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Segunda-feira, 23 de Janeiro de 2012
EUCLIDES CAVACO - VOZ DO SILÊNCIO
Olá gentis amigos
VOZ DO SILÊNCIO
É o tema declamado que vos proporciono esta semana que procura traduzir um estado da alma bastante complexo e dolente.
Ouça-o  aqui neste link:
http://www.euclidescavaco.com/Recitas/Voz_do_Silencio/index.htm
Desejos duma excelente Quinta Feira
Euclides Cavaco
cavaco@sympatico.ca
 


publicado por Luso-brasileiro às 11:43
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LAURENTINO SABROSA - AS SÁTIRAS e AS FÁBULAS

 

                               

 

 

 

 

Um tipo de discurso muito importante, são as SÁTIRAS. Modalidade antiquíssima, na sátira procura-se a crítica com intuitos moralizantes dos costumes de uma sociedade, das suas instituições, das ideias predominantes, denunciando  erros e hipocrisias. Podem ser feitas em prosa, em poesia ou em discursos propriamente ditos. Muitos dos sermões do Padre António Vieira são sátiras contra os colonos do Brasil que exploravam desalmadamente os escravos, principalmente nos engenhos de açúcar; outros sermões, pronunciados perante a nobreza da época, eram sátiras dirigidas com grande arrojo à própria nobreza, que com desagrado e desdém o estava a ouvir. É claro que isso lhe acarretou muitos desgostos e sofrimentos. Era o que sucedia a quem tivesse a sua ousadia  Foi o que sucedeu a Gomes Leal, que por causa dessa ousadia foi parar ao Limoeiro. Mas o leitor pode ficar descansado. Em livros, teatro ou discursos pode ser satírico à vontade, porque, modernamente, ninguém se sente visado por uma sátira. As sátiras não são ataques pessoais, são observações na generalidade, e, por isso, como não se citam nomes ou pessoas em concreto, ninguém se sente visado. Toda a gente ri e aprova a justeza da sátira, mas até os próprios visados se sacodem, julgando, sinceramente ou não, que a coisa não é nada com eles. Nota-se isso na reacção dos partidos políticos a certos textos ou discursos de grandes  individualidades nacionais ou internacionais: são avisos ou advertências dirigidas aos partidos e aos políticos em geral, quase todos estão de acordo com a oportunidade e exactidão dos “recados” que foram dados, mas cada político ou partido logo diz : estamos no bom caminho, aquilo não foi dito a pensar em nós.

Muitas sátiras são feitas em tom jocoso e sarcástico, e quanto mais sarcásticas forem mais mordazes são. Um tipo especial de sátira são os PASQUINS, coisa que há muito está arredada, mas pela curiosidade do que foram, é interessante relembrar. Os pasquins têm (ou tinham) uma finalidade diferente, menos nobre, da da sátira. Porque o pasquim era um escrito com que se pretendia ridicularizar com sarcasmo ofensivo e anónimo alguém: uma instituição, uma personalidade importante, ou o próprio Estado. O termo PASQUIM deriva de PASQUINO, nome de uma estátua da antiga Roma, que era uma velha estátua de Hércules a quem puseram esse nome, onde se formou o hábito de dependurar ou afixar os tais escritos anónimos e insultuosos. Mas anteriormente, quem deu o nome à estátua foi um certo sapateiro desse nome, conhecido pela sua má língua, cáustica e desbragada. Ora, havia e ainda há em Roma uma grande estátua de divindade fluvial chamada MARFÓRIO. E, então, eis que se formou o hábito de dar réplica no MARFÓRIO a muitos cartazes satíricos, colocados no PASQUINO. Durante cerca de três séculos foi uma “alegria”, ver e apreciar o reportório de piadas e  comentários, umas vezes cáusticos outras vezes divertidos entre as duas “estátuas falantes”,  falantes através do que lá era afixado.

Hoje o termo pasquim tem o significado de planfleto difamatório sem qualquer valor, que se pode aplicar, por exemplo, a um jornaleco sem aceitação e sem moralidade. Por isso, uma sátira que pretenda influenciar alguém, a corrigir erros, hábitos sociais ou doutrinas, nunca pode degenerar em pasquim, porque perde de imediato valor e credibilidade.

Há séculos que a sátira é praticada em toda Literatura. Já nos antigos gregos foi usada, por exemplo, por Aristófanes nas suas comédias. Na nossa literatura, houve na época medieval as “cantigas de escárnio e maldizer”; o poeta e escritor Sá de Miranda, cultivou a sátira; mais modernamente, tivemos em Eça de Queiroz e Ramalho Ortigão sátiras mais ou menos veladas, sobretudo nas suas conhecidas FARPAS.

Ser satírico através de uma obra, de um discurso, é muito diferente de ser panfletário. Este, usa tom satírico, mas sem serenidade e com violência de termos ofensivos, que normalmente lhe fazem perder a razão que tenha. Por isso, quase ninguém o toma a sério. A sátira pode ter os seus efeitos numa sociedade, mas é caso para perguntar: em que medida é que a humanidade foi levada através da sátira a reconhecer os seus erros, a melhorar a sua vida moral e social? Seria um estudo interessante psicológica e socialmente.

O Padre A. Vieira conseguiu alguma coisa, duvido que Gil Vicente através da sua obra teatral tenha conseguido o mesmo. E, então, hoje em dia, como acima referi, ninguém se sente atingido por uma sátira. Talvez risonhamente acolhida,  considerada oportuna e de valor, mas, no sentir de cada qual, o que na sátira se insinua para ser mudado é só para os outros, ou talvez para ninguém.

 

Nos velhos tempos da instrução primária, dizia-se que FÁBULA era uma história em que os animais falavam entre si como se fossem gente. Nada mais. É uma definição muito simplória que deve ser modificada. Na verdade, nas fábulas, os protagonistas da acção são animais, que são imaginados a falar e a ter sentimentos, em episódios de vida semelhantes aos dos seres humanos, mas  são histórias, em prosa ou em verso, que pretendem dar aos seres humanos lições de bom senso e de rectidão. Nessas histórias há elevados conceitos morais e filosóficos a respeito da nossa conduta, do que podemos esperar dos outros conforme os nossos próprios actos, etc.  São normas de vida que, aproveitadas, concorrem para a felicidade. A maldade e a perfídia têm sempre o seu castigo, o bem vence sempre o mal. Há, portanto, uma maneira muito diferente da da sátira, a pretender chamar a atenção, de corrigir o que moral, social e individualmente não é devido.

É um tipo de literatura também muito antigo. Entre os antigos gregos, ficaram célebres as fábulas de Fedro e as de Esopo. Na era moderna, as fábulas mais conhecidas são as de La Fontaine.   

Todas as culturas têm as suas fábulas, diferentes em pormenores, nos animais utilizados e no simbolismo que se associa a cada animal. Assim, e de uma maneira geral, o lobo é símbolo do glutão insaciável; a raposa é símbolo da esperteza desleal; a lebre, representa a agilidade; o leão, a força e dignidade de rei ; a hiena, a maldade; a rola, a mansidão e a pureza; o mocho é o animal sábio. É curioso notar que o cão, que entre nós é símbolo de dedicação, em algumas culturas é símbolo de perigo e de ferocidade.

Esperemos que as fábulas tenham, sobretudo na  educação da juventude,  a quem  mais se destinam,  maior impacto que as sátiras têm na sociedade.

 

laurindo.barbosa@gmail.com

 

 

LAURENTINO SABROSA   -  Senhora da Hora, Portugal



publicado por Luso-brasileiro às 11:38
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JOÃO CARLOS JOSÉ MARTINELLI - A CONSTITUIÇÃO PUGNA POR MAIOR ATENÇÃO À SAÚDE

 

 

 

Uma concepção moderna de saúde indica que ela se constitui no bem-estar do indivíduo nos aspectos físico, mental e social.  Neste contexto e pela importância que representa, foi elevada a um dos direitos fundamentais do ser humano, integrando-se à Declaração Universal dos Direitos Humanos - DUDH, proclamada pela Organização das Nações Unidas – ONU em 12 de dezembro de 1948 e que dispôs em seu art. XXV: “Todo homem tem direito a um padrão de vida capaz de assegurar a si e a sua família, saúde e bem-estar, inclusive alimentação, vestuário, habitação, cuidados médicos e os serviços sociais indispensáveis, e direito à segurança em caso de desemprego, doença, invalidez, viuvez, velhice ou outros casos de perda dos meios de subsistência em circunstâncias fora do seu controle”.

Nesta trilha, cite-se a Associação Médica Mundial, fundada em 1947 e que conta atualmente entre seus membros, com oitenta entidades afins de diferentes países, incluindo  Brasil. Sua principal finalidade é a de “servir a humanidade, visando atingir os mais elevados níveis em educação, ciência, arte e ética, bem como, cuidados de saúde para toda a população mundial”. Um de seus documentos mais importantes é a Declaração sobre os Direitos do Paciente, aprovada em 1981 durante a 34ª Assembléia da Associação Médica Mundial realizada em Lisboa (Portugal) e revista em Santiago (Chile) no ano de 2005. A declaração apresenta onze princípios fundamentais, entre os quais: “Direito à dignidade, que implica respeitar a privacidade do paciente, sua cultura e seus valores; ter o sofrimento aliviado segundo o estado atual de conhecimento médico; e contar com cuidados terminais que dêem a ele toda assistência possível para tornar a morte tão digna e confortável quanto possível”.

A doutrina dominante, dentre vários critérios, costuma classificar os direitos fundamentais em Gerações de Direitos que também indicam a evolução histórica destes. A saúde se situa nos Direitos Humanos de Segunda Geração, que engloba os direitos sociais, culturais e econômicos. O momento histórico que os inspira e os impulsiona é a Revolução Industrial européia, a partir do século XIX. De acordo com Pedro Lessa, “nesse sentido, em decorrência das péssimas situações e condições de trabalho, eclodem movimentos como o ‘cartista’-Inglaterra e a ‘Comuna de Paris’(1848), na busca de reivindicações trabalhistas e normas de assistência social. O início do século XX é marcado pela 1ª Grande Guerra e pela fixação de direitos sociais, evidenciados dentre outros documentos, pela Constituição de Weimar, de 1919 (Alemanha) e pelo Tratado de Versalhes, 1919 (OIT)” (“Direito Constitucional Esquematizado”, São Paulo: Saraiva, ed.2005).

A saúde como direito fundamental em nosso país ainda trilha um longo caminho a sua concretização. Em verdade, a sua conquista como aspiração humana repousa na possibilidade de fazê-lo deixar a abstração para aterrissar no mundo real, posto que a sua situação caótica e deficitária, apesar da Constituição Federal em seu art. 196 expressamente dispor: “A saúde é direito de todos e dever do Estado, garantido mediante políticas sociais e econômicas que visem à redução do risco de doença e de outros agravos e ao acesso universal e igualitário às ações e serviços para sua promoção, proteção e recuperação”.

Desta forma, a Carta Magna de nosso país pugna por maior atenção à saúde, cujo desrespeito se considera uma infração de natureza constitucional, sem incidência, contudo, de eventuais sanções pelo seu descumprimento. Mesmo assim, algumas conquistas foram efetivadas nos últimos tempos, mas ainda estamos longe de alcançar a situação ideal. E dentre os inúmeros e sérios problemas que afetam e prejudicam o setor, talvez o mais grave se constitua no fato do sistema atual transformá-lo de um direito do cidadão constitucionalmente garantido em um privilégio econômico, acessível a poucos. Perante a fragilidade dos órgãos públicos, proliferam os planos de saúde da área privada. E apesar de se revelar numa incumbência pública, o que se vislumbra uma enorme distorção que também evidencia a dramática característica da desigualdade, inerente a outros aspectos sociais de igual relevância.

O saudoso Dom Luciano Mendes de Almeida destacou que “toda pessoa tem direito à estima e ao respeito, mais ainda quando enferma e incapaz de tratar de si própria. Necessita de amparo, de assistência médica, de presença amiga e de conforto espiritual”. Em nosso país, entretanto, tais aspectos nem sempre são outorgados aos pacientes e  inúmeros, complexos e gravíssimos são os problemas no atendimento médico e hospitalar da população que se depara com uma estrutura ineficaz e desprovida de recursos, mercê ausência quase absoluta de vontade política em amenizar a situação.

 

 

JOÃO CARLOS JOSÉ MARTINELLI é advogado, jornalista, escritor e professor universitário. Vice-presidente da Academia Jundiaiense de Letras.

                       



publicado por Luso-brasileiro às 11:27
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PAULO ROBERTO LABEGALINI - HISTÓRIA e OS NOSSOS QUERIDOS SACERDOTES

 

 

                                *H I S T Ó R I A

 

Certo dia, uma senhora que passava por momentos muito difíceis ligou para um locutor de rádio e, através daquela oportunidade, ela resolveu fazer o seu apelo, dizendo:

- Eu estou passando por uma grande prova: o desemprego bateu à minha porta, tenho filhos pequenos, meu esposo está fazendo apenas alguns serviços extras e a renda não é suficiente. Se algum irmão puder me ajudar com alimentos eu ficaria muito grata. Aquilo que Deus tocar em seu coração eu agradeço e será de grande ajuda.

E ela deixou seu endereço; porém, no momento do apelo, um ateu estava ouvindo a programação e disse:

- É hoje que eu acabo com essa raça de cristãos... é hoje!

Então, ele se dirigiu ao mercado e fez aquela compra! De tudo comprou um pouco e, depois, disse assim para duas pessoas que trabalhavam com ele:

- Vocês vão até a casa dessa senhora, entreguem esta compra e, quando ela perguntar quem mandou, digam que foi o diabo.

E seguiram aqueles homens rumo à casa da necessitada. Bateram palmas, ela com toda humildade atendeu e eles disseram:

- Viemos trazer esta compra para a senhora.

Descarregaram tudo e ela agradeceu demais; mas, vendo que a mulher não se interessou em saber quem era o doador dos mantimentos, um deles falou:

- A senhora não vai querer saber quem lhe deu esta compra?

Ela, tranqüila, respondeu:

- Não, não é preciso. Quando o meu Deus manda, até o diabo obedece!

Pois é, quando os critérios de moralidade e justiça não são adequados, a providência Divina protege os filhos amados –sabemos muito bem disso.

À luz da Sagrada Escritura, sabemos o que é certo, o que é errado e não podemos deixar que a ambição supere a caridade. O nosso relacionamento com Deus precisa ser ético!

E você, tem consciência que na natureza só o homem e a mulher assumem comportamento ético? A partir dos três anos de idade já entendemos muita coisa a respeito da diferença entre o bem e o mal. Por isso, os bons costumes e deveres do nosso povo podem ser melhorados por você para a construção de uma sociedade justa e solidária!

 

* Do programa ‘Nossa Reflexão’,que vai ao ar em quatro horários no Canal 20: 8h30, 11h30, 17h30 e 22h30. O site www.canal20tv.com.br disponibiliza os vídeos já apresentados na televisão. Clique em ‘Arquivos de Vídeo’ e depois em ‘Nossa Reflexão’.

 

**OS NOSSOS QUERIDOS SACERDOTES

 

Até hoje, nos relacionamentos que tive com os sacerdotes, nunca houve nenhum tipo de atrito, graças a Deus. Além disso, sempre ocorreu muita descontração em cada encontro, alternando o útil e o agradável nos diálogos.

Nas reuniões de comunidade, por exemplo, mesmo com a presença de vigários diferentes, temos boas recordações de brincadeiras sadias, que eles usaram para motivar e unir ainda mais o grupo em busca de um objetivo comum.

Ah, se Jesus Cristo e Maria Santíssima estivessem sempre em nossos corações como estão presentes nos seus filhos prediletos – os sacerdotes! Aí sim, acredito que não teríamos muitas coisas para nos preocupar! Mas, como conseguir essa graça? Com certeza,‘imitando’ a conduta dos sacerdotes: rezando um pouco mais, conseguindo tempo para ajudar nas obras de Deus, fugindo do pecado, pregando o Evangelho, combatendo as injustiças, incentivando a caridade entre irmãos, recebendo diariamente a Eucaristia...

Parece difícil, mas se torna fácil quando abrimos o nosso coração ao Amor de Maria e à Paz que emana de Jesus. O trabalho em comunidade nos aproxima de Deus, a tal ponto, que a nossa caminhada passa a ser cada vez mais cristã, por obra do Espírito Santo.

Quem está nesse caminho consegue entender melhor os padres, mesmo sabendo que enfrentam uma série de problemas quase insuperáveis para qualquer leigo como nós. Todos deveriam ter essa experiência de convivência com os sacerdotes para reconhecerem que eles têm muito carinho para conosco e precisam da nossa compreensão quando nos orientam ou, principalmente, quando nos repreendem nas falhas que cometemos.

Também nos programas de televisão, quando presentes, os padres ficam à vontade, aceitando brincadeiras e testemunhando a fé viva que brota de seus corações. Com poucas exceções, cada vez mais se tornam grandes exemplos para as novas vocações! Reze comigo:

ORAÇÃO VOCACIONAL: “Senhor da messe e pastor do rebanho, faz ressoar em nossos ouvidos teu forte e suave convite: vem e segue-me. Derrama sobre nós o teu Espírito, que ele nos dê sabedoria para ver o caminho e generosidade para seguir tua voz. Senhor, que a messe não se perca por falta de operários. Desperta nossas comunidades para a missão. Ensina nossa vida a ser serviço. Fortalece os que querem dedicar-se ao reino, na vida consagrada e religiosa. Senhor, que o rebanho não pereça por falta de pastores. Sustenta a fidelidade de nossos bispos, padres e ministros. Dá perseverança a nossos seminaristas. Desperta o coração de nossos jovens para o ministério pastoral em tua Igreja. Senhor da messe e pastor do rebanho, chama-nos para o serviço do teu povo. Maria, mãe da Igreja, modelo dos servidores do Evangelho, ajuda-nos a responder sim. Amém.”

 

** Do programa ‘Acreditamos no Amor’, que vai ao ar em dois horários na Rádio Futura FM, 106,9 MHz: 6 h e 18 h – segunda, quarta e sexta.

Site para ouvir o programa ao vivo: www.futurafm.com.br

 

 

 

PAULO ROBERTO LABEGALINI -    Escritor católico, Professor Doutor da Universidade Federal de Itajubá-MG. Pró-reitor de Cultura e Extensão Universitária da UNIFEI.

 



publicado por Luso-brasileiro às 11:12
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JOÃO BOSCO LEAL - NOSSAS VIDAS

                       

 

 

Centenas de vezes a vida já foi descrita como uma viagem única, exclusiva, na qual cada um vai para onde, como e com quem quer, arcando, durante o percurso, com as consequências de suas escolhas.

A viagem pode ser por trilhas, rios, mares ou auto-estradas, a pé, a cavalo, de barco, navio ou motorizada, mas sempre é uma viagem e o meio escolhido por quem a faz.

No meio de qualquer uma delas, alguns escolhem continuá-la de modo virtual e para isso utilizam-se dos mais diversos tipos de drogas hoje existentes, acelerando bastante o final de seu percurso. Outros, sem encontrar saída para sua ansiedade, interrompem bruscamente a sua, antes que o fim previsto o tivesse alcançado.

Durante a viagem notamos muitos exemplos de aproximações e afastamentos, sucessos e fracassos, amizades e conflitos, paz e guerra, mas sempre provocado por algo anterior.

Seria bem mais fácil se logo no inicio de sua caminhada todos já soubessem que tudo é exatamente como precisa ser e na grande maioria das vezes, uma consequência de escolhas passadas. Poderiam pensar antes de qualquer atitude, palavra ou gesto, para que no futuro não se encontrassem com muita frequência com o arrependimento.

O que se vê externamente quase nunca é o mais importante. Como em um automóvel que com o capô esconde seu motor, em quase tudo que existe o externo, material, é o visível, bonito, mas frágil, perecível, e o interno é o duradouro, que realmente possui valor.

Ressentimentos antigos podem ser apagados se realmente forem perdoados. As coisas mudam, as pessoas vão e vem, entram e saem de nossas vidas e o que é errado hoje pode não ser amanhã, quando os amigos atuais poderão já estar distantes e será possível curar o atualmente incurável.

No corpo ou a alma, as dores e os machucados sempre ocorrerão, mas se você permitir que isso ocorra, elas também passarão, algumas mais facilmente e outras nem tanto, mas poderão sarar e as emoções alegres sempre poderão ser relembradas.

Dores que nos corroeram durante anos, se você as aceitar como suas, poderão, no futuro, ser lembradas como momentos de tristeza. Buscando em nosso interior, somos capazes de perceber o que é e o que não é realmente importante, deve ser ignorado, esquecido e como podemos seguir adiante após cada queda no caminho.

A felicidade como descrita em livros e filmes só é possível ali, pois na vida real a felicidade é a vivência de momentos felizes, como o deslumbramento com um lindo por do sol, a delícia de um banho de mar, um abraço no entre querido, um beijo e todos os outros momentos que possam lhe provocar sorrisos, alegrias.

Nossas passagens ou viagens pela vida são diferentes para cada um, e de acordo com a maior, ou menor frequência e quantidade dos sentimentos de carinho, amizade, dores, alegrias, tristezas, paixões e amor que vivemos, costumamos dizer que somos mais ou menos felizes.

No entanto, é muito bom entender que todos podem influir bastante em seu futuro, plantando o que pretendem colher, na maior quantidade de áreas possível, física, educacional, cultural e de relacionamentos, pois as colheitas fartas sempre ajudarão a suportar momentos mais difíceis.

Como nas ondas oceânicas, nossas vidas estão sempre em movimento, com altos e baixos, e as arrebentações, mais ou menos explosivas, dependendo de cada um como chegará à praia.

 

 

 

JOÃO BOSCO LEAL, é articulista político, produtor rural e palestrante sobre assuntos ligados ao agronegócio e conflitos agrários.

Campo Grande, Brasil.



publicado por Luso-brasileiro às 11:07
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Domingo, 22 de Janeiro de 2012
HUMBERTO PINHO DA SILVA - PROSA HERMÉTICA

 

 

 

Ao ler certos textos, ao escutar homilias, ao participar em colóquios literários, fico muitas vezes a pensar, se os leitores ou ouvintes, conseguiram digerir o que se leu ou se disse.

Porque muito que se escreve, no nosso país, está revestido de espessa e rígida couraça, e é opaco como torre de marfim.

O mesmo hermetismo encontra-se nas explanações de professores e infelizmente em práticas de sacerdotes, mais desejosos a esmagarem com o peso do seu saber, do que tornar acessível a matéria espraiada.

Turva-se a água ao usar dicção rebuscada, rodriguinhos, frases obscuras, prosa apocalíptica, no intento a ofuscar e amesquinhar o leitor ou ouvinte.

Citar textos em latim, empregar arcaísmos ou neologismos, para arrancar aplauso, não é digno, a meu ver, de quem escreve ou ensina.

O vulgo, na sua bacoquice, exalta a prosa ilegível e oca, assim como aceita a arte, que não sendo Arte, nada transmite e nada diz.

Como não quer mostrar ignorância, comporta-se como os cidadãos do reino em que o monarca caminhava seminu pelas ruas da capital, e declara enfatuado, sacudindo solenemente a cabeça:

- É bom! …É óptimo! … É excelente! …

Estando em clube portuense a escutar famoso pianista, presenciei o diálogo travado entre dois cavalheiros. Dizia um, idoso, sisudo, esguio como Eça, dentro de bom fato azul-ferrete:

- Você já reparou que quando se ensina filosofia, poucos a entendem; mas se lermos os filósofos -  os verdadeiros, -  em regra são claros e límpidos como água colhida na fonte!?

Não aceito que os professores de Filosofia sejam sensaborões. Tive um excelente, e era uma delícia ouvi-lo; mas concordo que muitas vezes é mais fácil ler os textos de filósofos, que escutar certos professores e eruditos, a dissertar sobre os mesmos textos.

Há tendência a “turvar a água”, como dizia Nietzsche, a tudo que é didáctico e cultural, “ para que pareça profunda”.

Assim é, porque não se tem coragem de asseverar que não se entendeu, para não se ser julgado de ignorante.

Nunca escutei, da boca de quem saiu do teatro, exposição de Arte ou conferência, que não entendeu patavina.

Do mesmo jeito nunca se diz que não se conhece obra-prima ou que está a ler um clássico; porque o “intelectual” não lê mestre de literatura, releu-o.

Conhecendo a psicologia das massas, certos escritores, mormente novatos, “turvam” a prosa, enxameiam-na de palavras inúteis, citações em língua estranha, introduzindo, a cada passo, siglas, neologismos e termos técnicos e, ao tornarem-se obscuros, o vulgo louva-os e considera-os excepcionais.

Assim vai o mundo, enganando-nos uns aos outros, e rindo-se dos mais simples.

 

 

HUMBERTO PINHO DA SILVA   -   Porto, Portugal



publicado por Luso-brasileiro às 20:31
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PINHO DA SILVA - VALORES

 

 

 

Falemos de valores. Sim,há valores;

não se contesta, não!...Quem o faria?!

Confessemos, contudo, que, hoje em dia,

há bem menos valores, do que...favores.

 

 

 

Em primeiro lugar vem o dinheiro;

em seguida um "canudo"; ar importante;

sempre um livro na mão; roupa elegante;

ou um aspecto jovial e prezenteiro...

 

 

 

Eis o que são valores, p'ra certa gente,

quando, afinal, a coisa é bem diferente!

Atalhareis vós: - "Não é assim!...Falta à verdade!..."

 

 

Não falto, garanto eu!... Ele há senhor

que é muito culto, e muito sabedor...

porque... disfarça a sua nulidade.

 

 

 

PINHO DA SILVA   -  Vila Nova de Gaia, Portugal



publicado por Luso-brasileiro às 20:08
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Domingo, 15 de Janeiro de 2012
RENATA IACOVINO - PARADOXOS E OPOSTOS

 

                       

 

                                   

 

            Em outros de mim encontro o que é ficção e o que é realidade.

            Pois é disto que somos feitos, não? Alguns mais de um, outros mais de outro.

            E nesse equilíbrio fingimo-nos e revelamo-nos, descuidamo-nos e desvelamo-nos, despindo-nos de definições e identidades.

            Em outros de mim me arremesso no fundo ou boio na superfície com a mesma intensidade.

            Visto uma face tolerante, antes intolerante; uma outra decidida - a que já fora insegura; outra ainda tão descrente, contradizendo um passado pio; e mais outra obediente, desafiando o que outrora se fez rebelde. E tudo isto, estagnado em paradoxos, reverte-se em pares e, mais, aglutina-se como personalidade una, indivisível.

            Quantos ainda brotarão? Quais morrerão?

            Minha nova mistura depende do oxigênio que paira nos escombros da subumanidade, engolida pelo primitivismo antiatávico.

            Minhas possibilidades vão na linha oposta dos impostores bem intencionados; minhas regras são réguas desmedidas e desmistificadas, sem início nem fim, mas com um meio interminável.

            Meus meios são frutos maduros que eu descasco para convencer os outros e a mim de que esse também é um caminho possível.

            Conjugo na primeira pessoa, mas vez por outra me pluralizo, quando esqueço de meus instintos essencialmente humanos. Aí me transformo em ser da melhor espécie, sem as peripécias e mirabolâncias próprias de quem se privatiza. E então não me privo.      Não me privo de viver. Porque não basta respirar para estar vivo. Nem espreguiçar. Tampouco comer. A fome que não se mata vai além de nosso corpo, mas bichos racionais que somos não queremos mais do que abrir os olhos de manhã.

            E aí ficamos "com a boca escancarada/cheia de dentes/esperando a morte chegar", como sentenciou Raul Seixas.

            Antes de morrer vivendo e de viver morrendo, diariamente, numa rotina mórbida, tento desesperadamente me multiplicar, me transmutar, como cigano, sendo "raso, largo, profundo", "a cegueira da visão", "a mão do carrasco", "a beira do abismo", "a placa de contramão", "o blefe do jogador"... Minha mística real e ficcional é o que me sustenta.

 

Renata Iacovino, escritora e cantora / reiacovino.blog.uol.com.br /reval.nafoto.net / reiacovino@uol.com.br



publicado por Luso-brasileiro às 18:51
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EUCLIDES CAVACO - DANÇA DA VIDA
Olá prezadíssimos
amigos
 
Inicio este ano com um poema que retrata o frenesim das nossas vidas que não obstante serem  tão curtas , são todavia ainda vividas à pressa
como que num movimento dançante  de implícito e  constante bailado. Veja pois DANÇA DA VIDA  aqui neste link:
 
http://www.euclidescavaco.com/Poemas_Ilustrados/Danca_da_Vida/index.htm
 
Desejos dum Feliz 2012 para todos vós.
Euclides Cavaco
cavaco@sympatico.ca




publicado por Luso-brasileiro às 18:46
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CINTHYA NUNES VIEIRA DA SILVA - FÉRIAS

 

 

            Muitas coisas encolhem com o tempo. Outras aumentam, é verdade, mas deixemos esse tema para outro dia. Refiro-me agora às férias. Desde que minha vida se deparou com a divisão férias e não-férias, percebo que as primeiras só vem decrescendo. Já houve um tempo em que eu chegava a cansar das férias e a volta às aulas, no que se resumiam as minhas não-férias, era até esperada com alegria.

            O tempo das férias era o tempo das brincadeiras, de receber os tios e tias de longe, de ganhar presentes, de comer coisas especialmente feitas para crianças que estavam sempre prontas para um lanchinho ou uma guloseima qualquer. Era o tempo de soltar pipas, de viajar, de armar casinhas de pano na sala que lá ficavam por dias sem que houvesse ordem de despejo ou desocupação.

            Um pouco mais tarde, as férias eram tempo de paquerar, de ir à piscina do Clube sob o pretexto de tomar sol ou de nadar. Eram dias de olhares enviesados, de sorrisos roubados, de emoções que mais existiam no mundo ilusório, mas que ainda assim tinham gosto de realidade.

            Já na faculdade, os incríveis três meses de férias que englobavam dezembro, janeiro e fevereiro, davam saudade dos colegas, dos professores, das repúblicas cheia de meninas e meninos, das tardes sonolentas na biblioteca, dos churrasquinhos de fim de semana e de tudo que significava ser uma universitária.

            Depois que comecei a trabalhar, contudo, nunca mais tive o mesmo tipo de férias. Lógico que seria um pouco estranho ficar três meses sem fazer nada, mas nem é tanto ao tempo em si que faço menção, porém à qualidade dele. Nunca mais tive a mente despreocupada, livre das lembranças dos compromissos que me aguardavam a poucos dias de distância. A invenção do celular faz com que clientes me encontrem nos momentos mais inoportunos e desnecessários. Quando estou entrando no ritmo do nada, alguém me liga para falar sobre algo que poderia perfeitamente ser dito em outro momento...

            Fica meio difícil sentir o clima de férias, aquela sensação de despreocupação, de leveza, quando os e-mails, torpedos e telefones sobre problemas não param de chegar. Claro que faz parte da profissão que escolhi, lidar com problemas alheios, mas às vezes eu só queria desligar, totalmente, por uns dias, mas sem nenhum contato externo, como se voltasse ao tempo da inocência, ou seja, o A.C. (Antes do Celular)...

            De toda forma, quem mandou crescer? Tá, quem mandou ficar adulta? Se bem que as pobres criancinhas de hoje nem tem mais aquele montãooo de férias. Aliás, já são apresentadas ao conceito de não-férias muito mais cedo. Das duas uma: ou se acostumarão a isso ou, quando logo estarão pedindo, como eu, que as férias não escorram por entre os dedos...

            Não gosto de não fazer nada, contudo. Férias, para mim, hoje, significam tempo de ler, de escrever, de fazer caminhadas longas, de mãos dadas ou ouvindo boa música, tudo sem pressa ou hora. Nesses momentos, de simplicidade e leveza, sinto como se a vida também se fracionasse. Ninguém vive de férias (acho), mas que é bom demais poder, um pouco que seja, viver sem dimensionar o tempo, isso é...

            De alguma forma, algo continua como sempre: escrevi mais uma redação sobre “Minhas Férias”...

 

 

CINTHYA NUNES VIEIRA DA SILVA- Advogada, mestra em Direito, professora universitária e escritora - São Paulo



publicado por Luso-brasileiro às 18:38
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JOÃO CARLOS JOSÉ MARTINELLI - A SAÚDE, UM DOS DIREITOS FUNDAMENTAIS DO SER HUMANO, É TEMA DA CAMPANHA DA FRATERNIDADE.

 

 

A saúde se reveste de manifesta relevância, mas infelizmente não obtém respaldo em nosso país. E apesar se revelar numa incumbência pública, constitucionalmente garantida, o que se vislumbra é uma enorme distorção que também evidencia a dramática característica da desigualdade, inerente a outros aspectos sociais de igual relevância. E diante da fragilidade dos órgãos públicos, proliferam os planos de saúde da área privada, transformando a saúde de um direito fundamental a todo cidadão, num privilégio econômico acessível a poucos. A Conferência Nacional dos Bispos do Brasil escolheu essa  questão como tema da Campanha da Fraternidade de 2012

 

Todos os anos durante o período quaresmal, que se inicia na quarta-feira de cinzas e tido como tempo de conversão, a CNBB (Conferência Nacional dos Bispos do Brasil) realiza a Campanha da Fraternidade, que tem por objetivo despertar a solidariedade de seus fiéis e de toda a sociedade em relação a um problema concreto que envolve toda a nação, buscando soluções para o mesmo. Para o ano de 2012, a entidade escolheu "Fraternidade e Saúde Pública" com o lema "Que a saúde se difunda sobre a terra", visando  promover ampla discussão sobre a realidade da saúde no Brasil e das políticas públicas da área, para contribuir na qualificação, no fortalecimento e na consolidação do SUS, em vista da melhoria da qualidade dos serviços, do acesso e da vida da população. Ao longo do texto oficial, o subsídio da CNBB chama a atenção para três conceitos importantes: I. O cuidado com o doente; II. A prática de hábitos de vida saudável e III. Exigência de melhoria no sistema público de saúde, com atenção especial ao SUS.

Trata-se de um tema de manifesta relevância, já que  de acordo com Eleuses Vieira de Paiva, especialista em medicina nuclear e ex-presidente da Associação Médica Brasileira, “o país não conseguiu ainda equacionar o trinômio que é fundamental para a implementação universal e eqüitativa das ações de saúde: financiamento, gestão e formação de recursos humanos” (Folha de São Paulo – 07.04.2006- A3). E prossegue no mesmo artigo: “os reflexos dessa situação são evidenciados todos os dias nos mais variados rincões do Brasil: acesso dificultado com filas em postos de saúde e hospitais; marcação de consultas e de cirurgias com longos períodos de espera; hospitais com tecnologia desatualizada e sucateada, restringindo ou mesmo impedindo o bom atendimento; profissionais nem sempre atualizados, muitas vezes em decorrência do excesso de horas de trabalho mal remunerado, que impede disponibilidade de tempo e recursos econômicos para sua imprescindível reciclagem”.

Também podemos apontar inúmeras tentativas de se utilizar deste importante setor para fins políticos. Infelizmente, em muitas situações os interesses pessoais ou de grupos econômicos ditam as suas normas e regras, relegando os anseios da população para um segundo plano, independente do que as pessoas possam sofrer ou das reações manifestadas de desespero, de dor e de inconformismo que venham a expressar. Entendemos que a Campanha da Fraternidade serve para lembrar a todos que saúde é coisa séria e como tal, assim deve ser tratada, pois ao contrário, revela-se em fiel depositária de muitas das mazelas sociais.

Na mesma trilha, “saúde e sociedade constituem-se de uma complexa relação em que, como parceiras, andam de mãos dadas e na mesma direção. Dentro desta tese, é muito difícil, senão impossível, uma sociedade caminhar para um progressivo desenvolvimento e a saúde ir na sua contramão. Por outro lado, não conheço nenhum modelo de saúde exemplar em sociedades com decadência político-financeiras” (José Francisco Kerr Saraiva, Secretário Municipal de Saúde de Campinas – Correio Popular- 08.04.2007- A-3). E dentre os inúmeros e sérios problemas que afetam e prejudicam o setor, talvez o mais grave, reiteramos aqui, constitua-se no fato do sistema atual transformá-lo de um direito de cidadão constitucionalmente garantido em um privilégio econômico, acessível a poucos e perante a fragilidade dos órgãos públicos, proliferam os planos de saúde da área privada.

 

JOÃO CARLOS JOSÉ MARTINELLI é advogado, jornalista, escritor e professor universitário. Vice-presidente da Academia Jundiaiense de Letras.



publicado por Luso-brasileiro às 18:33
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MARIA CRISTINA CASTILHO DE ANDRADE - DEPOR A COROA

                    

 

 

 

O acontecimento da Epifania (Mateus 2, 1-12) sempre me encanta. Quando menina, gostava de movimentar, após o Natal, as imagens dos magos em direção à gruta de Belém. Alegrava-me por vê-los diante do Jesus Menino. Transportava-me para o coração de cada um deles em Belém. O cansaço da viagem compensara. Um ponto de luz os levou ao clarão da aurora, como anunciara o Profeta Isaías (60, 1-6). Talvez os pastores, marginalizados da época, não me chamassem tanto a atenção porque estavam mais próximos.

Neste ano, tenho refletido sobre o olhar dos reis que vieram do Oriente. Não se perderam do céu. Buscavam um sinal, na glória do Senhor, que desse um sentido maior à caminhada. Aguardavam, no firmamento, a estrela que os conduzisse a uma claridade ímpar, capaz de purificá-los das trevas. E nessa busca, com o coração vibrando e batendo forte, encontraram um Bebê frágil, vestido de pobreza, em abrigo de animais. Como não se moviam pelas aparências, escutaram o que Deus lhes sussurrava na alma, ajoelharam-se diante do Jesus Menino e O adoraram.

Pôr-se de joelhos, para mim, significa que ali também depuseram suas coroas. Destituíram-se de títulos, de poder, de riquezas, de conhecimentos. Um gesto de extrema humildade. Viram, com nitidez, no Pequeno, o Salvador, o essencial. 

São dois olhares, portanto, para o Alto: um muito além, no espaço infinito, com o propósito de encontrar um aceno de Deus e o outro perto, conscientes de sua insignificância, curvados, em direção à manjedoura, onde Maria e José deitaram o Pequenino.

São posicionamentos opostos à arrogância. Às vezes, buscamos a nós mesmos no que entendemos por céu; queremos encontrar, no topo dos pedestais de barro da sociedade, a nossa silhueta. Não admitimos que não nos considerem, que não nos aplaudam. Temos dificuldade em servir sem a gratidão humana como retorno. E as nossas coroas? Difícil abrir mão delas naquilo que entendemos como direito nosso por merecimento, pelo domínio, estudo, cargo, trabalhos realizados, dedicação, posses, raça, tradição, títulos, árvore genealógica, vestes... Afagamos a nossa coroa de lata e questionamos: “Sabe com quem está falando?” Esporadicamente ou comumente não encontramos nos mais frágeis, nos desconsiderados pela sociedade, uma criatura de Deus. Recusamo-nos a nos inclinar diante deles pelo menos para mostrar que nos importamos com um filho do Criador desfigurado pelo mal. De joelhos em frente ao Menino frágil, despidos de celebridade, os reis encontraram o Salvador, a Eternidade, e o Salvador, dobrando-se no lava-pés, ensinou-nos a fazer o mesmo.

Que Deus me dê, que Deus nos dê o olhar e a estrela dos magos!

 

Maria Cristina Castilho de Andrade

É educadora e coordenadora diocesana da Pastoral da Mulher/ Magdala, Jundiaí, Brasil



publicado por Luso-brasileiro às 18:26
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LAURENTINO SABROSA - SANGUE, PETRÓLEO E ÁGUA

 

 

 

 

 

Em certa roda de amigos, um deles a certa altura comunicou a todos que ia entrar de férias para casamento. Todos lhe deram os parabéns e desejos de felicidade. Mas, à reunião chegou mais tarde um dos amigos que não ouviu toda a conversa e, quando soube que o tal ia de férias, sem saber ainda que ele também ia para casamento, muito simplesmente lhe disse com amizade :´

-Bem bom, meu caro! Aproveita bem, goza muito!

Entre os outros, foi uma risada. Esta risada por um dito tão simples, mostra a malícia moderna que pode haver por coisas nobres, como o casamento.

 Na cultura dos diferentes povos, o casamento é, ou era, ocasião de celebrações rituais, de regozijo, às vezes por dilatados dias, porque o casamento tem sido encarado não apenas como facto social, mas como algo de sagrado que imprime carácter e valor pessoal a quem o celebra. Se assim não fosse, não é muito de crer que Jesus e sua Mãe tivessem honrado com a sua presença as bodas de Caná.

Todos desejam aos noivos saúde e longa vida, que aproveitem bem e gozem muito, sem por sombras pensarem nos prazeres do himeneu, embora todos saibam que eles existem e que são mesmo necessários para o equilíbrio de vida e firmação da felicidade. A parte hunana-divina-sagrada, começa no tálamo nupcial, logo na primeira noite de núpcias. A virgindade da mulher sempre teve auréola de beleza e de espiritualidade, pelo que quando uma noiva se entrega com amor ao seu noivo para que lhe seja rompido o seu hímen, faz-lhe uma oferta de sangue a que ele corresponde com uma oferta de gâmetas, o fluido mais nobre da sua própria vida, numa união e relação que tem qualquer de místico e de transcendente. Sangue e gâmetas, simbólica e espiritualmente têm um inexcedível valor.

Há um provérbio inglês que diz blood is thicker than water, ou seja, o sangue é mais grosso que a água – é o que vulgarmente se chama a voz do sangue, que leva as pessoas a se unirem e amarem mais quando têm de comum o mesmo sangue construído num círculo fechado, chamado família. Quando alguém entra em relação de desprezo e de abominação com um dos do seu sangue, então o sangue passou a ser mais fino que a água; se alguém casa por interesse de grandes fortunas, é possível que o tal sangue, que devia ser sangue, degenere em petróleo, gerador de euros ou de dollars, mas de pouca felicidade.

Por isso, os esposos que souberem valorizar o sangue e os gâmetas da primeira noite, terão a união e a felicidade, se sempre vigiarem para que o sangue não degenere nem em água nem em petróleo.

O nosso sangue nunca deve degenerar seja no que for, mesmo nas relações humanas e sociais. Um sangue que degenere em água, deixa de poder cohabitar com a humanidade, por se tornar um indiferente e um orgulhoso; um sangue que se deixe degenerar em petróleo, será um monstro de ambição e de egoísmo. Para haver amor pátrio, para chorarmos com os que choram e darmos pão a quem tem fome, é preciso que o nosso sangue seja tão grosso como Deus no lo deu.

Blood is thicker than water. A voz do sangue é voz que deve ecoar e repercutir entre todos os elementos da família  humana. 

6  de Jan. de 2012

 

 

 

LAURENTINO SABROSA   -  Senhora da Hora, Portugal



publicado por Luso-brasileiro às 18:22
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