PAZ - Blogue luso-brasileiro
Quarta-feira, 24 de Setembro de 2014
ARMANDO ALEXANDRE DOS SANTOS - ANÁLISE LITERÁRIA DA PAIXÃO DE JESUS CRISTO

 

 

 

 

 

 

 

 

 

 

 

Quando A TRIBUNA PIRACICABANA estampou, no dia 5/11/2011, um artigo meu intitulado “Como compreender a beleza literária da Bíblia”, não podia imaginar que ele viesse a ter a repercussão que teve. Era um artigo simples, singelo e sem maiores pretensões. Limitava-se a destacar a riqueza literária incomparável dos 73 livros inspirados que compõem a Bíblia, nos mais variados gêneros - épicos, líricos, místicos, históricos, jurídicos etc. - e a alertar para o fato de que a leitura deles não pode ser feita com o espírito cartesiano ou positivista ainda hoje predominante em muitos meios cultos do Ocidente. Somente a compreensão da mentalidade oriental, em cujo contexto a Bíblia foi inspirada por Deus e escrita por vários autores, permite que possamos entender convenientemente seu texto maravilhoso e sua inesgotável riqueza literária.

 

Esse artigo foi transcrito em numerosos sites e blogs, brasileiros e portugueses e, literalmente, correu mundo. Ainda agora, quase 3 anos decorridos, com frequência me chegam repercussões dele, dos mais diversos locais do globo.

 

Tenho em mãos, no momento, um estudo que trata, de modo científico e aprofundado, do mesmo tema: a riqueza literária da Bíblia. Refiro-me ao excelente livro “A Paixão de Cristo segundo Mateus – Uma abordagem literária”, do meu amigo Ricardo Boone Wotckoski, que é graduado em Letras, tem mestrado em Ciências da Religião e leciona no Centro Universitário Claretiano, de Batatais, onde também é Supervisor de Tutoria e Coordenador Pedagógico dos cursos de graduação. Esse livro, de 110 páginas, acaba de ser publicado pela Fonte Editorial, de São Paulo.

 

O Prof. Wotckoski apresenta a Paixão de Jesus Cristo segundo o Apóstolo São Mateus de modo bastante original, porque evita seguir dois caminhos já muito trilhados. De um lado, ele evita a leitura crítica positivista e cartesiana inspirada, por exemplo, nas obras de Renan, já bastante fora de moda em nossos dias, mas ainda tendo alguns cultores retardatários. Por outro lado, ele não faz uma leitura estritamente religiosa do texto, como o comum dos exegetas tradicionais. A dimensão religiosa dos relatos evangélicos é sem dúvida a mais importante, mas não é a única. Há outras abordagens possíveis, sendo a literária uma delas, e precisamente a que foi escolhida por meu amigo.

 

Depois de apresentar um embasamento teórico para sua análise, sobretudo nas obras de Erich Auerbach (1892-1957) e Robert Alter (1935-), o autor mostra que o gênero literário utilizado pelo Evangelista São Mateus se aproxima do das biografias romanas da época, assemelhando-se bastante a esse gênero, tanto na estrutura quanto nos recursos estilísticos que utiliza. Sendo predominante, no século I d. C., a cultura romana, é muito explicável que o Apóstolo se tenha servido dela para comunicar-se com o público ao qual destinava seu escrito, usando o estilo e seguindo os costumes do seu tempo. A seguir, Wotckoski passa à análise do texto bíblico, realçando sua beleza literária e sua inserção no estilo do gênero biográfico romano.

 

Um ponto que me chamou muito a atenção, na análise de Wotckoski, é a utilização de um “leitwort”, uma palavra-chave diversas vezes aplicada no texto, em contextos diversos, permitindo que o leitor atento tenha uma espécie de fio condutor na narrativa, de modo a captar a ideia central do texto. Esse é um recurso muito utilizado na literatura oriental e, especificamente, nos textos bíblicos, conforme fez notar o filósofo e linguista judeu Martin Buber (1878-1965). No caso concreto do Evangelho de São Mateus, segundo Wotckoski essa ideia central é a noção de entrega. De fato, o verbo entregar e o substantivo entrega são usados muitas vezes no texto: Jesus é entregue por Judas ao Sinédrio, Pilatos entrega Jesus aos seus algozes, Jesus Se entrega para resgatar o gênero humano etc.

 

Não é possível, nos limites deste breve artigo, expor toda a riqueza desse livro pequeno, mas cheio de conteúdo, que recomendo vivamente aos leitores.

 

Concluo estas breves considerações acrescentando que o Prof. Wotckoski é, também, autor de um breve, mas substancioso curso de extensão, com 60 horas de carga horária, sobre “Literatura, Religião e Cultura Ocidental”, o qual pode ser seguido pela internet, por qualquer pessoa interessada, seja qual for sua formação anterior. Eu mesmo fiz, com gosto e proveito, esse curso, anos atrás. Basta inscrever-se no site do Centro Universitário Claretiano (http://www.claretianobt.com.br/cursos/extensao/ead).

 

 

 

 ARMANDO ALEXANDRE DOS SANTOS   -    é historiador e jornalista profissional, membro do Instituto Histórico e Geográfico Brasileiro.



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MARIA CRISTINA CASTILHO DE ANDRADE - TRÊS ANOS

 

 

 

 

 

 

 

 

 

Escrevi sobre ele duas vezes. Pediu-me uma terceira. Creio que deixo de dizer algo que seja essencial.

 

Conhecemo-nos em meados da década de 90. Foi ele que se aproximou, questionando por que não iniciávamos, como para as mulheres que se prostituíam no centro da cidade, um projeto para os travestis. Senti-me chamada a isso, no entanto não conseguiria conciliar o trabalho da Pastoral da Mulher, a da Carcerária – na época - e minha vida pessoal. A partir dessa indagação, todavia, aterrissei no entorno de seu mundo.

 

Conta-me que há três anos e quatro meses “vive uma vida que vale a pena ser vivida”, distante do comércio do sexo e do uso de drogas.

 

Insiste que  relembre quem ele era, ao se dirigir a mim no Jardim das Rosas, vestido com trajes sumários, à espera de fregueses que lhe garantissem o valor necessário para pedras de crack. Não teme o passado, ao mudar o presente. Recupero outras imagens de outrora: duas delas atrás das grandes, acusado de furto. Absolvido, logo depois, por insuficiência de provas. Golpeado por estilete, em uma madrugada, mandou-me recado  urgente com o propósito de que fosse visitá-lo no hospital.  Desejava proteção. Indignei-me ao saber que o chamavam por apelidos jocosos naquele local, o que doía mais que a ferida. Tomei sua defesa.

 

A fé em Deus, a decisão firme e os Narcóticos Anônimos o salvaram.

 

Comenta que, nos testemunhos, as pessoas se assustam ao dizer no que a droga o transformara.

 

Jamais me espantei com seu aspecto em ruínas. Nutria por ele compaixão.  Meu olhar já havia perdido diferentes máscaras a partir do contato com as mulheres em situação de prostituição.  E olhar sem máscaras faz com que se enxergue o ser humano por inteiro: sua história, o coração, a alma em busca de uma fagulha que ilumine as trevas.  

 

Aquilo que me assombrou e continua me assombrando foi o que fizeram do seu corpo de menino. E assim acontece com diversas crianças do mundo inteiro, condenadas a perder a sua personalidade.

 

Pouco a pouco, foi resgatando sua imagem e semelhança de Deus. Mudou-se para cidade diferente, reside com a irmã e a família, trabalha e estuda. Suas carnes não estão mais à venda e suas emoções não fogem na viagem ilusória das drogas.

 

Juntou os destroços de seu ser em obra renovada e se tornou convite à restauração dos que se sentem entulho.

 

 

 

 

 

MARIA CRISTINA CASTILHO DE ANDRADEProfessora, coordenadora diocesana da Pastoral da Mulher – Santa Maria Madalena/ Magdala. Jundiaí, Brasil.

 

 

 

 



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JOÃO CARLOS MARTINELLI - DIA INTERNACIONAL DO IDOSO

 

 

 

 

 

 

 

 

 

 

 

Precisamos, mais do que nunca, outorgar aos idosos, respeito e dignidade plena. Não só para cumprirmos obrigações legais atinentes, como também para demonstrarmos reconhecimento pelo muito que fizeram. O Dia Internacional do Idoso objetiva evidenciar além desses aspectos, o processo de envelhecimento e o aumento da expectativa de vida como uma realidade global.

 

 

 

A Organização das Nações Unidas instituiu 1º de outubro, como o Dia Internacional do Idoso e a celebração se baseia na Declaração dos Princípios para os Idosos, estabelecida na reunião geral da entidade de 3 de dezembro de 1982. Em homenagem a data, que ocorreu sexta-feira, ressalte-se os cinco princípios básicos que norteiam o texto composto dezoito itens: independência, participação, bem-estar, desenvolvimento e dignidade. Com efeito, os idosos devem viver com dignidade e segurança, livres de explorações e maus-tratos; e devem ser tratados com justiça, independentemente de idade, sexo ou raça.

 

Apesar da Constituição Federal do Brasil dispor em seu art. 229 que é dever dos filhos maiores, ajudar e amparar os pais na velhice e o art. 230 determinar que tais obrigações alcancem a família, a sociedade e o Estado, e que eles ainda precisam assegurar a integração das pessoas idosas na comunidade, defendendo sua dignidade e o e garantindo-lhes o bem-estar, a situação não é das melhores. A realidade se distancia bastante da observância dos preceitos internacionais e constitucionais supramencionados.

 

 Tanto que a cidade de São Paulo registra diariamente 30 denúncias de maus-tratos contra pessoas da terceira idade – por hora, pelo menos um idoso é maltratado, segundo levantamento do Conselho Municipal do Idoso, que encaminha as queixas ao Ministério Público (MP). Os tipos de violência cometidos são os mais variados: vão desde maus-tratos, passando por abandono, até chegar a crimes contra o patrimônio da vítima.

 

 A publicação “Indicadores SocioDemográficos e de Saúde no Brasil 2009”, divulgada pelo IBGE, mostra que 75,5% das pessoas com mais de 60 anos têm doenças crônicas (como cardiovasculares, diabete e câncer), que demandam diagnóstico precoce e acompanhamento permanente. Mas a maioria (70,6%) da população nessa faixa etária não tem plano de saúde e depende do Sistema Único de Saúde (SUS), que não oferece equipamentos de diagnóstico na quantidade determinada por Lei.

 

E há inúmeros outros problemas que se agravam, diante inclusive do aumento do número de idosos. Para se ter uma idéia desse acréscimo, apesar da queda nos índices de crianças de zero a quatro anos acontecer até mesmo em favelas e bairros pobres, os dados do Censo 2010 do IBGE demonstram que as estruturas etárias ainda revelam desigualdades dentro da cidade. Em 2010, em 28 dos 96 distritos da Capital a população acima de 60 anos de idade já superava a de crianças até 14 anos. Dez anos antes, isso ocorria em 18 áreas, de acordo com notícia divulgada pela jornal “Folha de São Paulo” (02/07/2011- C-4)

 

Como expusemos com mais abrangência em nosso livro “O Direito de Envelhecer num País Ainda Jovem” (Editora “In House” - 2006), reiteramos que atualmente, com a predominância do interesse exclusivo pela produção e consumo, ocorre gradual despersonalização do ser humano, com graves reflexos sobre o idoso. A falta de oportunidade ocasiona o seu isolamento, já que passam da condição de produtor para a de consumidor, gerando um processo de discriminação, espelhada na própria precariedade da política social. Tanto que a atuação da Previdência Social se restringe ao pagamento de humilhantes e minguadas pensões, com uma assistência médica distante, muitas vezes, das circunstâncias mínimas de um tratamento condizente com as enfermidades de que é portador. Por outro lado, quem mais lhe nega a realização de seus anseios, é exatamente a família, pois, em certos lares, ele passa a ser visto como um “estorvo”. Esquecem-se os parentes próximos de tudo o que ele fez por seus filhos, principalmente as renúncias para propiciar-lhes melhores condições de vida.

 

            Na realidade, o ancião não precisa de esmolas, mas de justiça e de direitos como o de viver, de envelhecer, de lazer e de ter uma medicina preventiva. As instituições federais, estaduais, municipais e entidades afins, necessitam efetivamente criar programas de assistência à velhice, bem como, desenvolver, através de campanhas educativas e seminários, a consciência sobre a importância de um trabalho de prevenção à sua marginalização. Despertar na sociedade que ele mesmo ajudou construir, uma visão ampla das possibilidades de aproveitamento da força laborativa dos idosos; a experiência, a criatividade e a imensa capacidade de amor e energia que podem transmitir, como meio, inclusive, de combater e prevenir os problemas relacionados com sentimentos de inutilidade, solidão e infelicidade.

 

Já se disse que o nível de evolução de uma sociedade se pode aferir por vários indicadores sociais, mas o respeito principalmente devotado aos idosos e crianças, atesta em profundidade o grau de civilidade das pessoas. O interesse e reverência nesses casos traduzem a consciência de responsabilidade que a comunidade dispõe para garantir a subsistência em níveis de dignidade e segurança. Em condições ideais, jovens e idosos devem desfrutar de atenção, recursos de educação, saúde, transporte, moradia e lazer, como benefícios outorgados na construção da sociedade do futuro e no reconhecimento pelo que foi realizado em vida.

 

 

 

 

 

JOÃO CARLOS JOSÉ MARTINELLI é advogado, jornalista, escritor e professor universitário (martinelliadv@hotmail.com)          



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CINTHYA NUNES VIEIRA DA SILVA - ESCREVER

 

 

 

 

 

 

 

            Não vivo sem livros. Ponto final. Não há vírgulas que alterem o sentido dessa afirmação. Não sei viajar sem levar um livro comigo. Não durmo sem ler umas dez páginas ao menos. Os livros me acompanham no banheiro. Os livros invadem meus pensamentos, norteiam minhas palavras. Reabastecem minha alma. Presenteiam-me com novas palavras, com novas ideias. Os livros até invadem meus sonhos, sobretudo aqueles que tenho quando estou acordada.

 

            Enquanto estou vivenciando uma história contida em um livro, habito realidades diferentes. Vivo a minha, real, e a de outros tantos personagens, enxergando-os por fora e por dentro. Viajo para terras distantes, para lugares que provavelmente nunca verei, mas de uma forma tão intensa que quase me confundo, perdida entre os meus pensamentos e os alheios.

 

            Da mesma forma que gosto de ler, gosto de escrever. Aqui, contudo, a perspectiva é outra. Diante da folha em branco, todo o Universo se faz possível. Posso até ser Deus. Senhora da vida e da morte das pessoas que inventar. Sou capaz de, em uma frase, criar e colocar fim ao mundo. Essa possibilidade, entretanto, é assustadora. Se ao ler eu ganho sentimentos, ao escrever eu preciso me despir de alguns, desprender-me de outros, identificar os que sequer sabia possuir e até apropriar-me de alheios. Se ler é uma vinda, escrever é uma ida...

 

            A escrita, por outro lado, desafia-me. A escolha de cada palavra, a estética delas, a delicadeza ou rudeza que ganham ao se juntarem a outras, os sentidos que podem expressar, tudo isso me preocupa muito mais do que a gramática, do que os erros que posso cometer de concordância. Tenho medo é de pontos mal colocados, criadores de discussões sem sentido. Apavoram-me as exclamações desnecessárias! Interrogações sempre me inquietam e as reticências me encantam...

 

            Li certa feita que a gente lê porque gosta, mas escreve porque é preciso, para dar sentido à vida. Concordo. Minhas primeiras incursões pelas letras, aqueles que saíram de mim para o outro, deram-se por conta de inquietações, da vontade de registrar sentimentos aos quais eu não sabia dar vazão de outra forma. Mesmo hoje, escrevo sobretudo quando algo me inquieta, faz-me sofrer ou encanta meus dias. Eu escrevo para que minha vida faça sentido. Descobri que não escrevo para o outro, mas sim para mim. Ainda que seja uma espécie de doação do que me pertence, é muito mais para desafogar a minha própria alma. Daí admira-me quando, nesse desejo, toco almas alheias.

 

            Li também que os escritores vivem muitas vidas. Acredito que os leitores as vivam, entretanto. Os escritores se consomem ao escrever. Para mim, escrever nunca foi um ato fácil. Sinto-me como alguém que, após participar de uma maratona, sente o cansaço e a endorfina do prazer pelos quilômetros corridos. Eu apenas corro por linhas, mas tenho a mesma exaustão. E o mesmo prazer...

 

            Engraçado que, enquanto aspirante a atleta, sempre tive explosão, mas nunca consegui correr longas distâncias. Como escritora, mais escrevo crônicas do que me aventuro pelo romance. Talvez eu tema, no fundo, que as páginas possam me roubar as forças, que possam me deixar sem palavras. Tenho, contudo, sentido vontade de puxar forte o fôlego e lançar-me, para minha completa perdição...

 

 

 

 

CINTHYA NUNES VIEIRA DA SILVA -  Advogada, mestra em Direito, professora universitária e escritora   -  São Paulo.

 



publicado por Luso-brasileiro às 10:59
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RENATA IACOVINO - A ESPERANÇA EM SUASSUNA

 

 

 

 

 

 

 

 

            A perda física de Ariano Suassuna fez-me resgatar questões que, se não atenta, adormecem lentamente.

 

            Seu legado é imenso e a esperança é que possa ser perpetuado em nosso imaginário, refletido em nosso cotidiano e em nossa maneira de fazermos cultura, afinal, foi ele um férreo defensor da cultura brasileira, fato que se reflete até a última de suas aulas-palestras.

 

            Obras, pensamentos, tudo nele sempre pulsou a valorização do que genuinamente é produzido no Brasil, principiando pelo amor à Língua Portuguesa, passando pela riqueza de nossos ritmos musicais e culminando com personagens tão próximos  de nossa identidade, que por vezes achamos ser verdade o que é ficção, ou ressoa ficção aquilo que é verdadeiramente a essência.

 

            As histórias contadas e vividas por Suassuna nos aproximam, num momento ou noutro, de nossas raízes. Não raízes fabricadas, porque aí nem são raízes, mas por aquelas que, ao ter contato, nos tocam sem pedir licença, nos envolvem como que... falando nossa língua!

 

            Assim é quando narra a situação do escritor brasileiro e, no caso, coloca-se como exemplo. Disse que se tornou conhecido em razão de sua obra, O Auto da Compadecida, ter sido objeto de seriado na televisão. Mesmo assim, por várias vezes "o reconheceram", no entanto, na pele de outro famoso. Uma vez foi confundido com Rubem Paiva (que ele não conseguiu descobrir quem seria), outra, com Drauzio Varella, e por aí vai. A partir daí vai traçando um perfil de conhecimento e reconhecimentos que nós, brasileiros, costumamos ter quando a personalidade é estrangeira, o inverso ocorrendo quando se trata de alguém de nosso país.

 

            É impossível não resgatarmos nossa autoestima ouvindo seus ensinamentos; é difícil não nos interessarmos por nossa história, nossos artistas, poetas, músicos e atores, quando apreendemos o que ele transmite. Talvez por isto ele aceitasse (como disse em uma das palestras ministradas ano passado em Vitória da Conquista, Bahia) viajar de avião (fato que detestava): porque acreditava que falar para os jovens pudesse contribuir para um pensamento mais conhecedor de nossa cultura e para um olhar crítico sobre o que nos é introjetado goela abaixo.

 

            Avesso à vaidade, declarou que o riso é que o ajudou a não se tornar vaidoso, pedante. "O que eu tenho de palhaço dentro de mim, me salva".

 

 

 

 

Renata Iacovino, escritora e cantora / reiacovino.blog.uol.com.br /

http://reval.nafoto.net / reiacovino@uol.com.br



publicado por Luso-brasileiro às 10:54
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Terça-feira, 23 de Setembro de 2014
JOSÉ RENATO NALINI - O FUTURO DO DIREITO

 

 

 

 

O Brasil possui mais Faculdades de Direito do que a soma de todas as demais, existentes no restante do Planeta. A cada semestre, milhares de bacharéis recebem o seu diploma e esperam absorção no mercado de trabalho. Ambiente saturado para quem não tiver uma formação muito especializada, com credenciais para o enfrentamento de questões que passam ao largo do ensino jurídico.

 

O desafio é ultrapassar o conhecimento jurídico. Quem se contentar com as disciplinas clássicas estará condenado a não encontrar um nicho garantidor da sobrevivência. Para quem estiver antenado ao que acontece no mundo e observar as necessidades do mercado, esse terá futuro. Talvez algumas pistas sirvam para a reflexão dos futuros bacharéis.

 

A informatização é irreversível, tanto na vida privada como na administração pública. O domínio dessas tecnologias da comunicação e informação é essencial. Até as crianças hoje são desenvoltas no manuseio desses equipamentos eletrônicos que, aos poucos, vão facilitando a vida comum. Outro ponto a merecer consideração é a proficiência em mais de um idioma.

 

O monoglota é alguém privado de se comunicar com o mundo civilizado. Principalmente quando ele só se exprime em Português. O inglês é hoje obrigatório. Mas ganha ponto quem puder falar também alemão e mandarim. O advogado será cada vez mais um consultor de negócios, especialista em prevenir acidentes jurídicos, sempre frequentes para quem explora atividades na empresa privada.

 

O direito penetrou na vida de cada um de maneira tão intensa, que é comum encontrar profissionais de outras áreas que a necessidade empurrou para o aprendizado jurídico. Um Estado que ocupa mais lugar do que deveria, que se intromete em tudo e que é um sorvedouro crescente dos nossos ganhos, precisa de limites. Estes só podem ser opostos pelo Direito. Ferramenta que, bem utilizada, consegue resolver problemas e que, manejado por incompetentes, vai causar prejuízos irreparáveis.

 

Os jovens precisam ter consciência de que o diploma é mera condição para um exercício profissional que pode ser promissor para o corajoso, desalentador para alguém que possui limites superáveis apenas por ele próprio. Mudar a vida é resultado de desejo firme e vontade inabalável. Ingredientes que estão dentro de nós e que ninguém consegue introjetar se não quisermos ou não deixarmos.

 

 

 

 

JOSÉ RENATO NALINI é presidente do Tribunal de Justiça do Estado de São Paulo para o biênio 2014/2015. E-mail: jrenatonalini@uol.com.br.



publicado por Luso-brasileiro às 12:16
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PAULO ROBERTO LABEGALINI - A JANELA DA VIDA

 

 

 

 

 

 

Recebi este texto e gostaria de compartilhar com meus leitores:

 

“Eu era criança quando, pela primeira vez, entrei num avião. A ansiedade de voar era enorme. Eu queria me sentar ao lado da janela de qualquer jeito, acompanhar o voo desde o primeiro momento e sentir o avião correndo na pista cada vez mais rápido até a decolagem. Ao olhar pela janela via, sem palavras, o avião rompendo as nuvens e chegando ao céu azul. Tudo era novidade e fantasia.

 

Cresci, me formei e comecei a trabalhar.  No meu serviço, desde o início, voar era uma necessidade constante. As reuniões em outras cidades e a correria me obrigavam, às vezes, a estar em dois lugares num mesmo dia. No início pedia sempre poltronas ao lado da janela e, ainda com olhos de menino, fitava as nuvens, curtia a viagem e nem me incomodava de esperar um pouco mais para sair do avião, pegar a bagagem, coisa e tal.

 

O tempo foi passando, a correria aumentando e já não fazia questão de me sentar à janela, nem mesmo de ver as nuvens, o sol, as cidades abaixo, o mar ou qualquer paisagem que fosse. Perdi o encanto. Pensava somente em sentar, me acomodar e sair rápido.

 

As poltronas do corredor agora eram exigência, por serem mais fáceis para desembarcar sem ter que esperar ninguém. Estava sempre preocupado com a hora, com o compromisso, com tudo, menos com a viagem, com a paisagem, comigo mesmo.

 

Por um desses maravilhosos acasos do destino, eu estava louco para voltar de São Paulo numa tarde chuvosa, precisando chegar a Curitiba o mais depressa possível. O voo estava lotado e o único lugar disponível era uma janela na última poltrona. Sem pensar, concordei de imediato, peguei meu bilhete e fui para o embarque. Acomodei-me na poltrona indicada: na janela. Janela que há muito eu não via, ou melhor, pela qual já não me preocupava em olhar.

 

E, assim que o avião decolou, lembrei-me da primeira vez que voara. Senti novamente aquela ansiedade, aquele frio na barriga. Olhava o avião rompendo as nuvens escuras até que, tendo passado pela chuva, apareceu o céu. Era de um azul tão lindo como jamais tinha visto. E também o sol que brilhava como se tivesse acabado de nascer.

 

Naquele instante em que voltei a ser criança, percebi que estava deixando de viver um pouco a cada viagem em que desprezava aquela vista. Pensei comigo mesmo: será que em relação às outras coisas da minha vida eu também não havia deixado de me sentar à janela, como, por exemplo, olhar pela janela das minhas amizades, do meu casamento, do meu trabalho e do convívio pessoal? Creio que aos poucos, e mesmo sem perceber, deixei de olhar pela janela da vida.

 

A vida também é uma viagem e, se não nos sentarmos à janela, perdemos o que há de melhor: as paisagens – que são nossos amores, alegrias, tristezas, enfim, tudo o que nos mantém vivos. Se viajarmos somente na poltrona do corredor – com pressa de chegar sabe-se lá aonde –, perderemos a oportunidade de apreciar as belezas que a viagem nos oferece.

 

Se você também está num ritmo acelerado, pedindo sempre poltronas do corredor para desembarcar rápido e ganhar tempo, pare um pouco e reflita sobre aonde você quer chegar. A aeronave da nossa existência voa célere e a duração da viagem completa nunca é anunciada pelo comandante. Não sabemos quanto tempo ainda nos resta.

 

Por essa razão, vale a pena sentar próximo da janela para não perder nenhum detalhe, afinal, a felicidade e a paz são caminhos e não destinos.”

 

Bonita reflexão, não? Eu tomo a liberdade de acrescentar mais algumas palavras, e diria que, na janela da vida, vemos passar coisas boas e outras ruins bem próximas dos nossos olhos. Boas, tipo: justiça, esperança, oração e perdão. Ruins, como: ódio, egoísmo, inveja e mentira.

 

As coisas boas contribuem para a paz no mundo e as ruins nos conduzem à imundice do pecado. Dizer ‘sim’ àquilo que Deus recomenda nem sempre é fácil, pois nossos desejos pessoais gritam forte na mente e favorecem cairmos em tentação. Quem já não passou por isso e, um dia, acabou se arrependendo?

 

Às vezes, nem olhamos as graças acontecendo e só prestamos atenção naquilo que traz sofrimento. Então, antes que a viagem termine, repare quem está do outro lado da janela: o bem ou o mal? E você, está sentado no lugar certo? Quem está ao seu lado pode lhe ajudar ou precisa de ajuda? E o mais importante: aquele coração maravilhoso, puro e cheio de amor que Deus lhe deu quando permitiu que nascesse, ainda bate forte em seu peito?

 

Ah, repare que a janela de sua vida não tem vidraça. Ela é bem espaçosa e está sempre aberta para você alcançar outras oportunidades de amar. Então, acorde! A exuberante viagem eterna mal começou.

 

 

 

 

PAULO ROBERTO LABEGALINI -    Escritor católico, Professor Doutor da Universidade Federal de Itajubá-MG. Pró-reitor de Cultura e Extensão Universitária da UNIFEI.

 



publicado por Luso-brasileiro às 11:59
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FRANCISCO VIANNA - MADURO SE PREPARA PARA TORNAR A DITADURA BOLIVARIANA MAIS RADICAL

 

 

 

 

A agência de notícias AFP (France Presse) publicou ontem que Caracas lançou o plano sancionado pelo ditador Nicolás Maduro para desarmamento total da população civil no país, através da “entrega voluntária” de armas de fogo. A Venezuela se tornou o segundo país mais violento do mundo com uma taxa de 53 homicídios por cada 100 mil habitantes.

 

Maduro declarou “aprovado e vigente o plano nacional de desarme com esta nova etapa que conta com recursos aprovados, com a instalação de 60 centros de desarmamento e com a participação do movimento pela paz e pela vida” (…) “Devemos perseguir o sonho, por tras da utopia, a utopia de uma Venezuela em paz”, disse Maduro após ter participado de uma caminhada no centro de Caracas pelo Dia Internacional pela Paz.

O presidente aprovou a verba de 300 milhões de bolívares (uns $47.6 milhões de dólares “no câmbio oficial”) para criar um ‘fundo nacional de desarmamento’ com o fim de incentivar a entrega de armas, ainda que não se tenham divulgado maiores detalhes sobre o plano.

“É preciso desarmar para coroar o ‘processo de paz’. É preciso que este desarmamento se faça com a colaboração da juventude a partir de sua consciência”, acrescentou Maduro.

Em junho de 2013, Maduro promulgou a lei para o controle de armas que pune o ‘porte ilegal’ de ar,as de fogo com até 20 anos de prisão. Já por volta de 2009, segundo avaliações oficiais disponíveis, na Venezuela havia mais de 15 milhões de armas, legais e ilegais, para uma população de 30 milhões de habitantes.

O país tem sido sacudido por uma onda de violência ligada à delinquência comum, enquanto os opositores do regime bolivariano acusam o governo de ter distribuído armas entre os chamados “coletivos”, grupos de milicianos simpatizantes do chavezismo, após o fugaz e fracassado golpe de estado de abril de 2002, contra o então presidente Hugo Chávez, hoje falecido (1999-2013).

Com uma taxa de 53 homicídios por cada 100 mil habitantes, a ONU considera a Venezuela como o segundo país mais violento do mundo, depois de Honduras (com 90,4 assassinatos por cada 100 mil habitantes).

A oposição considera a providência como um meio de tirar do povo a capacidade de defesa própria, de seus bens e de seus entes queridos, impossibilitando ou dificultando um movimento armado que pode levar a uma guerra civil que já se delineia no horizonte venezuelano. Com isso, apenas os milicianos pró-regime estarão armados e espera-se uma ditadura muito mais opressiva que a atual.

(da mídia internacional)

Domingo, 21 de setembro de 2014

 

FRANCISCO VIANNA  -   Médico, comentador político e jornalista  - Jacarei, Brasil.



publicado por Luso-brasileiro às 11:55
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Segunda-feira, 22 de Setembro de 2014
HUMBERTO PINHO DA SILVA - TUDO DEPENDE DA EDUCAÇÃO

 

 

 

 

 

 

 

 

 

Diz Alexis Carrel - Prémio Nobel da Medicina, - que todos sofremos: “ fatalmente a influência daqueles com quem vivem. Os que vivem, desde a infância, na companhia de criminosos e loucos, tornam-se criminosos e loucos. Não se pode escapar ao meio, senão pelo isolamento e pela fuga. “ - “ O Homem, Esse Desconhecido”.

 

Na verdade assim é. E o povo, que raras vezes se engana, costuma repetir: “ Tal mãe, tal filha” – (Já Ezequiel 16:44, tinha igual opinião).

São os primeiros educadores, os pais. Se souberem transmitir, pelo exemplo, valores morais e cívicos, certamente as crianças tornar-se-ão cidadãos honestos e justos.

 

Com esses princípios, os jovens, fortalecem-se e rejeitam pareceres e modos de vida nefastos, não só de outros jovens, mas, também, da má influência de alguns professores.

 

A sociedade em que nascemos e vivemos, exerce forte influência no modo de pensar e agir. Como pode, a criança, ser cidadã honesta se vive numa sociedade corrupta, onde o “ jeitinho” impera e o dinheiro manda?

 

Muitos são os que incutem nos filhos o conceito que tudo tem preço, inclusive o ser humano. Fazem crer, nos cérebros em formação, que tudo é valido, tudo é permitido – já que o pecado é coisa do passado, – para atingir o que se pretende.

 

As figuras publicas - já não falo da classe politica, - ao tomarem atitudes indignas e reprováveis, e ao transmitirem, pela mass-media, comportamentos perversos, “ envenenam” a juventude, lançando-a nas veredas da corrupção e do crime.

 

Por sua vez, a TV, com novelas amorais, tentando passar a ideia que tudo é preconceito e falsa modéstia, tornou-se escola do crime, da violência e da degradação da sociedade.

 

A principal responsável, pelo desvario juvenil, é, sem dúvida, a novela televisiva, visto incutir comportamentos desregrados.

 

Está a correr, na SIC (canal português) telenovela cuja personagem, após viver intimamente com a mãe, passa a namorar a filha, da que foi sua mulher. Tudo se passa com naturalidade e aprovação dos irmãos da jovem!

 

Como querem que a juventude tenha comportamento e actos responsáveis, se constantemente são metralhados com exemplos torpes?

 

Queixam-se, depois, e com razão, que nossas cidades transformaram-se numa selva, onde se depara, a cada canto, “ animais” depravadores, prontos a “ devorarem” a vítima: extorquindo: dinheiro, roubando roupa e ténis de marca; e delinquentes, que matam e incendeiam.

 

As cidades e estradas brasileiras, transformaram-se em campos de batalha, onde se morre, mais facilmente, que em guerras fratricidas.

 

Para além de ausência de policiamento eficaz e leis persuasoras, há necessidade de regressar à educação assente nos valores cristãos.

 

Enquanto a TV incitar à luxúria, os pais não souberem educar, devidamente, os filhos, e a mulher não for respeitada: como mãe, filha e esposa, as ruas das nossas cidades serão varridas pela violência e pelo crime.

 

Só povo que sabe educar os filhos, terá: paz, justiça e felicidade.

 

Tudo depende da educação, e essa começa em casa e termina com leis que defendam: a Família e respeito pelos idosos e crianças.

 

 

 

 

HUMBERTO PINHO DA SILVA   -   Porto, Portugal



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EUCLIDES CAVACO - PÉROLA DO ALENTEJO

 

 

 

 

PÉROLA DO ALENTEJO


Ainda em época de praia deixo-vos esta semana um incentivo para visitarem a Costa Vicentina onde a natureza parece ainda
caprichosamente prevalecer.
Veja e ouça o poema: Zambujeira do Mar  aqui neste link:

 



http://www.euclidescavaco.com/Poemas_Ilustrados/Perola_do_Alentejo/index.htm

 

 

 

EUCLIDES CAVACO   -   Director da Rádio Voz da Amizade , Canadá.

cavaco@sympatico.ca
 
***
 
        Este blogue, como é do conhecimento geral, é apolítico, mas é cristão,  e é do interesse de todo crente, em Cristo, conhecer os candidatos que defendam a doutrina social da Igreja e os ensinamentos de Jesus.
       Os candidatos que pelejem a favor da Vida, da Família e da Doutrina Cristã, sejam de que partidos forem, desde que enviem  dados biográficos, com todo o gosto, os publicaremos, no mesmo espaço que reservamos para este.
 Enviar para:  humbertopinhodasilva@gmail.com
 
 
 
 Hermes Nery é  professor universitário, autor de vários livros e jornalista profissional com longa trajetória no “Jornal da Tarde’, de São Paulo, o Prof. Hermes Nery é um autêntico líder.

Já foi vereador e presidente da Câmara Municipal de São Bento do Sapucaí-SP, e sempre defendeu os princípios católicos em sua atuação política, destacando-se na defesa da vida e no combate ao aborto. Por iniciativa sua, o Município de São Bento do Sapucaí tornou-se o primeiro, em todo o País, a adotar em sua lei orgânica a defesa da vida humana desde a concepção.

 

[(http://noticias.cancaonova.com/lei-que-torna-cidade-a-1a-pro-vida-do-pais-entra-em-vigor-em-abril/)]

 

É coordenador da Comissão Diocesana em Defesa da Vida, da Diocese de Taubaté, diretor da Associação Nacional Pró-Vida e Pró-Família, membro da Comissão em Defesa da Vida, da Regional Sul 1 da CNBB e da Associação Guadalupe. É também catequista em sua paróquia, tendo publicado, ano passado, o livro "A Igreja é Viva e Jovem", lançado na Jornada Mundial da Juventude, no Rio de Janeiro.Como professor de História, Hermes Nery tem trabalhado ativamente no levantamento da documentação primária acerca da Princesa Isabel, e está coordenando a constituição da comissão de historiadores que atuarão, como “experts”, junto às autoridades eclesiásticas, quando for aberto o processo da Beatificação da Princesa, como se espera para breve.

 

Seguem dois links que mostra um pouco a atuação do Prof. Hermes Nery:

 

Debate sobre aborto na TV IG: https://www.youtube.com/watch?v=ZuVzMfVMIjg

 

Pronunciamento do Prof. Hermes Nery sobre o Decreto 8243/2014, no Senado Federal:

 

https://www.youtube.com/watch?v=LDspWPatQSs

 

 

 

 

 

http://hermesnery.com.br/



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Quinta-feira, 18 de Setembro de 2014
JOÃO CARLOS MARTINELLI - DIA INTERNACIONAL DE LUTA DA PESSOA PORTADORA DE DEFICIÊNCIA

 

                 

 

 

 

 

 

 

 

 

         Um caminho mais produtivo para substituir o preconceito seria canalizá- lo        construtivamente para tornar o deficiente independente tanto quanto a si próprio, como consequentemente em relação à sociedade. Talvez seja este o caminho para atingir um degrau a mais na evolução do desenvolvimento e integração da pessoa portadora de deficiência. Celebrações como a do Dia Internacional de Luta da Pessoa Portadora de Deficiência – 21 de setembro - revestem-se de suma importância para refletirmos sobre  importantes questões de cidadania que afetam tais indivíduos e  que não podem mais ser tidas, como de puro assistencialismo, mas sim de Justiça e Dignidade.

 

 

            O Procurador da República em São Paulo, Luiz Alberto David Araújo, em entrevista ao jornal “Folha de São Paulo”, certa vez, conclamou as pessoas portadoras de necessidades especiais  a lutarem para exterminar o verdadeiro exílio a que estão relegadas: “mas para garantir os direitos previstos na Constituição é necessário que os deficientes se organizem em entidades próprias e tentem, via Judiciário, a sua implementação”.  As entidades podem entrar com ação civil pública contra o Estado para reivindicar, por exemplo, que parte da programação televisiva se destine ao surdo ou mandado de injunção, pretendendo que a Justiça determine ao Legislativo que regulamente os direitos constitucionais, circunstância até hoje utilizada para justificar o atual quadro de intolerável de discriminação.

 

           Por outro lado, a Lei Maior determina que as ruas, os edifícios públicos e os veículos de transporte coletivo sejam adaptados para garantir o acesso adequado dessas pessoas. Entretanto, como já destacamos por diversas vezes, os próprios prédios públicos continuam a ser construídos desrespeitando-se tais exigências. Os telefones públicos são instalados em cabines onde não entram cadeiras de rodas ou em orelhões nos quais os cegos não conseguem utilizá-los. Não há número suficiente de ônibus adaptados em linhas regulares. Tais aspectos, reitere-se, revelam um manifesto desrespeito gerado pela insensibilidade da maioria dos indivíduos que integram a Administração Pública em todos os níveis e da população em geral, que não cobra nem reivindica determinadas conquistas sociais já adquiridas, colocando os deficientes, muitas vezes, como cidadãos de segunda classe, negando-lhes as mais elementares aspirações, como as de ir e vir, de estudar e trabalhar.

 

                       Além do esquecimento pelo Poder Público, prevalece uma visível discriminação no mercado de trabalho e no próprio convívio social, apesar de existir uma lei específica que garanta para determinado número de empregados vagas proporcionais aos portadores de necessidades especiais. Por outro lado, dispõe a Carta Magna que é proibida qualquer discriminação no tocante a salários e critérios de admissão do trabalhador deficiente e a Lei 7.853 de 24 de outubro de 1989 tipificou como crime esse tipo de preconceito. De acordo com o seu artigo 8.°, constitui delito punível com reclusão de um a quatro anos e multa negar emprego, sem justa causa, a alguém, por causa de sua deficiência”. Essa norma, no entanto, não tem produzido efeito. Tanto que, pelo atual sistema de cotas, uma estimativa conservadora indica que as empresas brasileiras teriam de contratar imediatamente cerca de 600 mil portadores de deficiência, habilitados ou capacitados para cumprir  lei específica. Onde encontrá-los? Esse problema só pode ser resolvido, é claro, por meio de programas que ampliem o seu acesso à educação e à formação profissional. Nessa trilha, ressalte-se, os deficientes mentais são os que mais encontram dificuldades para arrumar emprego, apesar da predisposição para realização de serviços repetitivos. Os surdos, em contrapartida, têm mais facilidade para os que exigem quantidade maior de concentração. Os paraplégicos demonstram grande interesse por computação. Já os cegos são cotados para funções onde o sentido de tato é mais exigido. Entretanto, os deficientes visuais já são maioria nas empresas de telecomunicação, onde trabalham como operadores de “pager”.

 

                        É por isso que a celebração a  21 de setembro do DIA INTERNACIONAL DE LUTA DA PESSOA PORTADORA DE DEFICIÊNCIA se   reveste de grande importância. Constitui-se num instrumento de meditação para tornar o deficiente independente tanto a si próprio, como em sua relação com a  sociedade. Um evento criado para se buscarem alternativas visando o alcance de alguns degraus a mais na evolução do desenvolvimento e integração da pessoa portadora de deficiência. Os problemas enfrentados por cidadãos nestas condições são inúmeros, como sabemos. Resta-nos tentar soluciona-los, estabelecendo o verdadeiro respeito à legislação e em especial a Constituição Federal.Afirmamos constantemente que seria tão mais lógico e solidário acabar com qualquer espécie de preconceito,  assegurando-lhes  uma vida auto-suficiente e participação na comunidade para que possam crescer, serem vistos, valorizados e mostrarem sua capacidade. “A deficiência é a não eficiência em alguma coisa e, nesse sentido, todos nos encaixamos dentro deste conceito, porque ninguém é capaz de ser eficiente em tudo e, ao mesmo tempo, não existe uma pessoa que não seja deficiente em pelo menos alguma coisa” (HILDA ALOIS, professora da PUC-SP)

                       

 

JOÃO CARLOS JOSÉ MARTINELLI é advogado, jornalista, escritor e professor universitário (martinelliadv@hotmail.com)                    


 



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ARMANDO ALEXANDRE DOS SANTOS - CRISTIANISMO E ANTROPOLOGIA

 

 

 

 

 

 

 

 

Gostaria de chamar a atenção dos leitores para o eminente papel que teve a Igreja Católica na compreensão da pessoa humana e, portanto, no embasamento teórico do que deve ser uma verdadeira ciência antropológica.

 

Entre os filósofos da Antiguidade, era comum a crença dualista de que, no ser humano, se digladiavam irremediavelmente dois princípios opostos, o corpo material e a alma espiritual.

 

Os primeiros teólogos e pensadores cristãos conheciam bem e tomaram em consideração o pensamento grego clássico, mas souberam rejeitar a dualidade corpoXespírito presente naquele pensamento. Já Santo Agostinho, rejeitando decididamente o dualismo dos maniqueus, o fez de modo muito claro, e em sua esteira seguiu a totalidade dos Padres da Igreja e dos autores cristãos em geral.

 

Mais tarde, São Tomás de Aquino, ao recuperar o que havia de melhor no ensinamento de Aristóteles, teve o cuidado de expurgá-lo de numerosos erros criteriológicos, entre os quais o dualismo.

 

Corpo e alma não se opõem, mas, juntos, integram um só ser, que é o homem, plenamente considerado. Corpo e alma só se separam - mórbida e transitoriamente - pela morte, que é um estado anormal, devido ao pecado. É uma separação mórbida, porque engendra a corrupção: sem estar informado (no sentido filosófico) pela alma, o corpo, pura matéria, rapidamente se desintegra e se faz pó. E é transitória, porque, de acordo com o dogma da Ressurreição da carne, no fim dos tempos corpos e almas voltarão a se reunir, para jamais se separarem por toda a eternidade. Depois do Juízo, tanto os justos, no Paraíso, quanto os pecadores, na Geena, terão para todo o sempre os corpos e as almas indissociavelmente unidos.

 

Isso é o que se depreende da famosa Teoria Hilemórfica (que trata de matéria e forma), a qual, juntamente com a noção de Ato e Potência, constitui a base da metafísica aristotélico-tomista.

 

Além de ter contribuído para a Antropologia pela rejeição categórica do dualismo e pela compreensão da integridade da pessoa humana, também a um outro título, de grande importância, a Igreja Católica assentou as bases para a intelecção da verdadeira Antropologia.

 

Na realidade, o Cristianismo foi a primeira religião de cunho mundial, que desde o seu início pretendeu atingir e conquistar toda a humanidade e, assim, inaugurou a ideia de que o gênero humano (entendido no sentido mais amplo, no espaço e no tempo) tem uma relação fraternal. É em Jesus Cristo que, pela primeira vez, a Humanidade pôde adquirir a noção de que constitui, toda ela, uma imensa fraternidade.

 

Até o aparecimento do Cristianismo, todas as religiões e todos os deuses eram nacionais. Mesmo entre os hebreus, a religião mosaica era entendida como algo nacional, e isso se consolidou de tal maneira que, entre os Apóstolos e os primeiros discípulos de Jesus Cristo, houve grande resistência psicológica à ideia de uma pregação aberta a todo o gênero humano, fora dos limites do Povo Eleito. Essa dificuldade, tema central subjacente aos debates ocorridos no Concílio de Jerusalém (ano 50 d.C.), fica bem patente pela leitura dos Atos dos Apóstolos.

 

Não havia, no passado, conflito religioso propriamente dito. Todos adoravam os deuses de sua nação e compreendiam que os outros adorassem os seus. Daí o caráter muitas vezes fragmentário, nacionalista e, também, relativista da religiosidade dos povos antigos. Daí, também, a dificuldade de os romanos entenderem os cristãos, não compreendendo porque estes teimavam em adorar a um Deus único e exclusivista, em vez de colocarem, como faziam todos, uma imagem da sua divindade no Panteão Romano, junto com todos os demais e, assim, se adequarem ao “stablishment” político-religioso do Império.

 

A noção de fraternidade universal (como decorrência de serem todos os homens filhos de um mesmo Deus e, assim de certa forma se irmanarem a Jesus Cristo, o Filho Unigênito de Deus) é fundamental para a compreensão da altíssima dignidade da pessoa humana.

 

Transcrevo a seguir um breve trecho do beneditino francês D. Próspero Guéranger (séc. XIX), no qual ele destaca um ponto muito importante para nós, historiadores: até mesmo a compreensão de uma história universal, no sentido maior, no sentido mais abrangente, somente se tornou possível a partir da ótica cristã. Antes disso, era fragmentária e, necessariamente, incompleta. Passo a transcrever:

 

"Os historiadores pagãos não tinham uma visão de conjunto dos acontecimentos humanos. Para eles, a ideia de pátria era tudo, de tal forma que, até no tom de narrar os fatos, nunca se nota que o narrador se sentisse tomado, ainda que de leve, pelo sentimento de afeto pela espécie humana em si mesma considerada. De fato, a história somente principiou a ser tratada em sentido abrangente e de síntese a partir do cristianismo. Por remeter continuamente o nosso pensamento para o destino sobrenatural do gênero humano, o cristianismo habituou o nosso espírito à visão universal das coisas, muito além de um nacionalismo egoístico. Foi em Jesus Cristo que a fraternidade humana se revelou; e foi a partir de Jesus Cristo que a história da humanidade, como um todo, passou a ser objeto de estudo" (Le sens chrétien de l' Histoire, Éditions d´Histoire et d´Art, Paris, 1945, pgs. 17-18).

 

 

 

ARMANDO ALEXANDRE DOS SANTOS   -   é historiador e jornalista, membro do Instituto Histórico e Geográfico Brasileiro.



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CINTHYA NUNES VIEIRA DA SILVA - A MAJESTADE, O SABIÁ

 

 

 

 

 

 

 

            Não estudei o assunto, então tudo o que eu escrever aqui será apenas baseado em minhas observações e em mais nada. Há alguns anos venho reparando nos hábitos do Sabiá Laranjeira, sobretudo porque desde que me mudei para São Paulo, há sete anos. Por essas bandas o Laranjeira reina soberano e, no fim do inverno, quando começa se anunciar a Primavera, a sinfonia de seu canto apaixonado se faz ouvir por toda parte.

 

            Sei que há pessoas que se irritam com a cantoria dessa ave, mas eu acho um privilégio morar em uma das maiores metrópoles do mundo e o barulho que se faz ouvir grande parte do dia ser o canto de um pássaro. É certo que tudo começa ainda de madrugada, bem antes do sol nascer, mas longe de ser um incômodo, é uma benção.

 

            Penso que as pessoas já estão tão acostumadas aos barulhos de buzinas, de televisão, de gritaria, que não tem mais referências dos sons da natureza. Como morei durante toda minha infância no interior do estado, sendo parte dela em uma chácara, sempre escutei, além das aves canoras, o cacarejar das galinhas, a alegria do galo ao saudar o amanhecer, os grilos, as cigarras e as escandalosas algazarras das maritacas e tuins (espécie de periquitos).

 

            Assim, nunca imaginei que, ao morar em São Paulo, pudesse ter pássaros circulando por todos os lados, livres como deviam,  adaptados a um mundo que alteramos para além do razoável. Fico imaginando, assim, onde os sabiás fazem seus ninhos, pois é certo que não cantam à toa, senão para seduzir as fêmeas e começar uma nova família. E a julgar pelos cantos que se intensificam a cada ano, suponho que a empreitada tem sido bem-sucedida.

 

            O Sabiá Laranjeira já é meu visitante contumaz. Várias vezes invadiu minha área de serviço para surrupiar ração de meus cachorros, bem como já acabou com minhas tentativas de uma horta, comendo todos os brotinhos tenros e recém-nascidos. Ocupa, atualmente, duas árvores estrategicamente posicionadas. Uma delas é meu ipê amarelo, que fica na frente de casa e outra é uma quaresmeira imensa, que verte seus galhos para meu quintal, embora plantada no quintal de uma casa vizinha.

 

            De camarote, entoa sua romântica canção, cuja letra nos é indecifrável, mas que nem por isso deixa de nos transmitir coisas boas. Continuará cantando, pelo que sei, pelo tempo que for necessário para ensinar seus filhotes. Fará a distância segura do ninho, ao que me consta, para proteger a família de eventuais predadores. Quando sua missão anual estiver completa, ficará silencioso, até que nova primavera se avizinhe.

 

            Resistindo à poluição, vivendo de comer o que a cidade grande lhe proporciona, o Sabiá Laranjeira é um exemplo de como podem conviver, natureza e modernidade, em harmonia. Em pleno centro de São Paulo, onde trabalho, perto da praça da Sé, tenho a alegria de ouvir o Sabiá cantar no final das tardes, em um espetáculo que não tem preço. Choca-me, entretanto, ouvir as pessoas reclamarem, em verdadeira mostra de que fomos nós, seres humanos, que desaprendemos a viver com o belo.

 

            Com certeza,  o poeta Gonçalves Dias, na “Canção do Exílio”, ao sentir falta do canto das aves que aqui gorjeiam, jamais poderia imaginar o quanto a ave incomodaria almas pequenas, despidas de asas. Amo essa terra, mesmo com todos os seus defeitos, pois aqui eu tenho ipês e quaresmeiras, onde canta o Sabiá. Permita Deus que ele sempre volte e que a ignorância não o queira exilar...

 

 

 

 

CINTHYA NUNES VIEIRA DA SILVA -  Advogada, mestra em Direito, professora universitária e escritora   -  São Paulo.

           



publicado por Luso-brasileiro às 10:34
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