PAZ - Blogue luso-brasileiro
Quarta-feira, 21 de Janeiro de 2015
RENATA IACOVINO - BEBENDO NOEL

O botequim (boteco, barzinho) é um local frequentado por apreciadores não só de bons petiscos e etílicos. Essas pessoas encontram, ali, muitas vezes, a extensão da sua casa e, principalmente, um ótimo papo com amigos, socializando assuntos e assimilando que a vida pode ser um pouco mais leve do que imaginamos.
As conversas de botequim ainda não estão em extinção. Pelo menos enquanto uma fiel geração salvaguardar sua aura. Enquanto os celulares não tomarem a atenção integral dos convivas, a troca de palavras resistirá. E em seu bojo, toda gama de calor humano que em certos momentos nem debaixo do mais eficiente cobertor encontramos.
Partilhar presente, futuro e passado, abordar o inócuo, entusiasmar-se com o essencial, derrubar risos ou prantos sobre a mesa... só quem divide o espaço nesse templo pode compreender.
Voltando ao ano de 1935, temos o registro da composição musical que talvez melhor traduza esse clima. Sobre a letra de Noel Rosa, intitulada Conversa de Botequim, seu parceiro, Vadico, colocou uma melodia de samba sincopado que casou perfeitamente com a crônica escrita. Talvez a mais genial dentre as composições da dupla.
O Café Nice, muito frequentado por Noel, artistas, políticos e intelectuais, é o pano de fundo da canção, que descreve uma fala do frequentador com o garçom. Este último, figura importantíssima para os amantes de botequim.
Em seu tom coloquial, a crônica musicada mostra aspectos da cultura à época, como a "pendura", a crise financeira, a necessidade de obter pequenos empréstimos e favores para comprar o que era necessário e, claro, a intimidade que se tinha com a figura do garçom, com quem era possível abordar qualquer tipo de assunto e pedir conselhos.
"Seu garçom, faça o favor de me trazer depressa/uma boa média que não seja requentada,/um pão bem quente com manteiga à beça,/um guardanapo e um copo d’água bem gelada." (...) "Telefone ao menos uma vez para 34-4333/e ordene ao seu Osório/que me mande um guarda-chuva/aqui pro nosso escritório./Seu garçom, me empresta algum dinheiro,/Que eu deixei o meu com o bicheiro./Vá dizer ao seu gerente/Que pendure essa despesa/No cabide ali em frente."
Composições são parte de nossa história cultural. Rememorá-las é preservar o sentido de nossa existência.
Evoé, Noel! Que possamos bebê-lo por muito tempo!
RENATA IACOVINO, escritora, poetisa e cantora /reiacovino.blog.uol.com.br /reval.nafoto.net / reiacovino@uol.com.br
ARMANDO ALEXANDRE DOS SANTOS - A REVOLTA DA CHIBATA

Quem assistiu ao clássico do cinema soviético “O Couraçado Potemkin” pode fazer uma ideia do que foi a Revolta da Chibata e das repercussões que ela produziu no Brasil de 1910.
A revolta dos marinheiros do Potemkin, que mais tarde foi idealizada e instrumentalizada pela propaganda comunista, deu-se em 1905, na fase final do regime tzarista, 12 anos antes de os bolchevistas subirem ao poder na Rússia. Ela repercutiu em todo o mundo, onde se notava uma fermentação revolucionária que, em surdina, minava profundamente a ordem e a estabilidade aparentes da chamada “Belle Époque”.
No Brasil, no final de 1910, estava assumindo a Presidência da República o Marechal Hermes da Fonseca, filho de outro General Hermes (que comandava as tropas do Império na Bahia, quando do 15 de Novembro) e sobrinho de Deodoro da Fonseca. O Presidente Hermes teve um governo sui generis, inaugurando uma política nova em relação aos monarquistas que, até então, tinham estado alijados completamente da vida pública e colocados à margem da representação política, bordejando a ilegalidade. Hermes, julgando a República consolidada, deixou de praticar uma política de inspiração positivista e jacobina; atraiu para seu governo os apoios de líderes monarquistas que, mesmo fora da política, conservavam grande influência social e capacidade de trabalho; convidou, por exemplo, o Cons. João Alfredo Corrêa de Oliveira, antigo presidente do Conselho de Ministros do Império, para assumir a direção do Banco do Brasil; restituiu ao “Instituto Nacional de Educação Secundária” seu tradicional nome de Colégio Pedro II, que tinha sido mudado pelos republicanos da primeira hora; readmitiu antigos professores desse Colégio, concursados ainda no Império, que tinham sido despedidos sumariamente pelo Governo Provisório de 1889, como foi o caso de Carlos de Laet, o qual não apenas retomou seu cargo como professor, mas foi convidado pelo Presidente a assumir a direção do Colégio Pedro II. E, fato simbólico muito expressivo, Hermes deslocou-se até Petrópolis, para homenagear a memória de D. Pedro II, inaugurando uma estátua a ele dedicada.
Tudo isso mostrava o caráter conservador do novo governo, embalado numa situação econômica que parecia bastante promissora, com o café, o principal produto brasileiro, gozando de ótima cotação no mercado internacional. Os sucessos que nossa diplomacia tinha obtido nos anos anteriores, graças aos esforços inteligentes do Barão do Rio Branco, contribuíam poderosamente para dar, ao conjunto da vida pública brasileira, um ar de solidez, estabilidade e poderio invejáveis.
Foi nesse contexto que a ordem social foi profundamente abalada pela Revolta da Chibata.
Ainda não está inteiramente publicada a documentação a respeito, mas segundo parece, ela foi longamente tramada e preparada nas entranhas da nossa Armada, por meio de sociedades secretas existentes entre os marinheiros e praças. Era uma luta de caráter social, revestindo-se de um espírito de insubordinação e revolta contra a oficialidade. O pretexto cômodo para a revolta foi a exigência da abolição dos castigos corporais, que eram previstos e praticados pelas Forças Armadas de todo o mundo desde, pelo menos, os famosos regimentos do Conde de Lippe, no século XVIII.
Considerando nossa cultura atual e a mentalidade que hoje prevalece no Ocidente, a prática de castigos corporais parece-nos algo profundamente degradante, aviltante e atentatório da dignidade humana. Mas não era bem assim que a cultura da época a considerava, já que até em colégios da aristocracia britânica, como aquele em que estudou, por exemplo, o jovem Winston Churchill, surrar alunos era prática usual e até corriqueira. Fazia parte da pedagogia aceita e praticada no tempo. Tempora mutantur...
De qualquer forma, o uso e, sobretudo, o abuso da chibata deu pretexto cômodo para o movimento revolucionário, que eclodiu em vários navios da Armada ancorados na Baía de Guanabara, na noite de 22/11/1910, prolongando-se por 5 dias. O chefe aparente dos aproximadamente 2400 marinheiros revoltados foi João Cândido Felisberto, líder que, segundo consta, de longa data tramava o levante. A reação de alguns oficiais provocou suas mortes e deu, desde logo, ao movimento um caráter de violência que, ao que parece, não estava na intenção inicial dos seus organizadores. Também muitos marinheiros, de diversos navios de guerra, se recusaram a aderir ao movimento, que acabou reduzido a 5 ou 6 navios de guerra, que ameaçaram desde logo bombardear a capital, caso não fosse imediatamente abolida a chibata e não fossem anistiados todos os atos revoltosos.
Seguiram-se 5 dias de muita tensão e nervosismo. O Governo federal cedeu aos revoltosos, aceitando suas exigências, mas exigindo que fossem desarmados. Na confusão, houve os resistentes, o que deu pretexto cômodo, ao Governo, para revogar a anistia que tinha dado a contragosto e proceder com extremo rigor, até mesmo com brutalidade excessiva, em relação aos revoltosos. É muito difícil, à distância e sem conhecer toda a documentação da época, formular juízos de valor no caso. A tentação para carimbar os circunstantes como “mocinhos” ou “bandidos”, de acordo com nossas preferências e simpatias ideológicas, é muito grande. Mas, ensina-nos a História, julgamentos desses nem sempre são possíveis, e quando o são somente devem ser formulados, de acordo com a fórmula latina, “sine ira ac studeo” (sem rancor e com muito cuidado).
Houve um número elevado de revoltosos, talvez uns 200, mortos. Cerca de 2000 marinheiros foram expulsos da Marinha. João Cândido foi preso, como louco e indigente, mas mais tarde foi absolvido em corte marcial. Quase 100 anos depois, foi reintegrado com honras, post mortem, à Marinha.
ARMANDO ALEXANDRE DOS SANTOS é historiador e jornalista profissional, membro do Instituto Histórico e Geográfico Brasileiro.
JOSÉ RENATO NALINI - UM PAÍS SEM EXCELÊNCIAS...
…nem mordomias! É o livro de Cláudia Wallin, com que o presidente da Assembleia Legislativa do Estado, deputado Samuel Moreira, me presenteou. Logo na capa, a epígrafe instigante: “Na Suécia, os políticos ganham pouco, andam de ônibus e bicicleta, cozinham sua comida, lavam e passam suas roupas e são tratados como “você”. No Brasil…”.
A capa do livro estampa a foto de Carld Bildt, ministro das Relações Exteriores da Suécia e ex-primeiro-ministro,de bicicleta, a caminho de seu gabinete. O prefácio é de Luiz Fernando Emediato: “Viva a Suécia, Pobre Brasil!”. Ele começa por analisar a anomalia da República brasileira: “A incipiente democracia brasileira vive uma situação sui generis. Ser político e alto servidor público transformou-se numa profissão que confere à pessoa enormes confortos e mordomias e altíssimos lucros. Empresários podem ser ministros, ou ministros ou altos secretários se transformam em banqueiros, depois de seus controvertidos mandatos. Deputados e senadores costumam ser empresários ou delegados de corporações empresariais ou agrárias”.
O Reino da Suécia teve origem nos idos de 1200 da era cristã. O Rei Gustav é casado com Silvia, que estudou no Colégio Porto Seguro e quando viaja, usa avião de carreira e carrega sua própria bagagem de mão. As pessoas já se esqueceram de que ela dirigiu seu carro para ir à maternidade prestes a dar à luz à Princesa Vitória, hoje já casada. Pois é nesse país que o exercício da política é conduzido predominantemente com integridade, ausência de privilégios anacrônicos e respeito ao dinheiro dos impostos do cidadão, diz a autora. Um país onde os deputados recebem cerca de 50% a mais do que ganha, em média, um professor primário. Pois “os suecos querem mais transparência e menos políticos desconectados da realidade das ruas“. E o senso de autocrítica do poder persiste, como disse o então 1º Ministro, Göran Persson: “Não lidero o governo mais brilhante do mundo. O gabinete de ministros não é nenhum modelo de elite intelectual, e particularmente bonitos nós também não somos”. Mas têm autocrítica, o que parece faltar em alguns outros países. Que tal aprender alguma coisa com os suecos?
JOSÉ RENATO NALINI é presidente do Tribunal de Justiça do Estado de São Paulo para o biênio 2014/2015. E-mail: jrenatonalini@uol.com.br.

FELIPE AQUINO - O QUE É MAIS IMPORTANTE NA AMIZADE ?

A amizade, cuja fonte é Deus, não se esgota nunca, dizem os santos.
Alguém disse que o amigo é algo especial que Deus inventou para cuidar da gente. A Palavra de Deus diz que “um amigo fiel é uma poderosa proteção: quem o achou, descobriu um tesouro” (Eclo 6, 14) .
Ora, tesouro é aquilo que nos enriquece. Então, o amigo é alguém que nos faz crescer, nos torna melhores.
Tive muitos amigos em toda a minha vida. Como as pessoas são diferentes! Graças a Deus, temos amigos de todo tipo: os engraçados, os intelectuais, os que nunca se animam, os que nos mimam, os originais, os que necessitam cuidados, os que são capazes de nos carregar seja qual for nosso estado de ânimo, os que sempre estão atentos, os que só mostram uma pequena parte do que são, os que sempre conseguem o que querem, os corajosos, os que sempre tem uma notícia ou uma novidade para contar, os que entram em casa a qualquer momento, os que nos fazem temer, os organizados, os “folgados” de sempre, os protetores, os de longe, os que não param de trabalhar, os que têm mania de grandeza, os que sempre estão enrolados em algo, os que são capazes de fazer qualquer coisa para evitar que passemos um mal momento, os que necessitam proteção, os brincalhões, os surpreendentes, os que nos fazem rir a qualquer preço, os que são tão ternos, os que sempre estão nos esperando… Quem busca um amigo sem defeito, fica sem amigo.
Por que a amizade é importante?
Já no antigo testamento, em diversas passagens, a Palavra nos revela vários ensinamentos acerca da amizade:
“Azeite e incenso alegram o coração: a bondade de um amigo consola a alma”. (Provérbios 27,9)
“O amigo ama em todo o tempo: na desgraça, ele se torna um irmão”. (Provérbios 17,17)
“Um amigo fiel é uma poderosa proteção: quem o achou, descobriu um tesouro” (Eclo 6, 14)
“Dois homens juntos são mais felizes que um isolado, porque obterão um bom salário de seu trabalho. Se um vem a cair, o outro o levanta. Mas ai do homem solitário: se ele cair não há ninguém para o levantar”. (Ecl 4, 9-10)
“Não abandones teu amigo, o amigo de teu pai; não vás à casa do teu irmão em dia de aflição. Vale mais um vizinho que está perto, que um irmão distante”. (Provérbios 27,10)
O Próprio Jesus, Deus que se fez homem, precisou de amigos, riu e chorou com eles. E quis através deles nos ensinar:
“Ninguém tem maior amor do que aquele que dá a sua vida por seus amigos. Vós sois meus amigos, se fazeis o que vos mando. Já não vos chamo servos, porque o servo não sabe o que faz seu senhor. Mas chamei-vos amigos, pois vos dei a conhecer tudo quanto ouvi de meu Pai”. Jo 15, 13-15

Mas, quem é o verdadeiro amigo? O que é mais importante numa amizade?
Numa verdadeira amizade é preciso que ambos os amigos cresçam como pessoas humanas, por causa do outro. Uma amizade sem isso fica vazia, sem sentido. E para isso muita coisa é importante numa amizade. Antes de tudo não pode haver nela rivalidade e sim complementariedade; o amigo é aquele que completa o outro; lhe dá aquilo que ele não tem. Não pode haver ciúmes, inveja, competição, orgulho, arrogância; isso destrói a amizade. É importante que neste mesmo tempo se construa a confiança, o respeito, a tolerância, o carinho.
Nem sempre o que é indulgente conosco é nosso amigo, nem o que nos castiga, nosso inimigo. Santo Agostinho disse que “São melhores as feridas causadas por um amigo que os falsos beijos de um inimigo. É melhor amar com severidade a enganar com suavidade.”
Os amigos verdadeiros nos ajudam a crescer porque nos revelam o que somos, são como que nossos espelhos, através deles podemos nos enxergar.
O amigo é aquele que compartilha a nossa dor, e dor compartilhada é dor amenizada. É preciso saber ser amigo. Aquele que não tem necessidade de ninguém, tem muitos amigos. Onde reina a amizade, não existe necessidade. Minha esposa gostava de dizer que “vale mais um amigo do que dinheiro no bolso.”
O que faz o amigo crescer é a fidelidade; ela é a alma da verdadeira amizade. Conta-se que dois amigos inseparáveis foram para uma guerra juntos. Em um combate um deles ficou ferido gravemente, e sem que o outro percebesse ficou caído. Quando o primeiro voltou para a trincheira, percebeu que o amigo não tinha voltado para o abrigo.

“Meu amigo ainda não regressou do campo de batalha, senhor. Solicito permissão para ir buscá-lo” — disse o soldado a seu superior.
“Permissão negada”, respondeu o oficial — “Não quero que você arrisque a sua vida por um homem que provavelmente está morto”’.
O soldado, desconsiderando a proibição, saiu, e uma hora mais tarde regressou mortalmente ferido, transportando o cadáver de seu amigo. O oficial ficou furioso.
“Eu te disse que ele já estava morto! Agora, por causa da sua indisciplina, eu perdi dois homens! Me diga, valeu a pena ir até lá para trazer um cadáver?”. E o soldado, moribundo, respondeu: “’Claro que sim, senhor! Quando encontrei o meu amigo, ele ainda estava vivo e pôde me dizer: “Eu tinha certeza de que você viria!”.
“Um amigo é aquele que chega quando todo o mundo já se foi”.
Para fazer o amigo crescer é precioso saber entendê-lo, mesmo sendo tão diferente dele.
Esses nos ajudam nos momentos difíceis… Podemos esquecer aquele com quem rimos muito, mas nunca nos esqueceremos daquele com quem choramos. O laço da tristeza é mais forte que o laço da alegria. Na prosperidade os verdadeiros amigos esperam ser chamados; na adversidade, apresentam-se espontaneamente. Na seca, conhecem-se as boas fontes, e na adversidade, os bons amigos.
Amigo é aquele que nos faz aprender. É aquele que sabe tudo a meu respeito e gosta de mim assim mesmo. Seja amigo daquele que pode te ensinar muitas coisas, mesmo que ele tenha que lhe dizer verdades amargas. É aquele que o aceita como é, e não se cansa dos seus defeitos.
O amigo cresce quando você sabe guardar os segredos dele, enxuga as suas lágrimas, previne suas quedas, sabe interpretar os seus olhares e respeitar os seus silêncios sagrados.
Para fazer o amigo crescer é preciso criar um deserto dentro de nós e aceitar que o amigo venha povoá-lo. O outro cresce quando você fala mais daquilo que lhe interessa do que daquilo que interessa a você. Então ele lhe fará muitas confidências.
O combustível da amizade é o diálogo, a troca sincera de ideias; não a discussão que é uma luta entre dois homens. Para ajudar o outro a crescer é melhor não demonstrar que ele está errado, mas ajudá-lo a descobrir a verdade por si mesmo.
Se você quiser fazer o amigo crescer, comece por amá-lo sinceramente. O outro tem a tendência a ser aquilo que você pensa e diz que ele é. O elogio sincero tem um poder mágico de fazer o outro crescer. Se quiser que o outro progrida, felicite-o sinceramente. Revelar os dons do outro é fazê-lo se descobrir e crescer.
O amigo verdadeiro é aquele que sabe olhar sem inveja a nossa felicidade. O maior esforço da amizade não deve ser o de mostrar nossos defeitos a um amigo, mas fazer com que ele veja os dele. O maior bem que podemos fazer ao amigo é levá-lo a descobrir suas riquezas. Não hesite em se sujar para tirar um amigo da lama.
A amizade, cuja fonte é Deus, não se esgota nunca, dizem os santos. Nunca desista de ajudar o amigo a vencer uma batalha; não há nem haverá ninguém que tenha caído tão baixo que esteja fora do alcance do amor infinito de Deus e do nosso socorro.
FELIPE AQUINO - Escritor católico. Prof. Doutor da Universidade de Lorena. Membro da Renovação Carismática Católica.
PAULO ROBERTO LABEGALINI - SABEDORIA NAS RESPOSTAS

Algumas vezes erramos ao julgar o valor de uma atividade simplesmente pelo tempo dispensado para realizá-la. Um bom exemplo é o caso do técnico em informática que foi chamado para consertar um computador extremadamente complexo – uma máquina que valia 12 milhões de dólares! Antes dele, muitos profissionais já haviam tentado resolver o problema.
Sentado em frente ao monitor, o técnico apertou algumas teclas, balançou a cabeça e desligou o aparelho. Então, tirou do bolso uma pequena chave de fenda e girou uma volta e meia um minúsculo parafuso. A seguir, religou o computador e verificou o seu perfeito funcionamento.
O presidente da companhia mostrou-se encantado e se dispôs a pagar a conta imediatamente.
– Perfeito! Quanto lhe devo? – perguntou.
– São mil dólares pelo serviço todo.
– Mil dólares por apertar um simples parafusinho? Eu sei que o computador custa uma fortuna, mas mil dólares é um valor brutal! Só pagarei se me enviar uma fatura detalhada que justifique a cobrança.
Na manhã seguinte, o presidente recebeu a fatura, leu com atenção, refletiu por alguns momentos e resolveu pagá-la sem restrições. Na fatura, constava: “Apertar um parafuso = 1 dólar; saber qual parafuso apertar = 999 dólares. Total = 1000 dólares”.
Uma resposta convincente, concorda? Também Jesus, quando quiseram embaraçá-lo e perguntaram se deveriam pagar imposto ao imperador romano, respondeu: “Dai a César o que é de César e a Deus o que é de Deus”. Com sabedoria, deixou claro que o homem foi criado principalmente para as coisas do alto.
A reposta de Jesus, ainda hoje, é um convite para abandonarmos nossos horizontes limitados e ajudarmos na construção do Reino de Deus. Na ‘cilada perfeita’ que armaram para Ele, se apoiasse o tributo imperial, iria se expor ao ódio dos judeus; se não apoiasse, seria denunciado aos romanos como revolucionário e agitador do povo. Sabiamente, Jesus Cristo calou os líderes judaicos com suas célebres palavras.
E como recebemos dons do Espírito Santo, continua sendo possível agir com sabedoria em situações embaraçosas. Foi o que aconteceu numa escola de ensino médio, onde um jovem tomou para si a responsabilidade de discordar do palestrante:
– Vocês, coroas, cresceram num mundo diferente. Nós temos internet, celular, viagens espaciais e tecnologias inovadoras. Temos ainda energia nuclear, carros elétricos e computadores com grande capacidade de processamento. Sabemos melhor do que vocês como nos comportar no mundo moderno.
A resposta do professor foi precisa:
– Você pode estar certo, filho. Nós não tivemos muitas dessas coisas quando éramos jovens, por isso as inventamos e as desenvolvemos para vocês. E você, o que está fazendo para a próxima geração?
Todos aplaudiram ruidosamente o conferencista.
Pois é, tomara que esta história sirva de exemplo para cada cristão, sinalizando que não pode viver alienado do planeta globalizado, mas é importante ser fermento, sal e luz para um mundo melhor. Fundamentado na caminhada do povo de Deus, o cristão pode fazer uma diferença saudável na comunidade – atuando como embaixador divino, a começar na família.
Mas, para concluir os ‘sábios argumentos e respostas’ que preparei, eis outra lição:
Num domingo pela manhã, um importante professor estava lendo jornal no jardim de casa quando o pai sentou-se ao seu lado. O velho havia sofrido um derrame há anos e, desde então, não pronunciava bem as palavras. De repente, o senhor idoso apontou para o topo de uma árvore e resmungou algo para o filho. E ele respondeu:
– É um simples pássaro, pai.
Assim que voltou a atenção para o jornal, seu pai novamente apontou para a árvore e mostrou algo a ele. O professor repetiu:
– É só um pássaro, pai. Deixe-o em paz que daqui a pouco ele vai embora.
Mas quando notou que o velhinho insistia em lhe mostrar o passarinho, o filho desabafou:
– Pai, eu já lhe disse que isto não passa de uma avezinha sem importância. Pare de ficar perdendo tempo com isso! Que coisa chata!
Então, a mãe do professor veio ao jardim e perguntou ao filho:
– Por que você está gritando com seu pai?
– Ele não pára de me mostrar um passarinho na árvore! Que importância tem isso?
Abraçando o marido, a senhora disse ao filho:
– Querido, quando você era pequeno, eu me lembro que seu pai o levava passear no bosque todo final de semana. Chegando próximo ao lago, você apontava para um peixe e sorria. Imediatamente seu pai lhe respondia que era um peixinho e o levava mais perto para vê-lo melhor. E vocês ficavam muito tempo fazendo a mesma coisa: você mostrando o lago e seu pai, pacientemente, explicando que era um lindo peixinho. E cada vez que ele repetia isso a você, lhe dava um carinhoso beijo na face.
PAULO ROBERTO LABEGALINI - Escritor católico, Professor Doutor da Universidade Federal de Itajubá-MG. Pró-reitor de Cultura e Extensão Universitária da UNIFEI.
Terça-feira, 20 de Janeiro de 2015
HUMBERTO PINHO DA SILVA - MAOMÉ. JESUS E MARIA

No tempo do Papa S. Bonifácio IV, 610 anos depois da morte de Jesus e 180 do falecimento de Santo Agostinho, Muhammad, conhecido no ocidente por Maomé, foi, segundo asseverou, contactado pelo Arcanjo S. Gabriel.
O Profeta Muhammad ( Muhammad ben Abdullah ben Abdul Mutlib ben Háxime ),nasceu em Meca, no ano de 570 d.C. Aos dois meses morre-lhe o pai,(Abdallah) legando-lhe de herança: cinco camelos, a escrava Baraka e algumas ovelhas. A mãe, Bibi Amina cuida dele até aos seis anos; entretanto faleceu, ficando o Profeta entregue à escrava. Decorrido mais dois anos, o tio Abu Talib levou-o para casa, tratando-o como filho.
Muhammad,desde muito novo mostrou extraordinária capacidade intelectual e cedo coadjuvou nos negócios do tio.
Ao completar vinte anos, foi trabalhar para uma prima, viúva, muito rica, chamada Cadija. Esta, reconhecendo a excepcional inteligência,e habilidade para os negócios. propõe-lhe casamento.
Por volta dos quarentas anos o Profeta Muhammad é senhor de abastados cabedais. Tem mulher dedicada e filhos. Por essa época o Arcanjo S. Gabriel - segundo declarou, - revela-lhe a Palavra e diz-lhe que será Profeta de Deus.
Manteve, restrita à família, essa revelação; três anos depois começa a pregar.
Os árabes politeístas, não acolhem de bom grado a doutrina e oferecem-lhe dinheiro para a abandonar . Não aceita. É considerado persona nom grata em Meca. Retira-se então para Latrib e em seguida para Medina, proclamando:”Não haverá nenhum profeta depois de mim.”
Com a espada entra em Meca, e alguns califas, idalções, xeques, meliques e amires expandiram o Islão, do mesmo jeito, que muitos reis europeus levaram a cruz, enriquecendo reinos e bolsa de poderosos.
O Profeta teve várias esposas, mas para sempre ficou grato à primeira, por se ter casado, sendo ele pobre.
Como os cristãos, que possuem a Bíblia e A guardam na estante ou na mesinha de cabeceira, mas não A lêem, ou lêem - Na mal, há muçulmanos que não conhecem ou não sabem interpretar o Alcorão, devidamente.
Se ambos fossem mais crentes que religiosos, sabiam que Jesus mandou Amar o próximo e até os inimigos (Mt.5:43,44) e o Cap. CIX do Livro Sagrado do Islão, recomenda tolerância para os que seguem religiões diferentes e Faz o bem da mesma maneira que Deus to faz! (Cap. XXVIII:77).
O “Credo dos fieis”,que o bom muçulmano conhece e reza, diz:”Cremos em Deus, no que nos foi revelado e no que foi revelado a Abraão, a Ismael, a Isaac ,a Jacob, a Jesus e aos Profetas, provenientes do seu Senhor; não estabelecemos diferença entre eles, e nós estamos submetidos a Ele, somos muçulmanos” Cap.III:84.
E no CapV:82, Maomé lembra: “Nos que dizem: “Nós somos cristãos”, encontrarás os mais próximos, em amor, para os que crêem, e isso porque entre eles há sacerdotes e monges e não se enchem de orgulho.”
Vejamos as referências a Jesus, contidas no Livro Sagrado dos muçulmanos:
CapV:110 - “Jesus, filho de Maria, recorda o benefício que dispensei sobre ti e sobre tua mãe, quando te auxiliei com o Espírito Santo”. E a referir-se a Nossa Senhora afirma:”Ó Maria! Deus te escolheu e te purificou. Escolheu-te entre todas as mulheres dos mundos -Cap. III:42.
Mais adiante (Cap.III:45) lembra:”Recorda-te quando os anjos disseram: “Ó Maria! Deus te anuncia um Verbo emanado d’Ele, cujo nome é Messias, Jesus, filho de Maria: será ilustre nesta vida e na outra; e estará entre os próximos de Deus!”
O muçulmano sabe que Jesus foi gerado por Maria, por graça de Deus, o Cap. III:47 afirma:”Ela disse:”Senhor meu: como terei um filho se não me tocou nenhum mortal? Ele disse:”Assim será. Deus cria o que quer. Quando decreta alguma coisa, diz apenas:”Seja! E é”.
E se, o que se disse, não fosse bastante para considerar as duas religiões irmãs, filhas de Abraão, leia-se o Cap. II:62:
“Na verdade, os que crêem, os que praticam o judaísmo, os cristãos e os sabeus - os que crêem em Deus e nos Últimos Dias e praticam o bem - terão a recompensa junto do seu Senhor. Para eles não há temor.”
Ainda que o Alcorão confirme a Bíblia, de modo poético e imagens diferentes, há incontornáveis divergências: na divindade de Jesus - Cap.IV:171.O muçulmano considera que o nascimento do Messias foi um milagre, mas não é filho, mas criatura (Profeta) de Deus e não crêem na crucificação, mas que foi elevado ao Céu e está junto de Deus - talvez influência do ebionismo. - ver: História da Teologia, de Bengt Hagglund.
O Alcorão condena, igualmente o crime abominável do aborto (Cap.XVII:31), confirma a ressurreição dos mortos, o Juízo Final (Cap.II:28), a igualdade dos sexos, porque “procedeis uns dos outros” (CapIII:195); mas, ainda que adorando o mesmo e único Deus, diferem no conceito de Altíssimo.
João Paulo II na entrevista a Vittorio Messori, confessa.” - :”Ao Deus do Alcorão são dados nomes entre os mais belos conhecidos na linguagem humana, mas, ao fim e ao cabo, é um Deus fora do mundo, um Deus que é apenas Majestade, nunca Emanuel, Deus - connosco. O islamismo não é uma religião de redenção. Nele não há espaço para a Cruz e a Ressurreição, Jesus é mencionado, mas apenas como profeta, preparando o último profeta, Maomé. É recordada também Maria, Sua Mãe virginal, mas está completamente ausente o drama da redenção .Por isso, não apenas a teologia, mas também a antropologia o Islão é muito distante da cristã - Travessar o Limiar da Esperança. (pag.88, Edições Temas da Actualidade, S. A. -Lisboa)
Do sobredito se infere que não há motivo de rivalidade, apesar das divergências inconciliáveis; ambos concordam que nos Últimos Dias, no Juízo Final, Deus julgará, consoante o bem ou o mal que se pratica e o Alcorão lembra: Repele a maldade com o que é melhor! Assim aquele com quem estás em inimizade passará a ser um amigo fervoroso - Cap. XLI:34
HUMBERTO PINHO DA SILVA - Porto, Portugal
EUCLIDES CAVACO - ALMA LUSÍADA

ALMA LUSÍADA
Um poema declamado que escrevi há mais de 30 anos , mas que
passado todo este tempo continua a ser uma exaltação de portugalidade
que dá voz à saudade e ao sentimento da diáspora.
Veja e ouça esta récita em aqui neste link:
http://www.euclidescavaco.com/Poemas_Ilustrados/Alma_Lusiada/index.htm
EUCLIDES CAVACO - Director da Rádio Voz da Amizade , Canadá.
Quinta-feira, 15 de Janeiro de 2015
JOÃO CARLOS JOSÉ MARTINELLI - A PREOCUPANTE QUESTÃO DOS IDOSOS NO BRASIL

O Brasil está passando por uma fase de transição demográfica. Com a queda dos índices de natalidade e o aumento da expectativa de vida, o número de idosos no País está aumentando. A questão suscita várias análises e diferentes consequências, sendo que o setor de saúde e a qualidade de vida são os que recebem maiores atenções. No entanto, também na área jurídica ela merece destaque, notadamente no sentido de fazerem valer suas prerrogativas e o respeito à dignidade.
A questão dos direitos humanos, relevante por si só, adquire uma nova e inusitada dimensão quando considerada à luz do crescimento demográfico de todo o mundo, pois envolve, em relação à terceira idade, aspectos e peculiaridades que não podemos ignorar. Ela origina exigências de respeito, acatamento, reverência e solidariedade, tão importantes quanto os aspectos materiais e da saúde.
Tanto que a Constituição Federal do Brasil dispõe em seu art. 229, que “os pais têm o dever de assistir, criar e educar os filhos menores, e os filhos maiores têm o dever de ajudar e amparar os pais na velhice, carência ou enfermidade” .Por outro lado, o art. 230 determina que “a família, a sociedade e o Estado têm o dever de amparar as pessoas idosas, assegurando sua participação na comunidade, defendendo sua dignidade e seu bem-estar e garantindo-lhes o direito à vida”; acrescentando, no seu parágrafo primeiro, que “os programas de amparo aos idosos serão executados preferencialmente em seus lares”. Desta forma, a Carta Magna de nosso país pugna por maior atenção aos nossos idosos, cujo desrespeito, considera-se uma infração de natureza constitucional. Nesta trilha, algumas conquistas foram efetivadas nos últimos tempos, mas ainda estamos longe de alcançarmos a situação ideal.
No entanto, acima dos aspectos estritamente legais que deverão ser rigorosamente observados, tais como o Estatuto do Idoso, a Declaração Universal dos Idosos, os preceitos constitucionais supramencionados, as normas do Código Civil e demais consectários atinentes, precisamos refletir sobre a necessidade de valorizar os mais velhos e despertar na comunidade que eles mesmos ajudaram a construir, uma visão ampla das possibilidades de aproveitamento da força laborativa de que dispõem; a experiência, a criatividade e a imensa capacidade de amor e energia que podem transmitir, como meio, inclusive, de combater e prevenir problemas relacionados com sentimentos de inutilidade, solidão e infelicidade.
Em nossa carreira profissional, pudemos constatar que milhares de pessoas nestas condições estão marginalizadas em todos os setores. São tratadas como inúteis ou como crianças inconscientes e irresponsáveis. No mercado de trabalho não existe tarefa digna que possam exercer, mesmo com toda vivência que acumularam em seus anos de trabalho. O idoso perde os referenciais e se sente incapaz e inseguro, refugiando-se forçosamente no núcleo familiar, que o acolhe como um verdadeiro problema sem solução.
Por isso, a ética da convivência social impõe também o dever moral de educarmos as novas gerações na convicção de que eles trazem, além de outras virtudes, a de acumular um cabedal de sabedoria que exclusivamente o tempo proporciona, como um valor indispensável e insubstituível, que só os anciões carregam. Constituem-se em fator de equilíbrio, tolerância e comedimento na convivência familiar e no relacionamento em geral. Sua capacidade, portanto, tem de ser aproveitada, valorizada e estimulada. No Brasil, o indivíduo mais experiente tende a ser relegado ao esquecimento, o que é uma grave consequência. Por isso, devemos buscar constantemente, formas e atitudes que os possibilitem usufruir de seu direito à dignidade.
A VELHICE ABANDONADA É UMA QUESTÃO MUITO AMPLA, QUE VEM SURGINDO Na ESTEIRA DO ENVELHECIMENTO DA ESTRUTURA DEMOGRÁFICA DO PAÍS, AO MESMO TEMPO EM QUE A INSTITUIÇÃO FAMILIAR E AS FORMAS DE CONVIVÊNCIA SOCIAL ESTÃO SE ALTERANDO E ENFRAQUECENDO O ARCABOUÇO TRADICIONAL DE APOIO AOS MAIS VELHOS, ENRAIZADA NA FAMÍLIA E NAS ORGANIZAÇÕES COMUNITÁRIAS E RELIGIOSAS. ESTES ASPECTOS VISUALIZARAM UMA SITUAÇÃO DE MANIFESTA VULNERABILIDADE, ESPERANDO-SE POR PROVIDÊNCIAS NÃO APENAS OFICIAIS, POIS O ESTADO NÃO CONSEGUE SIQUER SE MANTYER ADMINISTRATIVAMENTE, MAS DE TODOS NÓS QUE DEVERÍAMOS NOS EMPENHAR NA MUDANÇA DO NEBULOSO QUADRO, INCLUSIVE OS PRÓPRIOS IDOSOS QUE AINDA TÊM FORÇAS PARA IMPOREM AS CONQUISTAS LEGAIS DOS ÚLTIMOS TEMPOS.
O aprimoramento no trato dos idosos não pode se transformar numa batalha perdida. Conscientizemo-nos de nossas obrigações e lutemos por instituições políticas estáveis e independentes, por racionalidade econômica, por um efetivo amparo social, incluindo um sistema previdenciário eficiente e justo, e por respeito e dedicação aos mais velhos.
JOÃO CARLOS JOSÉ MARTINELLI é advogado, jornalista, escritor e professor universitário (martinelliadv@hotmail.com).
MARIA CRISTINA CASTILHO DE ANDRADE - APESAR DE TUDO

Surpreendi-me com a força da honestidade e da verdade no livro “EU, CHRISTIANE F., A VIDA APESAR DE TUDO”, de Christiane V. Felscherinow com Sonja Vukovic, lançado em 2014 pela Bertrand Brasil.
Christiane, nascida em Hamburgo, na Alemanha, viu, há 35 anos, o seu primeiro livro, traduzido em várias línguas, se tornar bestseller. Em nosso país recebeu o título de “Eu, Christiane F., 13 anos, drogada, prostituída...” Neste segundo relato, conta o que se passa posteriormente.
Não busca culpados para os acontecimentos de sua história, porém menciona o pai que afogava a frustração no álcool e descarregava a raiva batendo nela e em sua irmã um ano mais nova. A mãe que observava sem fazer nada.
Em relação à droga, afirma que a guerra à dependência física era pouca coisa se comparada à dependência psíquica, frequentemente subestimada. Embora soubesse das raras saídas para essa situação, não conseguia se fixar nelas, porque a dependência se tornara sua mais forte motivação existencial, mesmo observando outros dependentes que extraiam restos de substâncias das seringas para uso próprio, incluindo o HIV e a hepatite C. Palavras dela: “As consequências do vício preenchiam a vida, enquanto as causas produziam apenas uma sensação de vazio”.
Isso é muito sério! Quantas pessoas em risco ou dependentes químicas porque a vida, que experimentam desde a infância, as derrota. Isso é muito sério, pois a sociedade, em geral, é invasiva para insistir no consumismo como razão do ser.
Da época de detenção, na década de 80, conclui: “Em cana você não precisava tomar o café da manhã sozinha porque os seus pais não tinham tempo para isso, não precisava dar explicações a vizinhos, à imprensa, à polícia. Não tinha que pagar imposto, não tinha falso amigo bêbado, não tinha crítica, não era observada nem julgada por todo mundo”.
Essencial recordar-se sempre do quanto a falta de olhar sobre as crianças e adolescentes, os preconceitos e os julgamentos machucam e doem, provocando úlceras purulentas. Há, ainda, no livro, o lamento pelos escassos ouvidos amigos e pelo tanto de curiosidade a respeito dela, como se fosse um bicho raro.
Hoje, aos 51 anos, à beira da cirrose, substitui a heroína em um programa de saúde à base de metadona.
É um livro para se ler com compaixão e com a vontade de se inteirar para melhorar o mundo.
MARIA CRISTINA CASTILHO DE ANDRADE - Professora e cronista. Coordenadora diocesana da Pastoral da Mulher – Santa Maria Madalena/ Magdala. Jundiaí, Brasil.
ARMANDO ALEXANDRE DOS SANTOS - NOS CAMINHOS DE SANTIAGO - 3

Concluo hoje a série de artigos sobre os legendários e fascinantes caminhos de Santiago de Compostela, escritos a partir da alegria de reencontrar em excelente forma, na Praça José Bonifácio, o amigo Esio Pezzato, que acabava de retornar de Compostela, e de recordações e anotações feitas da antiga leitura de um livro francês, sobre a vida quotidiana dos peregrinos de Compostela através dos séculos.
Depois de expor com pormenores o rigor do processo arqueológico e histórico determinado por Roma, em fins do século XIX, para examinar e, por fim, aprovar a autenticidade das relíquias de Santiago, a respeitada Enciclopédia Espasa-Calpe prossegue:
"Durou por volta de três séculos o período de maior esplendor das peregrinações a Santiago de Compostela, desde o final do século XII. Essa peregrinação a Santiago foi uma das mais importantes de todo o mundo. Os devotos acorriam a Santiago como a Roma ou a Jerusalém. As caravanas seguiam ordinariamente pelas antigas estradas romanas. Não eram somente espanhóis os peregrinos que acudiam ao Santuário, mas eram muito numerosas e nutridas as peregrinações formadas no estrangeiro. A Inglaterra fornecia grande contingente de peregrinos e os da França eram tão numerosos que o caminho que seguiam e a porta pela qual entravam em Santiago eram conhecidos com o nome de Caminho e Porta dos Francos".
De fato, naqueles tempos remotos em que não havia imprensa, em que as comunicações eram difíceis e toda a economia se processava a nível local, muito pouca gente viajava. A imensa maioria das pessoas nascia, vivia e morria nos mesmos locais, sem nunca verem terras e ambientes novos. Havia mercados locais e, quando muito, feiras regionais. As notícias demoravam muito para se espalharem, pois além do analfabetismo generalizado não havia sistemas regulares de correio. Tudo isso era impensável. Para nós, hoje em dia, habituados à extrema facilidade das comunicações, é difícil entender o mundo daquele tempo. Mas ele era assim...
Dentro desse grande quadro de estabilidade e quase de imobilismo, as peregrinações religiosas representavam o elemento de variedade, de mobilidade, de novidade. Os peregrinos medievais desempenhavam, portanto, uma função social importantíssima, como instrumentos de difusão de cultura popular, de legendas, de tradições, de ensinamentos, de ditos e histórias que iam sendo passados de geração em geração.
Eram frequentes, na Idade Média, as peregrinações a santuários, de pessoas que desejavam obter o perdão de pecados que haviam cometido, ou desejavam atrair as bênçãos de Deus sobre si próprias e sobre suas famílias.
Havia também pessoas corajosas que empreendiam as peregrinações com desejo de aventuras, para conhecer novos ambientes. Não havia, quase, naquela fase da Idade Média, pessoas que fizessem essas viagens por motivos meramente econômicos ou comerciais. As rotas de viagem, aliás, eram tão perigosas e inseguras que não seria prudente transportar grandes valores por elas. Somente no final da Idade Média e começo da Renascença se intensificou o comércio entre as províncias de um reino e entre os diversos reinos, constituindo-se os primeiros bancos e grandes casas de comércio.
Compreende-se que, naquelas circunstâncias, os peregrinos que passavam por um lugarejo contando novidades, relatando fatos que haviam observado ou ouvido contar, representavam uma distração e uma fonte de conhecimentos muito considerável. Eram, pois, não só por piedade cristã e por devoção, mas também pelo gosto de ouvi-los e com eles aprenderem coisas novas, bem recebidos por todas as partes. Muitas vezes os habitantes dos vários locais, desde nobres castelões até pessoas simples do povo, disputavam a honra de acolher um peregrino. Sim, acolher um peregrino era uma honra. E o costume da hospitalidade, que se espalhou por toda a Europa Cristã e de lá veio para o Brasil, aqui se fixando e aclimatando, tem remota origem nos peregrinos medievais.
ARMANDO ALEXANDRE DOS SANTOS é historiador e jornalista profissional, membro do Instituto Histórico e Geográfico Brasileiro.
Terça-feira, 13 de Janeiro de 2015
FELIPE AQUINO - VOCÊ SE ACEITA COMO É ?

Antes de lamentar e lamuriar o que você não tem, agradeça o que você já tem!
Cada um de nós é riquíssimo no seu ser. Fomos feitos à imagem de Deus; o que mais poderíamos desejar? Deus entrou dentro de Si mesmo para lá ir buscar o nosso molde.
Como, então, você pode ficar reclamando das qualidades que você não tem? Não seria isto ser ingrato com Deus?
Antes de lamentar e lamuriar o que você não tem, agradeça o que você já tem, e tudo o que recebeu gratuitamente Dele.
Olhe primeiro para as suas mãos perfeitas… e diga muito obrigado Senhor!
Pense nos teus olhos que enxergam longe, teus ouvidos que ouvem o cantar dos pássaros, e diga obrigado Senhor!
Olhe para a beleza e vigor da sua juventude, e agradeça ao bom Pai, de quem procede toda dádiva boa.
A pior qualidade de um filho é a ingratidão diante do pai.
Jesus ficou muito aborrecido quando curou dez leprosos (uma doença incurável na época!), mas só um (samaritano) voltou para agradecer. E este não era judeu, isto é, o único que não era considerado pertencente ao povo de Deus.
Você recebeu uma grande herança de Deus, que está dentro de você; sua inteligência, sua liberdade, vontade, capacidade de amar, sua memória, consciência, etc., enfim, seus talentos, que Deus espera que você faça crescer para o seu bem e o dos outros.
A primeira coisa para que você possa multiplicar esses talentos, é aceitar-se como você é, física e espiritualmente.
Não fique apenas olhando para os seus problemas, numa espécie de introspecção mórbida, porque senão você acabará não vendo as suas qualidades; e isto te tornará escravo do teu complexo de inferioridade.
São Paulo disse que somos como que “vasos de barro”, mas que trazemos um tesouro de Deus escondido aí dentro (cf1Cor4, 7)
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Eu não estou dizendo que você deve se esconder dos seus problemas, ou fazer de conta que eles não existem, não é isto. Reconheça-os e aceite-os; e, com fé em Deus, e confiança em você, lute para superá-los, sem ficar derrotado e lamuriando a própria sorte.
Saiba que é exatamente quando vencemos os nossos problemas e quando superamos os nossos limites, que crescemos como pessoas humanas.
Não tenha medo dos seus problemas, eles existem para serem resolvidos. Um amigo me dizia que todo problema tem solução; e que, quando um deles não tem solução, então, deixa de ser problema. “O que não tem remédio, está remediado”, diz o povo. Não adianta ficar chorando o leite derramado.
É na crise e na luta que o homem cresce. É só no fogo que o aço ganha têmpera. É sob as marteladas do ferreiro que a lâmina vira um espada.
Por isso, é importante eliminar as suas atitudes negativas.
Deus tem um desígnio para você e para cada um de nós; uma bela missão a ser cumprida, e você pode estar certo de que Ele lhe deu os talentos necessários para cumpri-la.
Deus quer que você seja um aliado dele, um cooperador Seu, na obra da construção do mundo. Ele não nos entregou o mundo acabado, exatamente para poder nos dar a honra e a alegria de sermos seus colaboradores nesta bela obra.
Ele precisa de nossas mãos e de nossa inteligência, Ele quer usar os seus talentos.
O homem mais infeliz é aquele que se fecha em si mesmo e não usa os seus talentos para o bem dos outros. Esse se torna deprimido.
Na parábola dos talentos, Jesus mostrou que só foi pedido um talento a mais àquele que tinha ganhado um; mas que foi pedido dez novos talentos ao que tinha dado dez. Deus é coerente.
Você sabe que é “único” aos olhos de Deus, irrepetível; logo, você recebeu talentos que só você tem; então, Deus espera que você desenvolva esta bela herança, sendo aquilo que você é.
É um ato de maturidade ter a humildade de reconhecer os seus limites e aceitá-los; isto não é ser menor ou menos importante; é ser real.
Aceite suas limitações, seus problemas, seu físico, sua família, sua cor, sua casa, também seus pais e seus irmãos, por mais difíceis que sejam… e comece a trabalhar com fé e paciência, para melhorar o que for possível.
Se você não começar por aceitar o seu físico, aquilo que você vê, também não aceitará os defeitos que você não vê.

Você corre o risco de não gostar de você se não aceitar o seu corpo. Muitos se revoltam contra si mesmos e contra Deus por causa disto.
Você só poderá gostar de você – amar a si mesmo – se aceitar-se como é, física e espiritualmente. Caso contrário não será feliz.
É claro que é bom aprender as coisas boas com os outros, mas não podemos querer imitá-los em tudo.
Você não pode ficar se comparando com outra pessoa, e quem sabe, ficar até deprimido porque não tem os mesmos sucessos dela. Cada um é um diante de Deus.
Também não se deixe levar pelo julgamento que as pessoas fazem de você. Saiba de uma coisa: você não será melhor porque as pessoas o elogiam, mas também não será pior porque o criticam.
Como dizia São Francisco, “sou, o que sou diante de Deus.”
Certa vez iam por uma estrada um velho, um menino e um burro.
O velho puxava o burro e o menino estava sobre o animal.
Ao passarem por uma cidade, ouviram alguém dizer:
“Que menino sem coração, deixa o velho ir a pé. Devia ir puxando o burro e colocar o velho sobre este!”
Imediatamente o menino desceu do burro e colocou o velho lá em cima, e continuaram a viagem.
Ao passar por outro lugar, escutaram alguém dizer:
“Que velho folgado, deixa o menino ir a pé, e vai sobre o burro!”
Então, eles pararam e começaram a pensar no que fazer:
O velho disse ao menino:
Só nos resta uma alternativa: irmos a pé carregando o burro nos nossos braços!…”
FELIPE AQUINO - Escritor católico. Prof. Doutor da Universidade de Lorena. Membro da Renovação Carismática Católica.
JOSÉ RENATO NALINI - ACORDEM, EDUCADORES !
Um dos raros consensos no Brasil do dissenso é a falência da educação. Por mais que se destine verba considerável para a formação das atuais e futuras gerações, a República parece claudicar em todos os níveis. O retrocesso é evidente. Há algumas décadas, a escola pública era tão boa que os menos aplicados procuravam a escola particular. Hoje, só fica no ensino público aquele cujos responsáveis não conseguem arcar com os crescentes custos de uma escola considerada boa.
O fenômeno é muito mais grave do que possa parecer. Não é apenas falta de metas e objetivos. O que visa uma boa escola? Fazer o aluno decorar informações e responder como papagaio às indagações? Ou uma educação integral cuidaria de formar pessoas felizes e capazes de um desempenho ideal em sua existência, tanto no aspecto emocional, familiar, social e profissional?
A escola é maçante. O aluno não gosta dela. Os professores estão desanimados. Já não têm paixão, ao menos em sua maioria, como eram idealistas e entusiastas os educadores de outrora. Pior ainda, os pais não se interessam pela educação de seus filhos. Parecem acreditar que o governo é que deve zelar pelo seu bom comportamento e pelo seu sucesso. Mas é no lar, na mãe educadora, no pai disciplinador, que tudo começa.
A Coreia passou por conflitos sérios e deu a volta por cima porque levou a sério um projeto consistente de revolução educacional. A China também. E tantos outros países.
Não é falta de dinheiro. É falta de projeto. É ausência de originalidade. No entanto, há modelos que poderiam ser copiados, como o da Universidade Minerva, em São Francisco. Ela não tem salas de aula, nem biblioteca. As aulas são on-line, por meio de plataforma exclusiva, com horário marcado e professor em tempo real. Professor que não é um replicador de textos, mas um animador, um coordenador dos debates. Ao menos duas vezes por encontro, os alunos têm de expor suas ideias.
O neurocientista Stephen Kosslyn, um dos diretores, resume o objetivo do projeto: “A ideia é desenvolver a capacidade de pensar criativamente, criticamente e de se comunicar de maneira efetiva”. Enquanto isso, temos muitos analfabetos funcionais recebendo diploma nas várias graduações universitárias. Que tal acordar para as urgências do mundo?
JOSÉ RENATO NALINI é presidente do Tribunal de Justiça do Estado de São Paulo para o biênio 2014/2015. E-mail: jrenatonalini@uol.com.br
RENATA IACOVINO - ATÉ DE AMANHÃ

Paulinho, o da Viola, um dos compositores de nossa MPB pertencente à linhagem dos letristas-filósofos, que bebeu na fonte de grandes personalidades, como Cartola, Jacob do Bandolin e Pixinguinha, reúne em sua obra verdadeiras pérolas, que acabam morando no rol das composições que se eternizam, transcendendo tempo e espaço.
Falando em tempo, este é um dos temas recorrentes em suas composições, de melodias apuradas e singulares.
Quem não se lembra de: "Dinheiro na mão é vendaval/É vendaval/Na vida de um sonhador", versos de Pecado Capital, música tema de abertura da novela homônima, que foi ao ar em 1975.
Dono de um ótimo vocabulário, aliado a rimas típicas do que encontramos na melhor literatura, Paulinho esbanja refinamento em sua maneira mui modesta de ser.
Em Retiro, é fácil encontrar identificação: "(...) Meu tempo às vezes se perde/Em coisas que não desejo/Mas não repare esse lado/Pois meu amor é o mesmo/Nos momentos de carinho/Eu me desligo de tudo/Nos braços de quem se ama/É fácil esquecer o mundo".
"Solidão é lava/Que cobre tudo/Amargura em minha boca/Sorri seus dentes de chumbo/Solidão palavra/Cavada no coração/Resignado e mudo/No compasso da desilusão". Como passar superficialmente frente a versos que tocam tão diretamente nossa alma, como em Dança da Solidão?
Mas foi com Foi um Rio que Passou em Minha Vida, de 1970, que se tornou popular. Paulinho a compôs em homenagem à Portela, pois anteriormente havia composto Sei Lá Mangueira, em homenagem a outra escola. Como um bom portelense, não quis deixar nenhum mal entendido no ar, e fez a música que se tornaria um hino da escola azul e branca: "Ah, minha Portela/Quando vi você passar/Senti meu coração apressado/Todo o meu corpo tomado/Minha alegria a voltar/Não posso definir aquele azul/Não era do céu/nem era do mar/Foi um rio que passou em minha vida/E meu coração se deixou levar".
A serenidade de Paulinho nos faz querer ouvi-lo até de manhã, sem nenhum cansaço, apenas bons sambas nos braços.
E que bom poder ser abraçada por suas canções, que me aproxima um pouco mais do que sou e do meu tímido lado bom.
Ouvir Paulinho dá vontade de empunhar o violão, cantar e tocar, venerando o samba e a nossa música, naquilo que ela tem de mais pura e rara.
"Tanta coisa que eu tinha a dizer/Mas eu sumi na poeira das ruas"...
RENATA IACOVINO, escritora, poetisa e cantora /reiacovino.blog.uol.com.br /reval.nafoto.net / reiacovino@uol.com.br