PAZ - Blogue luso-brasileiro
Quarta-feira, 26 de Novembro de 2014
MARIA CRISTINA CASTILHO DE ANDRADE - ALQUIMIA

Revelado o que acontecia com a menina, tenta-se a prática da alquimia em suas emoções. Dois anos de abuso sexual não lhe marcaram em definitivo o corpo, contudo inocularam em seus sentimentos: desprezo, arrogância, covardia, insensibilidade, instintos torpes.
Ao desfazer, aos poucos, os nós de seus desarranjos interiores, ela traduz em símbolos como foi essa história triste, com a qual não tinha maturidade para lidar, coragem para denunciar...
Seus desenhos são cinza. Acalca o lápis. Luto. A chácara, à primeira vista com encantos, quebrou-se ao meio. A piscina, pela sujeira, perdeu o azulado das águas. O homem, que injetou, nela e em outras crianças, o veneno que abala os sentimentos, foi o responsável por macular sua infância e emporcalhar as águas límpidas. Afastado do convívio social, diminuíram os temores daquelas que suas garras atingiam, contudo não se recuperou a festa no coração. A menina brinca com coisas de sua idade, mas as lembranças estancam a pureza dos folguedos. Na gravura, existem, ainda, abelhas maceradas. Explica que o homem-abusador pisava nelas. A “casinha” das abelhas está vazia e os favos murchos. Fim da doçura vinda da florada dos laranjais. Esvaziou-se a meiguice de seus sonhos infantis. Teima-se, no exercício da alquimia, em sublimar seu interior.
A outra, que passou por situação semelhante, já é moça feita. Faz pouco tempo revelou o que acontecera a partir de seus oito anos. Era a tristeza que líamos em seus olhos e a perturbação de sua mente. Não houve denúncia, o inescrupuloso permaneceu nas cercanias e ela não foi tratada. Hoje, se apega à transcendência para curar as feridas. Recentemente, participou, pela primeira vez, da Missa na capela do Carmelo São José. Chorou muito por sentir lá algo diverso do que o mundo fez com ela e lhe propôs e, também, pela forma com que foi recebida pelas Monjas. Percebeu-se única e de importância aos olhos do Eterno. Relê os versos da música cantada na Missa: “Argila eu sou, dos anjos bem distante:/ vieste buscar os fracos, não os sãos./ Tua graça em mim me ergue a cada instante,/ eu posso, então, viver do Teu amor!” Poema de Santa Teresinha.
A denúncia, a aplicação da lei, o tratamento de quem foi abusado e do abusador são importantes, mas creio que restabelecer o sabor e o aroma do néctar da flor de laranjeira é façanha do Céu.
MARIA CRISTINA CASTILHO DE ANDRADE - Professora e cronista. Coordenadora diocesana da Pastoral da Mulher – Santa Maria Madalena/ Magdala. Jundiaí, Brasil.
CINTHYA NUNES VIEIRA DA SILVA - MEUS TIPOS INESQUECIVEIS - PARTE 4

Desde que comecei a escrever sobre pessoas que em minha vida se destacaram por alguma característica única ou por algum especial momento compartilhado, passei a ter uns lampejos bem interessantes de memória, com o resgate de lembranças que estavam entre aquelas que não consigo acessar facilmente, no momento em que as desejo.
Sei que há pessoas que, embora sejam raríssimos os casos no mundo, que jamais se esquecem de cada minuto vivido. Ao contrário disso ser uma dádiva, ao que me parece, pelo que li, é quase um castigo, já que não se esquecer de nada não implica apenas lembrar do que se quer lembrar, mas nunca se esquecer daquilo que doeu, que magoou. Eu gostaria, apenas, de poder me lembrar de todas as pessoas interessantes que conheci e dos momentos felizes que vivi, eis que muitas lembranças, apenas minhas, não podem ser resgatadas por mais ninguém, mas a memória não funciona dessa forma.
Creio inclusive que seja por isso que resolvi escrever sobre algumas dessas pessoas, mas até pela impossibilidade de prosseguir nesse tema eternamente, optei por fazer um “pout porri”, um apanhado, como uma singela recordação que meu coração e minha memória fazem a pessoas que conheci nessas minhas décadas de vida. Faço isso sem nenhuma ordem de importância ou mesmo cronológica, exceto pela forma que começam a me “visitar” nesse momento.
Bate à porta, agora, Seu Sebastião. Vendedor de orquídeas, eu o conheci na cidade de Araras, apresentado por uma amiga em comum, Dona Therezinha, igualmente uma amante de flores. Comecei comprando uma e, quando vi, de tempos em tempos ele aparecia em casa com alguma flor especial, pela qual eu me derretia em segundos. Até parcelamento de flores eu fiz, rs... Estive na casa dele algumas vezes e nas visitas ao orquidário que ele mantinha, eu enchia meus olhos de cores e formas e ouvia atentamente sobre todas as dicas de cultivo. Lembro-me do sorriso tímido do Seu Sebastião e, quando ele se foi, senti a morte de um amigo. Perdi muitas das plantas que comprei dele, pois uma praga as atingiu e eu não tinha mais a quem perguntar como cuidar delas. Uma, entretanto, a Sebastiana, floriu esse ano e foi impossível deixar de me lembrar de um tempo agora já distante.
Deixo seu Sebastião a contemplar as flores de minha memória e vejo o Seu Euclides, também um ararense. Um dia eu recebi uma ligação e era o Seu Euclides, que editava o jornal da Matriz, convidando-me a colaborar. De início eu fiquei sem saber se poderia escrever sobre temas religiosos, mas aceitei o desafio e, mês a mês ele me passava uma incumbência especifica. Seguimos assim durante uns dois ou três anos. Passei a frequentar a casa dele e logo eu era conhecida não apenas da esposa dele, Dona Terezinha, como também do cachorro deles, um “salsicha” muito louco. Cerca de uns quarenta nos separavam cronologicamente, mas isso não foi obstáculo para uma amizade que surgiu através da literatura. Mudei-me para São Paulo mas continuei visitando a família, até que um dia eu soube que ele morrera. Continuei em contato com a viúva, por telefone e pessoalmente, até que um dia, liguei e ela não foi capaz de me reconhecer ou escutar. Triste, entendi que um ponto se colocara à revelia das vontades e da amizade...
Ainda de Araras, para ficar geograficamente no mesmo lugar, vejo uma mulher que se aproxima, com um sorriso no rosto, voltando das minhas memórias. Negra, gordinha, já passada, creio, dos sessenta anos, Dona Nega, como a chamávamos, fazia orações e benzia as pessoas. Muitas foram as vezes em que a fui visitar e lá fiquei, na varanda da casa dela, por horas, batendo papo sobre a vida e recebendo uma oração. Era reconfortante e ela parecia que adivinhava quando algo não estava bem, pois fazia a pergunta exata, assim como quem não quer nada ou pergunta sobre o tempo. A casa dela, humilde, sempre tinha aquele cheiro de café que marca inexplicável e maravilhosamente alguns lares. No pequeno quintal, havia plantas e flores e agora me recordo de um bulbo que ela me presenteou, dizendo que só nascia de vez em quando e que, se florescesse seria quase um milagre... Plantei o meu imediatamente e o namorei até que, uma única vez, ele floriu.
Com minha alma cheia de lembranças, faço um aceno aos meus amigos e despeço-me deles novamente, até que, algum outro dia, a memória os chame para perto. Seu Sebastião, Seu Euclides e Dona Nega são mais alguns entre meus tipos inesquecíveis...
CINTHYA NUNES VIEIRA DA SILVA - Advogada, mestra em Direito, professora universitária e escritora - São Paulo.
Terça-feira, 25 de Novembro de 2014
ARMANDO ALEXANDRE DOS SANTOS - CINEMA EM SALAS DE AULA

Participei de um fórum fascinante, juntamente com amigos e colegas, sobre a possibilidade de utilização do cinema como recurso pedagógico, em salas de aula. A certa altura, tivemos que responder por escrito a três perguntas.
Aqui vão elas transcritas, juntamente com as respostas que dei. Acredito que possam ser de utilidade para algum leitor cinéfilo.
1. a) O que o cinema significa para você?
2 O cinema, enquanto arte, tem enorme significado para mim. Assisti a incontáveis filmes na infância e na adolescência.
Aprecio sobretudo alguns gêneros de filmes:
1) os históricos, que apresentam retratos de épocas passadas;
2) os que contêm problemas filosóficos, psicológicos ou existenciais profundos;
3) os que envolvem discussões em tribunais de júri, debates entre advogados etc.
4) aqueles que retratam a história de um grupo familiar, num recorte de larga duração, abarcando várias gerações.
Não me agradam os filmes chamados “de ação”, policiais, com tiroteios, perseguições malucas de automóveis, ou de ficção científica. De modo geral, aprecio mais os filmes europeus (italianos e franceses, sobretudo) do que os filmes norte-americanos.
.1. b) Tente se lembrar de sua adolescência e infância, como o cinema influenciava sua vida?
2 O cinema, assim como a leitura, marcaram muito a minha infância e adolescência. Fui leitor voraz, a ponto de, aos 13 anos de idade, ter relacionado por escrito, de memória, todos os livros, de todos os gêneros, que até então havia lido. O número chegou a 300...
Também via muitos filmes, geralmente 4 por semana, sempre que a programação do cinema perto de casa (onde eu tinha entrada gratuita, já que o gerente era meio parente meu) permitisse a presença de meninos da minha idade.
Para mim, os livros e o cinema constituíam meios alternativos para emergir no passado, numa outra dimensão que me parecia incomparavelmente mais fascinante do que o presente. Como nasci em 1954, ainda assisti a incontáveis filmes em branco e preto e testemunhei a chegada dos primeiros coloridos.
Na infância e na adolescência, como eu ainda não tinha maturidade para entender filmes de conteúdo mais filosófico, o que mais me atraía eram os filmes históricos sobre a Antiguidade Greco-romana. Eu ficava, entretanto, furioso porque via que, frequentemente, os filmes modificavam os fatos que eu já tinha lido, alteravam-nos à vontade para favorecer um enredo hollywoodiano. Eu era muito criança, mas acho que foi naquela fase que começou meu senso crítico que só aumentou com a idade...
É claro que, naquela jovem idade, eu não tinha condições de compreender, nem de longe, todo o alcance filosófico das duas epopéias de Homero, ou a ele atribuídas. Isso, só com a idade fui alcançando compreender. Bem mais tarde, em contato com os textos originais de Homero (em traduções, claro!) e, recentemente, lendo outros livros que me marcaram muito (especialmente "A cidade antiga", de Fustel de Coulanges) e vendo ─ ou revendo ─ filmes novos ou antigos sobre aquela época (Tróia, Alexandre, Os 300 de Esparta etc.) é que me dou conta de como, sem sentir, aquelas leituras da infância me marcaram.
De fato, compreendo agora que a Ilíada e a Odisséia significaram muito na minha vida, como podem significar na vida de quaisquer outras pessoas.
1. c) Que filmes (possivelmente) marcaram sua vida?
2 É um pouco difícil relacionar. Apenas para recordar alguns, destaco, entre os de cunho histórico, El-Cid, Coração Valente, Patriota, Ben-Hur, O Leopardo; entre os que apresentam problemas filosóficos ou psicológicos, Doze Homens e uma Sentença, O Mistério do Rosário Negro etc.; entre os que mostram o histórico de várias gerações de uma família, O Poderoso Chefão.
ARMANDO ALEXANDRE DOS SANTOS - Jornalista profissional, historiador, membro do Instituto
Histórico e Geográfico Brasileiro.
JOÃO CARLOS MARTINELLI - DIA NACIONAL DA AÇÃO DE GRAÇAS

Visando ressaltar a importância da gratidão, celebra-se de forma ecumênica, na última quinta-feira do mês de novembro, o DIA NACIONAL DE AÇÃO DE GRAÇAS. Ele se originou do “Thanksgiving Day”, uma tradicional festa americana que surgiu quando um grupo de colonizadores ingleses chegou em Plymout, Massachussets, nos Estados Unidos no outono de 1620, após ter passado fome e frio. Pelo fato de terem sobrevivido na nova terra, os imigrantes organizaram um jantar em agradecimento a Deus, convidando alguns índios com os quais mantiveram relacionamento amistoso para participarem do evento. Tal confraternização iniciou essa comemoração, que já tem centenas de anos, tendo os nativos, em 1621, levado perus selvagens, razão da existência de alguns pratos típicos até hoje servidos nesta data: salada de verduras cruas e sopa de abóbora, sendo o prato principal, o peru recheado e uma farofa preparada com o molho de cozimento da ave, acompanhada de pão de milho, ovos, cebola, aipo e um preparado especial feito com uma frutinha parecida com amora, o “cramberry sauce”. Mais do que o Natal, o “Thanksgiving”é o grande feriado de congraçamento dos EUA, ocasião em que os filhos que moram longe voltam para casa para estar com os pais e os aeroportos batem recordes de movimento. E diante dos trágicos acontecimentos do dia onze de setembro, neste ano provavelmente as solenidades deverão alcançar proporções inimagináveis.
No Brasil, essa festividade foi instituída em 16 de agosto de 1949 pelo presidente Eurico Gaspar Dutra, e regulamentado em 1966. Internacionalmente, coube ao diplomata brasileiro, Joaquim Nabuco sua concepção. Assistindo com o corpo diplomático à missa de ação de graças na Catedral de São Patrício, em Washington em 1909, fez um apelo profético:- “ Eu quisera que toda a humanidade se unisse anualmente, num mesmo dia, para um agradecimento universal a Deus”. E assim, um dia especial no ano, reservado para dar graças, acabou demonstrando não só a necessidade de agradecer continuamente ao Senhor da Vida, mas também se revelou num convite para se cultivar o sentimento de gratidão no relacionamento fraterno, alcançando apoio geral e sendo destacado por diversas religiões.
No entanto, são inúmeras as críticas às celebrações desta natureza, principalmente em nosso país, já que seus detratores entendem que elas copiam tradições norte-americanas, absolutamente distantes de nossa realidade. Nessa trilha, invocamos o jornalista Paulo Sotero:- “A história de como o Thanksgiving americano faz o governo brasileiro ir à missa ilustra um dos aspectos mais ridículos da compulsão atávica de nossa caboclíssima elite nacional de emular hábitos estrangeiros que não compreende, ao mesmo tempo em que mantém o País cada dia mais distante e isolado do resto do mundo, resistindo à estabilização da economia e às mudanças estruturais que prejudicam seus interesses e boa vida” ( “O Estado de São Paulo”- 25.11.93- pág.02).
A nosso ver, a comemoração não deve se restringir exclusivamente às suas origens, negando lhe validade por ter nascido num país imperialista e nitidamente prepotente, mas concebe-la num sentido abrangente, em nível espiritual, capaz de anular preconceitos, derrubar barreiras, aproximar os indivíduos, fazendo-os sentir-se filhos do mesmo pai que faz o sol nascer e brilhar para todos, sem acepção de pessoa. Vale transcrevermos parte do texto de matéria sobre a data, publicado pela revista “Família Cristã” (11/93- pág.42):- “Em nossa sociedade, dominada pelo egoísmo e pela ganância, parece que o sentimento de gratidão não encontra mais espaço no coração humano. É preciso resgatar este sentimento como uma forma simples de acreditar no valor da vida, na importância da amizade, na esperança de que é possível superar a fome, o desemprego, a violência. Hoje, mais do que nunca é fundamental resgatar a lei do amor e da gratidão a Deus por seus gestos de pai, no relacionamento fraterno, introduzir as pessoas no delicado mistério do ‘muito obrigado’( os grifos são nossos) ”.
DIA DA NÃO-VIOLÊNCIA CONTRA A MULHER
Vinte e cinco de novembro foi declarado em 1999 pela Organização das Nações Unidas (ONU), o “DIA INTERNACIONAL DA NÃO-VIOLÊNCIA CONTRA AS MULHERES”, visando pregar o ativismo contra as agressões às pessoas do sexo feminino. Um tipo de violência, que não a física, mas também comum, é a que nega à mulher direito de participação ativa na sociedade, impedindo-a de realizar-se plenamente como ser humano. Neste aspecto, ressalte-se que o Brasil caiu nove posições e atingiu o 82 º lugar no ranking de desigualdade entre homens e mulheres no mundo, segundo relatório do Índice Global de Desigualdade de Gêneros 2009, do Bando Mundial e que considera critérios de participação econômica, oportunidades profissionais, participação política, acesso à educação e saúde e mortalidade. A pesquisa foi efetivada em cento e trinta e quatro países, sendo a Islândia a nação com menor índice de reprovação neste setor em todo o mundo. Assim, a data que se avizinha é de suma relevância, já que precisamos lutar com obstinação pela construção de uma sociedade mais justa, na qual homens e mulheres possam viver, com respeito e amor, as suas desigualdades sexuais.
JOÃO CARLOS JOSÉ MARTINELLI é advogado, jornalista, escritor e professor universitário (martinelliadv@hotmail.com).
Segunda-feira, 24 de Novembro de 2014
FELIPE AQUINO - POR QUE DAR ESMOLAS ?

Entre os “remédios contra o pecado”, a Igreja coloca além do jejum e da oração, a esmola.
Há ervas daninhas que crescem no jardim de nossa alma e que têm raízes profundas e por isso, são difíceis de serem arrancadas. A esmola é uma das formas de eliminá-las.
Um dos piores pecados é a ganância ou avareza; é o apego desordenado ao dinheiro e aos bens desse mundo. O avarento está pronto a deixar até a própria vida, mas não os seus bens. São Paulo classifica a avareza como idolatria: “Mortificai, pois, os vossos membros terrenos: fornicação, impureza, paixões, desejos maus, cupidez e a avareza, que é idolatria” (Cl 3,5). “Porque sabei-o bem: nenhum dissoluto, ou impuro, ou avarento – verdadeiros idólatras ! – terão herança no reino de Cristo e de Deus” (Ef 5,5).
A razão do Apóstolo ver como idolatria o apego aos bens materiais, sobretudo ao dinheiro, é que isto faz a pessoa amá-lo como a um deus. Torna-se escrava da riqueza, e no seu altar queima um incenso perigoso.
Desde o princípio Jesus alertou, os discípulos para este perigo, já no Sermão da Montanha: “Ninguém pode servir a dois senhores, porque ou odiará a um e amará o outro, ou dedica-se a um e desprezará o outro. Não podeis servi a Deus e a riqueza” (Mt 6,24).
O que importa é que a pessoa não seja escrava do dinheiro e dos bens. É claro que todos nós precisamos do dinheiro; o próprio Jesus tinha um “tesoureiro” no grupo dos Apóstolos.
São Paulo afirma que “a raiz de todos os males é o amor ao dinheiro”. (1Tm 6,10). Veja que, portanto, o mal, não é o dinheiro em si, mas o “amor” ao dinheiro; isto é, o apego desordenado que faz a pessoa buscar o dinheiro como um fim, e não como um meio. Por causa do dinheiro muitos aceitam a mentira, a falsidade e a fraude. Quantos produtos falsificados! quantos quilos que só possuem 900 gramas! quanta enganação e trapaças nos negócios!
Não é verdade que mesmo entre os cristãos, tantas vezes um engana o outro, o “passa para traz”, em algum negócio, compra e venda, etc.? Se formos mais alto, poderemos constatar que toda a corrupção, tráfico de drogas e de armas, crimes, etc., tem atrás a sede do dinheiro. Basta ligar o TV o ler o jornal para ver isso.

O próprio domingo, dia do Senhor, está se transformando, para muitos, em o dia de ganhar dinheiro. Por amor ao dinheiro muitos pais perdem os próprios filhos, irmãos brigam e se separam, e muitos casamentos acabam. No casamento dá mais problema o dinheiro que sobra do que o dinheiro que falta.
Por causa da ganância vemos o mundo numa situação de grande injustiça e miséria para muitos.
Jesus recomendou ao povo: “Guardai-vos escrupulosamente de toda avareza, porque a vida de um homem, ainda que ele esteja na abundância, não depende de suas riquezas” (Lc 12,15). “Filhinhos, quão difícil é entrarem no Reino de Deus os que põem a sua confiança nas riquezas”. (Mc 10,24)
O apego aos bens desse mundo é algo muito forte em nós, quase que uma “segunda natureza”, e portanto, só com o auxílio da graça de Deus poderemos vencer esta tentação forte. Como?
O remédio contra a avareza é o “abrir as mãos”, não para receber, mas para dar. Quanto mais apegado você for ao dinheiro, mais faça o exercício de “dar” boas e generosas esmolas… até que as suas mãos aprendam a se abrir sem que o seu coração chore.
Exaustivamente a Bíblia fala da importância da esmola:
“Quem se apieda do pobre, empresta ao Senhor, que lhe restituirá o benefício”. (Prov. 19,17)
São Leão Magno dizia que “a mão do pobre é o banco de Deus”.
“Dá esmola de teus bens, e não te desvies de nenhum pobre, pois, assim fazendo, Deus tampouco se desviará de ti”. (Tob 6,8)
“A esmola será para todos os que a praticam um motivo de grande confiança diante de Deus altíssimo”. (Tob 4,12)
“Encerra a esmola no coração do pobre, e ela rogará por ti a fim de te preservar de todo mal. Para combater o teu inimigo, ela será uma arma mais poderosa do que o escudo e a lança de um homem valente”. (Eclo 29,15-16)
O importante é que se dê com alegria e liberdade, certo de se estar ajudando o irmão e agradando ao Pai: “Dê cada um conforme o impulso do seu coração sem tristeza, nem constrangimento. Deus ama a quem dá com alegria” (2 Cor 9,7).
Mas, só terá mérito diante de Deus a esmola dada em silêncio. “Quando, pois, dás esmolas, não toques a trombeta diante de ti, como fazem os hipócritas… já receberam a sua recompensa”. (Mt 6,2-4)
São Leão Magno (400-461) valorizava muito a esmola. Dizia que “deposita no céu o seu tesouro quem alimenta a Cristo no pobre”, e que elas “apagam qualquer culpa contraída nesta morada terrena”, já que a “caridade encobre uma multidão de pecados”. (1 Pe 4,8)
A melhor maneira de vencer este medo é confiar na Providência divina que cuida de todos. Jesus disse: “Não vos preocupeis por vossa vida” (Mt 6,25). “Qual de vós por mais que se esforce, pode acrescentar um só côvado à duração de sua vida ?” (27). “Não vos aflijais…” (31). “Vosso Pai celeste sabe que necessitais de tudo isso” (32). Importa “buscar em primeiro lugar o reino de Deus” (33), isto é, viver conforme a vontade de Deus, e o mais “nos será dado por acréscimo” (33).
São Pedro exortava os fiéis dizendo: “Confiai a Deus todas as vossas preocupações, porque ele tem cuidado de vós”. (1 Pe 5,7)
Isto tudo não quer dizer que não devemos ser previdentes tendo em vista as necessidades da vida. É pelo nosso trabalho que o Senhor traz o pão de cada dia à nossa mesa. Que ninguém fique esperando, na fé, e de braços cruzados, o socorro do céu.
FELIPE AQUINO - Escritor católico. Prof. Doutor da Universidade de Lorena. Membro da Renovação Carismática Católica.
JOSÉ RENATO NALINI - APRENDER EM PARIS
Um dos privilégios com que a Providência me obsequiou foi estar em Paris por quinze vezes. Desde a primeira vez, em 1976, em excursão programada pelo meu amigo-irmão Francisco Vicente Rossi, outras catorze vezes pude fruir da “Cidade-Luz”, que tenho a veleidade de conhecer melhor do que São Paulo.
Desta feita, aceitei o convite da Academia Paulista de Magistrados para participar do 7º Colóquio sobre Direito e Governança na sociedade de informação. Embora pouco o tempo disponível, pude rever lugares que retenho na memória afetiva. Fiquei no Select Hotel Sorbonne, na Place de la Sorbonne, 1. De minha janela podia mirar uma das magníficas portas de entrada, por onde jovens de todo o mundo adentram à maravilha do saber. Doutra feita, ao fazer curso na Escola Nacional da Magistratura, na rue des Chinoinesses, podia olhar – o quanto quisesse – para a parte final da Notre Dame. Ouvi seu carrilhão, tive a benção de assistir a uma missa em português na Capela da Medalha Milagrosa, à rua du Bac, 140. Como acordo cedo e contei com a companhia fidelíssima do Coronel Washington Luiz Gonçalves Pestana, responsável pela segurança de todo o Judiciário paulista, pude caminhar a pé, sem o tumulto dos 14 milhões de turistas que, a cada ano, acorrem aos lugares mais visitados.
Subi os 300 degraus do Arco do Triunfo, de onde se vê a moderna construção da Fundação Louis Vuitton no Bois de Boulogne, cheguei a Montmartre após almoçar numa delícia de cantina chamada “Fuxia” – não era bistrô – e de apreciar as várias tribos que se encantam com a capital francesa.
Aprende-se com tudo em Paris e não só na Sorbonne. As obras que recuperam monumentos históricos e as transformações em áreas que já são belíssimas, constituem lição de respeito à população. Os tapumes trazem notícia integral sobre o projeto, seu planejamento e execução. Informam o custo e convidam qualquer interessado a assistir a um vídeo institucional relatando como o lugar estará dentro em pouco.
Foi o que vi na renovação do Les Halles, junto à Igreja de Santo Eustáquio. Será uma das maiores áreas verdes de Paris. Tudo tão civilizado, tão ordenado, que nos dá uma sensação de distância e de inveja. Algum dia alcançaremos tal estágio?
JOSÉ RENATO NALINI é presidente do Tribunal de Justiça do Estado de São Paulo para o biênio 2014/2015. E-mail: jrenatonalini@uol.com.br.
PAULO ROBERTO LABEGALINI - O PLANO DE DEUS

Sobre direitos humanos, o artigo I da ‘Declaração Universal’, diz assim: “ Todas as pessoas nascem livres e iguais em dignidade e direitos. São dotadas de razão e consciência, e devem agir em relação umas às outras com espírito de fraternidade”. E é razoável pensarmos que, se esses direitos não forem ‘automáticos’ em alguns grupos ou classes sociais, devem ser conquistados.
Sabemos que muitas políticas públicas visam consolidar os direitos de toda a população, quer sejam educacionais, econômicos, sociais ou políticos. Quando isso acontecer, esperamos que os conflitos não se resolvam mais pela violência; mas, se a liberdade, a igualdade e a fraternidade são defendidas por todos, por que ainda há tantas exclusões sociais no mundo?
Acredito que a liberdade e a igualdade avançaram muito nas conquistas de direitos humanos ultimamente, mas a fraternidade ainda padece. Tenho visto grupos religiosos defendendo e praticando a fraternidade, mas, fora disso, pouco se faz. O desafio de levar o pão e a Palavra de Deus às pessoas é privilégio da minoria na nossa sociedade.
A dignidade do ser humano deveria ser levada mais a sério e encarada, de fato, como a principal responsabilidade nas ações de cada cristão, porque, sem fraternidade – no sentido de amor ao próximo –, as portas do Céu poderão estar fechadas após a morte. Infelizmente, há pessoas que só pensam em aproveitar a vida e não se importam com seus destinos na eternidade. Assim como eu, penso que todos foram avisados de que a salvação da alma acontece aqui na Terra; depois, se tivermos pecados graves acumulados em vida, o castigo poderá ser cruel.
Mas, será que a condenação do ser humano está nos planos de Deus? Ele planejou: os astros não se chocarem, o coração humano bombear sangue para gerar vida; o morcego, mesmo cego, ser guiado por radar; a água circular na Terra de maneira perfeita; o ar atmosférico ser composto por vários gases, e cada um com sua função; a natureza, por si só, permanecer em harmonia; enfim, se Deus fez tudo com impressionante sabedoria, não iria querer que seus filhos se perdessem em pecados, concorda?
Ele poderia ter criado uma só flor, um só tipo de fruto, uma só estrela, um único som e apenas um animal. Já pensou como seria chato ver o mesmo passarinho cantando a mesma música em cima da mesma rosa enquanto comêssemos o mesmo abacate? E mais: sempre de dia, se a noite não existisse. Mas, graças à generosidade de Nosso Senhor, o homem pode desfrutar infinitas diversidades no mundo para o seu bem estar. Deus desenvolveu um Plano de Amor!
E com tudo que está ao nosso alcance, a felicidade pode ser conquistada a cada dia por diferentes caminhos. Na Bíblia, encontramos muitas experiências de salvação daqueles que confiaram na Família Divina: Pai, Filho e Espírito Santo. Entenderam que o Plano de Deus consiste em criar alguém em condições de receber a vida eterna. E Jesus Cristo testemunhou o quanto somos abençoados: “Eu vim para que todos tenham vida, e vida em abundância” (Jo 10,10).
Quando Deus libertou o povo hebreu da escravidão do Egito, concedeu libertação a toda a humanidade. Quando Jesus ofereceu o seu corpo e o seu sangue – mudando o sentido da Páscoa judaica –, resgatou nossa salvação por meio do amor-doação. Hoje, através dos sacramentos, nos tornamos herdeiros da graça do Pai – vivendo a Eucaristia, damos continuidade ao processo de libertação.
Porém, como eu disse, há aqueles que preferem romper com o Plano de Deus porque acreditam mais no poder da força do que na força do amor; procuram mais dinheiro do que o tesouro do Reino; preferem o status ao invés da solidariedade. São pobres de espírito por insistirem em não entender que a riqueza de poucos e a pobreza de muitos não faz parte da criação do Universo; bem como não são da vontade de Deus os vícios, as bombas, o aborto, o divórcio, as crianças e os velhos abandonados.
Então, o que o Criador quer de nós? Com certeza, deseja que sejamos todos irmãos e cuidemos melhor uns dos outros. Independente de classes sociais ou níveis intelectuais, temos que nos unir para um mundo melhor. Isso pode e deve começar em casa, na família.
No capítulo 6 do Evangelho de São Mateus, temos uma orientação de Jesus Cristo para a nossa vida espiritual: “Nas vossas orações, não sejais como os gentios, que usam de vãs repetições porque pensam que, por muito falarem, serão atendidos. Não façais como eles, porque o vosso Pai celeste sabe do que necessitais antes de vós lhe pedirdes. Rezai, pois, assim: ‘Pai nosso, que estás no Céu, santificado seja o teu nome, venha o teu Reino; faça-se a tua vontade...’ Porque, se perdoardes aos homens as suas ofensas, também o vosso Pai celeste vos perdoará a vós. Se, porém, não perdoardes aos homens as suas ofensas, também o vosso Pai vos não perdoará as vossas”.
Assim como dizemos ‘Pai nosso’ porque Ele é o Pai dos que têm fé, também chamamos a Cristo de ‘nosso Pão’ porque Ele é o alimento dos que comungam o Pão Vivo que desceu do Céu. Comendo desse Pão, estaremos aceitando o Plano de Deus para vivermos eternamente em Seu amor.
PAULO ROBERTO LABEGALINI - Escritor católico, Professor Doutor da Universidade Federal de Itajubá-MG. Pró-reitor de Cultura e Extensão Universitária da UNIFEI.
FRANCISCO VIANNA - VENEZUELA EXPERIMETA O AMARGOR DA MISÉRIA SOCIALISTA

REGIME BOLIVARIANO CHAVEZISTA DE MADURO TALVEZ TENHA QUE DISTRIBUIR PETRÓLEO PARA O POVO DA VENEZUELA COMER.

Fila à espera de poder comprar fraldas descartáveis e papel higiênico numa farmácia de Caracas em fins de outubro último. Tais artigos, e muitos outros, ainda não chegaram às prateleiras.
AP
O aumento dos preços dos derivados do petróleo na Venezuela (pela retirada dos subsídios estatais) somado à queda intensa do valor da ‘commodity’ no mercado internacional – em parte devido aos enormes estoques nos EUA e Europa e em parte devido à entrada no mercado do gás de xisto betuminoso americano - está levando o regime ditatorial socialista de Nicolás Maduro a tomar duras decisões que incluem, justamente, a retirada do referido subsídio à gasolina. Na verdade, há uma conjunção de fatores que estão a fazer com que o Palácio Miraflores fique sem dinheiro para importar uma série de itens que o país não produz e isso coloca o governo contra o paredão de ter que escolher quem poderá ter o “privilégio” de “continuar recebendo as migalhas de um pão que a cada dia se torna menor”, como estão a dizer alguns especialistas.
Na base do problema está a capacidade de extração da PDVSA, a Petrobrás deles lá, que está em queda livre com seu parque industrial cada vez mais sucateado e comprometido pela falta de investimento em manutenção e pela fuga de mão de obra capacitada do país (como soe ocorrer com os regimes socialistas).
Com isso, o “socialismo bolivariano do século XXI” tem cada vez menos o que repartir e distribuir com o seu povo, o que o obriga a tomar medidas que podem se tornar muito impopulares.
Além do aumento da gasolina, que poderá começar a vigorar a partir de dezembro próximo – segundo os especialistas desse mercado – Maduro terá que usar boa parte do dinheiro que puder conseguir com os novos preços dos combustíveis para tentar contratar os serviços de empresas estrangeiras para tentar soerguer a capacidade instalada da PDVSA com a finalidade de aumentar a extração de petróleo e até construir pelo menos mais duas refinarias.
Os especialistas no setor dizem que “o aumento de preço dos combustíveis é um fato já consumado, e que provavelmente ocorrerá após a reunião da OPEP em Viena, prevista para o dia 27 deste mês de novembro”.
Maduro, que governa com uma estrutura de estado ditatorial mediante “poderes especiais” a ele outorgados pelo Congresso, já amarga uma popularidade que não chega a 30 por cento, mesmo tendo prometido ao venezuelano que não elevaria os preços dos derivados do petróleo, apesar da insistência do pragmatismo chavezista de que o subsídio estatal à mercadoria, com um custo anual de $12 bilhões de dólares – que o regime definitivamente não tem capacidade de arcar – é insustentável.
No entanto, Maduro, durante o “Primeiro Congresso da Classe Trabalhadora”, cujos participantes foram apenas os membros da reduzida burguesia do politiburo do partido governante, acabou concordando ao anunciar na última segunda feira ter aceitado uma proposta feita neste “congresso” para ajustar os preços dos combustíveis “e usar a renda deles provenientes para projetos sociais”, algo que pouca gente realmente ainda acredita na Venezuela.
A renda proveniente do petróleo – praticamente a única produzida significativamente no país – já caiu mais de 30 por cento, apenas no mês passado.
Além do mais, discute-se no país que além da alta de preços dos derivados de petróleo, poderá se soma ruma elevação geral dos impostos, que se levado adiante pelo regime de Maduro poderá agravar ainda mais os protestos de rua e a insatisfação social com o regime.
Assim, o regime, responsável pela fuga de capitais privados venezuelanos e de mão de obra qualificada, acabou ficando sem dinheiro, sem tecnologia e sem condições de sequer fazer a manutenção de sua “galinha dos ovos de ouro” – a PDVSA – que agora está entre a cruz e a caldeirinha.
Maduro chegou ao poder, segundo muitos venezuelanos, através de uma formidável fraude eleitoral, possibilitada em parte pelas famigeradas urnas eletrônicas fabricadas pela DIEBOLD e comercializadas pela SMARTMATIC, as mesmas utilizadas no Brasil e países do Foro de São Paulo, e em outra parte pela coação de boca de urna, levada a efeito por verdadeiro exército de agentes cubanos – incluindo os “médicos” castristas –, mas que, ao que parece, só sairá do poder depois de muito sangue, suor e lágrimas derramadas para substituir o atual regime.
Em todo caso, no regime de escassez socialista, onde o governo não pode mais contar com o dinheiro de um povo altamente empobrecido e onde os donos do dinheiro já tiraram seus times de campo (e também seu dinheiro), Maduro terá que escolher muito bem a quem privilegiará com os parcos recursos que ainda dispõe para que possa se manter no poder.
Essa foi a razão pela qual Maduro há pouco decidiu aumentar os salários dos militares em 45 por cento para tentar compensar o efeito da taxa de inflação que poderá ultrapassar os 75 por cento este ano, enquanto que o salário mínimo só foi corrigido em 15 por cento.
Também pode ser esse o raciocínio que venha a motivar Maduro em eliminar o subsídio à gasolina e aos derivados de petróleo, que deverá atingir em cheio os bolsos da classe média, os últimos 35 por cento da população que, a despeito de tudo, ainda trabalha e produz para sustentar os demais 65% por cento. No entanto, o subsídio aos derivados de petróleo que são enviados mensalmente a Cuba não serão eliminados, haja vista que Maduro necessita basicamente do aparato cubano de inteligência militar para se manter a qualquer custo no poder.
Mas, a situação do regime “bolivariano” poderá se complicar muito mais ainda caso os preços do petróleo continuarem a cair ou apenas se mantiverem abaixo dos atuais 60 dólares o barril ao longo de 2015, como muitos especialistas dizem que irá ocorrer, principalmente com o aumento da produção de gás de xisto nos EUA, principal comprador de petróleo da Venezuela. As encomendas americanas vêm despencando de forma sensível e esses mesmos analistas especializados em comércio internacional de petróleo dizem também que “se a redução da renda venezuelana com petróleo continuar baixa ou diminuir mais ainda, o Palácio Miraflores terá que escolher entre quais os setores do chavezismo irá privilegiar ainda mais – uma vez que seus próceres estão acumulando enormes fortunas no exterior pelo mecanismo distorcido criado pelo sistema de controle cambial que funciona em prejuízo da população”.
Maduro espera que a OPEP reduza a extração de petróleo para diminuir a oferta e fazer subir os preços da mercadoria nos mercados internacionais. Mas os americanos também esperam por tal iniciativa por parte do cartel internacional do petróleo, quando poderão suprir fornecedores mundiais com sua acrescente produção de gás de xisto betuminoso, que atualmente ainda está em torno de 15% da capacidade esperada pelo mercado, apesar de já ser responsável por 65% da produção total de gás natural dos EUA.
Por isso, muitos especialistas dizem que é pouco provável que a OPEP venha de qualquer modo a restringir a oferta. “Dentre os países-membros do cartel, somente a Arábia Saudita está em condições de cortar a produção”, em função dos problemas orçamentários que enfrentam e, mesmo a Arábia Saudita tem dado a entender que lhe interessa manter os preços baixos porque sabe que essa é a única maneira de desestimular a produção de petróleo de jazidas ‘não convencionais’ – como, por exemplo, o do pré-sal brasileiro – que, em tese, representa uma ameaça à hegemonia saudita no mercado mundial.
Os analistas preveem que um preço do petróleo abaixo de 80 dólares o barril, mantido por algum tempo, poderá gerar problemas que levem à desestabilização do regime de Maduro. E este preço já está há algum tempo em 70,83 dólares o barril e tendendo a diminuir.
Há quem ache, com alguma razão, que em breve Maduro só disporá de petróleo para alimentar o seu povo... Só não se sabe com que tipo de culinária poderá conseguir isso!
(da mídia internacional)
Quarta feira, 19 de novembro de 2014
FRANCISCO VIANNA - Médico, comentador político e jornalista - Jacarei, Brasil.
HUMBERTO PINHO DA SILVA - D. PEDRO II E CAMILO

No ano de 1872, Camilo Castelo Branco, foi agraciado pelo Imperador do Brasil, com a Ordem da Rosa.
Vivia o escritor, na Rua de S. Lazaro, no Porto.
Recebeu, Camilo, o Imperador, que se deslocou à sua residência, na pequena sala de visitas da modesta casa, onde tinha retratos de escritores, poetas e da Família Real.
Entre eles encontrava - se o de Béranger.
Pedro II observou, atentamente, todos os retratos, detendo-se diante do de Béranger.
- Vossa Majestade está a examinar a minha galeria!? …
Ao que o Imperador respondeu serenamente:
- Estou a pensar como Béranger parece mais feliz, que os meus antepassados…
Ao que Camilo prontamente acrescentou:
- Sabe por quê, Majestade? É que fazer versos é menos perigoso que decretos!…
***
Após os republicanos brasileiros haverem expulsado o Imperador e Sua Família, D. Pedro II chegou a Lisboa, no navio Alagoas.
O Rei de Portugal, D. Carlos, recebeu-o como Chefe de Estado, oferecendo-lhe um palácio, para se hospedar, mas o Imperador recusou, preferindo ir para o Hotel Bragança.
Depositou, em seguida, uma coroa de flores no túmulo do seu amigo, Alexandre Herculano, e não quis partir, para Paris, sem visitar Camilo.
O escritor não o queria receber, porque, além de doente, encontrava-se em sérias dificuldades económicas.
D Pedro II era, de longa data, admirador da obra do escritor – considerado o maior prosador da língua portuguesa. Foi recebido pela sobrinha do genial romancista. Pouco depois, apareceu Camilo, abraçaram-se efusivamente, e cavaquearam sobre o exílio forçado do Imperador, e da iminente cegueira de Camilo. D. Pedro tentou consolar o amigo, declarando que os novos recursos da medicina, talvez o levassem à cura.
Entretanto, a Imperatriz, Teresa Cristina, falecia, em Lisboa, no hotel onde estava hospedada, vítima de fulminante ataque cardíaco, que muito abalou o Imperador.
Após o funeral, D. Pedro II partiu para França, onde desgostos e traições, o levariam à morte, em Dezembro de 1891, com 66 anos, no hotel Berdford, em Paris.
HUMBERTO PINHO DA SILVA - Porto, Portugal
EUCLIDES CAVACO - HORIZONTES DE POESIA
HORIZONTES DE POESIA
Para esta semana deixo-vos este poema declamado
que foi também nome de batismo dum dos meus livros.
Veja e ouça este poema neste link:
EUCLIDES CAVACO - Director da Rádio Voz da Amizade , Canadá.
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Quarta-feira, 19 de Novembro de 2014
JOÃO CARLOS MARTINELLI - DIA DA CONCIÊNCIA NEGRA

Em 20 de novembro comemora-se no Brasil o DIA NACIONAL DA CONSCIÊNCIA NEGRA, por ser a data da morte do grande líder do Quilombo dos Palmares, ZUMBI. Este dia tem um significado histórico e reflexivo fundamentais ao desenvolvimento das lutas anti-racistas no país pois a sua celebração valoriza a busca por uma sociedade igualitária em todos os sentidos. Assim, ao invés de apenas aproveitarmos o feriado do próximo sábado, deveríamos refletir a respeito do preconceito que muitas vezes permeia as nossas relações pessoais, quando desrespeitamos pessoas que, por quaisquer motivos naturais, são diferentes de nós.
Com efeito, é preciso combater veementemente todas as formas de racismo e exclusão social. Inexiste atitude mais indigna do que separar os indivíduos em raças, as quais para os cientistas, revelam-se na parte visível do grupo humano - e esta se constitui num sistema fechado. Ou seja, as diferenças nas aparências se devem à mutação e à migração. A primeira é um fenômeno genético e a segunda é uma situação social, embora as duas estejam inter-relacionadas. Foram as mudanças para novos ambientes que levaram a uma adaptação, que ao longo das gerações, foram causando modificações nos seres. Assim, a única concepção justa é a de que todos são iguais, pois pertencemos mesma espécie, embora cada um mantenha sua própria identidade e características exclusivas, frutos do maior ou menor ajustamento à uma região ou cultura. Qualquer teoria em contrário, não possui nenhuma base científica, apenas enfoque ideológico, porém manifestamente equivocado, fruto de pura ignorância.
Em nosso país persiste um quadro de hipocrisia racial, ou seja, apesar de se negar a prática de atos preconceituosos, eles incidem nas mais variadas manifestações e setores sociais, mesmo sendo tipificados como crimes inafiançáveis. E a questão não é própria do nosso País. Infelizmente vivemos ainda num mundo onde as diferenças de raça, cultura, crenças, sexo ou condições sociais são motivos para discriminação, marginalização, desfeitas e até humilhações. No entanto, esses quadros não podem mais prosperar em pleno século XXI, sob pena de anularmos princípios básicos de Direito. Há perseguições e discriminações contra idéias, comportamentos e povos. No entanto, atrás dessas manifestações está a grande prepotência de seres humanos que se julgam superiores a outros e a sede de poder que leva um grupo a tentar o domínio sobre o outro.
O DIA DA CONSCIÊNCIA NEGRA foi criado para nos inspirar à conscientização de que vida, liberdade e felicidade são direitos de todos e independem das aparências, credos e idiomas das pessoas, além de nos incentivar ao debate sobre a situação dos negros em nosso país. Alerta-nos também para a construção de uma sociedade mais unida, tolerante e isonoma. A Carta Magna coloca no topo da organização estatal o cidadão, assegurando-lhe o exercício de direitos considerados como de valores supremos da sociedade. É a garantia da dignidade humana; da não-discriminação; do acesso à justiça e do Devido Processo Legal.
Líder de coragem
A data que se celebra a 20 de novembro, foi instituída em homenagem ao dia de morte do líder negro Zumbi dos Palmares. Mas, de modo geral, as pessoas têm pouca noção de sua importância na formação da história brasileira. Nascido no ano de 1655 em uma das aldeias do Quilombo de Palmares, foi aprisionado ainda recém-nascido e entregue ao padre Antonio Melo da freguesia de Porto Calvo, sendo batizado com o nome de Francisco. Atuou como coroinha, estudou latim e português, em 1670 fugiu da paróquia para Palmares onde se tornou o grande líder após ter passado por grandes provas de coragem. Dotado de grande capacidade de organização e comando, tornou-se um mito entre os membros de sua raça. Ainda muito jovem já era chefe de um povoado e em 1678 era o comandante das forças armadas.
Palmares, que teve a duração de aproximadamente um século, foi o principal quilombo a se contrapor ao sistema escravista colonial vigente (séculos XVII e XVIII). Segundo o sociólogo Clóvis Moura, ela se constituiu em embrião de uma nova nação, “surpreendentemente progressista para a economia e os sistemas de ordenação social da época”. Seu ideal permanece vivo. E por uma simples razão: em novas formas, sob outros pretextos, as injustiças ainda persistem.
JOÃO CARLOS JOSÉ MARTINELLI é advogado, jornalista, escritor e professor universitário (martinelliadv@hotmail.com)
VALDEREZ DE MELLO - CONSCIÊNCIA TEM COR ?

Problemática curiosa acampa os meios governamentais com tendências paternalistas quanto a cor da pele que envolve o corpo humano. Se, à luz do direito questionarmos os motivos que levam à criação de leis para instituir garantias já adquiridas na Carta Magna, veremos que se torna ainda mais dolorosa a ousadia em cultivar a discriminação racial. Todos são iguais perante a lei, o que independe da cor da pele, raça ou credo. Qual a necessidade em oferecer vantagens diferenciadas?
Inteligência não tem cor! Sabedoria, pertinácia e perseverança independem do tom da pele que vestimos, graças à raça humana, que a todos iguala, descendência única, que irmana e une, ou seja, somos homines sapiens. Homens discriminando homens é o que revela o protecionismo travestido de conquista social. A discriminação resta retratada através de ofertas de vantagens e atalhos para a conquista de oportunidades, o que diminui e muito a autoestima do ser humano. Quando abrimos caminhos e ofertamos a trilha pronta, retirando pedras e cascalhos, fazendo a varrição de espinhos, indiretamente, estamos fazendo com que o caminheiro sinta-se incapaz, impotente e comandado. A maior riqueza do ser humano é a conquista de seus ideais através da oportunidade do uso do livre arbítrio, arte personalíssima em conseguir realizar projetos e subir ao pódio através da bravura. Quando tiramos do homem o poder de realização através da capacidade e discernimento próprios, realçamos sua impotência e ceifamos sua dignidade. A grande descriminação é julgar o outro incapaz e torná-lo um ser dirigido e dependente. O sistema de favorecimento escancara a falta de confiança na capacidade dos beneficiados, prova, em letras carmim, que veio para embaçar a realidade do ensino público que não oferece eficiência e sequer eficácia. Justo seria reestruturar escolas, capacitar professores e oferecer número suficiente de vagas. Presentear com atalhos facilitadores não significa igualdade de condições mas deixa límpido que o sistema de quotas nada mais é que o provisório definitivo para ludibriar a quem tem direito ao ensino público de primeiríssima qualidade, o que independe da cor da pele. No dia dedicado à Consciência, guerreira invisível que luta por direitos e valores, urge repensar que consciência não tem cor e habita a alma de todos os seres humanos, filhos do mesmo Deus, que sem utilizar sistema de quotas, a todos agraciou com racionabilidade! Afinal, somos todos descendentes do Homo Sapiens! Consciência tem cor?
VALDEREZ DE MELLO, advogada, psicopedagoga e pedagoga.
Autora dos livros: Quintal de Sonhos, Rimas e Rumos Flores sobre o Rochedo e Lágrimas Brasileiras.
ARMANDO ALEXANDRE DOS SANTOS - ANÍBAL: DIZIMADOR DAS LEGIÕES ROMANAS ?

Uma amiga que diz acompanhar semanalmente meus artigos na Tribuna Piracicabana relata ter estranhado a afirmação, feita em um programa de televisão, de que o general cartaginês Aníbal dizimou as legiões romanas na Segunda Guerra Púnica, travada em fins do século III a.C. Ela não ignorava, naturalmente, que Aníbal foi o grande chefe militar cartaginês nessa guerra. Sua estranheza provinha da utilização do verbo dizimar. Ela queria saber se estava correto ou não.
Dizimar, em sentido próprio e original, era o castigo imposto na Antiguidade – especialmente no mundo romano – para certas tropas que haviam procedido mal, por se terem portado covardemente num combate, por se terem revoltado ou descumprido ordens etc. Consistia em executar um de cada 10 integrantes da tropa punida, escolhidos um tanto aleatoriamente. Era uma punição terrível, do ponto de vista psicológico, pois humilhava e corrigia eficazmente.
O filme “The fall of the Roman Empire”, obra clássica do cinema norte-americano, produzido em 1964, no qual figuram grandes atores, como Alec Guinness, Christopher Plummer e Sofia Loren, apresenta uma impressionante cena de dizimação de um corpo de legionários. Penso que todos os que assistiram a esse filme não podem esquecer a imagem, realmente chocante e trágica, de muitas centenas de legionários serem enfileirados à beira de um precipício, todos desarmados e passivamente resignados à sua sorte, e por trás, percorrendo a longa fila, um executor que ia contando os legionários, e, a cada múltiplo de 10, lanceava o designado pelas costas, derrubando-o no precipício.
Por extensão, também se usa o verbo dizimar (que provém do latim decimare) no sentido de destruir, devastar, causar a morte a um grande número de pessoas. (cfr. FERREIRA, Aurélio Buarque de Holanda. Novo Dicionário da Língua Portuguesa. Rio de Janeiro: Ed. Nova Fronteira, 1ª. ed, s/d, verbete “dizimar”). Neste sentido extensivo, pode-se, sim, dizer que Aníbal dizimou as legiões romanas, durante sua campanha militar na península itálica, entre 218 a.C. e 209 a.C., de modo muito especial nas batalhas do Lago de Trasímene e de Cannae, nas quais venceu espetacularmente as tropas romanas.
Aníbal foi, sem dúvida, um dos maiores e mais brilhantes chefes militares de toda a História. Sua inesperada e ousada invasão da Itália pelo Norte, através dos Alpes, com seus famosos elefantes, desnorteou profundamente as lideranças romanas, que até então se julgavam seguras na sua península, semeando entre elas o pânico e o terror. Se Aníbal tivesse recebido mais apoio de Cartago e, sobretudo, se tivesse mantido o ritmo de sua invasão, sem se deter nas funestas “delícias emolientes de Cápua”, teria por certo tomado a cidade de Roma e assegurado a hegemonia cartaginesa em toda a Bacia do Mediterrâneo. A História teria seguido um rumo muito diverso. Os norte-americanos apreciam muito o gênero historiográfico chamado “contra-fatual”, exercício literário e ficcional que consiste em estudar como a História poderia ter sido, não como ela realmente foi. Esse gênero é muito objetável, de muitos pontos de vista. Mas não é desprovido de utilidade, já que, como disse o britânico Hobsbawm, o “se” não faz história, mas ajuda muito a fazer.
A fraqueza de Aníbal não estava nos campos de batalha; ela estava nos interregnos entre os combates. Isso compreendeu muito bem seu antagonista, o general romano Quinto Fábio Máximo, que foi criticado por ser contemporizador (daí sua designação histórica de Fabius Cunctator, ou seja, Fábio, o contemporizador, o procrastinador) e evitar batalhas frontais e decisivas, nas quais Aníbal teria inegável superioridade. Fábio, seguindo sua política contemporizadora, salvou Roma.
Dois mil anos depois, a mesma estratégia contemporizadora salvou o Império russo. Em 1812, quando este foi invadido por um poderosíssimo exército comandado pelo até então invencível Napoleão Bonaparte, o General Kotusov, que comandava as tropas russas, sabia não tinha a menor possibilidade de vencer o invasor em combate. Preferiu contemporizar, recuando e cortando as linhas de abastecimento do inimigo. No sistema de combate napoleônico, a rapidez da movimentação era elemento fundamental; em vez de retardar a marcha, transportando provimentos para a alimentação da tropa, Napoleão tinha por hábito abastecer-se com os recursos locais das áreas pelas quais passava. Assim procedera desde o início da sua carreira meteórica, assim esperava proceder na Rússia. O exército napoleônico foi avançando cada vez mais, na esperança de chegar a Moscou e se abastecer fartamente.
Mas, quando chegou a Moscou na euforia da vitória, encontrou uma cidade esvaziada e em chamas. E o “General Inverno” estava chegando, para ajudar os russos. O final da história, todos conhecem.
ARMANDO ALEXANDRE DOS SANTOS é historiador e jornalista profissional, membro do Instituto Histórico e Geográfico Brasileiro.