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Segunda-feira, 30 de Março de 2015
JOÃO CARLOS JOSÉ MARTINELLI - A CELEBRAÇÃO DA SEMANA SANTA TEM PROFUNDO SIGNIFICADO

 

 

 

 

 

 

 

 

 

 

 

 

 

 

A semana que se inicia com o Domingo de Ramos, para os cristãos, notadamente os católicos, é chamada de “santa”. E assim a designam em razão dos grandes acontecimentos da história e da própria Igreja relembrados neste período. A sua celebração, no entanto, se revela em ótima oportunidade para uma busca maior de conversão e mais que simples representação religiosa, os fatos que se revivem despertam nos homens, o significado divino de que vêm carregados, atualizando em cada um de nós, os sentidos de solidariedade, de fraternidade e de Justiça Social.

            Infelizmente muitas pessoas transformam esses dias em simples feriadão, numa espécie de pequeno veraneio e, até, em tempo de mera diversão ou coisa semelhante, afastando-se de seu real sentido. Nesta trilha, invoquemos D. Geraldo Majella:- “Na atmosfera atarefada na qual vivemos, em nosso ambiente secularizado e laicista, a grande Hora de Cristo, a sua doação de Amor sem reserva, essas realidades que mudaram não a face do mundo, mas o valor de nossa alma e sua perspectiva de vida correm o risco de serem desperdiçadas como uma espécie de fim de semana prolongado, como um tempo para não pensar, quando devia ser um tempo de pensar e, se possível, um tempo de rezar” (“A Tarde- Bh.- pág. 02- 16/04/2000).

            Com efeito, a Semana Santa se constitui num privilegiado tempo de encontro com Deus; época de pararmos e fazermos uma revisão de vida, de aprofundarmos a nossa vivência pessoal e compará-la à própria trajetória de Cristo; e momento de destacarmos o ato supremo de Amor. Seus ritos cheios de beleza, de encantamento litúrgico e de mistério, são celebrativos de ocorrências que têm muito a ver com as esperanças e angústias dos dias atuais.

            Desta forma, deveríamos nos focar nas mensagens que se podem e devem extrair desse período, no qual são recordados os sofrimentos, os constrangimentos e principalmente as injustiças impostas a alguém que só pregou o bem, a ordem social e principalmente o respeito ao próximo, fazendo-nos crer que ainda hoje, as pessoas bem intencionadas, éticas e idealistas são vítimas de constantes de agressões e ofensas semelhantes, pois prevalece uma manifesta inversão de valores. No entanto, o enfrentamento também caracteriza àqueles que se dispõe a lutar pelo respeito irrestrito à dignidade da pessoa humana.

            Com efeito, numa sociedade cada vez mais individualista, onde o consumo parece ditar todas as normas, necessitamos de momentos de coragem para tentarmos mudar o sórdido quadro que prevalece, a partir de uma consciente participação comunitária e de uma renovação nas nossas formas cristãs de viver, convencidos de que o cristianismo é sinônimo de comprometimento humilde com o exercício do serviço fraterno, buscando construir uma sociedade justa e solidária.

            Citemos, a título de meditação, trechos do documento “Diretrizes Gerais da Ação Evangelizadora da Igreja no Brasil”, editado em setembro de 1999 pela Conferência Nacional dos Bispos do Brasil (CNBB), durante uma ação evangelizadora:- “A sociedade concreta em que vivemos, em nosso país e em grande parte do mundo, está marcada pelas desigualdades, egoísmo e injustiças”. – “O empenho consciente do trabalho social da Igreja levará a questionar e lutar por transformar as estruturas e as decisões políticas e também contra o absolutismo da economia de mercado que sobrepõe às outras dimensões da vida humana e gera a exclusão daqueles que não são economicamente úteis”. – “Defende-se uma ‘nova evangelização’ para superar os limites históricos do nosso cristianismo por um empenho mais profundo na articulação entre a fé e vida; pela superação do mais devastador e humilhante flagelo da miséria extrema a que são submetidos milhões de brasileiros, atingidos por diversas formas de exclusão social, étnica e cultural através da promoção da justiça e da libertação integral”.

            Num ano em que a própria Campanha da Fraternidade prega a importância da Igreja nas questões sociais, nada mais sereno do que priorizar as coisas do espírito em detrimento das materiais, valorizando os princípios da igualdade, da liberdade e da solidariedade, que embasam as gerações dos Direitos Humanos em geral.

 

 

      

JOÃO CARLOS JOSÉ MARTINELLI é advogado, jornalista, escritor e professor universitário (martinelliadv@hotmail.com).



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ARMANDO ALEXANDRE DOS SANTOS - O IMPACTO DA REVOLUÇÃO INDUSTRIAL SOBRE AS ARTES

 

 

 

 

 

 

 

 

 

 

 

 

 

A Revolução Industrial, ademais de consequências econômicas e sociais muito profundas, também abalou em profundidade os referenciais culturais e estéticos das sociedades europeias e, por extensão, do mundo inteiro.

É muito difícil, para nós, avaliarmos o profundo impacto que causou, na geração de nossos bisavós, o aparecimento e a divulgação da fotografia. Aparelho misterioso aquele que, graças à concentração dos raios de luz através de uma objetiva de cristal, marcava uma chapa inicialmente de vidro, depois de celulose, e esta, depois de quimicamente processada, permitia que se fizesse o procedimento inverso, ou seja, novamente passava por ela a luz, filtrada por uma objetiva, e impregnava uma folha de papel, a qual, quimicamente processada, revelava com nitidez espantosa a realidade primeiramente captada pelo misterioso aparelho!

É verdade que tudo isso se fazia em preto e branco. Não se fazia em cores. A fotografia colorida, então, pareceria algo impossível, ou pelo menos uma realidade apenas muito remotamente “futurível”. Mas logo surgiram pintores hábeis que se dedicaram a colorir, com aquarela, fotografias, produzindo efeitos surpreendentes, de grande beleza. Não tinham, claro, o realismo obtido hoje em dia, com nossas câmeras fotográficas, mas para os homens do tempo, pareciam prodigiosas réplicas da realidade que viam diante de seus olhos. Ainda hoje, são muito numerosos os colecionadores de cartões postais antigos, muitos dos quais coloridos manualmente por artistas. O colecionador João Emílio Girodetti – meu amigo e confrade no Instituto Histórico e Geográfico de São Paulo – publicou uma série de livros, nos quais reproduziu e comentou belos postais sobre a cidade de São Paulo, sobre o litoral paulista, sobre cidades do interior de nosso Estado etc.

A fotografia, assim, passou a focalizar imagens da realidade... com tanto realismo, que pôs em cheque as melhores produções acadêmicas. Houve até quem imaginasse que a pintura, enquanto arte, estava com seus dias contados e tenderia a desaparecer. Não foi o que aconteceu, como sabemos, mas Isso teve um duplo efeito. De um lado, propiciou que, por via de comparação, a pintura acadêmica fosse assimilada à literatura romântica, idealizadora e até certo ponto distorcedora da realidade, sendo, por isso mesmo, objeto de crítica e de contestação. E, por outro lado, as várias artes tenderam a imitar o realismo fotográfico, buscando reproduzir a realidade a exemplo da fotografia.

A uma época em que as certezas absolutas da ciência eram erigidas à altura dos antigos dogmas religiosos, tudo parecia muito simples e redutível a sistemas e fórmulas. Foi nessa época que, em matéria de História, surgiu a escola positiva ou metódica, que pretendia sistematizar a História de modo a alcançar uma verdade histórica objetiva, com a mesma certeza e confiabilidade de um cálculo matemático. Durante algum tempo, esse dislate foi apregoado e aceito como a última palavra da modernidade, da verdadeira Ciência...

Surgiu, então, o impressionismo, que foi sem dúvida um movimento de protesto contra os excessos do academicismo e, mesmo, do realismo. O caráter impreciso e até certo ponto relativista dos impressionistas correspondeu a uma análoga tendência para o abandono das certezas absolutas em matéria científica e ideológica.

O impressionismo trouxe, a meu ver, um elemento novo, extraordinariamente enriquecedor para a Arte. O sistema de não pintar os objetos recortados e bem delineados, mas pintá-los meio esfumaçados, meio borrados, força a pessoa que contempla o quadro a não recebê-lo passivamente, mas a “recriá-lo” em sua ótica própria.

O contemplador de um quadro impressionista exercita, pois, sua imaginação ao ver e analisar um quadro. De mero admirador passivo, ascende, pois, à condição quase de “co-criador” do quadro.

Não foi só nas artes plásticas que a Revolução Industrial deixou sua marca. Na Literatura, essa marca é muito viva e fácil de notar. Em outra ocasião, voltaremos ao tema.

 

 

 

ARMANDO ALEXANDRE DOS SANTOS é historiador e jornalista profissional, membro do Instituto Histórico e Geográfico Brasileiro.

 

 

 



publicado por Luso-brasileiro às 11:22
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MARIA CRISTINA CASTILHO DE ANDRADE - MENINOS DO TRÁFICO

 

 

 

 

 

 

 

 

 

 

 

 

 

Meninos desconhecidos ou não que se tornam notícia na página policial me comovem e apontam a impossibilidade quase total de trazê-los de volta.

Há estágios para adentrar ao mundo da criminalidade e, atualmente, a maioria dos meninos chega a ele através do tráfico.

Em casa, aquela, aquele ou aqueles que deveriam ser guardiães deixam as portas destrancadas e não cuidam como deveriam. Geram filhos do acaso e depois não os reconhecem como responsabilidade própria. Sei que existem pais e mães que carregam, ao nascerem, conflitos familiares mais intensos não solucionados. Trazemos como legado a visão, as atitudes e os valores de ascendência. Aliás, todas as famílias têm conflitos não resolvidos. Enfrentá-los, encarando-os de frente, é possível. O contrário não é sina ou tragédia, mas inércia. Isso sem falar nos pais e mães que são “mestres” do tráfico para seus filhos.

A escola recebe filhos dos desajustes e não possui profissionais específicos para lidar com os desvios de comportamento de grande parte deles. Alguns se superam, através de um mecanismo interior que surpreende. Desenvolvem um discernimento precoce que os ajuda a escolher o que supera o mal. Os vitoriosos que conheço, embora o meio lhes convide a delinquir, têm Deus como o Senhor de seu caminho. Os filhos da negligência aprendem quase nada por não serem centrados. O pensamento se encontra em fatos outros, que marcam com ferro quente. Reagem aos limites e às reprimendas com agressividade. Afrontam. Zombam das autoridades escolares e danificam o patrimônio público. Nenhuma admoestação, de acordo com a idade e o ECA, é para eles limite. A escola teme que alastrem sua influência. Eles se amedrontam com o vexame crescente provocado pela ignorância. A evasão escolar é certa.

Paralelamente, buscam a vida além da casa e da escola em um ambiente que consideram propício. Ouvem um canto de sereia. Do comércio de ilusões, olham-nos de maneira diferente. Concedem-lhe a “importância” que desejavam. Encontram outros meninos como eles. De início, o trabalho será fácil: observar se uma ameaça se aproxima e avisar os líderes. Ganham, para isso, o seu primeiro celular. De um ponto elevado, seja uma árvore, uma construção ou barranco, vestem-se, em sua imaginação, como um dos heróis das histórias em quadrinho ou dos desenhos da TV. Além da pequena quantia, com nota única, ao final do dia, prometem-lhe que virá muito mais ao longo do tempo: um cavalo de corrida, tênis de marca, bicicleta com todos os equipamentos, videogame... Antes chega a erva, o pó e a pedra, que lhes consomem os sonhos. Na dependência química, se ainda estudam, retornam esporadicamente à escola.

Fora ou dentro do território da casa há palavras ríspidas, violência, descuidos, opressão, angústia. Na rua aumentam as chances de ser detido e participar, interno ou em liberdade, de um projeto socioeducativo. Para eles não faz muita diferença. A casa, a rua e o espaço com grades se assemelham, não mudam o que sentem por dentro. Entendem sua história como de fugas, confrontos e medos. O aliciador, que “confia” nele, exerce com maestria seu poder de persuasão se ele der lucro. Fortalece a ideia de que no tráfico, com suas redes paralelas, está a sua chance. Trataram-nos em casa, desde pequeno, como homem grande. Mataram a criança que morava neles. Verificam que a criminalidade é assunto de homem barbado e se engrandecem do “cargo”.

A única diferença, que poderá fortalecê-los para o bem e transformar suas tragédias em vitória, será, num retorno para casa, se depararem com um lar e deixarem a rua por uma pipa colorida que os aproxime do azul.

 

 

 

MARIA CRISTINA CASTILHO DE ANDRADE - Professora e cronista. Coordenadora diocesana da Pastoral da Mulher – Santa Maria Madalena/ Magdala. Jundiaí, Brasil.

 



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CINTHYA NUNES VIEIRA DA SILVA - A VIDA DO OUTRO

 

 

 

 

 

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                Creio que a curiosidade seja algo inerente aos seres humanos. Provavelmente, inclusive, tenha sido a curiosidade o sentimento que impulsionou os primeiros homens e mulheres a descobrir o que havia para além das cavernas e a explorar o mundo. Assim, certa dose de curiosidade é imprescindível. Sem ela os bebês não se aventurariam a andar, não haveria navios, aviões e tampouco saberíamos o pouco que sabemos sobre as estrelas, sobre a vida.

                Naturalmente, também sou uma pessoa curiosa. Gosto de aprender tudo o que puder, bem como conhecer aquilo que está ao meu alcance. Interessa-me o mundo. Interessam-me as pessoas pelo que elas produzem, pelo que me fazem rir ou chorar. Não me interessa, contudo, a contemplação da vida alheia. Dar conta de viver a minha é muito mais do que sou capaz de fazer. Assim, cuidar da vida dos outros não é esporte que eu pratique ou aprecie.

                Fico pensando que se as pessoas tivessem menos interesse pela vida alheia e cuidassem mais da própria, por certo seriam mais felizes ou menos infelizes (que são situações diferentes). Ficar mirando para o quintal do vizinho apenas tem o condão de fazer com que se esqueça de semear o próprio quintal e não há como colher o que não se plantou.

                Ainda dentro dessa linha de raciocínio eu me volto a outras questões. Antes de tratar sobre elas, é preciso registrar que não me considero uma pessoa despida de pré-conceitos, mas tão somente que analiso cada um deles antes de decidir se irão se tornar conceitos norteadores de minha futura ou não. Pouco me importa, portanto, se o outro é branco, negro, amarelo, ou se é casado, solteiro, hétero, gay ou o que quer que o possa rotular. Interessa-me como essa pessoa age e naquilo que me diz respeito, direta ou indiretamente. No mais, não creio que me diga respeito.

                Anda cansada das pessoas que destinam seus dias e todas as suas horas a vigiar, comentar e julgar a vida alheia. Gente que se preocupa com o que o outro faz dentro da cada dele, com a vida dele, na cama dele e com o dinheiro dele. Isso tudo sem que tais atitudes sequer constituam qualquer fato ilícito ou mesmo de interesse geral. Gente assim age como se fossem fiscais do alheio, responsáveis pela manutenção de alguma espécie de ordem universal.

                Pouco me importa, na verdade, o que meus amigos fazem das próprias vidas. Se são meus amigos, essa única condição me basta. Claro que se precisarem de mim eu estarei por perto. Se precisarem e pedirem minha opinião, posso encontrar alguma que lhes possa ser útil (e não útil apenas a mim), mas nada além disso.

                Não preciso que a Constituição Federal estabeleça que as pessoas são iguais, pois eu sinto essa igualdade dentro de mim e ela não prescinde de normas sociais, postas e escritas. A vida do outro é tão importante quanto a minha e aquilo que eu não gostaria de ouvir, a forma pela qual eu não gostaria de ser tratada, é que orienta meus passos, meu agir. Mesmo que eu erre muitas vezes, não terá sido por achar que tenho alguma importância a mais do que qualquer outra pessoa.

                Acredito que a vida do outro, exatamente por não ser a minha, por não me pertencer, merece de mim o mesmo respeito que desejo, nada significando a religião que professam, o time para que torcem, o partido no qual votaram, quem amam, a cor de suas peles e sobretudo, o que fazem entre quatro paredes. Desde que não estejam a fazer o mal, deliberadamente, estão, estamos, todos na mesma busca.

                Para além de não desejar uma vida na qual eu seja mera espectadora do alheio, vivo a desejar que um dia o mundo possa se tornar um lugar no qual a vida do outro, gente ou bicho, tenha valor apenas por ser vida, nada mais sendo preciso do que isso...

 

 

 

CINTHYA NUNES VIEIRA DA SILVA - Advogada, mestra em Direito, professora universitária e escritora - São Paulo.

 



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SONIA CINTRA - SAUDADES DE INEZITA

 

 

 

 

 

 

 

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Inezita Barroso, nome artístico de Ignez Magdalena Aranha de Lima, nasceu em São Paulo, 4 de março de 1925. Cantora, compositora, atriz, instrumentista, bibliotecária, folclorista, professora, apresentadora de rádio e televisão brasileira, foi galardoada com o título de doutora honoris causa em folclore e arte digital pela Universidade de Lisboa. Atuou em cinema e teatro, produzindo espetáculos musicais de renome nacional e internacional. Apresentadora do programa “Viola, Minha Viola” da TV Cultura de São Paulo há quase 35 anos Inezita é considerada a diva da música sertaneja brasileira. Acadêmica eleita para a Cadeira nº 22 da Academia Paulista de Letras, anteriormente ocupada por Ruth Guimarães, também folclorista, infelizmente não chegou a ser empossada, pois faleceu em 8 de março de 2015.

O Presidente da APL, Gabriel Chalita, e demais acadêmicos reverenciaram a memória de Inezita Barroso, dia 12, na Sede do Arouche. Dentre eles, Renata Pallottini e José Gregori lembraram a participação de Inezita nos jograis do TBC. Mafra Carbonieri fez referência a Ochelsis Laureando, compositor de Festança no Tietê (1937), a conhecida Moda da Pinga ou Marvada Pinga, que ganhou mundo na voz e viola de Inezita. Lygia Fagundes Telles afirmou “Ela cumpriu sua vocação” e o Maestro Julio Medaglia lamentou a grande perda para a autêntica música brasileira de raiz. Ada Pellegrini Grinover resgatou da saudade Ronda (1953), de Paulo Vanzolini, e Lampião de Gás (1957), de Zica Bergami, músicas paulistas interpretadas por Inezita, por indicação do Poeta Guilherme de Almeida.

Em Jundiaí, muitas pessoas sentiram pesar com a partida de Inezita. Adilson Cobeiros, diretor fundador e regente da Orquestra Jundiaiense de Viola Caipira declarou: “É uma tristeza profunda e ao mesmo tempo uma imensa gratidão”. O violonista Fábio Zanon recordou quando Inezita se apresentou na Câmara Municipal e surpreendeu o público ao cantar sem microfone. “Ela vai fazer falta, porque o mundo precisa de pessoas que sejam incorruptíveis como ela. Ela não era uma voz, mas uma voz do povo”. Em novembro de 2014, no Projeto Saudade, da Academia Jundiaiense de Letras, que homenageou a memória de Ermínia Serafim Mendes, poeta e música afeiçoada à modinha, estava programada uma apresentação musical de acadêmicos com peças do repertório de Inezita Barroso. Lamentavelmente, por um imprevisto, não foi realizada. Quem sabe este ano dá certo

 

 

 

SÓNIA CINTRA - ESCRITORA E PROFESSORA UNIVERSITÁRIA

 



publicado por Luso-brasileiro às 10:54
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JOSÉ RENATO NALINI - APRENDE-SE A SER BOM ?

 

 

 

 

 

 

 

 

 

 

 

 

 

 

 

O tsunami de desânimo que acomete as pessoas de bem diante das reiteradas denúncias de descalabros com o dinheiro do povo é corrosivo do idealismo. Quando os de cima não dão bom exemplo, os de baixo sentem-se desmotivados a perseverar. Isso é mau para o élan nacional.

Por isso é que nos momentos de desalento, a lucidez necessita coragem para redescobrir trilhas de revigoramento dos valores. Já fomos melhores. A escola pública era um celeiro de civismo. Ensinava-se patriotismo, civilidade, bons modos. Aperfeiçoava-se aquilo que já se aprendia em casa, com os pais responsáveis pelo treino social da prole. A escola do olhar, da admoestação velada ou mesmo da palmada surtiam efeito. Chegava-se à maturidade em seguida a uma juventude consciente do significado do cumprimento do dever.

Hoje essas palavras perderam intensidade. Quem se considera patriota? Quem é que confere relevância ao conceito de “educação moral e cívica”?

Tudo se resume a uma educação séria e consistente. Não escolarização, que há eruditos mal educados. Assim como pessoas que nunca ingressaram numa escola e integram uma elite natural. Nasceram intrinsecamente bons. É possível ensinar alguém a ser bom? A ser generoso, solidário, exercer a fraternidade no dia a dia?

Recorramos a Paulo Freire: “Não é possível refazer este país, democratizá-lo, torná-lo sério, com adolescentes brincando de matar gente, ofendendo a vida, destruindo o sonho, inviabilizando o amor. Se a educação sozinha não transforma a sociedade, sem ela tampouco a sociedade muda. Se a nossa opção é progressista, se estamos a favor da vida e não da morte, da igualdade e não da injustiça, do direito e não do arbítrio, da convivência com o diferente e não de sua negação, não temos outro caminho senão viver plenamente a nossa opção. Encarná-la diminuindo assim a distância entre o que dizemos e o que fazemos“.

 

 

Fonte: Diário de S. Paulo | Data: 26/03/2015

 


JOSÉ RENATO NALINI é presidente do Tribunal de Justiça do Estado de São Paulo para o biênio 2014/2015. E-mail: jrenatonalini@uol.com.br.



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PAULO ROBERTO LABEGALINI - AS NOSSAS OPORTUNIDADES

 

 

 

 

 

 

 

 

 

 

 

 

 

 

Um homem queria se casar com uma mulher perfeita. Anos se passaram e essa pessoa não aparecia; então, ele resolveu viajar o mundo à procura de sua futura esposa. Na Espanha, encontrou uma jovem fisicamente perfeita, mas não tão bonita interiormente. Na Grécia, a cultura de uma outra o impressionou, mas sua plástica não era tão bela.

Somente após procurar anos e anos, ele conheceu na Índia a tão sonhada mulher perfeita. Era linda por fora e por dentro, também era muito alegre e caridosa, enfim, tudo aquilo que ele imaginava encontrar numa só pessoa. Ao lhe propor casamento, ela não aceitou porque disse que só se casaria no dia em que encontrasse o homem perfeito.

Conto isso para concluir que o critério de perfeição é muito subjetivo. Quando tentamos administrar o tempo, normalmente não conseguimos cumprir um planejamento de atividades diárias exatamente como foi elaborado porque nem tudo está sob o nosso controle. Perfeito, só Deus!

Logicamente que toda atividade que estabelecemos prioridade máxima tem muita chance de se realizar. Servir o próximo, por exemplo, é prioritário para você? Infelizmente, não é somente a moedinha que colocamos na coleta da missa que vai mudar a vida de alguém, mas principalmente a nossa disponibilidade à caridade. Ou nos amamos sem exclusão, ou o Plano de Deus não se realizará na Terra!

Outra história diz que dois amigos vinham do trabalho caminhando por uma estrada de terra quando viram um grão de milho à frente. Surpreso com o fato, um deles comentou:

– Veja, encontramos a nossa mina de ouro! Se plantarmos este grão, nascerá um pé de milho; debulhando as espigas e voltando a plantar, teremos uma roça de milho; depois, debulhando novamente todas as espigas e plantando, teremos uma lavoura de milho e seremos grandes produtores!

– Puxa, como você é esperto! – respondeu o outro. – Mas não quero ser seu sócio porque não gosto da sua ganância. Assim que crescer o primeiro pé de milho, quero pegar as minhas espigas e cuidar da minha roça sozinho.

– Ah, é assim que você me agradece? Então, vamos fazer um contrato para não deixar dúvidas da parte de cada um. E também não aceito plantar este milho no seu quintal porque não sei se vai cuidar bem do nosso investimento.

Enquanto a discussão prosseguia, uma galinha passou por eles e comeu o milho!

Veja, podemos imaginar o grão como sendo as oportunidades que temos na vida e a galinha representando o tempo. Se não aproveitarmos cada boa oportunidade na hora certa, o tempo a levará embora. Por isso, é importante nos conscientizarmos que: as nossas lembranças ficaram no passado, as nossas esperanças estão no futuro, mas todas as oportunidades sempre estarão no presente. Quem não servir a Deus hoje, perderá mais uma grande oportunidade de se aproximar do Céu.

E como sempre fiz, não perdi esta chance de contar algumas histórias e convidar você a praticar o bem. Como caridade é um gesto de amor, quanto mais você rezar o terço e refletir os Evangelhos, melhor preparado estará o seu coração.

Se tanta gente ajuda tanta gente em tantas oportunidades, dá para administrar o tempo e fazer a sua parte, concorda? Porém, nem toda oportunidade deve ser aproveitada sem medir as consequências. Há casos que nos trazem muita satisfação, mas são bloqueadores da nossa salvação, como este exemplo:

O marido disse à esposa:

– Meu bem, ao invés de irmos à missa, vamos pegar um cineminha?

Ela respondeu:

– Não.

E foram felizes para sempre.

 

 

 

PAULO ROBERTO LABEGALINI - Escritor católico, Professor Doutor da Universidade Federal de Itajubá-MG. Pró-reitor de Cultura e Extensão Universitária da UNIFEI.



publicado por Luso-brasileiro às 10:40
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DOM GIL ANTÔNIO MOREIRA - MULHER SERVIDORA

 

 

 

 

 

 

 

 

 

 

 

 

 

 

http://www.arquidiocesejuizdefora.org.br/index.php/2014-08-12-16-38-10/artigos

 
 
 
 

Iniciando a quinta semana da caminhada quaresmal, somos chamados a olhar especialmente para Maria, a mulher que o Pai escolheu para ser a mãe do Salvador. Como tal, ela não só gera o Filho, mas o acompanha em toda a sua trajetória vital, assumindo com Ele os momentos de alegria, mas, sobretudo os momentos de dor, como fazem as autênticas mães com seus filhos, num exemplo eloquente de serviço desinteressado.

Na quaresma de 2015, pela Campanha da Fraternidade celebrada no Brasil, somos convidados a vivenciar a dimensão do serviço como resposta concreta à fé e à caridade, na preparação para a Páscoa da Ressurreição. “Eu vim para servir” é palavra de Cristo explícita no Evangelho (cf.Mc 10 ,45), apontando para atitudes amplas do que podemos fazer pelos outros, seja no campo individual, seja no comunitário, seja ainda no campo social.

Nesta última semana da quaresma, chamada Semana das Dores, temos oportunidade de olhar para a Virgem de Nazaré, como mulher forte, fiel e oferente, na qual o ideal de servir não é apenas um ato da generosidade humana, mas um verdadeiro compromisso que nasce da fé. De fato, a fé em Maria se traduz em servir, sabendo que assim pode cumprir a vontade do Pai. Disse ela ao Anjo quando foi anunciada: “Eis aqui a serva do Senhor, cumpra-se em mim a tua palavra” (Lc 1, 38).

Falar de Maria como servidora, nos remete também ao Dia da Mulher, celebrado no dia oito de março, propondo reflexão sobre o valor e a dignidade do elemento feminino, seu papel inalienável na vida social, comunitário e familiar.

Em Maria encontra-se o olhar de Deus sobre a presença feminina, criatura sua, no mistério da salvação, obedecendo a mística do serviço, da forma proposta por Cristo. Na verdade Jesus indica o serviço como condição para se tomar parte no projeto de Deus que quer o mundo como uma família bem constituída, onde reine a paz, a felicidade e a coragem para enfrentar serenamente os problemas e as dores inevitáveis nas condições desta vida terrena, na estrada que leva ao Reino Definitivo, onde tudo é perfeito. Por este ideal de família é que Deus, ao enviar seu Filho ao mundo não quis fazê-lo sem passar pela realidade doméstica, escolhendo uma mulher como porta principal de sua vinda, ao lado de um homem, José, que lhe garante a condição de esposa e a protege na condição de mãe, pois, sendo ele, homem justo, a livra de perigos impostos por interpretações legalistas numa sociedade com marcas machistas. Ambos estão imersos na fé inarredável de um Deus que em lugar de ser servido, quer pôr-se a servir à pessoa humana, usando de sua infinita misericórdia: “Eu vim para servir e não para ser servido” (Mc 10,45).

Em Maria, tudo se relaciona a Cristo, centro de sua vida e de sua missão. Portanto, antes mesmo que seu Filho pregasse aos discípulos o serviço como expressão concreta do amor a Deus e ao próximo, Maria, no início de sua gravidez, sai em longínqua viagem de Nazaré a uma cidade de Judá, para servir à sua prima Isabel que na velhice concebera um filho e com ela permanece três meses servindo-a (Cf. Lc 1, 39-56). Antes que Jesus se inclinasse diante de cada apóstolo para lavar-lhes os pés, Maria, numa relação delicada do amor materno, já lavara os pés de seu Filho quando criança, dele cuidando afetuosamente para servir ao plano salvífico de Deus em favor da humanidade.

Na ordem humana, podemos afirmar que foi no lar de Nazaré, que Jesus vivenciou a lição do serviço, com José e Maria, servidores do Pai e o Espírito Santo.

Na Exortação Apostólica, Marialis Cultus (02.02.1974), o Papa Paulo VI já recordava esse espírito de serviço presente na vida de Maria, sobretudo em relação à Igreja, família de Deus, onde ela é “como em qualquer lar doméstico, a figura de uma mulher, que, escondidamente e em espírito de serviço, vela pelo bem e benignamente protege, na sua caminhada em direção à Pátria, até que chegue o dia glorioso do Senhor” .

Entre Maria e Jesus há uma terna sintonia que vai se verificar de forma plena no mistério da paixão, morte e ressurreição do Senhor. Afirma Paulo VI no citado Documento: “Esta união da Mãe com o Filho na obra da Redenção (LG 57) alcança o ponto culminante no Calvário, onde Cristo se ofereceu a si mesmo a Deus como vítima sem mancha (Hb 9,14) e onde Maria esteve de pé, junto à cruz (cf.jo 19,25), “sofrendo profundamente com seu Unigênito e associando-se com ânimo maternal ao seu sacrifício, consentindo amorosamente na imolação da vítima que ela havia gerado“ (LG 58), e oferecendo-a também ela ao Eterno Pai.

A fim de se celebrar bem a Semana Maior que culmina com a ressurreição do Senhor, a Páscoa, certamente a palavra de Santo Ambrósio em sua Exposição do evangelho secundo Lucas, nos ajudará: “Que em cada um de vós haja a alma de Maria para bendizer o Senhor; e em cada um de vós esteja o seu espírito, para exultar em Deus”.

 

 

Do Site da Arquidiocese de Juiz de Fora

 

 

Dom Gil Antônio Moreira

Arcebispo Metropolitano de Juiz de Fora



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Domingo, 29 de Março de 2015
HUMBERTO PINHO DA SILVA - A LIBERDADE E A CENSURA

 

 

 

 

 

 

 

 

 

 

 

 

 

 

 

No final dos anos setenta, em época em que se vivia plena diarreia política, e sobrepunha-se o ódio, à razão, acompanhei meu pai à tipografia de pequeno periódico, cujo director era amigo de longa data.

A conversa, caiu, como não podia deixar de ser, na política, e descambou para liberdade e censura.

Foi então que o Vilarandelo de Morais, homem modesto, mas excelente orador, capaz de animar uma assembleia de homens cultos, declarou, enquanto mostrava a pequena tipografia:

- “ Tinha mais tranquilidade outrora, quando havia sensores e tinha que levar as provas à censura. Cortavam frases, títulos, e por vezes textos inteiros, de crónicas de opinião e artigos…Depois, tinha que improvisar, à pressa, fotografias ou notícias, para tapar buracos…”

Meu pai, pensativo, sacudia a cabeça em atitude de quem esperava o desenrolar da conversa.

- “ “ Após a Revolução dos Cravos – continuou, – tudo mudou. Publicava o que queria e dizia o que desejava…Chegavam os textos e escarrapachava tudo… Mas o pior foi depois…Veja: tive que ir ao tribunal por ter transcrito crónica de jornal de grande circulação. Vi-me grego para sair-me bem…”

- “ Agora sou eu que censuro os textos. Faço com severidade. Os matutinos de grande tiragem têm dinheiro e têm advogados… Mas os pequenos? Como posso manter demanda com poderosos? É o fim…”

E enquanto mostrava engenhoca, semelhante a máquina de escrever, que imprimia no zinco letras, rematou:

- “ Agora, se quero viver sossegado, não posso dizer o que quero nem permitir que os colaboradores digam o que desejam. O pequeno jornal vive de assinaturas, e principalmente de anúncios do comércio e indústria local. Tem-se que contar as moedas para comprar papel…Qualquer deslize…qualquer desabafo, pode ser a ruína da empresa.”

Ao lembrar-me desta conversa, com quase quarenta anos, lembrei-me o que disse socialista francês de meados do séc. XlX - citado por Fina d’Armada, cujo nome a autora não se recordava, in “ O Comércio do Porto”, a 21/03/97 - “ Para ele, a única liberdade real que existia (na democracia) era a liberdade do forte oprimir o fraco.”

 

 

 

HUMBERTO PINHO DA SILVA - Porto, Portugal

 



publicado por Luso-brasileiro às 19:55
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EUCLIDES CAVACO - GUITARRAS DO MEU PAÍS
 
 
 
 
 
 
 
 
 
 
 
 
 
 
 
 
GUITARRAS DO MEU PAÍS
 

Com desejos duma excelente semana, deixo-vos este meu FADO
ao qual a jovem intérprete Ingride Gualdrapa, residente na Suécia,
empresta a sua voz. Veja e ouça este FADO  aqui neste link:


http://www.euclidescavaco.com/Poemas_Ilustrados/Guitarra_do_Meu_Pais/index.htm
 
 
 
Desejos dum excelente fim de semana para todos vós.
 
EUCLIDES CAVACO - Director da Rádio Voz da Amizade , Canadá.


publicado por Luso-brasileiro às 19:51
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Segunda-feira, 23 de Março de 2015
ARMANDO ALEXANDRE DOS SANTOS - COMO PRESERVAR O PATRIMÔNIO CULTURAL ?

 

 

 

 

 

 

 

 

 

 

 

 

 

 

É sempre com dor que vemos uma casa antiga ser destruída ou (o que às vezes é até pior) ser desnaturada. Como não falar em “desnaturação” quando se assiste à modificação radical uma casa antiga, mediante uma reforma que lhe preserva a estrutura, mas lhe modifica o recorte das janelas e portas e lhe dá um ar “moderno” de gosto mais do que discutível?

Em nossa cidade, a cada dia assistimos a coisas dessas. E não é por falta de leis que tal acontece.

A Constituição Federal contempla, em vários de seus artigos, o grande problema da preservação do patrimônio cultural e arquitetônico brasileiro.

No artigo 216, ela define de modo bastante amplo o conceito de patrimônio cultural, englobando nessa designação o patrimônio arquitetônico:

“Art. 216. Constituem patrimônio cultural brasileiro os bens de natureza material e imaterial, tomados individualmente ou em conjunto, portadores de referência à identidade, à ação, à memória dos diferentes grupos formadores da sociedade brasileira, nos quais se incluem: I - as formas de expressão; II - os modos de criar, fazer e viver; III - as criações científicas, artísticas e tecnológicas; IV - as obras, objetos, documentos, edificações e demais espaços destinados às manifestações artístico-culturais; V - os conjuntos urbanos e sítios de valor histórico, paisagístico, artístico, arqueológico, paleontológico, ecológico e científico”.

No art. 24, VII, atribui à União, aos Estados e ao Distrito Federal a competência para legislar acerca da “proteção ao patrimônio histórico, cultural, artístico, turístico e paisagístico”; e no art. 30, IX, incumbe os municípios de “promover a proteção do patrimônio histórico-cultural local, observada a legislação e a ação fiscalizadora federal e estadual”.

Ademais, no inciso LXXIII do art. 5º, declara que “qualquer cidadão é parte legítima para propor ação popular que vise a anular ato lesivo ao patrimônio público ou de entidade de que o Estado participe, à moralidade administrativa, ao meio ambiente e ao patrimônio histórico e cultural, ficando o autor, salvo comprovada má-fé, isento de custas judiciais e do ônus da sucumbência”.

Também na legislação infraconstitucional há numerosos diplomas legais – de âmbito federal, estadual e municipal – no mesmo sentido.

Existem ainda o Instituto de Patrimônio Histórico e Artístico Nacional-IPHAN, autarquia federal vinculada ao Ministério da Cultura, e os Conselhos estaduais e municipais de Defesa do Patrimônio  Histórico, Arqueológico, Artístico e Turístico (CONDEPHAATs).

Infelizmente, toda essa legislação e toda essa parafernália burocrático-administrativa exprimem mais um desejo, um anelo, um “wishful thinking”, do que uma realidade, pois há muitos fatores que atrapalham a realização desse ideal preservacionista.

De início, há entraves de caráter político. Em outras palavras, há interesses políticos (e também econômicos, naturalmente) envolvidos. É sabido que os membros dos Conselhos de defesa do Patrimônio que existem em todos os níveis administrativos sofrem pressões de toda ordem, com pedidos para que influenciem, a favor ou contra, os processos de tombamento de edifícios. Órgãos que, por definição e natureza própria, têm o dever de visar somente à preservação do Patrimônio cultural público, veem-se muitas vezes coarctados em sua atuação, sujeitos a pressões e entidades diversas. Em outras palavras, devem tratar do interesse público, mas ao mesmo tempo (e acima de tudo!) zelar pelo interesse particular de pessoas e instituições privadas. “Quem serve ao comum não serve a nenhum” – diz-se em Portugal.

Por outro lado, os tombamentos de imóveis mais oneram do que beneficiam os respectivos proprietários. Um imóvel tombado perde imediatamente seu valor comercial, pois é muito pesada a responsabilidade de seu dono. Não somente não pode derrubá-lo, mas até para uma pequena e indispensável reforma interna deve, em certos locais, solicitar autorização 2 ou 3 anos antes. Numerosas comissões técnicas opinam, dão pareceres, fazem vistorias...

Seria preciso que os proprietários de imóveis tombados recebessem do Governo benefícios especiais correspondentes ao sacrifício que fazem em prol da memória coletiva. Nada mais justo! Se os imóveis foram preservados até o momento do tombamento, é porque seus proprietários não exerceram, como os demais proprietários, o direito de derrubá-los e, em seu lugar, edificar prédios ou centros comerciais.

Os que destruíram o patrimônio lucraram economicamente. Os que preservaram, não somente deixaram de lucrar... como ainda têm que arcar com o ônus de preservá-lo para proveito da sociedade. Isso não é justo.

Há, pois, um choque entre interesse privado e interesse público. Enquanto essa realidade não for devidamente focalizada, não se sairá, em matéria de preservação do patrimônio, de ideais muito bonitos, mas inatingíveis. Os proprietários de casas antigas serão compelidos, na defesa dos seus legítimos interesses, a destruí-las antes que sejam tombadas... E o efeito é o contrário ao desejado.

 

 

 

 

ARMANDO ALEXANDRE DOS SANTOS é historiador e jornalista profissional, membro do Instituto Histórico e Geográfico Brasileiro.

 

 

 



publicado por Luso-brasileiro às 11:36
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CINTHYA NUNES VIEIRA DA SILVA - CONTANDO NINGUÉM ACREDITA

 

 

 

 

 

 

Cinthya Nunes Vieira da Silva.jpg

 

 

 

 

 

 

 

 

            Muitas vezes eu mesma não acredito em algumas coisas que vejo ou escuto, mas aprendi que o mundo é uma caixa de surpresas e que sempre haverá algo novo ou inusitado acontecendo por aí. Penso, inclusive, que essa é uma das boas coisas da vida. Enquanto houver surpresas possíveis, há a alegria da esperança, do novo. E a esperança, sem dúvida, é uma força motriz de maior importância para a humanidade.

            A par dessas considerações, no dia a dia vamos sendo surpreendidos por notícias e acontecimentos que fogem à normalidade, ora surpreendendo, ora escandalizando, ora emocionando ou mesmo fazendo rir aqueles que deles tomam conhecimento. Particularmente, prefiro saber daquilo que faz bem à alma, seja o riso, seja a boa emoção, mas essa escolha nem sempre é nossa, infelizmente.

            Lendo algumas notícias pela internet, encontrei uma que chamou minha atenção. Nos EUA, em Seattle, uma cachorra labradora, de nome Eclipse, decidiu que não ia mais esperar que o dono a levasse para passear. Assim, quase todos os dias ela se coloca diante do ponto de ônibus, entra no veículo assim que o mesmo para, procura um lugar vazio para ocupar e segue até que chegue o destino por ela almejado: um parque para cachorros. Ela desce no ponto correto e fica lá se divertindo até que seu dono chegue para buscá-la. Para além de ficar encantada com a inteligência do animal, fiquei surpresa em perceber que ninguém tenta roubá-la ou agredi-la, como lamentavelmente ocorreria em muitos outros lugares, como no Brasil, por exemplo.

            Outro fato pitoresco, mas nada positivo foi o narrado por esses dias pela mídia, dando conta de que uma padaria na cidade paulista de São Caetano do Sul foi fechada pela vigilância sanitária por falta de condições adequadas. Até aí, nada de muito estranho. Não são poucos os estabelecimentos que precisam ser fechados por irregularidades, por falta de armazenamento adequado de alimentos e de limpeza de um modo geral. O que me deixou abismada foi saber que na geladeira de tal padaria havia vários potes contendo fezes humanas! Eram potes daqueles destinados à realização de exames de laboratório e nada no mundo pode justificar um motivo razoável para estarem justamente na geladeira de uma padaria. Confesso que essa notícia, para além de revirar meu estômago fez com que eu passasse a ter pensamentos apavorantes quando entro em padarias e afins...

            Se olharmos atentamente para as notícias diariamente veiculadas pela mídia, é praticamente impossível não ficarmos surpresos com alguma coisa. Entretanto, igualmente atentos, basta seguir observando as pessoas, as casas, os prédios, a natureza, que sempre há algo a ser descoberto, a ser pranteado ou a provocar sorrisos. Acho inspirador poder caminhar por aí, sem pressa, examinando detalhes que a maior parte das pessoas não repara. E foi assim que li um curioso anúncio em uma rua perto de casa. Na placa, disposta na frente de uma casa de aparência comum, havia o seguinte texto: “Conserta-se Bolsas, Malas e Cintos. Consultoria sobre Tarô, passagens da Bíblia e sobre Discos Voadores”.

            Várias foram as vezes nas quais pensei sinceramente em levar alguma mala para consertar lá e, de quebra, saber no que consiste uma consultoria sobre discos voadores, mas confesso que me faltou um pouco de coragem. Do jeito que o mundo anda doido, vai que a coisa é séria e envolve abduções? Achei melhor não arriscar, sobretudo porque não sei para que planeta eles poderão me levar, tampouco se me darão passagem para volta. Só sei que, contando, ninguém acredita...

 

 

 

 

 

CINTHYA NUNES VIEIRA DA SILVA - Advogada, mestra em Direito, professora universitária e escritora - São Paulo.

 



publicado por Luso-brasileiro às 11:32
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JOÃO CARLOS JOSÉ MARTINELLI - DIA INTERNACIONAL PARA A ELIMINAÇÃO DA DISCRIÇÃO RACIONAL
 
 
 
 
 
 
 
 
 
 
 
 
 
 
 
 
 
 
 
 
 
 
 

 

Celebra-se a 21 de março, o DIA INTERNACIONAL PARA A ELIMINAÇÃO DA DISCRIMINAÇÃO RACIAL, criado pela Assembléia Geral da ONU – Organização das Nações Unidas, evocando o Massacre de Sharpeville, na África do Sul, ocorrido na mesma data em 1960, quando a polícia local abriu fogo contra ativistas anti-“apartheid”, matando sessenta e nove pessoas.

A data objetiva exaltar a necessidade de se extinguir, a complexa e delicada questão da intolerância racial que ainda persiste nos mais diversos grupos de inúmeros países, inclusive o Brasil. Com efeito, na abertura da de 2006 do Conselho de Direitos Humanos da ONU, o relator especial da entidade para o combate ao racismo à época, o senegalês Doudou Diène, fez várias críticas a governo brasileiro, que infelizmente persistem até hoje.

Ele denunciou que partes do Estado, do Judiciário e da sociedade civil resistem a medidas de combate ao preconceito. “A questão do racismo precisa entrar na agenda das eleições”, afirmou à imprensa, alegando que as comunidades mais pobres da Nação são as mesmas que historicamente foram discriminadas – negros e índios. Diène esteve durante um ano investigando a situação em nosso país para produzir o documento no qual identifica o racismo como uma conseqüência do período da escravidão e aponta que o governo tenta enfrentar essa herança. O problema é que nem as medidas nem os recursos são suficientes, no seu ponto de vista.“Viajar pelo Brasil é como mover-se entre dois planetas: um das ruas, com cores vivas e raças misturadas, e outro dos corredores brancos dos poderes políticos, social, econômico e da mídia”, diz o relatório, distribuído a todos os Estados-membros das Nações Unidas. Ele acredita que uma mudança intelectual e cultural será necessária para combater o atual quadro: “Democracia racial é a máscara ideológica da elite brasileira para não dizer que há racismo”.

 

 

 

 Resultado de imagem para Discriminação Racial

 

 

 

 

 

Por outro lado, um dos aspectos destacados pela ONU é sobre a relação entre a discriminação e a penúria, revelando o documento que 47% dos negros vivem abaixo da linha da pobreza, ante 22% dos brancos. Os níveis de analfabetismo são “inaceitavelmente altos”. As mulheres negras ganham 40% dos salários pagos aos homens brancos e um quinto delas é trabalhadora doméstica, das quais 17% não recebem salário, principalmente nas regiões menos desenvolvidas. Apesar de reconhecer que a Administração Federal criou uma secretaria de Estado para tratar do tema e adotou um programa anti- discriminação positivo de cotas nas universidades, ele pediu mais numerários aos projetos públicos e que seja criado um plano nacional anti-racismo. Ainda solicitou que medidas sejam tomadas para lidar com a violência e para o treinamento de procuradores e juízes. “O Judiciário é muito conservador e com preconceitos raciais”, afirmou. As recomendações também falam na inclusão de aula de história da África nas escolas, já em efetivação e na criação de um memorial para as vítimas da escravidão. O governo respondeu imediatamente, informando que uma proposição neste sentido está “em fase de conclusão” e culpa setores da sociedade pelos problemas enfrentados para a promoção da igualdade racial no Brasil, ressaltando que realiza uma campanha na mídia para alertar sobre a existência da discriminação, mas deixa claro que resultados vão aparecer em longo prazo.

Na realidade, a situação é complexa e precisa ser enfrentada afim de que se reverta o quadro atual. Reitere-se que o racismo não tem fundamento histórico, é simples questão de orgulho e ignorância dos autênticos valores do ser humano. O homem não se mede pela cor da pele, mas pela riqueza que encerra em sua pessoa. A Declaração dos Direitos Humanos que dispõe em seu artigo primeiro: “a discriminação entre seres humanos, por motivos de raça, cor ou origem étnica, é uma ofensa à dignidade humana e deve ser condenada como negação dos princípios da Carta das Nações Unidas, como violação dos direitos do homem (...) como obstáculo às relações amigáveis e pacíficas entre as nações, e como fato capaz de perturbar a paz e a segurança entre os povos”.

 

 

 

JOÃO CARLOS JOSÉ MARTINELLI é advogado, jornalista, escritor e professor universitário (martinelliadv@hotmail.com).

 



publicado por Luso-brasileiro às 11:22
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