PAZ - Blogue luso-brasileiro
Segunda-feira, 28 de Outubro de 2013
JOÃO CARLOS MARTINELLI - FINADOS. A HUMANIDADE SE IMUNIZOU EM RELAÇÃO AOS EFEITOS DA MORTE.

No Dia dos Mortos, sábado próximo, além de evocarmos os nossos entes queridos que já nos deixaram, devemos refletir sobre a atual imunização da sociedade em relação à morte, quer por interesses de natureza política, social ou econômica, quer por motivos individuais, frutos do próprio egoísmo e da insensibilidade com que convivemos com nossos semelhantes. Vislumbra-se com tal quadro, um absoluto desrespeito a aspectos de ordem manifestamente moral, religiosa e jurídica.
No século X, o monge francês Odilon Cluny iniciou uma série de rezas e festas sacras para os cristãos mortos, em 02 de novembro de cada ano, costume que se espalhou por outras religiões. As pessoas acreditavam que, rezando para os falecidos, nesse dia, os vivos diminuiriam os castigos das almas que pecaram durante a vida terrena. Após quatro séculos, a Igreja Católica oficializou a comemoração, instituindo o Dia de Finados ou Dias dos Mortos, que chegou ao Brasil pelos portugueses. Na ocasião, os templos e os cemitérios são visitados, os túmulos são decorados com flores e milhares de velas são acesas, aspectos que já se tornaram tradicionais.
A data nos convida a refletir sobre a morte. Constatamos que raramente nos detemos a meditar sobre ela e nem mesmo lembramos desse evento final, comum a toda a humanidade, inevitável e certo. Configura-se, efetivamente, num dos poucos fenômenos acerca dos quais temos absoluta certeza: basta ter nascido para que se venha a morrer. Tal desprezo se prende ao fato de que grande parte da sociedade, seja por interesses de ordem política, social ou econômica, seja por manifesto egoísmo ou insensibilidade, imunizou-se em relação aos seus efeitos.
Nessa trilha, invoquemos o agrônomo e doutor em Ecologia, Evaristo Eduardo de Miranda, ministro de exéquias (um leigo revestido pela Igreja com a missão de encomendar corpos):- “...a morte é uma denúncia violenta contra as ilusões e a busca de bens passageiros que não remetem o ser humano à eternidade. A morte é o maior antídoto contra a alienação humana, pois ela nos dá o conceito de nossa finitude. A exemplo do que acontecia com o sexo, antes da revolução sexual, a morte se tornou um tabu” (revista “Família Cristã”- 11/1998- pág. 09) (os grifos são nossos).
Por outro lado, a morte está sendo cada vez mais banalizada em nosso país e as conseqüências deste quadro, geram uma situação de quase absoluto desprendimento (“rei posto, rei morto”). Transformada em mera fatalidade biológica, as pessoas não se importam mais com a vida dos outros e ela passou a ser um evento quase que neutro, revestido da aparência de mero espetáculo. Tanto que se assiste pela TV, a centenas de mortes por dia, numa visível demonstração de abandalhamento de princípios, que rendem exclusivamente, altos índices de audiência. “...Não morre o telespectador que, do lado de cá da tela, encara a morte como mera anulação do outro, sem choro nem velas, e se impregna de certa onipotência, pois a morte não o atinge. Pode desafia-la cavalgando uma moto, fazendo sexo sem preocupações, portando-se como se fosse o único a ficar eternamente vivo” (Frei Betto – “O Estado de São Paulo”- 02/11/04- pág. A.2).
O Direito consagra a vida como o mais valioso bem a ser protegido e impõe respeito aos mortos, tanto que considera crime a violação de sepultaras. Utiliza-se de conceitos científicos para caracteriza-la nos seus diversos reflexos legais (de acordo com a Resolução 1.346/91 do Conselho Federal de Medicina –CFM, a morte é diagnostica quando não há qualquer função cerebral) e incentiva a luta pela vida até o último instante, ao proibir a eutanásia (método pelo qual se procura abreviar a existência de um doente incurável, ainda que a pedido deste ou do seu representante legal). Apesar de todas essas circunstâncias, as pessoas ainda não tratam a morte como um rito de passagem, como deveriam entende-la nos aspectos religioso e moral, nem lhe outorgam as condições de dignidade exigidas por sua concepção jurídica.
Tais constatações nos levam à triste conclusão de que a solidariedade está se exaurindo no ser humano, tanto na vida – Dom maior de Deus -, como no final desta. Mais do que nunca, precisamos reverter o quadro sombrio que assola nossa natureza, voltando a encarar a existência e a morte com o respeito e o rigor que suscitam, convivendo fraterna e responsavelmente com nossos semelhantes.
JOÃO CARLOS JOSÉ MARTINELLI é advogado, jornalista, professor universitário e escritor.
CINTHYA NUNES VIEIRA DA SILVA - PELOS DIREITOS DOS ANIMAIS

Ainda que o tema esteja em voga mais recentemente, eu já o havia abordado em minha dissertação de mestrado, defendida em 2004, intitulada Tutela Jurídica dos Animais. Em meu trabalho, escrito, portanto, há quase dez anos, eu ressaltei a questão da prática de atos cruéis contra os animais, incluindo os absurdos testes para indústria de cosméticos, bem como para saciar exóticos hábitos alimentares.
O recente resgate dos cães beagle acabou tornando a questão mais conhecida e é notório que o movimento em prol dos direitos dos animais vem crescendo não apenas no Brasil, mas em todo mundo. Nem vou entrar aqui na questão envolvendo entidades específicas, mas gostaria de provocar a reflexão de forma geral. O problema, inclusive, é antigo e já sensibilizou muita gente em milênios de história da humanidade.
Particularmente, penso que é chegada a hora de uma reflexão coletiva. Antes de mais nada, temos o direito de usar os animais a nosso bel prazer, como criaturas destituídas de sentimentos, de sentidos? Os seres humanos são senhores absolutos da criação? Eu estou certa de que a resposta para essas perguntas é completamente negativa.
A meu ver, as pessoas confundem o fato de nos alimentarmos de alguns animais e o poder de deles fazermos o que quisermos. Desde que o mundo é mundo, os seres vivos se alimentam uns dos outros e vão formando uma cadeia voltada ao equilíbrio na Terra. Por mais que alguns de nós se considerem melhores do que os outros, somos também nós parte da Criação e estamos inseridos nessa mesma cadeia. Na ausência de predadores, inclusive, tornamo-nos nossos próprios... No fim de tudo, porém, somos dos vermes e nada nos salva disso.
Assim, não sou vegetariana, embora creia que um dia possa vir a ser. Penso que os animais podem nos servir de alimentos, mas não precisamos submetê-los a uma vida inteira de sofrimento, como o que se faz com os gansos para se obter o foie gras ou mesmo matar filhotes para obter carne tenra, por exemplo. Sem contar de outros animais que vão sendo cortados vivos enquanto um bando de cretinos sentados em uma mesa vão fazendo caras e bocas, como se fossem algo melhor do que um monte de carne, ossos e egocentrismo.
Tenho comigo que nos autoproclamarmos como senhores do universo tem o mesmo efeito que eu me proclamar, aqui nesse texto, Rainha da Inglaterra. Sei, por outro lado, que não sou dona da verdade, mas eu penso que, se no passado as experiências com os animais foram responsáveis pelos avanços da medicina, ótimo. Primeiro que não podemos mudar o que já aconteceu. Segundo porque, se aconteceu, isso nos coloca em dívida com os animais. Se hoje temos mais conhecimento, mais tecnologia, mais entendimento sobre o mundo que nos cerca, deveríamos prestar nosso tributo aos animais e não continuar submetendo-os a toda sorte de sevícias e absurdos.
Lembro que no passado, experiências grotestas foram realizadas em pessoas também e ainda que uma parte delas tenha sido responsável, no fim das contas, por avanços da medicina, tenho certeza de que esse argumento não convenceria ninguém a continuar com tais práticas.
Eu poderia escrever todo um tratado sobre esse assunto, mas além de que seriam minhas opiniões, não creio que convenceriam quem está resolvido a não encarar o fato de que os animais são mais do que coisas que usamos e descartamos. É, no mínimo, necessário que cada um de nós saia de sua zona de conforto e que se disponha a conhecer um pouco do assunto, ao menos para refletir se é verdadeira a sentença segundo a qual “se uma coisa sempre foi assim, deve continuar a ser”...
Viver é evoluir, é abrir mente e coração para a possibilidade de estarmos errados. Difícil, contudo, é alguém olhar nos olhos de um animal e não ver neles também a centelha divina que os torna merecedores do nosso respeito, para dizer o mínimo.
CINTHYA NUNES VIEIRA DA SILVA - Advogada, mestra em Direito, professora universitária e escritora - São Paulo.
MARIA CRISTINA CASTILHO DE ANDRADE - ENSINAR A VER

Em setembro, estive na Paróquia Cristo Redentor de Várzea Paulista para uma conversa com os catequistas que atuam junto a adolescentes na preparação para o Sacramento da Crisma. Gostei demais deles. O tema da reflexão foi a sexualidade nos planos de Deus.
No contato, há anos, com situações em que a sexualidade de meninas, meninos e mulheres é menosprezada pelo egocentrismo e perversão, creio sempre na importância de educar os sentidos e, como afirmava o filósofo Nietzsche, “A primeira tarefa da educação é ensinar a ver”.
Em um mundo tão conturbado, no qual o uso do corpo sem limites, para curtir a vida, para o prazer de imediato, para sensações excitantes, tornou-se senha para inclusão na sociedade deteriorada, é imprescindível mostrar aos adolescentes as consequências do prazer que move o corpo sem a sabedoria.
Tenho pena das jovenzinhas de carnes à mostra, transformadas em iscas para os instintos masculinos.
Em 26 de junho deste ano, o jornal “Diário de São Paulo” fez uma interessante matéria sobre o tratamento oferecido pelo Hospital das Clínicas para homens que sofrem compulsões sexuais. A maioria deles (72%), de acordo com pesquisa realizada durante três anos, possui doenças associadas, como transtorno de ansiedade generalizado e depressão. 45% faziam sexo com múltiplos parceiros. São também resultados da promiscuidade sexual: abuso sexual infanto-juvenil, infidelidade, depravações, violência e delitos sexuais, dependência da pornografia que é um hábito viciante devido à produção de hormônios que estimulam as partes responsáveis pelo prazer no cérebro, a falta de equilíbrio e controle sobre si mesmo, baixa autoestima, filhos abandonados, destruição da família, doenças sexualmente transmissíveis, decadência, turismo sexual, tráfico de seres humanos para fins de exploração sexual, uso de drogas como artifício para lidar com o próprio corpo, frustrações, solidão, o individualismo relacionado ao “consumo de pessoas”, a perda da liberdade ao se tornar escravo do sexo, falta de sentimento e comprometimento, dentre outros.
O escritor e psicanalista Rubem Alves, em seu livro “Sobre Demônios e Pecados” que já citei em outra crônica, comenta sobre os tipos de olhares, que podem elevar ou destruir e embrutecer. Segundo ele, a luxúria é um jeito de olhar. Os olhos não se interessam por rostos, olhos, cabelos, mãos. Eles só veem uma coisa: os genitais. Com isso, tornam-se incapazes de amar, porque o amor nunca começa nos genitais. O amor começa no olhar.
O olhar precisa ser educado para que se perceba que a sexualidade não pode ser reduzida a instinto e que o amor exige autodomínio. O tratamento para compulsões sexuais confirma o que escrevo.
Sei que não é fácil - além das carências -, principalmente aos adolescentes e jovens da atualidade, nascidos em um tempo crescente de “ismos”: hedonismo, egoísmo, consumismo, se conter. Mas não é impossível. Os adultos devem dar exemplo. Os pais necessitam ser firmes com os filhos e ajudá-los a dizer “não” ao que corrompe. Devem ter claro que campanhas de prevenção à gravidez na adolescência e às doenças sexualmente transmissíveis não formam o caráter, não previnem efeitos nocivos sobre o espiritual, o psíquico, o emocional e o social. E façam prevalecer o seus valores, ideias e crenças, garantidas pelo artigo 17 do Estatuto da Criança e do Adolescente.
MARIA CRISTINA CASTILHO DE ANDRADE -É coordenadora diocesana da Pastoral da Mulher – Santa Maria Madalena/ Magdala. Jundiaí, Brasil.
FAUSTINO VICENTE - ESMOLA AOS POBRES

Com a proximidade do Dia de Finados, achamos oportuno pesquisar a origem da tradicional coleta que – Vicentinos e Vicentinas – membros da Sociedade São Vicente de Paulo (SSVP), fazem todos os anos nos portões dos cemitérios de Jundiaí.
Corria o ano de 1925 e como o Hospital de Caridade São Vicente de Paulo enfrentava sérias dificuldades financeiras, o seu Diretor, Rodrigo Soares de Oliveira, e o Presidente do Conselho da SSVP-Jundiaí, - Germano Bracher -, lembraram que na referida data a presença de pessoas no cemitério era enorme.
O Hospital, do qual fui diretor, foi fundado em 1902 pelos Vicentinos, pioneiros em projetos de inclusão social em nossa cidade, com a criação (05/10/1897) da primeira Conferência Vicentina, que recebeu o nome da nossa padroeira.
A brilhante ideia de lançar a coleta de donativos nos portões do Cemitério Nossa Senhora do Desterro, único na época, partiu desses saudosos confrades.
Com uma pequena sacola em uma das mãos, pediam em voz alta – “Esmola para os pobres” -. E protegendo-se do sol, em outra mão o guarda chuva. Era um quadro, simplesmente, maravilhoso.
Como a iniciativa foi um sucesso, ela foi repetida nos anos seguintes e estendida aos novos cemitérios, permanecendo até hoje, cuja arrecadação é destinada às famílias assistidas pela SSVP.
As ações vicentinas acham-se, de maneira indelével, representadas por milhões de atendimentos efetuados nestes 116 anos de atuação, através do Hospital (1902), da Cidade Vicentina (1939), da gestão do Cemitério Parque dos Ipês (1972), do qual fui o seu primeiro presidente, administração do estacionamento do Velório Central, dispensários de alimentos e vestuários, do Centro de Formação Vicentina e, principalmente, pelas Conferências Vicentinas – célula mater da SSVP.
Como nossa homenagem, destacamos a excelente participação da Irmãs Franciscanas na gestão do Hospital, até o ano de 1973.
No ano passado a SSVP recebeu, no nosso centenário Teatro Polytheama o título honorífico – Diploma de Reconhecimento – concedido pela nossa Câmara Municipal, através da indicação do Vereador Leandro Palmarini.
Como neste ano a SSVP comemora o bicentenário do nascimento do Beato Antonio Frederico Ozanam (1813-1853), líder do grupo de jovens que a fundou em Paris, em 1833, ela foi homenageada com uma Sessão Solene pela Assembleia Legislativa do Estado de São Paulo, ato este que ocorreu no dia 13 de setembro, em São Paulo.
O pedido foi feito pelo nosso Prefeito – Pedro Bigardi – com indicação do Deputado Estadual – Marcos Martins.
A SSVP está presente em 148 países, dos cinco continentes, através de 51 mil Conferências Vicentinas e cerca de 800 mil membros e 1.500.000 de colaboradores.
Faustino Vicente – Consultor de Empresas e Órgãos Públicos, Professor e Advogado – e-mail: faustino.vicente@uol.com.br – Jundiaí (Terra da Uva) – São Paulo - Brasil
ARMANDO ALEXANDRE DOS SANTOS - A CONDIÇÃO DA MULHER NA IDADE MÉDIA

Durante boa parte do século XIII, reinou na França São Luís IX, que foi objeto de uma volumosa biografia, publicada há cerca de 20 anos, escrita por Jacques Le Goff, historiador francês de grande nomeada, que se insere na chamada “terceira geração dos Annales”.
O reinado de São Luís é, paradoxalmente, o mais documentado e o menos conhecido dos reinados da França medieval. Por quê? Porque o bom rei teve uma iniciativa única na história. Ele mandou emissários percorrerem todas as cidades, vilas e aldeias do seu reino, de casa em casa, conversando com cada um dos moradores, perguntando sobre a administração da justiça, sobre as queixas, as sugestões, as comunicações que desejavam fazer ao rei. Tudo foi escrito e registrado em relatórios que ainda hoje estão perfeitamente preservados, apesar do tempo decorrido, apesar de todas as guerras e revoluções.
É uma documentação volumosíssima, tão volumosa que ninguém até hoje se atreveu a explorá-la por inteiro. Está quase toda em francês arcaico, com letra da época, mas isso não é o que mais dificulta o aproveitamento. Com um pouco de prática e alguns conhecimentos de Paleografia, qualquer medievalista supera essas barreiras. A dificuldade principal vem do volume imenso do material, que ocupa muitos metros cúbicos de espaço. É por isso que se diz que o reinado de São Luís é o menos conhecido. O material está disponível a qualquer pesquisador, nos Archives Nationales de France, mas somente têm aparecido interessados que trabalham por amostragem, nunca nenhuma pessoa, nem mesmo uma equipe de pessoas, foi capaz de absorver toda a imensa massa de informações ali registradas.
A medievalista francesa Régine Pernoud, que estudou em numerosas obras a condição feminina na Idade Média, coligiu nessa documentação numerosos dados que permitem aferir que, no século XIII, a condição da mulher era de muito maior destaque do que se tornaria a partir do século seguinte, quando a mulher passou a ser relegada a um papel secundário na família, no lar e na vida social.
Pernoud, nas pesquisas que efetuou por amostragem, registrou muitos exemplos de mulheres, solteiras ou casadas, que trabalhavam com economia própria, independente de seus pais ou maridos. Encontrou também muitas casas nas quais os emissários do rei eram recebidos pelo casal, mas registravam que tinha sido a mulher, e não o marido, que tinha respondido ao questionário apresentado pelos emissários reais. Estavam ali os dois, marido e mulher, mas era esta, mais dinâmica e extrovertida, quem respondia ao questionário apresentado.
Pernoud registrou o grande número de mulheres que exerciam a profissão de “miresses”, ou seja, médicas. “Miresse” é a forma feminina de “mire”. Quando São Luís partiu para a VII Cruzada, no Egito, em 1248, levou consigo a esposa e os filhos. Seguiu também a “doctoresse Hersent”, a médica oficial do rei e da família real. Pernoud observa que era tão considerável o número de mulheres que exerciam livremente a profissão de médicas, que até existia no francês medieval uma palavra feminina para designá-las, diferentemente de hoje, quando uma única palavra, “medécin”, de forma masculina, designa indistintamente os médicos e as médicas. Foi somente no século XIV que as mulheres passaram a ser excluídas da prática médica, porque foi tornada ilegal tal prática por quem não fosse formado pela Universidade de Paris, que não admitia alunas. A partir daí, mulheres que curassem passaram a ser mal vistas, a ser vistas com suspeição, como bruxas etc.
No livro “Pour en finir avec le Moyen Âge” (Éditions du Seuil, Paris, 1977), Pernoud dedica um capítulo ao tema da condição feminina na Idade Média francesa, no qual mostra, com base documental, no seu dia-a-dia, a mulher tinha, naquele tempo, margem de autonomia muito maior do que algum tempo depois - quando passaram a prevalecer os critérios do Direito Romano, inspirado na Antiguidade Clássica, muito mais patriarcalista e restritivo em relação às mulheres.
Pernoud fala ainda, nessa obra, na documentação primária abundante e pouco explorada, sobre as mulheres que, naquele século XIII, “não eram nem altas damas, nem abadessas, nem sequer monjas, mas eram camponesas ou citadinas, mães de família ou exerciam uma profissão”. Ela está se referindo precisamente aos registros escritos dos agentes enviados pelo rei São Luís IX a todos os lares do seu reino, com a missão de interrogarem, de casa em casa, todos os seus habitantes, para registrarem as queixas e corrigirem os abusos que estivessem sendo praticados. Nessa documentação primária, comenta a autora, é possível encontrar mil pequenos detalhes da vida cotidiana “que mostram homens e mulheres nos menores fatos da sua vida: aqui, é a queixa de uma cabeleireira, ali, a de uma vendedora de sal, acolá, a de uma proprietária de moinho, de uma viúva de agricultor, de uma castelã, de uma mulher de cruzado etc.” (p. 95-96).
“É por documentos como esses - comenta mais adiante a autora - que se pode, peça por peça, reconstituir, à maneira de um mosaico, a história real, que nos aparece, então, muito diferente das canções de gesta e das novelas de cavalaria.” (p. 96).
Esse é um bom exemplo de aplicação dos princípios e da metodologia da História Social, num tema cultural de grande alcance, qual seja, a posição da mulher na sociedade.
A promoção efetiva da mulher, na sociedade medieval cristã, foi também sinalizada por uma substituição simbólica de grande alcance: nos tabuleiros de xadrez, a peça mais poderosa e importante, depois do rei, deixou de ser o vizir, o ministro-chefe dos califas e sultões árabes. Nos tabuleiros de xadrez da Cristandade Medieval, esse papel passou a se ocupado por uma mulher, a Dama, ou a Rainha. E assim permanece, até hoje.
Armando Alexandre dos Santos é historiador e jornalista, diretor da Revista da Academia Piracicabana de Letras.
JOSÉ RENATO NALINI - RICARDO FERES ABUMRAD
Quando eu tinha mãe, até 17 de novembro de 2005, ela me avisava das mortes das pessoas queridas. Depois que ela partiu, nem sempre fico sabendo dessas partidas. E uma perda que lamento é a do meu amigo Ricardo Feres Abumrad. Conheci-o desde sempre. Estudamos na mesma Escola Paroquial “Francisco Telles”. Depois, por um tempo, ele estudou no Divino Salvador. Era esportista, atleta de várias modalidades.
Quantas vezes me apanhava com seu “Vemaguet” para remarmos no Clube de Campo. Seus pais, D. Ziza e Sr. Adib, eram comerciantes na rua do Rosário. Houve tempo em que eu não saía de sua casa. O irmão mais novo, Eduardo Janho Abumrad, é hoje um festejado cantor lírico. Havia também a “Ção”, que atendia a todas as vontades da dupla, a começar pelas delícias árabes, superiores a qualquer cinco estrelas.
Fomos companheiros de adolescência e de juventude. Turma coesa, da qual já fomos desfalcados do Giba (Gilberto Fraga de Novaes), Delega (Antonio Edmundo Fraga de Novaes), Roblido (Roberto Dias Inglês de Souza), Flavinho (Flávio Della Serra), Melinho (Antonio Carlos Oliveira Melo), Mano (Eduardo Souza Filho) e tantos outros. E outras, como Lolô (Heloísa Del Nero Bisquolo), Bidu (Lucia Helena Copelli Franzini), Sarita (Sarita Rodrigues de Oliveira Nunes Leal), Lucinha (Lúcia D´Egmont) todas chamadas mais cedo, muito precocemente, à eternidade.
Era o tempo do Clube Jundiaiense e suas “brincadeiras dançantes”. Os shows “Pobre Menina Rica” e outros. As serenatas. Os conjuntos formados por aqueles mais providos de talento musical. Ricardo, o “Rica-boy”, arranhava bem um violão. A vida de cada qual separa o convívio diuturno. O trabalho, o casamento, os compromissos fazem com que as ausências físicas surjam e se prolonguem. Mas a cada reencontro, era como se nunca tivéssemos deixado de nos ver.
Acompanhei sua enfermidade, paradoxal para um homem que sempre cuidou do físico. Fui várias vezes à sua casa, inclusive aniversários. Prefaciei um livro de poesia. Vi que o depauperamento não o enfraquecia intelectualmente. Conviveu com Hilda Hilst, que o adorava. Ouvi o testemunho dela, grande amiga de minha querida Lygia Fagundes Telles. Ricardo, grande Rica, violonista, poeta e amigo. Nem acredito que ele se foi. E com ele, boa parte de minha infância, da minha adolescência e da alegria que elas significaram.
JOSÉ RENATO NALINI é Corregedor Geral da Justiça do Estado de São Paulo, biênio 2012/2013. E-mail: jrenatonalini@uol.com.br.
FRANCISCO VIANNA - O OCIDENTE ESPERA QUE O IRÃ SUBSTITUA AS PALAVRAS POR AÇÕES

PRESIDENTE DO IRÃ DIZ QUE “OS SIONISTAS APELAM PARA A SABOTAGEM ONDE O IRÃ JÁ TEVE SUCESSO”
O Presidente do Irã, Hassan Rouhani, discursa durante uma entrevista à TV estatal do país em setembro último, em Teerã (foto: AP/Escritório da Presidência/Rouzbeh Jadidoleslam)
O Presidente Hassan Rouhani disse no último domingo que seu país tem tido sucesso em isolar Israel e que esta foi a razão de o estado judeu ter tentado “arruinar a atmosfera positiva” em torno das conversações sobre o programa nuclear do regime iraniano.
Falando numa reunião de gabinete, Rouhani disse que “o Irã tem que ser cuidadoso com os planos de seus inimigos externos que visam danificar a unidade nacional”, relatou a agência de notícias estatal iraniano IRNA. Rouhani acrescentou que Israel estava tentando sabotar as negociações nucleares em curso.
“Os sionistas têm apelado à sabotagem e criado incidentes domésticos e no exterior”, disse ele, assinalando que a história da Revolução Islâmica mostra que isso acontece cada vez que a República Islâmica se aproxima de um marco de entendimento na arena internacional. O mandatário elogiou os esforços diplomáticos do seu país, afirmando que sua administração tomou ativamente a iniciativa na arena global e “venceu a batalha no ‘tribunal da opinião pública’ nos países que impuseram as sanções contra o Irã via ONU”, segundo a mídia local.
Concluiu dizendo que seu governo já conseguiu sucesso diplomático ao suspender a aplicação de sanções adicionais ao país e ao se engajar construtivamente com as potências mundiais. “Com a graça de Deus e graças ao feito épico do povo persa nas eleições presidenciais, o movimento diplomático do governo, numa interação construtiva com o resto do mundo e através do apoio e confiança do Líder Supremo da Revolução Islâmica, tem produzido resultados avaliáveis neste curto período, os quais têm não só motivado os governos a elogiar a democracia no Irã como também a suspender a tendência de aplicar novas sanções contra Teerã”, disse em sua peroração de gabinete. “O governo do Irã está consolidando seus direitos nucleares passo a passo e removendo obstáculos do caminho do progresso da nação”, acrescentou.
O presidente iraniano concluiu dizendo que “o caminho digno do Irã está claro, e os objetivos que têm sido estabelecidos pelo Líder Supremo da Revolução para o desenvolvimento do país serão vigilantemente buscados”.
No ultimo domingo, o orador do Parlamento iraniano, Ali Larijani, advertiu que “uma pressão exagerada por parte do Ocidente, durante as conversações sobre o assunto nuclear podem levar os legisladores iranianos a apelar para uma aceleração dos trabalhos atômicos em toda a sua gama, inclusive a militar”. Essa mensagem de Larijani foi seguida de apelos por parte de alguns membros do Congresso dos EUA no sentido de aumentar ainda mais a severidade das sanções apesar e independentemente de qualquer negociação nuclear em curso ou em vista de ocorrerem como as que começaram na semana passada em Genebra. “Os iranianos têm que mudar sua atitude e seu discurso, ambos ameaçadores, em relação ao Ocidente e particularmente a Israel, ou jamais ganharão a confiança do mundo em relação ao seu programa nuclear”, disse um senador americano. Também foi claro ao se referir às preocupações dos ‘linha-duras’ com relação às possíveis concessões que os iranianos possam obter nos seus esforços para aliviar as atuais sanções impostas pelos EUA e seus aliados via Conselho de Segurança da ONU.
Larijani disse que o Parlamento do seu país pode e deve ser ouvido no tocante à “quantidade e diversidade” das atividades nucleares do país, sugerindo que é urgente expandir essa atividade nuclear caso o Ocidente mostre um “comportamento de duplo padrão e injustificável”. Não forneceu mais detalhes em seus comentários relatados pela agência de notícias semioficial FARS.
Detalhes das conversações iniciadas na semana passada permanecem fortemente secretas, mas as prioridades no curto prazo, ficaram mais claras. Os EUA e seus aliados procuram reverter as ações de enriquecimento de urânio de alto nível por parte do Irã, as quais ainda estão diversos passos distantes do grau de aquisição de capacidade bélica.
O Irã quer que o Ocidente comece a suspender as sanções, que têm atingido seriamente a vital exportação de petróleo do país.
A próxima rodada dessas conversações está marcada para os dias 7 e 8 de novembro próximo em Genebra entre o Irã e o G5+1, os países integrantes permanentes do Conselho de Segurança da ONU mais a Alemanha. Tanto o Ocidente como outros países temem que o Irã possa eventualmente produzir uma ogiva nuclear, ao passo que o regime persa insiste em que busca apenas construir reatores para a produção industrial de energia elétrica e para uso médico.
Segundo autoridades israelenses – que receberam informes reservados sobre as discussões da semana passada –, o Irã está alegadamente querendo limitar o enriquecimento de urânio em 20% e “restringir amplamente” a atividade de suas instalações nucleares em troca da suspensão das sanções econômicas ocidentais impostas contra a República Islâmica, mas ao mesmo tempo não quer desistir de progredir com sua tecnologia nuclear.
O Primeiro Ministro israelense Benjamin Netanyahu, falando na reunião de seu gabinete, no domingo, instou que o Ocidente aumentasse a pressão internacional sobre Teerã e além de manter as atuais sanções, até mesmo as aumentem em variedade e severidade, pelo menos enquanto “as ações persas não se tornarem mais visíveis do que suas palavras têm sido audíveis”. Netanyahu destacou que o mundo não deveria esquecer que o Irã tem “sistematicamente enganado a comunidade internacional” no tocante ao seu programa nuclear e principalmente ao que pretende dele a cúpula islamofascista do regime de Teerã, que já foi bastante explícita quanto a elas.
O jornal americano de esquerda, o The New York Times, disse na sexta feira passada que o governo de Obama estava ponderando um “descongelamento gradual” dos depósitos iranianos no exterior, sem rescindir as sanções propriamente.
O Ministro para Assuntos Estratégicos e de Inteligência, Yuval Steinitz, tem agendada uma viagem aos EUA neste fim de semana, tanto para ser informado sobre o que foi conversado em Genebra, quanto para avisar Washington para não se deixar enganar, de novo, ao fazer concessões prematuras a Teerã. Netanyahu também tem agendada, com o Secretário de Estado John Kerry, uma discussão sobre o Irã durante um encontro em Roma nesta semana.
A posição de Israel, Segundo uma reportagem da mídia hebraica, é a de que concessões dadas a Teerã ainda deixarão que o Irã mantenha sua infraestrutura em funcionamento para retomar seu programa nuclear a qualquer momento no futuro. Netanyahu tem exigido repetidamente, que o Irã deva ser privado inteiramente de qualquer possibilidade “de uso militar da energia nuclear”, uma vez que, declaradamente, o mundo todo sabe o que o regime persa pretende fazer com ele, assim que o conseguir.
“O fechamento incondicional das usinas nucleares de Arak e Fordo é fundamental para que a capacidade de enriquecimento de urânio em nível militar seja eliminada. Com isso, todo o urânio enriquecido deve ser enviado para for a do Irã e ser armazenado em local seguro, com a AIEA da ONU fiscalizando amplamente os reatores e fornecendo o combustível atômico apenas para o funcionamento pacífico que os persas dizem buscar e até ajudando os cientistas iranianos a obtê-lo”.
No fim de semana passado, o presidente Rouhani disse que o Irã “tem a vontade política necessária” para chegar a um acordo com a comunidade internacional “que represente uma vitória para ambos os lados” quanto ao seu programa nuclear, como publicou o jornal “Tehran Times” no domingo. Disse ainda que o encontro da semana passada em Genebra, chamado de “o mais sério até o momento” pela Casa Branca, mostrou que “os outros países [menos Israel, é claro] ficaram cientes da vontade política da República Islâmica do Irã”.
Teerã procura o alívio de anos de sanções paralisantes impostas pela ONU, as quais Israel insiste que sejam mantidas como sendo determinantes para que o Irã seja forçado a se amoldar às regras nucleares internacionais de segurança estabelecidas pela Organização Mundial.
Sexta feira, 25 de outubro de 2013
FRANCISCO VIANNA- Médico, comentador político e jornalista - Jacarei, Brasil
LAURENTINO SABROSA - PENSAMENTOS

101 - É mais fácil mudar a natureza do plutónio do que mudar a natureza maldosa do homem – Einstein
É um pensamento pessimista, científico-literário, que se assemelha ao anterior de Rousseau. Será que o homem, o homem em geral e em termos abstractos, é assim tão mau? Se 5% da humanidade fosse de vigaristas, 5% fosse de assassinos, 5% fosse de proxenetas, 5% fosse de traficantes de droga e de armas, teríamos um total de apenas 20% de indivíduos como escória de toda a humanidade, mas bastariam esses 20% para que a vida em sociedade fosse insuportável. Portanto, ainda temos na humanidade mais de 80% de gente boa e sã! Os grandes matemáticos às vezes não sabem fazer contas!...
102 - O mundo tornou-se perigoso porque os homens aprenderam a dominar a natureza antes de se dominarem a si mesmos – Albert Schweitzer
Não me parece que os homens tenham aprendido a dominar a Natureza. Podem ter a ilusão, provisória, de que a dominaram, mas lá virá tempo em que ela se “vinga” com as tais imperfeições de que falava Pascal, para que a humanidade – quem tiver ouvidos que oiça, quem tiver olhos que veja, como disse Cristo – se venha a corrigir e a compreender que contrariar a Natureza é o mesmo que contrariar o Criador e que dominar-se a si mesmo é melhorar “a sua natureza”, não melhorar a Natureza.
103 - Na natureza nada se perde, nada se cria, tudo se transforma – Lavoisier.
Esta frase é uma sentença filosófica que não foi expressa nestes termos por Lavoisier. Lavoisier era químico, e estabeleceu a lei com o seu nome - Lei de Lavoisier: o peso de um composto é igual à soma dos pesos dos seus elementos. A partir desta realidade científica, na época de grande projecção, é que os filósofos da Revolução Francesa, de que Lavoisier foi um dos guilhotinados, elaboraram a sentença acima mencionada. É possível que isso também se tenha reflectido na Teologia, onde se diz que, pela morte, a vida não acaba, apenas se transforma.
104 - Antes de ser um homem da sociedade, sou-o da natureza – Marquês de Sade - O marquês de Sade é bem conhecido, justa ou injustamente, pela sua personalidade depravada, para a qual pessoas e circunstâncias, a sociedade, conforme diz Rousseau, se encarregou de acentuar. Para mim, a frase é um pouco dúbia. Refere-se à Natureza ou à “sua natureza”? O mais provável é referir-se à “sua natureza” e, então, confessa-se escravo das tendências humanas nada dignas e dos impulsos condenáveis. Nesse caso, a fama que tem é justa, tanto mais que ele parece estar convencido de que, aquilo que ele é, todos o são. Ainda segundo ele, As paixões humanas não passam de meios que a natureza utiliza para atingir os seus fins – parece que pretende desculpar toda a gente das suas paixões por serem inevitáveis.
105 - A compaixão para com os animais é das mais nobres virtudes da natureza humana - Charles Darwin - Mas não é a mais nobre. Mais nobre que ter compaixão pelos animais é ter compaixão pelas pessoas. Sei de um caso real em que uma família, querendo agradar a outra, deu um pastel a um cãozinho de luxo, depois de o ter negado a um rapazinho que se mostrara esfomeado e desejoso dele.
106 – Não fazer o mal porque não se conhece o mal, é bonito mas não tem mérito. O mérito estar em não fazer o mal apesar de o conhecer. Não fazer o mal por não o conhecer, é próprio de anjos papudos; não fazer o mal apesar de o conhecer, é próprio de arcanjos com espada de fogo. Meu Deus, desde há sessenta anos que fizeste de mim alguém que suporta risinhos e sarcasmos por ser figura típica de elegância raquítica, mas eu agora quero acreditar que isso é uma maneira de me dizeres que, também por aí, não queres que eu seja simplesmente anjo papudo.
107 – “Antes quero burro que me leve que cavalo que me derrube”. Antes quero velha que me ame que nova que me despreze.
108 – De muitas pessoas se diz que, apesar das suas aparências de espírito proceloso, são pessoas cordatas e amáveis, a questão é saber lidar com elas.
Mas será que alguém tem o direito de exigir que os outros se adaptem à sua maneira de ser, revoltada ou enfastiada, para as “obrigar” a ser amáveis e fraternas, para ser aquilo que deviam sempre ser, e só o são para quem as lisonjeia, por lhes ter descoberto as manias e as idiossincrasias? É obrigação de todo o ser humano ter um mínimo de cordialidade e de atenções para com todos, e não estar à espera de que sejam os outros a tomar a iniciativa de ter essas atenções e cordialidade para com ele e, depois, retribuir duma maneira distante, cerimoniosa e fria.
O burro teimoso que não quer comer palha, também come palha se lha souberem dar, e o seu agradecimento por isso é tão frio e distante que quem lhe soube dar a palha mal se dá conta dele. Sejamos ser humanos, não asininos.
109 - Muitas pessoas, quando não têm razão nem justificações verdadeiramente válidas para se defender, inventam subterfúgios, agarram-se a minudências para se desculparem e se defenderem. No entanto, não passam de náufragos aflitos que querem fazer de palitos tábuas de salvação.
110 – Quando eu morrer, é a vida que me diz provisoriamente adeus, sem que eu possa dizer adeus à vida. Essa continua, para depois me reencontrar. Quem se suicida, não é a vida que lhe diz adeus, é ele que quer dizer adeus à vida, com quem, também se vai reencontrar, mesmo sem querer. Porque a vida já a tínhamos mesmo antes de nascermos. Por isso, bem se pode dizer que no dia em que saímos do ventre da nossa mãe, não nascemos, não iniciamos a nossa vida, continuamos a vida que já tínhamos, vindo agora para este mundo. Vir para este mundo não é verdadeiramente nascer.
111– Uma pagela obituária de um amigo meu dizia: ´Só morre quem nunca viveu no coração de alguém. Com isso se quer dizer que ele, o meu amigo, porque foi amado por diversas pessoas, nunca morrerá, pois continuará a viver no pensamento e no coração dessas pessoas.
Eu, porém, prefiro dizer: Só morre quem nunca teve ninguém a morar no seu coração. Quem não morre por continuar a ser recordado e amado por alguém, vive não pelas suas forças anímicas ou espirituais, mas pelas forças de quem o ama e enquanto viver quem o ama. Tem uma vida passiva. Mas quem morre a amar alguém, com esse alguém a morar no seu coração, vive pelas suas forças activas, numa vida própria que o amor que teve no seu coração lhe confere, serena, espiritual, celeste, angélica, divina, eterna…
Quem é simplesmente amado, encanta-se, rejubila; quem ama sofre e sublima-se.
LAURENTINO SABROSA - Senhora da Hora, Portugal
laurindo.barbosa@gmail.com
HUMBERTO PINHO DA SILVA - D. DUARTE E A BÍBLIA

Não há, no mundo Ocidental, família que não possua, pelo menos, um exemplar da Bíblia, mesmo as que se declaram agnósticas.
A divulgação do Livro, mormente o Novo Testamento, foi de tal forma feita, que praticamente não existe quem não conheça passagens do Evangelho.
Bem sei, que a maioria das Bíblias, encontram-se guardadas nas estantes, já que a leitura Desta, ainda é rara entre católicos, apesar das recomendações constantes da Igreja, para que seja diária.
Mas, na Idade Média, não foi assim. A Bíblia era para uso exclusivo de mosteiros e palácios. Os crentes tinham conhecimento Dela, pelos sermões e homilias.
A descoberta da imprensa, facilitou a difusão.
Mesmo assim, parte da literatura medieval sofreu influência do Livro.
Na “ Arte de Bem Cavalgar Toda a Sela”, D. Duarte cita passagens do Evangelho, assim como no “Leal Conselheiro”.
Não admira, já que o rei possuía, na biblioteca, excertos do “Evangelho “, e seu pai, El-Rei D. João, chegou a traduzir “ Salmos” para a linguagem de então.
D. Duarte era, para a época, rei de elevada cultura. Fundou a primeira biblioteca real, no paço, e escreveu várias e curiosos livros. No seu reinado foi nomeado Cronista -Mor, Fernão Lopes.
Sabe-se que nessa livraria havia vários livros da Bíblia, entre eles:” Actos Apóstolos “, o “Livro dos Salmos” e “ Géneses”, todos em latim.
Há dúvidas se existia, no paço, exemplar da Bíblia completa; é de crer que não, mas que D. Duarte conhecia excertos, não há duvida, pois chega a citá-los no “ O Leal Conselheiro”.
Recomendava D. Duarte que não se devia ler muito de uma acentada, para se poder compreender e meditar melhor, e não enfartar a mente.
Recomendava a leitura do Evangelho, e esclarecia que há passagens obscuras, que nem os entendidos podem explicar, sem receio de errarem; mas, diz o rei, que se não percebermos, um versículo, passemos a outro.
Assevera D. Duarte que sempre aprendemos com a leitura do Evangelho, e se O conhecermos bem, podemos esclarecer os que não podem ou não tiveram oportunidade de O lerem.
Devido à Bíblia, a língua portuguesa está impregnada de hebraísmos e expressões desse povo.
Na opinião do rei, a leitura do Evangelho não é perda de tempo, muito pelo contrário.
Infelizmente, apesar de estarmos a séculos da Idade Média, ainda há muitos crentes que adquirem a Bíblia para engalanarem a estante.
Certa ocasião fui visitar senhora de elevada cultura. Sabendo que era católico, quis deslumbrar-me, mostrando uma Bíblia ilustrada de Doré, ricamente encadernada a couro e de vistosas folhas doiradas.
Ao entregar-ma, declarou eufórica: - “ Agora meu marido já tem uma Bíblia à sua altura!”
Essa mulher apreciava os livros, como muitos avaliam os homens: pelas vestes e aspecto exterior.
Pensava a boa senhora, que o marido ficava mais ilustre por possuir luxuosa Bíblia.
Esses livros, de elevado custo, em regra, não são para serem lidos, apenas servem para deslumbrar as visitas.
HUMBERTO PINHO DA SILVA - Porto, Portugal
EUCLIDES CAVACO - VENTURA
VENTURA é uma simplicíssima composição que preenche esta semana o espaço de poema da semana que poderão ver aqui neste link:
Euclides Cavaco - Director da Rádio Voz da Amizade.London, Canadá
Terça-feira, 22 de Outubro de 2013
CIINTHYA NUNES VIEIRA DA SILVA - PROFESSOR: SER OU NÃO SER ?

Por mais que eu tente não fazer, sempre que me dou conta estou escrevendo sobre alguma data comemorativa. Assim, comemorado nessa semana, o Dia do Professor me trouxe algumas reflexões.
Até onde me consta, do que conheço do histórico de minha família, uma de minhas bisavós maternas já era professora. Meus pais o são, bem como vários de meus tios. Eu mesma cresci acompanhando meus pais em várias aulas, e isso desde tenra idade, por vontade própria. Era meio óbvio que eu escolhesse esse caminho como parte da minha profissão.
Ainda que minha formação seja jurídica, acabei enveredando pelos rumos da docência, meio sem programar exatamente, embora intimamente convicta de que um dia eu chegaria lá. Assim, minha experiência na docência é muito boa de forma geral. Escrevo, hoje, em verdade, é para reflexão sobre a profissão de professor de um modo geral. O panorama na docência no ensino superior é diverso, em princípio, daquele do ensino médio e fundamental.
Não consigo entender, não racionalmente, as razões pelas quais o ensino público no Brasil se perdeu e deixou parte de sua qualidade de lado. Às vezes, muitas vezes na verdade, creio que não há verdadeiro interesse político em um povo educado, cioso de seus direitos e da forma de reivindicá-los.
Estudei grande parte de minha vida no ensino público e é sobretudo de lá que trago minhas raízes, minhas bases. Por certo eram outros tempos e a própria sociedade cultiva valores diversos, porém eu me ressinto e lamento pelas crianças e jovens que não terão direito a um ensino de qualidade. E grande parte disso decorre da desvalorização da carreira de professor.
O professor é a viga mestra de qualquer escola. É um sacerdócio, de fato, mas é necessário bem remunerar o professor. Em um país no qual os salários de políticos são estratosféricos, é, no mínimo curioso o fato dos salários dos professores não gozar das mesmas prerrogativas.
Sem um salário condigno, o professor não consegue se atualizar, não consegue reservar parte de seu tempo para o descanso necessário ao trabalho produtivo e prazeroso. Entre outras coisas, não se trata apenas de dinheiro, mas da valorização da profissão para que apenas pessoas vocacionadas a elejam como meio de vida.
O processo de resgate da dignidade da profissão de professor é um processo lento, longo e que demanda boa vontade de quem tem os meios para isso. Resta saber que espécie de povo e de país almejamos ser. É fato que há diversas experiências bem sucedidas, inclusive no ensino público, mas ainda não são em número suficiente para transformar, de modo sensível, a realidade nacional.
Pelo Dia do Professor, felicito àqueles que, todos os dias dão o melhor de si para que os outros possam aprender, para que o mundo se torne um lugar melhor de se viver, mesmo sem que recebam o melhor dos outros...
CINTHYA NUNES VIEIRA DA SILVA - Advogada, mestra em Direito, professora universitária e escritora - São Paulo.
JOÃO CARLOS JOSÉ MARTINELLI - 25 DE OUTUBRO. DIA INTERNACIONAL CONTRA A EXPLORAÇÃO DA MULHER

“AS MULHERES DEVEM FAZER PARTE,
NÃO ESTAR À PARTE” (Z. Almabert)
Celebra-se a vinte e cinco de outubro o Dia Internacional Contra a Exploração da Mulher. A data foi escolhida para ser um momento de reflexão no mundo para discutir a violência e a opressão praticadas contras pessoas do sexo feminino. No Brasil, apesar dos avanços com a implantação da Lei Maria da Penha, ainda há muito a ser feito para evitar a exploração e os abusos sofridos pelas mulheres.
O Dia Internacional Contra a Exploração da Mulher, instituído a vinte e cinco de outubro pela ONU (Organização das Nações Unidas). A data foi escolhida para ser um momento de reflexão, já que as diferenças sociais entre mulheres e homens são grandes, sendo que estes ainda levam vantagens injustificadas em muitos aspectos.
Com efeito, no decorrer do século XX, alvoreceu uma nova mentalidade em relação às pessoas do sexo feminino, que adquiriram maior consciência de seu estado de discriminação e passaram a se dedicar à busca de realização como pessoas plenas. Essa data inspira às suas demandas e solicitações. Embora se registrem muitas conquistas nos últimos tempos, os desafios não acabaram. Pelo contrário, exigem uma batalha cotidiana a ser travada em todas as esferas sociais – até no próprio lar-, sempre visando o respeito mútuo e a harmonia entre os gêneros. Só assim será possível a completa integração da mulher na sociedade, a fim de que ela ocupe uma posição igualitária. A Constituição brasileira reconhece o direito de todos à cidadania plena, mas, na realidade, existe uma grande distância entre a lei e o dia-a-dia das brasileiras, observando-se a ocorrência de inúmeros casos de preconceitos e de violência.
A principal forma de constrangimento físico que as atinge continua sendo no espaço doméstico, apesar da Lei Maria da Penha, que vige desde agosto de 2006. Normalmente elas são agredidas pelo próprio companheiro – marido, ex-marido, namorado etc -, ou seja, pelas pessoas mais próximas e nas quais elas normalmente mais confiam. A violência doméstica, que submete a cônjuge virago a toda sorte de maus-tratos, constitui-se numa realidade bem atual e corriqueira, estando presente, infelizmente, na rotina da vida de milhares de famílias, provocando outros sintomas de relevância, posto que transfere aos filhos reflexos demasiadamente prejudiciais à sua formação, agravadas pelo envolvimento emocional inerente entre parentes. Outro tipo comum de agressão, que não a física, é a que nega à mulher direito de participação ativa na sociedade, impedindo-a de realizar-se plenamente como ser humano. Conforme documento divulgado recentemente pelo Programa da ONU para o Desenvolvimento (PNDU), as mulheres não têm em nenhum país as mesmas oportunidades que os homens, mesmo com os avanços registrados na área educacional. As desigualdades são verificadas, especialmente, no “status” profissional e na qualidade de empregos.
Desta forma, destacamos que só haverá avanço na superação dessas situações se, principalmente, as mulheres não ficarem de braços cruzados, mas forem à luta, engajando-se nas inúmeras instituições e movimentos existentes. Em1934, abrasileira votou pela primeira vez e evidenciou-se, cada vez mais, o despontar de uma mulher sujeito da História, conquistando respeito e tendo uma participação de peso nos vários setores da sociedade. A data de 25 de outubro nos convida à reflexão sobre a condição feminina, buscando soluções para os casos de exclusão que ainda persistem objetivando a permanente prevalência de uma profunda relação de comunhão em reciprocidade e doação entre o homem e a mulher.
JOÃO CARLOS JOSÉ MARTINELLI é advogado, jornalista, escritor e professor universitário (JUNDIAÍ – SÃO PAULO- BRASIL- martinelliadv@hotmail.com)
Segunda-feira, 21 de Outubro de 2013
FELIPE AQUINO - O DIVÓRCIO ESTÁ CRESCENDO NO BRASIL ?

Publicou-se recentemente que o número de divórcios no Brasil tem crescido assustadoramente.
Estatísticas do Registro Civil do IBGE apontam que em 1 ano, a taxa geral de divórcios cresceu 45,06%, chegando ao maior patamar da história. A maioria dos casais está se divorciando antes de completar 15 anos de casados.
Cadastre-se grátis e receba os meus artigos no seu e-mail
Temos que refletir muito e pensar o porquê isso está acontecendo.
Ouça o podcast com a explicação do Prof. Felipe Aquino:
http://cleofas.com.br/o-divorcio-esta-crescendo-no-brasil/
FELIPE AQUINO - Escritor católico. Prof. Doutor da Universidade de Lorena. Membro da Renovação Carismática Católica.