PAZ - Blogue luso-brasileiro
Domingo, 6 de Maio de 2012
PINHO DA SILVA - MANEIRAS DE VER
P'ra mim, Lourenço Marques, é a Cidade
que o nobre Portugal ergueu, lá longe;
e não julguem, portanto, me lisonge
o chamar-lhe outra coisa a Humanidade.
Oh, meus amigos, não; por caridade,
por justiça, também, pois que ( je songe!
- não é verdade, não, c'est un mensonge!...)
aquilo é português, p'ra eternidade!!!
Filhos de Portugal, serão seus filhos,
pois manda o coração, e nada mais,
no peito de quem foi e o quer ser;
quem renega, que siga, então, seus trilhos
e que seja, não filho deste pais,
mas filho do Maputo, se quizer!
PINHO DA SILVA - Vila Nova de Gaia, Portugal
Museu do Trabalho Michel Giacometti
Largo Defensores da República
2900-470 Setúbal - Portugal
265537880
Terça-feira, 1 de Maio de 2012
MARIA CRISTINA CASTILHO DE ANDRADE - ASAS SEM VOO
Na região onde resido, circulam dependentes químicos – mulheres e homens, mocinhas e mocinhos -, de expressão fisionômica opaca e sem vida. Alguns se tornam conhecidos pela permanência e outros chegam por um dia e vão embora. Não se sabe de onde veem e muito menos para que lugar se dirigem. Possuem em comum o desejo de uma pedra de crack ou de um pino de cocaína sem perspectiva de construção. Aos moradores, quando questionados, contam histórias diferentes ou desviam das perguntas. Há, ainda, aqueles que, talvez pelos delírios ou pelo cansaço, oferecem respostas que não condizem com as indagações. Os moradores reagem de várias maneiras: existem os que os temem; outros que os repudiam pelos pequenos furtos, cujos produtos são transformados em uma porção de entorpecente; aqueles que, furtados, planejam vingança; os que se comovem; os que tentam interpretar a história de cada um, que leva à dependência química, e os que procuram um caminho para levá-los ao tratamento adequado.
Não se pode dizer que é cômodo morar na rua, sujeito ao mau tempo, à violência, à fome, às doenças, à falta de higiene pessoal e na angústia para conseguir o seu próximo quinhão de prazer e desvario.
Não se pode dizer que é confortável aos moradores saber que, na madrugada, desconhecidos rondam as nossas casas, observando qualquer ponto frágil que possa lhes servir de porta de entrada. Levam objetos que, em determinado lugar, se transformam em “moeda”. Paira no ar um sentimento de medo e inconformação.
Dentre essas criaturas, há uma pessoa que foi piloto com experiência de viagens internacionais. Conhece as paisagens brasileiras e de outros continentes. Carrega com orgulho o seu brevê. Os idiomas que domina, atualmente com palavras e construções truncadas, comprovam a sua capacidade anterior de se relacionar com passageiros de várias nacionalidades. Oferecida ajuda para internação, não aceitou. Justificou-se com a conclusão de que se encontra no caminho da morte.
Cada vez mais me conscientizo que o problema da dependência química, a qual cresce a cada dia e alimenta a indústria perversa e informal do tráfico, está muito mais na perda do gosto pela vida que na falta de conscientização sobre as sequelas do uso de drogas ou na oferta de vagas para tratamento.
Que pode levar um homem, com competência e experiência em voos, a optar pelo pouso definitivo em área contaminada, que arruína os seres humanos, a não ser a derrota de sonhos antigos e a descrença em ideais renovados?
Creio que estamos atrasados para refletir, de maneira profunda, sobre os “valores” que alicerçam a sociedade contemporânea e sugam do ser humano a capacidade de, sem perder a vida, resistir com dignidade nas dores, nos tropeços, nos tombos...
Maria Cristina Castilho de Andrade
Educadora e coordenadora da Pastoral da Mulher – Santa Maria Madalena/ Magdala, Jundiaí, Brasil
<input ... >
FILIPE AQUINO - A PROIBIÇÃO À ORDENAÇÃO DE MULHERES É DEFINITIVA?
Nota da Igreja sobre a ordenação de mulheres
Algumas pessoas me perguntam se a decisão da Igreja de não ordenar mulheres, confirmada pelo Papa João Paulo II na Carta Apostólica Ordinatio Sacerdotalis (22 maio 1994), se é definitiva e válida para sempre.
A Congregação da Doutrina da Fé do Vaticano foi consultada sobre esta questão, e respondeu que SIM. Portanto, a discussão desse assunto deve ser encerrada na Igreja, e os católicos e católicas devem aceitar na “obediência da fé” (Rom 1,5) esse ponto de doutrina que o Papa e o magistério da Igreja definiram como verdade de fé. Sugiro que os fiéis leiam a importante Carta Apostólica do Papa João Paulo II sobre a dignidade e a vocação da mulher: “Mulieris Dignitatem”, para melhor entender o assunto.
Em 28/10/95 esta Congregação emitiu uma Nota que confirma o caráter definitório e irrevogável do pronunciamento do S. Padre João Paulo II. O Papa afirmou que segundo a Sagrada Escritura e a Tradição da Igreja, em relação ao sacramento da Ordem, nem Jesus Cristo nem algum sucessor de Apóstolo conferiu a ordenação sacerdotal a mulheres, tanto entre os cristãos ocidentais como entre os orientais. O Papa se baseou no procedimento do próprio Cristo, que não chamou mulheres para a Última Ceia (na qual instituiu e conferiu o sacramento da Ordem). Segundo ele a Igreja não tem autorização para mudar este ponto. Eis o que disse o Papa João Paulo II: “Para que seja excluída qualquer dúvida em assunto da máxima importância, que pertence à própria constituição da Igreja divina, em virtude do meu ministério de confirmar os irmãos (cf. Lc 22, 32), declaro que a Igreja não tem absolutamente a faculdade de conferir a ordenação sacerdotal às mulheres, e que esta sentença deve ser considerada como definitiva por todos os fiéis da Igreja”.
A decisão do Papa, por mais precisa que fosse, deixou margem a dúvidas sobre o caráter revogável ou não de tal sentença. As dúvidas foram levadas à Congregação para a Doutrina da Fé, que em Nota datada de 28/10/95, respondeu em favor da irrevogabilidade da sentença.
Em seguida publicamos o texto em que a autoridade competente explicita o sentido da Declaração do Papa.
Dúvida: “Se a doutrina segundo a qual a Igreja não tem faculdade de conferir a ordenação sacerdotal às mulheres, proposta como definitiva na Carta Apostólica “Ordinatio sacerdotalis”, deve ser considerada pertencente ao depósito da fé.”
Resposta: Afirmativa. “Esta doutrina exige um assentimento definitivo, já que, fundada na Palavra de Deus escrita e constantemente conservada e aplicada na Tradição da Igreja desde o início, é proposta infalivelmente pelo magistério ordinário e universal (cf. Conc. Vaticano II, Const. dogm. Lumen gentium, 25, 2). Portanto, nas presentes circunstâncias, o Sumo Pontífice, no exercício de seu ministério próprio de confirmar os irmãos (cf. Lc 22, 32), propôs a mesma doutrina, com uma declaração formal, afirmando explicitamente o que deve ser mantido sempre, em todas as partes e por todos os fiéis, enquanto pertencente ao depósito da fé.”
O Sumo Pontífice João Paulo II, durante a Audiência concedida ao abaixo-assinado Cardeal Prefeito, aprovou a presente Resposta, decidida na reunião ordinária desta Congregação, e ordenou sua publicação. Roma, da Sede da Congregação para a Doutrina da Fé, aos 28 de outubro de 1995. + JOSEPH Cardeal RATZINGER – Prefeito
+ TARCÍSIO BERTONE – Secretário
Fonte: Revista “Pergunte e Responderemos”: N. 407/1996, pp. 153-155; e N. 492/2003, p. 266.
A Nota da Congregação para a Doutrina da Fé atrás transcrita cita a Constituição Lumen Gentium nº 25, que reza o seguinte:
“A infalibilidade da qual quis o Divino Redentor estivesse sua Igreja dotada ao definir doutrina de fé e Moral, tem a mesma extensão do depósito da Revelação Divina, que deve ser santamente guardado e fielmente exposto. Esta é a infalibilidade de que goza o Romano Pontífice, o Chefe do Colégio dos Bispos, em virtude de seu cargo, quando, com ato definitivo, como Pastor e Mestre Supremo de todos os fiéis que confirma seus irmãos na fé (cf. Lc 22, 32), proclama uma doutrina sobre a fé e os costumes. Esta é a razão por que se diz que suas definições são irreformáveis por si mesmas e não em virtude do consentimento da Igreja, pois são proferidas com a assistência do Espírito Santo a ele prometida na pessoa do Bem-aventurado Pedro. E por isto não precisam da aprovação de ninguém nem admitem apelação a outro tribunal. Pois neste caso o Romano Pontífice não se pronuncia como pessoa particular, mas expõe ou defende a doutrina da fé católica como Mestre supremo da Igreja universal, no qual, de modo especial, reside o carisma da infalibilidade da própria Igreja”.
“São estes conceitos que fundamentam o caráter definitório e irrevogável da Carta Apostólica Ordinatio Sacerdotalis. Deve-se ainda enfatizar que a posição assumida pela Igreja Católica não implica depreciação da mulher, pois, na verdade, o sacerdócio é uma função de serviço muito mais do que uma honra ou promoção. O único carisma que realmente se deve almejar, é o agape ou o amor cristão (cf. 1Cor 13, 1-13). Na sua Carta Apostólica sobre a Dignidade da Mulher (15/08/1988) o S. Padre lembra que o homem e a mulher são diferentes e complementares entre si, de modo que têm suas funções específicas tanto na sociedade civil como na Igreja; os maiores no Reino dos Céus não são os ministros, mas são os Santos. De resto, observa S. Santidade que à mulher foca um papel de preeminência sobre o homem, que é o de educar o futuro cidadão, talvez chefe e dirigente de projeção na sociedade. Nunca o homem poderá retribuir à mulher que ela assim lhe presta; cf. nº 18.” (D. Estevão Bettencourt)
FILIPE AQUINO - Escritor católico. Prof. Doutor da Universidade de Lorena. Membro da Renovação Carismática Católica.
EUCLIDES CAVACO - ODE À PAZ
É um pequeno poema mas de importância maior
que vos deixo esta semana convidando os meus
amigos e leitores a uma introspecção sobre este tema
que poderá ver aqui neste link:
Desejos de muita PAZ para todos vós.
EUCLIDES CAVACO - Director da Rádio Voz da Amizade.London, Canadá
CINTHYA NUNES VIEIRA DA SILVA - ALÉM DA LINHA DO HORIZONTE
Acho que a gente concluiu que vai ficando mais velho ou mais maduro, seja como for, quando começa a entender certas coisas, bem como a sentir saudades de outras tantas. Muitas vezes, assim, surpreendo-me com sentimentos inusitados, com sensações que desconhecia e, sobretudo, com saudades inexplicáveis.
É claro que eu já tinha ouvido dizer, muitas vezes, que vamos, aos poucos, ficando parecidos com nossos pais e, assim, em muitos aspectos, vejo-me, a cada dia, mais parecida com meu pai, até mesmo naquilo que, na rebeldia (pouca) da minha adolescência, eu criticava. Contudo, mesmo com essa ciência, algumas vezes eu me sinto estranhamente ligada a coisas que sequer conheci, mas das quais ouvi dizer.
Sinto, por exemplo, falta de uma São Paulo que não conheci, que somente vi por fotos e que conheço pelas recordações alheias. Nem sei explicar direito, mas após morar em várias cidades, apenas me encontrei naquela que, muitos anos atrás, eu jurava jamais morar. As paixões, na verdade, são mesmo assim, inesperadas. Quando a gente vê, está apaixonado.
Conheço pessoas que vivem em São Paulo há mais de 70 anos e a cidade que eles me demonstram em lembranças, tem muito do que eu gostaria de ter conhecido e muito do que sinto tanto por ter perdido. Não estou criticando o progresso, até porque ele é inevitável. Particularmente, sou uma amante da tecnologia e gosto da modernidade e do que ela pode oferecer, mas não dá para negar que, com ele, algumas coisas bem ruins vieram a tiracolo.
Fico imaginando como deve ter sido conhecer a São Paulo dos rios navegáveis e limpos. Sonho em como deveria ser viver na cidade da garoa, sem que as ruas cheias de lixo fizessem com que os bueiros transbordassem cada vez que São Pedro lavasse o céu. Fantasio com uma cidade sem tanta violência, sem tanto congestionamento, sem tantos desvios de tantos sentidos. Sobretudo, quando busco o horizonte e não o encontro, sobreposto pelos arranha-céus acinzentados, perdido e inacessível aos meus olhos...
Apesar de todos os pesares, apaixonei-me por São Paulo, ainda que na segunda vez em que aqui vim morar. Paradoxalmente, gosto do ritmo, da variedade de coisas, de pessoas, de culturas. São Paulo é barulhenta, mas é musical. É cinza, mas é multicor. São Paulo é um misto de tudo e desse todo, eu, inexplicavelmente, sinto-me parte.
Deve ser assim, de algum modo, cada um de nós tem um lugar a que pertence, a que se escolhe pertencer. Ainda que me sinta nostálgica, querendo ter tido a chance de ter conhecido a São Paulo antiga, gosto da cidade dos dias de hoje, que me seduz de uma forma que me parece namorar a eternidade.
Além da linha do horizonte, aquele que muitas vezes não consigo ver, vou me tornando um pouco mais como aqueles dos quais descendo. E talvez, assim, perdida em algum lugar no meu DNA, esteja gravada a saudade que tenho daquilo que nunca vi...
CINTHYA NUNES VIEIRA DA SILVA - Advogada, mestra em Direito, professora universitária e escritora - São Paulo.