PAZ - Blogue luso-brasileiro
Sábado, 22 de Março de 2014
MARIA CRISTINA CASTILHO DE ANDRADE - EMOÇÕES DE OUTONO
Experimento, no outono, emoções diferentes. Cessa um tempo de euforia e brilho, que ofusca os olhos, para dar lugar a uma realidade que, às vezes machuca, sem perder a poesia. Carrega, o outono, muito mais saber e eternidade que o pierrô e a colombina que passam abraçados pelas ruas e voltarão, no ano que vem, envoltos em confete.
Penso que comecei a vivenciar, em plenitude, o outono há 27 anos, na despedida de meu pai. Doeu muito. Embora já tivesse experimentado outras partidas, a dele me sacudiu no cais de minha história; a dele me despertou para as impossibilidades em deter alguém. Havia entre ele e a mamãe um fio azul que indicava o céu e nos mantinha unidos, pela renúncia, cuidados e carinho, nos vendavais e nas celebrações. O fio que trouxe a claridade da aurora aos filhos. Embora soubesse que por aqui somos passageiros, havia dentro de mim a convicção irreal da impossibilidade de que uma ponta do fio, que nos atava, uma hora estaria além do horizonte.
Quando uma presença, que me acalenta de maneira intensa, de certa forma se torna ausência, todas as outras se juntam e a alma fica num misto de lamento de saudade e gratidão pela convivência. Quantas pessoas já se foram e eram de existência de acréscimo em minha história. Minhas paisagens, hoje, possuem inúmeras despedidas. Barcos com velas molhadas que atravessam as fronteiras do mistério e chegam às margens do Eterno, onde não posso ver. Meu coração, contudo, retém rastros abarrotados de ternura.
Dias de março contêm a Quaresma. Período propício de revisão e reforma da vida. Tempo de se aprofundar nas próprias entranhas com o propósito de se conhecer por dentro nas inclinações, pensamentos, reações. Para quê? Escreve o Padre Gabriel de Santa Maria Madalena, O.C.D. - Quinta-Feira de Cinzas - em seu livro “Intimidade Divina” -, Edições Loyola: “Não podemos escolher Deus e, ao mesmo tempo seguir o mundo, ceder às paixões, acariciar o egoísmo, alimentar a cobiça ou a ambição”. Por quê? “Pois que aproveita ao homem ganhar o mundo inteiro, se vem a perder-se a si mesmo e se causa a sua própria ruína” (Lc 9, 25).
Voltando ao outono. Escreveu Carlos Drummond de Andrade em “Fala, amendoeira (1957): “Repara que o outono é mais estação da alma que da natureza”. Talvez essa colocação de Drummond me faça decifrar melhor as impressões de outono que moram em mim: antes da partida de meu pai eu não levava essa estação na alma.
O outono possui frutos saborosos. É preciso passar por ele para ampliar o entendimento dos sabores. E a Quaresma orienta para a Páscoa.
Metamorfose e Ressurreição. Um dia, o reencontro será maior do que todos os adeuses.
MARIA CRISTINA CASTILHO DE ANDRADE - É coordenadora diocesana da Pastoral da Mulher – Santa Maria Madalena/ Magdala. Jundiaí, Brasil.
CINTHYA NUNES VIEIRA DA SILVA - CRUELDADES
Para minha profunda tristeza, não se passa uma única semana sem que eu fique horrorizada com notícias sobre a crueldade e torpeza humanas. São atos praticados contra seres indefesos no mais das vezes, como idosos, crianças e animais. Cometidos pelas mais variadas razões e mesmo pela ausência completa de uma que seja, são atos de covardia, de maldade e de vilania.
Muitas vezes eu sinto vontade de me alienar, de fingir que nada disso existe e que o mundo não é um lugar tão assustador quanto os noticiários dão conta e que há muita gente boa desse lado debaixo do céu. Mas viver requer coragem e sou teimosa demais para tamanha covardia. E de covardia em covardia, de omissão em omissão, vamos deixando de ser vítimas e nos transformamos em cúmplices...
Duas imagens e notícias particularmente me chocaram nessa semana. Vi uma imagem de uma cadela, muito mansa, que foi enterrada viva, deixada para morrer apenas com a cabeça para fora. Enquanto as pessoas a desenterravam, ela ia lambendo as mãos que a ela se estendiam. O animal poderia tentar morder, latir, mas somente demonstrava gratidão, revelando uma grandeza que aos poucos se esvai dos seres humanos.
Outra imagem marcante foi a de um cão com um imenso prego enfiado na cabeça. Por óbvio que se tratou de ato (des)humano, mas eu fico me pergunto que tipo de gente será essa, capaz de algo desse nível de maldade gratuita. Questiono-me, ainda, se alguns de nós nascem particularmente maus, despidos e desprovidos de bondade, de piedade. Quiçá a maldade se instale devagar, sorrateira, aproveitando-se da desídia do bem, que se esquece de estar presente, que não se exercita ou se faz verbo...
Igualmente as crianças perecem de forma vil, tendo como algozes pais e mães que nunca deveriam ter recebido a graça da concepção. Saber de um menino que foi espancado até a morte, pelo próprio pai, apenas porque gostava de lavar louça e de dançar, para que pudesse “virar homem”, é só uma prova de quanto as pessoas podem ser imbecis e cruéis.
Tenho a sensação de que não só a Terra é redonda, mas também a História da humanidade. Evoluímos ao ponto de alguém digitar uma palavra no Japão e a mesma ser lida em segundos aqui no Brasil. Chegamos longe na tecnologia, mas ao nos distanciarmos do belo, do simples, do puro e do bom, deixamos de lado nossa essência e abandonamos a criança, semente de humanidade, que dormita dentro de nós e que é capaz de nos redimir diante do mundo.
Talvez, assim, sem caminho a prosseguir, estejamos tomando a via contrária, retornando à barbárie, como ratos de laboratório que andam em círculos, alienados e privados de um mundo e de um sentido maiores. Tememos nossos iguais e, a cada vez, tememos muito mais é estarmos nos tornando, de fato, iguais.
CINTHYA NUNES VIEIRA DA SILVA - Advogada, mestra em Direito, professora universitária e escritora - São Paulo. Membro da Academia Linense de Letras.
RENATA IACOVINO - COMPOSITORES CRONISTAS
É recorrente eu escrever sobre o diálogo entre poesia e música, especialmente no tocante ao talento de letristas da MPB, verdadeiros poetas, sem considerarmos, aqui, as polêmicas se letra de música é poesia ou não.
Até porque, tal debate não encontrou fim, ainda.
Além da poesia contida em tantas músicas, há, paralelamente, composições que são excelentes crônicas, dignas de publicação em jornal, ou em qualquer veículo que propicie a fruição deste gênero.
Falando em jornal, deleitava-me há pouco com a gravação de Notícia de Jornal, de Haroldo Barbosa e Luiz Reis, na voz de Chico Buarque, num registro de 1975, ao vivo, quando descobri a mesma canção na voz da faxineira das canções, Elizeth Cardoso. O deleite foi, pois, absoluto.
A crônica/letra é a seguinte: "Tentou contra a existência/No humilde barracão/Joana de tal, por causa de um tal João./Depois de medicada,/Retirou-se pro seu lar./Aí, a notícia carece de exatidão./O lar não mais existe/Ninguém volta ao que acabou./Joana é mais uma mulata triste que errou:/Errou na dose,/Errou no amor,/Joana errou de joão,/Ninguém notou,/Ninguém morou na dor que era o seu mal,/A dor da gente não sai no jornal."
Agora, voltando à questão poética, quem há de negar que também nesta prosa há poesia? Basta lermos alguns versos.
Estes achados encontramos, também, em outros cronistas-compositores, como Noel Rosa, Lupicínio Rodrigues e Paulo Vanzolini.
Em Conversa de Botequim, Noel e Vadico pintam um perfeito cenário de bar da década de 1930. Eis o primeiro trecho: "Seu garçom, faça o favor de me trazer depressa/Uma boa média que não seja requentada/Um pão bem quente com manteiga à beça/Um guardanapo e um copo d'água bem gelada/Feche a porta da direita com muito cuidado/Que não estou disposto a ficar exposto ao sol/Vá perguntar ao seu freguês do lado/Qual foi o resultado do futebol".
Lupicínio Rodrigues e Alcides Gonçalves transformaram uma das histórias vividas por ambos, na boate Marabá, em música. Nasceu Quem Há de Dizer.
Vanzolini, compositor de inúmeros sambas, imortalizou-se com Ronda (quem não conhece?).
E voltando a Chico Buarque, este compositor escreveu histórias que refletem nossa realidade, como as que estão presentes em O meu Guri, Bye Bye Brasil, Flor da idade, Vai passar...
Ouvir história pode ser tão bom quanto lê-la!
RENATA IACOVINO, escritora e cantora / reiacovino.blog.uol.com.br / reval.nafoto.net / reiacovino@uol.com.br
PAULO ROBERTO LABEGALINI - JOELHOS DOBRADOS
A casa segundo, muitos joelhos se dobram para alcançar sucesso na evangelização. Aliás, o joelho tem uma grande importância no mundo animal.
Você já viu um passarinho dormindo num galho fino sem cair? Sabe como ele consegueisso? O segredo está nos tendões das pernas: eles são gerados de forma que, quando o joelho está dobrado, o pezinho segura firmemente qualquer coisa. E os pés não irão soltar o galho até que a avezinha desdobre o joelho para voar.
É uma maravilha da natureza, concorda? Que incrível imaginação teve o Criador para manter o passarinho na árvore! Mas, não é tão diferente em nós...
Quando tudo está ameaçando cair, a maior estabilidade nos vem de um joelho dobrado em oração. Se você se vê num emaranhado de problemas que o fazem desanimar de caminhar, não continue sozinho. Jesus quer fortalecê-lo e seguir consigo por toda a vida. É Ele quem renova a sua fé!
Se Ele cuida de um passarinho, imagina o que não fará por você! Basta crer nisto: “Se permanecerdes em mim e as minhas palavras permanecerem em vós, pedireis o que quiseres e vos será feito” (João 15,7).
Eis um texto do romancista mexicano Hugo Vaz:
“Quando se pensa que nem a Santíssima Virgem pode fazer o que um sacerdote faz, e que nem príncipe algum daqueles que venceram Lúcifer podem fazer o que um sacerdote faz. Quando se pensa que Jesus, na última Ceia, realizou um milagre maior do que a criação do Universo com todos os seus esplendores e, esse prodígio, o sacerdote pode repeti-lo todos os dias...
Quando se pensa no outro milagre que somente um sacerdote pode realizar: perdoar os pecados; e o que ele liga no seu humilde confessionário, Deus o liga no Céu, e o que ele desliga, no mesmo instante o desliga Deus... Quando se pensa que o mundo morreria da pior fome possível se chegasse a lhe faltar esse pouquinho de Pão e esse pouquinho de Vinho...
Quando se pensa que isso pode acontecer porque estão faltando vocações sacerdotais, e que, se isso acontecer, se estremecerão os céus e se romperá a Terra, como se a mão de Deus tivesse deixado de sustentá-la; e as pessoas gritarão de angústia e pedirão esse Pão, e não haverá quem lhes dê; e pedirão a absolvição de suas culpas, e não haverá quem as absolva; e morrerão com os olhos abertos pelo maior dos espantos...
Quando se pensa que um sacerdote é mais necessário do que um presidente, mais do que um militar, mais do que um médico, mais do que um professor, porque ele pode substituir a todos em parte de suas atividades e ninguém pode substituí-lo. Quando se pensa que um sacerdote, quando celebra no altar, tem uma dignidade maior do que um rei, e que não é um símbolo, mas é Cristo mesmo que está ali, repetindo o maior milagre de Deus...
Quando se pensa em tudo isso, compreende-se a imensa necessidade de fomentar as vocações sacerdotais; compreende-se o afã com que, nos tempos antigos, cada família ansiava que do seu seio brotasse, como um ramo de perfume, uma vocação sacerdotal; compreende-se o imenso respeito que os povos tinham pelos sacerdotes – o que se refletia em suas leis...
Compreende-se que o pior crime que alguém pode cometer é impedir ou desanimar uma vocação; compreende-se que se um pai ou uma mãe obstruem a vocação sacerdotal de um filho, é como se renunciassem a um título de honra incomparável; compreende-se que mais do que uma igreja, mais do que uma escola e mais do que um hospital, é um seminário ou um noviciado...
Compreende-se que ajudar a construir ou manter um seminário é multiplicar os nascimentos do Redentor; compreende-se que ajudar a custear os estudos de um jovem seminarista é aplainar o caminho por onde chegará ao altar um homem que, durante meia hora todos os dias, será muito mais que todas as celebridades da Terra e que todos os santos do Céu, pois será Cristo mesmo, sacrificando o seu Corpo e o seu Sangue, para alimentar o mundo!”
Caro leitor, quanta verdade, não? Por isso é que eu respeito um sacerdote acima de todas as demais pessoas. Por isso, independentemente da idade, o chamo de ‘senhor’. Por isso eu tomo a bênção desses representantes de Cristo. Por isso devemos beijar-lhes as mãos. Por isso temos que dobrar os joelhos e rezar diariamente pelas vocações sacerdotais. Por isso não devemos falar mal de padres. Por isso devemos compreendê-los como seres humanos e amá-los como enviados de Nosso Senhor.
Obrigado sacerdotes. Muito obrigado meu Deus!
PAULO ROBERTO LABEGALINI - Escritor católico, Professor Doutor da Universidade Federal de Itajubá-MG. Pró-reitor de Cultura e Extensão Universitária da UNIFEI.
FELIPE AQUINO - A IGREJA PODE IMPEDIR UM MATRIMÔNIO ?
Há alguns dias foi noticiado que um pároco de Niterói, RJ, não aceitou celebrar o matrimônio de um casal, pois julgou haver um impedimento dirimente; isto é, algo que tornaria o matrimônio nulo. Algumas pessoas até se revoltaram e julgaram que a Igreja Católica foi cruel com o casal; mas não se trata disso.
Vamos esclarecer a questão, sem entrar no mérito da questão do caso de Niterói. Muitos casamentos são declarados nulos pelos Tribunais eclesiásticos porque pode ter havido faltas que tornam nulo o sacramento; sem valor. Essas falhas são muitas; por exemplo: falta de capacidade para consentir (cânon 1095), se um dos cônjuges não tem juízo perfeito e não tem condições mentais de assumir as obrigações do matrimônio; Ignorância (cânon 1096) sobre a vida sexual no casamento; emprego da simulação para enganar o cônjuge (cânon 1101); uso da violência ou medo para conseguir o consentimento do outro (cânon 1103); condição não cumprida (cânon 1102); falta de idade mínima (cânon 1083); impotência permanente para o ato sexual (cânon 1084); o fato da pessoa já ser casada (cânon 1085); se o cônjuge é um padre ou uma irmã consagrada (cânon 1087 e 1088); rapto do cônjuge (cânon 1089); crime cometido para se casar com alguém (cânon 1090); cônjuges parentes (pai e filha; avo e neta, irmãos, etc.) (cânon 1091); parentesco legal por adoção (cânon 1094). Nesses casos e em outros o casamento seria inválido; então, o pároco se souber do impedimento antes do casamento, não pode realizá-lo. Um dos impedimentos que o Código de Direito Canônico coloca para a validade de um matrimônio, é a impotência para o ato sexual, permanente e irreversível, atestada por um médico. Diz o Código de Direito Canônico:Cân. 1084 – §1. A impotência para copular, antecedente e perpétua, absoluta ou relativa, por parte do homem ou da mulher, dirime o matrimônio por sua própria natureza.§2. Se o impedimento de impotência for duvidoso, por dúvida quer de direito quer de fato, não se deve impedir o matrimônio nem, permanecendo a dúvida, declará-lo nulo.§3. A esterilidade não proíbe nem dirime o matrimônio, salva a prescrição do cânon 1098.
É bom notar que a esterilidade não é causa de nulidade. O que torna nulo o matrimônio é a impossibilidade definitiva do ato sexual por problema físico ou de outra natureza. Por que isso?
Porque uma das finalidades do matrimônio é gerar os filhos; e esses só podem ser gerados – no entendimento da moral católica – por meio do ato sexual. É este ato próprio do casal que “consuma” o matrimônio; sem ele o sacramento não será completo; é por isso que o casal que não pode copular não pode receber o matrimônio, pois ele seria nulo.
É bom dizer que esta norma da Igreja é antiquíssima, vem desde o Código anterior, e está vinculada à natureza do matrimônio.
Portanto, não se trata de uma maldade da Igreja; mas apenas uma coerência com o sacramento do matrimônio cuja finalidade principal é gerar os filhos. Se um casal recebesse o matrimônio com o propósito de nunca ter filhos, este matrimônio seria nulo. É por isso que o sacerdote pergunta aos noivos no altar: “Estais dispostos a receber os filhos que Deus lhes enviar, e educá-los na fé do Cristo e da Igreja?” A resposta deve ser “sim” para o matrimônio ser válido. A Igreja ensina que os casais precisam estar abertos aos filhos, pois isto é inerente ao sacramento do matrimônio; os filhos são o maior dom do matrimônio, ensina o Catecismo da Igreja. Um matrimônio sem filhos, exceto o caso de infertilidade, é como uma colméia sem abelhas.
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“A Sagrada Escritura e a prática tradicional da Igreja veem nas famílias numerosas um sinal da bênção divina e da generosidade dos pais” (CIC, 2373; GS, 50,2).
E conclui dizendo que: “os filhos são o dom mais excelente do Matrimônio e constituem um benefício máximo para os próprios pais” (CIC, 2378).
Para o casal que se ama, mas não pode copular por problemas de saúde definitivos, e que por isso não podem receber o matrimônio, há a possibilidade de viverem juntos com irmãos, ajudando-se mutuamente.
Veja vídeo sobre o assunto:
http://youtu.be/bk-_x0UFBVg
FELIPE AQUINO - Escritor católico. Prof. Doutor da Universidade de Lorena. Membro da Renovação Carismática Católica.
HUMBERTO PINHO DA SILVA - AINDA EUSÉBIO
Sempre que figura pública desaparece, surgem vários “ amigos” que em bicos de pés, relatam episódios curiosos ocorridos com o falecido.
Com Eusébio, assim aconteceu.
E, como vem sendo costume, no funeral, não faltou séquito de "amigos” dedicados, políticos, representantes de clubes, sindicatos e partidos, todos lamentando a perda de um dos maiores futebolistas do mundo.
Logo levantaram a ideia de colocar o corpo no Panteão Nacional. Atitude que apoio, já que se abriu excepção para Amália Rodrigues; mas, amigo, considera que ele, certamente, preferia ficar no Estado da Luz.
O que quase todos se esqueceram foram as dificuldades e desgostos que passou, após 1975; dificuldades que o levaram a emigrarem e a jogar em clubes de pequena dimensão.
Uns, acusam Salazar de o ter prejudicado, impedindo-o de sair do país. Outros, como o “ Relvado” em artigo “ 25 de Abril, dia triste no Benfica”, escrevem que Eusébio apelidava Salazar de “padrinho”.
Mas o que disse o futebolista sobre o assunto?
Transcrevo, do” Diário de Notícias” de 06/01/2014, parte da entrevista, concedida ao “ Benfica Ilustrado”
“ Tinha eu 22 anos e só não fui porque estava na tropa e o Salazar não quis. Foi um ano depois de termos ganho a taça dos Campeões da Europa e o Juventos queria que eu fosse para lá. O Benfica deve ter falado com o Salazar que me mandou chamar e disse-me que eu não podia sair do país, porque era património do Estado.”
O Inter de Milão já lhe tinha oferecido três milhões de dólares.
Acredito que Salazar o tivesse convencido a permanecer em Portugal, e que o Benfica não quisesse prescindir dele; mas é também reconhecido, por todos, a grande amizade que Eusébio tinha pelo clube lisboeta.
Amor, que tão mal foi retribuído, porque, verificando que pouco mais podiam esperar dele, dispensaram-no.
Em Portugal - e o mesmo acontece, um pouco, por todo o mundo, - quando já não se é útil, consideram que é descartável.
Felizmente, nos últimos anos, o Benfica fez justiça, contratando-o e colocando-o em posição digna. Foi reparo que só enobrece o clube.
Mas essa atitude nobre, não é usual em Portugal: todos conhecem a situação triste a que chegou Camões, e como a viúva, do nosso maior escultor, Soares dos Reis, obteve, pensão, após longos anos de espera.
Já agora, é bom recordar o que aconteceu à viúva de Eça de Queiroz, que não recebeu a pensão, que tinha direito, porque não quis, juntamente com os filhos, apoiar a Republica.
É também de louvar o gesto de concederem à viúva de Eusébio, o direito de auferir o vencimento do marido. Atitude que só dignifica o Benfica.
Para concluir, queria expressar a minha simpatia pelo futebolista, não por ser excelente jogador - houve e haverá outros iguais ou até melhores, - mas por ter sido sempre humilde e simples, convivendo com todos, o que infelizmente é raro; já que a fama e o dinheiro, tornam, em regra, as pessoas soberbas.
HUMBERTO PINHO DA SILVA - Porto Portugal
EUCLIDAS CAVACO - SER POETA
SER POETA Na celebração do DIA INTERNACIONAL DA POESIA tenho o prazer de vos presentear com este poema declamado que poderão ver e ouvir no link seguinte:
Desejos dum inspirador dia internacional da POESIA.
Euclides Cavaco
Sábado, 15 de Março de 2014
JOÃO CARLOS JOSÉ MARTINELLI - DIA INTERNACIONAL DA MULHER, - MARCO SIMBÓLICO DA LUTA FEMININA POR SEUS DIREITOS.
“Se a mulher tem o direito de subir ao cadafalso, ela deve subir também à tribuna” – já afirmava, em 1791, a francesa Olympe de Gouges, que, na esteira da Revolução Francesa, lançou a “Declaração dos Direitos da Cidadã”, na qual reivindicava plena cidadania ao sexo feminino. Acabou condenada à guilhotina “por ter querido ser um homem de Estado e ter esquecido as virtudes próprias do seu sexo”. Este é um dos maiores exemplos de resistência que contribuíram para termos hoje maior equilíbrio nas relações entre homens e mulheres.
No entanto, nada se compara às tecelãs de Nova York, nos Estados Unidos que organizaram em 1857 uma manifestação por melhores condições de trabalho e diminuição da jornada, promovendo a primeira greve de mulheres naquele país. Elas foram reprimidas, trancadas dentro da fábrica na qual trabalhavam, onde a polícia e o dono da empresa atearam fogo, matando cento e vinte e nove funcionárias. A partir daí, em 1910, surgiu idéia de se criar a oito de março, o DIA INTERNACIONAL DA MULHER em homenagem às vítimas daquele genocídio.
É por isso que a comemoração tem um significado especial em todo o mundo, pois se constitui no marco simbólico da luta feminina por melhores condições de vida, vinculada às reivindicações por uma convivência mais justa e igualitária. Trata-se efetivamente de uma celebração de suma relevância por objetivar a promoção do ativismo contra as agressões ao sexo feminino, notadamente quando estas ocorrem no espaço doméstico; contra o preconceito nos mais variados setores, inclusive o profissional e principalmente, revelar-se num instrumento de permanente busca da isonomia legal.
No decorrer do século XX, alvoreceu uma nova mentalidade em relação às mulheres, que adquiriram maior consciência de seu estado de discriminação e passaram a se dedicar à busca de realização como pessoas plenas. E essa data sempre inspirou às suas demandas e solicitações. Embora se registrem muitas conquistas nos últimos tempos, os desafios não acabaram. Pelo contrário, exigem uma batalha cotidiana a ser travada em todas as esferas sociais – até no próprio lar-, sempre visando o respeito mútuo e a harmonia entre os gêneros.
No momento em que líderes mundiais prometem se empenhar para tomar medidas econômicas que reduzem disparidades entre países pobres e ricos, um relatório do UNFPA (Fundo de População das Nações Unidas) impõe como condição para exterminar a pobreza no mundo: a igualdade entre homens e mulheres. O documento “Situação da População Mundial 2005”, divulgado no mês de outubro daquele ano, classificou os índices de miséria no mundo como“estarrecedores”, correspondendo quase a metade da população mundial, concluindo que não será possível combater esse alarmante quadro, enquanto o setor feminino sofrer preconceito, violência e abuso sexual, nem obter os mesmos direitos políticos, sociais e econômicos dos homens. A conclusão do relatório, entretanto, é que o mundo ainda segue em marcha lenta no combate a essa desigualdade. E são inúmeros os exemplos de sucesso de algumas mulheres que estão ocupando com manifesta competência cargos de alto nível e nos mais diversos setores.
Em nosso país, a legislação cada vez mais procura pela isonomia entre os sexos. O atual Código Civil Brasileiro dispôs com atraso injustificável, que “a direção da sociedade conjugal será exercida, em colaboração, pelo marido e pela mulher, sempre no interesse do casal e dos filhos”, suprimindo a versão do código anterior que afirmava taxativamente que o marido era chefe da sociedade conjugal. Recentemente, foi suprimida do Código Penal, a expressão “mulher honesta”.
No entanto, tais vitórias precisam ser ampliadas, de tal sorte que se solidifique uma cultura de respeito às diferenças, na qual homens e mulheres podem e devem ter papéis próprios, de mesmo valor e de importância equivalente dentro da estrutura comunitária. Enfim, desde o começo da Sagrada Escritura, revela-se que Deus criou ambos como duas formas de serem pessoas, duas expressões de uma humanidade comum.
JOÃO CARLOS JOSÉ MARTINELLI é advogado,, jornalista, escritor e professor universitário.
Artigo publicado no Boletim Jurídico do Jornal da 33ª. Subsecção da OAB/SP em março de 2008 e como apresentação do livro “Nossas Mulheres 3”, organizado por Júlia Fernandes Heimann e Ruth de Almeida Rodrigues (Ed. In House- 2009).
ARMANDO ALEXANDRE DOS SANTOS - JOSÉ ALBERTO NEVES CANDEIAS ( IN MEMORIAM)
Faleceu no último dia 5 de fevereiro, aos 92 anos de idade, o Prof. Dr. José Alberto Neves Candeias, professor titular aposentado da USP e cientista de renome internacional, na especialidade da Virologia. Foi um grande amigo que muito admirei e com o qual muito aprendi.
Por honroso convite de sua esposa, a também professora titular aposentada da USP Dra. Nelly Martins Ferreira Candeias, proferi algumas palavras de homenagem à memória do falecido, na Missa de 7. dia. Transcrevo alguns tópicos do texto reconstituído dessa fala:
O que todos nós sentimos, no momento, é um imenso vazio, um enorme vácuo, deixado pela partida, para a Eternidade, do nosso querido amigo e mestre Dr. José Alberto Neves Candeias - que foi um homem completo, em todos os sentidos do termo.
Como ser humano, como cientista, como português - e português de Trás-os-Montes, fazia questão de frisar - como brasileiro por adoção, como marido e homem de família, como professor universitário da USP, como intelectual, sempre foi completo.
Na sua especialidade científica, foi autoridade internacionalmente respeitada, mas nunca perdeu a noção da universalidade do conhecimento humano, no sentido medieval que predominava nas primeiras universitates europeias. Sempre viveu com profundas inquietações filosóficas, que se manifestaram nos sucessivos livros de ensaios que veio publicando nos últimos anos.
Era médico, era cientista, mas sobretudo era filósofo, era um humanista no sentido mais nobre do termo. Era, ademais, homem de convívio
encantador, excelente "causeur", vivo, brilhante, com conversação atraente e colorida, sempre marcada por um fundo discreto de ceticismo e ironia - próprios de sua geração e, também, próprios de quem viveu intensamente em ambientes cultos de Portugal (tão marcado psicologicamente pelo estilo de Eça de Queiroz) e do Brasil (tão influenciado pela ironia fina e um tanto céptica de Machado de Assis). Conversava muito bem, não só porque falava bem, mas sobretudo porque sabia ouvir, estimulando intelectualmente os interlocutores, qualquer que fosse seu nível cultural.
Conversava com profundidade e graça sobre todos os assuntos, tanto científicos, filosóficos ou artísticos, como assuntos da vida corrente. Era capaz de, com igual profundidade e graça, explanar sobre uma teoria filosófica, ensinar “truques” culinários, recordar um episódio histórico ou contar um pequeno fato de sua vida pessoal.
Homens completos como José Alberto Neves Candeias, e sobretudo homens moralmente íntegros como ele, são cada vez mais raros no mundo atual. Daí sua falta ser tão dolorosa para todos nós, que tivemos a honra de o conhecer e privamos de sua amizade.
Para nós, pois, o momento é de muita tristeza, mas é também de esperança.
As incontáveis sementes que lançou em sua vida, muitas das quais já germinaram e já estão produzindo frutos fecundos, prosseguirão seu ciclo vital e, perenemente, darão continuidade à obra de José Alberto Neves Candeias.
Por outro lado, a morte não é o fim, mas é o começo de uma nova existência. Como destacou há pouco o sacerdote celebrante, ela é o pórtico que nos possibilita o acesso a uma realidade superior, misteriosa e cheia de interrogações, mas muito reconfortante para nós, que temos a graça de ter fé, que cremos na ressurreição dos mortos e na vida eterna.
A vida eterna dos bem-aventurados no Paraíso é sempre um dom de Deus, um objeto de sua misericórdia. Nenhum ser humano, por melhor e mais perfeito que seja, pode merecer, em estrita justiça, esse dom, que é sempre fruto da misericórdia.
Se, pela misericórida de Deus, pudermos estar juntos na vida eterna, e na companhia de José Alberto Neves Candeias, todos nós, que aqui estamos, prosseguiremos então, já sem os entraves e as limitações da vida terrena, as incontáveis e infindáveis conversações que aqui principiamos. Nesse sentido, a vida eterna no Paraíso será uma continuação da vida passageira nesta terra de exílio.
Em Deus, todos veremos tudo com muito maior acuidade. Todos encontraremos, então, solução para problemas intelectuais que nos intrigaram, ou nos atormentaram, durante toda a nossa vida. E poderemos continuar conversando, trocando ideias entre nós, e também na interlocução fecunda com os Anjos e os Santos. Poderemos continuar aprendendo e ensinando, numa aprendizagem e numa docência sempre prazerosas e que jamais terão fim. Numa palavra, poderemos continuar ouvindo a palavra – e aprendendo com ela – de José Alberto Neves Candeias. Essa é a nossa esperança.
ARMANDO ALEXANDRE DOS SANTOS é historiador, jornalista profissional e membro do Instituto Histórico e Geográfico Brasileiro.
MARIA CRISTINA CASTILHO DE ANDRADE - EGRESSOS DA MISÉRIA
Li, no Face de minha amiga Maria Inês Guarda Tafarello, uma colocação, sem a autoria, que me inspirou este texto: “ Ouvi de uma mãe usuária de crack, grávida, que teve seus filhos acolhidos numa instituição: "sabe, sei que eu deveria cuidar deles, mas não consegui. Eu queria muito ter sido cuidada, não tive uma mãe, não sei o que é isso, mas quero aprender..." Pensei muito nela hoje. E naquelas que sofreram e sofrem: abuso e maus-tratos na infância, violência de seus companheiros... Pensei nos seus frutos: crianças e adolescentes em titubeio. E tudo isso ainda é tão comum, cotidiano e crescente.
A moça do texto é egressa da miséria e o termo miséria não identifica somente os que não possuem bens materiais, mas também os que foram privados de amor, de cuidados e proteção, de valores morais, de educação, de assistência médica, de esperança, de paz... Identifica os que, massacrados pelo preconceito, se sentiram reduzidos em sua dignidade de ser humano. Identifica aqueles que não foram ensinados a ver.
Neste ano, em que a Campanha da Fraternidade tem como tema “Fraternidade e Tráfico Humano” e como lema “É para a liberdade que Cristo nos libertou”, reflito, também, sobre as egressas e os egressos do tráfico humano para a exploração do comércio do sexo, transformados em bagaço. Conhecemos algumas delas e alguns deles ao longo do trabalho da Pastoral da Mulher – Santa Maria Madalena/ Magdala. Portadores de doenças físicas, emocionais e mentais, dependentes de álcool e drogas, desacreditando de si mesmos, considerando-se indignos de ouvir a Palavra de Deus, sem saber do céu, porque a vida, desde a infância, foi um inferno.
Nota-se que o regime de escravidão não terminou no Brasil. Um anúncio, publicado no jornal “A Lei”, São Paulo, em 1º de março de 1853: “Vende-se uma boa escrava crioula de quinze anos de idade, sem vícios, moléstia ou defeito; muito bonita e bem preta, a qual está grávida de quatro meses. Quem quiser comprá-la dirija-se à Rua Tabatinga, na casa que fica em frente à Rua Boa Morte”. Hoje, os anúncios dizem da comercialização de corpos, com propostas de delirios, para afagar instintos dos detentores de cifrões. Ao não servirem mais, pela falta de novidade ou pelas marcas do tempo, devolvem-nos ao mundo, sem estrutura alguma para sobrevivência. Uma dessas mulheres, que passou pela Pastoral, depois de anos, foi jogada fora do bordel com quatro pacotes de macarrão Miojo. Sua herança.
Escrevo sobre as meninas e os meninos pobres que se deixam adquirir pela venda de ilusões dos aliciadores de seres humanos. Escravos da atualidade. Não denunciam por medo de represálias, pela falta de consciência da exploração, por vergonha de expor o que passaram.
Muitos e muitas dos egressos do tráfico humano, desesperançados, atualmente, residem em diminutos cômodos de porão, em barracos invadidos ou na rua e, macilentos, vagam pelas calçadas à espera de um trocado que lhes embriague a lucidez. Outras se tornam “aviões” do tráfico, carregando droga, dentro do corpo, para presídios. E alguns incluídos, da pequenez de seu discernimento, ao vê-los, falam que é preciso “limpar” a cidade, como se os excluídos fossem descartáveis. A sociedade que os gera, usa e abusa, depois os quer em um aterro sanitário. Enquanto não houver um combate efetivo à pobreza, à desigualdade econômica e cultural, uma mudança de perspectiva, eles continuarão existindo.
Gostei demais da colocação do Papa Francisco para a CNBB, sobre a Campanha da Fraternidade 2014: “Não é possível ficar impassível, sabendo que existem seres humanos tratados como mercadoria. (...) Eu só ofendo a dignidade humana do outro, porque antes vendi a minha. A troco de quê? De poder, de fama, de bens materiais. (...) E a base mais eficaz para restabelecer a dignidade humana é anunciar o Evangelho de Cristo nos campos e nas cidades, pois Jesus quer derramar por todo o lado vida em abundância”.
É isso!
MARIA CRISTINA CASTILHO DE ANDRADE - É coordenadora diocesana da Pastoral da Mulher – Santa Maria Madalena/ Magdala. Jundiaí, Brasil.
CINTHYA NUNES VIEIRA DA SILVA - A COPA DO MUNDO É NOSSA ?
Sei que a questão é controversa e polêmica, mas, ainda assim, em algum momento eu sabia que acabaria escrevendo sobre o assunto. A Copa do Mundo 2014, maior evento do futebol mundial está se aproximando e, nesse ano em que se realizará no Brasil coloco-me a pensar e a refletir sobre o assunto.
Antes de adentrar no âmago da questão, contudo, quero deixar claro que, embora eu não seja exatamente uma entusiasta do futebol, em meus tempos de colegial, hoje ensino médio, até participei de times femininos e jogar futebol foi algo que gostei bastante. O que não gosto é de fanatismo, de gente que fica de mau humor por conta do insucesso do time, que briga, ofende e até agride por conta de futebol. Aliás, não aprecio gente que faça isso por motivo algum...
Não há que se negar que, historicamente, o futebol é um esporte popular no Brasil, acalentando sonhos de muitos meninos pobres que buscam avistar um horizonte de promessas por detrás de uma bola. Para alguns, inclusive, essa bola é representação do próprio mundo. Famílias inteiras se mobilizam na esperança de que seus filhos sejam o novo Pelé, Ronaldo ou Neymar. Em um país de valores inseguros e claudicantes, tais ídolos se tornam o estereótipo do sucesso na vida e nem estou dizendo que não o sejam.
Aprecio eventos que congregam pessoas e a união de povos diferentes, para prática de esportes, sejam eles quais forem, é sadia e pode ser uma oportunidade para integração cultural, para troca de experiências e de alegrias. Não sou, portanto, contrária à realização da Copa do Mundo, mesmo não sendo, como ressaltei, alguém que tenha no futebol o esporte de predileção.
O que pondero é se, como país, estamos prontos para receber esse evento, de forma que as atividades de um gigante que não pode parar por conta da Copa não sejam prejudicadas, de forma que os brasileiros não deixem de ter atendidas suas prioridades básicas. Tenho a sensação de que estamos preocupados em ajustar a cereja, mas sequer temos o bolo. Temos convicção de nossas grandes cidades estão preparadas para receber pessoas do mundo todo? Eu que vivo em uma delas não tenho visto grandes alterações, sobretudo aquelas que não se resumem a meras maquiagens de cicatrizes antigas ou aquelas que pudessem, após a Copa, servir de benefício à população brasileira.
Particularmente, por isso, se dependesse da minha opinião e, estou certa, de muitas outras pessoas, não realizaríamos a Copa do Mundo no Brasil. Não agora, ao menos. Não enquanto não fizemos nosso dever de casa, enquanto ainda somos uma nação que mal começa a exigir respeito aos verdadeiros interesses populares, não enquanto não sabemos exatamente para onde ou como se aplicados os recursos públicos, não enquanto mal temos segurança para andar pelas ruas com tranquilidade, sem lixo e sem violência.
Sei que várias pessoas estão convictas que tudo no fim dará certo, que vamos dar aquele famoso “jeitinho” e eu, em partes, concordo que pode ser que nem façamos tão feio nas aparências, mas o preço real de tudo isso, estou certa, haveremos de pagar depois, com juros e correção. Após o deslumbre, depois do apagar das luzes, estaremos nós, outra vez, correndo atrás de uma bola, mas de neve, precipício abaixo.
CINTHYA NUNES VIEIRA DA SILVA - Advogada, mestra em Direito, professora universitária e escritora - São Paulo. Membro da Academia Linense de Letras.
JOSÉ RENATO NALINI - É POSSIVEL OTIMIZAR
O índice de credibilidade na Justiça Brasileira não é dos melhores. Na última pesquisa levada a efeito pela FGV, ela obteve 33%, muito abaixo da média. Está à frente da política e dos partidos. Mas isso também não é mérito. A única instituição bem avaliada, logo após as Forças Armadas e a Igreja Católica, é o Ministério Público. Instituição bem fortalecida pelo constituinte de 1988 e que não tem o ônus de decidir. Acionar, recorrer, escolher seletivamente o que interessa é sempre menos arriscado.
Seja como for, o interesse na obtenção de uma Justiça melhor – mais eficiente – é o de todos os brasileiros. O descalabro de algumas situações deriva do desconhecimento e do desinteresse do brasileiro comum quanto à sua Justiça. Ele paga o Judiciário. Mas acha que os assuntos da Justiça pertencem aos juízes. O universo hermético faz com que as reformas atendam a interesses localizados e as mudanças reais não são feitas.
O que falta ao Judiciário é gestão. Ninguém ainda dispõe de um padrão de trabalho. Qual seria o cartório ideal? Qual a produtividade ótima?
Enquanto não se investir nisso, a resposta será a simplista receita utilizada até o momento: precisamos de mais juízes, de mais funcionários, de mais orçamento. Tendência contraditória se levada em conta a opção pelo processo eletrônico. As empresas que se informatizaram reduziram o pessoal. Vide os bancos, por exemplo. O essencial é um funcionário categorizado, superqualificado, que possa ganhar mais, fazer carreira e ficar satisfeito com o seu trabalho.
Nessa linha, os cursos a serem oferecidos aos servidores pela futura “Escola do Servidor”, do TJSP, junto à Escola Paulista da Magistratura, precisam pensar em temas como “Sincronismo organizacional: como alinhar a estratégia, os processos e as pessoas nas organizações”, ou “Como as métricas e indicadores de performance do capital humano podem contribuir para a melhoria da qualidade organizacional, inovação e produtividade”.
Precisamos de formação em liderança, gestão de pessoas, motivação, avaliação de desempenho, busca de excelência. Se conseguirmos despertar o interesse de alguns chefes para se tornarem efetivamente líderes, em breve a Justiça será outra. E quem ganhará será o povo. Isso é o que interessa.
JOSÉ RENATO NALINI é presidente do Tribunal de Justiça do Estado de São Paulo para o biênio 2014/2015. E-mail: jrenatonalini@uol.com.br.
Visite o blog no endereço http://renatonalini.wordpress.com e dê sua opinião sobre seus artigos.
RENATA IACOVINO - AINDA OS ANIMAIS
E os envenenamentos aos animais continuam acontecendo no Jardim Bizarro.
A trégua durou um tempo, mas repentinamente as mortes voltaram a acontecer. Sempre no mesmo estilo: envenenamento com chumbinho.
Não estão assassinando pessoas, mas animais, e por isto, o aspecto de gravidade parece que é atenuado aos nossos olhos e sentimentos.
E por quê? Na escala de valores sociais eles são menos importantes do que nós, racionais? A vida deles vale menos? Baseado em que mesmo?
Esse tipo de violência já é inconcebível quando a morte envolve um bicho que está na rua abandonado, mas o que dizer de assassinatos que adentram o portão de nossas casas? De casas onde vivem pessoas que cuidam de seus animais a ponto de não deixá-los colocar o focinho para fora. E mesmo assim, essa irreversível violência invade tais residências!
Podemos assistir a essa brutalidade de forma impassível?
Precisamos sim, que a legião de protetores e indignados - uma triste minoria face aos demais - se multiplique e vocifere, a fim de tentar minimizar uma ínfima parcela de atitudes que proliferam de mentes perversas e doentias. Racionais?
E ainda temos que conviver com boa parte da ignorância humana, que continua não entendendo que amar e proteger os animais não interfere em amarmos e protegermos as crianças; que ambas atitudes não são concorrentes, ao contrário, se completam. Mesmo porque, por mais que matemos (para tentar "resolver o problema"), não chegaremos nunca a eliminar todos os irracionais que nos incomodam.
E "incomodar" é algo que não esbarra no incômodo em si; não é algo que os estorva. O "incômodo", para esses assassinos, nasce do fato, simplesmente, desses animais existirem, mesmo que à distância, mesmo que essas criaturas não os vejam.
Certamente tal desvio de conduta não nasce exatamente daí, mas de outros fatores que especialistas da área dão bem conta de explicar.
Essa guerra fria unilateral se potencializa, pois há uma suposta tranquilidade por parte do autor, tendo em vista as dificuldades em se contrair provas.
Entretanto, nem toda barreira é intransponível, especialmente porque quem luta por causas que sofrem preconceito, mune-se de uma coragem exatamente oposta àquela que (não) tem o assassino.
Medidas estão sendo tomadas e chegará o tempo em que esta triste história será apenas uma reminiscência.
Renata Iacovino, escritora e cantora / reiacovino.blog.uol.com.br / reval.nafoto.net / reiacovino@uol.com.br