Tenho presente o seguinte poema de Eugénio de Andrade que, quanto a mim, é uma das belas entre as poesias moderna. As poesias modernas, enfim, talvez não valha a pena fazer comentários.
É urgente o amor.
É urgente um barco no mar.
É urgente destruir certas palavras:
Ódio, solidão, crueldade, alguns lamentos
e muitas espadas.
É urgente inventar alegrias, multiplicar os beijos
e as searas.
É urgente descobrir rosas e rios, e
manhãs claras.
Vai o silêncio nos ombros e luz impura
até doer.
É urgente o amor, é urgente permanecer.
Apetece-me fazer um comentário, fazendo de conta que voltei aos bancos da escola e que no exame me pediam uma análise desta poesia.
É urgente o amor não só agora que o sabemos tão conspurcado, não só agora mas em todas as épocas e em todos os domínios. Há aqui uma intemporalidade. Grande é a preocupação do poeta e manifesta-a usando repetidamente o aviso – é urgente…é urgente.
Para que o amor seja adquirido e implantado com urgência, é também necessário outras coisas para além das apontadas pelo poeta.
É urgente um barco no mar é um apelo que tem qualquer coisa de ecológico. Poder-se-ia dizer “é urgente uma árvore na floresta”. Tanta coisa se tem visto que tem o aspecto desolador de um mar que soubéssemos sem barcos em toda a sua extensão, onde não se via manifestações da vida humana, onde só pudéssemos supor uma vida “subterrânea”, tao invisível que o tornaria a nossos olhos um “mar morto”.
É urgente o amor, mas também é urgente o trabalho e “amar o amor”, sendo optimista a respeito do amor, para multiplicar os beijos e descobrir manhãs claras. Só assim poderemos banir o que nos pesa e faz doer os ombros – o silêncio doloroso e a luz impura. Agora há mais actualidade que intemporalidade.
Em toda a poesia há uma ideia de mudança que importa promover com urgência, atitude em que é urgente permanecer, seja para pôr barcos no mar, seja para plantar árvores na floresta – acções de trabalho, vida e fé – seja para destruir certas coisas: certas palavras e muitas espadas. É “urgente permanecer” ainda na atitude de elevado ânimo que nos leve a inventar alegrias e a descobrir rosas e rios.
Esta poesia em que tanto se insiste que “é urgente o amor”, parece toda voltada para a fraternidade humana e para a ecologia, entendida esta como boas relações do Homem com a Natureza. Na verdade, vemos referências à necessidade de afastar ódios e de multiplicar as searas.
Não se vislumbra, aparentemente, uma alusão àquele amor dos casais, casados ou não. Talvez entre eles não seja preciso lembrar que é urgente “multiplicar os beijos”. No entanto, o amor entre os casais está talvez mais conspurcado que o amor do Homem pela Natureza, e tanto em perigo como a fraternidade humana. Também entre os casais é “urgente o amor” e também aí é “urgente permanecer” no amor. Também aí a mudança é urgente – os amantes devem passar a ser namorados, não apenas amantes como agora são. É possível que o poeta tenha pensado neles quando se referiu à luz impura que, pesando nos ombros, até faz doer.
Gostaria de saber que nota merecia este “ponto escrito” de um doutor, professor de Português e de Literatura. Se ele (ou ela…) tivesse uma amante, não propriamente uma namorada, ficava logo reprovado e nem sequer ia à prova oral!
LAURENTINO SABROSA - Senhora da Hora, Portugal
Apesar de Israel ter intensificado o envio de suprimentos para a Faixa de Gaza, o fato de o Egito ter fechado a quase totalidade dos túneis e assim ter coibido severamente o contrabando, fez com que os preços na Faixa disparassem – o que irritou os moradores e custou ao “governo islâmico” do Hamas uma fortuna. Todavia o grupo continua ainda a treinar terroristas.
Uma sessão de treino militar de aprendizes de guerrilheiros organizado pelos “forces de segurança nacional” do Hamas em Rafah, no sul da Faixa de Gaza, próximo à fronteira do Egito, onde os túneis de contrabando foram fechados. (foto: Abed Rahim Khatib/Flash90)
Para quem chega à fronteira norte da Faixa de Gaza com Israel, à primeira vista, tudo parece calmo e sereno. Da ponta do norte da Faixa, o ponto onde a barreira entre Israel e Gaza termina, vê-se o terreno desce gradualmente em direção ao Mar Mediterrâneo e não existe qualquer sinal físico a separar as areias da praia Zikim, de Israel, da última praia ao norte do território ‘palestino’. Aqui e ali, pescadores palestinos remam suas jangadas, tentando pegar alguns peixes para vender e levar para suas casas alguns ‘shekels’, a moeda circulante no território. Nos dias ‘úteis’, o resto da praia de Gaza fica praticamente, pois são poucos os pescadores, mas, nos fins de semana a praia enche de pessoas em busca de lazer e relaxamento.
As casas do campo de refugiados de al-Shati, mais ao norte e a alguns poucos quilômetros ao sul da fronteira norte, são visíveis à distância. é onde fica a casa do “Primeiro Ministro” do Hamas, Ismail Haniyeh. Mais ao sul está o Hotel Gaza, um resort de praia, quase sempre vazio, exceto para os jornalistas estrangeiros que permanecem por lá sempre que vêm à região. Seus preços estão fora do alcance dos palestinos que habitam a Faixa.
O local de todo esse cenário aparentemente pacifico, tem sido uma das maiores dores de cabeça para as forças de segurança israelenses. Como a fronteira aqui é uma linha imaginária, e assim como os pescadores a cruzam tanto pelas areias da praia como remando suas jangadas pelo mar, também o fazem com relativa frequência alguns comandos do Hamas, para se aproximarem o mais possíveis das vilas e cidades israelenses mais próximas, antes de dispararem seus foguetes de fabricação caseira contra elas, para em seguida retornarem depressa para o “seu” território.
Mas isso não tem acontecido ultimamente, uma vez que para cada agressão dessas, a inteligência do Mossad cuida de eliminar, cirurgicamente, um ou mais de seus líderes. Por outro lado, também, o Hamas tem tido muita dificuldade de municiar seus terroristas com tais foguetes, graças tanto ao efetivo bloqueio marítimo da Faixa de Gaza feito pela Marinha israelense, como pela intensificação no fechamento dos tuneis de contrabando na passagem de Rafah efetuado pelos egípcios na fronteira sul. Com tanta dificuldade, o Hamas começou a anunciar que “não tem interesse” em lançar novos ataques terroristas a partir de Gaza ou iniciar confrontos militares com os judeus.
Mais do que o bloqueio marítimo israelense, a efetiva e exaustiva repressão egípcia sobre o Hamas, pelo fechamento dos túneis de contrabando no Sinai, começam a surgir temores de que o grupo islâmico poderá logo tentar aumentar as tensões diretas com Israel, numa tentativa de forçar o Egito a reabrir a fronteira do Sinai para o comércio legal e, principalmente, para o comércio ilegal.
É por isso que, nas últimas semanas, têm sido os israelenses, maisd do que todas as pessoas, a tentarem dissuadir Cairo de impor um bloqueio hermético na Faixa de Gaza. Fazer um bloqueio muito intenso a Gaza, muito provavelmente o Egito vai causar turbulência na região, o que poderá resultar num novo ciclo de violência entre Israel e o Hamas.
Para a maioria dos habitantes de Gaza, no entanto, o fechamento dos túneis trouxe uma nova realidade, pela qual, apesar da maioria dos produtos ainda estarem disponíveis – inclusive muitos sendo enviados por Tel Aviv, essas mercadorias estão muito mais caras do que antes de o Egito por cobro ao contrabando pelo Sinai.
UMA CIDADE SUBTERRÂNEA
Ao longo da fronteira entre a Faixa de Gaza e o Egito, na região do Sinai e perto de Rafah, centenas de túneis foram escavados e construídos, muito próximos uns dos outros e com muitas comunicações entre eles, pelos palestinos, para driblar o forte bloqueio de Israel ao território entre 2007 e 2010, quando o contrabando de produtos os mais variados se tornou uma das principais atividades dos seus habitantes.
Um porta-voz da polícia de fronteira egípcia informou, na semana passada, que os egípcios haviam fechado 1055 túneis, desde janeiro de 2011, sendo que 794 deles nos até agora nove meses de 2013. Tais túneis foram, em seu conjunto, um dos principais projetos do “governo” do Hamas. A empreita empregava cerca de 40.000 pessoas, e consumia cerca de 40% do “orçamento” do “governo do Hamas”.
Os túneis eram de diferentes, em comprimento e largura, mas a maioria tinha um propósito: contrabandear todos os tipos de mercadorias, desde mísseis e equipamento militar, até lanches e cigarros. Driblando o bloqueio israelense, a atividade de contrabando se mostrou altamente rentável, também, para os “empresários” privados envolvidos no processo.
O Hamas monitorava os túneis de perto e mantinha forte tributação sobre os proprietários dos túneis. Cada dono de túnel pagava impostos ao Município Rafah que fornecia uma licença para começar a cavar. Uma vez escavado o túnel e tendo entrado em operação, os impostos passavam a ser cobrados calculados sobre todos os produtos que passavam por ele, o que, ainda assim, era bem mais barato, do que qualquer mercadoria que viesse para o território legitimamente através da passagem de Kerem Shalom por Israel.
Por exemplo, um pacote de cigarros contrabandeado do Egito custa sete shekels (US $ 2), e é vendido nas lojas de Gaza por 10 shekels (quase US $ 3), com o proprietário do túnel ganhando dois shekels e o Hamas recebendo 1 shekel de imposto. O lucro do comerciante é, pois, de 5 shekels, mesmo assim, mais de 100% do valor contrabandeado.
O sistema funcionou satisfazendo a todos: aos proprietários de túneis que ganhavam sua comissão, aos moradores de Gaza que gostavam dos produtos extremamente baratos, ao Hamas que se beneficiou de dezenas de milhões de dólares em impostos e que acumulavam a cada mês e aos comerciantes que vendiam as mercadorias, única atividade econômica de monta da Faixa de Gaza.
A primeira fase da guerra egípcia contra os túneis começou quando a Irmandade Muçulmana ainda estava no controle do governo no Cairo. Após 16 policiais egípcios terem sido mortos perto da passagem de Rafah, em agosto de 2012, o Cairo percebeu que os terroristas filiados à Al-Qaeda estavam usando os túneis para receber equipamento militar a ser contrabandeado para Gaza e melhoravam os túneis para facilitar o combate.
Este foi o gatilho para a ação militar egípcia. Cerca de metade dos túneis foram fechados, mas a mudança mais dramática começou no final de junho de 2013, alguns dias antes dos protestos generalizados contra Morsi e que levou o exército levou a depô-lo. O exército, então, aproveitou da fraqueza da Irmandade e lançou uma grande operação na fronteira de Rafah, fechando 90% dos túneis existentes em operação.
Isso trouxe implicações financeiras imediatas para Gaza e para o ‘caixa’ do Hamas e a situação não melhorou desde então. Um residente de Gaza desabafou dizendo que "durante seis anos, nós nos acostumamos a comprar de tudo e barato. A gasolina custava apenas três shekels por litro. Os cigarros custavam dez e o leite era comprado por quatro shekels o litro. Agora, não e não se trata de escassez. Caminhões constantemente entram em Gaza com todos os tipos de suprimentos através de Kerem Shalom, em Israel. Mas os preços mais do que dobraram".
O “Escritório de Coordenação das Atividades de Governo nos Territórios”, entendendo que a escalada potencial da violência aumentou em Gaza, como resultado da falta de mercadoria, ultimamente tem permitido que mais de 430 caminhões por dia tragam produtos para Gaza, através de Kerem Shalom.
Mas, segundo os moradores de Gaza, o problema é o custo e não a disponibilidade. "As pessoas ganham o mesmo salário de antes e, se trabalharem em conjunto conseguem encomendar a preços mais baixos. Mas, mesmo assim, os preços dispararam. As pessoas não têm dinheiro para comprar gasolina a oito shekels o litro ou cigarros a 25 shekels o pacote. Os mercados de Gaza estão sofrendo uma recessão, e ainda mais em época de férias", disse ele, referindo-se ao Eid al-Adha, a ‘Festa do Sacrifício’, que começa na próxima terça-feira.
O Hamas também está sofrendo. "Apenas imagine a situação: quase todos os homens de Gaza fumam. Mas os baixos impostos cobrados sobre os cigarros contrabandeados do Egito se foram", disse um vendedor de Gaza. "Metade de um milhão de litros de combustível foram transportados através dos túneis diariamente e cada litro contribuiu com 1,5 shekels para o caixa do Hamas. Milhares de dólares em impostos foram pagos para cada carro trazido pelos túneis. O mesmo era verdade para materiais de construção, lanches, tudo".
A falta de renda tem impactado os salários do Hamas no ‘governo’. No mês passado o Hamas reteve os salários de todos a fim de economizar o dinheiro para o Eid al-Adha. O ‘governo’ aparentemente planeja conceder um bônus de 1.000 shekels para cada um de seus 50.000 funcionários (?), para o feriado.
O QUE O HAMAS VAI FAZER AGORA?
"O Hamas agora não tem nada a oferecer à comunidade palestina em Gaza", disse um analista palestino, que pediu para permanecer anônimo. “Vamos praticar um pouco de futurologia: segundo a ONU, em 2020, não haverá uma única gota de água potável na Faixa de Gaza que esteja disponível para o consumo humano. O que o Hamas pode fazer quanto a isso”? Muito pouco.
Mas, ainda hoje, a situação financeira na Faixa de Gaza está se deteriorando rapidamente. A renda do governo diminuiu – por causa dos túneis –, mas também por causa de uma diminuição das contribuições externas. O dinheiro que o Hamas arrecadava da Irmandade Muçulmana, nos dias de Mursi e a partir de seus membros no Egito, secou. As taxas de desemprego entre os jovens em Gaza nunca foram tão altas e a maioria dos universitários formados não conseguem encontrar trabalho. Que tipo de futuro pode Hamas oferecer a esses milhares de jovens que não podem pagar para comprar uma casa ou até mesmo se casar?, disse o analista.
Como tenho dito com frequência daqui do meu 'bunker' cibernético, a Faixa de Gaza e a Cisjordânia juntas, praticamente, não têm um PIB capaz de sustentar por si só uma estrutura de estado soberano e não se consegue ver no horizonte, tanto do Hamas como do Fatah, da ANP, qualquer sinal de que isso possa se tornar possível num futuro próximo. Como se poderá criar um ‘Estado Palestino’ nessas circunstâncias, senão uma espécie de pseudoestado a viver dos recursos enviados por outros países?
O Hamas está enfrentando uma das crises econômicas e políticas mais graves de sua breve história – por causa dos eventos em todo o Oriente Médio. Tudo causado pelas mudanças políticas no Egito e, mais uma, o grupo é relegado a operar agora no subsolo.
Quando o Hamas foi empurrado para agir à margem da guerra civil na Síria e a Irmandade Muçulmana deixou de ter um papel central, mesmo na Jordânia, a carência de recursos tem crescido como um obstáculo inexpugnável.
Já o Qatar e a Turquia não passam de “simpatizantes” do Hamas e que ainda enviam mensalmente algum dinheiro para o grupo não cair na imobilidade total, enquanto todos os outros países árabes, como Egito, Emirados Árabes Unidos, Arábia Saudita, Kuwait e Bahrein se opõem ao Hamas em favor da ANP, de Abbas e do Fatah. Não há sequer alguém dedicado a mediar um entendimento entre o Hamas e o Fatah, caso Gaza resolva, por cansaço da miséria, assumir o caminho da reconciliação. Qualquer um, em Gaza, sabe que, mudando de atitude, poderá encontrar em Israel um lugar muito melhor para viver e sem ter que renegar à sua fé muçulmana...
Acredito que, embora exista a possibilidade de uma escalada de violência contra Israel, ela é improvável. Apesar da crise financeira, a guerra contra Tel Aviv de há algum tempo deixou de compor a agenda do Hamas, mesmo porque hoje a crise não é causada por Israel, mas pela disposição decrescente dos estados que sustentam o arremedo de estado palestino em continuar com essa farsa.
Mesmo que o Hamas se reconcilie com o Fatah e monte outro arremedo de estado com a participação de ambos, sob a chefia de Abbas ou outro testa-de-ferro qualquer, o problema da capacidade de os palestinos conduzirem um estado soberano perdurará enquanto a região não desenvolver um setor primário (agropecuário), um setor secundário (industrial e comercial) – sem falar num setor terciário, de serviços – cujo conjunto seja capaz de gerar um PIB pelo menos suficiente para tal.
Por enquanto, o Hamas está dando um tempo para ver se o Egito vai mudar suas políticas para Gaza. Seus líderes não podem sequer sair do território; o Cairo os proibiu de atravessarem o a passagem fronteiriça de Rafah, no Sinai.
Enquanto isso, grande parte do dinheiro arrecadado pelo Hamas, principalmente dos países simpatizantes, está sendo gasto para aumentar e equipar suas forças militares, principalmente se seus líderes escolherem o caminho da guerra, mais na Síria em conluio com o Hezbollah do que propriamente contra Israel, para o qual não seria páreo. Ultimamente, o grupo criou um campo de treinamento para os membros de sua ala militar, não muito longe da fronteira noroeste de Gaza, sobre as ruínas do antigo assentamento judeu de Dugit. O acampamento é chamado de Askelan - numa referência ao Ashkelon (vide mapa acima), mais acima, no litoral de Israel.
A alta torre de vigia construída no acampamento é claramente visível a partir de território israelense. Desse ponto de vista elevado, ativistas do Hamas observam a atividade do lado israelense da fronteira. Desde a última grande escaramuça, em novembro de 2012, eles assistem a tudo com relativa calma. E provavelmente com muita inveja... Não há garantias de que essa atitude vai mudar.
Sábado, 12 de outubro de 2013
FRANCISCO VIANNA- Médico, comentador político e jornalista - Jacarei, Brasil
Ao companheiro da juventude:
Manuel Maria Magalhães
Recentemente falecido.
Despreocupadamente, vagueio ao longo de estreito carreirito de terra pardacenta, entalado entre campas rasas, no cemitério local.
Diante de mim, ladeando o caminho, há jazigos, de mármores brancos, bem cuidados, alegrados de frescas flores, que adoçam enjoativamente o leve ar doirado da manhã; e outros, desventrados, enegrecidos, de densa poeira, de pedras e cruzes quebradas.
Em todos ou quase todos, tristes palavras de saudade eterna.
Agora reparo numa singela capelinha, toda branca, toda resplandecente, faiscando à macia luminosidade da manhã coberta de sol. Nela, lê-se, inscrito a negro, a palavra - “Ninguém”.
Ninguém?! Sim, ninguém! Para quê mencionar nomes!? Já não existem!; e muitos morreram, também, no coração de amigos e familiares.
Com eles, pareceram, igualmente: os da sua geração, os objetos que usaram, e, quantas vezes, a casa onde nasceram e viveram.
Tudo desapareceu. Tudo mergulhou no pó do esquecimento. Existiram, mas é como nunca existissem.
Piso a terra sagrada, respeitosamente; há nela gerações desaparecidas, metamorfoseadas, transmudadas em seiva, que corre nas verdes folhas dos velhos ciprestes do cemitério.
Sob a terra que calco, apodrece quem: riu, sonhou, sofreu e chorou. Os que receberam acotoveladas e ingratidões. Os que amaram e odiaram com ardor. Todos irmanados, todos reduzidos a pó. Como se nunca tivessem nascido e vivido.
Pensativo, melancólico, taciturno, meditando na vida e na morte, nas vaidades e orgulhos, na cobiça e na inveja, regresso tristemente a casa.
Por desfastio, folheio volume encadernado a percalina preta, com filetes a prata, do ano de 1913, da “Ilustração Portuguesa”.
Diante de meus olhos míopes, passam, a preto e branco, imagens de: artistas, jornalistas, escritores, empresários, professores, políticos de sucesso. Figuras iminentes, incontornáveis, inesquecíveis; mas, para mim, homem do século vinte e um, ilustres desconhecidos, que as enciclopédias esqueceram-se de registar.
Compara-se a morte a uma porta; à passagem de um rio; ao sono reparador; à feia lagarta, que se torna na bela borboleta. Para mim, a morte, é o segundo nascimento:
Sai a criança das trevas para a luz; morre o homem da ignorância para a Verdade. E sempre, nos nascimentos, há: choro e dor.
Brevemente os crentes, irão visitar seus mortos. Bonita e significativa tradição.
Costume, pelo facto de o ser, perdeu significado. Felizmente, a maioria, ainda conserva respeito, lembrando-se, que em breve - anos ou décadas, - serão pó, serão nada: sejam sábios ou iletrados, ricos ou pobres.
Tudo passa. Tudo desaparece. Tudo se extingue. Tudo se torna terra e poeira; em poalha; em polvilho de nada.
HUMBERTO PINHO DA SILVA - Porto, Portugal
É o Papa Francisco bem desigual
De Papas que temos já visto exercer
Seu pontificado na Cúria Papal;
É mais um modelo no seu bem querer.
O Papa Francisco sorri cordial,
Afaga as crianças, como é seu dever
E dá-lhes carinho sem "credencial";
Ah, como é tão simples, seu lindo viver!
Que lições tão belas, de modo Cristão,
Nos dá este Papa de bom coração
Que não quer riquezas, nem luxo no lar.
Um Socialista como era Jesus
Que morreu, tão simples, pregado na Cruz
E o Papa Francisco este exemplo quer dar.
CLARISSE BARATA SANCHES – Góis – Portugal
A maior parte das melhores criações de comidas, em todo o mundo, se deve a simples donas de casa, modestas, anônimas, esquecidas, empenhadas em fazer, com muito amor e dedicação, menos sacrificadas as vidas de seus maridos, de seus filhos. E, com recursos limitados, conseguiram, de geração em geração, forjar essa maravilha que é a culinária popular típica.
O que é a pizza, senão pão e queijo, a mais simples e barata das combinações alimentares da velha Itália? A esfiha, que é senão a mistura de pão e restos de carne de carneiros? E a feijoada, verdadeira maravilha feita da mais barata das leguminosas e das menos nobres partes do mais sujo dos animais domésticos?
Lembro que certa vez estava em Madri, numa Semana Santa, hospedado num hotel baratinho. Como nessa época do ano a cidade fica vazia, pois todos os turistas acorrem a Sevilha, um grande hotel de 5 estrelas fez uma promoção incrível. As diárias ficaram mais baratas do que o meu modesto hoteleco... Fui, então, passar uns dias no Five Stars... Tinham um restaurante internacional, com cozinheiros super-premiados. Fui comer um cozido à madrilenha, o prato mais típico da capital espanhola. Não tinha gosto de nada, parecia comida de hospital, sem tempero, sem cheiro, sem graça.
Na semana seguinte, estava de novo na minha modesta hospedaria e fui a um botequim ordinário, desses bem baratinhos. Atendeu-me a dona, uma espanhola baixinha, gordíssima, parecia uma barrica... Perguntei qual era o prato do dia. Ela respondeu que tinha feito cozido à madrilenha. Perguntei, um pouquinho para provocá-la, se estava bom, porque na semana anterior tinha comido um que era uma droga. A espanhola ficou meio ofendida e me respondeu em tom de desafio: “Pués, cómalo, señor, y si no le gusta no hay que pagarlo!”.
Comi o prato e nunca mais esqueci dele. Estava maravilhoso, cheiroso, saboroso, charmoso, delicioso, fabuloso etc. etc. etc. Ela serviu com uma garrafinha de vinho barato, da casa, igualmente sublime e com aquele pão típico de Madri, que lembra o pão italiano, com casca muito grossa e dura e um sabor incomparável, e bastante azeite...
Em outras partes do mundo, considera-se falta de educação limpar o prato, no fim da refeição, com pão molhado no molho ou azeite que sobrou. Na Espanha, não. Lá é até sinal de que gostou da comida. Pois foi o que fiz com aquele cozido sublime, comi-o inteiro e, no final, limpei cuidadosamente o prato com aquele pão não menos sublime.
A mulher me observava enquanto eu comia. Vendo que eu tinha feito as honras do prato, veio me dizer em tom de desafio que, se eu não tivesse gostado, não precisaria pagar e podia ir embora, mas nunca mais voltasse. Respondi a ela que estava ótima a comida e só não pagava duas vezes porque estava com meu dinheiro muito contadinho, mas que ela bem mereceria. E prometi voltar outras vezes...
Outra vez, em São Francisco da Barra, às margens do Velho Chico (o rio São Francisco), estava com um amigo num restaurantezinho muito simples, muito popular. Pedimos um prato comum do local, muqueca de surubim. Estava deliciosa, realmente era um prato inesquecível. Comentamos, meu amigo e eu, que se a rainha da Inglaterra comesse aquele prato, por certo lamberia os beiços e repetiria... No fim, elogiamos o prato ao garçom, um meninote de seus 17 anos, e dissemos a ele que o cozinheiro estava de parabéns.
– Querem conhecer o cozinheiro – perguntou-nos ele. – Claro! – respondemos. Ele se afastou e retornou, após alguns instantes, com a irmãzinha dele, menina de 14 para 15 anos. Ela é quem tinha feito aquela maravilha! Nós, evidentemente, elogiamos e incentivamos a menina, deixamos uma boa gorjeta para ela...
Isso é cultura popular, da autêntica!.
Armando Alexandre dos Santos é historiador, jornalista profissional e diretor da Revista da Academia Piracicabana de Letras.
É preciso formar menores felizes,
que também se tornarão adultos realizados.
Na roda do mundo,/ mãos dadas aos homens,/ lá vai o menino/ rodando e cantando/ cantigas que façam/ o mundo mais manso,/ cantigas que façam/ a vida mais doce,/ cantigas que façam / os homens crianças” (Thiago de Mello). O poeta lembra que os anos da infância se constituem numa época inesquecível, onde o coração ignora a maldade e o egoísmo, tornando a criança o símbolo do amor e da paz.
No entanto, o que os menores de hoje pedem é apenas o direito de serem crianças. Em todos os lugares, têm o mesmo anseio e uma necessidade básica: - viver com tranqüilidade esse tempo de encantamento.
Atualmente por uma série de circunstâncias, são privados de liberdade, enquanto nesta fase, o ir e vir se faz extremamente necessário. A fragilidade da Segurança Pública impede de saírem como ocorria antigamente. Já não crescem brincando com os vizinhos nas ruas e não vêem os seus pais conversando sentados nas calçadas.
Há uma grande ausência de afeto provocada pela cultura consumista. A necessidade desenfreada de obter recursos financeiros acaba dificultando a convivência familiar. Sentem, por isso, um clima de indiferença entre os indivíduos. Suas distrações, muitas vezes, resumem-se a frias imagens de TV, dos computadores e joguinhos eletrônicos.
E existem os que são desprovidos das mínimas condições de dignidade, ou seja, alimentação, habitação, lazer e educação. Faltam-lhes em muitos casos, respeito à própria integridade física ou a sua própria situação como seres humanos.
“Oh! Que saudades que tenho/ da aurora da minha vida/ da minha infância querida/ que os anos não trazem mais” – diz o poema da Casimiro de Abreu, retratando a importância deste período na vida de cada cidadão.
Toda criança precisa hoje é de muita atenção do Estado, da família e da sociedade –determinação contida na própria Constituição Federal do Brasil - e tempo para se divertir sadiamente.
É preciso que os adultos retomem os sentimentos puros da infância, conscientizem-se destes aspectos e procurem construir um mundo melhor para abrigar os futuros homens de amanhã.
A.S. Neill assim se manifestou:- “Jamais um homem feliz perturbou uma reunião, pregou uma guerra ou linchou um negro. Jamais uma mulher feliz atormentou seu marido ou seus filhos. Jamais um homem feliz cometeu assassínio ou roubo”.Na verdade, talvez seja esse o maior desafio ao nosso tempo, formar menores felizes, que se tornarão também maiores felizes.
Desde novembro de 1959, existe uma Declaração Universal dos Direitos da Criança que além de apontar a necessidade de se lhes criar o mínimo de condições para que tenham uma vida satisfatória, enfatiza os cuidados para que os pequenos seres humanos não sejam expostos ao abandono, à crueldade e à exploração. O documento, promulgado pela ONU – Organização das Nações Unidas e subscrita pelo Brasil, não conta com títulos e artigos, mas com dez princípios. Por ocasião do Dia das Crianças, citemos os preceitos dessa importante resolução internacional: “Toda criança tem: direito à igualdade, sem distinção de raça, religião ou nacionalidade; direito a especial proteção para o seu desenvolvimento físico, mental e social; direito a um nome e a uma nacionalidade; direito à alimentação, moradia e assistência médica adequadas para a criança e a mãe; direito à educação e a cuidados especiais para a criança física ou mentalmente deficiente; direito ao amor e à compreensão por parte dos pais e da sociedade;direito á educação gratuita e ao lazer infantil;direito a ser socorrido em primeiro lugar, em caso de catástrofes; direito à proteção contra o abandono e a exploração no trabalho e direito a crescer dentro de um espírito de solidariedade, compreensão, amizade e justiça entre os povos”.
JOÃO CARLOS JOSÉ MARTINELLI é advogado, jornalista, escritor e professor universitário
Adotar significa acolher com amor. A adoção é o abraço que ficou sem acontecer, o carinho não recebido, o amparo nunca experimentado. A verdadeira adoção tem início quando aceitamos o outro com seus defeitos e mazelas, suas qualidades e agruras. Adotar é curar as feridas da alma, é cerzir com fios de esperanças os rasgos e roturas do coração, é suturar abandonos e tristezas da alma. Quando a adoção acontece faz renascer o ser em estado de solidão, carente de cuidados físicos, emocionais e morais, enfim, ressuscita a esperança e a fé no coração em estado de agonia. A adoção não carece apenas de leis e sentenças judiciais, mas, e principalmente, urge ser reconhecida como ato de solidariedade e amor ao próximo, pois enquanto o adotante não oferecer a certeza da responsabilidade a ser assumida perante o adotado, de nada valerá a norma cogente.
O ato da adoção deve nascer primeiro no coração, envolvido no amor, sem cobranças e sem grandes expectativas. Tampouco a adoção deve vir camuflada ou travestida de ato de caridade a ser exibido à sociedade, a fim de angariar fundos para o ego do adotante. Adotar deve ser ato personalíssimo, responsável, revestido de altruísmo e tolerância, principalmente quando se tratar de crianças em estado de abandono. Adotar é reconhecer como seu o que estava perdido, é resgatar um coração à deriva. A verdadeira adoção é o abraço fraterno oferecido carinhosamente a quem, sem esperanças, em nada mais crê.
Portanto, o ato de reconhecer como parte da vida um coração peregrino, desconhecido, triste e na maioria das vezes revoltado com a ingratidão é tarefa deveras difícil e exige do adotante a passividade dos emocionalmente equilibrados, muito amor e desmedida pertinácia. A adoção é fácil para poucos, difícil para muitos e impossível para a maioria. O verdadeiro adotante há que deixar transparecer devotamento e perseverança, tal qual o agricultor ao semear no solo árido uma nova semente: se não cuidar não vai germinar e se abrolhar carece de continuidade para que floresça e frutifique. A diferença é que na adoção recebe-se a planta germinada, sem saber que fruto irá produzir, cabendo ao adotante cuidar, zelar e aguardar o resultado, que muitas vezes pode não vir a ser o almejado. A verdadeira adoção deve brotar do amor e caminhar pelas alamedas do coração e ao adotante cabe alfabetizar a alma do adotado num processo carinhoso, paciencioso e continuado. À lei restará garantir a consistência dos alicerces da burocracia, que proferimos como indispensáveis!
Valderez de Mello, Escritora, advogada, pedagoga e psicopedagoga. Autora dos livros: A saudade é lilás e Quintal de Sonhos”.
Quem me conhece sabe que meu amor pelos animais é algo que não escondo, que não disfarço e de que não me envergonho. Não me lembro de um só momento em que eu não estivesse rodeada por eles ou desejando estar. Gosto de pássaros, peixes, cães, gatos, animais silvestres, pequeninos, grandes, bonitos, feios, mansos ou ferozes. Para mim, por sinal, os animais, pela sua diversidade, são as mais belas obras da natureza.
Não sou daquele tipo de pessoa que prefere bicho a gente, mas nem o contrário. Não tenho filhos e é provável que não os tenha, e isso por opção. Tenho muitos animais em casa, o que não significa, por outro lado, que eu os considero como os filhos que não tenho. Nada contra quem, diga-se de passagem, mas não é dessa forma que os vejo. Eu os tenho como seres que amam e aos quais eu posso dar amor e aos quais devo respeito.
Confesso que me espanto quando vejo as crueldades que são cometidas contra os animais, sobretudo fotos de gente, por pura maldade, que esfola, tortura e infringem sofrimento a criaturas indefesas. Tenho verdadeiro asco pelas chamadas Festas do Peão nas quais uma plateia aplaude um infeliz judiando de um pobre e assustado animal. Algo me faz lembrar de arenas e leões, e tudo, no presente e no passado, parece-me um absurdo sem fim.
Igualmente não consigo entender quem acha que tudo vale para comer um fígado de ganso inchado ou para se arvorar que usa pele legítima. Não é a mesma coisa que matar para comer, por necessidade. Não é algo que eu consiga entender sem que me doam as entranhas.
Por outro lado, também não me sinto confortável quando vejo gente que move mundos e fundos quando vê um cão abandonado, mas que passa tranquilamente pelas calçadas nas quais dormem crianças drogadas e à margem de qualquer amor ou cuidado.
Assim, penso que são sentimentos que não se podem excluir mutuamente, mas que deveriam se complementar. Nossas dores deveriam ser pelo mundo e por todos os seres que aqui dividem o mesmo céu e o mesmo inferno.
Sonho como um mundo no qual não se discuta o amor do outro, não se julgue se alguém chora pela perda de um animal de estimação ou por um filho que se desviou do caminho. O amor é o caminho, seja ele como for e para quem for.
Senhor, fazei-me o instrumento de vossa paz... E Salve Chico!
CINTHYA NUNES VIEIRA DA SILVA - Advogada, mestra em Direito, professora universitária e escritora - São Paulo.
O moço se encontra distante faz 15 anos e, atualmente, em município a 550 km de Jundiaí. Bem jovem embrenhou-se por um caminho ilusório que, em lugar de acrescentar algo ao humano, esvazia e derruba.
Buscou, de maneiras diversas, a família, com quem perdeu o vínculo nesse período. Do que ficara do passado e que valera a pena estavam as filhas. Viu-as pequeninas, uma com dois e outra com seis anos. A psicóloga da unidade penitenciária, depois de tentativas inúteis, localizou a igreja que parecia mais próxima do local em que morava: Paróquia Nossa Senhora de Fátima da Vila Hortolândia. Padre Márcio Odair Ramos, o pároco, que é de alma de gruta de Belém e ouvidos atentos para a vontade do Senhor, entregou o anseio do detento ao paroquiano Benjamin Vieira, conhecido por Bin, integrante da equipe diocesana da Pastoral Carcerária e, portador, sem preconceitos, da voz dos silenciados.
Benjamin saiu em busca da recomposição dos laços de sangue que podem salvar. Encontrou o rumo. As filhas se entusiasmaram ao saber do pai. E, aos laços de afetividade, se juntaram os três netos, o último prestes a nascer. A solidão do moço deu lugar a uma rede de cartas com saudade e luz do mundo e sal da terra: o pai, as filhas e o Bin.
De início, o moço, embora implorasse por alguém que lhe restituísse a família, abalou-se com a resposta imediata e a atenção na ajuda a um desconhecido e ainda mais no cárcere. Comenta em uma das cartas: “Não há dinheiro que pague o sonho de um pai de ter notícias de seus filhos”. Imaginando-se desprezado e esquecido, o acolhimento das filhas bem como o posicionamento da Paróquia Nossa Senhora de Fátima foram bálsamo para acalmar suas feridas e o primeiro passo para crer na bondade.
Com as cartas do Benjamin, chegavam também o anúncio da encarnação, vida, morte e ressurreição de Cristo, livros de reflexão e preces, terços.
Dois meses e meio depois do primeiro contato, aconteceu a chegada do Papa Francisco ao Brasil. Impressionou-se com a citação por ele feita dos Atos dos Apóstolos: “Não tenho nem ouro nem prata, mas o que tenho, eu te dou: em nome de Jesus Cristo Nazareno, levanta-te e anda!” (3,6). Ao observar, através da TV, a alegria da multidão que seguia o Papa Francisco, viu o quanto fora “burro e ignorante” – palavras dele – ao trilhar o caminho da criminalidade. Declarou-se como uma pessoa má, no passado, cheia de ódio, rancor e mágoa, provocando sofrimento para ele mesmo, para sua família, para as vítimas e para a sociedade. Lúcido e arrependido de seus erros e em lamento pelos irreversíveis, insiste em pedidos de perdão a Deus e busca resgatar da maldade a sua história.
Há poucos dias, as filhas foram visitá-lo e conheceu os netos. Não sabia mais como era a silhueta de cada uma, mas as batidas do coração indicaram. Emoção indescritível após uma década e meia.
Buscou a família por anos e anos. O Benjamim buscou as filhas dele através de ruas sinuosas com numeração irregular. Antes de tudo, porém, Deus o buscava para lhe dizer que nem tudo estava perdido, porque existe um Porto no qual ele pode ancorar a sua vida, o Porto da Misericórdia.
“Ó Senhor, nosso Deus, como é glorioso vosso nome em toda a terra!” (Salmo 8, 1).
MARIA CRISTINA CASTILHO DE ANDRADE -É coordenadora diocesana da Pastoral da Mulher – Santa Maria Madalena/ Magdala. Jundiaí, Brasil.
Uma menina muito pobre vivia com sua família numa casinha da favela. Certa noite, enquanto tentava dormir, ouviu seus pais acudindo o irmãozinho mais novo que tossia sem parar.
– Ele está muito mal e a febre continua aumentando – disse a mãe.
– Vamos rezar e logo irá melhorar – respondeu o pai.
No dia seguinte, quando a menina voltou da escola, correu ao quarto para ver o irmão que dormia há horas. Soube que seria preciso um milagre para que sarasse e voltasse logo às aulas, em tempo de não perder o ano.
A garotinha, então, abriu o seu cofrinho e contou um real e trinta centavos – tudo o que conseguiu guardar. Foi até o hospital próximo ao morro e disse a um enfermeiro que queria comprar um milagre para o irmãozinho. Curioso, o atendente quis saber o que estava acontecendo.
– Eu fico triste quando o Juquinha está doente e a mamãe falou que é preciso um milagre para ele sarar!
– E quanto você trouxe para comprar o milagre?
– Tudo isto –disse ela, mostrando as moedas enroladas num pedaço de papel.
Um médico que saia do plantão ouviu a conversa e acompanhou a criança até sua casa. Foi quando descobriu que o menino estava com dengue e se prontificou a levá-lo para tratamento. Assim que a mãe perguntou-lhe quanto iria custar a visita, a filha entrou na conversa e falou:
– Mamãe, eu já paguei o milagre ao enfermeiro: um real e trinta centavos!
Pronto, final da história que pode até nunca ter acontecido, mas nos leva a uma reflexão muito importante: o valor da vida humana. Da boca para fora, todos dizem que uma vida não tem preço, mas as pessoas vivem se matando! Uns correm feito loucos nas estradas, outros andam armados, alguns acabam com a saúde nos vícios, mulheres recorrem ao aborto, contrariando a luta pela dignidade da vida por parte de tanta gente caridosa.
No ano passado, enquanto eu esperava minha esposa comprar uma passagem para nossa filha na rodoviária, um andante se aproximou do carro e pediu dinheiro para um sanduíche. Como eu tinha tempo, puxei conversa:
– Se eu lhe der dinheiro, você irá beber.
– Eu não vou beber. Estou com fome.
– Mas você já está bêbado! Por que não guardou o dinheiro para almoçar?
– Eu vou falar a verdade pro senhor – disse ele. – Bebida todo mundo paga quando a gente chega ao bar, mas comida ninguém dá.
Mesmo sabendo que aquilo não era a pura verdade, continuei o papo:
– Se você não aceitasse a bebida, ficaria mais fácil conseguir comida!
– Olha, quem já andou por muitos anos pelas ruas de São Paulo, não consegue esquecer o sofrimento se não beber. Mas, se o senhor não puder me ajudar e quiser ficar com este meu dinheiro, pode pegar porque o que é meu também é dos meus amigos– e tirou uns trocados do bolso, insistindo que eu pegasse.
Aquilo me cortou o coração. Dei um dinheiro a ele e recebi muito mais do que a quantia que entreguei:
– Deus lhe pague!– foi como ele me abençoou.
Embora sabendo que alguém como aquele mendigo dificilmente aceita um tratamento de saúde ou um pernoite em casas de passagens, continua sendo muito triste ver uma vida sendo jogada fora. É vergonhoso um filho de Deus – criatura humana como qualquer um de nós – ser humilhado e desprezado pela sociedade.
Se, por exemplo, tivéssemos mais vicentinos do que pobres no mundo, ninguém passaria fome. Sei que isto é utopia, mas poderia ser realidade se mais cristãos se ocupassem em ajudar os preferidos de Jesus Cristo. E somente quem cresceu em espiritualidade sabe que o próprio Jesus sofre no corpo do pobre.
Sem boa espiritualidade no coração, a oração e o amor ao próximo ficam em segundo plano, assim como o perdão, a humildade, a partilha, o dízimo e o próprio Reino de Deus! Quem não quer viver os ensinamentos da Sagrada Escritura está padecendo na Terra, mesmo sem saber.
Portanto, a causa de Jesus é a nossa causa; seu Espírito é a nossa espiritualidade. Não precisamos viver o milagre de andar sobre as águas, devemos mostrar o nosso amor a Deus servindo o próximo.
E você sabe quem é o seu próximo que não é servido com amor? Se tiver dúvidas, aproveite esta semana para recolher-se em períodos de oração, fazer visitas ao sacrário, receber os Sacramentos, evangelizar alguns ambientes, agradecer ao Pai pelos dons que recebeu... Aceitando esta orientação, em pouco tempo você também poderá ‘comprar um milagre’!
PAULO ROBERTO LABEGALINI - Escritor católico, Professor Doutor da Universidade Federal de Itajubá-MG. Pró-reitor de Cultura e Extensão Universitária da UNIFEI.
Um dos mais célebres filósofos da Grécia antiga foi Heráclito de Éfeso (aprox. 535 a.C – 475 a.C), considerado o “Pai da dialética”, pois foi o pensador do... “tudo flui” (panta rei).
“No mundo nada é estático, tudo está em constante mudança. Nenhum homem tomará banho duas vezes sequer no mesmo rio, pois o homem não será o mesmo e o rio (também) não será o mesmo”.
Essa linha de pensamento, sinalizadora que tudo está em constante movimento no universo, constitui-se na singular protagonista das profundas transformações sociais, econômicas, religiosas, ambientais e culturais, ocorridas nas últimas décadas.
Um dos fatores que tem acelerado essas mudanças tem sido o espetacular avanço da tecnologia.
Neste mês de outubro, em que se comemora o Dia da Criança, poderemos constatar que a bola e a boneca, sonho de meninos e meninas, respectivamente há algumas décadas, sofrerão uma acirrada concorrência do computador e do iPhone....de última geração.
Uma simples analise retrospectiva nos mostra que na televisão aberta, reinaram, num passado não muito distante, excelentes programas infantis tais como: Sítio do Picapau Amarelo, TV Colosso, Bozo, Vila Sésamo, Bambalalão, Balão Mágico, Castelo Rá-tim-bum, Vila Sésamo e a Turma do Lambe Lambe, entre outros.
Apresentadoras com a Xuxa, Mara Maravilha, Angélica, Eliana, Mariane fizeram sucesso junto aos baixinhos.
Como o principal objetivo de toda empresa da iniciativa privada é a obtenção do maior lucro possível, na venda de seus produtos e serviços, com certeza outros programas com maior liberdade de publicidade, se mostraram mais rentáveis.
Com os revolucionários recursos da TI (Tecnologia da Informação), disponíveis atualmente, excelentes escritores de livros infantis, geniais publicitários brasileiros, entre os melhores do mundo, a televisão brasileira poderia, de maneira lúdica, estar “polinizando” princípios éticos, valores morais e respeito à natureza e ao Ser humano.
Estamos convencidos, que o pequeno espaço de programas infantis na grade das TVs, que é concessão do Poder Público, está privando as nossas crianças de assistirem entretenimentos adequados a sua faixa etária, com impacto altamente positivo no campo educacional.
A nossa expectativa é que a tecnologia, que está aproximando as distâncias, não esteja distanciando as proximidades.
Faustino Vicente – Professor, Consultor de Empresas e de Órgãos Públicos e Advogado – e-mail: faustino.vicente@uol.com.br – Jundiaí
BEATRIZ W. DE RITTIGSTEIN - para o jornal venezuelano 'EL UNIVERSAL'
http://www.eluniversal.com/opinion/131001/terror-globalizado
Tradução de FRANCISCO VIANNA.
Imagem cedida pelo governo queniano mostra a destruição causada pelo incêndio provocado no shopping center Westgate, após o fim do ataque em Nairóbi. Carros foram destruídos, e alguns deles ficaram pendurados no estacionamento (Foto: Reuters/Presidential Strategic Communications Unit)
O terrorismo investe contra qualquer um, a qualquer hora, e em qualquer lugar. A maioria destas arremetidas se origina no radicalismo fundamentalista islâmico e tem ocorrido com sua consequente cifra de mortos, feridos, destroços e mudanças para pior no sistema de numerosos países, entre eles a Argentina, a Bulgária, a Índia, a Tailândia, a Gran Bretanha, a Espanha, Israel, EUA, Rússia e uma longa lista de países, principalmente na áfrica e na ásia. Assim, o terrorismo demonstra ser uma ferramenta cujo uso não tem limites, e qualquer lugar do mundo pode ser seu alvo e está dotado de seus perpetradores.
Por esses dias temos visto mais uma escalada do terrorismo com o atentado perpetrado pelo grupo somaliano vinculado à Al Qaeda, chamado Al Shabab, num shopping center em Nairobi, capital do Quênia, que durou cinco dias de cerco e ocupação, para, enfim, ser retomado pela polícia e forças armadas quenianas.
Há mais de vinte anos, o Quênia vem sofrendo formas diferentes de ataques terroristas. Em 1998, a Al Qaeda destruiu com uma bomba o prédio da embaixada dos EUA em Nairobi, matando mais de 200 pessoas e ferindo outras muitas centenas. Em 2002, turistas israelenses foram alvo dos islamitas jihadistas; primeiro, num numa tentativa que falhou de derrubar um avião de carreira da aerolínea israelense Arkia com o uso de mísseis, ao decolar de Mombaça. E, em seguida, quando cerca de 140 israelenses se registrava no hotel balneário ‘Paradise’ foram atacados.
Nos últimos anos, os facínoras terroristas somalianos perpetraram vários sequestros em território queniano, como o das duas serventes espanholas da ONG “Médicos Sem Fronteiras”, do campo de refugiados de Dadaab.
Em 2012, encapuçados dispararam e lançaram granadas enquanto os fiéis cristãos oficiavam missa em duas igrejas de Garissa.
Frente a tal flagelo, que vai num crescendo, os setores vinculados à segurança de cada país estão obrigados a colaborar estreitamente entre si, para que o difícil combate contra o terror tenha opções de vitória.
Terça feira, 1 de outubro de 2013
Tradução de FRANCISCO VIANNA - Médico, comentador político e jornalista - Jacarei, Brasil
Dizem-me que há sacerdotes tão atarefados com as obrigações desta vida, que se esquecem, muitas vezes, da outra.
O mesmo ocorre naqueles que se encontram perto do sagrado: a familiaridade, leva-os a olvidarem Cristo.
Esquecer Jesus, sendo reprovável, é humano, já que Sua Mãe O esqueceu, também, no templo. Só que Maria, confiou no pai, e cristãos há, que desconfiando do Pai, confiam nos homens.
Perde-se Jesus, perdendo a fé, e perde-se, quantas vezes, na Igreja, porque há quem invoque o nome de Cristo, por orgulho.
Participa-se por vezes em Movimentos e funda-se obras de assistência, para honrar vaidades, e não a Deus.
Propósito igual, verifica-se nos políticos, e até em alguns ministros de Deus.
Não servem, mas servem-se do crente para alcançarem prestígio social.
Infelizmente, também, há “duplos” na Igreja. Oram no templo, mas não têm sentido cristão, na vida.
Neste caso o termo leigo, é sinónimo de ignorância, já que não entendem que para alcançarem a Vida, mister é levar o espírito do Evangelho à vida.
Acompanha, em alguns crentes, outro escândalo: a divisão dos cristãos. Escândalo que não provêm da separação - em certa medida, pode ser benéfico, - mas pensar que é senhor da Verdade, esquecendo que há outras Verdades, ainda que a Verdade seja uma.
Admiro-me que sendo Deus ou Alá, como dizem os irmãos da Arábia: Amor, os crentes, pelejem e odeiem-se. Como se Deus proclamasse: Odiai-vos uns aos outros…e não: Amai-vos uns aos outros.
Como pode o pagão acreditar no Senhor, com tais crentes?
Também na Igreja, se perde Cristo, se os fiéis seguem seus desejos e não a vontade de Dele.
Há manual de instrução, que não pode ser alterado, nem adulterado, que é a Bíblia. Livro que inclui os Evangelhos.
Os que A não seguirem deixam de ser discípulos.
Não há pareceres, apenas o ensino de Jesus, Filho do Altíssimo, é válido.
O Escândalo nasce em qualquer parte, mas se tem origem no templo, escandaliza o mundo e afronta o Céu, afastando descrentes do Caminho.
Pautar a conduta pelo Evangelho - ainda que, certas vezes, não seja fácil, - é a vereda correta para prosseguir a jornada até ao sono eterno.
HUMBERTO PINHO DA SILVA - Porto, Portugal
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