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Terça-feira, 28 de Fevereiro de 2012
JOÃO CARLOS JOSÉ MARTINELLI - FRATERNIDADE E SAÚDE

 

 

                                                

 

 

 

 

 

“A “fraternidade” é expressão de uma antropologia segundo a qual os seres humanos, no fundo, são todos irmãos, membros de uma única família humana, com dignidade e direitos fundamentais comuns...”.

 

 

            

 

 

 

O período quaresmal, que se iniciou na última quarta-feira, lembra os quarenta (40) dias que Jesus passou no deserto preparando-se para a sua missão, e os quarenta (40) anos em que o povo do Israel andou no deserto rumo à terra prometida. É um tempo litúrgico de preparação à celebração da Páscoa do Senhor; uma época de conversão e de transformação da própria vida através da penitência, da oração contínua, da escuta atenta e amorosa da Palavra de Deus. É o tempo em que a Igreja Católica no Brasil mantém a Campanha da Fraternidade, que tem por objetivo despertar a solidariedade de seus fiéis e de toda a sociedade em relação a um problema concreto que envolve toda a nação, buscando soluções para o mesmo.

“A “fraternidade” é expressão de uma antropologia segundo a qual os seres humanos, no fundo, são todos irmãos, membros de uma única família humana, com dignidade e direitos fundamentais comuns. Decorre daí, como conseqüência ética, que essa dignidade deve ser reconhecida em cada ser humano e os seus direitos fundamentais, respeitados e promovidos por todos. O que vale para um vale pata todos. Essa também é a base da Declaração Universal dos Direitos Humanos” (Dom Odilo P. Scherer) (O Estado- 14/11/2009-A2).

Para o ano de 2012, a Conferência Nacional dos Bispos do Brasil escolheu por tema, "Fraternidade e Saúde Pública" com o lema "Que a saúde se difunda sobre a terra", visando promover ampla discussão sobre a realidade da saúde no Brasil e das políticas públicas da área, para contribuir na qualificação, no fortalecimento e na consolidação do SUS, em vista da melhoria da qualidade dos serviços, do acesso e da vida da população.

Como já ressaltamos anteriormente, trata-se de um assunto de extrema importância, não só para o exercício da cidadania como também para o próprio desenvolvimento do país. Nessa trilha, vale ressaltar que “um país desenvolvido tem cidadãos saudáveis e sistema de atendimento à saúde organizada e em funcionamento. Há economias dinâmicas, com crescimento e participação no comércio internacional que não podem ser classificadas como desenvolvidas. Sofrem em exclusão, desigualdade, pobreza e organização social rígida e estratificada... Na economia, dois complexos de atividades produtivas alavancaram com a articulação entre o Estado e a iniciativa privada: o industrial-militar e o da saúde. Áreas que representam os maiores gastos de pesquisa e desenvolvimento do mundo, compondo segmentos produtivos estratégicos que estão na base do potencial econômico e político dos Estados líderes na economia mundial” (José Gomes Temporão e Carlos Grabois Gadelha – A saúde em novo modelo de desenvolvimento”- Folha de São Paulo – 27/05/2007- A-3)

Por outro lado, o combate a dor hoje se constitui numa busca incansável do ser humano almejando melhor qualidade de vida. “Define-se por dor qualquer experiência sensorial desagradável. Seja de natureza física, seja emocional. Quando o ser humano vivencia o processo da dor, ele experimenta uma condição de indignidade tal que prejudica a capacidade de gerenciamento da própria vida” (in “A dor invisível” – Maria José Americano e Marcílio Silva Proa Jr. –“ Folha de São Paulo”20/03/2009- A-3).

 

 

JOÃO CARLOS JOSÉ MARTINELLI é advogado, jornalista, escritor, professor universitário, mestre em Direito Processual Civil pela PUCCamp e membro das Academias Jundiaienses de Letras e de Letras Jurídicas.



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MARIA CRISTINA CASTILHO DE ANDRADE - DECISÃO DELE

 

 

                                    

 

 

 

 

 

Telefonou para testemunhar que estava bem. Faz uns três anos que não me procura. Percebi, de imediato, suas palavras sem desespero. Disse-me que sempre sonhara com uma crônica escrita por mim a respeito dele e se eu poderia fazer isso. Quando alguém aprecia algo que escrevo, sinto-me amada, porque sou o que expresso nos textos. Segundo ele, o relato será como um atestado de que se encontra, embora o desejo seja crônico, de resistência curada.

Vêm-me fragmentos de sua história. Alguns relatados por ele, outros com os quais tive contato. Menino ainda, em dúvida sobre sua sexualidade, um homem adulto usou seu corpo, o que se repetiu com colegas de escola. Serviam-se dele para depois atacá-lo, de maneira hipócrita, com apelidos ofensivos. Em meio a esse redemoinho, sem ter onde ou com quem se colocar, para dizer e tratar os seus sentimentos pisoteados, as drogas o capturaram.. A mãe chorou. O pai foi duro com ele. Propuseram tratamento. Permanecia em grupos de apoio e em clínicas no máximo um mês, dizia-se curado e voltava a se prostituir, o que lhe possibilitava as drogas. Quando o conheci, na década de 90, era dependente químico e vagava pelas ruas do centro como travesti. Abordou-me um dia com a proposta de que passasse a reuni-los como às mulheres em situação de prostituição, para refletirmos sobre a Palavra de Deus. Dom Amaury Castanho, na época nosso Bispo Diocesano, aprovou a ideia. Ele traria outras pessoas de seu mundo até a Igreja. Não deu certo porque ele, logo depois, foi detido por furto. Visitei-o na cadeia e ao adoecer no hospital. Do crime foi absolvido por insuficiência de provas. Alguns relacionamentos às escondidas são revestidos de dúvidas e um furto registrado pode ser tentativa de um incluído ou uma incluída, pela intimidação, jogar fora de seu mundo uma excluída ou um excluído que conhece os segredos de seus prazeres impudicos. Há pessoas que carregam taras e, em lugar de tratamento, procuram saciá-las em pessoas mais frágeis e com menor visibilidade. Tenho pena dos que não buscam se livrar de seus desvios e dos que são sacrificados pelos desviados.

Chamava-me em suas situações de desencontro e em suas propostas de reconstrução. Chamava-me para ajudá-lo a deter a morte.

Percebeu-se, há um ano, de corpo, alma e coração amarrotados. Constatou que a droga o devorara. Sabia, contudo, em meio aos seus delírios, que as oportunidades de superação não deram certo porque lhe faltara querer com firmeza. Exigiu de si mesmo uma mudança: que Deus, Aquele que é, vencesse o passado nele. Cumpriu o tempo de clínica, conseguiu um emprego em outro município e frequenta uma comunidade religiosa. Distancia-se do que pode lhe enfraquecer a determinação. Que beleza!

Ao se fazer senhor de seus passos, encontrou o caminho da liberdade nas pegadas de Deus.

 

 

Maria Cristina Castilho de Andrade

Educadora e coordenadora diocesana da Pastoral da Mulher/ Magdala, Jundiaí, Brasil.



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Domingo, 26 de Fevereiro de 2012
CINTHYA NUNES VIEIRA DA SILVA - OS SETE PECADOS CAPITAIS - PRIMEIRA PARTE: A GULA

 

 

 

 

 

Nem adianta a Vandete tentar. Hoje eu vou fazer de um jeito diferente. Aff, me irrita tanto isso que ela faz!! Gente, que coisa chata. Eu adoro pipoca. Mais do que adoro, na verdade, acho que comeria pipoca todos os dias, se pudesse ou se ninguém me enchesse o saco (se fosse de pipoca, tudo bem, hehe).  Hoje não vai ter conversa! Já tenho tudo esquematizado.

A Vandete e eu somos amigas de trabalho.  Faz cinco anos que trabalhamos na mesma empresa, como secretárias. Nossas mesas ficam ao lado uma da outra e nossos chefes são sócios. Eu cuido das coisas do Dr. Osmar e ela, do Dr. Roberval. Até que a gente nem pode reclamar deles, porque pagam direitinho, dão vale-transporte e “tique” refeição.  Daí que quando eu entrei na empresa, uma semana depois da Vandete, ela foi super gente fina comigo. Ensinou tudo que eu tinha que fazer e até me corrigiu umas “coisa” que eu falava errado. Reconheço as bondades que ela me fez, mas, olha, eu preciso desabafar, tem certas atitudes dela que eu simplesmente não aceito! A Vandete é muito gulosa!

Desde o começo nós combinamos de almoçarmos juntas, lá no “Serv service” perto da empresa. Os chefes não ligam de sairmos juntas, porque nesse horário o boy, o André, topou ficar atendendo ao telefone e recebendo correspondência. Claro que ele pediu para ficar usando o Facebook enquanto isso, mas até agora, graças a Deus, ninguém descobriu... Bom, daí eu e a Vandete nunca demoramos e levamos sempre nosso “tique alimentação”. A coisa já começa por aí. Eu que não sou boba, aproveito para entrar na fila primeiro, porque a Vandete, com aquela gula dela, sempre pega o mais gostoso antes de mim! Algumas vezes, até, eu só descubro que era o mais gostoso depois que vejo no prato dela, mas ela sempre pega o último e eu fico só olhando. Pra vocês verem, um dia desses eu corri para fila e peguei o de sempre: arroz, feijão, macarrão, maionese e farofa. Depois fui ver as carnes, mas só tinha um bifê a rolê, um filé de sardinha e dois “peito” de frango. Como eu amooo frango, peguei logo os dois pedaços e o bifê a rolê, que tava com uma cara ótima. Atrás da Vandete vinha uma senhorinha, tadinha, magrinha que só ela. Fiquei besta quando vi a Vandete pegar o filé de sardinha inteiro para ela! Com é que pode!?! E a educação? E eu parece que me lembro que ela nem gosta muito de peixe, sei lá... O pior é que o bifê a rolê nem tava tão gostoso, mas eu comi mesmo assim, porque sei que a Vandete gosta e se eu deixasse no prato, eu é que seria a errada, como sempre...

Apesar desses costumes feios dela, eu gosto da Vandete e porque sou uma pessoa boa, convido a Vandete para ir ver filmes comigo, lá em casa, de sábado à noite. A pipoca fica por minha conta, porque gosto dela feita do meu jeito. Na minha eu coloco molho de pimenta e pedaços de queijo. Na da Vandade, não ponho nada especial, só sal  porque ela nunca pediu. É só pedir que eu faço igual, mas como não sei, acho melhor comer o queijo sozinha mesmo. O que me irrita é que eu faço uma bacia para mim e outra para ela, um pouco menor. O cúmulo da gula é ela comer a dela primeiro e ficar olhando para minha bacia, como quem quer mais! Uma vez até perguntei se ela queria um pouco da minha, mas quando ela enfiou a mão e tirou ela cheia de lá, com vários pedaços de queijo, senti uma fúria que nem sei explicar! Que gulodice!!! O filme até perdeu a graça para mim... Daí, não deixei barato, bebi inteirinho o refri de 2 litros que ela tinha levado. Só para ela aprender o quanto é feio ser gulosa!!!

Hoje ela vem aqui em casa outra vez, porque, como eu disse, sou uma pessoa boa, que não guarda mágoas. Mas dessa vez, com a pipoca, a coisa vai ser diferente. Vou comer a minha bem rápido e depois vou avançar na dela, só para ela ver como é bom! Essa coisa de gula é muito feio! Nem que a minha barriga explodir, mas vou comer e beber tudo. Fiz doce de abóbora do jeito que ela gosta, para compensar, mas tava tão gostoso que acabei comendo tudo enquanto tava quente. Minha barriga tá meio estranha agora, talvez porque eu não seja de comer muito, mas acho que a pipoca vai ajudar a melhorar. Dessa vez vou agradar um pouco a Vandete, minha amiga gulosa, só para ela ver que não sou como ela. Vou colocar bastante molho e queijo na pipoca dela...

 

 

CINTHYA NUNES VIEIRA DA SILVA - Advogada, mestra em Direito, professora universitária e escritora - São Paulo

 



publicado por Luso-brasileiro às 18:47
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JOSÉ GERALDO VIDIGAL DE CARVALHO - A CAMINHADA QUARESMAL

 

 

                                                               [Cônego.jpg]

 

 

 

Desde os primórdios do cristianismo a quaresma marcou para os cristãos uma fuga ainda maior das futilidades do mundo. Assim sendo, há uma entrega com mais ardor à oração, não pela multiplicação de preces, mas se dedicando mais atenção e piedade aos momentos de uma mais intensa união com Deus. Uma prece mais contemplativa, na qual se ouça com amor as inspirações do Divino Espírito Santo. Todas as tarefas realizadas conscientemente na  presença do Ser Supremo, o que leva a um maior desvelo no cumprir as obrigações cotidianas. Isto dá uma amplitude notável às menores ações, afastada toda a indolência  e abolidos os pretextos vãos para uma comodidade que na verdade é, tantas vezes, o culto da ociosidade, mãe de tantos vícios. Ressoa lá no íntimo de cada um as palavras do Mestre divino: “Se não fizerdes penitência, todos perecereis” (Lc 13,3).Jesus, porém, não quer nada de extraordinário, mas, sim, o dever de cada instante bem feito com o fito de reparar falhas passadas e de propiciar cada um a si mesmo crescimento espiritual. Deste modo se atinge o núcleo do autêntico espírito de sacrifício: a contrição do coração e a mortificação do corpo. Esta pode ser via de ascese, quando são afastados alimentos saborosos, mas que, ao invés de contribuir para a saúde, só servem para aumentar o campo das mais variadas doenças. A verdadeira homenagem a Deus abrange o homem todo: corpo e alma. A expiação dos pecados é, portanto, uma meta quaresmal de suma importância. Rompimento total, absoluto com o pecado, o que é a essência mesma da conversão interior. Ilusão de muitos cristãos é se julgarem irrepreensíveis,. São aqueles que se entregam a uma falsa segurança, sem preocupação alguma em comparar sua vida com os exemplos de Cristo e dos santos. Que se reaviva a coragem dos filhos de Deus que aspiram a paz interior que só é garantida para a alma verdadeiramente penitente. Cumpre se  reparem pecados. Além disto, a esmola que inclui todas as obras de misericórdia para com o próximo, é de suma valia e será sobretudo providenciando remédio para o pobre que se terão as bênçãos divinas.  É deste modo que o cristão se  prepara para o Banquete pascal do glorioso 8 de abril. Nem se pode esquecer que a Campanha da Fraternidade deste ano é um clamor a favor do esforço para que a saúde se difunda por toda a terra. Cumpre a cada um prestar ainda mais atenção aos doentes, sobretudo aos que estão sob o mesmo teto. É preciso cooperar, realmente,  para que não falte remédio aos mais necessitados. Nem se pode esquecer que é importante preservar a própria saúde, evitando tudo que a prejudica, seguindo fielmente o roteiro de um nutricionista competente, mantendo o peso ideal e fazendo os exercícios físicos prescritos pelos bons fisioterapeutas. * Professor no Seminário de Mariana durante 40 anos

 

 

 CÔN. JOSÉ GERALDO VIDIGAL DE CARVALHO   -  da Academia Mineira de Letras. Professor no Seminário de Mariana durante 40 anos.



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LAURENTINO SABROSA - TÔMBOLA DE CARIDADE

 

 

 

 

 

 

 

Observando a extracção da lotaria e do totoloto, deu-me para pensar que é possível estabelecer uma relação entre essas extracções e o desenrolar da vida, ou seja, a sucessão dos acontecimentos.

Também este mundo é aproximadamente uma esfera que gira, que gira, e desse girar vão-se desprendendo os acontecimentos, variáveis até ao infinito, agradáveis ou desagradáveis nos mais diferentes graus de intensidade. Desta esfera de Deus saem, em cada segundo, milhões de contas ou pérolas – esferinhas da sorte – que indicam o que terá de suceder por esse mundo fora: nascimento de uns, morte de outros; um vendaval aqui, um naufrágio acolá; um feliz ou infeliz negócio para este, um muito feliz ou um menos feliz casamento para aquele; uma queda, um exame, a sorte grande de uma herança ou a pouca sorte de um incêndio, uma cabeça que cai abaixo de uns ombros ou um cabelo que cai abaixo de uma cabeça – eis um pouco do muito que é possível ser ditado por Deus, através desse movimento contínuo que nos contempla com os acontecimentos que na nossa óptica são felizes ou infelizes.

Se este mundo, tal como actualmente gira, há-de ter um fim, é evidente que as contas ou pérolas de que falei, cada uma correspondendo a um acontecimento, também se hão-de esgotar. As “Testemunhas de Jeová” já anunciaram esse momento, pois que por mais do que uma vez anunciaram o fim do mundo, prevendo que uma última conta ou pérola se iria desprender com fragor, não com a suavidade dos propósitos de Deus.

Assim, saber olhar para esta esfera de Deus, que gira, que gira, e da qual se desprendem os acontecimentos, é uma grande virtude. Para as “Testemunhas de Jeová” ela é totalmente transparente: julgaram até terem-lhe visto o fim; para os católicos, ela simplesmente translúcida: com o dealbar do fim dos tempos, sabemos que o seu conteúdo vai diminuindo, mas nunca nos preocupamos com a saída da última esfera da sorte que ditará o fim do mundo – cada qual deverá preocupar apenas com a que lhe vai dar a ordem de Deus para se apresentar junto d’Ele; para os ateus, que não acreditam no fim do mundo, a referida esfera de Deus é totalmente opaca, com um conteúdo impossível de se esgotar. Curiosamente, estão a considerar Deus infinito, naquilo que Ele quis ser finito.

Devemos, porém, considerar que se Deus quis ser finito na sua esfera e no conteúdo dela – os acontecimentos – quis ser infinito na sua qualidade e na sua distribuição. Cada acontecimento, classificado pelos homens como feliz ou infeliz, é um acto de amor que nós por limitação, ou mesmo por maldade, não conseguimos interpretar correctamente. Jesus Cristo disse que o Pai, porque é Pai, nunca dá pedras a quem pedir pão, nem lagartos a quem pedir peixe. Então, podemos ter a certeza de que esta esfera de Deus vai girando sempre só para nosso bem, para nos dar em cada esferinha da sorte não aquilo que merecemos mas aquilo de que precisamos – não se trata de uma pagã boceta de Pandora que semeia ventos e tempestades.

Considerando a vida e o mundo tal como a estou a considerar e compreendida esta “mecânica celeste” que acabo de expor, fácil é concluir que Deus criou para nós não um jogo de lotaria ou de azar, mas uma verdadeira tômbola de caridade.

 

 

LAURENTINO SABROSA   -   Senhora da Hora, Portugal.

 

 

 

                                                           



publicado por Luso-brasileiro às 18:32
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RENATA IACOVINO - DICOTOMIAS E DILEMAS

 

 

 

 

 

 

 

            Muito se diz sobre a rapidez na comunicação e os variados meios para postarmos nossas vidas, expormos histórias e sentimentos. A tecnologia e seus benefícios estão a serviço dentre outras necessidades de satisfazer nossos desejos, vaidades, frustrações, nossa autonomia e nossa escravidão.

            Somos atores, autores, protagonistas, coadjuvantes, voyeurs, cúmplices, culpados, acusadores... de verdades, meias verdades, falácias, tudo corre rede a fora, e vem para os nossos domicílios virtuais; e dentro dele também criamos e expelimos a continuação de histórias, a produção de novos e velhos enredos.

            Antes, se quiséssemos nos comunicar por escrito com alguém, era preciso aguardar o prazo do correio. Sem contar atraso ou extravio.

            Hoje as correspondências são em larga escala e nossas missivas virtuais alcançam conhecidos e desconhecidos.

            Extravios acontecem, mas em escala proporcionalmente menor, se levarmos em conta as mensagens que mandamos aqui e acolá, em tempo integral.

            O que fazíamos em dois meses, hoje consuma-se em dois dias.

            A comunicação de fato criou asas, percorre redes sociais, fios, wi fi (sou da época do hi fi, uma bebida feita com vodca e suco de laranja), 3G, ondas de rádio, numa velocidade incrível.

            E pensar que a expectativa em ver as imagens registradas nas últimas férias ou numa festa de aniversário começava na compra do filme, na escolha de sua asa, na quantidade determinada de fotos, doze, vinte e quatro... um, dois, três filmes... a terrível possibilidade de queimar a foto, velar o filme, ou ter de esperar para terminar aquele filme em algum outro evento, para só então revelá-lo.

            Tudo isso hoje revela-se mais simples. Em nosso bolso (ou bolsa) carregamos uma máquina fotográfica, acoplada ao nosso celular, que nos permite closes e zooms desde a unha do dedinho do nosso pé até o bem-te-vi que pousa num fio entre os postes que percorremos enquanto estamos no trânsito.

            Essa gama de ofertas e essa rapidez em nos encontrarmos com aquilo que queremos não pode nos deixar esquecer da qualidade nessa comunicação, da cautela nesse excesso de exposição, do critério nas escolhas, da importância das relações humanas... Não podemos perder a capacidade de nos indignarmos. A banalização é algo que está sendo oferecido gratuitamente, e de nosso crivo depende todo o futuro.

 

Renata Iacovino, escritora, poetisa e cantora / reiacovino.blog.uol.com.br /
reval.nafoto.net / reiacovino@uol.com.br

 



publicado por Luso-brasileiro às 18:24
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PAULO ROBERTO LABEGALINI - HISTÓRIA e TODO ATEU É TRISTE ?

 

                                               

 

*H I S T Ó R I A

 

 

Uma mãe e seu filhotinho camelo estavam à toa, quando o bebê falou:

– Mãe, posso lhe perguntar umas coisas?

– Claro! O que está incomodando o meu filhote? – disse ela.

– Por que os camelos têm corcova, mãe?

– Bem, meu filhinho, nós somos animais do deserto, precisamos das corcovas para reservar gordura e sobreviver longos períodos sem água e alimento.

– Certo, e por que nossas pernas são longas e nossas patas arredondadas? – quis saber o filhote.

– Filho –respondeu a mãe –, certamente elas são assim para nos permitir caminhar no deserto! Sabe, com estas pernas eu posso me movimentar pela areia melhor do que qualquer outro animal!

– E os nossos cílios, mãe, por que são tão longos? De vez em quando, eles atrapalham minha visão!

– Meu querido– disse pacientemente ela –, os cílios longos e grossos são como uma capa de segurança. Eles ajudam na proteção dos seus olhos quando atingidos pela areia e pelo vento do deserto!

– Tá certo mãe, mas se a corcova é para armazenar gordura enquanto cruzamos o deserto, as pernas para caminhar através do deserto e os cílios são para proteger os olhos da areia do deserto, então, mãe, que diabos estamos fazendo aqui no zoológico?

Pois é, o que será que a mãe respondeu? Será que o filhote concordaria com a explicação de que fazem parte de um grupo de animais confinados para visitação pública? Naquele local em que se encontravam, as corcovas, por exemplo, teriam utilidade?

Da mesma forma, quando alguém não coloca a serviço de Deus os dons que recebeu, fica‘enjaulado’ no mundo materialista, tentando conseguir argumentos para justificar a vida vazia que leva. Uns falam que não têm tempo para participar de reuniões na igreja, outros dizem que rezam em casa mesmo e alguns– os piores! – tentam se convencer que não precisam de Deus.

E você, acha que a caridade não precisa ser praticada por todos? Pensa que quando alguém morre por falta de socorro, o problema não é seu? Espero que, ao contrário, você concorde que ninguém diria isso diretamente a Jesus Cristo sabendo que perderia o Céu, não é verdade?

 

* Do programa ‘Nossa Reflexão’,que vai ao ar em quatro horários no Canal 20: 8h30, 11h30, 17h30 e 22h30. O site www.canal20tv.com.br disponibiliza os vídeos já apresentados na televisão. Clique em ‘Arquivos de Vídeo’ e depois em ‘Nossa Reflexão’.

 

 

 

**TODO ATEU É TRISTE?

 

 

O jornal ‘O Lutador’, de Belo Horizonte, publicou há anos atrás uma matéria assinada por Carlos Scheid, que respondeu à declaração do teólogo Leonardo Boff, quando disse: “Prefiro ser um ateu alegre a ser um religioso do tipo do Pe. Marcelo”.

Inconformado com a alternativa apontada pelo teólogo, Scheid escreveu:

“Ateu alegre não existe. Todo ateu é triste. Quando um ateu honesto e autêntico se vê diante de uma pessoa que crê, não consegue evitar o comentário: ‘Eu gostaria de crer como você!’ Na prática, os ateus são pessoas muito úteis. Prestam à humanidade o precioso serviço de dar o triste exemplo da extrema infelicidade que é viver e morrer sem Deus. Ao contemplar o ateu e seu beco sem saída, o homem de fé pode dar graças a Deus pelo dom da fé.”

E continuou Carlos Sheid:

“Sim, todo ateu é triste. Sua vida não tem sentido. Ignora sua fonte. Ignora seu destino. Se o ateu escreve, destila amargura. O verme do ceticismo e da descrença rói suas noites insones. Se pensa na morte, nela vê um terrível absurdo. No pólo oposto, o homem de fé sabe que a vida se projeta além da morte e pode celebrar antecipadamente o retorno ao coração do Pai.”

Eu acho que você, leitor, gostaria de continuar lendo essa belíssima reflexão do citado autor da matéria, mas acredito que já foi o bastante para consolidarmos uma opinião a respeito do Pe. Marcelo, não? Afinal, o que ele tem feito de errado?

Deus lhe deu uma linda missão evangelizadora e ele a cumpre com Jesus e Maria no coração – como poucos o fazem nesse mundo de tantos pecados e de tantas injustiças com os nossos irmãos necessitados. Talvez a incompreensão de muitos exista porque o Pe. Marcelo se tornou famoso e vende milhares de CDs cantando, mas se esquecem que ele se dedica integralmente às obras da Igreja – inclusive doando os direitos autorais para a sua congregação!

Sabemos que na falta de assunto, vale tudo: até criticar o abençoado Pe. Marcelo. Seria muito mais louvável‘imitá-lo’, procurando levar a Palavra de Deus ao povo via grandes emissoras de rádio e de televisão – ocupando, assim, um espaço que a Igreja Católica poucas vezes conseguiu!

Se até o Papa nos convoca a dar testemunhos de fé cristã rumo a um mundo mais justo, quem somos nós para discordarmos dos meios usados pelo Pe. Marcelo e por outros sacerdotes cantores? Portanto, felizes aqueles que, de coração, seguem os seus passos, pulam e cantam como eles.

Parabéns, grande Pe. Marcelo!

 

** Do programa ‘Acreditamos no Amor’, que vai ao ar em dois horários na Rádio Futura FM, 106,9 MHz: 6 h e 18 h – segunda, quarta e sexta.

Site para ouvir o programa ao vivo: www.futurafm.com.br

 

 

 

 

PAULO ROBERTO LABEGALINI -    Escritor católico, Professor Doutor da Universidade Federal de Itajubá-MG. Pró-reitor de Cultura e Extensão Universitária da UNIFEI



publicado por Luso-brasileiro às 18:17
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JOSÉ CARLOS PASCOAL - A IGREJA ESPERA UMA FORTE AÇÃO DOS BATIZADOS NESTA QUARESMA

 

 

 

 

 

 

 

            Nesta Quaresma refletiremos mais um forte tema social, necessário para a realidade sócio/política do Brasil. A Quaresma é Tempo Forte da Igreja, tempo de reflexão, oração, jejum e esmola. Tempo de conversão para viver a plenitude da Páscoa do Senhor. A Campanha da Fraternidade aborda neste ano a Saúde Pública. É necessário questionar o Executivo, Legislativo e Judiciário, para garantir aquilo que está na Constituição Brasileira: o acesso de todos, especialmente os pobres, enfermos, idosos, aposentados à Saúde Pública, principalmente através do SUS.

            O Sistema Único de Saúde é uma idéia formidável, mas que precisa ser melhor desenvolvida. A corrupção, que teima em desviar recursos da saúde, precisa ser combatida corajosamente. É entristecedor ver que há profissionais que atendem mal os que buscam os serviços de saúde, especialmente os pobres. É lamentável ver que uma pessoa doente precisa esperar meses para conseguir uma consulta especializada, um exame necessário para saber seu estado de saúde (doença). Causa dor no coração saber que pessoas desmaiam ou morrem em longas filas para poder marcar uma consulta num hospital ou Posto de Saúde.

A Pastoral da Saúde tem uma missão desafiadora: lutar pelos direitos das pessoas enfermas. São muitos os presbíteros, diáconos, religiosos e leigos comprometidos com a área da saúde. A Igreja espera uma forte ação por parte deles, tanto na defesa dos direitos como na ação evangelizadora. Há quem entenda que basta rezar no hospital, mas há muito mais a fazer. Toda oração leva a uma ação missionária, social e libertadora.

             Outro grande evento é a realização do Seminário das Pastorais Sociais do Regional Sul 1, que será realizado em Embú das Artes, SP, no período de 16 a 18 de março de 2012. Este encontro marcará o lançamento em São Paulo da 5ª Semana Social Brasileira, evento importante da Igreja no Brasil e que abrirá novos horizontes para entender a problemática político/social, e oferecerá muitos subsídios para as pastorais e movimentos sociais. Que não somente os agentes de pastorais da Igreja Católica compreendam isso, mas todos os que, independente de credo têm como meta atuar em favor dos excluídos, participem ativamente do mesmo e de seus desdobramentos.  O tema é: “Um novo Estado, caminho para uma sociedade do Bem Viver”, e o lema: “Em busca dos sinais dos Tempos: reflexão crítica sobre a história dos dias atuais”. Para inscrição, acessar o site www.cnbbsul1.org.br, link “5ª Semana Social Brasileira.

 

 

JOSÉ CARLOS PASCOAL ,Presidente da Comissão Regional dos Diáconos (Sul1/SP). Coordenador da Comunicação da Comissão Nacional dos Diáconos. Membro da equipe de coordenação do Fórum das Pastorais Sociais do Regional Sul 1 da CNBB. Salto,Brasil

           



publicado por Luso-brasileiro às 18:11
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HUMBERTO PINHO DA SILVA - IGNORÂNCIA RELIGIOSA

 

 

                                                     

 

 

 

 

 

               Ao declinar de tépida tarde de Estio, em anos de juventude, entrei em “ O Comércio do Porto”, a entregar ao Sr. Manuel Filipe, fotografias para a “ Reportagem Gráfica”.

              Encaminharam-me a exígua salinha, de altas paredes, com janela para saguão, onde havia, pesada mesa de pé de galo, de madeira maciça, e sólidas cadeiras, também de madeira.

              Ao sair, perpassei por varandim, onde dois gentis sujeitos, galhofavam animadamente, comentando, entre frouxos risos, o facto de certo jornalista, ateu confesso, ser indicado a cobrir cerimónia religiosa.

              Lembrei-me da caricata cena, hoje, estando a ler o “ Jornal de Notícias”, da cidade do Porto, na confeitaria onde costumo merendar, ao deparar a seguinte informação:

 

 

 

     Cátia Palhinha é evangélica e lê o Bíblia em casa.

A auxiliar de acção médica e a mãe tornaram-se evangélicas há cerca de um ano. A mãe da algarvia diz que a filha “ tem muita fé”

     Cátia trocou há um ano a fé cristã pela evangélica (….)

                              “JN”, pág.31-07/12/2011

 

 

 

               Estava a comentar, em alta voz, a notícia, quando senhora, envolta em falso casaco de peles e dedos cobertos de anéis, tão falsos como o casaco e os brincos, esclareceu meu espanto de: “ trocar a fé cristã pela evangélica”:

 

               - "O que a mãe quis dizer: é que trocou a Igreja de Cristo pela de Deus. Era católica, agora é evangélica."

 

               Empenhadíssimo, agradeci a elucidativa explicação, da gentil senhora, que pelo porte, fez-me recordar recuadas épocas em que haviam Senhoras, no trajo e em espírito.

               Não finei de riso, como fizeram os da comitiva de Frei Bartolomeu dos Mártires, ao chegarem a terras de Barroso, mas pasmei pela ignorância religiosa que grassa pela nossa terra, e queira Deus que seja apenas religiosa, não vá a ignorância entrar, também, nas universidades, que são as “fábricas” de políticos, porque então não há santa que nos valha.

 

 

Humberto Pinho da Silva   -   Porto, Portugal

 

 

 



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PINHO DA SILVA - ASCO

 

 

 

 

 

 

 

Mas entrem, meus senhores, que vale a pena!

- Vem de longe a comédia, e não tem fim;

enquanto dura o mundo, é sempre assim:

outros actores, mas sempre a mesma cena!

 

 

Alcunha-se de génio, a reles pena,

e chama-se " um artista", a pintor ruim;

só tem razão...quem pensa igual a mim,

e a vida bem "vivida", é a obscena!...

 

 

Diz a gente: - "Bom dia!...", por dizer;

-"Bom apetite, amigo!..." - e...que comer?!

Terá ou não terá, também, comida?!

 

 

Comédia das comédias, este mundo!...

Como isto faz, à gente, asco profundo,

como é nojenta a cena desta vida!

 

 

PINHO DA SILVA   -   Vila Nova de Gaia, Portugal

 

 

 

 

 

 

PRAÇA VIVA  -  JUNDIAÍ 2012

 

 

Aproxima-se a edição 2012 do Praça Viva...

O evento acontece todo ano desde 2006, levando Arte - gratuitamente - à praça central de Jundiaí/SP.

São apresentações e oficinas diversificadas que já se firmaram dentro do cenário cultural jundiaiense.

Além disso, marcará presença o tradicional Varal Literário, para o qual estão convidados como sempre poetas de todo o mundo.

O tema é livre.

Quem é daqui de Jundiaí e quiser, inclusive, versar sobre os 150 anos do Solar do Barão, fique à vontade.

Vamos encher os olhos (e fazer arte nas mentes e nos corações) de todos os que por ali passarem, nos dias 4 e 5 de maio.

Para tanto, envie seu(s) poema(s) para o e-mail:   vmalagoli@uol.com.br  - até o dia 13 de abril.

Ao final, por e-mail também, todos receberão seus certificados de participação.

 

 

Valquíria Gesqui Malagoli

 

 



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Terça-feira, 21 de Fevereiro de 2012
CINTHYA NUNES VIEIRA DA SILVA - COLOMBINA

 

 

 

 

 

            Era uma sexta-feira de Carnaval e ela ainda não tinha planos muito definidos. Na cidadezinha do interior, onde morava com os pais e o irmão mais novo, os festejos de Carnaval aconteciam primeiro na Avenida Principal, no início da noite de sábado, com desfile da Escola de Samba Unidos da Esperança, bem como do “Bloco das Marias João”, formado pelos rapazes e pais de família que se vestiam jocosamente de mulher, para deleite daqueles que compareciam, sobretudo das crianças.

            As sextas-feiras, assim, eram destinadas à finalização das fantasias, a arrumação dos acessórios e de expectativa para o evento. Chamada de “Alegria”, a cidadela de 6.500 habitantes mais parecia um grande bairro, mas era famosa pelo seu Carnaval à moda antiga. Era a única época do ano na qual a população sofria um aumento considerável e que gerava algum lucro para as donas das duas pensões existentes.

            Rosélia tinha 21 anos, uma vida de operária, sonhos de menina e responsabilidades de mulher. Com a mãe, dona Rose, sofrendo de artrite deformante em estado avançado, Rosélia ficava encarregada de limpar a casa simples e arrumar a bagunça feita pelo irmão mais novo, Josélio Filho, de 12 anos. O pai, Seu Josélio, trabalhava no Correio de Alegria, fazendo entregas. Na verdade, era o único carteiro na ativa e, a cada dia, conforme seus passos iam ficando mais lentos, mais as pessoas reclamavam que a correspondência vinha chegando mais tarde.

            Rosélia terminou, a duras penas, o ensino médio, cursado no período noturno, depois do seu expediente diário, de oito horas, na Mercearia. Durante um tempo acalentou a ilusão de fazer faculdade de odontologia. Queria ser dentista, principalmente para arrumar os dentes do irmão, cada dia mais tortos, e para consertar as bocas dos pais, que viviam doloridas pelos dentes estragados. O tempo, contudo, foi passando e ela, diante da enfermidade da mãe e das dificuldades financeiras, concluiu, com tristeza, que esse seria um sonho para outra vida qualquer, mas não para essa ou para a dela.

            O Carnaval era a data para Rosélia uma espécie de catarse. Era a única época em que a mercearia fechava e que ela deixava de lado a vassoura e as panelas e se permitia uma pouco de diversão. Passava o ano todo preparando uma fantasia, confeccionada por ela mesma na velha máquina de costura da mãe, usando sobras de pano e aproveitando a fantasia do ano anterior.

            Esse ano era diferente dos anteriores, já que sua amiga de infância, Lúcia, havia deixado Alegria, pois havia se casado com um rapaz da capital. Sem companhia, Rosélia não teve inspiração para criar um visual diferente e até pensou em nem ir, mas, por insistência da mãe, que secretamente recuperou, a duras penas e à custa de muito esforço pessoal, sua velha fantasia de Colombina, resolveu dar uma olhada no desfile e depois ir até o Clube Atlético Alegrense, único e tradicional da cidade.

            Assim, a Colombina Rosélia adentrou, um pouco depois das 21hs, o Alegrense e, ouvindo as marchinhas de sempre, desatou a chorar, pela primeira vez em toda sua curta existência, pelo que o destino lhe parecia destinar. Nunca antes se revoltara, mas naquele momento, sozinha no salão, sentiu pena de si mesma, de sua pequenez. Sentiu, envergonhada, que as lágrimas haviam manchado a maquiagem que cuidadosamente fizera. Logo concluiu que havia sido um erro ir até ali. Via a alegria estampada no rosto das pessoas que dançavam e festejavam, mas não se sentia assim. Deu meia volta, pronta para deixar a festa antes que alguém a visse quando esbarrou, sem querer e desastrosamente, em um Pierrô.

            Rosélia pediu desculpas, mas o Pierrô, de identidade desconhecida, tomou-a pelas mãos, delicadamente e a arrastou salão adentro, brincando de dançar como se fossem, ambos, personagens ilustres de um sambinha feliz. Sem querer reagir àquilo, temerosa de desmanchar a cena, Rosélia sorriu, pensando que, sem dúvida, seus melhores dias eram mesmo os de Carnaval...

 

 

CINTHYA NUNES VIEIRA DA SILVA - Advogada, mestra em Direito, professora universitária e escritora - São Paulo

 



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MARIA CRISTINA CASTILHO DE ANDRADE - FILHOS APÊNDICES

 

                                 

 

 

 

 

Penso no destino dos filhos apêndices. Quem olha por eles? Quem vai ao encontro de seus desencontros? Quem lhes diminui a possibilidade de tragédias? Diante de uma situação sinistra, angustia-me a indiferença a caminhos que salvam.

Os filhos apêndices nascem dos relacionamentos irresponsáveis por parte de um ou dos dois. Nascem por engano ou assim se tornam na infância ou na adolescência. Quando uma comunidade familiar se rompe, o equilíbrio dos filhos deveria sobrepor-se à busca de prazeres dos pais. Os adultos estão mais preparados para a renúncia sem perder a estabilidade que os pequenos.

A mulher quer provar ao companheiro anterior que o supera com outro, conforme ele fez com ela. Coloca um cidadão qualquer dentro de casa, com quem os filhos não se simpatizam e para contê-los usa de agressões verbais e físicas. Afinal de contas, em sua justificativa, tem direito de ser feliz. Se a menina disser que o tal a assediou, é mais fácil acreditar nele. E existe companheiro que compete, com os filhos de outro relacionamento da mulher, em olhares de escárnio e superioridade. Sabe que a mulher o quer por perto e que os filhos dela serão obrigados a aceitá-lo. Inexiste nos ajustes uma conversa sequer a respeito de partilhar a educação das crianças, com as quais ele não se harmoniza, na ternura e na sabedoria. E as madrastas despreparadas? Desejam engravidar para que seus filhos superem os do companheiro. E ele se amolda na ilusão de que os demais filhos possuem condições com sete, nove, dez anos de se virar. Basta a pensão que paga e o protege da cadeia.

Um casal se separa para que a violência não se agigante e mate. O pai encontra um companheiro, assim como a mãe. As crianças ficam de lá para cá. Um denigre a imagem do outro para os filhos em tom de vitimismo. O segundo relacionamento não dá certo. O pai se acerta com uma companheira, da mesma forma que a mãe em busca de um porto. As crianças ficam de lá para cá.  Para um dos púberes surge uma mulher adulta, egressa de uma ligação afetiva e com filhos pequenos. Experimenta no garoto os seus encantos da pele. Ele se desequilibra no prazer até que ela se despede. O menino não quer mais saber da escola e das adolescentes de seu tempo. Deseja apenas aquela mulher que mascarou, por um curto período de tempo, a sensação ruim de ficar de lá para cá. Em princípio, tanto o pai como a mãe consideraram que o filho exercia o seu poder de macho. Ignoraram o risco para o menino. Como filho apêndice, entretido com uma mulher “responsável”, invadia menos o espaço de cada um.

O pai tenta ignorar e a mãe se desespera quando o menino é atraído pelo “buraco negro”, do qual nada, de acordo com a Teoria Geral da Relatividade, nem mesmo objetos que se movam na velocidade da luz podem escapar.  O adjetivo se deve ao fato deste não refletir a nenhuma parte da luz que atinja seus horizontes. Uma nova habilidade do púbere: sorver, na escuridão, com desenvoltura o pó e atuar na venda para poder consumir. Consequência previsível para filhos anexos, extirpados da comunhão de ternura materna e paterna.

A mãe quer saber que atitude externa tomar para impedir que o filho prossiga no caminho do mal. A quem recorrer fora dos horizontes de seu mundo? Penso em lhe responder com a frase da homilia sobre o Eclesiastes de São Gregório de Nissa (Séc. IV): “Aquele que não põe a sua lâmpada sobre o candelabro, mas debaixo da cama, faz com que a sua luz se transforme em trevas”. Ouço e a convido a rezar por ela e pelo filho. É preciso ter coragem para se iluminar, se ver e clarear as proximidades.

Como vencer o abandono de apêndices e garantir o  direito de amor aos filhos?

 

 

Maria Cristina Castilho de Andrade

Educadora e coordenadora diocesana da Pastoral da Mulher/Magdala, Jundiaí, Brasil

 

 



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Segunda-feira, 20 de Fevereiro de 2012
JOSÉ RENATO NALINI - MONSENHOR VENERANDO NALINI

 

 

Há exatamente 50 anos falecia Monsenhor Venerando Nalini. Completara no ano anterior suas bodas de ouro sacerdotais e João XXIII lhe conferira o título de Camareiro Secreto e o elevara à dignidade de Monsenhor. Ele nasceu em 13.12.1885, em Biondi de Visegna, Verona. Veio para o Brasil com 2 anos. Seu pai, João Baptista Nalini, foi professor público nomeado pela Intendência Municipal, para ensinar português aos filhos de italiano do Núcleo Colonial Barão de Jundiaí.

Venerando estudou no Seminário Menor de Pirapora, ordenou-se com 25 anos, em 5.3.1911 e em 1912 foi nomeado Vigário de Cabreúva, onde permaneceu até 1920. Em 1920 tornou-se Vigário da Paróquia Nossa Senhora da Lapa e exerceu o paroquiato por 20 anos. Foi Vigário de Itu de 1940 a 1944, depois Vigário de São Roque até 1946. Neste ano foi nomeado Capelão da Casa de Retiros para Homens em Barueri, a “Vila Dom José”, onde permaneceu a pregar até falecer em 2.2.1962.

Até o final da vida, foi confessor do Cardeal Dom Carlos Carmelo de Vasconcelos Motta. Sua pregação era impressionante. Fazia homens chorar de arrependimento e todos reconheciam o carisma de converter até os mais empedernidos. Não havia ceticismo que resistisse à sua consistente argumentação, sua lógica e capacidade de convencer mediante insofismável raciocínio. Em 10.12.1980, o Governador Paulo Maluf promulgou a Lei 2.595, denominando “Monsenhor Venerando Nalini” a Escola Estadual de Ivoturucaia.

Enquanto esteve em atividade, fazia os casamentos, batizados e sepultamentos da família. Tenho o privilégio de guardar seus escritos, piedosos e instigantes. Alimento a pretensão de um dia ainda publicá-los, para que sua memória sirva de estímulo às novas vocações e também de inspiração para os alunos que têm a ventura de estudar num estabelecimento de ensino que leva seu nome e, com certeza, sua proteção. Costumava trazer balas nos grandes bolsos da batina, distribuindo-as às crianças com as quais era bondoso, bem-humorado e brincalhão. Sacerdotes de outros tempos, que tive a honra e a alegria de poder chamar de “tio”.

 

José Renato Nalini é Corregedor Geral da Justiça do Estado de São Paulo, biênio 2012/2013. E-mail: jrenatonalini@uol.com.br.



publicado por Luso-brasileiro às 11:28
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