão a caminho disso. Se no zigoto já há pulsações de vida, então o conceito de “mãe” deve ser alterado, considerando como tal não só as que já deram à luz como as que mostram as suas esperanças de virem dar à luz. É especialmente a estas que eu me dirijo.
Quando vejo uma senhora grávida, apetece-me dizer-lhe, e já o tenho feito, mais ou menos o seguinte: ”Nestes tempos, em que se fala quase só de aborto e muito se facilita o aborto, com as dificuldades de vida que todos temos e ser mãe ocasiona, uma mulher que quer ser mãe, que aceita ser mãe, é uma heroína. Dou-lhe os meus parabéns e desejo-lhe muitas felicidades”. Normalmente a senhora agradece e fica enrubescida de satisfação. A uma delas, com quem pude manter um pouco de conversação, eu, em complemento, contei esta história: Uma senhora da alta sociedade, muito distinta e fidalga, de elevada educação social, ficou grávida. Então, querendo que o seu filho fosse tão distinto e educado como ela, resolveu começar desde logo a sua educação, lendo livros de formação, de moral, de etiqueta, como que a querer que o seu filho ficasse logo imbuído de bons princípios e bons sentimentos, para que ele fosse a sua obra prima em todos os domínios. Era uma ideia louvável, só que…sucedeu uma coisa que a tal fidalga não conseguiu prever. Ela ficou grávida de dois gémeos. Naquele tempo era difícil saber isso antecipadamente. A boa e bela educação que ela queria dar a um filho, deu-a a dois, que assimilaram tão bem os propósitos da mãe que, à nascença, foi o cabo dos trabalhos: estavam tão cheios de cerimónias e delicadezas um para com o outro, que cada qual fazia questão de que o seu irmão fosse o primeiro a sair do ventre da mãe. ´”Ó mano” – dizia um – “sai lá tu, que eu farei todo o gosto em sair depois” . “Não, não “ – dizia o outro – “eu farei todo o gosto em te dar essa honra”. Sai, não sai, a verdade é que os manos, tão educados e desejosos de serem delicados e amáveis um para com o outro, nunca mais se resolviam e acabaram por estragar tudo, ocasionando a sua morte e a de sua mãe!
Esta história é muito mais que uma história. É o meu relato de um conto do humorista e comediógrafo português, embora de origem francesa, de nome André Brun (1881-1926). Não faltará quem se lembre, por exemplo, da sua comédia A VIZINHA DO LADO, levada muito posteriormente ao cinema, em que actuaram nossos bons actores, como António Silva.
Com este conto quis ele ridicularizar certa fidalguia do seu tempo, que achava ridícula e pretensiosa. Mas, A. Brun, sem querer, focou dois pontos muito importantes: a educação de uma criança deve começar muito antes dela aprender a andar e a falar; o comportamento que a mulher grávida deve ter perante o ser que transporta no seu seio, é muito importante, porque, apesar de ter apenas uma vida uterina, já tem necessidades de atenção e de afecto.
A boa e integral educação de uma criança é coisa tão difícil de conseguir, que é totalmente impossível fazê-la com toda a perfeição. Se os pais querem educar bem uma criança, devem começar por se educar a si próprios. Não devem exercer a sua autoridade de pais por capricho mas só para o bem do filho; devem ter auto-confiança, para a poderem transmitir aos seus filhos, que tanto dela vão precisar; não devem julgar superficialmente os choros, as tendências, os amuos e as rebeldias: muitas vezes os problemas e dificuldades dos filhos são resultantes das dificuldades e problemas dos pais, o que pode originar bloqueios emocionais nas relações entre todos. Se, nestes casos, for consultado um psicólogo, mau psicólogo será ele se não descobrir que, antes do filho, quem mais precisa de tratamento são os próprios pais. É assunto complexo e muito especializado, até porque, se vamos a aprofundar as coisas nesta linha de ideias, a formação e educação de alguém, não depende só dos pais: depende em grande medida do que foram os seus avós, dos seus bisavós, dos seus antepassados, pela educação que estes foram capazes de dar aos seus descendentes. Os pais conscientes que queiram bem desempenhar a sua missão muito terão de se rever, talvez de se rectificar, para darem bons conselhos mas não darem maus exemplos, para serem severos mas também condescendentes, disciplinadores mas não impertinentes, confiantes mas não descuidados, amorosos mas sem permissividades, exigentes mas também compreensivos.
Mas o que o conto humorístico mais directamente focou, e aquilo de que em especial eu quero falar, é exactamente a relação espiritual e amorosa que cada mãe, que mostra ao mundo as suas esperanças de vir a dar à luz, deve manter com o embrião que nela reside e é o seu filho, o seu bebé. É importante que a mãe fale ao seu filho com alegria e amor, e em pensamento e desejo o acarinhe com ternura, como mais tarde o vai fazer quando ele estiver no seu colo. É certo que, aparentemente, o feto que o seu filho ainda é, não dá mostras de agradecer o que a mãe espiritualmente lhe está a dar, mas talvez seja mais fácil aceitar o benefício desta atitude se considerarmos a situação contrária: imaginemos uma mãe que vive contrafeita por estar a ter uma gravidez indesejada, que até está arrependida de não ter praticado aborto, que prepara o enxoval só para não ser uma criminosa, que não tem alegria e serenidade para abençoar a hora do seu parto e o futuro da sua vida – essa mãe está a prejudicar tudo e seriamente em todos os aspectos. Os pulos do seu filho durante a gestação serão pulos de medo, não de alegria, o seu bebé ao nascer, dir-se-ia que por instinto, chorará muito mais, a acompanhar a mãe que poderá ter dores acrescidas. À nascença, talvez seja tudo normal, mas a verdade é que a formação mental e psicológica da criança poderá ficar gravemente afectada, o que também se pode verificar na saúde física. O amor e a ternura que uma mãe deve dar ao seu filho, não é só quando já o tem nos seus braços. Aliás, quando a mãe o abraça com ternura, com ternura o beija, lhe fala e encosta a sua carinha à dela, a criança ainda bebé não reage, não agradece, não retribui, mas isso é fundamental para o seu desenvolvimento harmonioso. Toda a puericultura e toda a pediatria serão inúteis se não tiver havido beleza na relação com o seu filho desde a hora da concepção, se não lhe for dispensado o acompanhamento amoroso e dedicado da sua mãe.
Por isso, à maneira da fidalga do conto de André Brun, a mãe que dentro de meses vai ter num berço o fruto do seu ventre, antes de lhe poder dar os seus abraços estremecidos, deve-lhe falar em voz carinhosa, a desejar que ele seja delicado mas sem afectação, belo sem ser vaidoso, inteligente mas não orgulhoso, humilde mas não subserviente, forte mas não prepotente, rico mas generoso, corajoso mas também prudente. E pode até pensar nos filhos das outras mães, que já nasceram ou ainda vão nascer, cantando ou trauteando, nem que seja só em pensamento, aquela canção da nossa Amália Rodrigues: MEU MENINO JESUS, MEU BOTÃO DE ROSA, FAZ COM QUE A NOSSA GENTE NÃO SEJA MÁ NEM VAIDOSA ./// MEU MENINO JESUS, MINHA BOQUINHA DE RISO, FAZ COM QUE A NOSSA GENTE SEJA GENTE DE JUÍZO. Porque, se é verdade que, conforme se diz no Evangelho, Deus não dá pedras a quem pede pão, a uma mãe que peça um santo Deus não lhe vai dar um bandido.
LAURENTINO SABROSA - Economista e escritor,Senhora da Hora, Portugal
Como um grande caleidoscópio, o tempo gira em frente dos meus olhos.
Movimento lento e veloz. Percorro a conversão de cores, a tessitura dos membros porosos desta vida.
É sutil, mas marcante, a variação do significado de algo ao longo do caminho, dependendo das pedras, das sombras das árvores que ao pé descansamos, do que reconhecemos e do que ignoramos, do que julgamos relevante e do que desprezamos, do que nos preenche e do que nos subtrai... o caleidoscópio roda paulatinamente e, o que antes nos enchia as mãos de respostas, hoje nos acomete de reticências.
Da mesma maneira, o outro nos distingue com faceta camaleônica, menos, talvez, por sua iniciativa, e mais por conta do constatado acima.
Poemas, canções, livros, filmes, fotografias, uma infinidade de linguagens igualmente passa a nos olhar de outro jeito, dependendo o desenho que se forma no interior do caleidoscópio. Este nos encanta a qualquer movimento que faça. Assim, queremos sempre ver o que está aí fora, também.
Inúmeras leituras já fiz destes versos, em tempos diversos, e agora observo-os por outro matiz: “É sempre bom lembrar/Que um copo vazio/Está cheio de ar/É sempre bom lembrar/Que o ar sombrio de um rosto/Está cheio de um ar vazio/Vazio daquilo que no ar do copo/Ocupa um lugar”.
Estas estrofes de “Copo vazio”, de Gil, trazem em sua abordagem filosófica, um pouco de cada um, de ilusões, transcendências, do que num momento é repleto, e num outro oco. O aparentemente vazio se torna pleno. O caleidoscópio gira e vemos outro desenho, uma nova face, uma revelação!
Surpreendemo-nos com situações e com seres humanos. Julgamos alguns, apostamos em outros, nos decepcionamos com aquele, identificamo-nos com este. O copo aparentemente vazio possui rico conteúdo; o ar que ali está, preenche as lacunas necessárias. Só não víamos. De um ângulo distinto, o conteúdo aparente de algo pode estar cheio de um vazio, do mesmo vazio que em outro lugar consegue ter vida, ecoa e emana cores.
Gil pensou, dentre outras coisas, nas camadas de solidificação e rarefação que vão se sucedendo nas coisas.
E o caleidoscópio torna a girar...
Renata Iacovino, escritora, poetisa e cantora / reiacovino.blog.uol.com.br /
reval.nafoto.net / reiacovino@uol.com.br
Ouvindo certa vez a programação de uma estação de radio aquiem São Paulo, observei o comentário de um dos repórteres dessa casa dizendo que o Diário Oficial do Municipio de São Paulo passaria a chamar-se Diário Oficial da Cidade São Paulo, e que o jurista Dalmo Dalari, com toda razão, havia se manifestado contra, pois município tem caráter jurídico.
Porem o jornal falado daquela estação deixava transparecer que ambos os nomes são a mesma coisa.
Pois bem; Município e Cidade é a mesma coisa?
Respondo:
-Não.
Os municípios contem a cidade, mas as cidades não contem o municipio.
O que é então municipio, e o que é cidade?
Municipio é a área abrangida por uma circunscrição em que se exerce a jurisdição municipal. Essa circunscrição vai até os limites propostos pela jurisdição, ou seja, vai até a confrontação com os outros municípios limítrofes. Sendo que esse limite foi estabelecido por lei, pela vereação de cada município vizinho, em comum acordo.
Eles normalmente estão delimitados por acidentes geográficos (rios, córregos, montanhas, etc) ou por linhas demarcatórias imaginárias, que são delimitadas por coordenadas geográficas.
O municipio divide-se em zona rural e urbana.
Rural é onde se localizam os sítios, fazendas, reservas florestais etc. Tudo isso faz parte do municipio.
Urbano, são as vilas, bairros, avenidas, ruas praças, conjuntos residenciais, áreas industriais, etc..
Como vemos a cidade é o urbano, é o conjunto de bairros, vilas, onde geralmente apresenta um centro onde está localizado o seu marco zero, que para exemplificar citamos a Praça da Sé em nossa cidade de São Paulo.
Portanto acima da cidade está o municipio. As jurisdições municipais são denominadas de Municípios e não cidades. Por exemplo:
Município de Santo André, Municipio da Estância Hidromineral de Lindóia, Municipio de Limeira, todos tem suas delimitações geográficas composto pelo urbano e o rural
Quando nos referimos ao município de Santo André e o chamamos de Cidade de Santo André é por força de expressão ou porque estamos nos referindo á área urbana. Quando se fala em Prefeitura da Cidade de São Paulo é porque nossa cidade (urbano) hoje é maior que a área rural. Mas isso não quer dizer que não temos mais área rural.
A região de Eng. Marsilac onde esta localizada a área de proteção ambiental Capivari Monos que faz divisa com os Municípios de Itanhaém e Mongaguá, mais a região de Parelheiros que apresenta o urbano e o rural, ambas localizadas na zona sul de São Paulo, fazem parte da região rural em nosso município.
Sendo assim, somos cidadãos morados no Município de São Paulo, tanto faz se é no urbano ou rural, como outros cidadãos moradores de outros municípios.
Nossa prefeitura é a PREFEITURA DO MUNICÍPIO DE SÃO PAULO.
SÉRGIO BARCELLOS - Agrimensor e escritor. São Paulo
* H I S T Ó R I A
Um velho americano vivia sozinho em Minnesota. Ele queria formar seu jardim, mas era um trabalho muito pesado mexer toda aquela terra. Seu único filho, que normalmente o ajudava, estava na prisão.
O velho, então, escreveu a seguinte carta a ele:
- Querido filho, estou triste porque, ao que parece, não vou poder plantar meu jardim este ano. Detesto não fazê-lo porque sua mãe adorava a época do plantio depois do inverno, mas estou velho demais para cavar a terra. Se você estivesse aqui, não haveria esse problema, mas sei que não pode me ajudar, pois ficará mais dois anos na prisão!
Pouco tempo depois, o velho recebeu o seguinte telegrama:
- Pelo amor de Deus, pai, não escave a terra. Foi lá que escondi os corpos do assassinato que cometi!
E, às quatro da manhã do dia seguinte, uma dúzia de agentes policiais apareceu e cavou o jardim inteiro, sem encontrar nenhum corpo. Confuso, o velho escreveu outra carta ao filho, contando o que acontecera. E esta foi a resposta:
- Pode plantar seu jardim agora, pai. Isso foi o máximo que eu pude fazer daqui pelo senhor.
Logicamente que este fato não serve de exemplo para ajudarmos os idosos a buscarem soluções para os seus problemas, mas retrata um tipo de auxílio inédito, concorda? E se excluirmos esta alternativa que o filho encontrou para ajudar o pai, não existiriam dezenas de outras opções para o plantio do jardim?
Então, não é exagero dizer: ‘Para qualquer tipo de problema existem várias soluções. É só encontrá-las, com Deus no coração!
* Do programa ‘Nossa Reflexão’, que vai ao ar em quatro horários no Canal 20: 8h30, 11h30, 17h30 e 22h30. O site www.canal20tv.com.br disponibiliza os vídeos já apresentados na televisão. Clique em ‘Arquivos de Vídeo’ e depois em ‘Nossa Reflexão’.
** UM EXEMPLO DE PESSOA
Mesmo doente e passando por vários tratamentos e cirurgia, Fernando se mantinha alegre, otimista e, principalmente, não reclamava de quase nada. Sei que foi um quadro triste para os amigos e parentes ver a doença ir debilitando o nosso querido estudante de dezenove anos, mas, ao mesmo tempo, ele e sua família nos deixaram exemplos de como carregar uma pesada cruz com solidariedade, fé cristã e dignidade humana.
Na semana que Deus o levou, eu estive com ele no Hospital Vera Cruz, em Campinas. Cheguei na terça de manhã para fazer uma cirurgia de hérnia e fui logo ao seu quarto. Lá estava ele com seus pais e com os anjos que o protegiam. Até que o enfermeiro me chamasse para a preparação cirúrgica, conversamos um pouco.
Iluminado pelo Espírito Santo, disse-lhe que Deus não manda doenças pra ninguém, muito pelo contrário, sempre nos abençoa com curas e libertações. Expliquei que se a graça não chega da maneira que esperamos, é porque o nosso Criador nos está reservando uma bênção ainda maior: a vida eterna junto Dele no Paraíso.
Seus pais, sempre falando em Nossa Senhora da Medalha Milagrosa, tiveram forças para ficar ao lado do filho até o último suspiro! E, até hoje, falam com muito carinho da proteção que receberam da nossa Santa Mãezinha, pois sabem que ela continua cuidando do filho deles lá no céu.
No dia seguinte, já de alta médica após a minha abençoada operação, retornei ao quarto do Fernando e rezamos uma Ave-Maria de mãos dadas. Pedi a Nossa Senhora que ficasse ao seu lado e não o deixasse sofrer.
Antes de ir embora, recomendei ao Fernando que recebesse Jesus Cristo na Eucaristia diariamente e deixei a oração de Nossa Senhora da Agonia para que rezasse. Ele agradeceu, dei-lhe um beijo na testa e, com um sorriso, desejei que permanecesse com Deus no coração.
Naquele final de semana, já em Itajubá, quando liguei ao hospital para saber dele, seu pai disse-me que o filho se encontrava em coma, mas, por iniciativa própria quando ainda consciente, ele pediu a oração de Nossa Senhora, rezou e ficou algum tempo segurando a linda imagem da nossa Rainha nas mãos.
Não posso deixar de contar que quando fui chamado para a cirurgia, ainda no quarto do Fernando, disse a ele que a vontade de Deus poderia ser me levar deste mundo antes dele e, então, combinamos: ‘quem for primeiro intercederá ao Senhor pela paz do outro aqui na terra’.
Agradeço ao meu exemplar amigo Fernando por estar intercedendo por mim lá de cima.
** Do programa ‘Acreditamos no Amor’, que vai ao ar em dois horários na Rádio Futura FM, 106,9 MHz: 6 h e 18 h – segunda a sexta.
Site para ouvir o programa ao vivo: www.futurafm.com.br
PAULO ROBERTO LABEGALINI -- Escritor católico, Professor Doutor da Universidade Federal de Itajubá-MG. Pró-reitor de Cultura e Extensão Universitária da UNIFEI
Em tempo de chuva, com céu cor de chumbo, Póvoa do Varzim, morre. A Avenida dos Banhos, que no pico do Verão é formigueiro de turistas, fica deserta com as primeiras águas outonais, assim como a comercial e elegante Rua da Junqueira. A Póvoa só se alegra na Primavera, e ao entrar o Verão, todo o esplendor da sua beleza resplandece.
Mas não estamos no Estio, mas sim em Abril. A cidade fora fustigada por chuva miudinha que dança e salta embalada por vento dócil.
Após almoço, em restaurante, que mais parecia barca poveira, tal era o clamor, abri ao acaso “Os Problemas da Vida”, do famoso Doutor em Filosofia e antigo Bispo Auxiliar de Nova Iorque, o conhecidíssimo Fulton Sheen, e deparei, na página 230, com o seguinte pensamento: Há qualquer coisa de misteriosamente simbólico nos regressos ao mesmo lugar onde se viveu um tempo.
Esta frase teve o condão de me transportar a época a que fui forçado viver em Bragança, e não sendo ditosa, cavou na alma sofrida., marcas profundas que não se esquecem.
A minha Bragança não é a de hoje. Cidade moderna, de largas e airosas avenidas, mas a rústica, de comércio reduzido, onde éramos tratados pelo nome e saudados ao dobrar de cada esquina.
A praça da Sé, com o seu “Café Central”, a livraria do Sr. Silva, sempre amável, sempre cortês, O “Montepio”, o famoso e senhoril “Chave D’Ouro“, era a sala de visitas. Mais tarde surgiu o “Florida“, moderno e bem equipado.
Também havia, junto ao Fervença, o “Café Floresta“, e o jardim do mesmo nome, onde em noites de Verão, as meninas casadoiras passeavam, e graves senhoras trocavam receitas gastronómicas, ao som de românticas canções do Rei Roberto Carlos.
Mais acima, no Loreto, ficava a Moagem e a casa da “santa”, que não era santa, mas muitos diziam que o fora, e outros que nunca foi.
O Fervença era manso e preguiçoso; apenas bracejava, ao passar sob a ponte. Só no coração do Inverno se enfurecia, atirando-se, irado, contra tudo, rugindo desabridamente.
Junto à Sé, em dia certo, parava a carrinha da Gulbenkian, carregadinha de livros. Crianças, curiosas, rondavam-na, esperançados em descobrirem histórias de encantar.
Certa tarde, ao procurar leitura de fim-de-semana, lobriguei o Manuel Flores e as irmãs, com menininha, que me disseram ser uma Carmona.
Nesse recuado tempo, sabia-se o nome de todos, e um pouco da vida de cada um, muitas, salpicadas de cenas apimentadas e hilariantes.
Diante do Montepio, estacionava, após almoço, a viatura de cor verde, do BC3. Entre oficiais e sargentos, destacava-se o Moscoso e sargento de beiços salientes, face escurecida pelo Sol ou doença, que residia numa pensão. Era de Vinhais. Diziam que tinha uma filha e possuía coração generoso. Constantemente repetia, que: ninguém devia ganhar menos que a mesada de pensão de terceira.
Outra figura estimada, que me lembre, porque a maioria desapareceram do armazém da memória, era o Professor Bi, assim como o Padre Telmo, Major Montanha, Dr. Pires, o Flores, que andava sempre zangado ou parecia, mas que diziam ter coração de oiro, e gozava a reputação de ser excelente médico.
Quase cinquenta anos passaram! Tão ligeiros que nem dei por isso! A Bragança, do meu tempo, desapareceu, como desapareceram os que se sentaram comigo, no “Café Lisboa” e “Central“. Apenas ficaram nomes, poucos, de figuras e amigos, que já não são, e não sei se o eram, e cantarinha autografada, oferecida em radiosa e doce tarde de Maio. Guardo-a como relíquia da época em que tinha lindos sonhos, como belas e coloridas bolas de sabão; mas, como estas, também foram fugidios e perderam-se no tempo .
HUMBERTO PINHO DA SILVA - Porto, Portugal
Pedi a Deus, há pouco, uma audiência,
Custou: mas recebeu-me em Seu “cartório.”
Eu disse: perdoai-me a imprevidência…
Queria apresentar um relatório.
Das penas desde a hora em que nasci,
Adolescência, jovem, na velhice,
Dizei-me, se não chega o que sofri
Pra desconto de alguma patetice? …
O Senhor começou a examinar
E disse: - chega e sobra, minha filha,
Grata bênção acabas de ganhar…
Crê em mim. Nada mais será preciso.
A tua dor moral é luz que brilha…
Um Anjo vai levar-te ao Paraíso!
Clarisse Barata Sanches – Góis – Portugal
Há algum tempo eu contei que ganhei uma Calopsita, a Sol. No começo achei que era um macho, depois que era uma fêmea, depois um macho outra vez e, agora, por fim, creio que chegamos ao consenso de que se trata mesmo de uma fêmea.
Tal quais as fêmeas da espécie dela, mas muito diferente das da nossa espécie, a Sol não canta e nem fala. Limita-se a chamar com um único assovio. Depois de muito insistir, resolvi respeitar a vontade dela de não ser muito importunada. Ela definitivamente não gosta que lhe passem a mão. Não gosta de carinho, embora goste de ficar por perto e de brincar com meu cabelo. Ela é temperamental e, em casa, embora ela nunca tenha bicado alguém para valer, nem mesmo os cachorros se arriscam perto dela.
Perdi o medo dela, mas não a conquistei, ou ao menos não da forma como eu gostaria. Fiquei um tanto decepcionada, pois fico encantada em ver outras calopsitas que são tão mansas quanto um cãozinho de estimação e, em contrapartida, mal conseguir tocar a minha. Foi daí que ganhei o Kiko, uma calopsita macho...
Ele e a Sol poderiam, perfeitamente, ser de espécies diferentes ou mesmo de outro mundo, tamanha a diferente entre ambos. Ele é mansinho e chorão. Gosta de ficar por perto e assobia, desesperadamente, quando nos quer chamar. Já o ensinei a fazer “fiu-fiu” e ele já vem arriscando o Ilariê... Não pode me ver próxima à gaiola dele, aberta quase o tempo todo, e ele já vem na direção da minha mão, escalando, em seguida, rumo ao meu ombro. Lá ele fica quase indefinidamente, dividindo-se entre brincar com meu cabelo, bicar minha orelha, tentando puxar meu brinco, ou se esgueirando para conseguir me dar uma beijoca na boca, que, por pura prevenção, eu tento evitar.
Por fim consegui o que eu queria, ou seja, um pássaro manso, que se permite ser coçado, acariciado, que presta atenção nas minhas loucas tentativas de lhe ensinar a cantarolar e que aprende grande parte de tudo isso. Eu deveria então, nesse quesito, estar completamente satisfeita, não é? Pois bem, descobri que não é bem assim...
Nada mais verdadeiro do que aquela frase do livro “O Pequeno Príncipe”, no sentido de que nos tornamos responsáveis por tudo aquilo ou por todos aqueles que cativamos. O Kiko é um doce e apegou-se a mim, porém, agora, não tenho mais sossego. Ele me chama e me chama e me chama, sempre que me vê passar. Se estou almoçando, ele quer ver o que tem no meu prato. Se estou ao computador, ele quer ficar cutucando meus dedos ou tentando arrancar alguma tecla. Se estou deitada, ele quer ficar perto do meu rosto, vendo se consegue me beijar.
Eu esperava que ele se enamorasse da Sol, mas ela o chama, chama, chama e ele, em contrapartida, faz o mesmo comigo. Quando o coloco perto do rosto, ele abaixa a cabeça e, enquanto o coço, fecha os olhos e choraminga, com um piado longo, tal qual um suspiro. Eu já sei que o amo, mas não consigo ficar disponível o tempo todo. O amor, seja de que natureza for, é exigente...
Fiquei refletindo a respeito de minhas duas avezinhas e concluí que, antes de desejarmos algo, devemos pensar em tudo o que isso significa e no que faremos quando conseguirmos nossos objetivos, quando saciarmos nossos desejos. Talvez seja por não pensar nisso é que tanta gente viva eternamente com a sensação de que sempre falta algo, mesmo tendo tudo. Amar é uma arte, mas saber ser amado também é um exercício complexo. Preciso parar agora, pois tem uma ave maluca gritando por mim...
CINTHYA NUNES VIEIRA DA SILVA- Advogada, mestra em Direito, professora universitária e escritora - São Paulo
Hoje em dia, poucos de nós serão aqueles que não tenham sido na rua ou à porta de casa, abordados por dois homens ou duas mulheres, que andam em propaganda religiosa, querendo distribuir literatura editada pela sua congregação. Querem, obviamente, aliciar-nos para as suas ideias, para passarmos a ser seus praticantes. Nenhum desses grupos é católico, embora apresentem afinidades com o Cristianismo, e é exactamente por causa dessas afinidades que, por vezes, conseguem arrebanhar pessoas. Cada católico deve ter uma fé suficientemente sólida para lhes saber resistir, e ver onde estão os erros que lhes servem de base. Não vou expor os argumentos que se poderiam usar num dos referidos encontros de rua, porque aí não é sede própria de debates religiosos, e a instrução religiosa é tão vasta que deve ser feita por livros apropriados. É para dar uma ajuda que eu me atrevo a falar deste tema de Heresias e Seitas.
Heresia é o erro de quem é baptizado mas professa doutrina diferente da fé do seu baptismo, contradizendo, portanto, a verdade revelada. Convém não confundir com cisma, que é a separação da comunhão com toda a Igreja, do que resulta a desobediência ao Pontífice Romano. A heresia é mais grave que o cisma, mas mais grave ainda é a apostasia, que é o total abandono da fé católica. Os que “inventam” uma heresia e são mentores do seu ensino, são chamados heresiarcas; os que os seguem são hereges ou heréticos; os que aderem a um cisma são cismáticos; os que renegaram totalmente a fé são apóstatas. Os que nos abordam na rua, coitadinhos, não são nada: não são hereges, não são cismáticos, não são apóstatas – são, se calhar bem intencionados, membros de seitas, grupos avulso sem seriedade doutrinal, ramos ou sub-ramos dissidentes de qualquer heresia. Porém, alguns deles nem sequer terão boas intenções, porque se destinam a explorar em proveito próprio as angústias e os sentimentos religiosos das pessoas, e neste caso bem se pode dizer que são templos ambulantes do paganismo.
É claro que estou a falar totalmente dentro da perspectiva católica e no âmbito do Cristianismo. Os maometanos consideram os cristãos como hereges ou infiéis. Para nós, católicos, os cristãos da Igreja Ortodoxa Grega são cismáticos. Aquando deste cisma, o Grande Cisma do Oriente ou Bizantino, a Igreja que daí surgiu auto-intitulou-se de ortodoxa. Porém, atendendo ao significado de ortodoxo (correcto, de sã doutrina) a Igreja Latina, com o Primado do Papa de Roma, bem pode dizer que os católicos é que são ortodoxos. Eles, os que se dizem ortodoxos, são heterodoxos. E, muito possivelmente, aqueles que pertencem às seitas, palavra de tom depreciativo, pensam e dizem que a seita somos nós! Marco Aurélio, apesar da sua sabedoria e religiosidade, perseguiu os cristãos por os considerar uma seita nefasta, e o mesmo conceito a respeito deles tinha o Apóstolo São Paulo antes da conversão.
A liberdade religiosa e de pensamento é de tal ordem, que muitos católicos por vezes têm atitudes e opiniões, que, na prática, até podem ser consideradas heresias! Ora vejamos: alguns, não valorizam a Missa; outros, vão à Missa, mas não acreditam na transubstanciação; outros, não acreditam na Confissão; outros, acham que a Bíblia só tem aquilo que certos homens quiseram; outros, não acreditam no Dogma da Imaculada Conceição; outros, não aceitam a infalibilidade da Igreja através do Papa – e outros desvios se podem notar nas conversas de certas pessoas. É exactamente entre estas pessoas, sem verdadeira fé e de pouca instrução religiosa, em que cada qual pensa à sua maneira, que as seitas modernas conseguem aderentes. Até mesmo entre os grandes intelectuais se verifica, em nível mais elevado, coisa semelhante. O Papa Bento XVI, quando era Prefeito da Congregação para a Doutrina da Fé, teve de lutar contra alguns teólogos que queriam implantar as suas teorias que eram desvios da disciplina e da verdade revelada: opiniões divergentes sobre a Fé, sobre o Sacerdócio, sobre a Tradição, sobre a Hierarquia da Igreja. Se não fosse a sua acção inteligente e firme, todas essas opiniões talvez degenerassem em heresias perniciosas no campo doutrinal, com grave desorientação de todo o povo cristão.
Esta tendência de surgirem opiniões ou teses sobre os múltiplos aspectos da vida e das relações com Deus, em que se procura com maior ou menor honestidade e inteligência encontrar a Verdade, é muitíssima antiga. Assim, no século II surgiu a heresia de Marcião do Ponto, o marciosismo, além das heresias do gnosticismo e montanismo; depois, no século III, surgiram o maniqueísmo e o adopcionismo ; no século IV, surgiram o donatismo, o arianismo, o apolinarismo e o priscilianismo; no século V, surgiram o pelagianismo, o nestorianismo e o monofisismo; no século VII, surgiu o monotelitismo; no século VIII, surgiram os iconoclastas; no século XI surgiu a heresia de Berengário de Tours; nos séculos XII e XIII surgiram as seitas dos Bogomilos, dos Cátaros(ou Albigenses) e dos Valdenses; no século XVII surgiu a seita jansenista e a dos anabaptistas, que emergiram do Protestantismo. Estes nomes derivam ou do nome de quem fundou a heresia, ou do conteúdo da doutrina. Mas isto não é tudo! Relacionei apenas as mais importantes. Foi para combater as heresias que em louvável intenção, mas em deplorável execução, foi estabelecida a chamada Santa Inquisição.
O estudo das numerosas heresias que foram surgindo após a Ascensão de Cristo, juntamente com o estudo dos diversos concílios que as condenaram, seria muito interessante. São páginas da História da Igreja, nem sempre de grande beleza, mas onde se pode notar a acção do Espírito a comandar toda a História, neutralizando e ridicularizando essas tais heresias. Fiz este resumo, para o leitor menos avisado destas coisas, ver a “piolhagem” que tínhamos na cabeça a amofinar-nos o juízo, se todas elas continuassem a existir e cada uma a afirmar-nos que ela, ela sim, é que era a verdadeira doutrina. Aqui, para ajudar o leitor a resistir e saber responder a alguns”angariadores” mais importunos, vou apenas pôr em destaque, e em resumo, as diferenças entre a nossa Igreja Católica e as tais seitas a que me tenho vindo a referir.
A Igreja foi fundada por Jesus Cristo, verdadeiro Deus – as seitas foram fundadas muito posteriormente por “iluminados”, muitos dos quais não têm remédio senão aceitar a divindade de Cristo; Na Igreja há o ministério petrino firmado no rochedo bíblico que foi São Pedro, comprovado pelo Novo Testamento, e os ministérios ordenados (bispos, padres e diáconos) - nas seitas não há tal ministério: os seus chefes ou “pastores”, alguns dos quais se intitulam de bispos, são nomeados pelos membros e entre os membros que já conseguiram arrebanhar, por serem, talvez, os de maior ousadia ou melhor oratória ; Na Igreja, a Bíblia é interpretada como parte dos ensinamentos de Cristo e dos Apóstolos, e de acordo com as regras universais do contexto e dos significados - cada seita tem a sua própria interpretação da Bíblia, quase sempre “à letra”, ignorando os estudos bíblicos e as leis de interpretação literária ; A Igreja está em todo o mundo, é universal, é católica - as seitas tendem a ser locais, a dividirem-se a se subdividirem pois não têm a preocupação de partilhar a mesma fé e o mesmo credo ; Os membros da Igreja são os leigos, as paróquias, as dioceses, as associações, que no seu conjunto formam uma grande comunidade - as seitas são grupos que vivem fechados sobre si próprios sem preocupação de fraternidade e ligação com outras seitas ; A Igreja aceita como membros pessoas de diferentes graus de conversão, não considera salvos apenas os que estão incluídos no seu seio, e reconhece que os seus membros são pecadores - nas seitas cada membro pensa que está salvo pelo simples facto de a ela pertencer e que todo o mundo só estará salvo quando pertencer a essa “sua” seita .
São estas as principais diferenças entre a Igreja e as diversas seitas. O leitor mais interessado pode e deve, como eu já disse acima, instruir-se em livros adequados.
LAURENTINO SABROSA - Senhora da Hora,Portugal
MAIO 2011
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