PAZ - Blogue luso-brasileiro
Quarta-feira, 28 de Janeiro de 2015
MARIA CRISTINA CASTILHO DE ANDRADE - MENINAS PARA A BOCA

 

 

 

 

 

 

 

 

 

 

 

 

 

 

 

 

Tenho piedade das meninas, da periferia geográfica e existencial, com corpos de pele tenra, manipuladas por adultos inescrupulosos ou pela ignorância dos que não sabem que carícias impróprias emporcalham o emocional.

Condoo-me ao ver pequeninas dançando com trejeitos sensuais sob aplausos dos grandes, que as consideram “evoluídas” para a idade.

Apiedo-me das menores, com trajes diminutos, à mercê de homens e mulheres ébrios.

Lastimo ao saber que crianças assistem a filmes pornográficos e/ou a relacionamentos sexuais de adultos ou jovens que as rodeiam. Lastimo ao saber que veem as novelas que escarnecem dos valores que alicerçam o ser humano.

Compadeço-me das adolescentes grávidas, que não sabem se tratam do bebê de suas entranhas ou da boneca que ficou em cima do travesseiro. Compadeço-me das garotas de pernas infantis à mostra, equilibrando em salto alto, movidas pela vulgaridade consumista, expostas ao despudor, à espera de um pedófilo que lhes ofereça uma cédula em troca de um suspiro qualquer.

Lamento: pelo excesso de preservativos e o quase nada de orientação para refrear os instintos em nome de um relacionamento de verdade; pelo pudor que se tornou obsoleto; pela moda que dependura as carnes nos varais da malícia; pela energia selvagem que ruge e tritura a vida de tanta gente miúda e maior. Lamento pelos filhos gerados em noites mornas, sem um porquê. Crescem na desestrutura de seus pais e fazem de cada dia uma roleta russa. Lamento por destinarem a estrutura familiar ao sorvedouro do Triângulo das Bermudas. Lamento pelos adultos que fecham os olhos para essa realidade.

Meninas erotizadas nas beiradas do mundo, com poucas exceções, são destinadas à boca do lixo ou do luxo. Muito mais à boca do lixo. Primeiro a ilusão, depois o uso, depois o abuso e, no final, bagaços jogados nas sarjetas, com mãos em súplica e os medos em fervedura. São as meninas do poema: “Pequena Crônica Policial” de Mário Quintana: “... As fundas marcas da idade,/ Das canseiras, da bebida.../ Triste da mulher perdida...”

E quem realmente se importa, meu Deus, com as meninas das misturas confusas e desordenadas que se concluem na boca do lixo? E quem realmente se importa, meu Deus, com as mulheres pobres vitimadas pela promiscuidade e pelo abuso sexual desde a infância?

 

 

 

 

 

MARIA CRISTINA CASTILHO DE ANDRADE - Professora e cronista. Coordenadora diocesana da Pastoral da Mulher – Santa Maria Madalena/ Magdala. Jundiaí, Brasil.



publicado por Luso-brasileiro às 11:34
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RENATA IACOVINO - LIBERDADE DE ESCOLHA

 

 

 

 

 

 

 

 

 

 

 

 

 

 

 

 

 

            Já me preparando para uma maratona de justificativas que me serviriam para cancelar um determinado serviço, tomei fôlego e acessei, por telefone, o Serviço de Atendimento ao Cliente de uma empresa.

            Optei pelo telefone na expectativa do atendimento ser um pouco menos impessoal, sabendo que isto é uma ilusão.

            Todos que já tentaram cancelar algum tipo de serviço, sabem que isto é tarefa árdua, há que se ter convicção e argumentos para se enfrentar o outro lado, muito bem catequizado para não deixar que a empresa perca clientes, já que conquistá-los e mantê-los, é como matar um leão a cada dia.

            O irônico é que, mesmo robotizados e quase sem nenhuma justificativa que, na prática, beneficie o consumidor, em sua maioria, a estratégia de marketing (e não de qualidade de atendimento) é o que impera, deixando o consumidor render-se pelo cansaço, não entendendo claramente quais as vantagens, afinal, ele terá, permanecendo com aquilo que, inicialmente, estava convicto de desistir.

            Em inúmeros casos, contatamos os SACs para tirar dúvidas e fazer opções mais favoráveis ao nosso bolso e não ao lucro da empresa, no entanto, nós é que somos bombardeados com perguntas e, ao final, nem lembramos qual a finalidade de nossa ligação.

            Isto sem considerar que grande parte dos usuários podem ser considerados hipossuficientes. Quem detém o conhecimento técnico é a empresa e não o consumidor, que é peça vulnerável na relação e fica à mercê da “boa” vontade de quem está do outro lado. E como empresários não vivem de boa vontade, mas de lucros... a coisa complica.

            É fato que não se pode generalizar, mas desde que as empresas tiraram os atendimentos pessoais de sua linha de frente, a qualidade no atendimento deixou de ser prioridade. Como se isto não fosse fundamental para uma escolha, na hora da contratação de um serviço ou aquisição de um produto. E quando não há concorrência no segmento, a situação se agrava.

            Se necessitamos contratar algo, o atendimento é pronto e infalível, não dando margens a questionarmos possíveis falhas futuras ou comportamentos omissos para resolver eventuais pendências que venham a ocorrer. Entretanto, se precisamos da mesma empresa para cancelar o tal serviço, ah, quanta dificuldade! Com menos de três ligações não se resolve o problema. Isto sem contar o tanto que se esperamos em cada uma delas, e o tanto que apertamos teclas de nosso aparelho telefônico, tentando descobrir se o que precisamos está no número dois, três, quatro ou nove. Até descobrirmos que... nenhuma das anteriores. Não é prioridade um pedido de cancelamento. Sendo assim, o atendente redireciona sua ligação. Até que ela cai. E você liga de novo e é obrigado a começar do zero. Ou do um, dois, três, quatro, cinco, sabe-se lá.

            Numa tentativa desesperada e ilusoriamente vitoriosa, após atingirmos nosso objetivo, pedimos o nome do atendente e o número do protocolo, para uma garantia, caso o solicitado não venha a se concretizar. Ocorre que os nomes dos atendentes são fictícios e os protocolos... bem, ao tentar utilizá-los em razão de um pedido não efetivado por parte da empresa, somos surpreendidos, após novas tentativas de contatos: eles inexistem.

            Quebrando a regra, já me preparando para um embate, tendo em vista o objeto de meu telefonema junto a uma empresa, ser o cancelamento de um serviço, fui surpreendida com um atendimento eficiente. E a linha não caiu. O consumidor gosta de ser bem tratado, de ter liberdade de escolha e de não ser coagido.

            Não me foi questionada a razão do cancelamento do serviço, não me pediram dados cadastrais, apenas para ganhar tempo e me dissuadir da idéia inicial. E este comportamento da atendente é que me fez ter interesse em saber se havia um plano, mais barato, que pudesse me servir do mesmo jeito. A solução veio, mesmo a atendente já se preparando para efetivar o pedido de cancelamento. Fiquei satisfeita com o que decidi e a empresa não perdeu o cliente. Que alívio!

            Mas isto tudo me faz refletir naquela máxima que percorre o senso comum de que os serviços públicos são ruins. Acho que esta é uma consideração que deve ser relativizada. Tanto na esfera pública quanto na privada há falhas; mas em ambas também existem fatores positivos.

 

 

 

 

 

RENATA IACOVINO, escritora, poetisa e cantora /reiacovino.blog.uol.com.br /reval.nafoto.net / reiacovino@uol.com.br

 

 



publicado por Luso-brasileiro às 11:30
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ARMANDO ALEXANDRE DOS SANTOS - A VIDA QUOTIDIANA NO TEMPO DE HOMERO - 1

 

 

 

 

 

 

 

 

 

 

 

 

 

 

 

O gênero "vida cotidiana" sempre me fascinou, pois permite mergulhos em certas sociedades do passado, estudando-as e analisando-as em profundidade, nos mais variados aspectos da sua realidade viva.

Não é um gênero fácil. O autor de uma "vida cotidiana" necessita conhecer profundamente não só a história de uma época, mas precisa de conhecimentos pluri-disciplinares muito extensos, sob pena de falhar redondamente no quadro que traçar.

Recordo que o primeiro livro dessa fascinante série que li foi "A vida cotidiana na Rússia, no tempo do último Czar", de Henri Troyat, franco-russo autor de numerosos livros históricos ou de ficção que mais tarde eu devoraria com avidez. Li, depois, "A vida cotidiana em Lisboa, ao tempo do terramoto", de uma autora francesa, cujo nome esqueci; "A vida cotidiana em Viena, no tempo de Schubert", de Marcel Brion; "A vida cotidiana dos médicos franceses, no tempo do Rei-Sol" e várias outras.

O livro de “La vie quotidienne au temps d´Homère” de Émile Mireaux, membro do famoso Institut de France, é fascinante. Foi publicado em 1954, precisamente o ano em que nasci, pela Librairie Hachette, de Paris. Começo por explicar a sua metodologia.

Mireaux se baseou, na descrição da sociedade grega, sobretudo nos dois poemas homéricos, documentos que ele considera “em extremo preciosos, mesmo porque são insubstituíveis”, mas, como ressalta na introdução, teve bem presente que Homero estava escrevendo sobre fatos muito anteriores, de modo que a descrição da realidade social e da vida cotidiana corresponde mais ao seu tempo do que à realidade da Guerra de Troia e do peregrinar de Ulisses pelas vastidões oceânicas. Mireaux não se limitou a essas obras. Consultou também, e muito, os poemas de Hesíodo, escritos na segunda metade do século VII a.C. destacando que a descrição da vida rural que o poeta fez “ apresenta um grande valor documental, pois, se há um domínio no qual as modificações são lentas e insensíveis, esse é exatamente o domínio da sociedade camponesa”.

Também a Arqueologia forneceu informações importantes para a obra, especialmente nas tumbas, em que foram conservados muitos objetos de uso quotidiano que era costume sepultar junto com os mortos.

Outras fontes, menos diretas, também foram consultadas:

“A essas fontes diretas, há, por fim, que acrescentar as indiretas, que não são sempre as menos preciosas... São textos e instituições posteriores que dão testemunho e nos informam incidentalmente sobre a vida dos primeiros séculos da história grega. Ademais dos textos históricos propriamente ditos de Heródoto e de Plutarco, e de indicações esparsas colhidas eruditamente em diversos escritos políticos, filosóficos ou simplesmente literários, é preciso mencionar especialmente os textos jurídicos. As mais antigas legislações, na medida que nos são conhecidas pelas citações e inscrições, as de Dracon e de Sólon, as leis de Gortino, sem esquecer as leis hipotéticas de um Licurgo, contêm disposições que nos informam acerca de períodos mais recuados, seja porque se limitem a codificar velhos costumes, seja porque se apliquem a modificá-los ou restabelecê-los. ... O estudo crítico das instituições e dos costumes que se perpetuaram longamente nas cidades mais conservadoras, notadamente em Esparta, pode, por fim, fazer grande luz sobre as antigas estruturas familiares e sociais do mundo grego. As análises efetuadas nessa área por Henri Jeanmaire, à luz da etnografia comparada, revelaram-se particularmente produtivas. É verdade que sempre subsistem lacunas, como num vaso quebrado que se tenta reconstituir a partir de seus cacos. Mas é lícito, com os elementos disponíveis, tentarmos fazer reviver aquele longínquo passado pelo qual sentimos, movidos pelo prestígio da poesia, tão invencível atração".

Eu quis traduzir esse longo trecho extraído da Introdução porque, do ponto de vista metodológico, ele me pareceu de grande importância, como exemplo prático e concreto de uma reconstituição do passado, feita a partir de elementos de ordens e tipos muito diversos. Um trabalho inteligente de combinação e remontagem permite chegar a resultados muito consideráveis.

 

 

 

 

 

.ARMANDO ALEXANDRE DOS SANTOS é historiador e jornalista profissional, membro do Instituto Histórico e Geográfico Brasileiro.



publicado por Luso-brasileiro às 10:58
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Terça-feira, 27 de Janeiro de 2015
CINTHYA NUNES VIEIRA DA SILVA - O PATINHO, A VIDA E A MORTE

 

 

 

 

 

 

 

 

 

 

 

 

 

 

 

 

 

            Já cheguei naquele ponto no qual temo ser repetitiva e, assim, não sei se já contei essa história, mas tenho a impressão de que não. De toda forma, pensando em algumas coisas que marcaram minhas últimas semanas, foram esses os fatos e sentimentos que me vieram à mente.

            Quando criança, meus avós maternos, durante um certo período tiveram uma fazenda no Estado do Mato Grosso, próxima à cidade de Cuiabá. Em uma das visitas que fizemos, descobri que criavam patos e marrecos. Louca por animais desde sempre, criei e alimentei a ideia de que seria muito legal se eu também pudesse ter patos e marrecos. A logística, contudo, era um pouco complicada, pois havíamos viajado de avião e de trem até lá e levar um pato junto não seria simples ou até possível.

            Minha avó sugeriu que eu levasse ovos de patas e marrecas e levasse para que as galinhas que eu criava na casa da minha avó paterna pudessem chocar. Segunda ela, daria certo, sendo uma prática até comum. No dia da partida, lá ia eu com uma dúzia de ovos meticulosamente embalados, um a um, com jornal. Colocados em uma caixa, eu os levava como meus tesouros, ansiosa em conhecer meus patinhos e marrequinhos.

            Passei a viagem segurando-os como se os pudesse, eu mesma, chocar. Cuidei para que não quebrassem, para que não balançassem e agora, mais de três décadas depois, fico me perguntando como me deixaram levá-los no avião, no meu colo, mas, na época, essa preocupação não estava no meu rol de pensamentos.

            Os ovos chegaram íntegros e foram colocados sob galinhas especialmente selecionadas para a especial tarefa. Contei todos os dias, minutos e segundos, mas a despeito de todo meu cuidado, apenas um patinho veio ao mundo. Amarelo, manso, ele era cuidado pela mãe galinha e admirado por todos. Ganhou uma bacia de água para nadar e mil projetos de construção de uma mini lagoa...

            Menos de uns dois meses, entretanto, talvez em um rompante de ciúmes, uma galinha malvada bateu nele até que o matou. Todos ficaram tristes, sobretudo eu e minhas irmãs, encantadas que estávamos com o patinho. Não fazia sentido ele morrer daquele jeito. Não depois de tudo que eu havia feito e sonhado. Senti tanta dor, daquela de quem ainda não havia perdido ninguém importante antes disso, que prometi a Deus que eu ia crescer, estudar medicina e que acharia a cura para morte. Simples assim. Tudo que eu teria que fazer era crescer e estudar. No mais, eu resolveria.

            O tempo passou e eu continuei me revoltando com as despedidas sem sentido, com a morte que só fazia magoar e levar embora as pessoas e as criaturas amadas. Entendi que não havia cura para morte. Não uma cura terrena. Desisti da medicina. Desisti da veterinária. Eu não queria lutar em desvantagem eterna. Parti para o Direito, pois ainda seria possível, vez ou outra, vencer disputas humanas, passageiras. O importante não seria vencer, mas ter a chance de fazê-lo. Com a morte, não há braço de ferro que se alongue.

            Nunca mais tive outro patinho, mas jamais pude me esquecer daquele e da saudade que ele me deixou. Eternizado na minha memória e talvez na memória de quem se dê ao trabalho de ler esse texto, ele deu importantes lições, mesmo sem saber. Talvez, por conta dele, em uma sequência de acontecimentos posteriores, eu também tenha resolvido escrever, pois apenas e tão somente na ficção é que se faz possível o impossível.

            Na história que reescrevo, o Patinho cresceu, nadou, foi feliz e, um dia, simplesmente sumiu desse mundo, indo morar ao lado de todos que o tempo levou para o Céu do meu coração...

 

 

 

 

CINTHYA NUNES VIEIRA DA SILVA - Advogada, mestra em Direito, professora universitária e escritora - São Paulo.



publicado por Luso-brasileiro às 11:43
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CÔN. JOSÉ GERALDO VIDIGAL DE CARVALHO - COMO SER VIRTUOSO

 

 

 

 

 

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Apesar do atual contexto no qual se vive seja assaz propício à dispersão e cheio de atrações terrenas, felizmente, são inúmeros os que almejam trilhar as veredas da santidade. Há condições basilares para se alcançar este nobre intento. Elas são possíveis a todos que se deixam conduzir pela graça divina. Esta graça não é negada às almas de boa vontade. Antes de tudo cumpre direcionar a vontade rumo à perseverança e isto com firmeza e determinação. Surgem obstáculos a serem vencidos, defeitos que devem ser corrigidos. Os vícios necessitam ser extirpados. Tudo isto exige fidelidade constante aos bons propósitos. Donde carecer o cristão da força divina para não voltar atrás e desanimar. É necessário então um planejamento porque é apenas aos poucos que se conseguirá ficar dentre de um padrão cotidiano conducente a um progresso ininterrupto. Para isto é de vital importância estar sempre na presença de Deus, sendo dócil a suas inspirações. Eis por que é preciso fugir da agitação, controlando com firmeza a imaginação. É imprescindível se ater sempre ao cumprimento do dever específico de cada um, dado que só será virtuoso aquele que é fiel em bem fazer as obrigações de seu estado de vida. A oração não pode nunca ser uma mera fuga, mas é justamente um reforço espiritual para não se esquivar dos afazeres cotidianos. Então, sim, se estará de fato unido a Deus que habita lá no fundo dos corações. O cristão se habitua a escutar a voz de seu Senhor. Não obstante tantas tarefas do decorrer do dia lhe é possível, contudo, encontrar momentos especiais para dar um tempo particular a Deus. Pode-se desta forma saborear textos que se tornam valioso alimento para a alma. Nesta trajetória o cristão usufruirá melhor do sacramento da Eucaristia pelas comunhões diárias ou nas Missas dominicais. Fica apto a vencer todas as insídias diabólicas. Aditem-se as leituras que fomentam a piedade, como os Salmos, o Livro da “Imitação de Cristo”, a “Introdução à vida devota” da autoria de São Francisco de Sales. Tais leituras como lembra o Pe. Jean Nicolau Grou devem ser como que uma meia oração. A todas estas importantes etapas se acrescente a luta contra si mesmo ou seja a mortificação do coração. Trata-se de uma vigilância contínua na batalha contra o amor próprio e suas más inclinações Entretanto, o cristão apenas será plenamente virtuoso se implorar continuamente a proteção da Virgem Maria, dos santos, dos anjos sobretudo do anjo da guarda. Preces ardentes a eles, sobretudo, nos momentos de desalento. Chegar à maturidade espiritual eis aí uma sublime aspiração do autêntico seguidor de Cristo. Entretanto, não se pode esquecer que para combater os vícios, não basta cultivar os hábitos contrários. Isto é basilar, mas são ´necessários uma motivação adequada a cada passo e o controle da razão. A perfeição do cristão se mede pelo grau do amor a Deus que governa e inspira suas ações. A vida espiritual é, em sua essência vida de crescimento, de desenvolvimento numa evolução contínua. Entretanto, cada um deve estar atento a seu perfil caracterológico para poder bem administrar suas qualidades e vencer seus defeitos. A graça divina não anula o que individualiza o ser humano. Pelo contrário a graça aperfeiçoa e diviniza a pessoa humana com todas as suas características. Cada santo trilhou um caminho especial com suas ascensões pessoais nas veredas das virtudes. É aí que entra inclusive o valor da esperança, ou seja, da confiança constante de que os desejos e necessidades mais profundos ficarão saciados, apesar das inevitáveis desilusões e frustrações parciais. A consciência de que somente Deus é perfeito faz o cristão caminhar de acordo com a realidade. Então se evitam as alienações, sabedor cada um de que árduo é o caminho da santidade. A esperança, porém, oferece o princípio e o estímulo para a realização do itinerário rumo à santidade. A renúncia a si mesmo, ao amor próprio, ao egoísmo é uma batalha contínua, mas que conduz a resultados magníficos. É possível, assim conviver com a tensão para o futuro e para a plenitude do amadurecimento pessoal. Deste modo se chegará ao equilíbrio que permite descobrir a essência da vida virtuosa.

 

 

 

CÔN. JOSÉ GERALDO VIDIGAL DE CARVALHO - da Academia Mineira de Letras. Professor no Seminário de Mariana durante 40 anos. - Viçosa, Brasil.

 



publicado por Luso-brasileiro às 11:36
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JOSÉ RENATO NALINI - ATEU PRATICANTE ?

 

 

 

 

 

 

 

 

 

 

 

 

 

A era dos direitos garante a todos crer ou não crer. Mas uma das tendências constatadas nos Estados Unidos é o crescimento dos agnósticos. Em Nashville, capital do Tennessee, existe um encontro denominado “Assembleia dos Domingos”, uma espécie de fórum de ateus. Em 2007, eram 15% dos americanos que se diziam não professar religião alguma e não acreditar em nada além da finitude existencial. Já em 2012, são 20% os ateus.

Alguns ateus famosos se pronunciam: Brad Pitt e Mark Zuckerberg, criador do Facebook, por exemplo. Há conferência anual para os não-crentes: Skepticons – encontro dos céticos e “paradas do orgulho ateu”. O cientista P.Z.Myers, da Universidade de Minnesota, escreveu “O ateu feliz”, um best-seller, acrescentando sua contribuição ao crescente número de livros de divulgação do ateísmo.

Isso acontece nos Estados Unidos, nação que surgiu do fervor puritano dos quakers. Seria um paradoxo? Alguns acreditam que a fragilidade do sentimento religioso deriva da própria política. O ateísmo seria uma reação aos anos em que os religiosos perfilharam o lado errado da História: guerras, machismo, homofobia e escravidão. O fanatismo religioso levaria as pessoas mais sensíveis a uma ojeriza à confissão que não hesita em sustentar a exclusão daqueles que não rezam a mesma cartilha. Um contrassenso, pois o Cristianismo prega a igualdade: todos os seres humanos são irmãos de Cristo e filhos de Deus Pai.

Por enquanto, os ianques continuam muito crentes. Foi ali que em 1952 o presidente Harry Truman criou o Dia Nacional de Oração, celebrado até hoje em 1º de maio. Em 1954, acrescentou-se ao juramento à bandeira a expressão “uma nação sob Deus”. Em 1956, na presidência Dwight Eisenhower, acrescentou-se “In God we trust” nas cédulas do dólar.

Terra de contrastes, ali também se desenvolve esse afã ateísta que tenta subtrair os crentes à prática religiosa e à confissão, para que assumam postura crítica e tentem convencer o mundo inteiro de que é melhor não crer. Todavia, a crença é algo invencível. Não é a primeira tentativa, nem será a última. Leio a biografia de Getúlio, de Lira Neto e vejo que o ditador descrente, ao perder seu caçula, exclamou: “Custa-me a crer que a generosidade, a gentileza, a inteligência de Getulinho serão enterradas juntamente com seu corpo!”. É a dúvida que acomete até os mais descrentes dentre os ateus praticantes.

 

 

 

 

JOSÉ RENATO NALINI é presidente do Tribunal de Justiça do Estado de São Paulo para o biênio 2014/2015. E-mail: jrenatonalini@uol.com.br.



publicado por Luso-brasileiro às 11:30
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FELIPE AQUINO - O SENTIDO CRISTÃO DO SEXO

 

 

 

 

 

 

 

 

 

 

 

 

 

Antes de tudo o casal cristão precisa conhecer bem o sentido do sexo no plano de Deus. Ele o quis. De todas as alternativas possíveis que Deus poderia ter empregado para gerar e manter a espécie humana, Ele escolheu a relação física e espiritual do amor conjugal. Deus quis que o casal humano fosse o arquétipo da humanidade, e que sua geração fosse por meio da via sexual.

Além disso, por meio deste ato, quis aprofundar o amor do casal. Então, a conclusão a que se chega, é que Deus não só inventou o sexo, mas o dotou de profunda dignidade e sentido, e por isso colocou normas para ser vivido de maneira correta, para que não causasse desajustamento e sofrimento.

Deus quis que o ser humano fosse material e espiritual, algo como uma síntese bela do animal que apenas tem corpo, com o anjo que apenas é espírito.

E dotando-o de corpo quis que o homem fosse sexuado como os animais; porém, a sua vida sexual devia ser guiada não pelo instinto, como nos animais, mas, pela alma, e iluminada pela inteligência, embelezada pela liberdade, conduzida pela vontade e vivida no amor.

A vida sexual é algo muito sublime no plano de Deus; por isso, jamais um casal deve pensar que Deus esteja longe no momento de sua união mais íntima; pois este ato é santo e santificador no casamento e querido por Deus.

O amor conjugal tem um sentido único; o amor entre dois seres do mesmo sexo, como, por exemplo, pai e filho ou dois amigos, não contém a complementação no plano físico. O uso do sexo no seu devido lugar, no casamento, bem entendido nos seus aspectos espiritual e psicológico, é um dos atos mais nobres e significativos que o ser humano pode realizar; pois ele é a fonte da vida e da celebração do amor. A virtude da castidade, mais do que consistir na renúncia ao sexo, significa o seu uso adequado.

Diz o Dr. Alphone H. Clemens, Diretor do Centro de Aconselhamento da Universidade Católica da América, Washington, D.C., sobre o ato sexual:

“É um ato de grande beleza e profunda significação espiritual, pois o amor conjugal entre dois cristãos em estado de graça, é uma fusão de dois corpos que são templos da Trindade, e uma fusão de duas almas que participam da mesma Vida Divina… Por outro lado, usado com propriedade, torna-se uma fonte de união, harmonia, paz e ajustamento. Intensifica o amor entre o esposo e a esposa, e funciona como escudo contra a infidelidade e incontinência. A personalidade humana integral, mesmo nos seus aspectos sobrenaturais, é enriquecida pelo sexo, uma vez que o ato do amor conjugal também é merecedor de graças” (Clemens, 1969, p. 175).

Afirma Raoul de Gutchenere, em “Judgment on Birth Control” que:

“Foi reconhecido há já bastante tempo, que […] as relações sexuais produzem efeitos psicológicos profundos, especialmente sobre a mulher”, uma vez que o esperma absorvido por seu corpo, desempenha um papel dinamogênico, promovendo o equilíbrio. De modo geral, o ato de amor conjugal provoca o relaxamento, vigor, autoconfiança, satisfação, sensação geral de bem estar, sensação de segurança e uma disposição que conduz ao esquecimento de atritos e tensões de menor importância entre o casal” (Apud Clemens, p. 177).

Não é à toa que São Paulo, há 2000 anos já recomendava aos cônjuges cristãos: “não vos recuseis um ao outro… afim de que Satanás não vos tente” (1Cor 7,5).

A recusa do sexo sem motivo pode representar não apenas uma injustiça para com o cônjuge, mas também o perigo de o expor à infidelidade e o casamento ao fracasso. Isso mostra que os casais não devem ficar muito tempo separados quaisquer que sejam os motivos, especialmente por razões menores. O afastamento prolongado deles pode gerar uma situação de estresse especialmente para o homem. Alguns conseguem superar essa abstinência sexual forçada com uma sublimação religiosa, mas nem todos tem a mesma disposição.

No entanto, é preciso dizer que os especialistas mostram em suas pesquisas que “outros fatores que não o sexo são mais importantes para a felicidade matrimonial”, uma vez que muitos casais superam seus problemas e angústias com um amor autêntico.

 

 

 

 

FELIPE AQUINO - Escritor católico. Prof. Doutor da Universidade de Lorena. Membro da Renovação Carismática Católica.

 

 

Trecho retirado do livro: A vida sexual no casamento – Editora Cléofas



publicado por Luso-brasileiro às 11:24
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PAULO ROBERTO LABEGALINI - CRISTO CONTA COM VOCÊ

 

 

 

 

 

 

 

 

 

 

 

 

 

 

 

 

Hoje, iniciarei refletindo este trecho do Evangelho de São Mateus (16,24-28):

“Naquele tempo, Jesus disse aos discípulos: ‘Se alguém quer me seguir, renuncie a si mesmo, tome sua cruz e me siga. Pois quem quiser salvar a sua vida vai perdê-la; e quem perder a sua vida por causa de mim, vai encontrá-la. De fato, de que adianta ao homem ganhar o mundo inteiro, mas perder a sua vida? Que poderá alguém dar em troca de sua vida? Porque o Filho do Homem virá na glória do seu Pai, com os seus anjos, e então retribuirá a cada um de acordo com a sua conduta. Em verdade vos digo: Alguns daqueles que estão aqui não morrerão antes de verem o Filho do Homem vindo com seu Reino’.”

O sagrado texto encontra-se nos três Evangelhos sinóticos: Lucas, Marcos e Mateus. Isto já mostra a importância da mensagem – forte e convincente. As palavras de Jesus são claras: “De fato, de que adianta ao homem ganhar o mundo inteiro se perder a sua vida? Que poderá alguém dar em troca de sua vida?”. A vida é o maior bem que temos e não a podemos pôr a perder para ganhar bens menores.

O que Jesus nos oferece é a vida plena, a realização de nossos anseios de felicidade. E diz que Ele mesmo é essa vida, nossa possibilidade de salvação. Temos de deixar tudo quanto for necessário para não perder essa oportunidade única de vida eterna.

Acho interessante refletir melhor naquilo que entendo em ‘deixar tudo’. Como seres humanos, que precisarmos trabalhar, nos divertir, viver em família e tantas outras coisas mais, deixar tudo significa ter tempo para as obras de Deus. A santidade deve ser buscada passo a passo, gradativamente ao longo da vida, e não num único dia. Se vivermos sem pecados mortais no coração já é um grande começo.

Amar como Jesus amou não é fácil, mas podemos aumentar a caridade que recebemos no Batismo rezando um pouco mais, participando dos Sacramentos, trabalhando em favor dos mais necessitados, praticando a justiça e falando a verdade. Nada disso é difícil e o resultado é maravilhoso! Seremos mais amados, mais respeitados e marcaremos nossa existência por algo que valeu a pena: a comunhão de vida com Deus e com o próximo.

Portanto, no tema ‘o seguimento de Jesus’, o objetivo é a ‘vida’. Renunciar a si mesmo e perder sua vida pode ser compreendido também no desprezo do sucesso pessoal, do enriquecimento e do consumismo. Este tipo de renúncia é uma libertação para assumir o compromisso de transformação deste mundo. Não carregaremos a cruz como condenados, mas suportando dignamente o peso da violência contra quem busca vida plena para todos.

Imaginemos que resolvêssemos o contrário: apegarmo-nos às coisas materiais, cada vez mais, perdendo a vida eterna. Teríamos como voltar atrás após a morte? Quanto custaria ter nossa vida de volta? Infelizmente, quando uma alma chegou ao fim de seu caminho espiritual e perdeu todas as chances de servir a Deus, não há como ser salva. Se perdeu tudo o que é de Deus, ela própria se perdeu.

São Paulo diz: “Morrer é uma vantagem”; isto é: a minha morte por Cristo é o meu ganho. Se quisermos, de fato, perder todas as coisas que fazem mal ao espírito e nos desviam do caminho para o Céu, podemos rezar assim:

“Senhor, livrai-me da ilusão, para que não corra em busca de felicidades que não me podem saciar. Que eu nunca vos deixe por alguém ou por qualquer valor que seja. Dai-me coragem para enfrentar tudo quanto for necessário para vos permanecer fiel. Ponho minha confiança em Vós; guardai meu coração, para que vos possa seguir carregando minha cruz. Amém.”

Lembro a história do homem doente que foi visitado por um sacerdote. Ao entrar no quarto do hospital, o padre viu uma cadeira ao lado da cama, como se tivesse sido colocada para ele próprio se sentar. E perguntou ao doente:

– Você estava me esperando? Até a cadeira já foi preparada para mim!

– Não, seu padre. É nesta cadeira que Jesus fica quando vem conversar comigo. É só eu chamá-lo e ele atende. Na verdade, nunca fui muito de rezar, mas desde que caí nesta cama, tenho procurado alguém que me entenda, me faça companhia e me ajude. Encontrei o médico dos médicos e posso dizer que estou em paz.

O padre ficou admirado com a fé daquele homem. Em seguida, o confessou e partiu. Na manhã seguinte, sabendo do falecimento do doente, foi ao velório e conversou com sua filha. Ela lhe disse:

– Encontraram meu pai morto, com o rosto sobre a cadeira ao lado da cama.

– Ele carregou sua cruz e morreu deitado no colo do seu melhor amigo – respondeu o padre.

Também você, leitor, sinta-se chamado a renunciar o pecado e seguir pelos caminhos do amor. Cristo conta com você!

 

 

 

 

PAULO ROBERTO LABEGALINI - Escritor católico, Professor Doutor da Universidade Federal de Itajubá-MG. Pró-reitor de Cultura e Extensão Universitária da UNIFEI.

 



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HUMBERTO PINHO DA SILVA - O JEITINHO

 

 

 

 

 

 

 

 

 

 

 

 

 

 

Era ainda cachopo quando presenciei esta cena caricata, que jamais esqueci:

Amigo de meu pai tinha um filho, que era negação para as letras. Com jeitinhos chegou ao quinto ano liceal, mas o inglês é que, por mais explicadores que tivesse, não lhe entrava na cabeça. Escrito, ainda dava um jeito, mas falado… era o diabo.

Sabendo que meu pai era amigo de professor, que certamente iria fazer o exame, veio pedir-lhe para interceder. O moço precisava do diploma, para poder concorrer a emprego decente.

Como se sabia que o dito professor, todos os domingos, assistia à missa em determinada igreja, meu pai compareceu no adro, para solicitar-lhe benevolência e água-benta para o rapaz.

A igreja era frequentada, também, por médico, amigo de meu pai, que ao vê-lo apressou-se a cumprimenta-lo.

Conversavam, quando apareceu o professor.

Meu pai fez o pedido, e pintou o drama do mocinho, apelando para o facto de também ser pai.

O professor, meio atrapalhado, esfregava as mãos, mordia os lábios, olhava para o céu, como procurasse inspiração, e declarou:

- Na oral, pode contar comigo… mas na escrita…

Nesse momento, o médico, virando-se para o assarapantado professor, disse:

- Ora…Você não conhece a letra dos seus alunos?!…

- Sim…Mas… - respondeu o homem.

- Mas…Quando vai ao meu consultório pedir atestado, por ter estado doente, eu sei que é falso… mesmo assim, faço-lhe o favor de acreditar…

- Mas…Compreende…Não posso…; não devo…; não gosto…; nem seria justo…

- Pois eu também não gosto de fazer ilegalidades…; portanto: só passo atestados, sabendo que realmente esteve doente… - Concluiu o médico, que tinha um coração de oiro, segundo constava.

Não sei se o professor fez ou não o jeitinho. Apenas sei que o rapaz parece que passou.

Tudo isso ocorreu há muito mais de meio século, mas creio, que a cunha e o jeitinho continuam…

É instituição nacional. Há quem diga que não faz favores, para não ser incomodado; mas, quando, quem o pede, é pessoa de peso, e pode-lhe fazer jeitinhos…lá vai, muito contrariado, intercedendo… Não vá o diabo tecê-las, e vir a precisar…É que a porta pode fechar-se… em nome da legalidade…

Não sou a favor de jeitinhos, mas por vezes, pode mudar uma vida…sem prejudicar, seja quem for.

 

 

 

 

HUMBERTO PINHO DA SILVA - Porto, Portugal



publicado por Luso-brasileiro às 10:58
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EUCLIDES CAVACO - RECORDAR É VIVER

 

 

 

 

 

 

 

 

 

 

 

 

 

 

RECORDAR É VIVER
É o tema da canção , hoje aqui feita poema da semana que dá também
título ao CD com 15 temas românticos de autoria de Euclides Cavaco,
gravado e interpretado pelo artista John Pimentel.
Veja e ouça esta canção romântica  aqui neste link:

 



http://www.euclidescavaco.com/Poemas_Ilustrados/Recordar_e_Viver/index.

 

 

 

EUCLIDES CAVACO - Director da Rádio Voz da Amizade , Canadá.
cavaco@sympatico.ca


publicado por Luso-brasileiro às 10:47
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Quarta-feira, 21 de Janeiro de 2015
CINTHYA NUNES VIEIRA DA SILVA - JARDINS DA ALMA

 

 

 

 

 

 

 

 

 

 

 

 

 

 

                Tenho uma especial atração por jardins e pelas variadas formas nas quais eles podem se apresentar. Admiro jardins imensos, trabalhados por profissionais, repletos de flores orquestradas para compor desenhos especiais. Gosto também daqueles jardins delicados, com cara de jardim de vó, com roseiras, margaridas, trevos de quatro folhas, hortelã e outras folhinhas cheirosas que podem acabar virando chá para gripe, tempero de carnes ou de doces.

                Da mesma forma, vivo a olhar para cima, para admirar os jardins que parecem querer expulsar o concreto das pequenas sacadas dos prédios. Em alguns casos, nem mesmo dá para enxergar o que há atrás da cortina verde que se forma nesses lugares. E eu acho isso simplesmente fantástico! Já me pego a imaginar que flores há lá, que pássaros foram atraídos e toda uma multidão de pequena fauna de insetos.

                Há ainda outros jardins possíveis, como aqueles verticais, que são plantados em muros, em telhados, dentro de floreiras, dentro de terrários, bem como em qualquer lugar no qual a criatividade humana ou as forças da natureza permitirem. Particularmente, adoro qualquer um deles, sejam como forem. Gosto de admirar as formas que as flores possuem, suas cores, seus aromas, assim também como tudo que vem junto com um jardim. Plante um jardim e as borboletas virão, como se diz. E é pura verdade...

                Moro em São Paulo e, embora seja uma casa, não há um mísero pedaço de terra no qual eu pudesse ter meu próprio jardim, mas nada que muitos vasos e um pouco de boa vontade não dessem jeito. Plantei muitas flores e até uma pequena horta. Nem tudo vai para frente, nem tudo vinga, mas já comi frutos nascidos lá e agora estou a namorar pequenos tomates que se vão formando. Resolvi, a par disso, tempos atrás, comprar um alimentador para beija-flores e tive o cuidado de comprar também um preparado especial para alimentá-los. Confesso que o fiz pelo desejo de que essas pequenas e maravilhosas aves pudessem me dar o prazer de sua presença, mas não acreditava muito que eles viriam, até porque ainda não tinha visto nenhum nesses mais de sete anos que estou na capital paulista.

                Enfim, comprei, montei e, um dia, apenas um dia depois, enquanto cuidava de algumas flores, eu o vi. Magnífico. Minúsculo. Uma joia alada. Verde oliva e roxo. Fiquei sem fôlego e inerte, temerosa de que um único respirar pudesse afastar aquela fada real. Mais alguns dias e vi que não era apenas um, mas eram quatro, dois casais de espécies distintas. Tornaram-se meus fregueses, meus mágicos visitantes diários. Posso dizer que agora meu jardim está perfeito, embora nunca esteja completo, pois para isso eu preciso do mundo. E posso dizer agora que tenho um beija-flor, da melhor forma que se pode ter um pássaro ou mesmo alguém, em liberdade e por amor...

                Fico pensando nos jardins que amo e é quase inevitável fazer uma relação com a vida das pessoas. Muitas vezes passamos tempo demais a reclamar que beija-flores e borboletas não vem até nós, mas nem nos damos conta de que sequer preparamos um jardim para isso e vamos nos amargurando ao olhar os jardins alheios, repletos de vida, ressentidos de nossa “pouca sorte”. Assim também muita gente passa a vida olhando para o alheio, para a alegria do outro, sequer tendo investido tempo, paciência e trabalho para que o mesmo pudesse lhe acontecer. Tristes pessoas sem jardins em seus olhos, em seus corações e em suas almas.

                Assim como os jardins de verdade, nem sempre tudo que plantamos irá florescer, mas nada irá florescer sem que haja ao menos um lugar preparado ou disponível para isso. Algumas vezes, inclusive, plantamos alguns sonhos e colhemos outros, outros que jamais imaginamos, trazidos em semente pelo bico de algum pássaro que atraímos sem saber.

                Os jardins da alma, também devem ser, do mesmo modo que os demais, objeto de cuidado constante. Há que se preparar a terra, o coração, mas há que se podar os galhos, cuidar dos sonhos, evitar as pragas e as desilusões, e, quando forem inevitáveis, cuidar de começar a semear novamente, sementes ou sonhos.

                Não sei viver sem meus jardins, sem nenhum tipo deles. Às vezes, por descuido, eles se ressentem e me avisam que beija-flores, amigos e amores precisam ser cativados eternamente. Não dão garantias de permanência, mas podem encantar toda uma vida... Cuide bem de seu jardim. O resto vem...

 

 

 

CINTHYA NUNES VIEIRA DA SILVA - Advogada, mestra em Direito, professora universitária e escritora - São Paulo.

 



publicado por Luso-brasileiro às 11:49
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MARIA CRISTINA CASTILHO DE ANDRADE - DELICADEZAS DE DEUS

 

 

 

 

 

 

 

 

 

 

 

 

 

Considero Deus de delicadeza extrema. Clarice Lispector, certa vez, escreveu sobre isso: “Um dia uma folha me bateu nos cílios. Achei Deus de uma grande delicadeza”.

Quando Ele me propõe algo, não usa de voz grossa e de prepotência, embora seja o Senhor. Fala mansinho, sem imposições, no livre arbítrio. E tenho experimentado que os planos dEle são melhores que os meus.

Na semana passada, fomos – mamãe, Da. Guiomar Genari, Rose Ormenesi e eu -, à Missa no Santuário Nacional de Nossa Senhora da Conceição Aparecida. Fomos como peregrinas para pedir a bênção a Maria para o ano de 2015 e depositar, aos seus pés, agradecimentos e pedidos.

Antes, como fazemos desde 2001, rezamos e refletimos no Mosteiro da Sagrada Face em Roseira - Casa Geral da Congregação dos Oblatos de Cristo Sacerdote. Existe lá um silêncio tão pleno de céu, que é difícil explicar. Bem de acordo com o que li, um dia desses, a respeito da Beata Madre Teresa de Calcutá: um jornalista lhe perguntou o que ela expunha a Deus, ao rezar. Respondeu que não falava, escutava. O jornalista, então, lhe indagou sobre aquilo que Deus lhe manifestava e ela afirmou: “Ele não fala. Ele escuta. E se você não pode compreender isso, não posso lhe explicar”.

A música de entrada na Missa na Basílica: “Mestre, onde moras?”, contém os versos: “No meu coração sinto o chamado,/ fico inquieto, preciso responder./ Então pergunto: ‘mestre onde moras? ’/ E me respondes que é preciso caminhar/ seguindo Teus passos/, fazendo a história,/ construindo o novo no meio do povo. (...) Meu ‘sim’ é resposta/ é meu jeito de amar,/estar com Teu povo/ contigo morar!”

Nas Leituras do dia, Hebreus 3, 7-14 e Marcos 1, 40-45, o convite para não endurecer o coração e a cura de leproso por Jesus, que cheio de compaixão, estendeu a mão, tocou nele e proclamou: “Eu quero, fica curado!” O Celebrante, durante a homilia, enfatizou que, na época, tocar em um leproso significava também se tornar impuro. Jesus ultrapassou a lei e tocou naquele que necessitava não de julgamento, mas de misericórdia.

Não tive dúvida de que ali, neste começo de ano, em que tudo me indicava as bem-aventuranças, o Senhor, de maneira tênue, me mantinha na missão de abraçar com ternura as filhas e os filhos dEle que tropeçam pelas margens da humanidade e, de alguma forma, passam por meus caminhos.

 

 

 

MARIA CRISTINA CASTILHO DE ANDRADE - Professora e cronista. Coordenadora diocesana da Pastoral da Mulher – Santa Maria Madalena/ Magdala. Jundiaí, Brasil.

 

 



publicado por Luso-brasileiro às 11:46
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JOÃO CARLOS JOSÉ MARTINELLI - EM JANEIRO, O DIA INTERNACIONAL DO RISO.

 

 

 

 

 

 

 

 

 

 

 

 

 

 

 

 

 

Embora pouco divulgada, celebrou-se a 18 de janeiro uma data comemorativa inusitada, o DIA INTERNACIONAL DO RISO, festejado pela primeira vez no Brasil em 2009, por ocasião do lançamento do livro “Sorria, você está sendo curado” do humorista Marcelo Pinto, conhecido como “Dr. Risadinha”. Mundialmente, teve origem em Mumbai, na Índia, em 1998, quando 12.000 membros de clubes sociais de diversas partes do mundo juntaram-se em uma mega sessão de riso, num evento criado pelo fundador do movimento “Yoga do Riso”, Dr. Madan Kataria.

            Apesar de curioso, o acontecimento tem propósitos louváveis, já que objetiva ressaltar a importância do riso como demonstração de bem estar que aproxima as pessoas e traz alegria. Tanto que o genial cineasta Charles Chaplin dizia: "Creio no riso e nas lágrimas como antídoto contra o ódio e o terror”. “Um dia sem rir é um dia desperdiçado”. “É saudável rir das coisas mais sinistras da vida, inclusive da morte. O riso é um tônico, um alívio, uma pausa que permite atenuar a dor”.

            Com propriedade, Ariano Suassuna, grande escritor brasileiro, afirmou: "Tenho duas armas para lutar contra o desespero,     a tristeza e até a morte:/o riso a cavalo e o galope do sonho/É com isso que enfrento essa dura e fascinante tarefa de viver."

             Indicam os especialistas que rir faz bem para a saúde mental, pois relaxa as tensões, ameniza o estresse diário e abafa os efeitos da competição provocada pelo consumismo desenfreado. Por outro lado, é ótimo para a saúde como um todo, pois quando rimos, praticamos exercícios faciais que retardam o surgimento de rugas e mexem com o corpo inteiro, produzindo excelentes resultados. Sabe-se hoje que o riso fortifica o sistema imunológico, estimula as funções cardiovasculares e libera endorfinas que combatem a dor. Assim, ele é um ato simples, com inúmeras consequências agradáveis.

             Há quem diga que ao sorrimos para alguém, podemos estar mudando a vida desta pessoa ou, pelo menos, parte dela. Antoine de Saint-Exupéry escreveu: "No momento em que sorrimos para alguém, descobrimo-lo como pessoa, e a resposta do seu sorriso quer dizer que nós também somos pessoa para ele". Nessa trilha, Fiodor Dostoievski se expressou: “Conhecemos um homem pelo seu riso; se na primeira vez que o encontramos ele ri de maneira agradável, o íntimo é excelente”.

            Efetivamente, rir é um ótimo remédio para o corpo e para o espírito. Por isso a recomendação:             devemos praticar constantemente a terapia do riso. Pesquisas científicas mostram que pessoas felizes vivem mais e melhor. Existe até um “Movimento Mundial do Riso!” que fundado em 1995 conta com mais de 6 mil clubes da risada, espalhados por todo o mundo. Portanto, aquele conhecido ditado "rir é o melhor remédio" efetivamente traduz uma concreta realidade.

              

 

 

 

JOÃO CARLOS JOSÉ MARTINELLI é advogado, jornalista, escritor e professor universitário.

 



publicado por Luso-brasileiro às 11:41
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