As constantes crises políticas brasileiras, os escândalos de corrupção, a deficiente fiscalização e regulação por órgãos e autarquias governamentais e mesmo boa parte dos problemas sociais, inclusive a violência, têm um componente que continua impenetrável: o poder econômico. Na verdade, o resultado mais latente de sua influência é que relações de dominação e força, em vez de regras jurídicas fundadas na moral e na ética, passam a ditar os relacionamentos entre as pessoas.
Tais aspectos são evidentes no nosso cotidiano e infelizmente vêm de cima para baixo, ou seja, muitas autoridades e setores administrativos do país sucumbiram aos resultados sociais e econômicos desta triste situação. O que ocorre atualmente no Senado Federal, com salários e aposentadorias milionárias, demonstra cabalmente o desrespeito com a população e com o erário público, sem que ocorram quaisquer punições aos infratores, alguns inclusive, representantes eleitos pelo voto popular.
O conselheiro federal da OAB – Ordem dos Advogados do Brasil, Luiz Carlos Levenzon, há dois anos atrás, em artigo publicado pelo jornal “Zero Hora”de Porto Alegre – RGS, com raro brilhantismo já apontava aspectos que são manifestamente atuais:- “Diariamente a sociedade toma conhecimento de atos que confrontam com a moral e o direito. São novos na forma e na engenhosidade, e por até então estarem ocultos. Tornam-se públicos quando divulgados pela imprensa, que desempenha esta importante tarefa. Na substância, entretanto, não são originais. Ademais, tornar públicos atos dessa natureza significa submetê-los à avaliação da sociedade. Por isso, o desespero que se percebe entre aqueles que praticam tais atos ilícitos. Enquanto ocultos, geram benefícios particulares. Tornados públicos, acarretam a condenação moral pela sociedade. A censura social, realizada pela crítica que se segue ao conhecimento destes atos, é legítima, pois decorre da capacidade de indignação. Da não aceitação de condutas reprováveis” (29.06.2007- p.24).
Com efeito, o nobre jurista conclama para que as pessoas se levantem e repudiem energicamente situações em que recursos públicos sejam desviados, e utilizados para atender interesses particulares e tantas outras que contrariam princípios de Direito e sobreponham a própria dignidade do povo em geral. “Na medida em que aumenta – prossegue ele - e vai se tornando efetiva a participação do cidadão, se estabelece uma linha de controle rigoroso e eficaz. O repúdio coletivo à ruptura de normas éticas é perceptível. Não é admissível que faz-se a crítica pela via da generalidade, mas com a ressalva da necessidade de preservação das instituições. O Estado brasileiro tem ainda um enorme papel e desempenhar, especialmente para cumprimento das determinações constitucionais de alcançar a justiça social, a distribuição de renda e a erradicação da pobreza”.
Efetivamente, quem olha o Brasil apenas em seu aspecto de desenvolvimento e conquistas econômicas recentes pode até chegar à conclusão de que o país vive um de seus melhores momentos históricos, o que, em parte, é verdade. Mas uma análise mais acurada vem mostrar que, apesar dos avanços, o cidadão brasileiro continua assediado de todos os lados por problemas que o impedem de desfrutar plenamente da própria liberdade. É tudo por uma questão de falta de justiça social, que não permite a todos igual acesso aos bens materiais e culturais, aos meios de expressão e principalmente pelo mal e até inescrupuloso uso do dinheiro público.
Quem sabe assim, poderíamos reduzir a nossa lamentável e excessiva impunidade, fazer justiça com letras maiúsculas e eliminar da vida brasileira uma de suas manifestas angústias, tão bem concebida por Rui Barbosa: “De tanto ver triunfar as nulidades, de tanto ver crescer as injustiças, de tanto ver agigantar-se o poder nas mãos dos corruptos, o homem chega a desanimar-se a virtude, a rir-se da honra e a ter vergonha de ser honesto”.
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Naquela noite, enquanto a esposa servia o jantar, o marido segurou sua mão e disse-lhe:
– Quero o divórcio. Nosso casamento acabou.
Ela ficou muito brava. Jogou longe os talheres e gritou:
– Você resolve isso sozinho? Você não é homem para enfrentar os nossos problemas?
Naquela noite não conversaram mais. Ouvia-se apenas ela chorando, sabendo que o coração dele não pertencia mais a ela. A mulher que ele conviveu pelos últimos dez anos tornou-se uma estranha.
No dia seguinte, após passar a tarde com outra mulher, o marido chegou em casa e encontrou a esposa sentada no sofá, à sua espera. Então, ela apresentou suas condições para o divórcio: não queria nada dele, mas pediu um mês de prazo antes de se separarem. Pediu ainda que, durante os próximos trinta dias, ele a carregasse no colo para fora da casa todas as manhãs, ao sair para trabalhar. Ele estranhou, mas concordou.
Quando a levou no primeiro dia, foi muito estranho. O filho pequeno os aplaudiu, dizendo:
– O papai está carregando a mamãe no colo. Viva!
Suas palavras causaram constrangimento. Ela fechou os olhos e falou baixinho:
– Não conte para o nosso filho sobre o divórcio. Ele tem provas para fazer e precisa de paz.
No segundo dia, foi um pouco mais fácil para os dois. Ela apoiou-se no peito do marido, que sentiu o cheiro do perfume que usava. Então, percebeu que há muito tempo não prestava atenção naquele aroma delicioso. Pensou que aquela mulher havia dedicado uma dezena de anos da vida a ele, sem nunca pensar em outra pessoa.
Nos próximos dias, foi virando rotina e, às vezes, até divertido. Ela havia emagrecido bastante, estava mais serena e bonita. Certa vez, o filho entrou no quarto do casal e disse:
– Pai, está na hora de você carregar a mamãe. Posso ajudar?
No último dia, quando a segurou, por algum motivo ele não conseguia mover as pernas. O menino já tinha ido para a escola e o marido pronunciou estas palavras:
– Eu não percebi o quanto perdemos da nossa intimidade com o tempo. Não quero mais me divorciar. Por favor, me perdoe, posso voltar a fazê-la feliz.
Ela tocou na testa dele e falou:
– Você está com febre? Mas, se quiser falar sério, saiba que nosso casamento ficou chato porque não soubemos valorizar os pequenos detalhes da vida; não foi por falta de amor.
Ele a carregou com muito carinho e foi trabalhar. No caminho de volta para casa, comprou um buquê de rosas e escreveu: ‘Eu te carregarei em meus braços todas as manhãs até que a morte nos separe’.
Nas semanas seguintes ele ficou sabendo que a esposa estava muito doente e vinha se tratando há meses. Muito ocupado com outras mulheres, não houve tempo para se informar da enfermidade da esposa. E mesmo sabendo que morreria, ela quis poupar o filho dos efeitos do divórcio, prolongando a vida a três junto à família que constituiu. Valeu a pena porque, pelo menos aos olhos do filho, o pai era um homem muito carinhoso com a mãe.
Durou pouco tempo a felicidade que voltou a existir naquele lar. Ela se foi e restou a saudade que a grande mãe e dedicada esposa deixou. Se detalhes importantes ao casamento fossem valorizados, teriam plantado a felicidade com raízes mais profundas desde o início.
E foi pensando mais ou menos isto que escrevi o romance ‘O Mendigo e o Padeiro’; Editora Paco – uma história que retrata dois personagens em busca de um modelo de felicidade conjugal.
Dizer que todo casamento precisa de paz, de amor e de fé, não é novidade para qualquer pessoa. Há algum tempo, também tenho dito que não pode faltar o perdão, a verdade e a oração. Agora, porém, no livro, o mendigo e o padeiro descobriram coisas novas. Só lendo para saber mais detalhes da felicidade conjugal.
PAULO ROBERTO LABEGALINI - Escritor católico, Professor Doutor da Universidade Federal de Itajubá-MG. Pró-reitor de Cultura e Extensão Universitária da UNIFEI.
Lançamento de livro:
Histórias Cristãs – Editora Raboni – Paulo R. Labegalini (www.raboni.com.br)
Tenho insistido na degradação a que chegou a nossa língua com a conivência de muitos e a indiferença de quase todos. O problema já é antigo. Nos meus primeiros artigos neste Jornal, eu relatei que a Imprensa Nacional-Casa da Moeda, dirigiu em Abril de 1981, a sessenta e oito escritores portugueses (romancistas, poetas, professores, críticos literários) uma circular, convidando-os a falarem da sua experiência e das suas opiniões de autores preocupados com a sua língua. Foram recebidas apenas dezassete respostas. A Casa das Moeda não quis fazer juízos de fundo sobre o significado das ausências, mas lamentou o facto de grande parte dos intelectuais contactados não estar interessada nem se preocupar com a defesa e o futuro da sua língua.
Como tenho mostrado, nada melhorou. Grande parte dos mentores e corifeus da nossa vida social e cultural, sente-se bem na categoria que lhe deram e não se sente na obrigação de se aperfeiçoar em nada, muito menos na rectidão da linguagem. Já ouviram dizer uma vez ou outra que muitos dos nossos intelectuais, deputados, ministros, críticos, locutores da rádio ou da TV, comentadores, etc., dão erros de toda a espécie, mas isso não é chuva que os molhe, nem vergonha que os faça corar. Tudo continua inalterado, alegremente, serenamente…
No segundo artigo desta série, eu manifestei a opinião de que quem deve pontificar na língua portuguesa somos nós, os portugueses, os que desde há alguns séculos caldearam essa língua, neste rincão que se chama Portugal. Somos nós que a devemos preservar e defender para a podermos “impor” como valor social, espiritual e cultural a todo o mundo. Mas, perante o panorama que se observa, perante a indiferença e apatia de grande parte de quem mais se devia interessar, torna-se lícito perguntar se os portugueses têm realmente esse direito de dar aos outros povos directrizes sobre a sua própria língua.
De facto, é uma realidade que o inglês está a ter uma hegemonia mundial e, pelo que se observa na internet, não somos só nós a permitir. Há, por exemplo, o “Dia Europeu das Línguas”, 26 de Set. de cada ano, dia com celebrações culturais em que teoricamente se procura o multilinguismo, ou seja, a conveniência de ordem social e cultural de cada cidadão europeu conhecer pelo menos duas línguas, para além da sua língua materna. Em Set. de 2011 celebrou-se o 10º.aniversário desse DIA, mas, pesquisando na internet, vê-se que o impacto na vida cultural portuguesa é praticamente nulo. Procurando referências a esse DIA de Set. de 2009, encontramos: “Em Bruxelas – ver: Relatório sobre as comemorações” ; convite em português mas o relatório está totalmente em inglês. Fala-se da intervenção de doutores e institutos (poucos…), mas não se vê concretamente em que consistiu essa intervenção. Procurando informações sobre esse DIA em 2012, aparece-nos a certa altura um quadro bem desenvolvido com os muitos países participantes, iniciativas tomadas, datas, locais e público a que se destinaram: estudantes, professores, tradutores, catedráticos, público em geral e mesmo crianças. A participação de Portugal é a mais modesta, para não dizer mesmo ridícula, pois foi apenas uma, destinada a …tradutores. De notar que todo este quadro está em inglês. Pelo exposto, não admira que entre nós tudo seja tão desconhecido e que, ao fim e ao cabo, o pretendido multilinguismo não passe de teoria pouco praticável de fracos resultados, do que o inglês é beneficiário.
Há em São Paulo, Brasil, não em Lisboa, um MUSEU DA LINGUA PORTUGUESA. Não é um museu-edifício, tal como o leitor pode estar a imaginar, mas uma ala dum grandioso edifício no centro daquela cidade, concretamente, na Estação da Luz. Se o leitor dispõe de internet pode pesquisar facilmente, e verificar que é um local condigno de cultura sobre a língua portuguesa, sob a tutela da Secretaria da Cultura do Governo do Estado de São Paulo. No dia 11 de Agosto de 2012, por exemplo, realizou-se mais um dos diversos eventos culturais, dessa vez um curso denominado MUNDO, LÍNGUA, PALAVRA. Para além dessas iniciativa culturais e às vezes artísticas, há a parte histórica e instrutiva sobre a formação da língua, desde os romanos, com a influência dos árabes e da era dos descobrimentos, não deixando de falar, como é óbvio, nas primeiras gramáticas, sendo mesmo a primeira a de Fernão de Oliveira, publicada em 1536, seguida pela de João de Barros em 1540. A internet informa que este MUSEU foi inaugurado em 20 de Março de 2006 e que até 28 de Dez. de 2012 tinha recebido mais de 2.900.000 visitantes. Tudo isto no Brasil, não em Portugal. Que deve haver no pensamento e no sentimento de um português que se preze? O leitor já conhece a minha resposta. Dê a conhecer a sua, a mim e aos seus amigos. É assunto pouco conhecido e falado, mas que devia ser muito falado e conhecido.
(continua)
LAURENTINO SABROSA - Senhora da Hora, Portugal
Uma expressiva parcela da população brasileira acabou indo, ontem, finalmente para as ruas a se manifestar no sentido de cobrar dos governos, tanto locais como regionais e nacional, que sejam revistas as suas políticas administrativas e suas agendas de prioridades do uso do dinheiro público ao longo de décadas de lentidão e incompetência governamental eivadas de extensa corrupção e práticas espúrias e inconstitucionais, principalmente depois que o PT (Partido dos Trabalhadores) chegou ao poder.
Manifestantes ocupam a Praça da Sé, em São Paulo num movimento que não é de todo pacífico pela ação de pequenos grupos orientados e financiados pelos partidos de esquerda radicais e do próprio PT.
As manifestações, que se iniciaram na segunda feira, ganharam magnitude ao longo da terça feira de ontem, não só nas maiores capitais do país, mas em muitas outras cidades.
Tais manifestações, que no total envolveram mais de 250 mil pessoas, em outros tempos seria o bastante para, com o apoio das Forças Armadas, governantes serem destituídos e se restabelecer a ordem institucional no país, mas que, hoje, após extenso grau de aparelhamento do estado pelo PT e base aliada, este é um resultado que, apesar de muito esperado pelo povo, é difícil de ser realizado.
O contraste dos investimentos bilionários do governo para a Copa do Mundo da FIFA em 2014 e para as Olimpíadas em 2016 no Rio de Janeiro e a situação calamitosa em que se encontram os principais serviços públicos e a falta de infraestrutura num país que tem uma das mais altas cargas tributárias do planeta, tem sido o motor dessas manifestações de insatisfação social.
O aumento de vinte centavos de real na passagem dos ônibus em São Paulo, a maior cidade da América do Sul, serviu apenas de estopim para o extravasamento de tanta insatisfação e indignação há décadas reprimidas pelo povo. A subida da inflação, de aumento geral de preços e do custo de vida no país, paralelamente à farra com que os governos fazem com os recursos tributários agravada do alto enriquecimento ilícito evidente dos agentes públicos, acabou determinando toda a movimentação.
A presidente Dilma Rousseff, uma ex-guerrilheira comunista e que esteve presa durante o regime militar que governou o país de 1964 a 1985, que alegadamente a teria torturado, embora os dados conhecidos não confirmem isso, buscou imediatamente tirar proveito político dos protestos, apesar de o seu governo ser o alvo central das manifestações, assim como a Prefeitura da cidade de São Paulo. Dilma chegou a dizer que “o Brasil acordou mais forte hoje”, embora isso signifique que o prestígio dela e de seu partido tenha amanhecido muito mais fraco.
Dilma Roussef continuou seu discurso de capitalização dos protestos, afirmando ainda que “o tamanho enorme dos protestos de ontem demonstram a energia da nossa democracia, a força das vozes da rua e a civilidade de nossa população. As manifestações pacíficas são legítimas e fazem parte da democracia e é natural que os ‘jovens’ estejam insatisfeitos”.
O movimento inicial foi de maioria estudantil que luta por “Passe Livre” nos ônibus e trens do metrô em São Paulo, mas se fosse apenas isso, os protestos não teriam prosperado. De fato, as manifestações de insatisfação logo recrudesceram levando para as ruas um contingente cada vez maior de pessoas a reivindicar coisas muito mais importantes do que simplesmente a anulação de um aumento de vinte centavos nas passagens dos transportes coletivos.
O movimento de protestos hoje no Brasil envolve espontaneamente brasileiros de todas as idades e não apenas em São Paulo, mas em muitas cidades médias e grandes do país. Brasileiros, no exterior, também têm feito demonstrações contra o governo de Brasília, o que recebe a devida cobertura da grande mídia nacional. Exigem uma série de reivindicações das quais, todavia, se destaca uma: a da melhoria importante dos serviços públicos de saúde, educação, infraestrutura e segurança pública, que têm sido deploráveis, apesar dos governos arrecadarem uma das maiores taxas tributárias do mundo.
Mesmo tendo a imensa maioria dos manifestantes vindo às ruas para protestar pacificamente, como soe acontecer, há uma minoria militante e organizada pelos partidos de extrema esquerda e, em alguns lugares, pelo próprio PT associado a eles, que promovem a baderna, o quebra-quebra, a destruição do patrimônio público e privados, mediante invasões, e choques diretos com as forças de segurança. Tais embates têm sido responsáveis pelos pouquíssimos casos de morte de ferimentos durante as manifestações, tendo havido casos de violência, como os do Rio de Janeiro, por exemplo, onde o choque de vinte policiais e dez manifestantes resultou em diversos feridos, da mesma forma como ocorreu em Porto Alegre e Belo Horizonte.
Já as manifestações nas cidades de Curitiba, Vitória, Fortaleza, Recife, Belém e Salvador contaram apenas com casos esporádicos e isolados de vandalismo e violência.
A onda de protestos acontece durante a realização da Copa das Confederações de Futebol da FIFA e quando falta apenas um mês para que o Papa venha visitar o Brasil, um dos países mais católicos do mundo. No ano que vem, o país sediará o Mundial de Futebol e em 2016 os Jogos Olímpicos que serão realizados no Rio de Janeiro.
Causa repugnância à maioria dos brasileiros conscientes que haja tanto dinheiro investido em estádios de futebol espetaculares e inúmeras obras acessórias em função dessas competições, enquanto as escolas, os hospitais, a segurança publica, os transportes públicos permanecem fora das prioridades governamentais, em estado de deterioração e falência, ao mesmo tempo em que a inflação aumenta e custo de vida foge do alcance do poder aquisitivo da maior parte da população brasileira.
Quarta feira, 19 de junho de 2013
FRANCISCO VIANNA - Médico, comentador político e jornalista - Jacarei, Brasil.
Estando na airosa cidade de Florianópolis, a subir ampla escadaria de pedra, que nos leva à Matriz, deparei com duas gentis meninas, que ofertavam colorido jornal.
Aceitei a gentileza, e agradeci penhorado, pensando tratar-se do periódico da diocese.
Entrei no templo, e verifiquei, que, depositado nos bancos, encontravam-se exemplares do periódico, certamente abandonados pelos crentes.
Ao sair, foi repousar no acolhedor jardim, que fica defronte. Abri o jornal, e para meu espanto verifiquei que era o órgão oficial de seita, amplamente espalhada no Brasil, e não só, que movimenta grossos milhões de reais.
Outro assunto:
Assistia à missa dominical num templo, na cidade do Porto De repente ouve-se tocar o telemóvel (celular). Circunvaguei os olhos e vi senhora, ainda jovem, erguer-se e encaminhar para junto do pórtico.
Nesse momento o sacerdote iniciava a homilia.
Perante a indignação dos presentes, a senhora atendia o telefone em alta voz, abafando as palavras do padre. Foi preciso a interferência de um crente, para que fizesse o favor de abandonar o templo.
Outra cena caricata, na igreja:
Num domingo, em Mogofores, entra senhora, de aspecto estrangeiro, na igreja, e começa a distribuir panfleto, solicitando contribuição para criancinha gravemente doente.
Decorridos minutos, recolhe o panfleto e donativos.
Tudo se passa durante o culto.
Desconheço se o peditório era para engrossar esperto, organização criminosa, ou para apoiar família que vivia momentos de grande aflição.
Estes exemplos mostram cenas frequentes nas nossas igrejas e são demonstrativos de abusos inclassificáveis, e falta de educação.
Poderia abordar outros casos reprováveis, ocorridos em lugares públicos. Como: o feio hábito de ouvir rádio, em altos gritos, nos transportes públicos; colocar os pés nos assentos, sem respeito pela conservação dos estofos, nem pelos passageiros que os vão utilizar, e muitos outros desconcertos.
Mas, por hoje basta.
HUMBERTO PINHO DA SILVA - Porto, Portugal
Euclides Cavaco - Director da Rádio Voz da Amizade.London, Canadá
Amo temperos. Aquilo que dá sabor à vida. Vivifica o paladar, faz a gente ter um gosto...
Vou revezando as temporadas. Ora me fixo mais no manjericão, ora no alecrim, ora no orégano, na sálvia, pimentas, ah, pimentas são um caso à parte.
Temperar salada com cebola é muito bom, mas com alho bem picadinho, hummm.
Sabe aquela expressão "pessoa sem sal"? Pois é, só agora compreendi o fundamento disto. Não é à toa. A mim me parece que as pessoas que não apreciam tempero são exatamente assim: sem sal. Insossas. Transmitem-me uma palidez de alma, um oco de espírito e... Bem, tudo isto são impressões minhas, apimentada que sou.
O tempero tem cara de algo que nos torna quentes, próximos, solícitos, interativos. Uma pausa para o riso, pois isto também faz parte da temperança. Opa, esta palavra é interessante de se pesquisar. E talvez faça um gancho com o equilíbrio que os adoradores de temperos, na minha concepção ficcional, tenham. E me lembra meu ascendente, aquário.
Quanto à falta de sal, bem, isto é um problema com o qual tenho que conviver atualmente. Pressão alta e sal não combinam, daí que passo a gostar de toda comida que está sem sal, uma cotradição face à minha história. Não cozinho, mas quando faço, não coloco uma mísera colher do dito cujo. E para compensar, busco, mais do que nunca, o auxílio de meus amigos temperos. Eles quebram um bom galho, mas verdade seja dita... não substituem.
Sorte (por um lado) da nova geração, que aboliu o paladar para temperos e tem como referência sabores artificiais, já que hoje tudo é congelado, industrializado, quase pronto, pronto, com aroma disso, cheiro daquilo, mas nunca é o que deveria ser! E se alguém tentar ousar essa linha limítrofe, será reprovado pela ausência de paladares rebeldes, que se enterram nos fast foods, v erdadeiros deuses adorados por quem perdeu, sem nunca ter tido, o sabor de infância.
Na vida vamos em busca de novos temperos, salpicando uma erva aqui, outra ali, experimentando as combinações e ganhando novas experiências, pois elas são infindas.
Só não é possível ficarmos passivos, insossos, como se nascimento e morte significassem a mesma coisa, produzissem a mesma expressão...
Comer é sagrado. Viver também!
Renata Iacovino, escritora, poetisa e cantora / reiacovino.blog.uol.com.br /
reval.nafoto.net / reiacovino@uol.com.br
Duas notícias, na semana passada, pelo respeito que tenho pela vida humana, me incomodaram e muito. Uma foi sobre o Conselho Nacional de Direitos da Mulher (CNDM) estar elaborando um documento com argumentos contrários a um projeto de lei que prevê a criação do Estatuto do Nascituro. O regulamento classifica que o embrião já é um ser humano desde sua concepção, e que ele tem direitos como qualquer pessoa, mesmo que não tenha nascido. Não tenho dúvida alguma de que, a partir da fecundação, já existe um novo ser, mesmo que oculto nas entranhas maternas. Alguém surgiu sem a fecundação do óvulo? Provocar a morte de um bebezinho, que ainda não veio à luz, seja na circunstância que for, é barbárie, assim como defender e legalizar que o útero materno se transforme em filial de campos de extermínio.
Sei que muitas mulheres, em situação de desespero, por motivos diversos, tiveram um aborto provocado, com a culpa também do pai da criança - de relações irresponsáveis - e de quem as ajudou a isso. Arrependidas, buscaram o perdão de Deus. E o Senhor, que é misericórdia e compaixão, diante do pesar pela falta cometida e do propósito de não voltar a praticá-la, perdoou-as inteiramente. Abraçarão o filho na Eternidade. Mas o drama de consciência não é argumento para se defender a sentença de morte a alguém que vive no corpo da mulher, porém possui individualidade. Considero inaceitável a justificativa de que a mulher, por ser a dona de seu corpo, tenha direito a destruir o mais frágil que a habita por nove meses. De gruta de amor, a mãe se transforma em covil peçonhento.
A outra notícia foi sobre o Dia Internacional das Prostitutas, comemorado em dois de junho. O diretor do Departamento de Vigilância, Prevenção e Controle de Doenças Sexualmente Transmissíveis do Ministério da Saúde, chegou a divulgar, nas redes sociais, uma campanha com a mensagem: “Sou feliz sendo prostituta”, com o objetivo de reduzir o estigma da prostituição associado à infecção pelo HIV. Somava-se à campanha o tema: “Sem vergonha de usar camisinha”. O Ministro Alexandre Padilha, exonerou o referido diretor e retirou as peças do site do departamento. Segundo Padilha, mensagens assim devem ser dirigidas a um grupo específico. Embora a Associação de Prostitutas de Minas Gerais protestasse contra o Ministro, é possível ser feliz, no que diz respeito às mulheres pobres em situação de prostituição, ao cair nas malhas do comércio do sexo, vitimadas pela violência sexual infanto-juvenil, pela miséria ligada à promiscuidade sexual, por ser filha de uma família desajustada, pela dependência química? É possível ser feliz numa história de consumo do corpo, convivendo com taras e relacionamentos descartáveis? É possível ser feliz na perspectiva de, em dez anos ou um pouco mais ou menos, se transformar em bagaço nas sarjetas do mundo?
Dentre os comentários sobre o assunto, no site da Globo - Ciência e Saúde -, um leitor escreveu que, em campanha dos pedófilos, o tema seria: “Trago a felicidade precoce”. Que horror! Mas enquanto as sensações na pele estiverem acima do respeito pelo ser humano – criado à imagem e semelhança de Deus - e sua dignidade, muitas vidas se perderão nos aterros mantidos pelos que têm poder maior de decisão e são adeptos do uso e do abuso de pessoas e do extermínio de pequeninos.
MARIA CRISTINA CASTILHO DE ANDRADE - É coordenadora diocesana da Pastoral da Mulher – Santa Maria Madalena/ Magdala. Jundiaí, Brasil.
Do nascer ao por do sol, em locais planos, ondulados ou com serras, naturais ou já repletos de construções, durante a vida nossos olhares alcançam milhares de horizontes com inimagináveis possibilidades de diferenças, mas nunca iguais.
Admirando-os, cada um os vê de uma forma, enxerga outro detalhe, outra cor ou sombra. E independentemente do lado para o qual nos dirigimos, a cada passo, o que se vê é alterado, surgem novas imagens e possibilidades.
Assim é a vida, repleta de escolhas que podem e devem ser realizadas a cada momento, cada passo, diariamente. Todos possuem, igualitariamente, a chance de optar para que lado, quando e como seguir seu caminho.
Alguns são mais difíceis que outros, mas geralmente recompensam melhor quem por eles seguiu, como as montanhas, de difícil escalada, mas a vista de quem atinge seu cume jamais será admirada por quem não a subiu.
Alguns horizontes estão tão distantes que muitos sequer tentam alcançá-lo, permanecendo onde estão por julgar ser aquele um bom lugar para se estabelecer e lá interrompem sua caminhada.
Perdem a chance de, alcançando aquele ponto que parecia distante, admirar novas paisagens, oportunidades e aí sim, escolher entre estas ou aquelas, que para trás deixou.
Depois daquele horizonte pode haver campos mais férteis, água em abundância, riquezas diversas ou até algo ainda desconhecido aos outros seres humanos.
Lá poderemos encontrar o que sempre buscamos, motivo pelo qual sempre terão mais chances aqueles não medem esforços em busca de novos horizontes, físicos ou culturais.
Nas oportunidades surgidas, são as decisões pessoais, escolhas dos que possuem mais ou menos coragem, ousadia e disposição para lutas e sacrifícios, que determinarão o sucesso ou o fracasso de cada um, como pode ser facilmente observado nos imigrantes nordestinos.
Muitas vezes estamos cansados das tentativas fracassadas, das quedas, dos caminhos já percorridos e das dores sentidas, mas será a determinação por alcançar o objetivo que nos levará um passo adiante, uma nova caminhada e ao sucesso.
Entretanto, é muito comum vermos pessoas que erraram, caíram ou se perderam e não buscam acertar, se levantar, reencontrar o caminho certo e ao recebem ajuda, pequena, um simples apoio, algumas continuam por si, enquanto outras insistem em permanecer no erro.
A educação pode incentivar ou desestimular o interesse das pessoas pelo crescimento cultural, financeiro e social, assim como o poder aquisitivo facilita ou dificulta as realizações, mas não as impedem.
Porém, o tamanho da ambição de cada pessoa e em todas as camadas sociais é totalmente distinto. Isso pode ser facilmente verificado entre garis, juízes de direito, médicos, advogados, engenheiros, qualquer outro profissional ou entre pessoas sem cultura.
Em todas as áreas, só obtém sucesso aqueles que por ele lutam, enquanto aqueles que não buscam acabam perdendo a oportunidade de alcançá-lo.
Nada virá ao encontro daquele que não se dispôs a explorar o que existe do outro lado.
JOÃO BOSCO LEAL, é articulista político, produtor rural e palestrante sobre assuntos ligados ao agronegócio e conflitos agrários. Campo Grande, Brasil.
Todos sabem que a educação no Brasil está um desastre. Nada obstante seja indiscutível que ela é o maior problema brasileiro, continuamos a tatear em uma absoluta ausência de estratégias exitosas. Não é falta de verba. É o seu mau emprego. É a desvalorização da carreira de professor, não só pelos salários, mas ainda pela falta de respeito que não sensibiliza os pais.
Houve tempos em que o mestre era uma autoridade. Hoje, é um ser ameaçado de exoneração ou, mais ainda, temeroso de apanhar dos alunos. Ou de seus pais, porque estes pensam que por pagarem a escola, são patrões dos professores.
Mesmo assim, há quem resista. E o faz heroicamente. Um deles é Braz Rodrigues Nogueira, que consertou uma realidade em Heliópolis. É diretor da Escola Municipal “Presidente Campos Salles”, em São Paulo. Chegou lá em 1995 e encontrou a violência disseminada. A praça diante da escola era mercado de drogas e cenário de estupros. Havia agressões físicas entre alunos todos os dias. Em 1999, uma aluna foi assassinada. Foi aí que o professor Braz iniciou caminhadas pela paz nas ruas e investiu num programa de aproximação do colégio com a vizinhança.
Trouxe os pais para discutir melhorias. Eles começaram a se interessar pela escola. Em 2002, houve um furto de 21 computadores. Alertou a vizinhança e eles foram devolvidos. Em 2010, inaugurou o Centro de Convivência Educativa e Cultural de Heliópolis.
Foi um homem só que, a partir de um sonho, conseguiu motivar a comunidade. Isso pode fazer a diferença. Por que há escolas em bairros pobres que não são pichadas, há um clima de camaradagem, as pessoas são mais felizes do que em outras regiões semelhantes? É a vontade de diretores ou professores que ainda acreditam em sua missão. Claro que ninguém é inocente nessa questão educacional brasileira. Estado, sociedade, família e indivíduos têm responsabilidade.
Mas o exemplo de Braz Rodrigues Nogueira evidencia que a maior receita é a vontade. Quem quer faz a diferença. Quem não quer, continue a lamentar e a esperar que ocorram milagres. Pois só milagre para salvar a política pública da educação brasileira.
JOSÉ RENATO NALINI é Corregedor Geral da Justiça do Estado de São Paulo, biênio 2012/2013. E-mail: jrenatonalini@uol.com.br.
Meu desejo é que você tenha saúde e vida longa. Desejo, porém, que uma vez, uma única só vez na vida, você fique doente. Desejo que parte de sua saúde lhe deixe, temporária, mas incisivamente, somente o suficiente para que você possa de fato sentir a falta que ela lhe faz e o valor que ela tem.
Desejo que nessa provação, você se dê conta da fragilidade de sua existência e de quanto é tênue e delicado o fio que o mantém no mundo dos vivos. Desejo que você sinta medo ao perceber que não é de aço, de pedra ou imortal e que basta um simples sopro do destino para apagar a fraca chama que anima seus dias e suas horas.
Desejo que você, nessa hora, tenha a real compreensão da dor e do desespero alheios, especialmente daqueles que não vão melhorar dentro de alguns dias ou dentro dessa vida. Desejo que no auge da sua própria angústia pelas forças que lhe faltam, você entenda o andar descompassado e vacilante do velho em quem você acredita que nunca irá se tornar.
Desejo que seus amigos e seu amor estejam por perto sempre que você precisar, mas desejo também que, em algum momento, você seja deixado sozinho, à própria sorte, dentro daquele silêncio que permite ouvir a própria respiração e pensamentos. Desejo, assim que nesse instante de solidão, você tenha clareza de ideias para entender que ninguém pode, em última análise, ser mais importante para você do que você mesmo, pois será essa a sua derradeira companhia, além daquilo que for Divino...
Desejo que você mantenha próximos de você e em segurança, todos aqueles a quem você ama, mas desejo mais que, por um único segundo, você os pense perdidos para sempre, tão somente para entender o real valor que o amor possui e o quanto ele sempre importa mais do que muito do resto. Desejo que você, passado o susto, prometa-se nunca mais dirigir palavras hostis a quem quer que seja, essencialmente a quem lhe é caro. Desejo que você suspire feliz, por saber que ainda há tempo, mas que, sobre todas as coisas, aproveite de fato esse tempo...
Desejo que você durma bem, que repouse todas as noites, repleto para um novo dia, mas desejo mais que voe tenha tão somente um pesadelo e acorde encharcado em suor e lágrimas, ainda sufocado pela dor da perda que imaginou. Desejo depois, que, aliviado e feliz pela luz da manhã, você possa entender que um dia tudo pode não ser só um sonho ruim. Desejo, portanto, que isso não lhe traga mais dor, mas determinação para viver o que há para ser vivido, pois todos os dias trazem consigo a eternidade ou somente algumas horas...
Desejo que nunca lhe falte o que comer. Que sua mesa seja farta e próspera, mas que um dia lhe falte apetite e que você, ao vislumbrar o tanto que tem, possa se compadecer de quem nada tem para saciar o mais primitivo dos desejos. Desejo que, ao recuperar o gosto pela comida, você dê a ela o devido valor, que coma ciente do privilégio que tem somente por poder fazê-lo. Desejo que a primeira dessas garfadas seja inesquecível, completa pelos sabores que muitos jamais serão capazes de sentir. Desejo, desse jeito, que você entenda que tudo que se move é sagrado...
Desejo, por fim, de todo meu coração, que o inevitável demore a encontrar os seus caminhos, mas que a dor do inevitável possa lhe fazer uma visita enquanto ainda for tempo para ser feliz, para dar significado às coisas, para mais um beijo, para mais um telefonema, para mais viver...
CINTHYA NUNES VIEIRA DA SILVA - Advogada, mestra em Direito, professora universitária e escritora - São Paulo.
Os termos piedade e misericórdia se confundem no significado. Alguns dicionários definem como sinônimos e, até nas missas, no ato penitencial, os consideremos iguais. As músicas de perdão repetem: ‘Misericórdia, Senhor!’ ou‘Piedade de nós!’, o que significa que realmente os termos podem ser usados para a mesma finalidade.
Jesus disse: “Quero misericórdia e não sacrifício”; e nos deu a entender que as situações injustas devem ser mudadas – os excluídos precisam ser ajudados. E confirmou isto ao explicar que “os que têm saúde não precisam de médicos, mas sim os doentes”. Tudo se relaciona com o amor ao próximo, um dos dois maiores Mandamentos.
Então, vale a pena entender o significado de misericórdia: ‘Acolher no coração a miséria do outro’. A Virgem Maria, por exemplo, denominada ‘Mãe de Misericórdia’, recebeu este título para honrar sua imensa bondade. E quando nos referimos às obras de misericórdia, citamos diferentes modos de exercer a caridade, o que condiz com a conduta cristã tão valorizada por Cristo.
Eu ainda acho que o termo‘misericórdia’ é mais forte que ‘piedade’, porque piedade se assemelha mais a ‘dó’. Para mim, ter piedade não significa acolher a miséria do outro no coração, mas simplesmente um sentimento de indignação. Misericórdia, porém, acrescenta amor ao fato de o próximo estar sofrendo, o que já é uma grande diferença entre os dois sentimentos.
Pois é, mas fica uma pergunta no ar: ‘Quem tem misericórdia de alguém é impulsionado a praticar a caridade?’. Sabemos que nem sempre isso acontece e, portanto, teríamos que achar outro termo que refletisse o sentimento de querer estar junto daquele que sofre. E esse sentimento de pesar já existe: compaixão!
Compaixão é mais que dó, mais que piedade e mais que misericórdia. Compaixão é um sentimento mais humano e não reflete apenas a tristeza que sentimos diante da dor alheia. Quem pratica a verdadeira caridade, comprometido em ajudar o próximo, sente compaixão. E não há como negar que o despertar da dor no coração de algumas pessoas as move a tentar minimizar o sofrimento do irmão – isso é compaixão!
Bartimeu, o cego de Jericó, suplicou: “Jesus, filho de Davi, tem compaixão de mim”; e ficou curado. Jesus, também tomado por compaixão, curou o paralítico e deu a ele saúde eterna, porque perdoou ainda os seus pecados. Na condição divina, Ele não via apenas as aparências, mas principalmente o que estava no coração.
A compaixão talvez seja a maior virtude humana porque é isenta de preconceitos e julgamentos. É por isso que o egoísta não desenvolve esse sentimento e se torna frio e calculista– insensível ao sofrimento alheio, como eram os fariseus. Quantos procuram um ouvido ou um ombro amigo na vida e não encontram! Os ouvidos estão dando mais atenção aos aparelhos eletrônicos; filhos pequenos têm computadores, mas faltam-lhes afetos humanos. Isso é justo?
Vale lembrar ainda que não devemos compartilhar o mal, o que significa que nem todo sofrimento merece compaixão, tipo: o invejoso que sofre por cobiça, o tirano que perdeu a guerra. Podemos, contudo, nos compadecer pelo sentimento de culpa de quem errou e se arrependeu, porque todo pecado merece perdão nas condições de arrependimento sincero e intenção de não mais errar. Como não conseguimos viver sem pecados, devemos buscar a graça de Deus no Sacramento da Reconciliação.
Então, numa escala crescente entre dó e caridade, eu colocaria: piedade, misericórdia e compaixão. A piedade se assemelha mais a dó, a misericórdia incorpora o sentimento de tristeza diante da dor alheia, e a compaixão desperta a vontade de se envolver na solução do problema. Quanto mais amor no coração, mais próximos de Deus estaremos.
Mas tudo isso depende da fé de cada um. Era no nosso tempo que Jesus estava pensando ao falar:“Quando o Filho do Homem voltar, encontrará a fé sobre a terra?”(Lc 18, 8). E o início do capítulo 11 da Carta aos Hebreus traz a definição de fé: “Ora, a fé é garantia das coisas que se esperam e certeza daquelas que não se vêem”. Unindo isto à mensagem bíblica de ‘onde estiver o vosso tesouro aí estará o vosso coração’, podemos concluir que já podemos tomar posse do Reino de Deus praticando a compaixão pelos pobres. E um lembrete importante: ‘A quem muito foi dado, muito será exigido; e a quem muito foi confiado, muito será pedido’.
Ninguém gosta de sofrer e a compaixão às vezes leva a isso. Porém, até no sofrimento alguns fazem piadas, como esta:
Um cidadão passou mal na rua e foi levado ao setor de emergência de um hospital administrado por freiras. Foi operado do coração e, depois de estar parcialmente restabelecido, a freira responsável pela tesouraria lhe perguntou:
– Caro senhor, sua operação foi bem sucedida e o senhor está salvo. Como pretende pagar a conta? Tem seguro-saúde?
– Não, Irmã. Também não tenho dinheiro, filhos, emprego, nada! Eu tenho somente uma irmã solteirona que é freira, mas não tem um tostão.
– Desculpe, mas as freiras não são solteironas como o senhor disse. Elas são casadas com Deus!
– Então, por favor, mande a conta pro meu cunhado.
Heheheh... Misericórdia!
PAULO ROBERTO LABEGALINI - Escritor católico, Professor Doutor da Universidade Federal de Itajubá-MG. Pró-reitor de Cultura e Extensão Universitária da UNIFEI.
Lançamento de livro:
Histórias Cristãs – Editora Raboni – Paulo R. Labegalini (www.raboni.com.br)
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