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Segunda-feira, 25 de Novembro de 2013
CINTHYA NUNES VIEIRA DA SILVA - AMIZADES

 

 

 

 

 

 

 

            Já diz a letra da música “que amigo é coisa pra se guardar do lado esquerdo do peito”.Com o passar do tempo, embora goste da música, concluí que amigo está mais é  planta pra se cuidar. Até a água deve ser na medida certa. Demais ou de menos pode colocar tudo a perder.

            Sempre gostei de ter muitos amigos, de conhecer bastante gente. Depois descobri que na verdade nem todo mundo pode ser classificado de amigo e que de muita gente já é  suficiente ser colega. Aprendi também que amigos não são para frente, mas que podem ser infinitos enquanto durem, porque amizade também é amor, e se engana quem achar que uma espécie de amor menos exigente.

            Como acontece com muitos relacionamentos, amigos, não raras vezes, “pisam na bola”.Uma hora somos nós que fazemos isso; outra hora somos as vítimas. Grande parte disso acontece sem que ninguém se dê conta, mas pode causar estragos eternos, irreparáveis.

            A gente pensa que os amigos deveriam relevar nossos erros, mas aprendi que às vezes é o contrário. Como as expectativas mútuas são elevadas, é mais fácil se decepcionar e já se diz por aí que a intimidade pode ser um problema, até por não preservar o outro, por entendê-lo mais nosso do que ele é ou se dispôs a ser.

            Já tive amizades perdidas e, nesse tocante, não creio que o dito popular segundo o qual“se você perdeu é porque nunca foi seu”, aplique-se totalmente quando o assunto é amizade. Tenho comigo que várias dessas amizades que hoje são apenas lembranças, foram verdadeiras, recíprocas e importantes. Um dia, porém, acabaram. Algumas pela distância,  pelo tempo; outras sem motivo sabido, mas que deve ter sido sentido em algum dos corações envolvidos.

            É certo que jamais deixei de lamentar essas perdas, pois sou do tipo de pessoa que se apega, que gosta da ideia de amizades eternas, da imagem de estar sentada em um banco, velhinha, falando com alguém sobre o tempo em que éramos crianças. Ainda acredito, para dizer a verdade, mas começo a crer que essas serão lembranças que no futuro me recordarei ao lado de minhas irmãs e primas, se tivermos sorte...

            Em quatro décadas de vida eu me entristeço pelo fato de não me lembrar dos nomes de todos aqueles que um dia chamei de amigos, por ter esquecido alguns rostos, por ter perdidas, em algum lugar do meu coração, emoções que me foram significativas, mas sei que esse é um mecanismo que permite sobrevivermos, sob pena de que não pudéssemos nos esquecer também das mágoas que nos alcançaram.

            Hoje entendo que tudo na vida são fases e que para cada uma delas, somos agraciados com ao menos um amigo querido, alguém que nos irá ouvir, ajudar, dividir sorrisos e lágrimas. Quando a missão dele acaba, ou a nossa missão para com ele se finda, cada um segue seu caminho, sua estrada e resta a certeza de que outras amizades se achegarão de nós e que nosso coração se esquece para poder se renovar, para podermos renascer sempre.

            A cada amigo que passou ou que passará pela minha vida, minha gratidão é eterna. Espero, tão somente, que, em algum lugar do mundo, nossas histórias juntos permaneçam indeléveis, como as boas histórias de amor...

 

 

 

 

 

CINTHYA NUNES VIEIRA DA SILVA    -  Advogada, mestra em Direito, professora universitária e escritora   -  São Paulo.



publicado por Luso-brasileiro às 11:59
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PAULO ROBERTO LABEGALINI - CONFIE NO SENHOR

 

 

 

 

 

 

 

 

O relato abaixo é o testemunho de um médico judeu:

“Trabalhei como cirurgião do exército dos Estados Unidos durante a Guerra Civil. Após a batalha em Gettysburg, chegaram ao hospital vários soldados feridos, entre eles Charlie Coulson, com 17 anos de idade. Tinha ferimentos graves, sendo necessário amputar-lhe um braço e uma perna.

Quando meus assistentes foram aplicar-lhe clorofórmio para a cirurgia, ele recusou-se, pediu para chamar-me e disse:

– Doutor, quando eu tinha 9 anos, dei meu coração a Jesus e desde aquele dia venho aprendendo a confiar Nele. Ele me sustentará enquanto o senhor estiver amputando meu braço e minha perna.

Então, pedi que tomasse um pouco de conhaque. Mais uma vez ele respondeu:

– Doutor, quando eu tinha 5 anos, minha mãe se ajoelhou ao meu lado, pedindo a Jesus que eu nunca tomasse um gole de bebida alcoólica. Existe a possibilidade de eu morrer e ir para a presença de Deus. O senhor quer que eu chegue lá com bafo de conhaque?

Naquela ocasião, eu não me importava com Jesus, mas admirei a lealdade daquele rapaz para com seu Salvador. E continuei ouvindo-o:

– Escreva uma carta para minha mãe, diga que tenho lido a Bíblia todos os dias e pedido sempre que Ele a abençoe. Agora, estou pronto, doutor. Prometo que não vou gemer se o senhor não me der o clorofórmio.

Garanti que não lhe aplicaria a droga, mas antes de pegar o bisturi, fui à saleta tomar um gole de conhaque. Quando peguei a serra para cortar o osso, o rapaz colocou a ponta do travesseiro entre os dentes e sussurrou:

– Ó Jesus, bendito Jesus, fica ao meu lado agora!

O rapaz cumpriu o que prometera e quase não gemeu. Naquela noite, não dormi pensando nele. Pouco depois da meia-noite, levantei e fui ao hospital. Assim que cheguei, disse-me o enfermeiro:

– Dezesseis soldados morreram.

– E Charlie também? – indaguei.

– Não, dorme como um bebê.

Por volta das 9 horas, o Capelão leu as escrituras para Charlie e ambos cantaram hinos de louvor.

– Não consigo entender, doutor, como uma pessoa sentindo tanta dor ainda foi capaz de cantar – completou o enfermeiro.

Passados 5 dias desde que fora operado, Charlie me chamou e disse:

– É chegada a minha hora. Creio que não terei mais um dia de vida. Sei que é judeu e não crê em Jesus, mas gostaria que ficasse ao meu lado e me visse morrer confiando em meu Salvador.

Tentei ficar, mas não consegui, pois aquele rapaz regozijava no amor daquele Jesus que eu desconhecia.

Passados 20 minutos, o enfermeiro me procurou no consultório:

– Doutor, Charlie está morrendo e gostaria de vê-lo novamente.

Chegando ao quarto, ele pediu-me que segurasse sua mão e disse:

– Doutor, amo o senhor porque é judeu. O melhor amigo que tive neste mundo também foi um judeu: Jesus Cristo! Peço que Ele seja o seu Salvador.

Durante a guerra morreram centenas de soldados, mas só compareci ao sepultamento de Charlie Coulson. As últimas palavras daquele rapaz me impressionaram muito. Eu possuía muitos bens materiais, mas teria dado todo meu dinheiro para crer em Cristo como ele.

Durante 10 anos lutei contra Cristo com todo ódio que tinha por Ele, até que, afinal, a oração de Charlie foi atendida. Um ano e meio após a minha conversão, fui a uma reunião de oração no Brooklyn, onde as pessoas davam testemunhos. Uma senhora idosa levantou-se e disse:

– Estou com os pulmões muito doentes, pouco tempo me resta. É um imenso prazer saber que muito em breve me encontrarei com meu filho e com Jesus. O Charlie, além de soldado da pátria, foi também soldado de Cristo. Ele foi ferido em uma batalha, ficou aos cuidados de um médico judeu que lhe amputou um braço e uma perna. Morreu 5 dias após a operação. Recebi uma carta relatando o que ocorrera entre meu filho e o médico em seus últimos momentos de vida.

Ao ouvi-la, não me contive. Levantei, fui correndo até ela, apertei-lhe a mão e disse:

– Deus a abençoe, minha irmã! A oração do seu filho já foi atendida. Sou o médico judeu por quem o Charlie orou e o Salvador dele agora é meu Salvador também. O amor de Jesus cativou minha alma.”

Sigamos, portanto, estas orientações bíblicas:

Busquem ao Senhor enquanto é possível achá-lo; clamem por ele enquanto está perto (Is 55:6). Todo o que Nele confia, jamais será envergonhado (Rm 10:11).

Assim seja!

 

 

 

PAULO ROBERTO LABEGALINI -    Escritor católico, Professor Doutor da Universidade Federal de Itajubá-MG. Pró-reitor de Cultura e Extensão Universitária da UNIFEI.



publicado por Luso-brasileiro às 11:54
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VALDEREZ DE MELLO - CONSCIÊNCIA TEM COR ?

 

 

 

 

 

 

 

            Problemática curiosa acampa os meios governamentais com tendências paternalistas quanto a cor da pele que envolve o corpo humano. Se, à luz do direito questionarmos os motivos que levam à criação de leis para instituir garantias já adquiridas na Carta Magna, veremos que se torna ainda mais dolorosa a ousadia em cultivar a discriminação racial. Todos são iguais perante a lei, o que independe da cor da pele, raça ou credo. Qual a necessidade em oferecer  vantagens diferenciadas?

 

            Inteligência não tem cor! Sabedoria, pertinácia e perseverança independem do tom da pele que vestimos, graças à raça que a todos iguala, descendência única, que irmana e une, ou seja, somos homines sapiens.  Homens discriminando homens é o que revela o protecionismo travestido de conquista social. A discriminação resta retratada através de ofertas de vantagens e atalhos para a conquista de oportunidades, o que  diminui e muito a autoestima do ser humano. Quando abrimos caminhos e ofertamos a trilha pronta, retirando pedras e cascalhos, fazendo a varrição de espinhos, indiretamente, estamos fazendo com que o caminheiro sinta-se incapaz, impotente e comandado. A maior riqueza do ser humano é a conquista de seus ideais através da oportunidade do uso do livre arbítrio,  arte personalíssima em conseguir realizar projetos e subir ao pódio através da bravura. Quando tiramos do homem o poder de realização através da capacidade e discernimento próprios, realçamos sua impotência e ceifamos sua dignidade. A grande descriminação é julgar o outro incapaz e torná-lo um ser dirigido e dependente. O sistema de quotas, favorecimento que escancara a falta de confiança na capacidade dos beneficiados, prova, em letras carmim, que veio para embaçar a realidade do ensino público que não oferece eficiência e sequer eficácia. Justo seria reestruturar escolas, capacitar professores e oferecer número suficiente de vagas. Presentear com atalhos facilitadores não significa igualdade de condições mas deixa límpido que o sistema de quotas nada mais é que o provisório definitivo para ludibriar a quem tem direito ao ensino público de primeiríssima qualidade, o que independe da cor da pele.  No dia dedicado à Consciência, guerreira invisível que luta por direitos e valores, urge repensar que consciência não tem cor e habita a alma de todos os seres humanos, filhos do mesmo Deus, que sem utilizar sistema de quotas, a todos agraciou com racionabilidade! Afinal, somos descendentes do Homo Sapiens! Consciência tem cor?

 

                       

 

 

 

Valderez de Mello, advogada, psicopedagoga e pedagoga. Autora de Quintal de Sonhos, Rimas e RumosFlores sobre o Rochedo e Lágrimas Brasileiras.



publicado por Luso-brasileiro às 11:47
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JOÃO CARLOS MARTINELLI - DIA DE AÇÃO DE GRACAS.

 

 

 

 

 

É PRECISO RESGATAR O SENTIMENTO DE GRATIDÃO

                                                                                                                                      

 

 

 

                        Visando ressaltar a importância da gratidão, celebra-se de forma ecumênica, na última quinta-feira do mês de novembro, o DIA NACIONAL DE AÇÃO DE GRAÇAS. Ela se originou da “Thanksgiving Day”, uma tradicional festa americana que surgiu quando um grupo de colonizadores ingleses chegou a Plymout, Massachussets, nos Estados Unidos no outono de 1620, após ter passado fome e frio. Pelo fato de terem sobrevivido na nova terra, os imigrantes organizaram um jantar em agradecimento a Deus, convidando alguns índios com os quais mantiveram relacionamento amistoso para participarem do evento. Tal confraternização iniciou essa comemoração, que já tem centenas de anos, tendo os nativos, em 1621, levado perus selvagens, razão da existência de alguns pratos típicos até hoje servidos nesta data: salada de verduras cruas e sopa de abóbora, sendo o prato principal, o peru recheado e uma farofa preparada com o molho de cozimento da ave, acompanhada de pão de milho, ovos, cebola, aipo e um preparado especial feito com uma  frutinha parecida com amora, o “cramberry sauce”. Mais do que o Natal, o“Thanksgiving” é o grande feriado de congraçamento dos EUA, ocasião em que os filhos que moram longe voltam para casa para estar com os pais e os aeroportos batem recordes de movimento. 

 

                        No Brasil essa festividade foi instituída a 16 de agosto de 1949, pelo presidente Eurico Gaspar Dutra e regulamentado em 1966. Internacionalmente, coube ao diplomata brasileiro, Joaquim Nabuco sua concepção. Assistindo com o corpo diplomático à missa de ação de graças na Catedral de São Patrício, em Washington em 1909, fez um apelo profético:- “ Eu quisera que toda a humanidade se unisse anualmente, num mesmo dia, para um agradecimento universal a Deus”. E assim, um dia especial no ano, reservado para dar graças, acabou demonstrando não só a necessidade de agradecer continuamente ao Senhor da Vida, mas também se revelou num convite para se cultivar o sentimento de gratidão no relacionamento fraterno, alcançando apoio geral e sendo destacado por diversas religiões.

 

                        No entanto, são inúmeras as críticas às essas celebrações já que seus detratores entendem que copiam tradições norte-americanas, absolutamente distantes de nossa realidade. Nessa trilha, invocamos o jornalista Paulo Sotero:- “A história de como o Thanksgiving americano faz o governo brasileiro ir à missa ilustra um dos aspectos mais ridículos da compulsão atávica de nossa caboclíssima elite nacional de emular hábitos estrangeiros que não compreende, ao mesmo tempo em que mantém o País cada dia mais distante e isolado do resto do mundo, resistindo à estabilização da economia e às mudanças estruturais que prejudicam seus interesses e boa vida” ( “O Estado de São Paulo”- 25.11.93- pág.02).

 

 

 

 

 

                        A nosso ver, a comemoração não deve se restringir exclusivamente as suas origens, negando--lhe validade por ter nascido num país imperialista, mas concebê-la num sentido abrangente, em nível espiritual, capaz de anular preconceitos, derrubar barreiras, aproximar os indivíduos, fazendo-os sentir filhos do mesmo pai que faz o sol nascer e brilhar para todos, sem acepção de pessoa. Vale transcrevermos parte de texto  sobre a data publicado pela revista “Família Cristã” (11/93- pág.42):- “Em nossa sociedade, dominada pelo egoísmo e pela ganância, parece que o sentimento de gratidão não encontra mais espaço no coração humano. É preciso resgatar este sentimento como uma forma simples de acreditar  no valor da vida, na importância da amizade, na esperança de que é possível superar a fome, o desemprego, a violência. Hoje, mais do que nunca é fundamental resgatar a lei do amor e da gratidão a Deus por seus gestos de pai e, no relacionamento fraterno, introduzir as pessoas no delicado mistério do ‘muito obrigado’(os grifos são nossos) ”.

 

 

 

 

                                               “DIA SEM CARNE”

 

 

 

                        Os defensores dos animais e aves exóticas estarão voltados no dia 25 de novembro à campanha  mundial “MEATLESS

 

DAY”,popularmente conhecida como DIA SEM CARNE, cujo objetivo é conscientizar as pessoas da necessidade de amar e respeitar todas as formas de vida. Nascido aos 25 dias de novembro de 1879, Sadhu Vaswani, um santo da Índia Moderna e que pregava a preservação da vida animal, foi homenageado nessa data com essa promoção que há muitos anos, num ato simbólico de abstenção da carne, as pessoas e grupos ecológicos do mundo todo demonstram seu repúdio à matança dos animais. A comemoração ainda procura alertar sobre a destruição provocada pela inconsciência do homem, que queima as matas sem a menor compaixão pelas espécies.

 

 

 

 

 

JOÃO CARLOS JOSÉ MARTINELLI é advogado, jornalista, escritor e professor universitário. Recebeu em 2011 o Prêmio Quality Golden de Direitos Humanos .



publicado por Luso-brasileiro às 11:23
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MARIA CRISTINA CASTILHO DE ANDRADE - REFLEXÃO, COMPAIXÃO

 

 

 

 

 

 

 

 

 

 

No final de fevereiro de 1987, tempo de coração em carne viva, pois recebera, um pouco antes, a notícia de que a enfermidade de meu pai era grave, o inesquecível Dom Joaquim Justino Carreira propôs-me que acrescentasse, em minhas reflexões matinais, a Liturgia das Horas, que mantenho desde aquela época.  Três anos após, as Monjas mui queridas do Carmelo São José me ofertaram o livro “Intimidade Divina” do Padre Gabriel de Santa Maria Madalena (1893-1953), também com uma leitura própria para cada dia do tempo litúrgico.  Deus me fala demais através desses textos, hinos, orações e noto que  Ele acerta a bússola do meu caminho com ponteiro para o céu. Os desvios são limites, resistências e rebeldias minhas.  E o interessante é que, embora repita as leituras todos os anos, elas sempre me falam algo novo. É que Deus é maior que as frases que tentam traduzi-Lo.

 

Recentemente, me chamou demais a atenção uma prece do livro “Intimidade Divina”, que transcrevo: “Peço-Vos, ó meu Deus, ponde em mim, para como os pobres e os pecadores, uma grande compaixão, base da caridade! Sem tal compaixão espiritual, nada poderei fazer! Suscitai em mim esta divina caridade, a fim de que eu possa ir ao encontro das misérias do próximo e dizer como Vós, ó Jesus: ‘Vinde a mim e vos aliviarei’”.

 

Fiquei pensando na diferença entre a compaixão somente pelo aspecto externo das pessoas que, incontáveis vezes, não é consequência de suas atitudes,  e a compaixão espiritual. O coração com humanidade se move de imediato diante da imagem das vítimas de guerra e das alterações climáticas, como observamos, no momento, nas notícias vindas das Filipinas. Atravessa gerações a canção de Vinícius de Moraes e Gerson Conrad  que diz de Hiroshima: “Pensem nas crianças/ Mudas telepáticas./ Pensem nas meninas,/ Cegas inexatas./ (...) Pensem nas feridas/ Como rosas cálidas./ Mas, oh, não se esqueçam/ Da rosa, da rosa/ Da rosa de Hiroshima,/ A rosa hereditária,/ A rosa radioativa,/ Estúpida e inválida,/ A rosa com cirrose,/ A anti-rosa atômica, / Sem cor, sem perfume/ Sem rosa, sem nada”.  O coração com humanidade se movimenta rápido defronte a idosos e doentes abandonados, a moradores de rua agredidos por gangues, a bebês colocados no lixo, a pequeninos sem família...

 

A compaixão espiritual, no entanto, vai além. Ela se comove com os efeitos do mal na vida da pessoa. À mulher adúltera, Jesus convidou a não pecar mais. Chamou Mateus para que O seguisse e a partir dos comentários na refeição oferecida, onde havia grande número de publicanos, tomou a palavra e afirmou que são os doentes que necessitam de médico e que Ele viera chamar os pecadores e não os justos. À samaritana ofereceu água viva. A Zaqueu apresentou a salvação.  A compaixão espiritual abomina o desejo de vingança e o prazer malévolo ao assistir ao tombo dos que erraram.  

 

Compreendo que o Senhor me convida a ter compaixão espiritual por aqueles que escolheram ou foram levados pela maldade, vivam eles na riqueza ou na miséria. Quem vive no erro por certo perdeu a paz. O Senhor me convida a não ficar indiferente e acomodada ante a ruína provocada por atitudes perversas, por vícios, mas sim a indicá-LO como o Único capaz de carregar as culpas do ser humano e aliviá-las no perdão, na misericórdia, na ressurreição.

 

 

 

 

 

MARIA CRISTINA CASTILHO DE ANDRADE   -É coordenadora diocesana da Pastoral da Mulher – Santa Maria Madalena/ Magdala. Jundiaí, Brasil.



publicado por Luso-brasileiro às 11:19
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RENATA IACOVINO - INDEPENDÊNCIA OU ... INSÔNIA!

 

 

 

 

 

 

 

 

 

            Comecei a trabalhar aos 18 anos. Mas antes, sempre tentei isto de alguma forma... vontade de ser independente. Para um jovem - ao menos na minha época - o que propiciava tal coisa era a famigerada independência financeira.

 

            Então ingressei na faculdade e daí pra frente, asas pra que te quero!

 

            O fato de sair de casa, ter poder de decisão e, principalmente, conhecer por meio dos meus próprios voos como a vida se dá lá fora, como é a relação com as pessoas, grupos diferentes, pensamentos diversos, poder pairar sobre uma e outra paisagem... tudo foi me atraindo, porém, talvez sem maiores deslumbramentos.

 

            As experiências foram e são inúmeras.

 

            Mas nada como morar sozinha. Compartilho isto comigo há muito tempo e é algo que aprecio. Por inúmeros motivos que muitos de vocês podem imaginar.

 

            A liberdade, para mim, nunca foi saber que não havia limites, mas ao contrário: saber que eles existiam quando eu podia abrir mão deles, se quisesse, e ter a consciência disto e ir até aonde minhas asas alcançavam.

 

            Dividi meu espaço com pessoas, pessoas dividiram seus espaços comigo... até que consegui meus próprios espaços.

 

            E então, diante disto, quando me deparei com o maior problema a ser enfrentado nesta situação, vi-me praticamente num beco sem saída.

 

            Como uma pessoa que tem pavor de barata pode morar sozinha???? Sério! Descobri que alguém (como eu) só poderia "estar só", principalmente à noite, se não possuísse o referido mal.

 

            Não, não estou dizendo que então eu precisaria me casar e a presença masculina, assim, resolveria este problema. Conheço homens que não têm habilidade para matar baratas, outros (a grande parte) que são muito lentos para este fim. Enfim, isto não sanaria a questão.      O buraco é mais embaixo, como se dizia na minha época.

 

            Eu me contentaria com a presença mínima, de repente, de uma criança. Apenas para me dar a segurança de que dividiria aquele medo com alguém, e assim, a sensação se tornaria menos medrosa.

 

            É assim até hoje. Estar só com a presença de uma barata significa uma noite de insônia, um frasco inteiro de inseticida jorrado às voltas da criatura e outras tentativas mirabolantes.

 

            Lembro-me que, em uma casa onde morei, em São Paulo, fiquei velando a dita cuja sobre a mesa da cozinha, quando ela cismou de aparecer e não tive coragem de me mover até o inseticida.

 

            Pavor!

 

 

 

 

Renata Iacovino,escritora, poetisa e cantora / reiacovino.blog.uol.com.br /
reval.nafoto.net / reiacovino@uol.com.br

 



publicado por Luso-brasileiro às 11:10
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LAURENTINO SABROSA - SOLDADO DE CRISTO

 

 

 

 

 

Há cinquenta anos ou mais, havia aqui em Portugal um cântico religioso, hoje caído em desuso, que principiava com a seguinte estrofe:

 

PROTEGE, Ó CRISTO, O NOSSO PORTUGAL

QUE É SEU BRASÃO A CHAGA DO TEU LADO

E SEMPRE QUIS, POR TIMBRE SEU REAL,

SER FILHO TEU, TEU MAIS FIEL SOLDADO.

 

Quando li o livro de Paulo Coelho, MANUAL DO CAVALEIRO DA LUZ, logo identifiquei o CAVALEIRO DA LUZ com o SOLDADO DE CRISTO.

 

Vim a verificar que me enganei, pois, na verdade, apesar das afinidades, são muito diferentes. Há muito de esotérico no CAVALEIRO que o torna incompatível com o SOLDADO, esoterismo esse que predomina em toda a obra de P. Coelho, pelo que não merece o meu apreço, apesar das suas muitas expressões sapienciais.

 

Muito antes de chegar a essa conclusão, opinião pessoal que se me afigura justa, eu, cheio de entusiasmo e de certa maneira plagiando o estilo Paulo Coelho, eu escrevi:

 

 1 – Como é difícil, meu Deus, ser Soldado de Cristo, guarda d’honra da Sua divindade! O “soldado de Cristo” tem vários nomes: “Soldado de Cristo”, “Cavaleiro da luz”, “Bendito de Meu Pai”…

 

2 – O Soldado de Cristo ama a rotina no que ela tem de ordem, mas evita a rotina no que ela tem de estagnação ou enfado. Cria sempre incentivos que lhe dêem perspectivas que lhe iluminem a vida, mas sem miragens enganadoras. Procura o ânimo e as alegrias das sãs diferenças e variedades – a variedade agrada

 

3 – O Soldado de Cristo ama o santo do seu nome e apresenta-o ao seu Anjo da Guarda para trabalharem todos em conjunto. Ele, soldado, o seu anjo da guarda e o santo do seu nome sob a tutela de Cristo, farão uma troika que protege “o nosso Portugal” .

 

4 – Para o Soldado de Cristo, “ o nosso Portugal”, não é só o seu rincão natal – é tudo, são todos, ele e os outros, a sua pátria e a pátria dos outros. E se, às vezes “os outros” não têm “por timbre seu real” ser filhos ou soldados de Cristo, mais uma razão para ele, “fiel soldado”, ter o cântico e a prece no coração e na mente. Se a afirmação é uma mentirinha, então passa a ser uma amorosa “liberdade poética” que Deus desculpará. Sim, porque ser Soldado de Cristo também é ser Poeta.

 

5 – O Soldado de Cristo nunca tem pressas doentias, geradoras de stress e de desorganização. Procura uma vida laboriosa em que as coisas se realizem rápidas mas tão perfeitas quanto possível. Serenamente, aguarda que o tempo ao escoar lhe arraste os problemas ou para a foz do esquecimento ou para a plenitude da realização. Luta e trabalha, porque uma vida santa não é uma vida santificada.

 

6 – O Soldado de Cristo mora sempre numa terra pequena. Se não pode conhecer toda a gente, sorri para toda a gente, não cumprimenta ninguém por favor nem com afectação. Anda sempre de cabeça erguida, a olhar para o chão, à procura de dracmas perdidas, mas também a olhar ao longe, sorrindo a receber o futuro que se aproxima.

 

7 – O Soldado de Cristo, mesmo sofrendo privações e desgostos, acha sempre que está bem instalado na vida, porque é feliz por aquilo que tem e não é infeliz por aquilo que não tem e até gostaria de ter; é feliz por aquilo que é, em verdade, em sinceridade e na procura do Amor e da Justiça. Por isso, anda sempre a cantar com a luz do seu olhar e serenidade na sua face, em tom marcial e heroico, o Hino da Alegria e da Liberdade. A verdade o liberta e lhe enche o peito de nobre superioridade.

 

             - Ele está cheio de mosto  -  dizem uns

             - Ele tem a mania – dizem outros.

 

Mas ele não se importa. Passa ao largo a sorrir, porque a viver assim é como que uma profissão em que faz aquilo de que na verdade gosta.

 

8 – O Soldado de Cristo é simplesmente um homem, mas há alguma diferença entre o que é “fiel soldado” e aquele que canta e reza, pensando apenas nos seus filhos e no “seu Portugal”.

 

O “soldado”, o “fiel soldado”, o “cavaleiro da luz”, teve necessidade de queimar no seu logradouro ervas e várias inutilidades.

 

O vizinho do terceiro andar ficou todo zangado por ele ter escolhido um dia límpido e quente de Verão para o fazer. Gritou-lhe lá de cima:

 

                      - Não vê que o fumo sufoca o ar e intoxica as pessoas!?

Com um largo sorriso o “soldado” respondeu:

 

                     - Não se incomode, antes disso, daqui a bocado, vai chover!

O vizinho ficou indignado. Num assomo de cólera sentiu-se cheio de força inaudita. Ah! Que se ele não sofresse do coração e da asma! Até daria um salto acrobático para o estrancinhar! Ainda por cima a zombar dele! Saiu da varanda, batendo a porta com violência. Meia hora depois chegou a esposa e encontrou-o prostrado com uma crise, ofegante e cheio de dificuldades respiratórias.

 

                     - Que foi? Que foi? – perguntou assustada, a abrir porta e janelas.

 

                        - Não abras, não abras, por causa do fumo – disse ele num fio de voz – é esse palerma de lá de baixo que está a fazer uma fogueira.

                     - Fumo? Não vejo fumo nenhum. Nem fogueiras.

O homem, ainda muito convencido, reuniu forças e veio à varanda. Olhou para baixo, viu um monte de cinzas muito molhado e mudo como vulcão extinto. Incrédulo, olhou para o céu.

 

                      - Choveu ?

                      -  Nem gota,  porquê?

Aquele homem, talvez um “soldado” que rezava só pelos seus filhos e pelo “seu Portugal”, ficou atormentado a pensar que tivesse havido um milagre. Então, “o tal” que tinha zombado dele, podia fazer milagres de chover num esplendoroso dia de Verão? E sem ninguém ver?!!

 

Ele não sabia que o “fiel soldado de Cristo” tem o poder de fazer milagres que consistem simplesmente em fazer chover três regadores de água sobre umas cinzas fumegantes, para que o fumo não incomode ninguém

9 – Um Soldado de Cristo nunca fica indiferente quando passa por um hospital, por uma cadeia ou por um cemitério.  Quando passa por um cemitério, olha para as campas, olha para o céu, símbolo daquele Céu a que tanto aspira, e estabelece a ligação com uma oração de sufrágio. E, embora estar no Céu seja sua ambição suprema e legítima, dá graças a Deus por estar “cá em baixo” a usufruir do dom da vida que Deus lhe vai dando. Quando passa por uma cadeia ou hospital, olha para as janelas, adivinha quem está por detrás a sofrer,  ergue uma prece a seu favor e em agradecimento por ter saúde física e equilíbrio moral, que lhe permitem estar “cá em baixo”, do lado de fora do hospital ou da cadeia. Por muito atribulado que esteja, sente que aqueles outros sofrem mais do que ele. Olha então, e ainda, para o alto, expedindo as suas orações pelas janelas que as nuvens lhe abrem. Se, porventura, não há nuvens, oh! que maravilha!, também todo se extasia com a beleza celeste. Um céu sem nuvens é todo ele uma janela aberta para a Eternidade!

 

 

 

 

LAURENTINO SABROSA    Senhora da Hora, Portugal

laurindo.barbosa@gmail.com



publicado por Luso-brasileiro às 11:03
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PERCIVAL PUGGINA - HERDEIROS DE CARAMURU

 

 

 

 

 

 

 

"Agora tem o Brasil das mulheres e o Brasil dos homens até nos discursos das autoridades, o Brasil dos negros, o Brasil dos brancos e o Brasil dos pardos, o Brasil dos héteros e o Brasil dos gays, o Brasil dos evangélicos e o Brasil dos católicos, Brasil com bolsa família e Brasil sem bolsa família e nem sei mais quantas categorias, tudo dividido direitinho e entremeado de animosidades, todo mundo agora dispõe de várias categorias para odiar! A depender do caso, o sujeito está mais para uma delas do que para essa conversa de Brasil, esquece esse negócio de Brasil, não tem mais nada disso!" João Ubaldo Ribeiro

 

 

 

            O fato é que Cabral não tocou direto para as Índias. Tivesse seguido o riscado, o Brasil de hoje seria o paraíso tropical com que sonham alguns ambientalistas, antropólogos e militantes de qualquer tese que possa gerar encrenca. Os índios do mato continuariam disputando território a flechadas com os do litoral, que índio também gosta de praia, e os portugueses, sem quaisquer remorsos, comeriam seu bacalhau no Campo dos Cebolas. Mas os navegadores lusitanos (assim como os espanhóis) eram abelhudos e iniciaram seu turismo pelos sete mares. Os primeiros descobriram o Brasil e os segundos descobriram tudo ao redor do Brasil.

           

            Bem feito, quem mandou? Agora temos que conviver com leituras da história que nos levaram à situação descrita por João Ubaldo Ribeiro. Segundo elas, até o século 15, o zoneamento era perfeito - brancos na Europa, negros na África, índios na América e amarelos na Ásia. Cada macaco no seu galho. No entanto, graças à bisbilhotice ibérica, estamos nós, herdeiros de Caramuru, com contas imensas a pagar porque os justiceiros da história adoram acertos e indenizações promovidos com os bens alheios. Entre elas, a conta dos índios. Como é fácil fazer justiça expropriando os outros!

 

            O princípio segundo o qual o Brasil era dos índios e deles foi tomado pelos portugueses ganhou sensível impulso com os preceitos do artigo 231 da Constituição de 1988. Mas se o princípio estivesse correto e se quaisquer direitos originais de posse pudessem ser invocados, não sei se alguém, no mundo de hoje, ficaria onde está. Não me refiro sequer aos primeiros fluxos migratórios através dos milênios. Refiro-me às mais recentes e incontáveis invasões e guerras de conquista que marcam a história dos povos. E note-se que as guerras de conquista não geravam indenizações aos vencidos, mas espólios aos vencedores.

 

            Faço estas observações diante do que está em curso em nosso país com os processos de demarcação de terras indígenas. É o próprio Estado brasileiro, através de suas agências, reclamando por extensões mais do que latifundiárias e jogando nas estradas e na miséria legiões de produtores e suas famílias. É o braço do Estado gerando novas hostilidades no ambiente rural do país (como se já não bastassem as estripulias do MST). Índios e não índios merecem ser tratados com igual dignidade. Mas não se pode fazer justiça criando injustiça, nem se pode cuidar do país entregando o país. Não existem outras "nações" dentro da nação brasileira. E é exatamente isso que está em curso, sob pressão de uma difusa mas ativa conspiração internacional, conjugada com o CIMI e a FUNAI, que quer o Brasil e os brasileiros longe da Amazônia, por exemplo.

 

            Índio não é bicho para ser preservado na idade da pedra lascada, como cobaia de antropólogos, num apartheid que desrespeita o natural processo evolutivo. Ou armazenado, como garrafa de vinho, numerado e rotulado, com designação de origem controlada.

 

 

 Percival Puggina   -   é arquiteto, empresário, escritor, titular do site www.puggina.org, colunista de Zero Hora e de dezenas de jornais e sites no país, autor de Crônicas contra o totalitarismo; Cuba, a tragédia da utopia e Pombas e Gaviões, membro do grupo Pensar.



publicado por Luso-brasileiro às 10:50
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HUMBERTO PINHO DA SILVA - COMO SE AVALIA A MULHER

 

 

 

 

 

 

 

 

No passado mês de Junho, o Centro de Estudos Sociais (CES) da Universidade de Coimbra, chegou à conclusão que o modo como a mulher se apresenta, em sociedade, indica, quase sempre, a predisposição a aceitar ou não, contactos sexuais ocasionais.

 

No colóquio, participado por alunos, ficou assente que a forma como a mulher se veste, são sinais, que em regra, indicam seu comportamento.

Foi, igualmente, ventilado, que as relações interpessoais, realizadas durante o dia, são consideradas, em geral, pelos intervenientes, sérias; já o mesmo não acontece quando são realizadas à noite.

 

Certamente, penso eu, que estavam a imaginar encontros feitos em casas de divertimento ou lugares públicos.

 

Até aqui nada de novo, apenas recorda o que todos conhecem, de modo empírico.

 

Nas últimas décadas, os pais, por falta de tempo ou por não saberem ou não quererem educar, ou ainda no receio de traumatizarem o jovem, têm descuidado a educação moral dos educandos, entregando à escola, a missão para a qual esta não está, nem pode estar preparada.

 

É justo e natural, que a mulher acompanhe a tendência da moda, mas deve adaptá-la à idade e à decência.

 

Pelo facto de estar em uso, e muitas jovens aparecerem em público com vestes provocantes, não quer dizer que convêm à que é cristã, tem personalidade, e sabe pensar pela própria cabeça.

 

Esse colóquio com alunos da Universidade de Coimbra, é indicativo que somos avaliados pelo modo como nos trajamos.

 

O conceito que os nossos amigos formam de nós, depende muito do modo como nos vestimos.

 

São sinais, que permitem avaliar as nossas atitudes, ações e conceitos morais.

 

Não se pretende, como os puritanos, que não se acompanhe a moda, mas é preciso adaptá-la, à idade e ao bom senso.

 

É necessário, igualmente, ajustar o trajo ao local onde se o vai usar. O que é aceitável num restaurante ou bar, voltado para o mar, pode ser escandaloso se for usado na baixa da nossa cidade.

 

Sobre tudo é bom não esquecer, que é pelos sinais exteriores, que somos julgados, em sociedade.

 

Como é difícil conhecer o modo de pensar do semelhante, avalia-se, o carácter, pelo que se veste, pelo que se diz e pelos gestos e atitudes que se toma..

 

Muitas vezes se erra…mas também muito se acerta.

 

 

 

HUMBERTO PINHO DA SILVA   -   Porto, Portugal



publicado por Luso-brasileiro às 10:42
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EUCLIDAS CAVACO - TEMPO VELOZ
 
 
 
 
Boa tarde estimados amigos
TEMPO VELOZ Volto ainda esta semana com um breve poema sobre o TEMPO. Tema que continua a excitar a minha curiosidade e sobre o qual escrevi diversos poemas como este que pode ver  aqui neste link:

 http://www.euclidescavaco.com/Poemas_Ilustrados/Tempo_Veloz/index.htm
 
 
 

Euclides Cavaco  - Director da Rádio Voz da Amizade.London, Canadá

cavaco@sympatico.ca
 
 
 
 
***
 
http://www.publico.pt/sociedade/noticia/nao-farei-qualquer-exame-retroactivo-1613548
 
CARTA ABERTA AO PRIMEIRO MINISTRO
 
 

Porto, 20 de Novembro de 2013

 

 

Exmo. Sr. Primeiro-ministro,

 

 

O meu nome é Manuel Maria de Magalhães e sou professor profissionalizado do grupo 410 (Filosofia), desde 2002. Desde então fui contratado por treze escolas, em cinco distritos diferentes (Viana do Castelo, Braga, Porto, Guarda e Viseu). Em todas excedi sempre aquilo que me era pedido, como prova o reconhecimento, em alguns casos público e formal, que alunos, colegas, órgãos das escolas e encarregados de educação prestaram ao meu trabalho. Em termos de formação contínua de professores desprezei sempre as acções de formação promovidas pelo ministério através das suas direcções regionais, que conjugam o verbo «encher» na perfeição, para procurar na academia a continuação dos meus estudos sobre a forma de congressos ou mesmo na execução de duas pós-graduações nas áreas em que o meu grupo disciplinar se move. Em todas as escolas o meu trabalho foi avaliado, de acordo com o estipulado, tendo inclusivamente sido dos primeiros a submeter-se voluntariamente às «aulas assistidas». Em consequência das suas políticas educativas encontro-me no corrente ano desempregado e sem perspectivas de encontrar colocação nesta área, tal como dezenas de milhares de colegas meus, muitos deles com uma história profissional bem mais dura do que a minha e muitos mais anos de serviço. É neste quadro que vossa excelência, através do seu ministro da educação, nos quer obrigar a fazer um exame para poder continuar a concorrer ao ensino. Era a humilhação que faltava e a maior de todas.

 

Ao enveredar por este caminho vossa excelência está a descredibilizar todos os docentes com provas dadas nesta causa que é tomada como uma missão em prol do desenvolvimento do país. Está a descredibilizar as universidades que nos formaram e as escolas que nos avaliaram. Está a destruir a credibilidade do próprio ensino, através de uma avaliação retroactiva, sem fundamento, obscura nos seus contornos, pois até esta data pouco se sabe sobre o processo, que é mais próprio de regimes ditatoriais revolucionários do que de democracias maduras, onde todas as partes devem ser ouvidas.

 

Estou de acordo consigo num ponto: a educação não está bem apesar dos esforços de tantos, mas residirá apenas na classe docente a causa desse mal? Já reparou que todos os governos eleitos impuseram uma política de educação diametralmente diferente dos anteriores? Já se deu conta que a educação foi verdadeiramente uma área em que se «atirou dinheiro» para cima dos problemas na esperança que passassem? No ensino, como em muitas outras áreas, também existiu o privilégio do betão face à formação. Quantas escolas não têm psicólogos, sobretudo clínicos, que tanta falta fariam aos inúmeros casos dramáticos que assolam milhares de alunos? Que vínculos tem o Estado, através da Segurança Social, para ajudar a estabelecer pontes entre as famílias e a Escola? O que se (não) tem feito em termos de prevenção da indisciplina em ambiente escolar, seja na sala de aula ou fora dela? O que fez o Estado para promover a autoridade (não autoritarismo) do professor e do auxiliar de acção educativa que ainda é tratado, à maneira do Estado-Novo, como um mero contínuo, desprezando o seu vital papel nas escolas? Construir ou renovar escolas não chega…

 

Se quer introduzir alterações em atitudes e comportamentos dos docentes este não é seguramente o melhor caminho. Se analisar a formação que o Ministério nos disponibiliza constatará que não tem, na maioria dos casos, qualquer interesse em termos pedagógicos. Já pensou em fomentar a ligação entre as universidades e as escolas neste sentido? Ao persistir neste caminho Vossa Excelência encerra em si o pior modelo de docência: o do professor que obriga os alunos a uma avaliação para a qual não os preparou.

Não temo como nunca temi qualquer forma de avaliação, mas não me sujeito ou humilho perante este cenário que vossa excelência nos quer forçar. NÃO FAREI QUALQUER EXAME RETROACTIVO, imposto de forma ditatorial. Se o preço a pagar for a exclusão definitiva do ensino assumo-o. Mais importante do que as palavras que proferimos é o exemplo que perdura. A dignidade não está à venda e não posso ser incoerente com tudo o que tenho passado aos alunos que o Estado me entregou. Ainda assim tenho a esperança que Vossa Excelência tenha a humildade (uma das maiores, se não a maior, virtude humana) de reconhecer o erro que esta medida encerra e procurar novas soluções.

 

 

Com os melhores cumprimentos,

 

Manuel Maria da Rocha Melo de Magalhães

C.C. – 10282310 3ZZ5

 
(Carta publicada no jornal Público em 25 de Novembro de 2013)
 
Por abordar  assunto de grande interesse, trancreveu-se, do matutino lisboeta, a presente carta, enviada pelo ilustre  professor.


publicado por Luso-brasileiro às 10:12
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Segunda-feira, 18 de Novembro de 2013
JOÃO CARLOS MARTINELLI - A IMPORTÂNCIA DO DIA DA CONSCIÊNCIA NEGRA

 

 

 

 

 

 

 

 

 

 

 

Celebra-se a 20 de novembro no Brasil, o Dia da Consciência Negra, por ser a data da morte do grande líder do Quilombo dos Palmares, Zumbi. Na realidade, foi ele quem deu o primeiro grito de liberdade ecoado neste lado do mundo, pagando com a própria vida por ter construído na Serra da Barriga, Alagoas uma verdadeira república, onde conviviam em independência e harmonia, não apenas negros fugidos do escravismo e índios, mas também brancos perseguidos pelo esquema de Poder então vigente.



 

Segundo o sociólogo Clóvis Moura, a República dos Palmares se constituiu em embrião de uma nova nação, “surpreendentemente progressista para a economia e os sistemas de ordenações social da época”.

Por isso, o Dia da Consciência Negra, instituído em homenagem à Zumbi, o líder do Quilombo, reveste-se de manifesta importância e os seus significados históricos e reflexivos nos estimulam ao debate sobre a situação não só do racismo, mas também das variadas manifestações discriminatórias que ainda proliferam em muitos setores da sociedade. Tais aspectos impedem a completa viabilização da cidadania, já que é imprescindível proscrever o arbítrio para se garantir a liberdade. Com efeito, a Justiça exige a igualdade, um de seus elementos intrínsecos.

         A uniformização do estatuto jurídico para todos os homens se constitui no princípio constitucional básico e na aspiração máxima ao possível exercício pleno da democracia nos Estados de Direito. É da paridade perante o Direito em geral e dele como sistema, que resulta a proibição de que, em razão do nascimento, raça, credo religioso ou de convicção política, se estabeleçam distinções quanto ao ordenamento legal ou se criem privilégios, de qualquer espécie.

         Mesmo a Carta Magna sublinhando a relevância da isonomia, registram-se constantes atitudes preconceituosas e que na maioria das vezes são hipocritamente negadas por seus agentes. Essa dissimulação não só dificulta a análise mais acurada das causas estruturais desse estado de coisas, como acoberta certas normas sociais e práticas intoleráveis que bem camufladas, passam impunes e acabam incorporadas virtualmente aos usos e costumes. Tal quadro incute, muitas vezes, até que implicitamente, a idéia de superioridade de uns sobre os outros, contrariando princípios naturais, morais e legais. De fato, o Direito procura a igualdade de todos perante a lei, a obrigatória uniformidade de tratamento dos casos iguais e a proibição dos preconceitos de quaisquer espécies.

         Os movimentos em defesa das minorias, dos oprimidos e dos discriminados, coesos e conseqüentes, resultam em novas concepções restauradoras do ideal de Justiça, impedindo que suas regras se perpetuem num ostracismo alienante, regressivo e prepotente, tratando desigualmente pessoas ou situações iguais entre si. Afinal, os direitos e garantias fundamentais se revelam na base do Estado Democrático de Direito que o Brasil está tentando construir e as discriminações, sem exceções, precisam se banidas.

         O Dia da Consciência Negra nos faz despertar contra as atitudes separatistas, indignas e injustas, pois pertencemos à espécie humana e, portanto todos somos irmãos. Como exprime Carl Schmitt, “a lei no sentido do Estado de Direito significa uma regulação normativa, dominada pela idéia de Justiça e cuja igualdade significa Justiça” (Teoria da Constituição, México, Ed. Nacional, 1.966, pág. 179).

     Por outro lado, entendemos que a igualdade de direitos e deveres não é por vezes fácil, mas é sempre justa e necessária.  O racismo não tem fundamento histórico, é simples questão de orgulho e ignorância dos autênticos valores do ser humano.  O homem não se mede pela cor da pele, mas pela riqueza que encerra em sua pessoa. A Declaração dos Direitos Humanos das Nações Unidas assim reza em seu artigo primeiro: “a discriminação entre seres humanos, por motivos de raça, cor ou origem étnica, é uma ofensa à dignidade humana e deve ser condenada como negação dos princípios da Carta das Nações Unidas, como violação dos direitos do homem (...) como obstáculo às relações amigáveis e pacíficas entre as nações, e como fato capaz de perturbar a paz e a segurança entre os povos”.

    Assim, atitudes racistas são mesquinhas e contrariam os direitos inalienáveis de cada homem. E, sob outro prisma, somente demonstram que alguns indivíduos não estão vivendo dentro dos justos limites do plano criador de Deus. É necessário coibir certos absurdos anti-humanos enquanto é tempo, para que os reais princípios se sobreponham a supostas potencialidades biológicas, propiciando um nível normal de convivência, sem diferenças entre as relações das diversas pessoas. Que o Direito e a Justiça assim intercedam!



 

JOÃO CARLOS JOSÉ MARTINELLI, advogado, jornalista, escritor e professor universitário



publicado por Luso-brasileiro às 13:25
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MARIA CRISTINA CASTILHO DE ANDRADE - RUÍDO DO MUNDO E SILÊNCIO DO CÈU

 

 

 

 

 

 

 

 

 

Espanto-me com o tempo da Pastoral da Mulher – Santa Maria Madalena. São 31 anos. Nasceu a partir dos olhos de compaixão de Dom Roberto Pinarello de Almeida - nosso segundo Bispo Diocesano -, ao observar algumas mulheres atacadas pela soberba de homens de visão sombria, os quais usam e em seguida descartam.  A compaixão é sempre uma forma elevada de claridade.


O Padre Alberto Simionato, reitor do Núcleo Propedêutico, em sua homilia na Missa em Ação de Graças pelos 31 anos, acontecida em 16 de outubro na capela do Carmelo São José, afirmou que tanto a Pastoral, como a Associação “Maria de Magdala”  - braço da Pastoral -, são uma forma que Deus usa para mostrar o Seu Amor. Pessoalmente, considero Deus de singularidade que fascina. E quantos sinais desse Amor nesse período. As pessoas que se dispuseram, com maior ou menor disponibilidade, a colaborar com a reintegração/reconstrução de mulheres em situação de vulnerabilidade social. Pessoas com a consciência de que não existe população da sarjeta a ser combatida, mas sim a brutalidade dos perversos que empurra aos escoadouros, pisa e massacra.


Surpreendo-me por Deus me chamar e me manter 31anos  nesse caminho de Seu Amor. Como se manifestou o Padre Alberto: “o que é de Deus não se dissolve”.  E permanecerá se tivermos os mesmos sentimentos de Jesus Cristo, como afirma São Paulo. É Ele que nos dá o critério da verdade. E como Deus tem me evangelizado através do contato com todos os tipos de baixezas, inclusas as minhas.


Houve um tempo em que me atribuía determinados acontecimentos vitoriosos da Pastoral, porém hoje tenho certo o que falou São Paulo aos Coríntios (3, 6): “... eu plantei, Apolo regou, mas Deus é quem faz crescer”.


Conhecia a Palavra divina, todavia distante das posturas e dos sentimentos. Na mesma proporção em que o Senhor se aproximava para salvar do pântano mulheres tragadas pela violência sexual infanto-juvenil, pela miséria ligada à promiscuidade sexual, pelo álcool, droga, indiferença, desesperança, me libertava dos grilhões do preconceito, dos julgamentos.


Padre Simionato também comentou que a grande sentença de Jesus Cristo na cruz, ao ser açoitado física e moralmente e no mais íntimo de seu ser, foi: “Pai, perdoa-lhes, pois não sabem o que fazem”. E que o único lugar do encontro de Deus com o ser humano é no coração.  O coração somente Ele conhece e pode julgar.


Comovo-me com as mulheres que passaram por essa história e se fortaleceram ao levantar os olhos para  Belém e Jerusalém. Algumas já partiram para a Eternidade, outras traçaram novos rumos e seguiram na conquista de seus sonhos, há aquelas que permanecem conosco. Poucas vão e vêm, em meio a charcos e jardins.


Assombro-me com Deus que tece presenças que nos sustentam. Uma delas é a do Padre José Brombal, nosso assessor espiritual, de coração aberto, há décadas, para ouvi-las, acolhê-las e dizer delas aos indiferentes e aos algozes.


Encanta-me a ligação dessa Pastoral com o Carmelo São José.  Pode parecer o encontro entre o profano e o santo, sem chance de comunhão.  Na verdade, é o encontro de criaturas do mesmo Criador, sedentas de espiritualidade, com o sonho que o Altíssimo lhes propõe, na pessoa de Seu Filho Jesus Cristo, através das Monjas, em um lugar onde existe a quietude em Deus e a inquietude pela salvação do mundo. Sonho de purificação e santidade. Resgate da pureza que lhes tiraram e negam. Uma das primeiras mulheres do grupo, poucas horas antes de sua morte, pediu-me que lhe garantisse que seria enterrada de sapatos brancos. Considerava que seus pés lhe devolveram a pureza, logo que se direcionou ao Sagrado.  O Carmelo tem encantos que a razão humana não traduz. É a transposição dos ruídos do mundo para o silêncio do céu. Conforme escreveu São João da Cruz: “É no silêncio da alma que Ele se faz ouvir».


A Pastoral tem essa proposta de silêncio. Anuncia a Palavra, que capacita a remover as crostas mortas do corpo e a libertar o coração para ouvir as bem-aventuranças.




 

Maria Cristina Castilho de Andrade -  Coordenadora diocesana da Pastoral da Mulher – Santa Maria Madalena/ Magdala - Jundiaí, Brasil

 



publicado por Luso-brasileiro às 13:21
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ARMANDO ALEXANDRE DOS SANTOS - MAUÁ - O IMPERADOR E O REI

 

 

 

 

 

 

 

 

 

Trata-se de um filme dirigido por Sérgio Rezende, figurando como atores principais Paulo Betti e Malu Mader. É interessante porque reconstitui uma época geralmente pouco focalizada pelo cinema brasileiro, mas é muito questionável do ponto de vista da fidelidade histórica.

 

Irineu Evangelista de Souza, Barão e mais tarde Visconde de Mauá, é, no filme, apresentado como herói, enquanto o Imperador D. Pedro II é mostrado como indolente, moleirão e até ridículo. Na realidade objetiva dos fatos, nem Mauá foi tão bonzinho, nem D. Pedro II merece essas críticas.

 

No Velho como no Novo Mundo, era bastante elevado o prestígio de que se revestia a figura de nosso monarca. Em consequência, era também muito alto o conceito do Brasil. Repetidas vezes o Imperador foi chamado a arbitrar pendências entre grandes potências mundiais.

 

Mauá era um empresário de larga visão e grande capacidade de trabalho, e a ele o Brasil muito deve, mas agia, de fato, como testa-de-ferro de interesses comerciais ingleses. Quando houve a famosa Questão Christie, isso ficou muito patente. Naquela contenda desencadeada em 1862 pela falta de tacto e pela imprudência do ministro inglês no Rio de Janeiro, William Dougal Christie, o Brasil saiu prestigiado e engrandecido.

 

O diplomata britânico, insatisfeito por não serem punidos, conforme desejava, policiais brasileiros que haviam prendido oficiais ingleses à paisana que, embriagados, faziam desordens nas ruas do Rio de Janeiro, enviou ao nosso governo violento ultimatum. Não sendo este atendido, ordenou que navios ingleses apresassem cinco embarcações mercantes brasileiras.

 

O Império não teria condições de sustentar uma guerra contra o Reino Unido. Mas venceu-o no campo diplomático. Sobretudo venceu-o moralmente.

 

A atitude do Imperador foi de firmeza total. Disse que preferia perder a coroa a mantê-la sem honra na cabeça. E recusou terminantemente qualquer negociação sob ameaça da esquadra inimiga, e enquanto não fossem devolvidos os barcos apreendidos.

Nessa hora, no Brasil inteiro houve uma explosão de indignação contra a Inglaterra.  Machado de Assis compôs uma poesia, desafiando os ingleses. Recordo uma das quadras: "Podes, vir, nação guerreira, / Nesta suprema aflição, / Cada peito é uma trincheira, /  Cada bravo é um Cipião".

Essa poesia, transformada em hino, foi cantada, num teatro do Rio de Janeiro, pela famosa atriz Eugênia Câmara, pela qual se apaixonara o poeta Castro Alves, e foi divulgada no Brasil inteiro.

 

Nesse momento, Mauá teve uma atitude pouco patriótica, que D. Pedro II jamais perdoou. Alarmado com a perspectiva dos prejuízos econômicos que ele e seus patrões ingleses teriam com o rompimento do comércio, logo procurou atuar como intermediário para restabelecer as negociações diplomáticas - sem ter sido para isso convidado por ninguém. No contexto em que tomou essa atitude ficava claro que seu interesse era favorecer mais os seus negócios do que o Brasil, e D. Pedro o rejeitou, respondendo: "Cuide o Sr. Mauá dos seus negócios, que do Brasil sei eu cuidar".

Christie achou mais prudente recuar. Os navios brasileiros foram logo devolvidos. O caso, confiou-se ao juízo de um árbitro imparcial - o Rei Leopoldo I, da Bélgica, tio da Rainha Vitória. E Christie foi chamado de volta a Londres, sendo substituído por outro diplomata mais sensato, e até simpático ao Brasil, Mr. Cornwallis Eliot.

 

Mas D. Pedro II não considerou encerrado o caso. O decoro nacional exigia uma satisfação condigna pela ofensa recebida. Como Londres não quisesse apresentar essa satisfação, seguiu-se o inevitável rompimento de relações. O ministro do Brasil em Londres, Carvalho Moreira (futuro Barão de Penedo), pediu seus passaportes e retirou-se da Ilha com toda a legação. E Mr. Eliot, por sua vez, foi convidado a retirar-se do Brasil, em junho de 1863.

D. Pedro foi absolutamente inflexível e determinou que, enquanto não fosse resolvida satisfatoriamente a questão, o Brasil não somente interromperia relações diplomáticas com o Império Britânico, mas também suspenderia todas as relações comerciais, ficando congelados todos os capitais ingleses aplicados no Brasil.

 

No mês seguinte, Leopoldo I proferia sentença favorável ao Brasil. A Inglaterra ainda relutou longamente em reconhecer que seu representante havia agido mal, e tentou restabelecer relações diplomáticas e, sobretudo, comerciais, sem pedir desculpas. Do ponto de vista econômico, é preciso dizer, não foram pequenos os prejuízos que sofreu o comércio inglês nos dois anos em que estiveram interrompidas as relações.

 

Afinal, ante a inflexibilidade de D. Pedro II, a Inglaterra acabou por ceder, e um emissário especial, Edward Thornton, foi enviado ao Imperador, para manifestar o quanto a Rainha Vitória lamentava todo o ocorrido e apresentar formalmente as desculpas do governo inglês.

 

Para cumprir sua missão, o emissário precisou deslocar-se até a tenda de campanha de D. Pedro II, no Extremo Sul do País, diante da cidade de Uruguaiana que as tropas brasileiras haviam acabado de reconquistar aos paraguaios.

Foi como vitorioso, e acompanhado de seus aliados argentinos e uruguaios, que o Imperador quis receber o pedido de desculpas da poderosa Grã-Bretanha.

Essa a origem do desentendimento entre Mauá e o Imperador. Quando, mais tarde, Mauá chegou à beira da falência, o Governo do Império teria podido socorrê-lo, mas não o fez. D. Pedro II considerou imoral usar dinheiro público para socorrer um investidor privado. E Mauá faliu.

Esses acontecimentos são escamoteados pelo filme, que apresenta Mauá como um idealista desinteressado e patriota, e D. Pedro II como um homem medíocre, invejoso e injusto. A verdade histórica é bem outra.

Há, para os conhecedores de História do Império, ainda outras impropriedades e anacronismos no filme, além de personagens inexistentes (como o Visconde de Feitosa), que o filme apresenta como se históricos fossem. Mas, no total, não deixa de ser um filme interessante. Dentre os atores, não destacaria nenhum como particularmente bem sucedido, a não ser, talvez, um ator secundário, que fez papel coadjuvante, que representou Mr. Carruthers, o patrão e depois sócio de Mauá. Era, talvez, o único que, a meu ver, parecia realmente um homem do século XIX. Quanto a Paulo Betti, sinceramente, ele me convenceu mais no papel de jagunço baiano, em Guerra de Canudos, do que no papel de Mauá.

 

 

 

 

 

Armando Alexandre dos Santos é historiador e jornalista, diretor da Revista da Academia Piracicabana de Letras



publicado por Luso-brasileiro às 13:09
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