PAZ - Blogue luso-brasileiro
Quinta-feira, 14 de Fevereiro de 2013
CINTHYA NUNES VIEIRA DA SILVA - FEITO PURPURINA

 

         

 

 

 

 

            Todos os anos ela vestia a fantasia. Escolhia os tecidos com meses de antecedência. Tudo era meticulosamente pensado, tais como as cores, as texturas, o viés e mesmo as linhas. Ela mesma desenhava, fazia os moldes, cortava os panos, juntava tudo como quem pinta um quadro sonhado e, com as linhas da vida, ia tecendo sua fantasia.

 

            Se nada fora como ela tinha imaginado, ao menos no Carnaval ela podia se libertar. Não havia justificativas, frustrações, sofrimento ou decepções. Estava tudo ao seu alcance, eu seu poder, tudo como nunca seria, pois não havia mais tempo para ser. Ela sabia que o tempo havia escoado à revelia de suas aspirações, do que ela imaginara que seria.

 

            Com ela, contudo, nada se deu como de costume, como esperado. Ela fazia parte das exceções e odiava isso com todas as forças de sua alma. Em algum lugar a vida deveria ter um rascunho, algum ensaio. Só que as cortinas já estavam quase cerradas e ela sequer havia participado do número de entrada, sem que, assim, pudesse ter a chance de participar do número principal.

 

            Decidira, para não enlouquecer, que, a sua forma, seria feliz, mesmo que fosse por poucos dias a cada vez. Tomou, por fim, as rédeas imaginárias que poderiam levá-la a lugares que ela sabia que nunca iria, mas que, ainda assim, queria saborear. No Carnaval, vestia suas fantasias, criadas em seu coração e arquitetadas em sua alma.

 

            A vida podia não ter ensaio, mas ela criara outro mundo; um mundo no qual ela era igual a todos os outros, no qual ela não precisava explicar suas escolhas ou suas ausências de escolha. Não precisava colocar um falso sorriso no meio do rosto, não precisava se arrepender do que não fora, do que não pudera ser.

 

            No Carnaval, enquanto os outros vestiam máscaras, ela tirava a sua. Mostrava o que era, o que sempre deveria ter sido, o que nunca poderia ter sido diferente. No Carnaval, ela era plena, repleta da juventude que não tinha, dos sonhos que ainda poderia viver, da vida que deveria sido e não foi.

            No Carnaval, ela era princesa, era rainha, era amada, era amante, era colombina, era purpurina... No Carnaval, os confetes lhe pertenciam, os aplausos também. No Carnaval, ela não era diferente, mas sim, normal. No Carnaval, no meio da folia, ela vestia, por fim, a fantasia, a fantasia da vida que ela queria poder viver e não vivia..

 

            Na quarta-feira, feita em cinzas, ela ressurgia como a fênix invertida, de volta ao arremedo do que chamava vida...

 

 

 

 

CINTHYA NUNES VIEIRA DA SILVA - Advogada, mestra em Direito, professora universitária e escritora - São Paulo.

 

 

 



publicado por Luso-brasileiro às 11:44
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RENATA IACOVINO - VÍCIOS EXEMPLARES

 

 

 

 

 

 

 

Empenhamo-nos nas campanhas antitabagismo e antiálcool.

 

Fumantes – que antes conviviam socialmente nos mais variados meios – veem-se e são vistos à margem, sob olhares recriminatórios e encurralados num beco de preconceitos.

 

Crianças são preparadas para não aceitar os que se inserem nesse contexto.

 

Este preâmbulo não se presta a defender as drogas ou comportamentos fora da moda da moral vigente. Tampouco pretende fazer apologia a uma vida não saudável. Mas antes, tal reflexão veio-me à mente, quando, num restaurante, vi, na mesa ao lado, uma família. Parecia... uma família exemplar (pelo modismo moral vigente?).

 

As três gerações presentes. E a criança caçula já inserida num contexto tão necessário a ela quanto a eles...

 

Ela – com alguns meses de vida – estava sentada em seu cadeirão e à sua frente, um computador onde desenhos e imagens faziam sua... alegria.

Estabeleço, então, o paralelo de que lhes falei acima. O efeito daquela cena chocou-me mais do que ter uma fumaça de cigarro adentrando em minhas narinas enquanto mastigo. Hoje, não tenho mais esse dito incômodo da fumaça, até porque alguém decidiu por mim que isso me seria um incômodo.

Porém, ofende-me as retinas a má educação a que esse pequeno vai submetido. Sem escolhas. Já grandinho, não terá mais poder de distinguir sobre a nocividade ou não do que hoje lhe é aplicado. Estará, pois, submerso no vício.

 

Moderados de plantão dirão que esta é uma postura radical. Talvez os mesmos moderados que rechaçam os consumidores de fumo e álcool.

 

Tudo que nos é permitido adquire aspecto de normal. Então, nossa vista turva quando temos que encarar os possíveis malefícios que podem causar o fato de jogarmos no colo de um ser, sem discernimento ainda, um instrumento que contribui para futuros problemas a serem encarados e tratados pelos envolvidos. E os envolvidos somos todos, uma sociedade calcada no consumismo e no mínimo esforço.

 

Atribuímos o peso do consumo de tabaco aos próprios fumantes. Por que permitimos – sociedade civil e poder público – que os fabricantes continuem com as portas abertas?

 

Talvez pelos mesmos motivos que nos faz condescendentes com toda grade televisa e suas publicidades. A conveniência surge para criarmos um bem-estar aparente.

 

A mesma sociedade que condena uma droga, absolve outra. É... a droga da moda.

 

 

 

 

Renata Iacovino, escritora, poetisa e cantora / reiacovino.blog.uol.com.br /
reval.nafoto.net / reiacovino@uol.com.br



publicado por Luso-brasileiro às 11:39
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JOSÉ RENATO NALINI - TOLERÂNCIA IANQUE

 

 

 

 

 

Convencer as pessoas de que ter armas é melhor do que não ter é a toada dos armamentistas. Eles são intolerantes em relação a quem abomina o uso da arma de fogo. Pior ainda, quanto a radicais – como eu – que acham que alguma coisa fabricada para matar nem deveria existir. Logo após mais uma chacina americana, agora com muitas crianças vitimadas, renasce o movimento frágil daqueles que são contra a venda indiscriminada de arma para o americano “se defender”.

 

Um jornalista que ousou contrariar o lobby dos fabricantes de armas teve sua cabeça a prêmio. Os ativistas pró-armas pediram à Casa Branca a deportação do britânico Piers Morgan, âncora da CNN. Isso porque num debate, ele afirmou que Larry Pratt, Diretor da Associação de Donos de Armas dos EUA, era um homem “perigosos”. Para o lobista, a chacina que matou 20 crianças e 6 adultos só foi possível porque a escola era um local sem armas.

 

Para ele, “os índices de homicídio são muito baixos onde as armas podem ser levadas livremente. Nós só temos problemas nas cidades e, infelizmente, nas nossas escolas, porque pessoas como você foram capazes de aprovar leis que impedem as pessoas de se defender”. O jornalista afirmou que isso era uma estupidez. Onde estão as estatísticas a comprovar que o uso de armas reduz a violência?

 

Ao contrário, é até intuitivo que aquele que possui arma de fogo vai se utilizar dela quando necessário. E existe vasto material já coletado na rotina forense e policial a demonstrar que o inocente portador de armas é um fornecedor gratuito de armamento para a bandidagem. Esta é profissional. O “homem de bem”, com armas “para se defender”, não sabe como evitar o golpe de quem se apodera de revólveres e pistolas dos jejunos.

 

Enquanto houver armas à vontade – e estamos num país onde consta existir um “Estatuto do Desarmamento” – os crimes violentos continuarão a ocorrer. Desarmar não é a solução, mas um eficiente paliativo.

 

Quantas as mortes que teriam sido evitadas se o assassino tivesse sido abordado e sua arma apreendida? O jornalista inglês ainda não foi expulso. Respondeu com a liberdade de expressão, também contida na mesma Constituição que permite ao americano possuir arma de defesa.

 

 

 

 

 

 

JOSÉ RENATO NALINI é Corregedor Geral da Justiça do Estado de São Paulo, biênio 2012/2013. E-mail: jrenatonalini@uol.com.br.



publicado por Luso-brasileiro às 11:33
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MARIA CRISTINA CASTILHO DE ANDRADE - A RESPEITO DE DANOS

 

 

 

 

 

 

 

 

Incomodam-me, demais,  campanhas de prevenção a isto ou aquilo, em que se propõe a redução de um dano sem que se aprofunde em consequências maiores. Acontecem há anos. Dentre elas se encontram algumas, no Carnaval, que dizem respeito ao uso de preservativo e, se beber, à troca de motorista. E deixo claro que não tenho nada contra o Carnaval como manifestação da alegria popular, do qual participei por vários anos, conduzida por marchinhas, confetes e serpentinas.

 

A proposta, das tais campanhas, é mais ou menos assim: pode-se encharcar de bebida, se pegar carona na volta para casa.  E, nos relacionamentos que surgirem, “põe camisinha e faz folia”. Dessa forma, ria à toa, pois “saúde vale ouro” e a DST passa longe.

 

Jamais neguei minhas convicções de formação familiar e de caminhada na Igreja.  Os princípios morais, nos quais fui criada, me fazem feliz e me ajudam a pedir perdão nas quedas. Possuo plena consciência de que as pessoas são livres e de que o Estado é laico e, por isso,  tenho o direito, como cidadã, de opinar. Em primeiro lugar, se fosse possível escolher, os impostos que pago não poderiam ser revertidos na compra de preservativos.  Seriam usados para material educativo que levasse as pessoas a um conhecimento mais profundo dos danos da promiscuidade sexual e do uso indiscriminado de bebidas alcoólicas, pois o que se vê é a disseminação das ideias, acrescentando termos chulos, de que basta trocar de banco do carro e usar preservativo “pra poder dar no couro”.

 

Não identifico, nessa época de festa, um material de aprofundamento sobre as doenças decorrentes do alcoolismo, de como se dá a dependência de álcool, do álcool como porta de entrada para o uso de outras drogas.  Ou se não dirigir, quando estiver alcoolizado, inviabiliza outros efeitos do álcool no organismo? Não encontro, igualmente, a preocupação com o estímulo à promiscuidade sexual, além das doenças sexualmente transmissíveis: desajustes emocionais, vazio interior, autoestima rebaixada, prostituição, distância da espiritualidade etc. É o chamado “vale tudo” que chega, na passarela e nas portas dos clubes, a todas as idades.  Pode-se argumentar que é uma escolha.  Mas será que estão todos realmente preparados, em seu discernimento, para essa escolha? E os adolescentes que são atingidos pelo mesmo tipo de “campanha” e, na rebeldia própria da idade, resolvem experimentar o uso de aguardente e de corpos?

 

Lamentável!

 

Como escreveu São Paulo em sua Carta aos Coríntios ( 6, 12): “Tudo me é permitido, mas nem tudo convém”. 

A omissão é parte da ruína de um povo. Quem sem habilita, diante de conceitos equivocados, a protestar e  a mostrar as inconveniências do incentivo ao uso de álcool e da promiscuidade sexual, através de  propagandas equivocadas?

 

 

 

 

Maria Cristina Castilho de Andrade

Coord. Diocesana da Pastoral da Mulher – Santa Maria Madalena/ Magdala, Jundiaí, Brasil.

 

 



publicado por Luso-brasileiro às 11:24
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CÔN. JOSÉ GERALDO VIDIGAL DE CARVALHO - O LEGADO DO PAPA BENTO XVl

 

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Diante da decisão do Papa Bento XVI de renunciar a partir do dia 28 de fevereiro o importante é, sem dúvida, que se reflita sobre o legado que o sucessor de bem-aventurado João Paulo II deixa para a História. Além de seu acendrado amor à Igreja, com sua invejável cultura, Ele soube sabiamente interpretar o Vaticano II apresentando orientações condizentes a este contexto pós-moderno. Bento XVI é um dos maiores intelectuais do mundo contemporâneo e se tornou um dos mais notáveis pontífices da História da Igreja, um Pastor de almas dedicado, a exemplo de São Paulo, fazendo-se tudo para todos para a todos salvar. Ele ofereceu à Igreja e ao mundo uma extraordinária lição de um estilo pastoral o qual revelou um serviço eclesial que patenteou um Pontífice inteiramente atento a todas as necessidades dos homens e mulheres de todas as nações, raças e crenças. Tal foi sempre sua postura em suas alocuções, nas suas viagens apostólicas na Itália e em outros paises, nos livros que publicou e, sobretudo, nas suas três monumentais encíclicas: “Deus é amor”;Spes Salvi sobre Esperança cristã e “Caridade na Verdade”. Ele soube recolher a herança deixada pelo seus predecessores e, com seu modo de ser doce e reservado, com suas palavras moderadas e profundas, com seus gestos medidos, mas incisivos fez um trabalho apostólico de uma relevância tal que superará todas as declarações tendenciosas daqueles que querem uma Igreja desestruturada e que pregam uma teologia libertária, bem longe da verdadeira libertação preconizada na Bíblia. Ele sempre soube escutar a palavra e a vontade divinas, se deixou guiar continuamente pelas luzes do Espírito Santo. Por isto ele foi um profeta que sempre falou de Deus com uma fidelidade, com um destemor dos grandes personagens bíblicos. Com coragem apontou sempre os erros do mundo hodierno, criticou a violência que pretende ter uma justificação religiosa, execrando sem cessar o relativismo e o hedonismo. Procurou corrigir os desvios éticos com prudência, mas com inflexibilidade. No centro de seu pensamento nunca deixou de estar presente a questão da relação entre a fé e razão, entre a religião e a renúncia à violentação da liberdade religiosa.  Não houve neste pontificado uma involução como certos comentaristas apressados estão propalando, nem ele foi um mero pontífice de transição, mas, isto sim, foi um papa de progressão, que impulsionou um movimento histórico ou marcha para diante da grei de Cristo, resguardando com firmeza os princípios que fundamentam uma fé esclarecida, baseada no amor de Deus pelo homem e que encontra na cruz do Redentor e na sua ressurreição sua máxima expressão. É que para Bento XVI a fé nunca foi uma questão a ser solucionada, mas um dom que deve ser redescoberto dia a dia, trazendo alegria e a plenitude da paz.   As especulações sobre as causas da renúncia do Papa são fruto de interpretações fantasiosas. Na sua declaração o Papa foi claro: “No mundo de hoje, sujeito a rápidas mudanças e agitado por questões de grande relevância para a vida da fé, para governar a barca de São Pedro e anunciar o Evangelho, é necessário também o vigor quer do corpo quer do espírito; vigor este, que, nos últimos meses, foi diminuindo de tal modo em mim que tenho de reconhecer a minha incapacidade para administrar bem o ministério que me foi confiado. Por isso, bem consciente da gravidade deste ato, com plena liberdade, declaro que renuncio ao ministério de Bispo de Roma, Sucessor de São Pedro, que me foi confiado pela mão dos Cardeais em 19 de Abril de 2005, pelo que, a partir de 28 de Fevereiro de 2013, às 20,00 horas, a sede de Roma, a sede de São Pedro, ficará vacante e deverá ser convocado, por aqueles a quem tal compete, o Conclave para a eleição do novo Sumo Pontífice”. É um papa que deixará marcas positivas na história. Cabe agora aos fiéis rezarem para que os Cardeais, iluminados pelo Espírito Santo, escolham o novo Papa que prosseguirá impulsionando a Evangelização no mundo como o fez com galhardia e muito talento Bento XVI. Até lá haverá o abuso indevido dos termos conservador, progressista e quejandos, rotulando aquele que supostamente será o 265o sucessor de Pedro .

 

 

 

 

CÔN. JOSÉ GERALDO VIDIGAL DE CARVALHO   -  da Academia Mineira de Letras. Professor no Seminário de Mariana durante 40 anos. - Viçosa, Brasil.

 

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publicado por Luso-brasileiro às 11:18
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JOÃO CARLOS JOSÉ MARTINELLI - A SEMANA DE ARTE MODERNA E A CONSTRUÇÃO DE UMA CULTURA ESSENCIALMENTE NACIONAL

 

 

 

 

 

 

 

 

 

 

Com a Semana de Arte Moderna de 1922 passou a se desenvolver uma arte genuinamente brasileira. O evento não foi tão importante no seu contexto temporal, mas o tempo o valorizou sobremaneira, influenciando sucessivas gerações de artistas nacionais.

 

 

No período de 11 a 17 de fevereiro de 1922, realizou-se no saguão do Teatro Municipal de São Paulo, a Semana da Arte Moderna, manifestação cultural que constituiu no núcleo principal de todas as transformações que passaram a ocorrer no campo artístico a partir daquele ano até nossos dias. Dezenas de escritores, músicos, artistas plásticos e outros intelectuais propiciaram dias de dança, música, palestras, exposições de quadros, leitura de poesias e trechos de romances. O objetivo era fazer uma revolução cultural no País e introduzir no Brasil alguns dos mais novos conceitos de arte, já vigentes na Europa há mais de dez anos.

 

Na ocasião, foram expostas esculturas de Victor Brecheret, quadros de Anita Malfati, Tarsila do Amaral e Emiliano Di Cavalcanti. No palco do teatro os discursos de Graça Aranha, os poemas de Manuel Bandeira, a prosa de Menotti del Picchia e a música de Heitor Villa Lobos, tendo ao fundo o piano de Guiomar Novaes. Não faltaram também peças de Oswald de Andrade, Mário de Andrade, Sergio Milliet e Cassiano Ricardo.

 

            O movimento criou polêmica, angariando simpatizantes e detratores. No Brasil daquela época, apenas 20% da população era alfabetizada. Os jornais dispensavam pouco espaço ao assunto e a plateia que lotava o Municipal, constituída na sua maioria por uma elite de fazendeiros e empresários conservadores, vaiou os artistas. Hoje, decorridos noventa e um anos, outorga-se grande admiração para aquele provocativo grupo de jovens – erroneamente chamados, na época, de futuristas,  que influenciaram sucessivas gerações de artistas brasileiros.

 

            Tanto que, de acordo com Reinaldo Seriacopi, em artigo publicado na revista “Família Cristã”, “o regionalismo ganhou força nos anos 30 e 40, promovendo um encontro do Brasil consigo e trazendo para a literatura a linguagem do povo - dos sertões nordestinos de Graciliano Ramos aos pampas gaúchos de Érico Veríssimo. Eles eram diferentes da maioria dos romancistas anteriores, que idealizavam o povo, como acontecia com os índios românticos de José de Alencar, por exemplo” (02/1992- ps. 54/55).

 

            Na mesma matéria, o professor de literatura da USP, Valentim Facioli, se expressou no sentido de que os artistas surgidos depois da Semana de 22 continuaram e superaram o projeto inicial dos modernistas. “É um bom sinal, pois do contrário, ficaria provado que o movimento não era tão grandioso quanto se imaginava”. Para ele, a arte brasileira continua com muito potencial a ser desenvolvido “e as raízes estão no Modernismo”. Para Augusto Massi, a geração de 22, por ter atuado em todas as áreas culturais, foi responsável pela abertura de novos e variados caminhos artístico. “O tropicalismo representa, em termos de cultura de massa, o mesmo que a Semana de Arte Moderna” – afirma.

 

            Diz-se por isso, que o principal legado da Semana de Arte Moderna foi libertar a arte brasileira da reprodução nada criativa de padrões europeus, e dar início à construção de uma cultura essencialmente nacional e as ideias inovadoras continuaram a ser propagadas ao longo do tempo, criando-se concepções eminentemente próprias de nosso país.

 

Esperamos que a fraca memória popular não a apague de nossa história para que continue influenciando novos eventos que dinamizem não só a arte em geral, mas a própria cultura, ressaltando a sua função social, integrando-a ao projeto de auto realização de cada cidadão. Vale ressaltar, uma vez mais que, enquanto a os projetos  permanecerem  prerrogativas de reduzidos grupos sociais - como comprovadamente indicam as pesquisas atuais - afastando-se as massas populares por circunstâncias étnicas, econômicas, políticas, eleitoreiras ou por caprichos pessoais e meras disputas de forças unilaterais, dificilmente coexistirão moral pública, progresso material e vida familiar elevados, e que no entanto, são essenciais à consecução do bem comum e à satisfação das exigências humanas.

 

 

 

 

 

JOÃO CARLOS JOSÉ MARTINELLI é advogado, escritor, jornalista e professor universitário. É autor de diversos livros, entre os quais, “Direito à Vida” (Ed. Litearte- 1999).

 

 

 

 

 

 

 

“Abaporu”, quadro de Tarsila do Amaral, um dos principais nomes da Semana de Arte Moderna de 1922

 

 



publicado por Luso-brasileiro às 11:04
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PAULO ROBERTO LABEGALINI - OS DOZE "SIM" DE MARIA - PARTE ll

 

 

 

 

 

 

 

 

Oração é um banho em Deus, um mergulho no amor Divino; e quem faz uma experiência profunda na fé altera o futuro de muitas pessoas, como São Francisco que, mudando de vida, transformou o rumo da História. Portanto, o banho em Deus nunca é sozinho.

 

Ouvi isto em um retiro que participei. Foram feitas reflexões a partir do documento: ‘Maria, rumo ao novo milênio, publicado pela CNBB em 1998. Irei citar os doze‘sim’ da Santíssima Virgem no final do texto, mas, até chegar nesse parágrafo, transcreverei minhas anotações do retiro.

 

Sabemos que, embora batizados para uma vida na santidade, quase todos reclinam dessa condição e caem nos piores pecados. Com Maria Santíssima não foi assim. Concebida sem pecado original, se tornou a primeira discípula de Jesus, além de a mais pura alma que passou pela Terra, a mais santa e a escolhida do Pai. Para São Lucas, ela é a perfeita discípula, aquela que respondeu sempre: ‘Eis-me aqui, Senhor’. Por isso, Nossa Senhora ocupa um lugar especial na Igreja e, considerando que nossa consciência afetiva está no coração, nós a veneramos ainda mais a cada dia.

 

Na minha vida, muita coisa aconteceu e mudou para melhor com ela. Eu me chamaria Maria Auxiliadora se nascesse mulher e, desde pequeno, as comunidades que freqüentei foram todas marianas: Fátima, Medalha Milagrosa, Soledade, Agonia e do Sagrado Coração. Minha conversão maior em 1994 aconteceu quando comecei a rezar o terço e coloquei no peito uma medalha de Nossa Senhora.

 

Todas as curas e grandes graças que alcançamos em família tiveram a intercessão de Maria. E mesmo sabendo que todo poder vem do Altíssimo, sem a ajuda da querida Mãezinha nossa caminhada teria sido mais difícil. Então, faz muito sentido para mim a frase:‘Tudo por Jesus, nada sem Maria’. Também a música que cantamos nas missas é sempre oportuna: ‘Oh, vem conosco, vem caminhar, santa Maria vem!’.

 

Quem não perde a devoção em Nossa Senhora é mais feliz, porque somos seus filhos pelo laço da fé e ela é a imagem daquilo que a Igreja quer. E o que mais me ajuda a viver com ela é a perseverança na fé. Caminho sabendo que nunca estou sozinho e posso receber aquela ajuda que mais preciso. Também acredito piamente nos quatro dogmas de Maria: Mãe de Deus, Virgem Santa, Imaculada Conceição e Assunção ao Céu.

 

Os doze ‘sim’que disse a Deus fizeram dela a santa maior da Igreja. Eis um pouco daquilo que aprendi e guardo no coração:

O ‘sim da salvação’ na anunciação do anjo, o ‘sim da caridade’ na visita à prima Isabel, o ‘sim da vida’ no nascimento do Filho, o‘sim da obediência à tradição’ na apresentação do Menino no Templo, o ‘sim do Plano de Deus’ na fuga para o Egito, o ‘sim à família’ na perda e encontro do Filho, o ‘sim da humildade’ao saber que Jesus disse “minha mãe e meus irmãos são os que fazem a vontade do meu Pai”, o ‘sim da intercessão’ quando pediu vinho ao Filho nas Bodas de Caná, o ‘sim do silêncio’ quando acompanhou Jesus caminhando para o Monte Calvário, o ‘sim de Mãe da Humanidade’ ao acolher aos pés da cruz a vontade de Deus: “Mulher eis aí teu filho”, o ‘sim da felicidade’ ao saber da ressurreição, e o ‘sim de Mãe da Igreja’ em Pentecostes.

 

Eu gostaria de explicar um a um, mas prometi que contaria esta história neste artigo:

 

Construía-se uma grande catedral e muitos operários se ocupavam dos acabamentos. Um pavilhão fora especialmente preparado para outro importante trabalho – era o atelier dos escultores das imagens.

 

Um dia, um senhor resolveu penetrar na intimidade daquele recinto e, tendo identificado o mestre escultor, aproximou-se e contemplou o que fazia. Era a estátua de uma figura humana, entalhada em fino mármore. Lá pelas tantas, atreveu-se a indagar:

 

– Esta é a imagem que irá para o altar-mor?

 

O escultor voltou-se para ele como quem emergisse de profunda concentração e contestou:

 

– Não, este é um dos doze apóstolos que serão colocados ao longo do alinhamento mais elevado da cobertura.

 

– Nesse caso, as imagens ficarão a grande altura do solo e os detalhes jamais poderão ser apreciados! Vale a pena dedicar tanto tempo a isso?

A resposta do escultor veio rápida, encerrando o diálogo com sabedoria:

 

– Ele verá!

 

Pois é, caro leitor, mesmo que nem todos saibam de nossa paixão pela Mãe do Nosso Senhor, Ele sabe. A partir disso, Jesus fará florir no deserto da nossa vida. Isso aconteceu com o Padre Júlio Chevalier, que pediu para esculpir a imagem de Nossa Senhora do Sagrado Coração, onde o Menino aponta para a Mãe, como se dissesse: ‘Ela soube como chegar ao meu Coração’

 

 

 

PAULO ROBERTO LABEGALINI -    Escritor católico, Professor Doutor da Universidade Federal de Itajubá-MG. Pró-reitor de Cultura e Extensão Universitária da UNIFEI.

 



publicado por Luso-brasileiro às 10:59
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HUMBERTO PINHO DA SILVA - A MELHOR ESTATUETA DE EÇA

 

 

 

 

 

 

 

 

 

 

Quando entrevistei D. Emília Cabral, neta do autor dos Maias, fui recebido numa  sombria salinha onde havia muitas fotos de família, livros empilhados e sobre  mesa de roscas, em local de destaque, a estatueta de Gouveia, representando Eça de Queiroz.

 

A neta do escritor, reparando na minha curiosidade, declarou:

 

- Minha avó dizia: Se querem conhecer o avô, tal qual era, basta olhar a estatueta de Gouveia - e acrescentou: Conhece-a?!

- Perfeitamente, tenho um exemplar de gesso.

 

- Pois há poucas! - continuou D. Emília, - que eu saiba, existem quatro, (1) em Portugal: uma, é esta, outra a da minha mana, a Marquesa do Ficalho; há ainda a que se encontra na família da Duquesa de Palmela e a do Palácio de Belém, que pertencia a D. Carlos, julgo que se extraviou pelas caves, há muito….(2)

 

A palestra prosseguiu enquanto mostrava velhas lembranças das famílias: Eça de Queiroz e Condes de Resende.

 

 

 

 

 

 

 

                                                     Desenho a craião, feito pelo autor da célebre estatueta de Eça

 

Por certo a maioria dos leitores nunca ouviram falar do escultor Francisco da Silva Gouveia, ilustre portuense, que os livros de arte registam, a Wikilusa menciona e o dicionário de Eça de Queiroz nomeia e dá-lhe merecido relevo.

 

Tentarei, por maior, esboçar brevíssima biografia do escultor que - segundo a esposa do romancista, Dona Emília de Castro Pamplona (Resende), - conseguiu a melhor representação plástica de Eça:

 

Nasceu no Porto a 12 de Agosto de 1872, na Rua dos Ingleses, filho de abastado comerciante da Rua de S. João, da mesma cidade.

O pai, João Maria de Gouveia Pereira, pretendia prepará-lo para administrar os negócios paternos, mas o rapaz inclinava-se para o desenho.

Certa vez o tio Caetano - irmão da mãe - vendo o pai repreender acerbamente a inclinação, acicatou-o a matriculá-lo na Escola de Belas Artes.

 

Concluídos os estudos na Academia Portuense, deslocou-se a Paris para prosseguir o ensino com reputados mestres da escultura europeia.

Em França foi discípulo de Rodin e Injalbert e recebeu aulas de Falguière, Pueche e Rolard, sendo admitido na Academia Julien e Calaron.

 

O jovem artista torna-se rapidamente conhecido em Paris, graças a tertúlias e às concorridas recepções que Eça de Queiroz organizava na embaixada.

Certa tarde do ano de 1890 estava Gouveia a trabalhar no atelier quando deslumbra, pela janela de guilhotina, graciosa menina, de tez clara e lhano meneios.

 

Abeirou-se da vidraça e verifica que a jovem trajava uniforme do Liceu Fenelon.

 

Era Claire Jeancourt, órfã, oriunda de Boult-aux-Bois. Gouveia ficou entusiasmado com a beleza, mas não se encorajou a declarar-lhe afeição.

Semanas mais tarde, conversando com amigos da precisão de aperfeiçoar o seu francês, pediu-lhes que indicassem professor. Qual não foi o assombro quando soube que a mestra era a menina por quem andava enamorado.

 

Meses depois casaram na Igreja de Notre Dame de Champs, apadrinhados pela Senhora Duquesa de Palmela.

 

Infortunadamente, em 1914, “Fran” - diminutivo carinhoso como a mulher o tratava, - adoeceu gravemente e regressa inopinadamente a Portugal.

Consultado o Dr. Manuel Correia de Barros, oftalmologista, avisaram-no que havia perigo de cegar.

 

Receoso, agasalha-se com a esposa no lar da Ordem do Carmo, no Porto, abandonando os tasselos e as matrizes de fundição.

 

 Nos anos quarenta era frequente vê-los passear pela baixa portuense. Ele, baixo, gordo, segurando guarda-chuva de paninho preto, quase sempre aberto; ela, muito branca, rosada nas faces, esquelética e de estatura elevada.

 

Gouveia iniciou em Portugal as exposições individuais - de inicio nos salões de casas fotográficas; - e foi agraciado pelo Rei D. Carlos, Cavaleiro de S. Tiago; reconhecimento pátrio do elevado valor artístico de sua obra.

 

Na Grande Exposição Universal de Paris do ano de 1900, obteve a medalha de prata e várias menções honrosas pelas obras expostas.

 

Ficou na memória dos que o conheceram a extrema dedicação da esposa. Conta-se que certa manhã de Primavera, Claire, já viúva, deixou tombar, por descuido, o retrato do marido. Curvou-se vertiginosamente e com os olhos azuis, azul miosóte, turvados de lágrimas, beijou-o com ternura e afectuosamente disse:

 

- “ Oh! Perdon, mon amour!

 

Das obras de Silva Gouveia destaca-se a célebre estatueta do escritor, considerada a melhor caricatura de Eça de Queiroz e talvez a estatueta mais notável de Portugal, segundo o parecer de reportados críticos de arte.

 

Exemplar da “Estatueta Célebre” - como foi conhecida na época, - foi adquirida pelo Rei D. Carlos. Até à data do regicídio permaneceu sobre a secretária do seu gabinete de trabalho.

 

Francisco da Silva Gouveia faleceu a 28 de Dezembro de 1951, no Porto, no Hospital dos Terceiros do Carmo.

 

Aqui tem, caro leitor, a breve biografia do artista que conseguiu prender, no bronze, a melhor representação do genial escritor.

 

 

 

 

HUMBERTO PINHO DA SILVA   -   Porto, Portugal.

 

 

 

 

 

1 - Equivocou-se a neta do Eça. Deve haver dezenas, em colecções particulares, além das que foram adquiridas pela: Sociedade “Amigos da Arte” de Bordeux, Academia de Ciências de Lisboa, Museu de Arte Contemporânea, e a que se encontra em Tormes. No Rio de Janeiro, há também um exemplar, pertença de António do Nascimento Cottas. Existe, também, um excelente baixo relevo, de Gouveia, que em nada é inferior à estatueta. Esse sim, é raríssimo; assim como desenho a craião, que ilustra este artigo,do ano de 1927, feito pelo autor da "estatueta célebre".

2 - A estatueta de bronze, que pertencia a Rei D. Carlos, foi adquirido, mais tarde, pelo Marquês de Ficalho , num antiquário lisbonense.

 

 

 

 



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EUCLIDES CAVACO - O DIA DOS NAMORADOS
 
 
 
 
 
 
Olá prezadíssimos amigos
Acabadas as folias de Carnaval, ressurge mais um dia romântico para celebrar O DIA DOS NAMORADOS Aqui lhes deixo a minha versão poética dedicada a esta efeméride tão especial que poderão ver e ouvir em Poema da Semana ou aqui neste link:
http://www.euclidescavaco.com/Poemas_Ilustrados/Dia_dos_Namorados/index.htm

 

 

FELIZ DIA DOS NAMORADOS E DE SÃO VALENTIM.
 
 
 

Euclides Cavaco  - Director da Rádio Voz da Amizade.London, Canadá

cavaco@sympatico.ca


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Sábado, 9 de Fevereiro de 2013
MARIA CRISTINA CASTILHO DE ANDRADE - TUDO ISSO É FÈ

 

 

 

 

 

 

 

Participei, com outros integrantes da Pastoral da Mulher – Santa Maria Madalena/ Magdala, do 8º dia da novena da 13ª. Festa do Padroeiro São João Bosco, no bairro Eloy Chaves, com Missa presidida por Dom Gil Antônio Moreira, atual arcebispo de Juiz de Fora. O tema da festa foi a colocação de Dom Bosco: “Nossa vida é um presente de Deus e o que fazemos dela é um presente a Ele”. O cuidado e o carinho do pároco, Padre Leandro Megeto – desde Seminarista - e dos organizadores, dentre os quais também destaco o Diácono Benedito Pedro, com o Sagrado e o humano, em todas as situações, incensa com perfume do céu a alma dos que participam das celebrações daquela paróquia.

 

A partir da Carta Apostólica do Papa Bento XVI, com a qual se proclamou o Ano Fé, de 11 de outubro de 2012 a 24 de novembro de 2013, Dom Gil Antônio, em sua homilia, refletiu sobre a mesma, trazendo claridade e alegria aos que encontram em Deus o sentido maior de sua vida.  E nos convidou a viver uma fé renovada, celebrada, determinada e compromissada, testemunhando-a na certeza da Eternidade. Cristo ressuscitou e nossa fé, portanto, nas situações agradáveis e desagradáveis, não é vã.

 

Dentre os ensinamentos da fé, que guardo de Dom Gil, em outras situações,  é o de acolher as horas de Deus e elas se diferenciam.  Há horas das trevas, mas o Senhor também nos conduz no vale da escuridão. E nessas horas não se pode esquecer Jerusalém do Calvário e da Páscoa. O Salmo 136 retrata bem isso: “Às margens dos rios de Babilônia,/ nos assentávamos chorando,/ lembrando-nos de Sião./ Nos salgueiros daquela terra,/ pendurávamos, então, as nossas harpas,/ porque aqueles que nos tinham deportado/ pediam-nos um cântico. (...) Como poderíamos nós cantar um cântico do Senhor/ em terra estranha?” Mas testemunha, em seguida, a fé na Cidade Santa: “Se eu me esquecer de ti, ó Jerusalém,/ que minha mão direita se paralise!/ Que minha língua se me apegue ao paladar,/ se eu não me lembrar de ti,/ se não puser Jerusalém acima de todas as minhas alegrias”. É um cântico de dor e de resistência à Babilônia, cujo reinado humano se rebela contra Deus.  O amor apaixonado por Jerusalém e pelo Senhor está acima de tudo.

 

Dom Gil destacou que a fé vivida e celebrada nos transporta aonde não podemos chegar. Creio nisso. Quantas vezes experimentei, além de mim, a emoção da epifania. Quantas vezes ouvi uma voz diferente de minhas conclusões humanas e que me desviou do vale da morte. Quantas vezes vislumbrei uma carícia de Deus numa paisagem, nos tons de uma borboleta, no voo de uma avezinha, em um abraço inesperado. E, diante das intempéries, o Senhor nos diz: “No mundo havereis de ter aflições. Coragem! Eu venci o mundo”. Tudo isso é fé.

 

 

 

Maria Cristina Castilho de Andrade

Coord. Diocesana da Pastoral da Mulher – Santa Maria Madalena/ Magdala, Jundiaí, Brasil.



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RENATA IACOVINO - REVOLUÇÃO E SENSIBILIDADE

 

 

 

 

 

 

 

 

 

            Falar em pontualidade relacionada a horário, neste país, soa estranho. Ou melhor, ser pontual parece estranho, porque falar... todos falamos.

            Queremos pontualidade, criticamos a falta dela, mas parece que sempre corremos atrás de sermos pontuais.

 

            Comentei, em outro artigo, sobre como, nos dias atuais, o empenho da palavra perdeu sua força. "Dar a palavra" é quase equivalente a não dar. Uma face de uma mesma moeda. A moeda que nada vale... Coitada da palavra, pobre palavra, reduzida à miséria (des) humana do descaso, do descarte, da abreviação desmedida e perversa, que faz de nossa rica Língua, um bueiro de verborragias tóxicas e anômalas.

 

            Não é de se admirar que conceitos básicos como "ser pontual", dirigir-se ao outro educadamente, e antes, lembrar que existe o outro, respeitá-lo em sua diferença, saber que há o diverso, inclusive... tornou-se atitude obsoleta.

 

            Pois vivemos a cultura do uniforme, dos cérebros massificados, do tudo igual que é legal, do modismo medíocre e apático, desvestido de olhar crítico, desvestido de olhar...

 

            Em outros tempos - e é interessante lembrar que há bem pouco - ser diferente era o que provocava a transformação. A diferença é o que praticamente sempre fez a revolução. Mas não mais queremos a revolução, queremos a involução. A busca pelo crescimento estagnou-se em prol de uma tecnologia embebida de fetiches e artifícios que levam quase qualquer um ao claustro anti-intelectual.

 

            E a revolução está em pequenos atos. Não falo apenas da revolução feita por alguns e sonhada por tantos outros idealistas. Refiro-me, principalmente, àquela que está ao nosso alcance no dia a dia. Uma revolução poética. A que nos faz acordar da automação, nos dirigirmos ao outro de maneira verdadeira, sem cordialidades hipócritas. Olhar para o outro e, de fato, vê-lo, ouvi-lo.

 

            O que existe, hoje, é um eco surdo: falamos para que nós mesmos ouçamos. Ouvir o outro? Nem pensar! Parece que com tanta tecnologia, vimos evoluindo um dispositivo que repulsa o diálogo e coisinhas do gênero.

 

            O peixe que se vende é que toda essa nova forma de informação e de... evolução (?), cria uma nova geração dotada de potencialidades diferentes. Resta saber se essas potencialidades não estão deteriorando outras.

 

            O cérebro é passível de ser substituído. E como destruiremos a sensibilidade?

 

 

 

 

Renata Iacovino, escritora, poetisa e cantora / reiacovino.blog.uol.com.br /
reval.nafoto.net / reiacovino@uol.com.br



publicado por Luso-brasileiro às 14:28
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JOÃO CARLOS JOSÉ MARTINELLI - CAMPANHA DA FRATERNIDADE COMPLETA CINQUENTA ANOS E ENFOCA A JUVENTUDE

 

 

 

 

 

 

 

 

 

                       

A Campanha da Fraternidade é um evento realizado anualmente pela Igreja Católica Apostólica Romana no Brasil, sempre no período da Quaresma e coordenado pela Conferência Nacional dos Bispos do Brasil (CNBB). Seu objetivo é despertar a solidariedade dos fiéis e da comunidade em geral, referentemente a um problema concreto que envolve a sociedade brasileira, buscando caminhos de solução. A cada ano é escolhido um tema, que define a realidade concreta a ser transformada, e um lema, que explicita em que direção se busca a transformação. Os de 2013 - quando o evento comemora seu cinquentenário - são respectivamente “Fraternidade e Juventude” e “Eis me aqui, envia-me” (Is 6,8).

 

O objetivo geral desta vez é acolher os jovens no contexto de mudança de época, propiciando caminhos para seu protagonismo no seguimento de Jesus Cristo, na vivência eclesial e na construção da vida, da justiça e da paz. Por outro lado, são objetivos específicos: propiciar aos jovens um encontro pessoal com Jesus Cristo a fim de contribuir para sua vocação de discípulo missionário e para a elaboração de seu projeto pessoal de vida; possibilitar aos jovens uma participação ativa na comunidade eclesial, que lhes seja apoio e sustento em sua caminhada, para que eles possam contribuir com seus dons e talentos e sensibilizar os jovens para serem agentes transformadores da sociedade, protagonistas da civilização do amor e do bem comum, conforme dados divulgados pela própria organização.

 

 

 

 

 

De acordo com Frei Moacyr Grechi, a Campanha da Fraternidade “tem como proposta um olhar mais atento à realidade dos jovens, acolhendo-os com a riqueza de suas diversidades, propostas e potencialidades; auxiliando-os neste contexto de profundo impacto cultural e de relações midiáticas; maior solidariedade em seus sofrimentos e angústias, especialmente junto aos que mais sofrem com os desafios da exclusão social, reavivando seu potencial de participação e transformação”.

 

Trata-se de uma realização de grande importância. A juventude brasileira constitui um dos maiores segmentos da população: são 51 milhões de jovens entre 15 e 29 anos no Brasil segundo o censo do IBGE (2010), isto é, um quarto da população. A Campanha, no contexto do Ano da Fé, pretende mobilizar a Igreja e os segmentos da sociedade, a fim de se solidarizarem com os jovens, favorecendo-lhes espaços, projetos e políticas públicas que possam auxiliá-los a organizarem a própria vida a partir de escolhas fundamentais e de uma construção sólida do projeto pessoal, a se compreenderem como força de transformação para os novos tempos, a desenvolverem seu potencial comunicativo pelas redes sociais em vista da ética e do bem de todos, a assumirem seu papel específico na comunidade eclesial e no exercício do protagonismo que deles se espera, nas comunidades e na luta por uma sociedade que proporcione vida a todos.  “Dentro do sentido da palavra ‘acolher’ está o valorizar, o respeitar o jovem que vive nesta situação de mudança de época e isso não pode ser esquecido”, destacou Dom Eduardo Pinheiro, presidente da Comissão Episcopal Pastoral para a Juventude da CNBB.

 

Ressalte-se que atualmente, o consumismo desenfreado dita regras e os reais valores estão sendo substituídos por objetivos meramente mercantilistas. Enfim, a sociedade busca exclusivamente por interesses unilaterais e o capitalismo passou a gerenciar os atos e atitudes da grande maioria. Nesse quadro, os maiores prejudicados são os jovens, cujos anseios são frustrados por uma concorrência desleal e por apadrinhamentos políticos, surgindo falta de esperança e de estímulo. Eles merecem acolhimento, respeito e principalmente, formação e informação. Diante da Campanha da Fraternidade, vamos colaborar para que esses atributos se transformem em realidade.

 

 

 

 

 

 

JOÃO CARLOS JOSÉ MARTINELLI é advogado, jornalista, escritor, Mestre em Direito pela PUCCamp e professor de Direitos Humanos da Faculdade de Direito do Centro Universitário Padre Anchieta de Jundiaí-SP

 



publicado por Luso-brasileiro às 14:16
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JOÃO BOSCO LEAL - AS CURVAS DA RETA

 

 

 

 

 

Há aproximadamente cinco décadas, as drogas, lícitas ou não, estão sendo utilizadas por jovens, pilares de sustentação da sociedade, seu futuro. Como resultado, atualmente no mundo, milhões de pessoas de uma a seis décadas de vida estão envolvidas drogas.

 

Grande parte da sociedade, principalmente a classe mais abastada financeiramente, passou a fazer vista grossa ou achar normal a utilização das mesmas em festas fechadas de boates, clubes ou residências.

 

Diante dessa facilidade, admissão e permissividade, muitos que nunca as haviam experimentado acabam cedendo e as experimentam. Alguns ficam somente nessa experiência, mas a grande maioria acaba se viciando.

 

O mesmo ocorre com as bebidas alcoólicas que atualmente são utilizadas por pessoas cada vez mais jovens ou até antes da sua juventude. Pode até parecer algo sem muita importância, mas não é principalmente porque, elas ainda não possuem sequer seus órgãos digestivos e filtrantes naturais totalmente desenvolvidos.

 

Essas crianças ou jovens certamente terão uma vida menos saudável e, como continuarão bebendo, abrirão também as possibilidades para novas experiências, como as drogas ilegais, cuja utilização leva pessoas honestas e muitas vezes socialmente bem posicionadas, para o caminho da ilegalidade.

 

E esse tipo de comportamento leva a outros também não socialmente apropriados, como as mentiras, primeiro para esconder a utilização das mesmas e depois para enganar a si própria, quando tenta buscar explicações e desculpas, ou até menciona orientação médica para seu uso, como a de que uma taça de vinho ao dia faz bem.

 

Realmente sempre se ouve dizer que essa taça diária faz bem, mas quem a pronuncia normalmente não bebe somente uma taça. São pessoas que passam a sentir necessidade do uso diário de alguma bebida e, quando o organismo já sente essa falta, como também a do cigarro, ela pode até tentar mentir para si própria, mas no fundo sabe que já é uma viciada.

 

As drogas, lícitas ou ilícitas viciam, e mesmo quando esse vício é de um medicamento clinicamente indicado para determinada ocasião, não se consegue abandoná-lo sem uma ajuda médica, que, sabendo como age a droga, provavelmente também saberá qual o processo menos doloroso para o abandono de seu vício.

 

A vida é como uma escada, ou uma estrada com várias ramificações, desvios. Podemos subir, descer, permanecer na mesma altura, virar a direita, à esquerda, fazer o contorno ou seguir em frente. A escolha é pessoal, mas os resultados, as consequências, serão diferentes diante de cada escolha.

Entretanto, ela é tão bela que, quando percebemos que a escolha realizada não foi a melhor, normalmente ainda temos uma chance de voltar e recomeçar a escalada ou o caminho. Quem fez uma curva quando deveria seguir por uma reta, só precisa ter a humildade de reconhecer o erro e a vontade de querer acertar.

 

Através da verdade, aquele que errou o caminho, mas reconheceu esse erro e buscou ajuda, conseguirá novas oportunidades.

Sempre haverá parentes, amigos, namorados ou qualquer outra pessoa, muitas vezes até uma desconhecida, disposta a nos ajudar em uma nova tentativa de escolha.

 

Em todas as áreas, o passo mais importante é reconhecer os erros e retomar o caminho.

 

 

 

JOÃO BOSCO LEAL, é articulista político, produtor rural e palestrante sobre assuntos ligados ao agronegócio e conflitos agrários. Campo Grande, Brasil.

 

 



publicado por Luso-brasileiro às 12:28
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