PAZ - Blogue luso-brasileiro
Quinta-feira, 18 de Setembro de 2014
VALQUÍRIA GESQUI MALAGOLI - ACHADOS E PERDIDOS

 

 

 

 

 

 

 

            Serão os amigos – guarda-chuvas? Blusas? Chaveiros?

 

            Uma dessas coisas que deveriam proteger-nos de chuva e frio ou dar paradeiro, porém, esquecem-se, perdem-se por aí?

 

            Uma dessas coisas que, se não de fato, pelo menos em expectativa deveriam suprir-nos desses fenômenos?

 

            Será isso: serão não coisas e, sim, fenômenos?

 

            Fenômenos, essas coisas que vão e vêm a despeito de quaisquer previsões?

 

            Que coisa fenomenal é essa dúvida!

 

            Ao contrário e menos que coisas, se considerarmos que aquelas sendo achadas já não estarão mais perdidas.

 

            Um amigo, por sua vez, se reconduzido à amizade, nunca mais, nunca mais a ela, pleno, confiar-se-á.

            Amigos... menos que coisas!

 

            Diferentes assaz e sobrenaturalmente de novo idênticos a fenômenos, se guardadas as substanciais proporções de sua instabilidade.

            Amigos... inexplicáveis naturezas!

 

            Quem tem amigos, tem um tesouro.

 

            Sim, pois, tesouros se perdem, ou perdemo-los.

 

            Tesouros perdidos são como palavras que fogem, ou são as palavras que consigo carregam os tesouros, desfeitos em conjecturas, conceituais diferenças rompantemente saltadas.

 

Sim, quem tem amigos tem, por isso, um tesouro e, por conseguinte, é a qualquer hora – assaltado!

 

Sei lá... sei lá... só o que me ocorre, agora, é um intraduzível “sei lá”, que já estou achando que não quero mais saber.

 

Serão amigos sei-lás uns atrás dos outros? Um atrás do outro... um atrás do outro...

            Achados e perdidos, amigos são vida e morte.

 

            Achados, teme-se perdê-los.

 

            Perdidos, melhor talvez não reencontrá-los.

 

            Quem me quer achar para depois perder-me, quem quer, quem dá mais, quem vai querer?...

 

            Quisera migrássemos desta feira descomunal pra um universo simples paralelo, um lugar onde a amizade fosse um passarinho, assim a gente se acostumaria às idas e vindas, às vezes só idas.

 

            Quisera fôssemos pássaros também pra – a penas – bater asas quando nos espantam espantando-nos xô xô xô... ou ser espantalhos apenas pra, espantados, permanecer estáticos como se brincássemos de estátua.

 

            Quisera ser criança pra sempre, pra tapar os olhos com as mãos e acreditar piamente que não nos veem, e não soltar nem mais um pio... nenhum.  

 

 

 

 

VALQUÍRIA GESQUI MALAGOLI     -     escritora e poetisa, vmalagoli@uol.com.br / www.valquiriamalagoli.com.br

 



publicado por Luso-brasileiro às 10:24
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MARIA CRISTINA CASTILHO DE ANDRADE - TENHO PENA

 

 

 

 

 

 

 

 

 

Tenho pena das meninas e dos meninos abusados sexualmente por aqueles que deveriam protegê-los ou pela omissão ou desconhecimento dos responsáveis. Roubam-lhes, além da infância, a identidade. Rompe-se o coração dos menores, que se torna dos medos. Impõem-lhes carga pesadíssima e sepultam sonhos.  Alguns se revoltam e outros se calam. Amotinados ou silentes ignoram momentos felizes. Na revelação do acontecido, de imediato ou um pouco depois, a chance de se transcender. Isso se a família souber lidar com o assunto, pois há um véu com moscas que encobre situações como essas. Acontecem testemunhos verdadeiros, considerados suspeitos, quando não existe conjunção carnal. Em paralelo, parentes ou vizinhos, embora se comovam e se indignem, não aceitam que seus filhos, de idade semelhante, participem de folguedos com a vítima, temerosos de que “brinque” com os seus da “maneira aprendida”.

 

O estigma começa na língua do “camaleão”, que move seus olhos para os dois lados, e consegue apanhar o “inseto”.   É frequente que o destino das meninas e dos meninos pobres, presas de “camaleão”, sem curativo posterior, seja o comércio do sexo. Enxergam-se e são vistos como o trapo que ficou do tecido que forma as pessoas de bem. Doloroso!

 

Aprender a dizer não é adequado no que concerne aos de fora, mas ao acontecer dentro de casa?

 

Quanto aos abusadores, incluídos na sociedade e que não apresentam problemas mentais aparentes, não compreendo o que os move, impedindo que busquem ajuda para superar esse mal. Vários dizem que não há cura, porém tenho convicção de que é possível se fortalecer, com o propósito de distância de suas prováveis vítimas.  Parece-me que a soberba os faz distinguir os mais frágeis como “matéria prima” de seus intentos animalescos. Concluo, contudo, que, na atualidade, as pessoas se encontram mais inclinadas a denunciar, o que predispõe a uma medida terapêutica e retira o pervertido do convívio, através da lei. Semana passada, foi a vez da atriz britânica, Samantha Morton, trazer à tona que foi abusada sexualmente, aos 13 anos, por funcionários de um abrigo para menores.

 

É urgente que o Governo, em todos os níveis, faça uma grande campanha que convoque os pedófilos a procurar ajuda médica, salvaguardando as prováveis vítimas.

 

 

 

 

MARIA CRISTINA CASTILHO DE ANDRADE - É coordenadora diocesana da Pastoral da Mulher – Santa Maria Madalena/ Magdala. Jundiaí, Brasil.



publicado por Luso-brasileiro às 10:14
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Quarta-feira, 17 de Setembro de 2014
JOSÉ RENATO NALINI - BOA EDUCAÇÃO PAROQUIAL

  

 

 

 

 

 

 

O Brasil já foi bem melhor do que hoje em termos de educação. Embora sem tantos recursos, sem o aparato das tecnologias da comunicação e informação, propiciava aquilo que a escola hoje tem imensa dificuldade em ofertar: educação de qualidade, não mera escolarização.

 

Paradoxalmente, crescem os índices de matrícula e acesso à escola formal, enquanto decresce o nível de adequada formação de caráter. Jundiaí comemora esta semana o centenário da tradicional Escola Paroquial Francisco Telles. Era muito profícua essa ideia de vincular a criança ao seu bairro, em torno à grande influência então exercida pela Igreja.

 

A subdivisão em paróquias reproduzia as comunidades iniciais do Cristianismo. Pretendia constituir uma célula amorável, para que ainda se pudesse dizer, como se afirmara em relação aos primeiros cristãos: “vede como se amam!”.

 

Meu pai, Baptista Nalini, foi aluno da Escola Paroquial. Sou fruto da Escola Paroquial, assim como a minha irmã Neusa Raquel e meu irmão precocemente falecido, João René. Só a Jane Rute é que foi para o Instituto de Educação Experimental. Mas ela tem dez anos menos do que eu. Já refletia o pensamento de outra época.

 

Fui muito feliz na Escola Paroquial. Minhas professoras eram freiras vicentinas, das quais guardo imensa saudade e gratidão crescente: Irmã Suzana, Irmã Verônica, Irmã Úrsula, Irmã Verona e Irmã Zélia. A diretora era a Irmã Flórida e vice-diretora a Irmã São Luís Gonzaga.

 

Lá estive de 1953 a 1956. Lembro-me do terço rezado em frente à gruta de Nossa Senhora de Lourdes, as missas na então Matriz do Monsenhor Doutor Arthur Ricci e até programas na Rádio Difusora nós fazíamos. Teatro amador, festivais de talentos infantis, festas juninas. Tudo ao lado de um bom aprendizado com disciplina, austeridade e amor.

 

Tudo passa, mas posso percorrer os jardins de minha memória. Lembrar os colegas de escola como Orlando de Jesus Moreira, Fernando Loboda, Ernestinho Chiorlin, Vicente Martin, Norberto Pastre Júnior, Francisco Calzoli, o Baeta, o Brandoli e outros tantos. Em outras classes estavam o José Carlos Bissoli, o José Armando Gáspari, o Mário Bampa.

Lembro-me do dia 24.8.1954, em que fomos de volta para casa, porque o presidente Getúlio Vargas havia praticado suicídio. Cheguei à rua 15 de Novembro e mamãe chorava: “Morreu o pai dos pobres!”. Parabéns Escola Paroquial, hoje Colégio São Vicente de Paulo! Auguro muitos outros centenários!

 

 

 

JOSÉ RENATO NALINI é presidente do Tribunal de Justiça do Estado de São Paulo para o biênio 2014/2015. E-mail: jrenatonalini@uol.com.br

 

 

 



publicado por Luso-brasileiro às 12:03
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PAULO ROBERTO LABEGALINI - O PÃO DE CRISTO

 

 

 

 

 

 

 

 

Depois de meses sem encontrar trabalho, Vitor recorreu à mendicância para sobreviver, coisa que o envergonhava muito. E numa tarde fria de inverno, encontrava-se nas imediações de um clube social quando viu chegar um casal. Meio sem jeito, ele se dirigiu ao homem e pediu algumas moedas para comprar algo para comer.

 

– Sinto muito, amigo, mas não tenho trocado.

 

Ouvindo a resposta, a esposa perguntou ao marido:

 

– O que queria o pobre homem?

 

– Dinheiro para comer. Disse que tinha fome.

 

– Lorenzo, não podemos entrar, nos alimentar fartamente e deixar um homem faminto aqui fora!

 

– Hoje em dia, há um mendigo em cada esquina! Aposto que quer dinheiro para beber.

 

– Tenho dinheiro na bolsa. Vou dar-lhe alguma coisa – insistiu a senhora.

 

Mesmo de costas para eles, Vitor ouviu o que disseram. Envergonhado, queria afastar-se correndo, mas a amável voz da mulher lhe disse:

 

– Aqui tem o suficiente para se alimentar bem, consiga algo saboroso para comer. Ainda que a situação esteja difícil, não perca a esperança. Em algum lugar existe um trabalho para você e peço a Deus que o encontre.

 

– Obrigado, a senhora me ajudou a recobrar o ânimo. Jamais esquecerei sua gentileza.

 

– Você estará comendo o Pão de Cristo, partilhe-o! – disse ela com um largo sorriso, dirigido mais a um homem de fé do que a um mendigo.

Vitor sentiu uma forte emoção, como se uma descarga elétrica lhe percorresse o corpo. Encontrou um lugar barato para se alimentar, gastou a metade do que havia ganhado e resolveu guardar o resto para o outro dia. Comeria o ‘Pão de Cristo’ dois dias!

 

– Um momento! – pensou. – Não posso guardar o Pão de Cristo somente para mim.

 

E andando, viu um velhinho sentado na calçada.

 

– Ei, você! – exclamou Victor. – Gostaria de entrar e comer alguma coisa?

 

– Você fala sério, amigo? Não estou acreditando em tamanha sorte; passo fome desde ontem!

 

No final do lanche, Vitor notou que o homem envolvia um pedaço de pão em sua sacola de papel.

 

– Está guardando um pouco para amanhã? – perguntou.

 

– Não, não. É que tem um menininho onde costumo dormir que tem passado mal ultimamente e estava chorando quando o deixei. Acho que tinha muita fome. Vou levar-lhe este pão.

 

– O Pão de Cristo! – repetiu as palavras da mulher e teve a estranha sensação de que havia um terceiro convidado sentado naquela mesa.

Os dois homens levaram o pão ao menino faminto que começou a engoli-lo com alegria. De repente, ele se deteve e chamou um cachorrinho assustado.

 

– Tome, fique com a metade – disse o menino. – O Pão de Cristo alcançará você também.

 

O garoto tinha mudado de semblante desde o momento que ouviu a história de como começou a partilha do Pão de Cristo. Logo se pôs de pé e partiu para vender jornais com alegria.

– Até logo! – disse Vitor ao velho. – Em algum lugar haverá um emprego, não se desespere.

 

Ao se afastar, Vitor reparou que o cachorrinho lhe cheirava a perna. Agachou-se para acariciá-lo e descobriu que tinha uma coleira com o endereço de seu dono. Caminharam um bom pedaço até encontrarem o local.

 

Contente por rever o cachorro, o dono do animal falou:

 

– No jornal de ontem, ofereci uma recompensa pelo resgate. Tome, este dinheiro é seu.

 

– Não posso aceitar. Somente queria fazer um bem ao cachorrinho – comentou Vitor.

 

– Para mim e minha família, o que você fez vale muito mais que isto. E se precisar de um emprego, venha ao meu escritório amanhã. Gostei da sua honestidade.

 

Ao voltar pela avenida e entrar numa igreja para agradecer, uma missa estava sendo celebrada e Vitor ouviu este velho hino no momento da comunhão:

 

‘Todo aquele que comer do meu Corpo que é doado, todo aquele que beber do meu Sangue derramado, e crer nas minhas Palavras que são plenas de vida, nunca mais sentirá fome e nem sede em sua lida. Eis que sou o Pão da Vida, eis que sou o Pão do Céu! Faço-me vossa comida, Eu sou mais que leite e mel’.

 

Pois é, feliz daquele que acredita nas promessas de Deus e partilha as bênçãos que recebe com os pobres. A paz e a justiça só acontecerão em nosso meio se, primeiro, existirem em nossos corações. E parece tão simples não complicarmos as coisas, unindo nossas forças em favor dos mais necessitados, não é mesmo? Mas, infelizmente, quem pensa ser o mais forte prefere brigar com outros ‘fortes’ enquanto centenas de pessoas assistem o ‘duelo’ na miséria.

 

O mundo sempre foi assim, mas, na eternidade celeste, tudo será diferente. Muitos mendigos serão exaltados e terão suas recompensas. Eis as palavras de Jesus no Evangelho de Mateus (23, 9-12):

 

“Na terra, não chameis a ninguém de pai, pois um só é vosso Pai, aquele que está nos céus. Não deixeis que vos chamem de guias, pois um só é vosso Guia, Cristo. Pelo contrário, o maior dentre vós deve ser aquele que vos serve. Quem se exaltar será humilhado, e quem se humilhar será exaltado”.

 

 

 

PAULO ROBERTO LABEGALINI -    Escritor católico, Professor Doutor da Universidade Federal de Itajubá-MG. Pró-reitor de Cultura e Extensão Universitária da UNIFEI.

 



publicado por Luso-brasileiro às 11:56
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FRANCISCO VIANNA - GRANDE FEITO DIPLOMÀTICO DOS EUA

 

 

 

 

 

 

 

 

 

 

ESTADOS UNIDOS DA AMÉRICA CONSEGUEM APOIO DOS ÁRABES PARA ACABAR COM O ‘ISIS’ (ESTADO ISLÂMICO DO IRAQUE E DA SÍRIA)

 

Depois de terem avisado aos árabes que o ISIS já tem mais de trinta mil seguidores oriundos das mais diversas partes do planeta, o Secretário de Estado Americano, John Kerry, consegue apoio do Egito, do Iraque, da Jordânia, do Líbano, e dos Emirados do Golfo Pérsico, além da Turquia, para levar adiante uma guerra de erradicação do câncer islâmico que cresce no vácuo de poder existente no leste da Síria e no norte do Iraque.

 

Da esquerda para a direita: Ministro das Rel. Exteriores do Egito, Sameh Shoukry, seu colega do Kwait, Sabah Al-Khalid al-Sabah, seu colega saudita Príncipe Saud al-Faisal, o Secretário de Estado dos EUA, John Kerry, o chanceler de Omã, Yussef bin Alawi bin Abdullah, seu colega do Bahrein, Sheikh Khaled bin Ahmed al-Khalifa e o chanceler do Líbano, Gebran Bassil, durante uma foto em grupo com os associados do Conselho de Cooperação do Golfo Pérsico e aliados regionais no Aeroporto Internacional Rei Abdulaziz, no Terminal Real, em 11 de setembro de 2014, em Jeddah, na Arábia Saudita (foto AFP/Pool)

 

 

Depois de os EUA terem triplicado sua estimativa do número de combatentes do ISIS em ação na Síria e no Iraque, a maioria dos países árabes da região aceitou de bom grado e se comprometeram em ajudar a proposta estadunidense de uma ação “mais agressiva” contra o grupo jihadista, lendo em conta que o grupo representa uma ameaça muito mais direta para eles do que para o Ocidente e assinaram uma colisão que visa a destruição a mais rápida possível desse grupo terrorista.

Nada menos que dez dos principais governos do Oriente Médio, em meio aos intensos esforços diplomáticos do Secretário americano, concordaram apoiar e facilitar a guerra anunciada por Obama nestes dias contra o ISIS, que já domina grandes áreas na Síria e no Iraque. Assim, o Egito, o Iraque, a Jordânia, o Líbano, e os estados sunitas do Golfo Pérsico formalmente aderiram à coalizão de Obama e assinaram formalmente um acordo que visa estancar o grupo terrorista cassando-lhe seus fundos e possivelmente até contribuindo diretamente com o esforço de guerra americano na região.

O documento assinado, já conhecido como o “Comunicado de Jeddah”, também inclui em suas cláusulas a Arábia Saudita, o Qatar, e os Emirados Árabes Unidos (EAU). Nele, os países árabes se comprometem a estancar quaisquer fundos destinados ao Estado Islâmico, da mesma forma que interromperão o fluxo de combatentes estrangeiros arregimentados pelo ISIS. Os dez países “concordaram entrar com suas participações na Guerra abrangente” contra o Estado Islâmico, como foi dito num encontro na quinta feira de ontem entre Kerry e seus agora aliados árabes. Ratificaram os árabes dizendo que “se juntarão de modo apropriado e sob muitos aspectos às forças americanas que coordenarão a guerra”, possivelmente, até, participando dela diretamente.

O documento foi assinado após efervescentes esforços diplomáticos de Kerry, que estava em Jeddah para assegurar o apoio dos estados árabes — muitos dos quais estavam fornecendo armas, munição e outros suprimentos aos grupos rebeldes sírios que lutam contra a dinastia alauíta de Bashar Assad, inclusive os extremistas, além de dinheiro, nos últimos anos.

O Irã e seu grupo representante no Líbano, o Hezbollah, tem ajudado as forças de Assad na sua luta contra o ISIS e os rebeldes que querem derrubar o regime de Damasco. Como os países árabes aceitaram a liderança de Washington, a CIA disse que o ISIS tem agora cerca de 25 a 31.500 guerrilheiros no solo do Iraque e da Síria, muito mais do que a estimativa prévia de 10.000 homens. O porta-voz da CIA, Ryan Trapani, esclareceu que “esta nova avaliação reflete um aumento de seus efetivos graças ao forte recrutamento que ocorre na região desde junho e em consequência dos sucessos obtidos no campo de batalha, à declaração do “califado”, à grande atividade bpelica na área, e o crescimento de Inteligência militar adicional”.

Entrementes, na manhã da sexta feira de ontem, o Presidente da França, François Hollande, dirigia-se para Bagdá, onde foi se encontrar com seu colega iraquiano Fuad Masum numa demonstração de apoio. A França tem tornado claro que está preparada para participar de ataques aéreos aos militantes do ISIS no Iraque “caso seja necessário”, e vai sediar uma conferência internacional sobre o Iraque em 15 de setembro, ou seja, depois de amanhã.   

Kerry tem mantido intensas conversações com seus colegas dos dez países árabes e com a Turquia durante as horas que se seguiram ao discurso de Obama que equivaleu a uma declaração de guerra ao grupo terrorista, no qual traçou as linhas mestras de sua nova estratégia de confronto aos jihadistas na região. Fortalecendo sua nação para outro conflito externo, Obama se comprometeu em expandir as operações militares contra o ISIS, um grupo islâmico radical que ocupou uma faixa ao norte do Iraque e a leste da Síria e que comete atrocidades horripilantes que tem provocado a fuga em massa dos habitantes da região.

 

 

 

Fumaça espessa no horizonte após ataque aéreo americano ao ISIS próximo ao ponto de checagem de Khazer na periferia da cidade de Irbil no norte do Iraque, em 8 de agosto passado (foto: AP)

 

Em seu discurso, Obama não deixou dúvidas: “Nosso objetivo é claro e insofismável: nós vamos degradar e, eventualmente, destruir o ISIS mediante uma estratégia abrangente e sustentada de guerra antiterror, e não hesitarei em agir contra essa praga terrorista onde quer que seja, tanto na Síria como no Iraque”.

Obama também anunciou, na ocasião, que já despachou outros 475 militares para a região com a missão de ajudar no treinamento das forces armadas iraquianas para agirem contra o “Estado Islâmico”, aumentando o total de militares americanos no Iraque para 1.600.

No entanto, em seu discurso, o presidente americano fez questão de dizer que a nova guerra contra um novo inimigo do ocidente e até dos próprios árabes não será uma repetição das guerras terrestres desgastantes travadas por tropas norteamericanas na última década. "Quero que o povo americano entenda como esse esforço será diferente das guerras no Iraque e no Afeganistão", disse Obama, falando na véspera do aniversário dos ataques de 11 de setembro de 2001. "O esforço não vai envolver diretamente tropas de combate norteamericanas lutando em solo estrangeiro".  

Na verdade, Washington vai tentar aumentar a capacidade de combate de seus parceiros no terreno, incluindo as forças iraquianas, as curdas, além dos rebeldes sírios que lutam contra o trinômio ‘Irã-Assad-Isis’, o mais recente eixo do mal na região, de tal forma que possam assumir posições fortemente sólidas nos territórios abertos pelo poder aéreo dos EUA. A chave para que essa estratégia tenha sucesso é melhorar substancialmente a eficácia dos rebeldes sírios, e, para isso, Obama pediu ao Congresso para autorizar rapidamente uma operação de treinamento e equipar os aviões caças da Síria em poder dos moderados.

Na reunião em Jeddah, Kerry garantiu o apoio crucial dos EUA à essa operação de erradicação desse grupo terrorista islâmico e prometeu livrar seus os países árabes e os membros da OTAN nessa coalizão dessa ameaça internacional.

Um funcionário de alto escalão do Departamento de Estado americano explicou que "muitos desses países já estão tomando medidas contra o ISIS, mas a ida de Kerry à Jeddah e região deverá ampliar a coalizão e ajustar o foco desse esforço bélico internacional. Uma das façanhas de Washington será reunir os povos árabes em torno de um interesse comum não religioso".

Disse ainda o funcionário que a Arábia Saudita será especialmente importante para a iniciativa de erradicar a ameaça fundamentalista patrocinada pelo Irã e pela Rússia "devido ao seu tamanho e importância econômica, mas também, mas em segundo plano, por sua importância religiosa junto aos sunitas". O “programa de treinar e equipar os rebeldes anti-Bashar, no entanto, deverá ser muito discutido com os sauditas”, disse ainda o funcionário.   

Se tal estratégia funcionar a contento, outro objetivo que poderá ser enfocado por Washington é de eliminar outro grupo terrorista que vem matando e provocando a fuga de grandes contingentes humanos do leste da Nigéria, na África Ocidental, o grupo chamado Boko Haram, embora, nesse caso, haja um fator complicador muito sério, que é a expansão do surto do vírus Ebola que afeta a região.

 

 

 (da mídia internacional)

 

Sexta feira, 12 de setembro de 2014

 

 

FRANCISCO VIANNA  -   Médico, comentador político e jornalista  - Jacarei, Brasil.

 

 



publicado por Luso-brasileiro às 11:30
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HUMBERTO PINHO DA SILVA - DE QUEM É A CULPA DE TANTA VIOLÊNCIA?

 

 

 

 

 

 

 

 

 

 

Conheci, nas últimas décadas do século transato, pastor evangélico, sacerdote brasileiro, delicadíssimo, e creio, integro cumpridor da doutrina cristã.

 

Convidou-me, certa vez, para almoçar em sua casa. Aceitei.

 

Enquanto ultimava os preparos da cozinha, mostrou-me o escritório, os livros que possuía e os filhos. Dois belos garotinhos de soberbos olhos azuis.

 

À mesa, após pequena oração, sua mulher, contou-me que as crianças frequentavam colégio evangélico e queixavam-se de serem molestados por coleguinhas.

 

Perguntei-lhe se foram vítimas de bulling. Respondeu-me que não: “ Eduquei-os para não trazerem desaforo para casa. Quem os incomodar, leva – disse a rir –  “ Para isso mandei-os aprender artes marciais “.

 

O marido, como pastor, meio atrapalhado, explicou: “ Cristo não ensina isso, mas como a sociedade está, é preciso saber defendermo-nos.

 

El Capone, famoso gangster americano, dizia que tinha coração bondoso, incapaz de fazer mal seja a quem fosse. Apenas se defendia.

 

E o célebre salteador português Zé do Telhado – que tinha coração generoso – declarou a Camilo Castelo branco, que se entregara à vida de bandido porque lhe negaram emprego, apesar de possuir a Torre Espada, por atos de bravura.

 

Ainda que duvide, os psicólogos são de parecer, que todo  o ser humano nasce bom, a sociedade é que os torna maus.

 

Jesus recomendava: “Amar o próximo como a nós mesmo”; e o povo, relicário da sabedoria, costuma, com acerto, dizer: “ Tudo que se planta, colhe-se.

 

Se educarmos nossas crianças com amor e exigência. Se cuidarmos que respeitem os idosos e superiores: Se as escolas reprimirem, severamente, as prevaricações, o mundo, seria, certamente, bem melhor.

 

Como querem que hajam cidadãos honestos, se desde criança veem: corrupção, atos indignos, falta de obediência e violência? A escola pública, local onde devia haver respeito, disciplina e normas morais, transformou-se, nas últimas décadas, em terreiro, onde tudo, ou quase tudo, é permitido.

 

Se os filhos não respeitam os pais e avós, como hão-de obedecer aos professores, se estes foram despidos de autoridade pelos pais dos alunos, e pelo Ministério da Educação?

 

Como querem construir nação, onde reine ordem e progresso, se a mass-media, diariamente envenena a juventude, invertendo valores, impingindo como correto, comportamentos vergonhosos.

 

As nossas novelas televisivas, o cinema, não têm, em regra, enredos que eduquem a sociedade, mas lavagens cerebrais, no intuito do povo, aceitar, como normal, comportamentos degradantes.

 

Quando vejo banditismo, quando ouço insultos e palavrões, saídos da boca de crianças, não sei se as hei-de condenar ou os meios audiovisuais, que os intoxicam desde a meninice.

 

Certos escritores, certos jornalistas, certos diretores de programas de TV, é que deviam estar sentados no banco dos réus, em lugar de jovens delinquentes, porque foram eles, que incutiram, e ensinaram, comportamentos e atitudes reprováveis.

 

Se a violência, o desrespeito, e a imoralidade campeiam nas nossas cidades, contaminando já o interior, e pequenos burgos, a culpa é: das autoridades, dos professores, dos juízes, dos políticos, mormente da imprensa, TV e cinema.

 

Até quando permitiremos, que quem manda, corrompa nossos filhos e netos? Até quando permitiremos que os verdadeiros responsáveis pelo descalabro e desvergonha, continuem a intoxicar a juventude?

 

 

 

 

 

HUMBERTO PINHO DA SILVA   -   Porto, Portugal



publicado por Luso-brasileiro às 11:24
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EUCLIDES CAVACO - CARAVELAS DO GAMA
 
 
 
 
 
 
 
 

No próximo dia 18 de Setembro faz precisamente 525 que Vasco da Gama chega triunfamente a Lisboa após a glória do descobrimento do caminho marítimo para a Índia cujo feito inspirou este tema que poderão ver  aqui neste link:


http://www.euclidescavaco.com/Poemas_Ilustrados/Caravelas_do_Gama/index.htm
EUCLIDES CAVACO   -   Director da Rádio Voz da Amizade , Canadá.
cavaco@sympatico.ca
 


publicado por Luso-brasileiro às 10:53
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Quinta-feira, 11 de Setembro de 2014
DOM GIL ANTÔNIO MOREIRA - A PÁSCOA DE MINHA MÃE

 

 

 

 

 

 

         Era por volta de 16:00 h, do dia 29 de agosto último, quando minha mãe, à mesa do café da tarde, serenamente partiu, sem gemidos, sem angústias, sem tristeza. Estamos convencidos de que, da mesa de sua casa, foi levada para o banquete da eternidade que Deus preparou para todos que O amam. Envoltos no manto caloroso do amor de Deus, iluminados pelas claridades da fé na ressurreição, fomos transidos pelo inevitável gladio da dor e da tristeza que a ausência da mãe causa no coração dos filhos. Somos oito.

 

Ao mesmo tempo, estamos imensamente agradecidos e encantados com Deus pelo presente que nos deu de ter mãe tão bondosa e exemplar, que nos deixa legado moral e espiritual tão elevado. Como  verdadeira monja em família, era mulher de oração, do silêncio, de Eucaristia diária, do Rosário cotidiano, de amor a Deus e à Igreja, batalhadora   incansável em favor dos outros, sem nunca pensar em si mesma. Ao momento de seu passamento, trazia sobre o peito seu escapulário carmelitano que nunca deixou de usar, rezando diariamente o Ofício Parvo do Carmo, após a oração do Terço de Nossa Senhora a quem devotava encantadora afeição. A espiritualidade do Monte Carmelo já estava misteriosamente impressa em seu nome de batismo: Maria Tereza. Até a sua morte, presidiu a OVS (Obras das Vocações Sacerdotais) na paróquia, após muitos anos neste ministério, liderando um sodalício de cerca de 50 senhoras que com ela trabalhavam incansavelmente pelas vocações. Foi membro do Apostolado da Oração e Consocia Vicentina durante boa parte de sua vida, cuidando amorosamente dos pobres e sofredores.

 

Recebia em sua casa, todo dia 29 de cada mês, o ícone de Nossa Senhora, Mãe Peregrina, quando promovia momento forte de oração junto aos seus. Foi num dia desses, 29 de agosto, mês vocacional, numa sexta-feira, dia particularmente dedicado ao Coração de Jesus, que ela partiu para o céu.

Com a falta da visão, passou por muitos sofrimentos, pois não podia mais ter tantas atividades como antes, nem mesmo para os seus bonitos trabalhos artesanais que fazia, em geral, para fins caritativos. Aproveitava agora o tempo para rezar mais e dar carinhosa atenção a todos que a visitavam. Eram ultimamente, vários rosários rezados a cada dia. Estou convencido de que Nosso Senhor lhe privou da vista na terra para que a luz do eterno lar lhe encantasse ainda mais.

 

Viveu para Deus, para a Igreja e para a família. Para criar seus filhos, ao lado de meu saudoso pai, teve que passar por momentos difíceis, vividos no silencio e na oração, inclusive com provações financeiras. Porém conseguiram os dois formar a todos, e a todos encaminhar para situação profissional melhor que a deles e deixa os todos católicos fervorosos. Como mulher de Deus, se mostrava sempre agradecida por lhe ter dado dois filhos sacerdotes, e era feliz por ver um neto a caminho do altar, no Seminário da Arquidiocese de Belo Horizonte. Pedia a Deus, se fosse de sua santa vontade, a graça de assistir sua ordenação, porém o Eterno e Sumo Sacerdote a quis na festa do céu, antes que chegasse aquele dia na terra. De lá o verá!

 

Somos muito gratos a todos quantos estão se fazendo presentes junto a nós nesta hora de dor, mas também de celebração pascal, certos da ressurreição, pois não temos aqui cidade permanente, mas vamos firmes em busca da futura.

 

Obrigado, Senhor pela mãe que nos destes e que agora recebestes em seu santuário de eterna luz, para que um dia a encontremos entre os coros celestes, com Maria, os Santos e os Anjos, na festa da vida que nunca mais acaba, a nossa Páscoa definitiva e feliz.

 

 

 

 

 

DOM GIL ANTÔNIO MOREIRA

Arcebispo Metropolitano de Juiz de Fora.



publicado por Luso-brasileiro às 11:24
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JOÃO CARLOS MARTINELLI - ELEIÇÕES 2014 - BONS CANDIDATOS DEVEM SER PRIVILEGIADOS

 

 

 

 

 

 

 

 

 

 

Aproximam-se as eleições no Brasil e que se constituem num evento de suma relevância já que outorgam aos cidadãos a possibilidade de exercerem o direito ao voto, que embora obrigatório em nosso país, revela-se no instrumento mais eficaz ao aperfeiçoamento democrático de nossas instituições. Através dele, podemos escolher nossos governantes e legisladores, razão pela qual passamos a compartilhar de seus atos, pois os eleitos representam a partir da diplomação, a totalidade dos eleitores e não apenas aqueles que sufragaram seus nomes.

 

É preciso conscientizar candidatos e eleitores de que o compromisso da ética na política é um dever de todos e um passo fundamental à conquista da verdadeira democracia. Infelizmente, prevalece em nossos dias uma rejeição sistemática à figura do político, independentemente de partidos ou tendências ideológicas. Essa indiferença, no entanto, tende a se reverte em prejuízo à própria população, já que a política exerce absoluta influência e controle sobre os mais variados setores sociais. Constitui-se no palco e na arte do poder e este, num regime democrático, é conferido pelo povo através do voto, daí a responsabilidade de todos nas eleições.

 

            Nesse aspecto, invoquemos saudoso Dom Lucas Moreira Neves, que foi presidente da CNBB:- “Para ser verdadeiro instrumento, e não mero rito de uma cidadania não formal e aparente, mas substancial e eficaz, as eleições têm de ser um ato de tremenda responsabilidade. Responsabilidade de quem as organiza, estabelece suas normas, vigia para que sejam respeitadas, impede as transgressões e as injustiças. Responsabilidades dos que se propõem ao voto dos concidadãos para serem eleitos. Responsabilidade dos que se dão seu voto para não fazerem dele objeto de barganha ou de compra-venda; para não o dar a pessoa erradas, coonestando com ele jogos de interesses e de corrupção; para não o invalidar nem o omitir, o que significaria premiar os desonestos (“O Estado de São Paulo”, 28/09/94 – pág. 2).

 

            Já se disse que é penoso não ter cidadania quando ela é negada. Mais penoso, é abrir mão dela por culpa própria. Deixemos a omissão de lado e lutemos para que os bons candidatos, àqueles que tenham sensibilidade para procurarem no âmbito de sua competência, amenizarem os desacertos sociais, sejam privilegiados nas próximas eleições.

                                                                                                                                           

             Por outro lado, é na possibilidade da alternância no poder que se baseia a construção da democracia. Cabe às organizações partidárias, na situação ou na oposição, serem absolutamente subordinadas à lei, respeitarem as regras do jogo e interpretarem adequadamente o mandato que recebem nas eleições. Os partidos não são o governo, são apenas os instrumentos legais para propor à sociedade, alternativas de administração e para buscar conquistá-las. Escolhidos por votação, os governantes são delegados de uma maioria, mas devem governar à totalidade.  Por isso, dos homens públicos, exige-se neste momento, dedicação, coragem e transparência em seus procedimentos; da opinião pública, a necessária vigilância sobre os mesmos,  seus compromissos e, especialmente, avaliação do grau de sua inércia  no desmonte de estruturas autoritárias e corruptas criadas muitas vezes, no próprio meio de que participam. A questão é menos de ideologia e mais de atuação efetiva, respeitando-se o Estado democrático de direito.

 

            Na verdade, o poder somente deveria servir para seu detentor se sentir capaz de realizar os ideais que em alguns corações, ainda resistem. O resto acaba, com o tempo, sepultado no túmulo inevitável para onde vão as vaidades e orgulhos humanos. No momento em que as pessoas tiverem consciência dessa verdade, a política não será o rotineiro lamaçal no qual um ano eleitoral acaba chafurdando.

Reitere-se que, quanto menor politicamente for a modernidade de  uma sociedade, maior é o nível de contaminação da atividade pública por grupos de interesses e personalismos espúrios. No Congresso brasileiro, sem partidos autênticos, programas coerentes ou fidelidade partidária, não são poucos os parlamentares que trocaram a luta por reformas abstratas que beneficiarão gerações futuras pelo garimpo de benefícios paroquiais e vantagens pessoais.  Há limites, porém, que não podem ser ultrapassados, sob pena de se reduzir a negociação política a um bazar de cargos e favores. Assim acontece quando a pressão econômica controla as agremiações partidárias, decide sobre o recrutamento de seus militantes e o tipo de diligência conveniente às bancadas. Ou quando segmentos corruptos abastardam os negócios públicos traficando mandatos e leiloando apoios.

 

 

 

           

JOÃO CARLOS JOSÉ MARTINELLI é advogado, jornalista, escritor e professor universitário (martinelliadv@hotmail.com)



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CINTHYA NUNES VIEIRA DA SILVA - MEU IPÊ AMARELO

 

 

 

 

 

 

 

            Há seis anos eu me mudei para casa onde atualmente moro, na cidade de São Paulo. Na frente de casa, um velho pé de ipê que, de acordo com o então dono da casa, era amarelo.  Gosto muito de plantas, sobretudo daquelas que dão belas flores. Quando eu soube que se tratava de um ipê, fiquei feliz, imaginando-o repleto de flores, daquelas que, ao cair, transformam o chão em um lindo tapete colorido.

 

            Meu amigo, de quem vim a comprar a casa anos depois, avisou-me para não criar muitas expectativas, pois a referida árvore já era velha e nunca dera muitas flores, ao contrário de outras suas irmãs, habitantes do mesmo quarteirão e até da mesma rua. Embora a notícia tivesse me frustrado, alimentei a esperança de que eu poderia cuidar da árvore para que ela me presenteasse com suas flores.

 

 

 

 

 

            Nos anos seguintes, de fato, meu ipê chegou a florir com mais vigor apenas uma vez e, nas demais, foram apenas flores muito tímidas, como se ele estivesse sem vontade, ou cansado. Tentei de tudo, desde adubos orgânicos, até fórmulas mais complexas, mas nada foi capaz de despertar nele algum desejo que se fizesse aparente em flores.

 

            Não consigo, entretanto, associar nenhum cuidado especial ao ano em que ele resolveu florir em abundância. Simplesmente floriu, uma, duas e três vezes seguidas. Considerei como uma mensagem de agradecimento, como um modo de mostrar que ele era capaz de muito ainda, caso quisesse.

 

            Nesse presente ano, contudo, vi os ipês da região perderem as folhas, encherem-se de botões, novas flores e minha árvore sequer com qualquer sinal de seguir o mesmo caminho. Admirei as três intensas floradas de um majestoso ipê branco de uma rua ao lado, passeei sobre ruas douradas de flores deitadas ao vento, bem como vi árvores tão jovens, que poderiam estar no jardim de infância das plantas, já se exibindo, enfeitadas de adereços cor de sol.

 

            Eu já estava me conformando, certa de que minha árvore não iria mais florir e que terminaria seus dias no asilo dos meus cuidados, na “maior idade” de suas raízes e galhos enrugados. Ouvi, até, de uma vizinha que implicava com todas as árvores da rua, dizer para outra, igualmente implicante e chata, que minha árvore não tinha dado um mísero botão, embora fosse um ipê. Entre os mil motivos que eu já tinha para não morrer de amores pela referida senhora, acrescia-se agora o fato de falar mal do meu pé de ipê.

 

            Um dia, assim, ao pé dele, abri o jogo e disse que se ele não quisesse nunca mais florir, tudo bem, seria uma decisão dele. Se não houvessem mais flores, sempre haveriam as folhas e os galhos, a fazer sombra e servir de pouso para o sabiá laranjeira que vive na redondeza. Deixei claro que a opinião daquela mulher não me importava e que ele vivesse como bem quisesse.

 

            Há uma semana, entretanto, descobri que a tal vizinha se mudara, meio que sem se despedir de ninguém, para outro local da cidade. Fiquei surpresa porque ela alardeava aos quatro cantos que só seria levada dali quando estivesse morta. Como ela não morrera, meu sentimento seguinte foi de alívio, pois para mim ela já se fora tarde para outra freguesia.

 

            Quatro dias depois dessa notícia, vi um ponto amarelo em meio aos galhos do meu ipê, apenas para descobrir que não era um apenas, mas vários, bem como muitos botões que se formaram em tempo recorde. De fato, em casa, todos, sem exceção, comemoram a mudança e meu ipê, no fim das contas, além de beleza, mostrou que florir por último, às vezes, é florir melhor...

 

 

 

CINTHYA NUNES VIEIRA DA SILVA -  Advogada, mestra em Direito, professora universitária e escritora   -  São Paulo.

 

 



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RENATA IACOVINO - ANGÚSTIA FORA DE MODA

 

 

 

 

 

 

 

 

 

 

            Em conversas aqui e ali, menos superficiais, com amigos, conhecidos e colegas, tem ocorrido de forma constante o pedido de desculpas quando o tom destas acaba se encaminhando para lamentações, angústias, desabafos...

 

            Parece que tais colocações se transformaram em algo proibido, em manifestações fora do contexto.

 

            Isto sempre me surpreende, pois considero esse diálogo, imbuído de desabafo, fundamental, aliás, vital!

 

            O problema é que estamos em busca de perder o sentimento de não ser feliz. E creio que o problema maior é tentarmos, em vão, varrermos tal atitude para debaixo do tapete, pois a sujeira se acumula, não vai embora...

 

            Concordo que certas manifestações são difíceis de verbalizar; outras, complicadas de expressar; e outras, quase impossíveis de serem colocadas à mostra.

 

            No entanto, por outro lado, se sufocarmos nossa verdade, correremos em direção contrária a nós mesmos, fugindo daquilo que nos incomoda, sem dar vazão a algo que necessita escapar.

 

            Não que falar com amigos, conhecidos ou colegas, resolva o sufoco. Mas por vezes pode aliviá-lo e nos deixar mais próximos de uma estrada menos obscura.

 

            Afinal, em uma realidade que nos exige a velocidade, que nos incute o vício de não prestarmos atenção mais atentamente ao derredor e que nos exige vestir uma máscara a cada circunstância... é natural que nos sintamos acuados e tendamos a seguir o fluxo.

 

            Pouquinho tempo atrás (para não me sentir uma anciã) as pessoas se relacionavam com pessoas. Hoje, nosso contato é com o mundo virtual (mesmo que atrás dele haja uma pessoa), com marcas e modelos, com o que a moda dita, com o que a publicidade nos coloca como necessariamente consumível.

 

            Estamos à mercê da inutilidade, da ausência de palavras que sejam ouvidas e lidas verdadeiramente, da superficialidade que modificou o cotidiano e da famigerada ausência de tempo.

 

            Por vezes nos encontramos à beira de não suportar conviver com os outros, porém, isto se reverte em sorrisos ou mensagens falsas, frias, como que para compensar a coragem comodamente adormecida em algum âmago amargurado. 

 

            Nosso interlocutor é o medo travestido de felicidade e quando pensamos estar dialogando, estamos, talvez, num monólogo vicioso, sufocando o que poderia ecoar, rejeitando a oportunidade de viver com as dores inerentes a tal processo.

 

 

 

 

Renata Iacovino, escritora, poetisa e cantora / reiacovino.blog.uol.com.br /

reval.nafoto.net / reiacovino@uol.com.br



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MARIA CRISTINA CASTILHO DE ANDRADE - ABUSO SEXUAL

 

 

 

 

 

 

 

 

O abuso sexual é uma perversidade. E existe, na minha concepção, mais de um tipo de abusador. Há os com desequilíbrios mentais aparentes, do quais, quase sempre, é possível se proteger; há os com perda das faculdades psicológicas pouco visíveis e os com desvio de caráter, conscientes de seus atos. Os últimos possuem uma grande chance de procurar ajuda, a fim de tratar o que é condenável e machuca as pessoas por toda a vida. Por que será que não o fazem, antes de macular o abusado?

 

Esse é um assunto que me afeta e me interessa, como educadora e há mais de três décadas no contato com mulheres que passaram, em situação ou em risco de prostituição ou que vieram de outras vivências de vulnerabilidade social. Pelo menos 76% delas foram abusadas na infância ou no início da adolescência e, a partir disso, empurradas para uma vida sexual promíscua. Conservam feridas inflamadas no coração.

 

Sabe-se que entre o abusador e o abusado se estabelece uma relação de poder e escárnio. O abusador, de maneira sutil, afora ameaças, faz com que sua “presa” se considere culpada do que acontece e inferior às pessoas de seu convívio.  O silêncio é comprado pelo medo induzido.  E é preciso ter clareza de que não se pode proteger quem tem nome ou poder, ou os dois, em prejuízo dos anônimos sociais.

 

Foi o próprio Jesus Cristo que falou: “Guardai-vos de menosprezar um só destes pequenos, porque eu vos digo que seus anjos no céu contemplam sem cessar a face de meu Pai que está nos céus” (Mt 18, 10).

 

Dentre as consequências, além da possibilidade do abusado se tornar um abusador, ao chegar à adolescência, com os hormônios em ebulição, não vê motivo para deter a sexualidade como energia selvagem, perdendo o domínio sobre o corpo.  E quem perde o domínio sobre o corpo, para assoprar as dores, usa de subterfúgios que o penalizam mais, como o consumo de drogas lícitas e ilícitas e até o caminho da crueldade.

 

Meu pai teve uma irmãzinha que nasceu muito fraca e se tornou anjo de Deus aos seis meses. Meu avô, que era da poesia, entristecido, colocou em seu túmulo uma placa com os versos: “Ternura, graça e inocência/ Depositadas aqui./ Terra não peses sobre ela,/ Pois não pesou sobre ti”.

Tenho esperança em uma humanidade melhor, em que corpo adulto algum pese no corpo de crianças e a inocência seja defendida e preservada.

 

 

 

 

MARIA CRISTINA CASTILHO DE ANDRADE - É coordenadora diocesana da Pastoral da Mulher – Santa Maria Madalena/ Magdala. Jundiaí, Brasil.



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PAULO ROBERTO LABEGALINI - O CAMINHO PARA O CÉU

 

 

 

 

 

 

 

 

Quando alguém especial aparece em nossa vida e nos convida para fazer o cursilho, é sorte? E quando um tratamento de saúde nos leva à cura, também é sorte ou é mais competência médica? O que dizer então do ar que respiramos, dos alimentos que comemos, da fé que temos, da família que nos cerca... Na verdade, tudo é graça!

 

Algumas pessoas aproveitam as oportunidades que aparecem para melhorar de vida. Isso acontece, principalmente, porque acreditam na providência Divina, que tarda, mas não falta. Outros seres humanos preferem desprezar a mão de Deus e nem agradecem as graças que recebem.

 

Em 22 de fevereiro de 1931 – quando minha mãe completava dois anos de vida –, no quarto de um convento na Polônia, Irmã Faustina viu Nosso Senhor vestido de branco e, da túnica entreaberta sobre o peito, saíam dois grandes raios: um vermelho e outro branco. Jesus lhe disse: “Pinta uma imagem de acordo com o modelo que estás vendo, com a inscrição: ‘Jesus, eu confio em Vós’. Por meio dessa imagem, concederei muitas graças às almas”.

 

Eis as promessas a quem confiar na Sua misericórdia: salvação eterna, grandes progressos no caminho da perfeição, graça de uma morte feliz e outros dons que a Ele suplicarem. Para ter direito a isto, Jesus ressaltou que precisamos confiar na Sua bondade, dedicar amor ativo ao próximo e perseverar no estado de graça santificante – confissão e comunhão. Em especial, na Festa da Misericórdia – primeiro domingo depois da Páscoa –, Ele citou a última tábua de salvação aos pecadores: “Se não venerarem a Minha misericórdia, perecerão por toda a eternidade”.

 

E as promessas vão além: “Quando recitam o Terço da Misericórdia junto a um agonizante, aplaca-se a ira de Deus e a misericórdia insondável envolve a alma. Pela recitação desse Terço, aproximas a humanidade de Mim. O Meu amor não engana ninguém”.

 

No livro ‘Diário – A Misericórdia Divina na minha alma’, a Irmã Faustina confessou como conseguiu intimidade com o Senhor: “Foi Nossa Senhora que me ensinou a amar Deus interiormente e em tudo cumprir a Sua santa vontade. O amor suporta tudo, o amor vencerá a morte, o amor não teme nada. Sois alegria, ó Maria, porque por Vós Deus desceu à Terra e ao meu coração”.

 

E que lindo este ensinamento de Jesus, citado no mesmo livro: “Procura fazer com que todo aquele que se encontrar contigo se despeça feliz. Cria à tua volta uma atmosfera de felicidade, porque tu recebeste muito de Deus, e por isso dá muito aos outros”. A isto também a santa cumpriu fielmente, mesmo tendo sofrido muito nos 33 anos que viveu. Deixou esta certeza: “O sofrimento é uma graça. Pelo sofrimento, a alma assemelha-se ao Salvador; no sofrimento, cristaliza-se o amor. Quanto maior o sofrimento, tanto mais puro torna-se o amor”.

 

Portanto, nada é azar e nem puramente sorte, pois Santa Faustina ainda escreveu: “A graça que é destinada para mim nesta hora, não se repetirá na hora seguinte”. E quem leu o Diário, sabe de mais esta promessa: “As almas que divulgam o culto da Minha misericórdia, Eu as defendo por toda a vida como uma terna mãe defende seu filhinho; e, na hora da morte, não serei Juiz para elas, mas sim o Salvador Misericordioso” (Jesus Cristo).

 

Esta história a seguir ajuda a refletir nos pecados que nos afastam da misericórdia Divina:

Seis pessoas escalavam uma grande montanha gelada quando perceberam que haveria uma avalanche de neve. Rapidamente correram para dentro de uma caverna e se protegeram, mas a saída ficou totalmente bloqueada e não poderiam sair até chegar o resgate. Com o frio intenso e em meio à escuridão completa, um dos alpinistas resolveu acender uma fogueira com a lenha que levava. E, por algum tempo, o fogo os esquentou e aliviou seus sofrimentos.

 

Mais tarde, vendo a fogueira se apagando, o jovem que queimou sua lenha propôs aos companheiros que fizessem o mesmo, já que todos levavam um feixe consigo. Infelizmente, a misericórdia não estava presente no coração deles porque só havia espaço para o pecado. Um cultivava o ódio; o outro, o egoísmo, o outro, o racismo; o mais velho era invejoso; e, o último, avarento.

 

Então, quando pessoas do socorro chegaram, encontraram todos mortos, abraçados aos feixes de lenha. Concluíram que não fora o frio de fora que os matou, mas o frio que havia dentro dos corações. Ah, aquele que doou tudo o que tinha para fazer a fogueira, morreu sem lenha nas mãos, mas com um sorriso no rosto. Você sabe por quê?

 

Ele era uma pessoa de fé, que perdoava, que falava da esperança em alcançar a vida eterna, que acreditava no amor infinito do Pai e, por tudo isso, tinha compaixão dos irmãos. Nem é preciso imaginar qual deles se salvou, não é mesmo?

 

Quem ama a Deus na pessoa do próximo não se desvia do caminho misericordioso que nos leva ao Céu.

 

 

 

PAULO ROBERTO LABEGALINI -    Escritor católico, Professor Doutor da Universidade Federal de Itajubá-MG. Pró-reitor de Cultura e Extensão Universitária da UNIFEI.



publicado por Luso-brasileiro às 10:57
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